20 a 24 de outubro de 2008

Comércio Exterior

Resultados
UE quer barrar madeira ilegal
Brasil será um dos mais afetados na AL, diz estudo
BC faz leilão de US$ 1,62 bilhão para exportações
Aumenta prazo para repasse de dólares a exportadores
Dólar causa 'encalhe' de produtos nos portos


Agronegócio

França vai cortar subsídio ao etanol
Soja se recupera e fecha em alta nos EUA

Mercosul

Grã-Bretanha esfria acordo Mercosul-Europa
Brasil quer que MP seja modelo no Mercosul
Mercosul se reunirá
Paraguai quer acordo automotivo
Indústria argentina quer a desvalorização do peso

Organização Mundial do Comércio (OMC)

Disparam ações antidumping abertas na OMC
Bush liga para Lula para tratar da crise e Doha

Plano Internacional

China acelera reestruturação da economia
Retração nos EUA e na Europa abala setor exportador chinês
Cuba e UE retomam cooperação



Comércio Exterior

a) Resultados

A queda do superávit comercial do País em relação a 2007 se acentuou em outubro em razão do ritmo menor de crescimento das exportações. O saldo acumulado em três semanas deste mês soma US$ 874 milhões, 56,9% menor que o de outubro de 2007 e 46,4% inferior ao de setembro, considerando a média diária.

Para o vice-presidente da Associação de comércio exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, o resultado é "claramente" reflexo da crise mundial. Segundo ele, o saldo caiu por causa da desaceleração das exportações provocada pela redução dos preços internacionais das commodities.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e comércio exterior, na terceira semana de outubro o superávit foi de apenas US$ 334 milhões, resultado de exportações de US$ 4,09 bilhões e importações de US$ 3,76 bilhões. Com isso, a média diária ficou, até agora, em US$ 67,2 milhões - maior apenas que as médias de janeiro, fevereiro e março, meses reconhecidamente fracos para o comércio exterior.

Nas três semanas do mês, as vendas externas somaram US$ 10,94 bilhões, com média diária de US$ 841,6 milhões. A cifra é 17,4% maior que a média de outubro de 2007, mas mostra uma desaceleração de 7,5% em relação a setembro. No acumulado do ano, as exportações ainda registram alta de 28%.

De janeiro até a terceira semana de outubro, as exportações somam US$ 161,81bilhões e as importações, US$ 141,28 bilhões, com saldo positivo de US$ 20,53 bilhões.

b) UE quer barrar madeira ilegal

Uma nova lei européia promete atingir em cheio as exportações brasileiras de madeira. A União Européia (UE) anunciou que quer adotar barreiras para impedir a entrada de madeira ilegal nos países do bloco. Cada importador europeu ou empresas que usam a madeira estrangeira terão de provar que o produto comprado das florestas da Amazônia, África ou Ásia são de origem legal. Cerca de 20% da madeira que entra no mercado europeu é considerada ilegal, sem certificado de origem. A idéia da proposta - que ainda precisa ser ratificada pelos 27 governos da UE - é pressionar os importadores nos países ricos para que comprem apenas madeira certificada de seus fornecedores nos países emergentes, como o Brasil.

A América Latina tem um quarto das florestas do mundo, mas só 1,6% são certificadas, segundo dados da Organização das Nações Unidas.

A idéia européia é criar um mecanismo de créditos de carbono válido em todo o mundo, cujos recursos seriam usados para apoiar a redução do desmatamento em países emergentes. Até 2020, a Europa espera destinar até US$ 3,3 bilhões aos países que mostrem reduções reais das taxas de devastação. A Noruega já fez um acordo desse tipo com o Brasil: comprometeu-se a doar US$ 1 bilhão para a conservação da Amazônia, desde que o País comprove que está reduzindo o desmatamento.

O novo mecanismo será levado pela UE à conferência sobre mudanças climáticas que a ONU realiza em dezembro, na Polônia. O desmatamento é responsável por 20% das emissões de dióxido de carbono (CO2), o principal gás envolvido no aquecimento global. Com os incentivos financeiros e as barreiras sobre o comércio de madeira, a UE espera cortar pela metade a perda de cobertura florestal até 2020.

c) Brasil será um dos mais afetados na AL, diz estudo

O Brasil será um dos países mais afetados na América Latina pela crise do mercado financeiro, de acordo com estudo da UFRJ. Para o economista Reinaldo Gonçalves, a blindagem do Brasil contra a crise é de "papel crepom" em razão da vulnerabilidade externa e de erros de estratégia e de política econômica do governo Lula. Segundo o estudo, os argumentos que sustentam a maior blindagem do país para lidar com a crise são falsos, como a menor dependência dos EUA na exportação, o elevado nível de reservas internacionais e o dinamismo da absorção interna.

Segundo Gonçalves, apesar de o país ter reduzido a participação das exportações para os EUA de 24,7% em 2001 para 18% em 2006, houve aumento no período da participação de países como China e México, que têm economias dependentes do mercado americano.

Em relação às reservas internacionais, Gonçalves argumenta que o país já perdeu mais de US$ 4 bilhões desde que o Banco Central começou a intervir no mercado de câmbio para evitar que o dólar continuasse em alta. Segundo ele, as reservas são pequenas se comparadas ao passivo externo do país, que passou de US$ 343 bilhões em 2002 para US$ 939 bilhões em 2007. Ele representa o estoque de todos os recursos estrangeiros no país, incluídas aplicações financeiras, investimentos produtivos e empréstimos. Houve um erro grave do governo, de ter permitido um dos maiores desalinhamentos cambiais da América Latina."

d) BC faz leilão de US$ 1,62 bilhão para exportações

O Banco Central realizou o primeiro leilão de empréstimo de dólares direcionados ao financiamento de exportações. No total, foram injetados no mercado de câmbio US$ 1,620 bilhão das reservas internacionais. Em curto comunicado, o BC informou que quatro instituições venceram o leilão e receberão os dólares pagando a taxa do mercado bancário de Londres (Libor) de sexta-feira, de 4,13% ao ano, mais 0,11%.

Em até 10 dias, o montante deverá ser alocado em operações de financiamento do comércio exterior. Caso contrário, os bancos e seus dirigentes ficam sujeitos a penalidades como advertência, multa e inabilitação para trabalhar, além da devolução dos valores.

Segundo o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o leilão foi "bem sucedido". Para Meirelles, medidas como essa permitirão a retomada da oferta de crédito. Ele voltou a dizer que os leilões serão realizados de acordo com a necessidade detectada pelo BC.

Como se trata de uma novidade no mercado cambial, analistas foram cautelosos ao avaliar a operação. A taxa de 0,11% acima da Libor foi preliminarmente considerada barata em comparação com os custos praticados no mercado externo, mas a vitória de apenas quatro instituições chamou a atenção, já que cerca de 50 bancos operam no segmento.

O leilão foi anunciado na semana passada para aliviar a situação dos exportadores que enfrentam dificuldades com a queda no volume de crédito. Com a crise, os bancos internacionais que suprem dólares para esse tipo de operação reduziram drasticamente o crédito para instituições brasileiras. O valor injetado ontem pelo BC supera todo o o volume de Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACC) liberados aos exportadores nos 10 primeiros dias de outubro - US$ 930 milhões. Em relação a setembro, o saldo caiu 61%.

O BC ainda atuou outras duas vezes no câmbio. Uma foi por meio das operações de swap cambial, contratos em que oferece proteção contra a variação do dólar assumindo posição devedora na moeda americana, num total de US$ 789,2 milhões. A outra foi por meio de venda direta de moeda que, segundo um operador do mercado de câmbio, foi de US$ 300 milhões.

Mesmo assim, o dólar encerrou o dia estável, a R$ 2,117. O economista-chefe do BES Investimento, Jankiel Santos, disse que o BC tem atuado de forma focada, buscando atingir os problemas que detecta no câmbio.

e) Aumenta prazo para repasse de dólares a exportadores

Por sugestão das instituições financeiras, o Banco Central anunciou que dólares comprados nos leilões para o financiamento do comércio exterior poderão ser repassados aos exportadores em até 30 dias úteis. O argumento dos bancos era que o prazo de dez dias concedido inicialmente era curto, o que poderia inviabilizar a operação.

O principal obstáculo seria a forte volatilidade do mercado. Isso, segundo os analistas, tem "travado" a concessão de créditos à exportação porque bancos e empresas têm preferido esperar - quando é possível - para evitar a contratação do empréstimo com câmbio desfavorável.

"O prazo anterior era muito exíguo. Não havia muito sentido em dez dias porque o mercado está numa situação atípica. Seria preciso que os quatro bancos (que compraram dólares do BC) repassassem US$ 162 milhões por dia", disse fonte de uma das instituições que adquiriram a moeda americana na segunda-feira, quando o BC fez o primeiro - e único, até agora - leilão de dólares vinculado a financiamento de comércio exterior, vendendo US$ 1,62 bilhão.

Na média, o mercado tem repassado, por dia, menos de US$ 100 milhões em crédito à exportação. O argumento dos bancos é que, apesar da falta de dólares, exportadores também receiam tomar o crédito, o que impediria a distribuição do recurso no prazo estabelecido.

A preocupação surgiu após o anúncio do BC de que bancos que adquirirem dólares e não conseguirem repassá-los aos exportadores estarão sujeitos a advertência, multa e até inabilitação. O BC também afirmou que poderá adotar medidas para receber de volta os dólares e tentar realocar o dinheiro no comércio exterior.

f) Dólar causa 'encalhe' de produtos nos portos

A disparada do dólar já provoca acúmulo de mercadorias importadas nos principais portos brasileiros. Em duas semanas, aumentou 50% o tempo de permanência de produtos nos armazéns e nos pátios dos terminais do Porto de Santos, segundo a presidente da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra), Agnes Barbeito.

No Porto de Salvador, a história se repete. Há máquinas avaliadas em até € 100 mil aguardando o sinal verde do importador para passar pela alfândega, conta o diretor do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco), Dagoberto Lemos.

Para escapar da alta do dólar, de 31,7% só este mês - fechou valendo R$ 2,30 -, o importador prefere deixar as mercadorias no armazém a arcar com os custos de nacionalização, como impostos e taxas, que levam em conta o valor do dólar do dia. Nesta semana, o dólar bateu nos R$ 2,5 e, no fim do dia, recuou 3,15%.

"A capacidade operacional nos terminais de carga do Porto de Santos está acima do nível considerado ideal", diz Agnes, que também preside o Tecondi, um dos maiores terminais para contêineres em Santos.

Segundo ela, a capacidade de utilização dos armazéns e dos pátios supera 100%, com empilhamento de produtos e redução das áreas disponíveis para manobras. "Se continuar nesse ritmo, dentro de duas semanas teremos um gargalo. Daí, vão colocar a culpa no porto."

O empresário Omar Abu Jamra Junior, diretor da Nutri.com, importadora de nutrientes usados por indústrias alimentícias, como Sadia e Perdigão, está com 80 toneladas de matérias-primas importadas no Porto de Santos.

"Não vou nacionalizar esses produtos até que o dólar se estabilize num patamar de pelo menos R$2,00", diz. O prazo para desembaraço da mercadoria é de até 120 dias a partir da data de chegada ao País. Vencido o prazo, cabe à Receita decidir o destino da mercadoria.

A opção de empresários como Jamra Junior de deixar o produto no porto se justifica pelas elevadas despesas com a nacionalização dos produtos. Entre ICMS, PIS/Cofins, IPI e Imposto importação, o desembolso do importador chega a 40% do valor CIF em dólar, isto é, que inclui gastos com frete, seguro e o custo do produto. Isso significa que uma mercadoria com valor de importação de US$ 100 pode chegar a custar até US$ 140 depois de nacionalizada.

Depois da modernização dos portos, Agnes diz que o custo de armazenagem ficou competitivo. Nas suas contas, gasta-se o equivalente a 0,65% do valor da mercadoria em dólar para manter o produto no porto por um período de 15 dias.O despachante aduaneiro Orlando Francini, da agência de comércio exterior Magnitude, alerta que o custo de estocagem dobra a partir da segunda semana, mas, mesmo assim, é vantajoso reter a mercadoria no porto diante do dólar nos níveis atuais.

"A situação é preocupante. Os importadores estão aguardando vencer o limite do prazo de desembaraço da mercadoria no porto para ver se o câmbio recua", diz Lemos, da Unafisco. Ele observa que o quadro se agravou no Porto de Salvador nas duas últimas semanas.

Segundo Agnes, o acúmulo de mercadorias ocorre na maioria dos portos e inclui não apenas matérias-primas e componentes para indústrias, mas também bens de capital e itens de consumo, especialmente da cesta de Natal.

"Se a questão do câmbio não for resolvida rapidamente, teremos produtos mais caros para as festas de fim de ano e até corremos o risco de desabastecimento", diz Lemos, da Unafisco.

Agronegócio

a) França vai cortar subsídio ao etanol

O governo da França anuncia que vai cortar os subsídios à produção do etanol, o que deve abrir mercado para as exportações brasileiras. Em seu orçamento para 2009, o presidente francês da França, Nicolas Sarzoky, sugere uma redução dos subsídios até que seja totalmente eliminado em 2012. A decisão é uma das primeiras em toda a Europa e reduz as distorções no mercado.

Nos últimos meses, a ONU e sua agência para agricultura e alimentação (FAO) vêm alertando para os efeitos nocivos dos subsídios que, apenas nos países ricos, atingem US$ 13 bilhões por ano. Os recursos acabam distorcendo os mercados e afetando a capacidade do etanol brasileiro de competir de igual para igual com a produção européia. Apesar de ser mais competitivo, o produto brasileiro não consegue avançar diante das barreiras comerciais e dos subsídios que tentam incentivar a produção local.

A proposta, que já foi aprovada no Comitê de Finanças do Parlamento francês e aguarda aprovação da Assembléia Nacional, indica que a ajuda fiscal ao etanol deve cair de 27 centavos de euros por litro em 2008 para 17 centavos em 2009. Em 2003, a ajuda chegava a 50 centavos de euro por litro. A queda foi de 40% em apenas seis anos e o governo espera economizar US$ 400 milhões apenas em 2009 com o corte de subsídios.

Os produtores alegam que uma ajuda inferior a 21 centavos de euro tornará o produto inviável. Para Alain d’Anselme, presidente do Sindicato Nacional de Produtores de Álcool, as conseqüências da queda dos subsídios serão "catastróficas". Na França, o etanol é produzido com cereais ou açúcar de beterraba.

Os subsídios continuariam a cair até sua eliminação, em 2012. Para o sindicato de produtores, trata-se de uma "morte programada". Os produtores estimam que terão de demitir 25 mil pessoas. O setor alega que investiu US$ 1 bilhão nos últimos anos.

Na avaliação dos especialistas internacionais, os subsídios tornam a produção do etanol ambientalmente insustentável. O governo francês alerta que, ao subsidiar o etanol, as autoridades estão indiretamente forçando um preço mais alto para as commodities.

Também indicou que as multas que estão sendo impostas a empresas que vendem gasolina sem a misturem com o etanol são altas o bastante para que sirvam como incentivo ao setor. Hoje, 5% de etanol precisa estar misturada à gasolina. Até 2010, a atingir 10%.

Em termos ambientais, o impacto dos subsídios também é negativo, já que estaria promovendo a produção de um combustível que não é competitivo e gera mais emissões de CO2 para sua fabricação que a gasolina. Os subsídios ainda incentivariam um maior desmatamento de área que deveriam ser mantidas como protegidas.

Analistas já apontam que haverá alta nas exportações brasileiras para a Europa, já que poderão competir em melhor situação com o etanol local. Em quatro anos, as importações européias aumentaram cinco vezes, passando de 3 milhões de hectolitros para mais de 14 milhões em 2008.

O Brasil é responsável por 70% desse fluxo. A entidade France Nature Environnement já comemorou a decisão. "O fim dos privilégios fiscais aos biocombustíveis significa colocar as necessidades alimentares mundiais acima da produção de energia", afirmou.

Mas, para Sarkozy, o fim dos subsídios não significa uma revisão das metas de expansão do setor do etanol e seus diplomatas garantem que as bombas de gasolina com 10% de etanol começarão a funcionar em 2009.

b) Soja se recupera e fecha em alta nos EUA

Os preços da soja fecharam em forte alta ontem. Na Bolsa de Chicago, o contrato para entrega em novembro encerrou o dia cotado a US$ 8,8450/bushel, com ganho de 2,97%. Analistas disseram que o mercado teve apenas uma correção técnica, depois de cair mais de 6% na quarta-feira, sustentado também pelo avanço do petróleo e das ações em NY. Apesar dos temores de recessão, os fundamentos são favoráveis. As exportações dos EUA seguem fortes, e a colheita da safra enfrenta problemas de clima.

Mercosul

a) Grã-Bretanha esfria acordo Mercosul-Europa

O governo inglês jogou um banho de água fria sobre qualquer pretensão do Brasil de fazer avançar o acordo entre Europa e Mercosul, parado há anos por falta de entendimento entre os blocos. Os europeus, pressionados por Londres, avisaram ao Itamaraty que somente vão voltar a negociar se o Mercosul der provas concretas de que está disposto a abrir seu mercado. No fim da semana passada, diplomatas em Brasília e Bruxelas voltaram a se falar para ver se havia alguma chance de retomar o processo. Mas a conversa resultou em fracasso, sem que sequer uma data para um encontro fosse definida.

b) Brasil quer que MP seja modelo no Mercosul

A medida provisória que na prática permite que o governo compre e privatize empresas de qualquer setor, via Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, será a grande cartada brasileira na reunião de ministros do exterior e da Fazenda de dez países da América do Sul, na próxima segunda-feira, em Brasília, para discutir a crise financeira internacional.

O Brasil quer reforçar a posição de líder regional, repetindo o que a Inglaterra fez na União Européia: o país saiu na frente, jogou bilhões de euros na estatização de bancos, e foi seguido pelos demais países do bloco.

Brasil e Argentina defenderão que os países da América do Sul sigam o exemplo deles, tirando aos poucos o dólar das comercializações internas. A medida entrou em vigor neste mês, em caráter experimental.

Participam da reunião, convocada extraordinariamente, os quatro membros originais do Mercosul e os seis associados: Venezuela, Chile, Bolívia, Peru, Equador e Colômbia.

Eles apresentarão suas preocupações diante da crise e dirão que ações foram e serão tomadas para reduzir seus efeitos na economia real de cada um e do continente. A expectativa brasileira é que a medida provisória publicada seja a estrela do encontro.

O Brasil, porém, terá dificuldades com a Argentina na primeira rodada de reuniões, só com os membros originais do bloco, em que será tratada a proposta argentina de discutir a TEC (Tarifa Externa Comum) entre os quatro países.

O Ministério da Fazenda avisou ao Itamaraty que o Brasil é contrário, alegando que a crise pegou os países em condições diferentes e que a discussão poderia criar problemas entre eles, quando há questões maiores e mais imediatas.

Na avaliação brasileira, a macroeconomia do país está muito mais sólida para enfrentar a crise do que a da argentina.

Os representantes brasileiros serão os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Celso Amorim (Relações Exteriores).

c) Mercosul se reunirá

O governo brasileiro convocou para a próxima segunda-feira uma reunião com países membros do Mercosul para debater a crise financeira internacional. O encontro será realizado em Brasília e contará com representantes de Argentina, Uruguai, Bolívia e Chile. “Há uma iniciativa do Mercosul para se reunir no Brasil (...) e debater a crise em conjunto,” disse o ministro das Relações Exteriores chileno, Alejandro Foxley. Em seguida, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, informou que o objetivo do encontro será definir mecanismos comuns de resposta à crise.

“(O objetivo) é acertar um mecanismo para respostas, se não coordenadas, pelo menos com transparência para que não haja surpresas?, disse Amorim, após participar de cerimônia no Palácio do Planalto em homenagem aos 20 anos da Constituição. Segundo ele, apenas o Paraguai não deverá enviar representantes para a reunião porque as autoridades do país estão em viagem internacional.

d) Paraguai quer acordo automotivo

O Brasil propôs um acordo automotivo ao Paraguai, único membro pleno do Mercosul fora desse tipo de acerto. O tema foi discutido ontem pelo ministro Miguel Jorge, do Desenvolvimento, que está no país liderando uma missão de empresários. O acordo é necessário porque esse setor não foi incluído no Mercosul, o que significa que as vendas de veículos e autopeças não estão isentas do imposto de importação. O acordo com a Argentina e o Uruguai estabelece cotas para a isenção do tributo. O Paraguai quer elevar as exportações para o Brasil em 178% e isso deve ocorrer com mais investimento brasileiro no país.

e) Indústria argentina quer a desvalorização do peso

Assustados com a disparada do dólar no Brasil, empresários argentinos aumentaram a pressão pela desvalorização do peso. A União Industrial Argentina (UIA) divulgou nota ontem, alertando para o risco que o país sofre se o peso não acompanhar o ritmo cambial externo. "O persistente aprofundamento da crise internacional tem aumentado a desvalorização das principais moedas em relação ao dólar e com isso está afetando notoriamente a competitividade de nosso país", diz o texto.

"O real brasileiro se desvalorizou cerca de 51%, o peso chileno 51%, o mexicano 36,7% e o euro quase 25%", calcula a UIA, afirmando que durante a reunião do comitê da entidade, os empresários do interior mostraram como indústria está sendo afetada pela desvalorização das moedas dos parceiros comerciais. O texto alerta: "Se não houver um conjunto de ações para amortizar esses impactos, as conseqüências futuras serão profundas não só para o nível de atividade, mas fundamentalmente para as exportações e o nível de emprego".

Apesar do tom ameaçador, o Banco Central da Argentina está decidido a manter o peso entre 3,20 a 3,26 por dólar. Fonte muito próxima ao BC revelou à Agência Estado que, embora o governo não consulte o presidente da entidade, Martín Redrado, para adotar medidas como a que elimina os fundos de pensão, por exemplo, está consciente de que conter a alta do dólar é fundamental ao país.

A presidente Cristina Kirchner "sabe que, se a divisa subir, haverá uma corrida pelo dólar porque na Argentina, ao contrário do Brasil, em momentos de turbulência, quando o cidadão comum começa a desconfiar, o primeiro que faz é correr à casa de câmbio", diz a fonte. "Esses níveis de flutuação da moeda no Brasil, se ocorressem aqui, no segundo dia haveria filas enormes nas casas de câmbio."

Apesar das boas relações com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo argentino definiu que é preferível uma guerra comercial com o Brasil a uma fuga de capitais e uma corrida pelo dólar. Por isso, o instrumento do governo para conter uma "invasão" de produtos brasileiros serão medidas de proteção ao mercado, como salvaguardas e outras ferramentas aplicadas pelo comércio exterior, sem tocar no câmbio.

A fonte contou que "nunca as relações entre os BCs dos dois países estiveram tão fluidas como agora". Desde que começou a crise, Martín Redrado tem tido conversas telefônicas permanentes, além de vários encontros, com o presidente do BC brasileiro, Henrique Meirelles. Em dias como o de ontem, em que o dólar disparou e o BC teve de fazer swap cambial, Meirelles telefonou a Redrado para explicar o movimento brusco no Brasil.

Para o BC argentino, segundo a fonte ligada à autoridade monetária, o câmbio local não pode ser tocado enquanto a poeira não baixar no Brasil. "É preciso ver onde o real ficará parado", disse a fonte, afirmando que as estimativas do BC brasileiro são de que em dois meses, se não houver surpresa, a poeira já terá assentado e o real voltado a um nível entre R$ 1,90 e R$ 2 por dólar. Agora, se o real se mantiver na casa de R$ 2,30, a fonte reconhece que será complicado para a Argentina. Nesse caso, a proteção comercial aumentaria.

Sobre o sistema financeiro local, a fonte informou que "está sólido" e "os bancos aprenderam com a crise de 2001 e agora têm liquidez suficiente para enfrentar a turbulência". Além disso, "não temos outros fatores complicados como a exposição aos ativos tóxicos, como está ocorrendo no Brasil".

Organização Mundial do Comércio (OMC)

a) Disparam ações antidumping abertas na OMC

Em mais um possível efeito da desaceleração econômica global, a OMC (Organização Mundial do Comércio) registrou uma disparada no número de ações antidumping (de defesa comercial) entre janeiro em junho deste ano.

Segundo a entidade, no primeiro semestre foram abertas 85 novas investigações, a pedido de 16 países, aumento de 39% ante o mesmo período de 2007. O Brasil pediu sete investigações e foi alvo de duas.

Embora não admitam a relação abertamente, fontes da OMC dizem que o agravamento da crise reforçou a necessidade de os países protegerem seus mercados -a ação antidumping é uma alternativa para isso. A expectativa na OMC é que o número de casos crescerá mais.

b) Bush liga para Lula para tratar da crise e Doha

Em telefonema ao Palácio do Planalto, o presidente dos EUA, George W. Bush consultou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a idéia de uma cúpula para tratar da crise global. A idéia de Bush é organizar, em meados de novembro, uma espécie de encontro ampliado do G-8 (sete países mais ricos do mundo e a Rússia), incluindo países emergentes como o Brasil, para discutir mecanismos que evitem no futuro uma crise financeira como a atual.

Na conversa de 15 minutos, Lula não apenas concordou com a sugestão como declarou ser "imprescindível" um encontro desta envergadura. O local e a data ainda não estão definidos.

Bush e Lula também falaram da Rodada Doha de liberação comercial. Bush quis saber detalhes da viagem do brasileiro à Índia, país dominado pela agricultura familiar, apontado como um dos responsáveis pelo fracasso da rodada, depois de duelar com os EUA nesta questão.

Lula disse ter visto um "clima favorável" em território indiano, na semana passada, e que, se depender da Índia, as negociações de Doha serão retomadas em breve.

Plano Internacional

a) China acelera reestruturação da economia

A provável recessão nos Estados Unidos e na Europa em decorrência do terremoto financeiro mundial deverá acelerar o processo de reestruturação da economia chinesa, com redução do peso dos investimentos e das exportações no PIB, estímulo ao consumo interno e fechamento de fábricas que consomem recursos naturais e energia em excesso.

A transição já vem sendo feita de maneira lenta desde a aprovação do plano qüinqüenal para o período 2006-2010, que busca um modelo de crescimento sustentável a longo prazo. Na avaliação das autoridades de Pequim, a dependência dos investimentos como motor do crescimento pode levar o país a um beco sem saída, com expansão descontrolada da capacidade produtiva e o risco de uma enorme ociosidade em momentos de retração da demanda, como ocorrerá agora.

Além de buscar a expansão do consumo interno, a China também se distancia da indústria de baixo valor agregado e mão-de-obra barata que caracterizou seu crescimento depois da adoção de reformas econômicas em 1978.

"O modelo está claramente mudando. A China não tem mais interesse em investimentos estrangeiros para a produção de produtos baratos para exportação", diz o cônsul brasileiro em Xangai, embaixador Marcos Caramuru.

A mudança de rumo ficou clara em 2007, quando o país acabou com os incentivos fiscais para investimentos em manufatura e passou a privilegiar projetos de alta tecnologia ou que utilizem energia renovável.

Desde então, as autoridades chinesas estão muito mais seletivas na aprovação de projetos estrangeiros. Paul Liu, presidente da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico, afirma que os chineses ainda querem o dinheiro estrangeiro, desde que ele seja destinado a setores de alta tecnologia ou de baixo impacto ambiental.

A Província de Guangdong, que concentra as indústrias de baixo valor agregado, viu milhares de empresas dos setores de brinquedos, têxteis e calçados fecharem suas portas ou se mudarem para outros países.

Na semana passada, duas grandes fábricas de brinquedos de Dongguan fecharam e demitiram 6.500 funcionários, em razão da queda na demanda dos EUA. Estatísticas indicam que no primeiro semestre 3.631 exportadores de brinquedos da região fecharam suas portas, o equivalente a 52,7% do total.

Roberto Dumas Damas, representante do banco Itaú BBA em Xangai, diz que a política oficial para investimento estrangeiro prevê quatro categorias, que definem o grau de incentivo a ser concedido: proibido, restrito, incentivado e permitido.

Os investimentos em manufatura eram "incentivados" até o ano passado, e recebiam isenções fiscais e benefícios. Desde então, passaram a ser "permitidos" - podem entrar, mas não há política de atração. Caramuru ressalta que o governo está forçando a entrada das empresas na formalidade e aumentando o controle de qualidade, um dos setores em que o país mais enfrenta problemas.

b) Retração nos EUA e na Europa abala setor exportador chinês

Cerca de 2,5 milhões de trabalhadores podem perder seu emprego nos próximos três meses no setor chinês mais dependente da economia mundial: o exportador.

O cálculo é da Federação de Indústrias de Hong Kong. Em entrevista ao jornal "South China Morning Post", o diretor da federação, Clement Chen Cheng-jen, disse que os efeitos da crise econômica afetarão também bancos e serviços.

Empresários de Hong Kong são donos de 60 mil fábricas no sul da China. Elas empregam 11 milhões de pessoas e produzem de computadores a têxteis. EUA e União Européia já estão comprando menos da China, mas os efeitos da recessão global devem afetar mais ainda o pólo manufatureiro mundial.

"Estamos muito, muito preocupados", disse Chen. "Nossa percepção é grave, até médio prazo, e a recessão vai durar um bom tempo." Ele prevê que pelo menos 15 mil fábricas fecharão até o fim de janeiro.

Os 1.500 funcionários da fábrica BEP, de eletrodomésticos, foram avisados que a empresa fecharia. Ela fica em Shenzhen, cidade de 8 milhões de habitantes que concentra milhares dessas fábricas. A fábrica de roupas U-Right International fechou na semana passada e demitiu 500.

O governo de Hong Kong anunciou ontem que oferecerá linhas de crédito a pequenas e médias empresas. "O setor das fábricas para exportação já estava sofrendo há alguns anos, com o aumento dos custos de matérias-primas e dos salários e com a apreciação do yuan diante do dólar", disse à Folha a chefe do Escritório de Análise Econômica do governo de Hong Kong, Helen Chan.

"O governo chinês deu estímulo por muito tempo e retirou incentivos nos últimos anos, deixando que o mercado resolvesse quem sobreviveria, mas acho que, diante dessa situação, o suporte para essas empresas é necessário."

Para Chan, por duas décadas o casamento entre a China continental e Hong Kong foi perfeito. A ex-colônia britânica, hoje com administração autônoma, ficava com a logística, as marcas, o controle de qualidade e o porto avançado. Já a vizinha região do delta do rio Pérola, com 40 milhões de habitantes, oferecia mão-de-obra abundante para as fábricas.

A competitividade não é mais a mesma e a desaceleração dos mercados mundiais já atinge a região, onde 20 milhões de pessoas trabalham na indústria exportadora.

O caso que provocou maiores protestos até agora foi a falência da fábrica de brinquedos Smart Union, que deixou 6.500 funcionários na rua.

Cerca de mil funcionários protestaram na semana passada por salários não recebidos em Dongguan, no sul da China.

O setor de brinquedos para exportação é um dos mais afetados pela desaceleração econômica na União Européia e nos Estados Unidos, os dois maiores compradores dos produtos chineses: 3.361 fábricas fecharam apenas neste ano.

A Smart Union era fornecedora de empresas como Mattel e Disney e não pagava salários havia semanas para os seus 6.500 funcionários. "A maior razão para o fechamento é que somos muito dependentes do mercado dos EUA, que ficou ocioso", afirmou Xu Xiaofeng, executivo da empresa. No início deste mês, o governo de Dongguan estabeleceu um fundo de 1 bilhão de yuans (R$ 300 milhões) para ajudar pequenas e médias empresas afetadas pela crise nas exportações. Críticos dizem que ele chegou tarde demais.

A crise ainda afeta outras regiões. Em Xangai, a produção industrial caiu 6% em setembro na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Em Jiangsu, a queda foi de 4% no comércio, nos raros números de desaceleração divulgados pela imprensa estatal.

c) Cuba e UE retomam cooperação

Cuba e a União Européia reiniciaram sua cooperação bilateral depois de cinco anos de congelamento das relações por causas políticas. Este foi a primeira decisão tomada durante uma visita ao país do comissário europeu para o Desenvolvimento e a Ajuda Humanitária, Louis Michel, com a intenção de diálogo político "sobre a base da reciprocidade e não-discriminação, além do estrito apego e respeito à soberania dos Estados", segundo o texto.

Michel chega à ilha uma semana depois de a União Européia (UE) ter retomado o diálogo político com Cuba, durante uma reunião ministerial realizada em Paris.

Depois de assinar o documento de colaboração com o chanceler cubano, Felipe Pérez Roque, Michel anunciou a aprovação de uma ajuda humanitária imediata de 2 milhões de euros para as urgências que ainda geram danos dos furacões Ike e Gustav, que em setembro levaram à perda de US$ 5 bilhões. Michel visitou Piñar del Rio, uma das regiões mais afetadas.

Outra oferta do bloco, de 20 a 25 milhões de euros, estará disponível a partir de 2009 para programas de reconstrução de escolas, hospitais e casas. Também foi anunciada a visita do diretor de Desenvolvimento da Comissão Européia para identificar com autoridades cubanas áreas e possíveis modalidades de cooperação. Em comunicado divulgado semana passada, a UE destacou a expectativa de uma transição à democracia e à economia de mercado na ilha.

No dia 30, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja para Havana onde assinará acordos na área de energia entre a Petrobras e a estatal cubana Cupet. Segundo fontes do governo, os acordos fazem parte de um programa de investimentos e contemplam a prospecção de petróleo na costa da ilha. O bloco que será explorado pela Petrobras já foi definido – fica próximo ao litoral do balneário Varadero e se situa em águas não muito profundas.

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