Comércio Exterior
a) Resultados
A balança comercial apresentou superávit de US$ 1,238 bilhão na terceira semana de abril, o melhor resultado semanal no ano. As exportações totalizaram US$ 3,038 bilhões e as importações, US$ 1,8 bilhão. Com isso, o saldo acumulado no mês sobe para US$ 3,001 bilhões, resultado de vendas externas de US$ 8,487 bilhões e importações de US$ 5,486 bilhões. No ano, as exportações acumulam US$ 42,406 bilhões e as importações, US$ 30,707 bilhões, com superávit de US$ 11,699 bilhões.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), com o resultado da semana passada a média diária das exportações em abril atingiu US$ 606,2 milhões, um crescimento de 11,3% em relação à média de abril do ano passado. As importações, ao contrário da tendência dos últimos meses, estão apresentando em abril um ritmo de crescimento menor que o das exportações: 4,8% na comparação com abril de 2006, com média diária de negócios de US$ 391,9 milhões. Em relação a março, a média diária das importações teve queda de 9,6%.
O crescimento das importações neste mês, em relação a abril de 2006, está sendo sustentado por farmacêuticos, adubos e fertilizantes, instrumentos de ótica, precisão e médicos, além de produtos siderúrgicos. Nas exportações, houve aumento de 26,3% nas vendas de produtos básicos, de 17,9% nos semimanufaturados, e de 3,5% nos manufaturados. Os destaques são o minério de cobre, milho em grão, carnes suína, de frango e bovina, óleo de soja em bruto, alumínio em bruto, suco de laranja e álcool etílico.
b) Indústria exporta menos no começo do ano
Os fabricantes brasileiros de produtos manufaturados estão reduzindo cada vez mais os volumes que embarcam para o exterior. As exportações do país, em quantidade, caíram 14,6% em automóveis, 13,1% em produtos têxteis, e 4,4% em equipamentos eletrônicos no acumulado de 12 meses até março, conforme dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Em 2006, o Brasil exportou, em quantidade, 8,5% menos automóveis e 9,4% menos produtos têxteis. Os volumes embarcados de equipamentos eletrônicos até cresceram em 2006: 4,2%.
Graças aos preços internacionais em alta e ao apetite dos países asiáticos, os volumes exportados de commodities estão crescendo muito. No primeiro trimestre do ano em relação a igual período em 2006, as quantidades exportadas cresceram 33,4% em petróleo e carvão, 20% em café, 21,9% em abate de animais e 22,9% em açúcar. Alguns setores ligados às commodities reduziram as vendas, mas por falta de capacidade produtiva. Em siderurgia, o volume caiu 11% no primeiro trimestre em relação a janeiro a março de 2006, apesar da alta de 26,6% nos preços do setor no período.
Já as exportações de manufaturados são prejudicadas pelo câmbio e pela concorrência da China em terceiros mercados. De janeiro a março, comparado com o primeiro trimestre de 2006, as exportações, em quantidade, caíram 14% em automóveis, 17% em equipamentos eletrônicos, e 6,9% em têxtil. Outros setores tiveram desempenho pífio. No mesmo período, as exportações de calçados subiram 1,9% e de peças e outros veículos, 1,1%.
c) Setor químico se volta para o exterior
Alguns fabricantes de produtos manufaturados obtiveram desempenhos excepcionais na exportação. É o caso de produtos químicos e de bens de capital. Apesar da valorização do real, os fabricantes de produtos químicos venderam 35,7% mais em volume, e as empresas de máquinas e tratores, 24% a mais, no primeiro trimestre de 2007 em relação a igual período do ano passado.
O bom desempenho na exportação é resultado de um mercado interno fraco. As vendas de produtos químicos no país caíram 0,6% em janeiro e fevereiro. Algumas empresas estão substituindo produtos químicos nacionais por importados. Outra explicação para o "boom" exportador do setor químico é o pólo gás-químico Riopolímeros, de Suzano, Petrobras e Unipar. Com investimento de US$ 1 bilhão, a unidade foi inaugurada em 2005, mas agora está a todo vapor. Segundo os dados da Abiquim, as exportações de produtos químicos subiram 33% em valor e 22,5% em volume no primeiro trimestre. Já as importações avançaram 36% em valor. O déficit da balança comercial do setor químico chegou a US$ 2,5 bilhões no trimestre, alta de 39%.
d) América Latina alavanca embarque de máquinas
Depois de sofrer com o câmbio no ano passado, os fabricantes de máquinas e equipamentos tiveram um primeiro trimestre excepcional na exportação. Em 2006, o volume exportado de máquinas e tratores caiu 5,1%. De janeiro a março desse ano, aumentou 24%, apesar do reajuste de 7,7% nos preços. No acumulado de 12 meses até março, o desempenho ainda é fraco, mas já entrou em terreno positivo. Os volumes de máquinas e tratores exportados nesse período cresceram 1,8%. Conforme os dados da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), as exportações do setor aumentaram 28,8% no primeiro trimestre, saltando de US$ 1,9 bilhão para US$ 2,5 bilhão. Atravessando um momento econômico favorável e com a agricultura mais pujante, a América Latina foi a responsável pelo bom desempenho.
A Argentina, que é o segundo cliente do país com 10% das vendas, comprou 32% mais máquinas e equipamentos do Brasil no primeiro trimestre do ano em relação a igual período de 2006. Na mesma comparação, as vendas aumentaram 79% para a Venezuela, 49% para a Colômbia e 23% para o Chile. Já para os Estados Unidos, maior cliente do país, responsável por 25% das vendas, as exportações recuaram 0,2%.
e) Itamaraty: agenda bilateral brasileira é competitiva
Estudo elaborado por técnicos do Itamaraty conclui que o Brasil não está atrás da China e da Índia na corrida das negociações comerciais bilaterais, disputada enquanto a Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC), não é desatada. O levantamento circula no governo para subsidiar as autoridades brasileiras no debate sobre a política comercial. É uma resposta ao empresariado e à oposição, que acusam a política externa do governo Lula de ser ideológica e pouco pragmática. O Brasil negocia, negocia e nada - rebate o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. - Mantido o ritmo atual, a tendência é o Mercosul ficar isolado.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) engrossa o coro dos descontentes. Critica o que considera falta de eficácia da política comercial do governo. Segundo a entidade, "apesar da extensa agenda de negociações comerciais, o Brasil enfrenta dificuldades para obter resultados substantivos de acesso a novos mercados em qualquer das frentes negociadoras em que participa". Segundo o estudo, a Índia só tem acordos de livre comércio com Sri Lanka, Tailândia e Cingapura. O único acordo de livre comércio da China, assinado com a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean, formada por Brunei, Camboja, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Filipinas, Cingapura, Tailândia e Vietnã), entrará em vigor em 2010. E muitos dos acordos que China e Índia negociam o Mercosul também tenta assinar.
Diferentemente de Índia e China, o Mercosul ainda não negociou com o Japão. Segundo fontes da chancelaria brasileira, o Japão tem receio do potencial agrícola do bloco sul-americano. Itamaraty lembram que o Mercosul - Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela - já conseguiu consolidar acordos de livre comércio com os demais países da América do Sul. A prioridade do Mercosul é assinar acordos de livre comércio com Israel e com o Conselho de Cooperação do Golfo. Tais negociações estão mais avançadas. No ano passado, as exportações brasileiras para o Oriente Médio somaram US$ 5,74 bilhões, alta de 35,7% na comparação com 2005. Os embarques aos países africanos cresceram 26%, para US$ 7,44 bilhões. Já as vendas para o restante da Ásia totalizaram US$ 20,79 bilhões, 13,4% a mais do que o registrado em 2005.
f) BC apresenta maior presença no câmbio
As intervenções do Banco Central no mercado de câmbio em 2007 já chegam a US$ 29,8 bilhões, apenas até o dia 20 de abril, segundo dados divulgados ontem pela instituição. O volume é muito próximo dos US$ 34,3 bilhões comprados no ano inteiro de 2006. Em abril, até o dia 20, o BC já adquiriu volume estimado em US$ 7,903 bilhões, o que representa uma aceleração em relação aos US$ 8,261 bilhões comprados nos mês inteiro de março. A maior parte dos recursos, US$ 7,511 bilhões, origina-se do superávit do mercado de câmbio; o restante, US$ 392 milhões, foi o aumento da posição vendida dos bancos em moeda estrangeira.
A conta financeira foi responsável pela injeção de US$ 21,4 bilhões no mercado de câmbio. O destaque foram os financiamentos ao comércio exterior, com US$ 13,3 bilhões. Nesse valor, estão incluídos tanto os financiamentos tomados pelos exportadores para antecipar suas vendas ao exterior quanto os financiamentos às empresas importadoras, que adiam os pagamentos ao exterior. Alguns analistas econômicos vêm sustentando que esses créditos comerciais estão ligados a operações de arbitragem. O custo dos financiamentos no exterior é mais baixo que os altos juros vigentes dentro do país, o que incentiva a contratação de financiamentos comerciais em moeda estrangeira para investir dentro do país.
Agronegócio
a) Alta nos embarques de carne
Segundo dados divulgados ontem pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as exportações de carne bovina no primeiro trimestre atingiram US$ 1,077 bilhão, crescimento de 44,65% ante igual período de 2006. A tendência é que o Brasil bata novo recorde de exportação em 2007, disse o presidente do Fórum Nacional Permanente da Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira. Ele explicou que, na Europa, o produtor não precisa produzir para receber subsídio, o que beneficia o Brasil, que tem preços melhores. Levantamento da CNA mostra que, na UE, o preço médio da arroba recebido pelo produtor em 2005 foi de R$ 135 (incluindo subsídios). No País, o valor foi de R$ 42,81.
b) Embrapa disputa África com a China
Em fase de recuperação de sua capacidade de investimentos no Brasil, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) decidiu elevar as apostas na África para alavancar seus negócios internacionais. E o primeiro passo da estratégia no continente será associado a investimentos anunciados pela China na ampliação da infra-estrutura de alguns países africanos. Os executivos da estatal apostam que a aproximação e os investimentos da China resultarão numa forte ampliação do consumo de alimentos no mercado interno na África. Assim, será possível levar à reboque os mais diversos produtos da indústria brasileira, desde máquinas e equipamentos agrícolas, sementes, sistemas de produção (lavoura-pecuária e agro-silvopastoris) até commodities (soja, milho, arroz, algodão) e carnes.
Para começar, a Embrapa centrará seus esforços em oito países que serão prioridade dos chineses. "A China está indo para a África atrás da mineração, do cobre, do ferro, do manganês, além do petróleo e do gás. E nós vamos no vácuo deles para colocar, pela primeira vez, o pé fora do Brasil de maneira institucional", diz o presidente da estatal, Silvio Crestana. Na lista, estão África do Sul, Namíbia, Zâmbia, Moçambique, Camarões, Libéria, Sudão e Seychelles. Mas também há boas perspectivas de negócios no Egito, Gana, República do Congo, Angola, Tanzânia, Uganda, Nigéria e Quênia.
c) Parceria Brasil-Chile em biocombustíveis
Um ambicioso plano de cooperação energética foi estabelecido no dia 26 de abril pelos governos chileno e brasileiro, durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a esta capital. Os dois presidentes assinaram um memorando de entendimento sobre um plano de ação para pesquisa, desenvolvimento e produção de biocombustíveis. Os dois projetos de cooperação surgem num momento em que o Chile se defronta com a ameaça de escassez de energia para manter o crescimento econômico. De imediato, o principal risco é a redução do fornecimento de gás pela Argentina.
O programa de ação para o setor de etanol e biodiesel envolve três linhas de ação: 1) promover projetos binacionais de pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis; 2) promover missões empresariais para troca de experiências e identificação de oportunidades de negócios; 3) elaborar projetos de cooperação para os anos 2008 e 2009, com base nas informações produzidas pelas missões. A formalização desses compromissos é parte de um amplo projeto brasileiro de promoção internacional do uso de biocombustíveis.
A campanha envolve, também, a contestação das críticas ao programa de biocombustíveis como nocivo à produção de alimentos. A posição do Brasil foi reforçada, ontem, pela divulgação de um estudo da FAO, o organismo da ONU para a alimentação e a agricultura.
MERCOSUL
a) Investimentos brasileiros rendem na Venezuela
O Palácio do Planalto e a cúpula do Itamaraty não escondem os interesses do Brasil na expansão econômica venezuelana e nas suas reservas de gás e de petróleo.
Em 2006, empresas brasileiras exportaram US$ 3,555 bilhões para a Venezuela - valor 60,4% maior que o do ano anterior. Entre outras, a Petrobrás planejou a injeção de mais US$ 2,8 bilhões em novos projetos no país, a Odebrecht vislumbrou sua participação pelo menos em três grandes obras, a custo total de US$ 3,5 bilhões, e a Companhia Vale do Rio Doce deu os primeiros passos para a pesquisa mineral, com a estatal Corporação Venezuelana de Guayana, e a exploração de carvão no Estado de Zúlia.
Na segunda-feira, dia 23 de abril, os presidentes Lula e Chávez puseram a pedra fundamental de uma parceria de US$ 3 bilhões entre a Braskem, o braço petroquímico do Grupo Odebrecht, e a estatal venezuelana Pequiven. O interesse estratégico do governo na Venezuela, entretanto, concentra-se especialmente na atuação da Petrobrás. No primeiro mandato de Lula, a estatal passou pelo processo de nacionalização de Chávez. Acabou por dividir sua estrutura de exploração e produção de petróleo na Venezuela em quatro novas empresas, todas com participação majoritária da Petróleos de Venezuela (PDVSA) - a Petrocariña, a Petrovenbras, a Petroritupana e a Petrowayu. Toda a produção é adquirida exclusivamente pela PDVSA, de quem a Petrobrás terá de ser sócia se quiser ampliar a atuação na Venezuela.
A Petrobrás tem vários objetivos na Venezuela, especialmente na área do gás. A companhia quer participar, em parceria com a PDVSA, da exploração de gás natural no Complexo Mariscal Sucre e em Altana (Delta do Orinoco) e de petróleo extrapesado em Carabobo (Faixa do Orinoco). No primeiro projeto, deverá injetar US$ 950 milhões; no segundo, US$ 80 milhões, e US$ 1,8 bilhão no terceiro. Na cúpula do Itamaraty, o somatório de contratos de exportação para a Venezuela impressiona tanto quanto os negócios locais das companhias brasileiras. Desde 2004, após dois anos de fortes quedas, as exportações brasileiras cresceram e aumentaram o déficit venezuelano no comércio bilateral. Saltaram de US$ 1,465 bilhão, naquele ano, para US$ 3,555 bilhões, em 2006.No primeiro bimestre de 2007, as vendas cresceram 37,9% em relação a igual período do ano passado. Dos US$ 3,555 bilhões embarcados no ano passado, US$ 3,105 bilhões (87,3%) eram produtos manufaturados - telefones celulares, automóveis, tratores, peças e chassis de veículos, chapas e laminados de aço e de alumínio.
b) Chineses ultrapassam brasileiros na Argentina
O mercado argentino - campo de batalha entre eletrodomésticos chineses e brasileiros - foi desfavorável ao Brasil nos primeiros dois meses deste ano. A batalha foi vencida, pela primeira vez, pelos produtos 'made in China'. Segundo um relatório da consultoria Investigações Econômicas Setoriais (IES), a China domina atualmente 43,6% do mercado de eletrodomésticos importados pela Argentina. Mas, se forem acrescentados os eletrodomésticos enviados por Hong Kong ao mercado argentino, a proporção chinesa sobe para 48,7%. Entre janeiro e fevereiro o Brasil ficou em segundo lugar, com 23,7% (incluindo também os eletrodomésticos produzidos na zona franca de Manaus, que representam 5,1%). No ano passado, a China representou 36,2% dos eletrodomésticos importados pelo mercado argentino, enquanto os produtos 'made in Brasil' ostentavam a pole position, com 38,8%.
Segundo o IES, um dos motivos do recuo brasileiro são as medidas de restrição - aplicadas pelo governo do presidente Néstor Kirchner - para a entrada de eletrodomésticos brasileiros. Os empresários nativos conseguiram apoio de Kirchner, que em julho de 2004 aplicou licenças não automáticas e aumentos das tarifas alfandegárias para os eletrodomésticos brasileiros. A contenda, na ocasião, foi denominada de 'A Guerra das Geladeiras'. Naquele ano, a presença do Brasil no mercado argentino havia alcançado 48% das importações.
c) UE espera mais de acordos com a Ásia
A União Européia (UE) estima que ganhará mais em acordos de livre comércio com países da Ásia do que com o Mercosul. Ao adotar formalmente, no dia 23 de abril, os mandatos para negociar uma nova geração de acordos de livre comércio com a Índia, Coréia do Sul e a Asean (bloco de 10 países, incluindo Indonésia, Malásia e Filipinas), a UE indicou que esses três entendimentos poderão aumentar suas exportações em mais de US$ 54 bilhões por ano. Em dezembro do ano passado, a UE publicou avaliação preliminar sobre um acordo com o Mercosul, estimando em US$ 4 bilhões seu ganho potencial num cenário de improvável liberalização total. Já o Mercosul ganharia US$ 9 bilhões, sendo 75% abocanhado pelo Brasil com expansão das exportações agrícolas. Em comparação, só o aumento nas exportações européias de serviços prestados a empresas (jurídico, computação, contabilidade, administração, etc) para a Asean é estimado em US$ 10,7 bilhões por ano, mais que o dobro do benefício calculado num entendimento com o Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Na medida em que os acordos de livre comércio liberalizam mais do que na Organização Mundial do Comércio (OMC), particularmente em serviços e investimentos, os entendimentos com a Índia, Coréia e Asean poderão adicionar 40% dos benefícios de uma Rodada Doha bem sucedida para a EU. As pesquisas sobre os asiáticos foram elaboradas com base nos seguintes "cenários realistas": a Asean liberaliza todo o comércio de bens, excluindo alguns produtos sensíveis, e cortando 50% das barreiras em serviços; a India remove 95% de todas as barreiras e 25% dos obstáculos em serviços; a Coréia abre totalmente os setores não-alimentares, corta em 40% as tarifas agrícolas e em 25% as barreiras em serviços. O porta-voz de comércio disse que não estava disponível o detalhe de ganho por país. Já o estudo sobre o acordo UE-Mercosul concluiu que as reduções tarifárias são o principal fator de ganho para o Mercosul. Para a UE, é a facilitação de comércio que ampliará o benefício para suas empresas, com 50% do total.
OMC
a) Brasil é beneficiado na decisão dos pneus
O Brasil tem o direito de proibir a importação de "pneu reformado" da União Européia (UE) por razões de saúde pública, desde que seja coerente e limite também "pneu usado" importado através de mandatos de segurança obtidos na Justiça. É esta a decisão final da Organização Mundial do Comércio (OMC) na disputa do pneu, entregue de maneira confidencial aos dois países na segunda-feira. Trata-se da primeira disputa em que um grupo de países ricos questionou medida ambiental tomada por um país em desenvolvimento. Um representante europeu disse que Bruxelas ainda não decidiu se vai apelar da decisão. Em Brasília, o Itamaraty, por sua vez, parecia contente com a decisão e, pela avaliação de ontem, não pensava em apelar.
No relatório preliminar, os três juízes - o japonês Mitsuo Matsushita, o canadense Donald McRae e Chang Fa Lo, de Taiwan -- reconheceram que a medida restritiva ao comércio adotada pelo Brasil era para proteger a saúde pública, mas que a aplicação precisava ser compatível com esses objetivos, o que não acontece, avaliaram, por causa do "al to volume" de importação de pneu usado procedente da UE através de liminares. A legislação brasileira proíbe tanto a importação do pneu usado (carcaça) como do reformado (de segunda mão, mas pronto para uso). De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, existem 1.300 reformadoras de pneus no país. A Associação Brasileira do Segmento de Reforma de Pneus (ABR) tem dado sinais mistos sobre a decisão da OMC. O Brasil proíbe a importação tanto de carcaça como de pneu reformado. A associação quer, porém, continuar importando a carcaça como matéria-prima.
b) EUA contestam acordo Brasil-China
Os Estados Unidos contrariaram, no dia 23 de abril, na Organização Mundial do Comércio (OMC), o acordo bilateral entre o Brasil e a China que limita exportações chinesas de brinquedos para o mercado brasileiro até 2010. Durante reunião do Comitê de Salvaguardas, Washington advertiu o Brasil contra a reintrodução de medidas de "zona cinzenta" no comércio internacional e pediu explicações sobre o papel exato do governo brasileiro no acordo com Pequim, porque esse tipo de participação oficial é proibida.
As medidas de "zona cinzenta" sao assim chamadas porque sua compatibilidade com as regras internacionais pode ser contestada. Foram amplamente usadas no passado, para o país exportador aceitar limitar suas vendas a outro país. Como as restrições só se aplicam às importações provenientes de certos países, esse tipo de acordo pode ser questionado por violar as regras de não discriminação.
c) G-20 se reúne para articular pressão
O Brasil, líder do G-20, intensifica a coordenação com outros grupos em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC), em meio a articulações generalizadas para quebrar o impasse da negociação agrícola. O embaixador brasileiro Clodoaldo Hugueney, que coordena o G-20, preparou para amanhã uma reunião de alto nível com os grupos africano, o ACP (África, Caribe e Pacifico), do Caricom, das pequenas economias (inclui Bolívia e Cuba), além do "Cotton 4", grupo dos quatro grandes produtores africanos de algodão (Benin, Burkina Faso, Mali e Tchad).
O G-20 e os outros grupos em desenvolvimento têm em comum o combate aos subsídios agrícolas domésticos, o que significa pressão sobre os EUA para aceitarem um corte maior da ajuda a seus agricultores. Sobre acesso ao mercado, a conversa entre países em desenvolvimento é outra, inclusive dentro do próprio G-20. O Paquistão, membro do G-20, do Grupo de Cairns (quer ampla liberalização agrícola) e do G-33 (defensivo na agricultura), apresentará hoje sua proposta numa das questões mais polêmicas da negociação agrícola.
O país propõe um conjunto de indicadores para selecionar "produtos especiais", que serão designados por nações em desenvolvimento para terem corte tarifário menor. O Paquistão propõe que, se a produção doméstica de um produto atende a grande parte do consumo total, merece ser "especial". Mas se grande parte do consumo é coberta por importação, esse produto fica fora da lista. Também sugere incentivos para um país designar menos produtos como "especiais", e em contrapartida cortar menos ainda as tarifas dos poucos selecionados.
Plano Internacional
a) EUA: infra-estrutura é uma das metas na Am. Latina
O governo dos EUA está disposto a ajudar os países sul-americanos a encontrar novas fórmulas de financiamento para infra-estrutura, e vem discutindo o assunto com autoridades brasileiras, informou o subsecretário de Estado dos EUA para a América Latina, Thomas Shannon. A busca de novos mecanismos de financiamento entrou na agenda bilateral como compromisso dos dois presidentes, Luiz Inácio Lula da Silva e George Bush, que mantiveram dois encontros sucessivos em abril. Para Shannon, a maioria dos países do continente reconhece a importância do apoio americano ao projeto de interligação das infra-estruturas nacionais.
Pesquisa divulgada ontem pelo Fórum Social Mundial-América Latina, com base em questionários respondidos por investidores na região, aponta Chile, Brasil e Colômbia como os mais atrativos para o investimento do setor privado em infra-estrutura na América Latina. Para os empresários, fatores como a falta de regras claras e a corrupção endêmica em alguns governos são os principais responsáveis pelos obstáculos ao investimento. Algumas medidas ajudariam a combater esse tipo de problema, segundo a coordenadora de concessões do Ministério de Obras Públicas do Chile, Francisca Castro. Uma delas é a separação clara entre os responsáveis pelo planejamento das obras e seus executores.
b) Norma trabalhista freia agenda comercial americana
As delicadas negociações que o governo e o Congresso dos Estados Unidos vêm conduzindo para reformular a política comercial dos EUA atingiram nos últimos dias uma etapa crítica, com a ampliação de divergências sobre a melhor maneira de incorporar cláusulas de proteção a direitos trabalhistas nos acordos comerciais americanos. O Partido Democrata, que faz oposição ao presidente George Bush e assumiu o controle do Congresso no início deste ano, quer incluir cláusulas que obriguem os parceiros dos EUA a adotar padrões de nível internacional, impedindo que usem leis trabalhistas mais frouxas para levar vantagem na competição com exportadores americanos.
A comunidade empresarial dos EUA teme que os dispositivos propostos pelos democratas tornem a própria legislação americana vulnerável a questionamentos de grupos estrangeiros. Vários Estados americanos têm leis para garantir às empresas o direito de contratar trabalhadores que não sejam sindicalizados e normas que restringem a atividade sindical, proibindo a filiação de trabalhadores com funções de supervisão, por exemplo. Os empresários não querem que países estrangeiros tenham o poder de forçar os EUA a fazer mudanças nesse campo.
Os sindicatos americanos têm enorme influência sobre os democratas. Eles dão dinheiro aos candidatos do partido e ajudam a mobilizar os eleitores na hora de votar. Os sindicatos tiveram papel decisivo nas últimas eleições, que deram aos democratas o controle do Congresso e aguçaram os sentimentos protecionistas dos políticos americanos. O resultado das conversas entre a Casa Branca e o Congresso vai definir o futuro dos acordos comerciais que os EUA assinaram nos últimos meses com Peru, Colômbia, Panamá e Coréia do Sul, que precisam da aprovação do Congresso americano para entrar em vigor.