19 a 23 de abril de 2010

Comércio Exterior

Resultados
BB cria portal para incentivar as exportações
Alta do minério de ferro pode reduzir déficit neste ano
Governo apura subfaturamento em exportações

Investimentos

Com projetos bilionários, japoneses reagem ao avanço da China no Brasil
Investimento em portos vai a R$ 15 bi

Agronegócio

Questão fundiária limita desempenho do agronegócio
Embarque de cereal ruim supera 700 mil toneladas

Mercosul

JBS mostra força na fatia argentina da cota Hilton
Acordo da UE e Mercosul pode ser retomado

Organização Mundial do Comércio (OMC)

Unica ameaça levar taxa sobre álcool à OMC

Plano Internacional

Brasil e Índia se juntam à pressão dos EUA sobre yuan
FMI prevê que Brasil crescerá 5,5% no ano e alerta para superaquecimento



Comércio Exterior

a) Resultados

A balança comercial brasileira registrou déficit de US$ 108 milhões - uma média diária de US$ 21,6 milhões - na terceira semana de abril, informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). O déficit é o resultado de US$ 3,4 bilhões em importações e de exportações de US$ 3,292 bilhões.

Apesar do déficit na semana, o saldo comercial segue positivo no acumulado de abril. Nas primeiras três semanas do mês, o Brasil registrou exportações de US$ 8,003 bilhões e importações de US$ 7,321 bilhões, o que resulta em superavit de US$ 682 milhões.

Entre os produtos exportados em abril, destaque para o aumento na venda de semimanufaturados (39%). A exportação de manufaturados cresceu 18,7% em relação a igual período de 2009. Nas importações, as maiores altas foram combustíveis (162,1%) e adubos e fertilizantes (130,4%)

O saldo no acumulado do ano,informou o Ministério do Desenvolvimento, está 66,2% menor do que o mesmo período de 2009. Na ocasião, o país tinha superavit de US$ 4,653 bilhões. A queda no saldo comercial é resultado de um aumento das importações - de 38,1% na média diária - maior do que a das exportações, de 25,4%.

No ano, o país tem superavit comercial de US$ 1,574 bilhão, resultado de US$ 47,232 bilhões em exportações e US$ 45,658 bilhões em importações.


b) BB cria portal para incentivar as exportações

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem exigido pressa do Ministério da Fazenda para a confecção de um pacote de estímulo à Exportação. Mas o governo, ao que tudo indica, pode ficar sossegado em relação ao empenho do Banco do Brasil (BB) para impulsionar as atividades de comércio exterior dos clientes. A instituição reformulou sua plataforma eletrônica para o segmento e entregou, em novembro do ano passado, uma solução que permite ao empresário realizar todo o processo de Exportação (e importação) por meio da internet. A ferramenta, que tem como público-alvo micro, pequenas e médias empresas, aceita operações de até US$ 50 mil, ou o equivalente em euros - valor máximo admitido pela modalidade de Declaração Simplificada de Exportação (DSE). Não há limite, porém, para o número de negócios a serem realizados.

Batizado de Brasil Web Trade, o site reúne todas as etapas envolvidas numa transação internacional. Desde a promoção dos produtos dos clientes, expostos numa espécie de loja virtual, à entrega das mercadorias, feita por transportadoras conveniadas, passando pela documentação, o negócio é fechado em alguns cliques. Muitos clientes têm dificuldade de acessar o mercado externo por puro desconhecimento das regras e dos trâmites burocráticos, explica Nilo Panazzolo, diretor de comércio exterior do BB. Daí a necessidade de simplificar o processo, integrando todas as fases num único ambiente. Desde que a nova versão do site do BB entrou no ar, o volume de negócios dobrou - passou de US$ 500 mil para US$ 1 milhão ao mês. A empresa não precisa se preocupar com nada, a não ser produzir , diz Panazzolo.

A Bratox, distribuidora de veneno de cobra localizada em Campinas, interior de São Paulo, utiliza o Brasil Web Trade para exportar para laboratórios farmacêuticos da China, Índia e França. A empresa, cujo faturamento anual gira em torno de R$ 650 mil, contou com o auxílio do serviço de custódia oferecido pelo BB para viabilizar as primeiras transações comerciais para o exterior. Como não conhecíamos os clientes nem eles a nós, ninguém queria correr o risco de pagar ou enviar o produto antecipadamente, diz Helena Perez, diretora da Bratox. Ao acessar a ferramenta de custódia, o exportador tem a segurança de só despachar o produto assim que a ordem de pagamento emitida pelo comprador estiver sob a guarda do banco. Da mesma forma, a liberação do dinheiro do importador para fazer a conversão cambial fica condicionada ao pedido de embarque da mercadoria.

Uma das novidades trazida pela nova versão do site do BB, aliás, é o envio automático de mensagens para o celular do exportador no momento em que a ordem de pagamento é efetuada. Outra vantagem do sistema desenvolvido pelo banco apontada por Helena é a facilidade logística. A empresa cliente só precisa marcar hora e data que uma transportadora conveniada (Fedex ou Correios) vai até o local pegar a mercadoria e entregá-la em qualquer parte do mundo. O preço do frete ainda sai com desconto de 50%, afirma Helena.

O BB centra seus esforços, agora, no desenvolvimento de uma rede internacional de potenciais importadores. Panazzolo está negociando parcerias com empresas de promoção, especializadas em aproximar as pontas compradora e vendedora - uma delas, asiática, tem 150 milhões de clientes na carteira. O banco firmou também convênio com a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (Apex), transformando o Brasil Web Trade em solução oficial da entidade, que costuma promover cerca de 700 eventos por ano em todo o mundo. O objetivo é incrementar os negócios de pequenas empresas brasileiras no exterior, que segundo os dados mais recentes do Sebrae, de 2008, respondiam por 1,2% do volume total exportado no país. Num segundo momento, a missão será ampliar o número de empresas brasileiras usuárias do sistema, hoje de 7,2 mil exportadores e 4,2 mil importadores cadastrados.

Se o comércio exterior ainda é incipiente para o segmento de pequenas e médias empresas, a atividade mostra, ao mesmo tempo, grande potencial de expansão. A concorrência está atenta. Em fevereiro, o Itaú lançou soluções de movimentação e gerenciamento de conta em moeda estrangeira pela internet e até a contratação de operações de câmbio pelo celular. Priorizamos a criação de um ambiente operacional ágil, em que o cliente pudesse fazer cotação, editar contratos e acessar financiamentos de maneira simples, afirma Sandra Boteguim, diretora de produtos pessoa jurídica do Itaú. Da base de clientes ativos de câmbio do Itaú, cerca de 40% (10 mil) utilizam a internet para fazer transações internacionais. O BB ampliou o foco de atuação para além do financeiro nos processos de comércio exterior , compara Sandra. Não recebemos demanda dos clientes para a oferta de soluções de logística ou outros tipos de contratação, mas se for a vontade deles, vamos também fazer.


c) Alta do minério de ferro pode reduzir déficit neste ano

O mês de março intensificou o processo de deterioração das contas externas, com recorde de déficit em conta corrente de US$ 12,145 bilhões nos primeiros três meses do ano, o pior resultado nominal da série história iniciada em 1947 para esse período. O reajuste no preço do minério de ferro, no entanto, trouxe um alento para a balança comercial e levou os analistas a uma revisão para baixo de suas projeções para as transações correntes para o fim do ano.

Com a incorporação do reajuste do preço do minério de ferro, o saldo projetado para a balança comercial de bens passou de US$ 12,1 bilhões para US$ 19,1 bilhões. Com isso, nossa projeção para o déficit em conta corrente foi revista de US$ 48,7 bilhões para US$ 40,1 bilhões, diz Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores. Ele lembra que o mineral tem um peso de quase 10% das exportações brasileiras.

O Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco vai na mesma direção e prevê déficit de US$ 47,2 bilhões (contra US$ 55,4 bilhões na análise do mês passado). Esperamos intensificação do déficit na conta de serviços e rendas, o que deverá compensar em grande parte a recuperação esperada do saldo comercial, impulsionada, em grande medida, pela maior entrada de recursos por conta do aumento do preço do minério de ferro, que deverá ser contabilizado a partir de maio, diz em relatório.

Em março, o déficit em conta corrente foi de US$ 5,1 bilhões, acima da expectativa do mercado. A surpresa negativa veio de um déficit maior do que o esperado na conta de serviços, que pulou de US$ 2,1 bilhões, em fevereiro, para US$ 3 bilhões em março. Parte dessa alta foi puxada pelo aluguel de equipamentos (US$ 1,26 bilhão).

O Banco Central (que não revisou suas projeções e espera US$ 49 bilhões de déficit em conta corrente), não vê motivos para preocupação com a piora desse indicador. Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, esse comportamento já era esperado por conta do nível de atividade da economia brasileira mais aquecida do que outros países, o que reduz o saldo da balança comercial.

Além disso, diz, as projeções para os investimentos estrangeiros diretos (US$ 45 bilhões) e em portfólio (US$ 35 bilhões) mais do que cobrem a previsão de déficit, com expectativa de fortes ingressos de recursos a partir de maio e também para os próximos anos. Houve uma mudança estrutural nas contas externas, diz, já que antes o país tinha de pagar juros de uma dívida externa maior, enquanto agora o déficit é financiado por investimentos.

Essa nova dinâmica, no médio prazo, completa Lopes, leva a uma tendência de melhora do quadro externo, dado que parte importante desse investimento estrangeiro vem sendo feito no setor produtivo exportador, como mineração e agronegócio. A autoridade monetária espera que a partir de 2012 a situação comece a se reverter.

Nem todos no mercado estão assim tão otimistas. Caminha-se rapidamente para um quadro de crescente deterioração das contas externas onde estaremos mais dependentes da entrada de capitais externos e, na eventual escassez desses, o Bacen será obrigado a utilizar partes das reservas cambiais para prover o mercado em quotas adicionais de divisas, diz relatório da Edgard Pereira & Associados.


d) Governo apura subfaturamento em exportações

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e comércio exterior está investigando possíveis subfaturamentos nas exportações de commodities. Uma fonte do governo revelou à Agência Estado que foram identificadas várias licenças de exportação com diferença de até 30% nos preços de um mesmo produto. São contratos de vendas de produtos agrícolas, como soja, e de commodities minerais, como minério de ferro.

A suspeita do ministério é que os valores foram subfaturados para reduzir o pagamento de tributos, como o Imposto de Renda. Pode ser planejamento tributário, disse a fonte. Se as suspeitas forem confirmadas, o resultado das investigações será enviado à Receita Federal para que fiscalize as empresas.

No Ministério do Desenvolvimento, o único interesse é descobrir se os dados da balança comercial brasileira podem estar sendo prejudicados pela declaração de um valor menor do que o embarcado. Os números das nossas exportações podem estar menores do que poderiam estar, explica a fonte.

Essa distorção nos preços só foi identificada para as vendas de commodities. A fonte disse que a diferença nos valores de um mesmo produto ocorre em contratos da mesma empresa ou entre empresas diferentes. No entanto, o ministério não descarta que algumas diferenças de preço ainda sejam reflexo da crise financeira mundial, que provocou a retração nos mercados compradores.

A fonte explica que, durante a crise, algumas empresas foram chamadas pelo governo para explicar preços de exportação muito baixos. Sem citar nomes, a fonte narrou o caso de uma empresa que produziu para exportar aos EUA, mas o comprador faliu. Para não ficar com o produto encalhado, o exportador brasileiro foi obrigado a vender mais barato. Com a crise, houve muita oscilação de preço, disse a fonte.

A queda do superávit da balança comercial brasileira preocupa o governo. A redução na quantidade de dólares que fica no País como resultado do comércio exterior tem contribuído para aumentar o déficit em transações correntes (total das operações do Brasil com o exterior).

Isso porque o ritmo de crescimento das vendas externas não tem acompanhado o forte aumento das importações. O governo prometeu um pacote para ajudar o setor exportador a recuperar a competitividade, mas até agora nenhuma medida foi anunciada.


Investimentos

a) Com projetos bilionários, japoneses reagem ao avanço da China no Brasil

Os japoneses não assistem impassíveis a aproximação entre os governos do Brasil e da China, como ficou evidente na visita do presidente chinês, Hu Jintao ao Brasil, na semana passada, para encontro dos quatro grandes países emergentes conhecidos como BRICs (Brasil, Índia, China e Rússia): assim como os chineses, que anunciaram contratos bilionários com empresas brasileiras, uma missão japonesa, com 20 executivos de grandes empresas e grandes organizações estatais do Japão, visitou Brasília no fim da semana, para negociar aumento da presença japonesa no país.

Enquanto os BRICs anunciavam um acordo de intenções para coordenar ações de seus bancos de desenvolvimento, o Banco Japonês para Cooperação Internacional (JBIC, da sigla em inglês), que já tem acordo semelhante com o BNDES, informava ao governo que, após firmar dois contratos com a Petrobras, de US$ 1 bilhão no total, em março, pretende financiar mais dois projetos que somam outros US$ 1 bilhão ainda neste ano só com a estatal.

O assédio das empresas japonesas ao Brasil tem forte apoio do Estado japonês, não só financeiro. Em maio, uma missão de japoneses interessados em investir no país em projetos de desenvolvimento sustentável virá ao Brasil para contatos com o BNDES, a Petrobras, a Vale e outras companhias. Em setembro, uma outra missão visitará o Japão, com empresas brasileiras, patrocinada pela Japan External Trade Organization (Jetro). Estamos discutindo um possível acordo sobre bitributação, e está crescendo nosso entendimento mútuo , afirma o diretor da divisão de América do ministério de Economia, Comércio e Indústria do Japão, Yakushi Akahoshi.

Os japoneses lembram que ainda há queixas dos empresários do país ao que consideram barreiras do Brasil ao investimento e comércio. Mas o empenho das instituições financeiras, como o JBIC, é um fato notável, quando se lembra que, na década passada, a moratória da dívida externa decretada em 1986 pelo Brasil ainda traumatizava os japoneses e inibia empréstimos do Japão ao Brasil. Em março, o JBIC emprestou à Petrobras US$ 700 milhões para um navio de processamento e estocagem de óleo (FSPO) que a estatal, com a japonesa Modec, usará no campo de Tupi, no litoral santista, segundo informou o representante do banco no Rio de Janeiro, Takahiro Hosojima.

Outros US$ 300 milhões foram destinados a uma plataforma de perfuração para operação conjunta da Petrobras e Mitsui na África - com complementação de bancos japoneses, esse contrato pode chegar a quase US$ 500 milhões. Esperam assinatura dois contratos de financiamento de US$ 500 milhões. O JBIC estuda mais dois empréstimos, de US$ 500 milhões cada, para financiar outros FSPO da Petrobras com companhias japonesas, diz Hosojima, que participa do grupo de trabalho em energia, recursos naturais e infra-estrutura do comitê de promoção de comércio e investimentos Brasil-Japão.

Estamos conversando com a Vale com quem firmamos um memorando de entendimento e pretendemos financiar a empresa de US$ 3 bilhões no máximo durante quatro anos , acrescenta o executivo do JBIC. Estamos na fase de identificação de projetos concretos que forneçam vantagem a empresas japonesas . O acordo com a Vale é um modelo do tipo de atuação dos japoneses: assinado em 2008, dois anos depois se aproxima da fase em que representará desembolso real para empresa brasileira; e, como a maioria dos projetos do JBIC no Brasil, está concentrado nas áreas de recursos naturais e infra-estrutura.

A atuação dos japoneses no Brasil, assim como a dos chineses, tem a característica de reforçar o país como supridor de matérias primas e insumos para as economias asiáticas. Os japoneses se comprometeram com US$ 200 milhões para o trecho Oeste do Rodoanel, em São Paulo por exemplo, e têm interesse em financiar projetos siderúrgicos, especialmente na Usiminas, que tem a Nippon Steel como sócia. Os próprios japoneses reconhecem que não há expectativas de mudança nesse modelo em médio prazo, embora o governo brasileiro tente atrair os japoneses para investimentos no parque produtivo brasileiro.

No setor de serviços, o JBIC chegou a financiar no passado o setor de telefonia, com empréstimos de quase US$ 1 bilhão à Brasil Telecom, mas nada está previsto para este ano fiscal no setor. Neste ano, o JBIC ganhou novo mandato e um orçamento de US$ 5 bilhões para projetos ligados ao meio ambiente em todo o mundo. No Brasil, os executivos do banco estão interessados em geração de energia com etanol e biomassa, além de fontes alternativas como energia eólica e solar. Ainda sob sigilo comercial, uma empresa japonesa vem discutindo com possíveis sócios brasileiros um projeto de geração de energia com turbinas movidas a etanol.

Nossa missão teve objetivo de reduzir obstáculos ao investimento , diz Hosojima. Um dos motivos de queixa do Japão é a lei brasileira que fica em cinco anos, com possível prorrogação de mais cinco, o prazo para firmas estrangeiras transferirem tecnologia a companhias brasileiras (ao fim do prazo, a parceira brasileira passa a ser detentora da tecnologia, livre de royalties ou barreiras). O prazo atual para transferência de tecnologia no Brasil é insuficiente, e é grande a burocracia dificulta , comenta o executivo do JBIC.

Os obstáculos no Brasil para investimentos japoneses foram um dos principais temas do encontro da missão japonesa com o governo japonês. Os japoneses ouviram dos brasileiros pelo menos uma boa notícia para os interesses das empresas do Japão: no caso dos contratos de transferência de tecnologia, as firmas estrangeiras poderão estabelecer por contrato prazos superiores a dez anos para a proibição de venda dessa tecnologia a terceiros.


b) Investimento em portos vai a R$ 15 bi

Mais de R$ 9 bilhões serão investidos em novos portos no Brasil nos próximos quatro anos. A conta é do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e deverá integrar o mapeamento de investimentos em infraestrutura que a instituição está revisando.

O banco projeta crescimento superior a 200% nos investimentos totais do setor até 2013, com aportes de quase R$ 15 bilhões, que incluem a ampliação de portos já existentes no País. Com a retomada das exportações, o BNDES quer aumentar a concessão de financiamentos para o setor. A carteira de empréstimos nessa área não é tão expressiva quanto a de outros segmentos de logística, como o de ferrovias.

Segundo o gerente do Departamento de Transporte e Logística da Área de Infraestrutura do BNDES, Dalmo Marchetti, 64% dos chamados investimentos firmes mapeados pelo banco deverão ser destinados à ampliação do atual parque portuário brasileiro. Em 2009, os portos brasileiros - que operam no limite de sua capacidade - movimentaram quase 733 milhões de toneladas de mercadorias.

As mudanças no marco regulatório do setor serão os principais desencadeadores dos investimentos. No final de 2008, o decreto 6.620 abriu a possibilidade de o País ter portos públicos (que movimentam cargas diversas) sob a administração do setor privado.

Atualmente, as companhias docas estaduais monopolizam esse papel. Elas podem apenas arrendar terminais para operadores privados. Com a conclusão de um estudo da Secretaria Especial de Portos, o governo deverá licitar áreas onde investidores poderão erguer novos portos.

Para Marchetti, os leilões deverão atrair investimentos e poderão superar dificuldades estruturais das companhias docas, cuja capacidade de investimento é limitada por grandes passivos ambientais e trabalhistas. A ideia (do governo) é fortalecer as companhias docas na sua autossustentação, mas esse é um processo que ainda não está bem amarrado. Hoje, as companhias docas são empresas dependentes da União, diz Marchetti.

Outro caminho que tem sido incentivado pelo governo é a criação de portos privativos, destinados ao escoamento de carga própria, que poderão integrar cargas de terceiros a uma pequena parcela de seu movimento. Recentemente, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) autorizou o Porto Sudeste, que a LLX do empresário Eike Batista constrói no Rio, a movimentar cargas de terceiros em até 36% do total. A LLX também constrói o Porto do Açu, no Rio, com características parecidas.

Os dois projetos da LLX, cujo foco principal é o escoamento de minério de ferro, somam R$ 6,1 bilhões em investimentos e devem iniciar operação em 2012. O BNDES se tornou sócio da companhia, com aquisição de 3% do capital, por meio da BNDESpar.

Os portos privados são uma ousadia brasileira. Não é um modelo usual no mundo, mas é pertinente. Hoje, a gente lida com as dificuldades das companhias docas e é preciso endereçar os passivos. A indefinição sobre quem vai pagar as contas estrangula as docas, que não conseguem fazer o que é preciso. Essa idéia de transferir à iniciativa privada a função de administrador soluciona esse problema. Embora operadores do setor questionem o novo modelo regulatório e apontem inseguranças jurídicas que afastam investimentos, Marchetti avalia que a nova lei acabou com as indefinições da legislação de 1993, para desencadear os investimentos privados.

Para ele, em vez de inviabilizar os portos públicos, a concorrência dos operadores privados obrigará as companhias docas a acelerarem os investimentos em gestão e produtividade. Os portos privativos terão de arcar com todos os custos e ter volume e boa operação para se viabilizarem.



Agronegócio

a) Questão fundiária limita desempenho do agronegócio

Os investimentos no setor rural e no agronegócio como um todo, espera o presidente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), Dilson Resende de Almeida, deverão experimentar fôlego renovado quando o governo concluir o processo de regularização fundiária das quase 20 mil propriedades rurais na região. Esta é uma questão complexa, que tem emperrado a contratação de crédito rural para investimentos, diante da fragilidade dos documentos de posse e consequente deficiência de garantias para o sistema financeiro, diz Resende.

No final de 2009, a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) e a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap), dona das áreas, lançaram-se em uma ofensiva para regularizar a posse de terras rurais no DF num prazo de dois anos, o que significaria dar solução para um problema que se arrasta desde os tempos de fundação da capital do país.

No censo mais recente, realizado pela Federação da Agricultura e Pecuária do Distrito Federal (Fape-DF), afirma Resende, foram identificadas 19.192 propriedades, das quais apenas 3,8 mil mantêm contratados de arrendamento com o governo. Nas demais, a ocupação acontece a título precário. Em torno de 16,7 mil propriedades, ou quase 87%, têm menos de 20 hectares. Dessas, praticamente 8,2 mil, 43% do total, ocupam áreas de dois a cinco hectares. Apenas 85 (0,44%) ocupam mais de 500 hectares. Os produtores poderão firmar contratos de concessão de direito de uso com prazo de 30 anos ou arrematar as áreas pelo valor da terra nua estabelecido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Com extensão de 421 mil hectares, estima-se que 44% da área do DF, perto de 185 mil hectares, poderiam ser exploradas pela agropecuária.

Em 2009, o setor sustentou mais de 88% das exportações do DF. Da porteira para dentro, a agropecuária gerou receita bruta superior a R$ 1,10 bilhão em 2009, mais. Apenas o setor de produção empregou 34.594 pessoas, com mais 616 contratações em relação aos 33.978 ocupados no setor um ano antes.

A produção agrícola da região, diz Resende, não se destaca pelos volumes produzidos, mas pelos índices de produtividade. Como mais de 80% das propriedades têm até 20 hectares, há uma necessidade maior de investimentos em tecnologia para alcançar escalas de produção mais ampla, afirma. A proximidade de quatro polos de pesquisa e de geração de conhecimentos para o setor rural - os centros da Embrapa de hortaliças, agroenergia, recursos genéticos e para exploração dos Cerrados - também contribui. Resultado: a produtividade das lavouras de feijão, milho, trigo, morango, batata e banana alcançam níveis entre 47% e 227% acima da média brasileira.

O agronegócio no planalto central tem se especializado na produção de carne de aves, com o desembarque de grandes grupos como a Sadia, recentemente incorporada à Brasil Foods, controlada pela Perdigão, e o avanço de grupos locais como a Asa Alimentos. A avicultura representa 90% do PIB agrícola, diz Resende. Até o início da década, com um plantel de 9 milhões de aves, as exportações de carne de frango eram inexistentes. O cenário mudou por conta dos investimentos que o setor recebeu. Hoje com 13,6 milhões de aves, o plantel foi multiplicado por seis desde os anos 1980, crescendo 51% em relação a 2003.

As exportações do agronegócio cresceram pouco mais de quatro vezes em cinco anos, pulando de US$ 27,0 milhões em 2004 para US$ 114,8 milhões em 2009. A carne de frango in natura foi responsável por 82% dos embarques, com vendas de US$ 94,3 milhões.

O avanço do setor animou a Asa Alimentos, cuja trajetória, afirma seu presidente, Aroldo Silva Amorim Filho, confunde-se com a história da avicultura no Centro-Oeste, a arriscar vôos mais altos. Criada em 1994, a empresa instalou unidades de produção em Goiás, Tocantins, Pará e São Paulo, tornando-se uma das maiores produtoras de pintos de um dia e de ovos para incubação, produzindo mais de 18 milhões de unidades por dia.

Seu mais recente projeto contempla a instalação em Luziânia, no entorno do DF, de um novo frigorífico com capacidade para 600 mil aves por dia, que exigiu R$ 100 milhões. O grupo, que emprega 2,3 mil pessoas diretamente, gera mais 11,5 mil colocações indiretas, projeta um faturamento superior a R$ 400 milhões em 2010, o dobro do tamanho em três anos.

Maior exportadora do DF, a Sadia iniciou suas operações em Brasília em dezembro de 2004, com a aquisição do controle da Só frango. Além de abatedouro e fábrica de rações, a Sadia investiu, no fim de 2008, na ampliação de sua unidade de salsichas a granel. Sozinha, a empresa responde por sete entre cada dez dólares exportados pelo Distrito Federal e por toda a exportação de carne de frango in natura, com vendas externas na casa dos US$ 94,3 milhões em 2009.


b) Embarque de cereal ruim supera 700 mil toneladas

Das cerca de 5 milhões de toneladas de trigo produzidas no país na safra 2009, pelo menos 30%, ou cerca de 1,5 milhão de toneladas, tiveram problemas sérios de qualidade devido a chuvas na colheita, segundo estimativas do mercado. Esta condição, que trouxe insatisfação generalizada do lado das indústrias moageiras e dos produtores, deverá elevar a níveis recordes as exportações do cereal brasileiro este ano. No primeiro trimestre, os embarques de produto, a maior parte destinada à ração animal, foram três vezes maiores que em igual período de 2009.

Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), entre janeiro e março deste ano as vendas ao exterior somaram 744 mil toneladas, ante 232 mil no primeiro trimestre de 2009. A expectativa do mercado é de que esse volume possa superar 1 milhão de toneladas em 2010.

O Brasil produz cerca de metade do seu consumo de trigo, que é da ordem de 10 milhões de toneladas. O restante da demanda é atendido por trigo importado sobretudo de Argentina e Uruguai, cujas lavouras também foram prejudicadas por problemas climáticos.


Mercosul

a) JBS mostra força na fatia argentina da cota Hilton

A brasileira JBS, maior produtora de carne bovina do mundo, ficou com a maior fatia na divisão da cota argentina para exportação de carne bovina tipo premium com tarifa especial mais vantajosa para a União Européia.

A unidade da JBS na Argentina terá permissão para embarcar 3 mil toneladas dentro da cota Hilton até 30 de junho, de acordo com informações publicadas no Diário Oficial do país. É a maior quantidade entre os 70 frigoríficos com sede na Argentina. A unidade Quickfood, controlada pela também brasileira Marfrig, recebeu autorização para exportar, com o benefício, 1.241 toneladas.

A Argentina, terceiro maior país produtor de carne bovina do mundo, e o primeiro em consumo per capita, recebeu, como de costume, aproximadamente 50% da cota total de 58 mil toneladas, que foi dividida entre oito países. As outras nações que receberam permissão para exportar o produto para a União Europeia foram Canadá, Estados Unidos, Brasil, Paraguai, Uruguai, Nova Zelândia e Austrália. O Brasil, que ainda enfrenta restrições da UE por conta de casos de febre aftosa registrados no fim de 2005, não vem conseguindo cobrir inteiramente os volumes que lhe vem sendo destinados pelos europeus nos últimos anos-cota .

O sistema cota Hilton foi criado para apoiar exportadores de países fora da Europa depois que o continente adotou subsídios agrícolas, em 1979. É a fatia que confere as maiores margens de lucro aos exportadores.


b) Acordo da UE e Mercosul pode ser retomado

O Parlamento Europeu deverá votar esta semana proposta de retomada da negociação entre União Europeia e Mercosul em maio, em Madri, para o acordo de livre comércio mais ambicioso do mundo ser concluído com celeridade. Para parlamentares, o acordo é importante também para levar a outro instrumento que propõem: a criação, até 2015, de uma Zona Euro-Latino-Americana de Parceria Global, que poderia articular os acordos europeus com a região como se fossem parte de uma parceria. A iniciativa ocorre em meio a crescentes dúvidas entre negociadores do Mercosul sobre o real interesse europeu de concluir a negociação de livre comércio.

O Mercosul apresentou proposta melhorada, inclusive no setor automotivo. Mas do lado europeu a impressão é que as concessões continuam desequilibradas e que não seria possível maior abertura para produtos agrícolas do Mercosul. Para a França, a parceria estratégica com o Brasil parece servir só para vender aviões de caça que nunca conseguiu negociar com o resto do mundo.

Organização Mundial do Comércio (OMC)

a) Unica ameaça levar taxa sobre álcool à OMC

O presidente da Unica (União de Indústria de Cana-de-Açúcar), Marcos Jank, disse ontem em Pradópolis (315 km de São Paulo) que o setor poderá recorrer à OMC (Organização Mundial do Comércio) caso a tarifa extra norte-americana imposta ao álcool importado continue vigorando em 2011.

A tarifa de US$ 0,54 por galão expira no fim do ano, mas o presidente dos EUA, Barack Obama, propôs sua prorrogação no Orçamento para 2011. Além dessa taxa, os EUA cobram 2,5% sobre o valor comercializado do álcool importado.



Plano Internacional

a) Brasil e Índia se juntam à pressão dos EUA sobre yuan

A China está sofrendo crescentes pressões de países em desenvolvimento para que comece a valorizar sua moeda, o que está criando aliados inesperados para os EUA em sua disputa sobre a política cambial de Pequim.

Falando antes da reunião de ministros das Finanças e de presidentes de bancos centrais do G-20 que começa em Washington, os presidentes dos BCs indiano e brasileiro fizeram as mais vigorosas declarações até agora em nome de seus países argumentando em favor de um yuan mais forte.

Embora a maioria das pressões públicas sobre a China tenham se originado nos EUA, os comentários evidenciam que algumas economias em desenvolvimento sentem que o atrelamento da moeda chinesa ao dólar impõe custos a suas economias.

Henrique Meirelles, presidente do BC brasileiro, disse que a valorização da moeda chinesa é absolutamente fundamental para o equilíbrio da economia mundial. Ele disse que há algumas distorções nos mercados em todo o mundo, uma delas é a falta de crescimento e a outra é a China.

Duvvuri Subbarao, presidente do Banco da Reserva da Índia disse que o yuan desvalorizado está criando problemas para diversos países, inclusive a Índia. Se a China valorizar o yuan, isso terá um impacto positivo sobre nosso setor externo, disse o Subbarao. Se alguns países administram seu câmbio mantendo-o artificialmente baixo, o ônus do ajuste recai sobre alguns países que não administram seu câmbio tão ativamente.

Na semana passada, Lee Hsien Loong, premiê de Cingapura, disse ser de interesse da própria China, com o fim da crise financeira, manter uma câmbio mais flexível.

Alguns círculos, na China, rechaçaram as pressões dos EUA por uma moeda mais forte, qualificando-as de distração da verdadeira causa da crise financeira. Todavia, não é tão fácil descartar a crítica de países em desenvolvimento. Se os ricos e as economias emergentes estão unidos em exortar a China a valorizar sua moeda, será mais difícil desqualificar o pedido como apenas um exemplo da arrogância de uma superpotência, disse Sebastian Mallaby, no Conselho de Relações Exteriores (CFR).

A intensificação das críticas às China acontece num momento de relativa calma entre Pequim e Washington, já que analistas assumiram que a China já teria decidido abandonar a paridade.

Mas o impacto da política cambial chinesa sobre outros países em desenvolvimento não é clara. Embora diversos desses países tenham visto uma valorização substancial de suas moedas durante o ano passado, o que exerceu pressão sobre suas exportações e os expôs a uma concorrência mais acirrada da China, a recuperação econômica chinesa também lhes deu um impulso, especialmente no caso de seus vizinhos, mas também no caso de produtores commodities, como o Brasil.


b) FMI prevê que Brasil crescerá 5,5% no ano e alerta para superaquecimento

O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou, para o risco de superaquecimento da economia brasileira. Para o fundo, o Brasil terá de retirar estímulos fiscais, avaliou Petya Koeva, do departamento de Estudos Econômicos Mundiais, na apresentação do relatório Panorama Econômico Global. A instituição projeta um crescimento de 5,5% em 2010 e de 4,1%, em 2011 — 0,4 ponto percentual acima da estimativa de janeiro (as últimas previsões do Banco Central são, respectivamente, de 5,8% e 4,5%).

Olivier Blanchard, diretor do departamento de Pesquisas do FMI, apontou riscos de “tensões inflacionárias” em países emergentes, o que forçaria um aumento das taxas de juros em alguns deles. Sem citar o Brasil, Blanchard assinalou também a ameaça de formação de “bolhas especulativas” nas economias emergentes, por causa do forte aumento do fluxo de capitais, atraídos pelas perspectivas de crescimento e juros favoráveis.

Mas se mostrou confiante na capacidade do grupo dos emergentes em controlar o capital, evitar excessos e manter um crescimento estável.

O relatório do FMI destaca uma recuperação econômica global “além das expectativas” no rastro da crise financeira, mas em “diferentes velocidades”.

O Fundo prevê um crescimento econômico mundial de 4,2% em 2010 — um aumento de 0,3 ponto percentual em relação à previsão de janeiro —, e de 4,3% para 2011. Para as economias avançadas, as estimativas de crescimento são, respectivamente, de 2,3% e 2,4%.

Prudência dos consumidores nos EUA, escassez de crédito na zona euro e retorno da deflação no Japão são alguns fatores listados pelo Fundo que explicariam dificuldades enfrentadas pelos países ricos. Na análise do FMI, o principal desafio desses países será o da “consolidação fiscal”, para conter os avanços do altos índices de déficit e de dívida públicos. O Fundo sugere uma depreciação das moedas dos países ricos em relação ao grupo dos emergentes, como forma de estimular as exportações.

— Não deve haver grandes mudanças na relação euro-dólar — disse Olivier Blanchard.

No caso dos emergentes, os índices de crescimento econômico são mais “vigorosos e duráveis”: 6,3% e 6,4%, com destaque para os asiáticos, de 8,7% e 8,6%. Para a China prevê-se, novamente, o maior crescimento, de 10% neste ano — contra 3,1% para os EUA e 1% para a zona euro — e de 9,9% em 2011.

O grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China (Bric) estará particularmente empenhado em demonstrar a força das economias em desenvolvimento durante a crise. Esses países querem que o FMI reconheça seu sucesso e deixe claro que o receituário de superávits primários elevados em períodos de crise e contenção dos gastos públicos precisa mudar.

Segundo técnicos do governo brasileiro, a pedido do G-20 (grupo formado pelas 20 maiores economias do mundo e que se reúne paralelamente ao FMI), o fundo já começou a fazer levantamento do arsenal que foi usado contra a crise e, ao fim do encontro, deve divulgar um documento destacando que o ritmo de retirada dos incentivos.



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