31 a 04 de abril de 2008

Comércio Exterior

Resultados
Entrada de dólares dispara
Auditores da Receita mantém greve

Agronegócio

Safra americana será fraca
Milho: safrinha vem se tornando safrona

Mercosul

Argentina sem carne
Produtores argentinos suspendem locaute

Organização Mundial do Comércio (OMC)

Europeus cobram solução do Brasil
Brasil questiona barreiras americanas


Comércio Exterior

a) Resultados

O superávit da balança comercial no primeiro trimestre de 2008 foi o menor desde os três primeiros meses de 2002. O forte crescimento das importações derrubou o saldo acumulado este ano para US$ 2,84 bilhões, ante US$ 8,72 bilhões no primeiro trimestre de 2007, uma redução de 67,4%. As exportações cresceram 13,8% no período, totalizando US$ 38,69 bilhões, enquanto as importações aumentaram 41,8%, acumulando US$ 35,85 bilhões. Vendas e compras internacionais no período são recordes.

Em março, entretanto, o valor das exportações, de US$ 12,6 bilhões, caiu em relação a março de 2007 (US$ 12,9 bilhões) e na comparação com fevereiro deste ano (US$ 12,8 bilhões). Mesmo pela média diária de vendas, que foi de US$ 630,7 milhões - recorde para meses de março -, o crescimento das exportações foi de apenas 7,6% em relação a igual mês do ano passado, bem abaixo da média do ano, de 15,6%. As importações cresceram 33,2% em relação a março de 2007 e caíram 7,5% na comparação com fevereiro passado.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o superávit comercial de março foi 69,4% menor que em março de 2007, somando US$ 1,01 bilhão. As exportações totalizaram US$ 12,61 bilhões e as importações, US$ 11,60 bilhões.

b) Entrada de dólares dispara

Apesar das turbulências que a crise norte-americana trouxe aos mercados internacionais, o fluxo de capital externo recebido pelo Brasil se mantém positivo. Em março, o ingresso líquido de divisas no país ficou em US$ 8,051 bilhões, o mais elevado desde julho do ano passado, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central.

O resultado de março responde por quase todo o saldo positivo acumulado neste ano, que ficou em US$ 8,940 bilhões, abaixo dos US$ 17,394 bilhões observados nos três primeiros meses de 2007.

Quase todo o resultado do mês passado é explicado pelo desempenho do comércio exterior. Em março, as operações de compra e venda de dólares feitas por exportadores e importadores resultaram na entrada de US$ 6,663 bilhões no Brasil, 150% a mais do que o valor apurado em fevereiro. Nas duas primeiras semanas de março, essas operações financeiras haviam sido responsáveis por um ingresso de US$ 7,133 bilhões, valor atipicamente alto para o período. Na ocasião, o fluxo de divisas foi influenciado pela alíquota de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) que passaria a incidir, no dia 17, sobre os investimentos estrangeiros em títulos de renda fixa negociados no mercado brasileiro.

c) Auditores da Receita mantém greve

A greve dos auditores fiscais da Receita Federal não tem perspectivas de término. Ainda no dia 31 de março, dirigentes do Sindicato Nacional da categoria (Unafisco) revelaram que o conselho de delegados nacionais vai rejeitar proposta apresentada pelo governo na sexta-feira pelo secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva. A paralisação de 70% dos 18 mil auditores está mantida.

Apesar de representar aumentos de 17% nos salários do início e 44% para o topo da carreira, Cabral explicou que a categoria não vai aceitar a proposta do governo, porque ela é pior que a oferecida em 13 de fevereiro por Paiva. Naquela oportunidade, segundo o sindicalista, o governo concordou pagar salários de R$ 14.300 para os iniciantes e R$ 19.700 para os mais antigos. Esses patamares seriam alcançados em abril de 2009.

Outro ponto de discórdia entre governo e auditores, na avaliação de Cabral, é o fato de seus auxiliares (analistas) estarem recebendo aumentos 14% maiores que os oferecidos a eles. Isso está, segundo ele, provocando atritos entre os funcionários da Receita. Segundo o Ministério do Planejamento, os auditores da Receita tiveram, desde 2002, 123,4% de aumento no valor inicial do salário na carreira. Era de R$ 4.544,53 e saltou para R$ 10.115,32. No salário do topo da carreira, os aumentos, nesse período, foram de 81,41% (R$ 7.376,91 para R$ 13.382,26).

Agronegócio

a) Safra americana será fraca

O mundo vai viver dias ainda mais perigosos no abastecimento de grãos neste ano. É o que mostram os dados de ontem do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) sobre a intenção de plantio dos produtores norte-americanos para este ano. Mesmo com o plantio de grãos avançando sobre áreas de preservação ambiental, e com estimativas de produtividade próximas a números recordes, os norte-americanos devem chegar ao final do ano-safra 2008/9 com estoques extremamente perigosos. Se tudo der certo, os Estados Unidos terminam a safra com estoques finais de milho suficientes para apenas duas semanas de consumo -o menor da história. Já os de soja, produto que ganhou a preferência dos norte-americanos neste ano, serão para apenas 34 dias.

Sem áreas novas de plantio, os Estados Unidos estão sofrendo uma revolução nesse período de preços elevados das commodities. A soja, o produto mais atrativo neste ano, deve incorporar 4,6 milhões de hectares no plantio, que sobe para 30,3 milhões, 18% acima do registrado no ano passado. Esses dados superaram a expectativa do mercado. Para equacionar esse cenário, a entidade norte-americana prevê corte de 7,6 milhões de toneladas nas exportações. Entram em cena Brasil e Argentina, cobrindo esse buraco deixado pelos americanos. O milho destinado à produção de álcool deve ficar próximo de 100 milhões de toneladas, enquanto o que vai para a produção de ração recua de 151,1 milhões em 2007 para 137,2 milhões neste ano-safra, na avaliação do USDA.

b) Milho: safrinha vem se tornando safrona

A safrinha brasileira de milho, quem diria, já pode ser chamada de "safrona". A cultura, que ganha importância ano a ano, deve ter um plantio recorde no país em 2007/08, estimulado por um aumento de preços que já serviu para impulsionou as exportações brasileiras do grão em 2007. No Paraná, principal Estado produtor de safrinha do país, a área de milho da chamada segunda safra já supera a da safra de verão. De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura, deverão ser semeados 1,6 milhão de hectares no Estado, 7% mais que na safrinha do ciclo anterior (2007/08). Na primeira safra, a de verão, o plantio no Paraná cobriu 1,374 milhão de hectares, conforme a Conab. Em todo o país, a estimativa é que a safrinha alcance uma área de 4,894 milhões de hectares, 7,3% acima do cultivado em 2006/07.

O milho da segunda safra começou a ser plantado no início da década de 1980 na região centro-sul e era visto mais como uma opção de cultivo para o inverno e como rotação de cultura para a soja. O grão é plantado logo após a colheita da oleaginosa, entre janeiro e março, dependendo da região do Brasil. Nos últimos anos, entretanto, ganhou importância. E nesta temporada, especialmente, teve um empurrão da alta internacional em 2007 por causa da demanda pelo grão para produção de etanol, que fez as cotações subirem mais de 120% na bolsa de Chicago nos últimos dois anos. O resultado foram exportações recordes de milho - de 10,933 milhões de toneladas, segundo os dados da Conab.

Mercosul

a) Argentina sem carne

Pela primeira vez em sua história, a cidade de Buenos Aires está totalmente sem carne bovina nos açougues e supermercados. Nem mesmo em situações de crise social, econômica ou política - como golpes de Estado, guerras civis, revoltas sociais e hiperinflação -, os moradores da capital argentina haviam enfrentado uma escassez de tal magnitude do principal item de sua alimentação diária.

De acordo com Alberto Williams, presidente da Associação de Agougues da Capital, 95% dos estabelecimentos em toda a Argentina não têm carne para vender. Faltam também verduras, cujo desabastecimento chega a 50%, legumes, frutas e carne de frango. O presidente do Centro de Empresas Processadoras Aviárias (Cepa), Alberto Domenech, calcula que a paralisação vai afetar a produção de frangos nos próximos seis meses. Na semana passada, por falta de milho e soja para alimentar as aves, empresas do setor sacrificaram 1,3 milhão de frangos com poucos dias de vida.

Por causa da falta de produtos, a inflação disparou nos últimos dias. Os preços da batata e da cebola, por exemplo, saltaram cerca de 250% nas últimas duas semanas. O secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, está pressionando os supermercados para que voltem atrás nos preços e restabeleçam os níveis anteriores à paralisação. Economistas independentes afirmam que a inflação de março poderia chegar a 3,5%, um recorde desde os tempos da crise que afetou o país em 2001 e 2002

b) Produtores argentinos suspendem locaute

As quatro associações de produtores agropecuários da Argentina anunciaram na última quarta-feira a suspensão do locaute que realizaram durante as últimas três semanas e o início de uma trégua "não superior" a 30 dias com o governo da presidente Cristina Kirchner. Nesse período, segundo Mario Llambías, presidente das Confederações Rurais Argentinas (CRA), os produtores esperam a retomada do diálogo com o governo. Mais de 20 mil agricultores participaram da assembléia que aprovou a suspensão do locaute. As lideranças agrícolas criticaram o governo, indicando que vários integrantes do gabinete presidencial "não entendem coisa alguma sobre a situação agropecuária".

O pivô do conflito são os aumentos das "retenções" (impostos) aplicadas às exportações de produtos agrícolas (no caso da soja, o aumento elevou os impostos de 35% para 44,1%), além do fim do complexo sistema de impostos "móveis", pelos quais, se o preço internacional subir acima de determinado nível, o governo pode ficar com 95% do aumento e o produtor deve pagar impostos sobre os 5% que lhe restam. Os produtores exigem o fim de ambos

Organização Mundial do Comércio (OMC)           

a) Europeus cobram solução do Brasil

A União Européia (UE) fez um apelo ao Brasil na Organização Mundial do Comércio (OMC) para que o País aplique as medidas de proteção sanitária para que uma solução definitiva para o comércio de carne seja encontrada. No dia 2 de abril, durante a reunião do Comitê de Medidas Fitossanitárias da OMC, a polêmica do comércio de carne foi levantada. O Brasil, que havia ameaçado abrir uma disputa no órgão máximo do comércio contra os europeus, adotou uma posição mais humilde e apenas tentou mostrar aos demais governos que está comprometido com a adoção das medidas de controle fitossanitário. Os europeus insistiram na necessidade de que a questão seja resolvida, mas também optaram por não entrar em atrito.

No fim de janeiro, a UE suspendeu a importação de carne bovina in natura brasileira diante da falta de garantias do País de que um sistema de rastreabilidade estava funcionando. Alguns ministros ameaçaram levar o caso à OMC. Algumas semanas depois, uma missão de veterinários europeus visitou o País e certificou cerca de 150 fazendas para exportar. Agora, a intenção é que o número de propriedades aumente nas próximas semanas. No entanto, no encontro citado, o Brasil fez exatamente o contrário do que havia ameaçado. Listou aos 151 países membros da entidade uma série de medidas que está tomando para corrigir os problemas, explicou as ações de vacinação e controle da febre aftosa e indicou que o governo está comprometido em garantir a saúde de seus produtos. O objetivo era tentar tranqüilizar os demais governos sobre a situação da carne nacional.

Entretanto, os europeus insistiram que eles são hoje um dos poucos que permitem a importação de carne bovina brasileira entre as economias desenvolvidas. "A Europa está em uma posição diferenciada", afirmou um diplomata europeu, tentando demonstrar a boa vontade de Bruxelas em relação à crise. "Vamos continuar trabalhando com o Brasil para garantir que as medidas fitossanitárias sejam aplicadas e que o comércio possa continuar", afirmou a UE na reunião da OMC.

b) Brasil questiona barreiras americanas

O Brasil questionou ontem uma série de medidas existentes nos Estados Unidos e que dificultam as exportações de ovos, frutas, frango e várias outras commodities. A lei estabelece que todas as vendas precisam passar antes por uma avaliação de impacto econômico e de como a entrada desses produtos afetam os pequenos produtores americanos.

O governo americano deixou claro ontem na Organização Mundial do Comércio (OMC) que essa é sua lei e que não há mudança prevista. Washington assegurou que a medida não interfere na avaliação fitossanitária dos produtos. O Brasil afirma que a lei é um obstáculo e que alguns produtos podem levar até um ano para serem liberados para a exportação. O Itamaraty afirmou que vai continuar a tratar do assunto bilateralmente com os Estados Unidos.

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