A visita do presidente russo ao Brasil no início da semana estava cercada de expectativas e otimismo a respeito do fim do embargo russo à carne brasileira. Pelo lado russo, os objetivos eram obter o apoio brasileiro para a entrada do país na OMC, bem como pressionar o governo do Brasil a optar pelos caças Sukhoi na licitação para novos aviões para a Força Aérea Brasileira (FAB).
As expectativas de ambos os lados foram, de maneira geral, frustradas. A Rússia manteve o embargo à carne brasileira, acenando somente com uma oferta vaga de limites mínimos a importações do produto. Fontes do governo afirmam que a permanência do embargo tem motivos essencialmente políticos, sendo que sua revisão dependeria de contrapartidas brasileiras, sobretudo na licitação da FAB. Tecnicamente, não há razões para impedir o embarque da carne brasileira. Ainda assim, resta a esperança de que o embargo venha abaixo quando a missão de técnicos veterinários russos voltar ao seu país, no final da semana. Por outro lado, o Brasil postergou a decisão acerca da licitação de caças para 2005.
Os frutos colhidos pelo encontro foram de natureza política. Por um lado, Lula prometeu apoio aos russos na OMC. O presidente Vladimir Putin, por sua vez, declarou o apoio russo à pretensão brasileira de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Ademais, os dois presidentes assinaram acordos de cooperação nos setores de telecomunicações, energia e na área aeroespacial, além de uma convenção para evitar bitributação de produtos nas transações comerciais entre Brasil e Rússia.
OMC
A OMC deve aprovar até o final desta semana autorização para sanção contra os EUA por causa da emenda Byrd, que transferia receitas de taxações aduaneiras a empresas norte-americanas. A prática foi considerada ilegal pela OMC, que dará direito a sete países, entre eles o Brasil, de retaliar os EUA.
Ocorrerá na próxima semana o exame da política comercial brasileira, procedimento que se repete a cada quatro anos na sede da OMC. Esta versão do documento deve recomendar ao Brasil maior abertura de seus mercados como condição essencial para o desenvolvimento sustentado de sua economia. Reconhecem-se avanços nas restrições às importações, mas o protecionismo em bens de consumo duráveis que têm concorrentes domésticos, assim como no setor de serviços, é criticado pelo documento.
Negociações com Mercosul
O novo representante de comércio da União Européia (UE), Peter Mandelson, afirmou não ter pressa de concluir as truncadas negociações comerciais com o Mercosul. Disse que a UE não pode ser a única a ceder nos acordos e que países como o Brasil têm que avançar em suas propostas para o setor de serviços. Segundo Mandelson, o bloco privilegiará a rodada de Doha, sendo improvável a concretização dos acordos Mercosul – UE antes da finalização desta.
Chega ao Brasil nesta sexta-feira o rei do Marrocos para iniciar negociações comerciais com o Mercosul. Trata-se de um primeiro passo para um acordo de livre comércio entre o bloco sul-americano e o país africano.