Comércio Exterior
a) Resultados
A balança comercial brasileira registrou exportações de US$ 4,355 bilhões e importações de US$ 3,516 bilhões na terceira semana de setembro. A diferença entre os valores resultou em um superávit de US$ 839 milhões. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, com esse resultado, o superávit acumulado no mês chegou a US$ 2,391 bilhões. O saldo é 12,9% menor que o superávit registrado em todo o mês de setembro do ano passado na comparação da média diária. Em relação à média de agosto, houve um aumento de 47,5%. No mês, a média diária das exportações caiu 0,9% em relação a agosto e subiu 25% em relação ao mesmo período de 2007.
b) América Latina: frete é mais caro
Uma pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) aponta que países da América Latina têm custo maior com frete do que o de países de primeiro mundo. O estudo foi divulgado ontem e constatou que o alto gasto com transportes é consequência das taxas de fretes. A pequena participação do Brasil no mercado internacional, de 1%, a falta de infra-estrutura e de não estar na rota dos maiores mercados exteriores fazem com que o país perda competitividade. A análise é de especialistas do setor.
Na comparação de custos com os Estados Unidos, países da América Latina desembolsam quase o dobro para importar produtos. De acordo com Cristiano Prado, gerente de infra-estrutura e desenvolvimento de novos investimentos da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) o encarecimento da logística na região está além da distância física com os mercados exteriores.
– Se tratando do Brasil, é preciso criar linhas regulares de navegação internacional para aumentar a movimentação de carga e reduzir o custo – alerta.
A falta de um porto concentrador é um implicador para a elevação da tributação com o transporte no país, segundo Renaud Barbosa Silva, professor de Transporte e Logística da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele ressalta ainda que, embora o transporte rodoviário seja o mais oneroso, é o mais usado no Brasil, com 58%, contra 25% ferroviário, 13% aquaviário e 0,4% aéreo.
– O país precisa de um porto concentrador, distribuição de módulos de transportes equilibrada, como nos Estados Unidos, onde o transporte ferroviário é responde por 50% da carga – afirma.
Um dos maiores vilões para o encarecimento das taxas de importação e exportação é o peso das mercadorias.
– Os portos não estão preparados para receber grandes porta-containers, o que inviabiliza o transporte mais carga – destaca Renaud, que também ressalta a importância da aprovação do Plano Nacional de Logística de Transporte (PLNT) – que prevê a redução de gastos com fretes de até 40%, até 2023, com a reformulação do sistema logístico.
c) Votorantim terá siderúrgica de US$ 1,5 bilhão na Colômbia
O Grupo Votorantim anunciou seu plano de construir uma usina siderúrgica na Colômbia. Em sociedade com o grupo Acerías de Colombia (Acesco), o Votorantim planeja investir US$ 1,5 bilhão na cidade de Barranquila, na costa do Caribe. A siderúrgica vai fabricar aços planos, muito usados na construção civil e pela indústria automobilística e de eletrodomésticos.
Com uma capacidade de produção de 1,4 milhão de toneladas por ano, a nova usina será capaz de abastecer sozinha todo o mercado colombiano, mas ainda está longe de uma CSN ou uma CST, que podem produzir pelo menos 3,5 vezes mais.
Metade da produção da siderúrgica será destinada ao mercado colombiano e o resto será exportado para a América Central, Caribe e, principalmente, Estados Unidos - possivelmente em condições privilegiadas. A Colômbia fechou acordo de livre comércio com os EUA, mas que ainda depende da aprovação do Congresso americano.
Essa será a segunda siderúrgica do Votorantim na Colômbia. No ano passado, o grupo comprou 52% das ações da Acerías Paz del Rio, por US$ 491 milhões, num leilão que durou quase cinco horas e envolveu alguns dos maiores grupos siderúrgicos do mundo, como a Arcelor Mittal e a Gerdau. A Paz del Rio produz do minério e do carvão ao aço.
A Colômbia foi escolhida como um endereço preferencial do Votorantim porque o país cresce muito, importa quase todo o aço que consome, e tem localização geográfica privilegiada para exportar para os EUA e Europa. Além de estar fechando um acordo livre comércio com os EUA - o que evitaria as restrições sofridas pelas siderúrgicas instaladas no Brasil -, a Colômbia fez um grande esforço para atrair o investimento.
O presidente Álvaro Uribe vai criar uma zona franca na área da siderúrgica para isentar de impostos a importação de máquinas e abater o imposto de renda de 33% para 15%.
"Esse contrato terá duração de 10 a 15 anos, ou até mais, para que não possa ser rompido por questões políticas", disse Carlos Arturo Zuluaga, presidente da Acesco, um grande processador de aços planos, que hoje são importados de empresas como a CSN e a CST. Zuluaga se referiu ao temor que a Colômbia possa repetir os conflitos empresariais dos países vizinhos Venezuela e Equador.
Mas a principal dúvida do Votorantim não é sobre o futuro da Colômbia, mas da economia mundial. O novo investimento será feito com cautela. Enquanto são providenciadas as licenças ambientais e o projeto de engenharia, os sócios ganharão tempo para medir o impacto da crise de Wall Street sobre o preço do aço.
Pelas contas de Albano Vieira, presidente da Votorantim Siderurgia - divisão criada este ano para cuidar dos crescentes investimentos do grupo em aço - essa etapa de preparação dará nove meses aos sócios para analisarem o mercado antes de começarem as obras. Dos US$ 1,5 bilhão que serão investidos, cerca de três quartos serão bancados pelo Votorantim e um quarto pelo Acesco.
O cálculo dos sócios prevê certa folga de mercado. "A Colômbia está investindo muito em infra-estrutura e, por isso, o consumo de aço cresce duas vezes mais rápido que a economia", disse Vieira. "Quando a usina estiver pronta, em 2012, o mercado colombiano terá crescido mais de 50%."
O investimento na Colômbia também é representativo das novas prioridades do Votorantim. Embora produza aço na usina de Barra Mansa, no Rio, desde 1937, apenas nos últimos dois anos a siderurgia ganhou importância no grupo. Desde então, o Votorantim decidiu ampliar a produção em Barra Mansa, comprou a Paz del Rio e a Acerbrag, na Argentina.
No Brasil, está construindo uma siderúrgica em Resende, no Rio, para produzir 1 milhão de toneladas de aço plano por ano, além de ter reforçado sua participação como acionista da Usiminas - sem contar os planos para eventuais aquisições na América Latina e nos EUA.
d) China diz que não pagará mais à Vale por minério
As empresas de ferro e aço da China ameaçaram ontem acabar as negociações com a Vale para importações em 2009 como sinal de que rejeitam o aumento de preços.
"Se a Vale não pode resolver o problema bem, significa que perdeu a oportunidade de conversar com a China sobre as exportações no próximo ano", disse o secretário-geral da Associação de Ferro e Aço da China, Shan Shanghua, à revista de negócios "Caijing", de Pequim.
Na semana passada, a Vale propôs aumento no preço de minério de ferro, alegando que os preços pagos pelos asiáticos são 11% inferiores aos pagos pelos clientes europeus. Em reunião, a associação anunciou sua contrariedade.
"Não podemos aceitar esse tipo de comportamento; a proposta viola nosso contrato onde o preço já está decidido", disse Shan. "Se a proposta deles [Vale] fosse aceita, o aumento acumulado de preços chegaria a 98% neste ano."
"Ainda que tenhamos necessidade proporcional do minério de ferro brasileiro, rejeitaremos essa proposta", afirmou um gerente da empresa Magang Holding Co.
Procurada, a Vale informou que não comentaria o assunto.
Shan acusou a Vale de ter paralisado o embarque do minério em navios chineses, resultando em "dramáticas perdas" a vários navios chineses atracados no Brasil. "Ficar [parado] no porto por um dia significa [perda] de US$ 100 mil a US$ 150 mil para as empresas de navegação", acrescentou Shan.
Em fevereiro, a companhia chinesa Bao Steel concordou em aumentar em 65% o preço do ferro da mina do Sistema Sul e em 71% o da mina de Carajás.
Segundo a revista, a associação planeja aumentar a produção local e importar da Austrália, da Índia e da África do Sul para compensar a importação do Brasil, caso a Vale mantenha o aumento de preço.
e) Remessa e importação elevam projeção para o déficit externo
Graças ao aumento nas remessas de lucros ao exterior e ao crescimento das importações, o Banco Central elevou de US$ 25 bilhões para US$ 28,8 bilhões sua projeção para o déficit em transações correntes deste ano. O indicador contabiliza todas as negociações de bens e serviços do Brasil com outros países.
Até agosto, o saldo acumulado estava negativo em US$ 20,6 bilhões. Confirmada a estimativa do BC, será o primeiro déficit externo do país desde 2002. Para 2009, espera-se déficit maior -de US$ 33,1 bilhões.
O BC foi surpreendido tanto pela balança comercial quanto pelo volume de dinheiro enviado para fora do país por multinacionais instaladas no Brasil. Em 2007, quando fez pela primeira vez as projeções para as contas externas em 2008, a instituição estimava que as remessas de lucros fossem ficar em US$ 16,8 bilhões. Essa previsão foi revista pela quarta vez, para US$ 33 bilhões.
"Vários setores estão remetendo para cobrir resultados negativos de suas matrizes", diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, ao se referir às remessas feitas neste ano por bancos e montadoras de veículos. Juntos, esses setores enviaram US$ 6,5 bilhões ao exterior entre janeiro e agosto (mais 45% em relação a igual período de 2007).
Já o superávit da balança comercial, que no ano passado era estimado em US$ 34 bilhões, deve ficar agora em US$ 25 bilhões, de acordo com nova previsão. Isso porque as importações, em vez de crescerem 16% como previsto no final de 2007, devem crescer 43% neste ano.
Em 2009, a situação deve se agravar devido à queda ainda maior no superávit comercial, que, segundo o BC, deve ficar em US$ 17 bilhões, o que explica boa parte do aumento do déficit em transações correntes para US$ 33,1 bilhões.
Além disso, em 2009 é esperado volume maior de vencimentos da dívida externa, cujas parcelas a serem pagas somam US$ 28 bilhões (US$ 25,7 bilhões neste ano), já considerados os compromissos tanto do governo como do setor privado.
Por outro lado, o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, ressalta que também há fatores positivos a serem considerados nessa análise. Um deles é a própria desaceleração da economia brasileira esperada para o ano que vem, reflexo tanto do desaquecimento da economia mundial como dos recentes aumentos da taxa Selic.
Essa desaceleração, diz Lacerda, ajuda a conter as importações e impede um aumento maior do déficit em transações correntes. "O risco é o BC errar a mão nos juros, o que poderia levar a uma queda muito mais forte no nível de atividade."
f) Exportadores não conseguem renovar ACCs
A grande maioria das empresas exportadoras brasileiras não tem conseguido renovar as operações de Antecipação de Contrato de Câmbio (ACC) feitas nos últimos 180 dias e agora vencendo. Alegando falta de liquidez, provocada pela crise financeira internacional, os bancos estrangeiros têm deixado de emprestar dólares ou euros para os bancos brasileiros repassarem o equivalente em reais às exportadoras. Sem esse crédito que é usado para o capital de giro, as empresas não têm como financiar a produção das exportações futuras.
"Isso é que nem um conta-gotas: a cada dia afeta mais empresas, agravando a situação", diz Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Os ACCs são a modalidades de financiamento a exportações mais difundidas no mercado. Eles respondem historicamente por mais da metade do volume de câmbio contratado. O exportador recebe antecipação, parcial ou total, em moeda nacional do valor equivalente à quantia em moeda estrangeira comprada a termo pelo banco, descontada a uma taxa de juros internacional à qual é somado o spread que embute o risco da operação. Essa antecipação de recursos representa importante incentivo à exportação, na medida em que dá meios ao exportador para custear o processo de industrialização e de comercialização a taxas inferiores às do mercado doméstico.
"Se ficarmos três meses sem ACCs, a conseqüência será gravíssima nas exportações brasileiras", ressalta Giannetti da Fonseca. Segundo ele, a taxa dessas operações, que antes era de 3% a 4% ao ano, hoje está em 9% a 11%, e só para empresas que oferecem baixíssimo risco de crédito.
Para resolver o problema, a Fiesp propôs na terça-feira ao Banco Central (BC) usar US$ 20 bilhões das reservas internacionais do País (hoje em mais de US$ 200 bilhões), para que os bancos brasileiros com agências no exterior tenham capacidade de reemprestar aos exportadores. "Isso não representa nenhum risco, pois o BC vai estar correndo o risco dos bancos, risco que hoje ele já tem de forma sistêmica."
Agronegócio
a) Tensão entre Rússia e EUA pode beneficiar a carne brasileira
A tensão política crescente entre Rússia e Estados Unidos pode ajudar a ampliar as exportações de carne do Brasil. O conflito, que afeta as negociações para a entrada da Rússia na OMC (Organização Mundial do Comércio), levou Moscou a ameaçar rever acordos em vigor com os EUA.
Com isso, o Brasil poderá ganhar cotas tarifárias de exportação que hoje cabem aos produtores americanos, aumentando sua fatia no mercado russo, que já é o principal destino da carne brasileira bovina e suína no exterior.
Nos seis primeiros meses deste ano, os russos compraram pouco mais de US$ 1 bilhão em carne bovina brasileira, quase um terço do total das exportações do produto. No caso da carne suína a participação da Rússia é ainda maior, com 43% das vendas do Brasil para o mercado mundial. Poderia ser ainda melhor, voltando ao patamar de 2003, quando chegou a 63%, afirma Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína).
Segundo ele, o Brasil foi prejudicado quando negociou o acordo bilateral para a entrada da Rússia na OMC, pois as cotas maiores de carne já haviam sido concedidas a EUA e UE. Camargo Neto diz que é hora de o governo brasileiro cobrar benefícios da parceria que o Itamaraty afirma ter com a Rússia como parte do chamado Bric (grupo de países emergentes que inclui ainda China e Índia).
"Não tem sentido ser punido por privilégios oferecidos aos EUA e à UE", afirma Camargo Neto. "Precisamos saber se essa história de Bric é para valer. É a hora de a Rússia mostrar que o Brasil é parceiro e de o Brasil não fazer papel de bobo."
O acordo em vigor, fechado em 2005, dá preferência a EUA e União Européia. Com a deterioração das relações entre Rússia e EUA, há a expectativa de que o governo brasileiro pressione para que o acordo, que expira em 2009, seja renegociado com bases melhores.
Na quinta-feira passada um negociador russo esteve na OMC para uma reunião sobre a adesão da Rússia à organização. Foi a primeira desde o conflito na Geórgia, no mês passado, que azedou as relações entre Washington e Moscou. Maxim Medvedkov, chefe do Departamento de Negociações Internacionais do Ministério do Desenvolvimento Econômico da Rússia, reiterou que serão revistos alguns acordos bilaterais sobre o comércio de carne e produtos agrícolas.
Os acordos fazem parte do processo de entrada do país na principal entidade do comércio mundial, que já dura 15 anos. As revisões, segundo Medvedkov, serão negociadas com os EUA, a União Européia e "outros parceiros comerciais" da Rússia. Fontes do Itamaraty confirmaram que é uma janela de oportunidade para que o Brasil aumente sua participação no mercado russo.
No fim de semana passado uma delegação brasileira, com representantes do governo e do setor privado, esteve em Moscou para participar de uma feira agrícola. Estavam previstos encontros com o setor importador russo, nos quais o tema das cotas seria abordado.
Os exportadores não escondem que a piora nas relações entre a Casa Branca e o Kremlin pode levar ao aumento do mercado russo para a carne brasileira. "Estamos torcendo", disse Luiz Carlos de Oliveira, diretor-executivo da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne).
Camargo Neto concorda: "O momento é propício para a renegociação do comércio de carnes", diz.
Mercosul
a) Demanda brasileira cai, e GM argentina paralisa produção
A General Motors argentina irá suspender a produção de veículos de sua fábrica de Rosário, na última semana de outubro, devido à queda na demanda de exportações, principalmente do Brasil.
A fábrica, que tem produção estimada em 120 mil veículos para este ano, fabrica o Corsa e também o Gran Vitara, da Suzuki, e vende quase metade de sua produção ao país vizinho.
Do total da produção, 60% dos automóveis são exportados, 80% deles para o Brasil, que é o principal comprador também de outras empresas automotivas argentinas.
A paralisação da empresa seria o primeiro efeito concreto da crise internacional sobre a indústria local.
"Decidimos parar a produção na semana de 27 a 31 de outubro para nos ajustarmos aos novos níveis de crescimento", afirmou Bernardo García, um diretor da empresa, à imprensa local.
"Trata-se de uma previsão para um cenário com crescimento mais moderado. Mas continuamos sendo otimistas."
Um representante dos trabalhadores da empresa disse que a GM alegou queda nas vendas ao exterior e também na Argentina para justificar a paralisação das atividades.
Segundo o líder sindical, a medida também seria aplicada na GM brasileira. Procurada, a GM do Brasil não quis comentar o caso.
Organização Mundial do Comércio (OMC)
a) G-7 fracassa na tentativa de reativar Rodada Doha
O G-7, grupo formado pelo Brasil, Estados Unidos, União Européia, China, Índia, Japão e Austrália, abandonou no sábado uma tentativa de reanimar a Rodada Doha, partindo sem perspectiva de retomar a iniciativa em futuro próximo.
O novo fiasco foi causado pelo persistente confronto entre os Estados Unidos e a Índia sobre um mecanismo de proteção especial pelo qual a China, a Índia e outros países em desenvolvimento com agriculturas ditas frágeis poderiam frear um súbito aumento de importações agrícolas.
O embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo, qualificou de "lamentável que se perca essa oportunidade, porque não estávamos distante". Segundo ele, "não foi por dificuldade técnica, mas por uma questão de disposição política". O mesmo tema já tinha causado o dramático fracasso da reunião ministerial de julho que deveria concluir sete anos de negociação para liberalizar o comércio internacional.
Diante do que aconteceu em Genebra, uma proposta do ministro de Comércio da Austrália, Simon Crean, de fazer uma reunião de ministros do G-7 em Londres, nos dias 2 e 3 de outubro, pode naufragar de vez.
Enquanto a crise financeira internacional era o alvo de todas as atenções, representantes do G-7 retomaram negociação na quarta-feira sem prazo determinado, até que pudessem superar divergências e chegar a pelo menos um esboço de acordo agrícola.
A tentativa começou e terminar em torno de salvaguarda problemática prevendo que o importador pode impor tarifa adicional acima do que foi estabelecido na Rodada Uruguai - ou seja, um novo acordo agrícola internacional, para liberalizar o comércio, permitiria barreira tarifária ainda maior do que na negociação anterior.
A verdade, segundo um negociador, é que o G-7 veio a Genebra com estrutura bem diferente do que a que tinha sido rejeitada em julho pelo ministros. Foram novas discussões e os negociadores tiveram que arriscar. Uma primeira proposta levada aos ministros, nas capitais, recebeu resposta negativa. Os negociadores tomaram outro caminho, mas quando chegou no sábado pela manhã concluíram que não havia realmente como fazer acordo, ainda diante da divergência entre Washington e Nova Déli.
O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, voltará a telefonar a ministros para ver o que é ainda possível salvar este ano e evitar que a entidade mergulhe num forte marasmo no médio prazo. Os indianos dizem que ainda vão fazer simulações sobre o que foi discutido em Genebra.
Mas o ministro de Comércio da Índia, Kamal Nath, avisou: "Os EUA não serão proativos nos próximos meses, em período eleitoral. Podemos até negociar, mas se chegar a entendimento é outra coisa."
Já o Brasil avisou que insistirá: "Os resultado da rodada podem não vir agora, mas o Brasil não vai desistir de alcançar acordo no prazo mais próximo possível que amplie os mercados e melhore as condições de competição de nossos produtos", afirmou o embaixador Azevedo.
Quanto à principal negociadora comercial americana, Susan Schwab, que logo começará a arrumar a mala para partir do posto, continua a acusar emergentes por dificuldades na rodada.
b) Índia acusa o Brasil de 'vender posição' em Doha
Uma carta do governo da Índia ao diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, insinua que o Brasil estaria vendendo sua posição nas negociações da Rodada Doha em troca de acesso aos mercados americanos e europeus para o etanol, carro-chefe da política comercial do País. A carta, enviada nesta semana e assinada pelo ministro do Comércio indiano, Kamal Nath, caiu como uma bomba no Itamaraty e promete azedar a relação entre Nova Délhi e Brasília.
A relação entre os países já vinha se deteriorando. Em julho, o chanceler Celso Amorim aceitou o pacote de liberalização da OMC. Americanos e europeus também deram sinal verde ao acordo. Mas a rodada fracassou diante da rejeição da Índia.
Kamal Nath voltou a Nova Délhi como herói, por ter supostamente defendido os pequenos agricultores indianos. Nos bastidores, acusou o Brasil de ter traído alianças entre países emergentes e de ter tomado posição próxima à dos Estados Unidos e da Europa. Na época, Amorim negou qualquer traição e afirmou que estava defendendo interesses nacionais.
Na semana passada, a nova tentativa de salvar a rodada fracassou. Mais uma vez o obstáculo foi a Índia, que alega precisar de um mecanismo para impor barreiras a produtos agrícolas, caso haja um surto de importação.
Na quarta-feira, Lamy foi surpreendido em seu escritório por uma carta assinada por Nath. O texto reafirmava que a Índia estava comprometida em fechar um acordo até o fim do ano, sob certas condições, incluindo o mecanismo de salvaguarda. "Sem isso, não podemos aceitar uma solução", escreveu, segundo publicou o Washington Trade Daily.
O que surpreendeu o Brasil foi a insinuação de Nath de que o Itamaraty estaria negociando uma saída para o etanol com EUA e Europa, deixando de fora interesses dos demais emergentes.
Nath afirma que as reuniões sobre a expansão de cotas para produtos agrícolas exportados por emergentes a países ricos não chegaram a um acordo e que a abertura proposta era insuficiente. E acusou o Itamaraty de estar pronto a aceitar o que os países ricos oferecem se, em troca, uma cota for dada ao etanol. "O tema continua sem conclusão, com o Brasil dando sinais de que poderia analisar a proposta se lhe fossem dadas cotas substanciais para o etanol nos EUA e Europa", afirmou Nath.
Em julho, o embaixador Roberto Azevedo se reuniu com as delegações americana e européia para falar sobre o etanol. Peter Mandelson, comissário de Comércio da União Européia, ofereceu ao Brasil cota de 1,4 milhão de toneladas em dez anos, que o governo considerou insuficiente. Em uma nova proposta, a cota estaria indexada pelo consumo futuro europeu, o que permitiria um aumento nas exportações nos próximos anos.
Mas o fracasso das negociações impediu um acordo. Mandelson deixou claro que o caso do etanol estaria ligado ao sucesso da rodada.
Plano Internacional
a) Bird propõe 'novo Bretton Woods'
O Banco Mundial (Bird) reconhece que o sistema econômico mundial precisa ser repensado e um "novo Bretton Woods" precisa ocorrer para que nova etapa de cooperação possa existir entre os países. Um estudo ainda mantido em sigilo pelo Banco Mundial alerta que a atual estrutura internacional não é capaz de dar uma resposta aos desafios colocados pelo sistema financeiro que se implantou no mundo nos últimos anos.
No dia 1º de julho de 1944, em Bretton Woods, Estado de New Hampshire (EUA), foi iniciada uma conferência de 22 dias que acabou na criação do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Hoje, economistas do próprio banco admitem a necessidade de uma revisão.
"Hoje, o que temos no mundo são instituições que promovem a liberalização de vários setores do mercado. Há uma cooperação internacional para debater a abertura do sistema. O que precisamos é de uma entidade ou de relações entre as entidades existentes que promovam a cooperação em prol de regulações das atividades financeiras", alertou ao Estado um dos economistas do Banco Mundial, Aaditya Mattoo. Ele é um dos responsáveis pelo estudo que deve ser publicado até o fim do ano como resposta à situação do setor financeiro.
"A reforma é a conclusão a que chegamos", disse. "O que veremos como conseqüências desses dias de crise será provavelmente uma reação favorável a uma maior regulação dos mercados. Pode ser que essa reação seja tardia. Mas é positivo pelo menos que ela esteja ocorrendo", afirmou o economista.
A avaliação dos economistas é que temas como o de um plano internacional, como o proposto pelos americanos, somente poderiam existir com uma coordenação já estabelecida entre as entidades. Mas, para que isso exista, deverá haver regras para as ações dos bancos.
O Bird também destaca que entidades que hoje sofrem, como a AIG, estiveram envolvidas nessas organizações internacionais há poucos anos, pressionando pela liberalização dos mercados. A AIG, por exemplo, foi responsável por quase dois grandes fracassos nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Nos anos 90, quando se negociava um acordo de serviços financeiros, a empresa pressionou a delegação americana por amplo acesso ao mercado do Sudeste Asiático. A Malásia resistia e o acordo da OMC quase entrou em colapso. Em 2001, foi a vez de a AIG pressionar por benefícios na adesão da China à OMC e ao sistema comercial. "Hoje, não temos um fórum apropriado para debater regulação", alertou Mattoo.
Num documento divulgado na sexta-feira, a União Européia também alerta que somente poderá haver coerência nas políticas econômicas se o atual sistema for repensado. O documento, elaborado por dez dos principais economistas e sociólogos da Europa, sugere o "novo Bretton Woods", mas dessa vez para garantir que haja redução real da pobreza no mundo e que as metas sociais da ONU sejam cumpridas até 2015.
b) Novo líder tem fortes vínculos com o Brasil
A previsível eleição de Taro Aso como primeiro-ministro do Japão é uma boa notícia para o Brasil e a comunidade de imigrantes brasileiros que vive no país asiático. Aso morou por um ano em São Paulo nos anos 60 e é um ativo defensor do fortalecimento das relações entre os dois países, além de ser visto como um aliado dos 320 mil dekasseguis no Japão.
Como deputado, Aso dirige o Grupo Parlamentar Brasil-Japão e é presidente honorário do Comitê Executivo do Ano de Intercâmbio Japão-Brasil, celebrado em 2008 para marcar o centenário da imigração japonesa para o Brasil. Aso esteve no Brasil em 2007, quando era ministro das Relações Exteriores, para participar do lançamento das comemorações do centenário.
Aso, de 68 anos, venceu com grande vantagem a eleição para a presidência do Partido Liberal Democrático, em substituição ao ex-primeiro-ministro Yasuo Fukuda, que renunciou três semanas atrás. Como a legenda tem dois terços dos votos na Câmara Baixa, Aso deve ser eleito primeiro-ministro e participar nesta condição da Assembléia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), no próximo fim de semana.
Depois de relativa estagnação nos anos 80 e 90, o relacionamento entre os dois países voltou a se intensificar nesta década, principalmente depois da escolha do sistema japonês para a TV digital no Brasil.
Os japoneses também têm interesse em disputar a licitação para o trem de alta velocidade que deve ligar São Paulo e Rio de Janeiro, prevista para o próximo ano.
Aso discutiu o assunto em abril com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que esteve em Tóquio como representante do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas comemorações do centenário da imigração japonesa.
O Brasil quer não apenas comprar os trens, mas busca conseguir um acordo que preveja a transferência de tecnologia. Outra área que aproxima os dois países é a produção de etanol, que pode reduzir a dependência dos japoneses do petróleo.
Apesar de ser considerado nacionalista e conservador, Aso é visto como um aliado pela comunidade de imigrantes brasileiros no Japão, que há anos pressiona o governo dos dois países a assinar um acordo na área de previdência. O objetivo é permitir que trabalhadores contribuam para sua aposentadoria no Japão e recebam o benefício mesmo se retornarem ao Brasil.
Aso será o primeiro católico a ocupar o cargo, em um país em que as religiões dominantes são o xintoísmo e o budismo. O futuro premiê morou em São Paulo nos anos 60 como dirigente da empresa de cimento de seu avô paterno. Do lado materno, ele é neto de Shigeru Yoshida, que foi primeiro-ministro logo depois da 2ª Guerra.
c) EUA deveriam ter lançado pacote antes, diz Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em Nova York que a crise econômica americana é "mais grave do que parecia seis meses atrás" e que é preciso "cuidar com carinho para que as coisas no Brasil não dêem uma guinada para trás".
Para Lula, o pacote de quase US$ 1 trilhão do governo dos EUA para socorrer bancos poderia ter sido lançado há mais tempo. "Eu penso que o governo americano tomou as medidas adequadas na última sexta-feira quando colocou US$ 700 bilhões para comprar títulos podres dessas empresas. Se isso tivesse sido feito antes, possivelmente a crise não tivesse ganhado a direção que ganhou", disse, após lançamento de campanha promocional do turismo brasileiro, em Nova York, onde participa da 63ª Assembléia Geral da ONU.
"Todos nós precisamos torcer é para que a crise americana seja a menor possível porque, se ela for muito grande, pelo peso da economia [americana] no mundo, ela vai gerar recessão em todos os países. No caso do Brasil, nós temos menos problemas por causa da diversificação das nossas exportações e importações."
Lula diz que, apesar de manter diálogos diários sobre a crise com o ministro Guido Mantega (Fazenda) e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o temor não se traduzirá em ações na economia brasileira, por enquanto. "[O Brasil] não pode tomar nenhuma medida precipitada."
Em evento no Conselho das Américas, o presidente disse: "Nunca estudei tanto as crises do Brasil quanto eu estudo a crise americana. Estou quase construindo um muro para não deixar ela ultrapassar o Atlântico", disse o presidente, que na ocasião disse que o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, está virando um "xeque", devido à abundância de petróleo no país.
Em seu discurso na Assembléia da ONU, o presidente defendeu medidas multilaterais para crises de alimentos, de ambiente, de energia e também para a crise do mercado financeiro. Ao falar sobre problemas de imigração, citou a Diretiva de Retorno, aprovada em junho na União Européia, que impõe punições mais duras a imigrantes ilegais. Disse que, ao estimular o desenvolvimento de países pobres, os ricos desestimulam a imigração ilegal.
A respeito da crise econômica, Lula disse que é preciso que os governos não deixem as soluções apenas nas mãos das instituições privadas. "É preciso que agora os bancos centrais comecem a tomar medidas para regular e controlar o sistema financeiro internacional, para que a especulação e a jogatina não sejam a prioridade de determinados setores."