Comércio Exterior
a) Resultados
A balança comercial registrou no mês passado superávit comercial de US$ 394 milhões, o menor valor desde 2002 para meses de fevereiro. O saldo é resultado da diferença entre exportações de US$ 12,197 bilhões e importações de US$ 11,803 bilhões. O pequeno superávit comercial é fruto do aquecimento da economia brasileira e do dólar barato, que impulsionam as compras de produtos importados.
O que mudou este mês, em relação às expectativas que tínhamos no início do ano, foi muito mais uma rápida recuperação das exportações porque as importações continuam aumentando num ritmo relativamente previsível, afirmou o secretário de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral. Segundo ele, a demanda dos mercados compradores por produtos brasileiros, sobretudo dos países emergentes, já mostra sinais de melhora após a crise global. O governo não esperava esta reação rápida.
A média diária das exportações em fevereiro foi de US$ 677,6 milhões e das importações, US$ 655,7 milhões, recordes para meses de fevereiro. No acumulado do primeiro bimestre, as vendas externas somam US$ 23,5 bilhões e as importações, US$ 23,27 bilhões. O superávit no período foi de US$ 228 milhões, 81,5% menor que no primeiro bimestre de 2009 (US$ 1,23 bilhão).
Barral espera que o início do embarque da safra agrícola a partir da segunda quinzena de março ajude a reforçar os números das exportações e, em consequência, aumente o superávit comercial nos próximos meses. Ele não acredita em um déficit em 2010. Os preços estão favoráveis e ainda há muita capacidade de recuperação dos principais mercados consumidores, justificou.
Em fevereiro, as exportações de produtos básicos cresceram 36,3% em relação ao mesmo período de 2009, com destaque para minério de cobre e petróleo. Do lado das importações, os bens de consumo (54,3%) e combustíveis e lubrificantes (92,8%) foram os que registraram as maiores altas em relação a fevereiro do ano passado.
b) BC prepara limpeza nas regras para câmbio
Como parte do esforço para facilitar as exportações brasileiras e a competitividade do país, o Banco Central prepara uma revisão das regras para operações de câmbio, com base em consultas que o presidente do BC, Henrique Meirelles, vem fazendo entre empresários do setor. Meirelles afirma querer uma limpeza, das normas, ainda neste ano, para eliminar regras anacrônicas e simplificar os procedimentos necessários para ingressos e remessas de moeda estrangeira.
As mudanças planejadas pelo BC não devem constar ainda do pacote a ser anunciado em março, de apoio aos exportadores, com medidas para evitar acumulação de créditos tributários, desburocratização e facilidades ao financiamento. Os empresários sugeriram ao governo a revisão completa da lei que rege as operações cambiais, a 4131, de 1962, mas, no BC, é grande a resistência a mexer em lei tão antiga, pelo risco de mudanças indesejáveis durante a tramitação de eventual projeto no Congresso. O presidente do BC vem recolhendo sugestões de medidas que poderiam ser realizadas para facilitar as operações de câmbio. As consultas, segundo ele mesmo, estão ainda em estágio muito preliminar.
As medidas para redução dos créditos tributários recolhidos indevidamente pelos exportadores são as que podem ter maior efeito em curto prazo, na avaliação de participantes de conversas mantidas no governo e entre autoridades e empresários, nos últimos meses. O objetivo é conter a acumulação de créditos tributários criados com recolhimento de impostos nas etapas de produção de mercadorias para exportação. Os exportadores são isentos de impostos federais e estaduais, e a acumulação indevida de créditos, só de impostos federais, soma cerca de US$ 5 bilhões, segundo estimativas não confirmadas pelo governo.
O mecanismo pelo qual exportadores receberiam um crédito automático, calculado segundo o desempenho passado nas vendas ao exterior, é a proposta vista com mais simpatia no governo e tem concentrado as atenções nas reuniões com representantes dos exportadores. O crédito poderia ser repassado eletronicamente pelos exportadores a seus fornecedores, que poderiam usá-lo para abater imposto devido ou repassar aos próprios fornecedores, um degrau abaixo no processo de produção.
A discussão sobre o Eximbank é outra que entusiasma empresários e o Ministério do Desenvolvimento, mas sofre restrições por parte dos representantes da Fazenda, que discordam da ideia de juntar, em um só organismo, operações de financiamento, seguro de crédito e garantias de crédito. Mantega pediu detalhamento das experiências em outros países, para avaliar as propostas defendidas pelo setor privado, e o tema provavelmente será levado para decisão de Lula.
O pacote poderá, ainda, conter medidas específicas sugeridas por setores empresariais que ganharam simpatia entre autoridades, como a sugestão de exclusão das receitas de exportação para efeito de enquadramento no Simples. Com a exclusão, pequenas e médias empresas poderiam aumentar o faturamento com vendas ao exterior sem temer perder benefícios do Simples. A Receita, porém alega necessitar de tempo e de mudanças complexas nos programas do Serpro para adotar as medidas, o que dificultaria sua aplicação.
c) Apesar de recorde de exportação no mês, saldo de fevereiro é o menor desde 2002
O crescimento superior a 50% nas importações brasileiras, especialmente de insumos para a indústria e de bens de consumo duráveis como automóveis, garantiu em fevereiro um recorde em compras no exterior para o mês, e baixou o saldo comercial para o nível mais baixo desde 2002.
Resultado do aquecimento no mercado interno, do mau desempenho econômico nos paises desenvolvidos e da valorização do real em relação ao dólar, o aumento nas média diária das importações chegou a quase 164% para utensílios domésticos e 116% para automóveis. Na média, as importações de bens de consumo duráveis cresceram 82%.
O saldo positivo no Comércio Exterior, de US$ 394 milhões (US$ 228 milhões, no bimestre) só foi obtido porque as exportações, em fevereiro, tiveram crescimento também recorde para o mês, surpreendendo analistas. As vendas ao exterior foram puxadas pelas vendas de automóveis, partes e peças, mas também de commodities ou semicomodities, como açúcar em bruto, celulose, ferro-ligas, laminados planos, alumínio e carnes.
O resultado das exportações foi muito bom, a média diária ficou até acima da registrada no segundo semestre de 2009, comentou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Embora o fraco desempenho das exportações em fevereiro de 2009 faça com que os aumentos neste ano pareçam maiores, devido à pequena base de comparação, os indicadores do mês passado mostram que os valores médios diários do Comércio Exterior brasileiro recuperaram os patamares do início de 2008, disse o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral.
A entrada da safra agrícola, especialmente a safra de soja, que será colhida em volume recorde e preços favoráveis, deverá ampliar a diferença entre exportações e importações, garantindo saldo positivo nos próximos meses, acredita Barral. A recuperação dos principais mercados do Brasil para automóveis, como a Argentina e México, tiveram parte importante nos resultados notáveis de fevereiro, avaliou o secretário. A retomada do crescimento na América Latina também beneficiou outros industrializados, como aços laminados planos, que cresceram 91% em valor (165% em toneladas).
A competição internacional está mais acirrada, mas o Brasil está conseguindo recuperar mercado, disse Barral, que concorda que o desempenho exportador em fevereiro foi surpreendente. As importações já vinham subindo, estava previsto, o que que mudou foi a rápida recuperação das exportações.
O resultado foi considerado ruim, porém, por economistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), que consideraram o aumento de 15% na venda de produtos manufaturados muito inferior ao aumento nas exportações de produtos básicos (como carnes e minério de cobre) e semimanufaturados (principalmente açúcar, óleo de soja e ferro-ligas), que superou 36% . Enquanto, nos dados de janeiro, ainda pairavam dúvidas sobre o dinamismo das exportações de manufaturados, os resultados de fevereiro mostram, sem sombra de dúvida, desempenho desfavorável, conclui nota divulgada pelo Iedi.
O desempenho das importações preocupa empresários de setores mais afetados pela concorrência, como o de têxteis, que reivindica do governo maior agilidade nas investigações sobre concorrência desleal. Estamos plantando um problema sério para o futuro. Com moeda forte, legislação complicada e infraestrutura precária, vamos comprometer o setor exportador, diz o secretário-executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil, Fernando Pimentel.
Pimentel comenta que está crescendo o déficit do setor têxtil, que, em janeiro do ano passado, importou cerca de US$ 2,2 bilhões a mais do que exportou, e, em janeiro deste ano, elevou o saldo negativo para US$ 3,1 bilhões. Os exportadores estão buscando nichos, mas reduzindo o volume vendido ao exterior, diz. Em 2003, exportamos 22 mil toneladas, ao preço médio de US$ 13,50 o quilo. No ano passado, chegamos a US$ 35 o quilo, mas vendemos menos de 5 mil toneladas.
Algumas empresas passaram a importar produtos que faziam no Brasil, explica o presidente da Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee), Humberto Barbato, que teme também pelo mercado externo. No ano que vem, mercados nossos como Argentina e Venezuela passarão a produzir localmente aparelhos de celular, prevê. Ele teme os feitos da MP 472, em tramitação no Congresso brasileiro, que retira o IPI para eletrônicos importados pelo setor petrolífero. Estão retirando o diferencial que dá vantagem à produção nacional sobre o importado.
d) Brasil se torna plataforma de abastecimento da AL
A balança comercial do setor farmacêutico segue o ritmo dos negócios no mercado doméstico. Os números indicam que as exportações brasileiras evoluíram de forma expressiva nos últimos três anos, saltaram de US$ 403 milhões em 2000 para US$ 1,5 bilhão. Já as importações no período passaram de US$ 2,8 bilhões para US$ 6,11 bilhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).
No que diz respeito aos embarques, Nelson Mussolini, vice-presidente executivo da Sindusfarma, acredita que o Brasil está se transformando em uma das principais plataformas de abastecimento da América Latina. As vendas são destinadas, também, aos mercados asiático, africano, europeu e ao Oriente Médio.
Das exportações de medicamentos contabilizadas no período, 80% resultaram de contratos fechados por laboratórios associados à Interfama, o presidente Antonio Brito. A entidade representa 31 companhias, das quais a maioria (71%) é de origem europeia. As demais são dos Estados Unidos e da Ásia. A tendência é de expansão do embarque, como indica o planejamento das companhias.
A brasileira Biolab Farmacêutica, por exemplo, tem planos de comercializar parte de seu portfólio no mercado africano a partir deste ano. A empresa fabrica medicamentos vendidos com prescrição médica, que inclui cardiologia, endocrinologia, ginecologia, dermatologia e pediatria. O volume de exportação é pequeno, diz Márcio Falci, diretor de PD&I. Com fábrica nos municípios paulistas de Taboão da Serra e Jandira, e uma unidade de pesquisa e desenvolvimento em Itapecerica da Serra, na região metropolitana de São Paulo, a Biolab estima terminar o exercício 2010 com faturamento de aproximadamente R$ 600 milhões. No primeiro ano de operação, em 1994, a receita foi da ordem de R$ 27 milhões.
A francesa Sanofi-Aventis destina 10% de sua produção para o exterior. Mas os planos são de ampliar as exportações, diz Heraldo Marchezini, diretor-geral. Os medicamentos genéricos fabricados na planta de Sumaré, que pertencia à Medley (comprada em 2009) se destinam à América Latina e alguns mercados asiáticos.
Já a planta de Suzano é de classe mundial e pode abastecer a Europa e os EUA. Essa unidade concentra a produção global de medicamentos para tratamento da Leshiomaniose, que tem como principal destino os países da Ásia nos quais é grande a incidência da doença. Com essas ações, a expectativa de Marchezini é de fazer do Brasil a quinta operação do grupo Sanofi-Aventis no mundo em no máximo dois anos. Atualmente, a unidade brasileira é a oitava colocada no ranking do grupo.
Segundo ele, as oportunidades no mercado externo surgem em decorrência da otimização da linha de produção. Sobre importações, ele diz que o movimento é pouco representativo para a empresa, não mais do 5%.
A Novartis quer fazer da planta de vacinas que está construindo em Pernambuco ponto de partida para o abastecimento da América Latina. Quando entrar em operação, em 2014, irá empregar 120 funcionários. Os planos são de atender, também os Estados Unidos e a Europa e, principalmente, a África.
e) Acordo comercial Peru-China gera atrito com Brasil
O tratado de livre comércio entre Peru e China, que entrou em vigor na segunda-feira, deverá pôr em desvantagem alguns produtos brasileiros exportados para o país andino e levar o Brasil a cobrar compensações tarifárias do governo peruano.
O Peru já tem sido pressionado pelo governo brasileiro a abrir negociações sobre esse tipo de compensação por conta de um TLC com os EUA, que começou a valer no ano passado. O governo do presidente Alan García, no entanto, tem se esquivado das discussões.
No caso do acordo com a China, eletrodomésticos, carros e máquinas feitas no Brasil são alguns dos itens que concorrerão com similares chineses que entrarão no mercado peruano com tarifa zero.
Em 2008, as exportações brasileiras para o Peru foram de US$ 2,29 bilhões. Em 2009, com a crise, ficaram em US$ 1,48 bilhão.
Esse é o segundo TLC da China com um país da América Latina. O primeiro foi com o Chile.
Segundo Antonio Castillo, conselheiro econômico comercial do Peru no Brasil e ex-vice-ministro da Indústria, o acordo com a China não valerá para os setores de confecções, calçados e metal-mecânica, de forma a proteger indústrias locais. A nossa expectativa é de um aumento no intercâmbio comercial com a China para US$ 15 bilhões em cinco ou sete anos, disse ontem Castillo, que participou das negociações com Pequim. Em 2009, esse intercâmbio foi de US$ 7 bilhões. No mesmo ano, o fluxo comercial do Peru com o Brasil foi de US$ 1,97 bilhão. O comércio deve ganhar novo impulso a partir do fim deste ano, com a conclusão prevista da rodovia interoceânica.
O Peru exporta para a China principalmente minérios (cobre, prata, ferro, zinco entre outros) e farinha de peixe, e importa principalmente confecções, calçados, máquinas e auto-peças.
Além de facilitar o comércio bilateral, o novo tratado poderá ajudar García a vender seu país como um base de exportação para indústrias estrangeiras que desejam entrar no mercado chinês com mais facilidade. É essa imagem que até agora vinha tentando projetar, especialmente junto a empresários latino-americanos que querem acessar o mercado americano.
Mas, para o Itamaraty, a abertura tarifária do vizinho Peru a países de fora da região é algo ainda mal resolvido. A razão é que Lima deve se sentar para discutir tarifas com países do Mercosul sempre que fechar um acordo de livre comércio com países que não integrem a Associação Latino-americana de Integração (Aladi).
Era isso que deveria ter ocorrido após o TLC Peru-EUA. Mas, segundo o secretário César Bonamigo, do setor comercial da Embaixada do Brasil em Lima, o Peru tem evita marcar uma reunião para discutir compensações. O texto do acordo de complementação econômico número 58 (ACE 58), que trata da obrigação de negociações desse tipo, não prevê punições caso o país alvo de queixa adie indefinidamente as negociações. Ainda assim, segundo Bonamigo, o novo acordo do Peru com a China dá margem ao Brasil e ao Mercosul para pedir novas compensações.
O mesmo ACE 58 prevê uma redução escalonada das tarifas no Peru e no Mercosul. Mas o TLC com a China deverá derrubar as tarifas entre os dois num ritmo mais veloz. Um funcionário do governo peruano, que pediu à reportagem para não ser identificado, disse que Lima espera que o Brasil pressione o Peru por causa do TLC com a China assim como tem feito em relação ao acordo com os EUA.
f) Peso de bens de capital importados no mercado brasileiro caiu para30,9%
Em 2009, a participação das importações no mercado interno do país teve queda. O coeficiente de importação, que mede a representatividade dos importados no consumo interno, caiu de 20,9% em 2008 para 19,2% no ano passado.
O levantamento, feito pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), mostra ainda que a queda de participação ficou mais concentrada em bens de capital e bens intermediários. Os decréscimos foram de 2,9 pontos percentuais e de 1,7 ponto percentual, ficando em 30,9% e 19%, respectivamente. A representatividade das importações dos bens de consumo teve queda pequena, de 0,4 ponto percentual. Isso revela que os fabricantes desses tipos de bens não conseguiram aproveitar o momento de crise para aumentar sua fatia no mercado interno.
Entre os setores em que as importações perderam espaço no consumo interno está o de aeronaves, ferrovias e embarcações. Em 2008, 32,4% do consumo de bens desse setor era comprado do exterior. No ano passado, essa participação caiu para 23,6%. Segundo análise da Fiesp, em 2009, com a crise, o mercado doméstico desempenhou papel importante porque absorveu a produção do setor. No segmento de embarcações, especificamente, houve aquecimento de demanda causado principalmente pela descoberta do pré-sal.
Outro setor em que os importados perderam espaço no consumo interno foi o de equipamentos médicos e hospitalares, com queda de 5,9 pontos percentuais no coeficiente de importação. O segmento, porém, ainda é um dos que possuem maior participação de bens importados no consumo interno.
Em sentido inverso, os fabricantes brasileiros de vestuário perderam espaço para as importações no ano passado. O coeficiente de importação do setor aumentou de 4,9% para 5,5%.
No lado das exportações, as vendas ao exterior perderam representatividade na produção doméstica. O coeficiente de exportação caiu de 22,1% em 2008 para 21,1% no ano passado. Os bens de capital puxaram a queda. A participação das vendas ao exterior na produção nacional desse tipo de bem caiu de 25,5% em 2008 para 17,9% para 2009. Os bens de consumo também tiveram decréscimo, com queda de 1,7 ponto percentual no mesmo período. Os bens intermediários foram em sentido inverso. O coeficiente de exportação dos insumos industriais aumentou de 22,3% em 2008 para 23,3% no ano passado.
Segundo relatório da Fiesp, os setores industriais que mais agregam valor são os que têm sofrido maior queda nas receitas com exportação. O setor de veículos e autopeças, por exemplo, viu seu coeficiente de exportação cair de 15,8% em 2008 para 10% em 2009. O setor de máquinas e equipamentos teve queda de 6,3 pontos percentuais no mesmo período.
g) Nestlé planeja fábrica de leite em pó em Carazinho para exportação
Adquirida da Parmalat em julho do ano passado, a fábrica da Nestlé em Carazinho, a 300 quilômetros de Porto Alegre, vai servir também de plataforma de exportações de leite em pó, disse o presidente da empresa no Brasil, Ivan Zurita. De acordo com ele, a estratégia vai exigir a instalação de um equipamento de secagem de leite na unidade (a trigésima da multinacional no país), mas o prazo para o início da nova operação e os investimentos adicionais necessários não foram revelados.
Segundo o executivo, no total a Nestlé planeja investir R$ 350 milhões neste ano no Brasil, boa parte deles nas regiões Sul e Nordeste, nas várias áreas em que a empresa atua. Ele não deu detalhes dos projetos, mas explicou que cada 8% de crescimento orgânico na demanda pelos produtos da empresa exige a implantação de uma nova fábrica. Disse ainda que se houver oportunidades, a companhia vai avaliar novas aquisições no país.
Reinaugurada a fábrica de Carazinho garantiu um ganho de cinco anos em comparação com o tempo que seria necessário para a construção de uma planta a partir do zero, revelou Zurita. Os aportes na unidade já somaram R$ 110 milhões, sendo R$ 103 milhões pagos à Parmalat no ano passado e o restante gasto na modernização das instalações e dos equipamentos locais.
Embora a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB), tenha participado da cerimônia, o executivo disse que a empresa não recebeu incentivos financeiros do Estado, mas apenas informações e suporte técnico para o empreendimento. Junto com a unidade industrial, a Nestlé adquiriu da Parmalat seis postos de captação e resfriamento de leite, sendo cinco no Rio Grande do Sul e um em Santa Catarina.
A segunda planta da Nestlé no Rio Grande do Sul pode processar 1,5 milhão de litros por dia, mas está operando num ritmo de 350 mil litros diários. A primeira, instalada em 2008 para produzir pré-condensado na cidade de Palmeira das Missões, é capaz de beneficiar até 1 milhão de litros por dia.
Conforme o diretor de lácteos Ivan Galinovich, o objetivo da companhia é utilizar 100% da capacidade instalada em Carazinho no curto prazo, mas isso depende do desenvolvimento da linha de produtos e da expansão do fornecimento de matéria-prima. Dois mil produtores do norte e noroeste do Estado estão cadastrados para fornecer leite à unidade.
A partir de Carazinho a Nestlé vai suprir o mercado dos três Estados da região Sul, informou Zurita. A fábrica já está produzindo leite longa vida das marcas Ninho e Molico, creme de leite, leite condensado e também pré-condensado para abastecer outras plantas da empresa. Em seguida, conforme o executivo, o portfólio da unidade será ampliado com o achocolatado Nescau pronto para beber e a linha de produtos à base de soja Sollys.
Os planos da empresa para a cidade gaúcha incluem a construção de um centro de distribuição para atender o Sul do país, disse o presidente, também sem especificar prazos. A Nestlé tem hoje três CDs no país, sendo dois em São Paulo e um na Bahia. O prefeito da cidade gaúcha, Aylton Magalhães (PP), prometeu ceder terreno, energia elétrica, água e a infraestrutura necessária para o novo projeto.
h) Eximbank brasileiro será criado como diretoria do BNDES, diz ministro
O pacote de incentivos às exportações deve ser anunciado até o fim de março, disse o ministro de Desenvolvimento, Miguel Jorge, conforme adiantou o Valor na edição da última segunda-feira. Ele acredita que pode ser criado ainda este ano um banco específico para o comércio exterior, a exemplo do Eximbank. Ele informou que o esboço das medidas está pronto, faltando apenas uma reunião específica dele com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, para fechar o pacote.
Durante reunião do Grupo de Acompanhamento do Crescimento (GAC), os empresários pediram pressa ao governo no pacote de estímulo à exportação. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, resumiu a posição geral queixando-se da forte alta das importações no primeiro bimestre do ano. Além, disso, o exportador sofre com o o acúmulo de créditos, disse ele. As companhias que atuam somente no mercado interno conseguem compensar impostos como o PIS/Cofins na compra de insumos ou no pagamento de outros tributos, mas o exportador, não, argumentou ele.
Entre as medidas em estudo, Miguel Jorge destacou que deve ser criado ainda este ano o Eximbank, uma carteira bancária especial voltada para o financiamento ao comércio exterior. Será uma diretoria especial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES), explicou. Criar um banco novo seria muito burocrático, demoraria muito, explicou.
O ministro também destacou a desburocratização para reduzir custos das operações de comércio exterior, mais financiamentos e garantias, aumento de missões comerciais e de mercados compradores, além de medidas de ordem tributária como devolução de crédito ao exportador. É um projeto para melhorar a capacidade do Brasil exportar, resumiu o ministro do Desenvolvimento.
Os ministros e técnicos do governo ouviram ainda reivindicações pontuais de vários setores, a maioria no sentido de reforçar a competitividade dos produtos brasileiros no mercado externo.
Agronegócio
a) Japoneses voltam a discutir mistura de 10% de etanol
A associação que representa o setor automotivo no Japão (Jama, na sigla em inglês) surpreendeu na última semana ao endossar em sua publicação institucional a adoção de um percentual de mistura de 10% de etanol na gasolina. Desde 2003, a legislação japonesa permite uma mistura facultativa de até 3%. O reconhecimento da associação - equivalente à Anfavea no Brasil - reabre a discussão sobre o potencial do consumo japonês de etanol do Brasil. Uma mistura a 10% significaria um mercado de 6 bilhões de litros por ano para o biocombustível.
Não é de hoje que as empresas brasileiras olham essa perspectiva no Japão. Por isso, quando consideram parcerias internacionais, os japoneses são muito bem-vindos. A ETH Bioenergia, do grupo Odebrecht, tem associação estratégica com a empresa nipônica Sojitz Corporation, que detém 33% da ETH. A multinacional Bunge, que recentemente comprou as usinas do grupo Moema e que tem explícita a estratégia de deter 100% dos negócios que faz, não abre mão, no entanto, da parceria com a trading japonesa Itochu, com a qual tem sociedade na usina Santa Juliana, no Triângulo Mineiro - a Itochu tem 20% da indústria - e também investimentos conjuntos em um projeto em Tocantins.
Apesar de ser permitida a mistura de até 3%, não se sabe quanto o mercado de fato tem praticado no Japão, segundo Alfred Szwarc, consultor em tecnologia e emissões da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). Algumas pequenas distribuidoras misturam 3%. Mas, a maior parte das exportações de etanol do Brasil para o Japão é para industria química, explica Szwarc. No ano passado, foram 282 milhões de litros, 8,5% do que o Brasil embarcou.
A forte oposição na indústria automotiva do Japão vinha da montadora Toyota, que agora passa por um dos momentos mais difíceis da sua história ao anunciar um recall que envolve milhões de veículos. Eu acho que as perspectivas começam a melhorar agora com esse posicionamento das montadoras japonesas. Muitos países já usam há alguns anos a mistura de 10%, diz Szwarc.
A posição da Jama, no entanto, não especifica o tipo de etanol, apesar de trazer especificações nas quais o produto do Brasil se enquadra. A Mitsui Engineering & Shipbuilding (MES), uma das companhias líderes da indústria pesada do Japão, anunciou a assinatura de um acordo de licenciamento de tecnologia com a Inbicon, empresa dinamarquesa que desenvolve tecnologia de etanol celulósico. Com o acordo, a Mitsui passa a deter o direito de construir refinarias de biomassa no Sudoeste da Ásia com a tecnologia da Inbicon. A Mitsui pretende aplicar a tecnologia na indústria de óleo de palma, onde os resíduos da produção podem ser convertidos em etanol, biocombustível sólido para a produção de energia e ração animal.
b) Brasil monta estratégia para elevar as exportações de café
Apesar de o Brasil ter ampliado de 30% para 32% sua participação no comércio internacional de café no ano passado - a maior fatia nos últimos 30 anos, com embarques de 30,3 milhões de sacas -, os Exportadores querem mais. A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA, na sigla em inglês) e a Agência de Promoção das exportações (Apex) preparam uma ofensiva para elevar ainda mais a presença do produto nacional, principalmente o gourmet, em mercados que importaram menos em 2009 ou que tenham grande potencial de crescimento.
O projeto para promover o café brasileiro conta com R$ 1,5 milhão para serem aplicados neste ano. Na mira dos Exportadores já estão pelo menos seis países: China, Japão, Coreia do Sul, Itália, França e Estados Unidos. Cada um desses países deve receber pelo menos uma vez neste ano um grupo de Exportadores de cafés especiais do Brasil.
Entre os seis principais alvos, quatro já figuram entre grandes importadores do café brasileiro. Os americanos são os maiores consumidores do mundo e o segundo principal cliente brasileiro. Uma em cada quatro doses consumidas em território americano é de café brasileiro. Com uma demanda doméstica de 22,2 milhões de sacas em 2009, os EUA importaram apenas do Brasil 5,9 milhões de sacas no ano passado.
Mesmo com a crise, os Estados Unidos são um importante mercado. Temos qualidade e preço para competir e é o que pretendemos fazer, diz Tulio Junqueira, presidente da BSCA. A produção brasileira de café especial é de aproximadamente 5 milhões de sacas, das quais 80% são exportadas.
Terceiro maior destino do café brasileiro, a Itália comprou 14% menos café do Brasil em 2009. Foram embarcadas 2,5 milhões de sacas ante as 2,91 milhões de 2008, fato que justifica uma força maior na promoção do produto. Ainda na Europa, mesmo com toda a tradição em cafeterias, a França é apenas o oitavo destino do café nacional, com vendas de 693 mil sacas.
Na Ásia, o Japão é o terceiro maior consumidor mundial e quarto destino das exportações brasileiras. No ano passado, os japoneses compraram 2,1 milhões de sacas do Brasil, fazendo com que a participação do café brasileiro naquele país chegasse a 35%.
O Brasil já tem uma grande participação no Japão, mas os cafés da América Central e da Colômbia representam juntos cerca de 40% naquele mercado. Com a queda na produção desses países, o Brasil tem chance de ocupar uma parcela ainda maior no mercado que melhor paga pelo produto nacional, afirma Guilherme Braga, diretor do Conselho dos Exportadores de café do Brasil (Cecafé).
Ainda fora da lista dos principais destinos das vendas do Brasil, Coreia do Sul e China devem ter tratamento especial. Os sul-coreanos são grandes consumidores e importam 100% de suas necessidades. Em 2009, foram consumidas na Coreia 1,5 milhão de sacas de café, mesmo volume consumido por Colômbia e Argentina juntos.
Na China a situação é diferente. Precisamos entender o mercado, descobrir o que eles querem para poder ter uma participação maior, diz Junqueira. Mesmo com a maior população do mundo, o consumo per capita chinês é um dos menores, com modestos 0,02 quilo por habitante/ano.
Mercosul
a) Paraguai quer entrar no mercado regulado
As negociações para a venda direta da parte paraguaia da energia de Itaipu no mercado brasileiro chegaram na reta final e é esperado que um acordo esteja fechado até o próximo encontro dos dois presidentes, Fernando Lugo e Luiz Inácio Lula da Silva que está marcado para acontecer no dia 23 de abril. Ambos os governos já fizeram suas propostas de como poderia ser feita essa venda e agora se negocia um ajuste entre uma e outra. Uma das possibilidades abertas é de que o Paraguai, por meio da estatal elétrica Ande, possa vender diretamente também no mercado regulado brasileiro e não só no mercado livre como se discutia anteriormente.
Apesar de não ter feito parte do acordo assinado entre os dois presidentes em julho do ano passado, em torno do tratado de Itaipu, os paraguaios não abrem mão dessa negociação da venda direta no mercado brasileiro. Mergulhado em uma profunda crise energética, que derrubou de ministro aos presidentes das empresas elétricas em janeiro desse ano, o país tem pressa em que o Congresso brasileiro aprove o aumento do valor pago pela cessão da energia paraguaia e ainda que se inicie a obra para a construção da linha de transmissão que será doada pelo Brasil no valor de US$ 450 milhões e que vai ligar Itaipu à capital paraguaia, Assunção.
Na sexta-feira, foi realizada a primeira reunião do conselho de administração de Itaipu com sua nova formação, inclusive com a presença do ministro das relações exteriores brasileiro, Celso Amorim, que assumiu a posição de conselheiro recentemente e cuja nomeação foi vista pelo governo paraguaio como uma demonstração da importância e ênfase que o Brasil dá a essa relação bilateral. Também participaram da reunião o novo presidente da Ande, German Satecha, e o novo diretor-geral paraguaio de Itaipu, Gustavo Codas, que assumiu o posto há 20 dias.
A discussão da reunião girou em torno de como pode haver uma cooperação brasileira, por meio de Itaipu, para ajudar na crise energética paraguaia. Se discutiu desde um programa de substituição de lâmpadas da população paraguaia, nos moldes da campanha brasileira na época do racionamento de energia, até à construção de uma linha de transmissão, que custará US$ 46 milhões, que vai ligar Itaipu à região ao norte do lago da usina hidrelétrica. Estas são as medidas de curto prazo, mas o que a nova gestão do setor elétrico paraguaio quer é que todas as alterações em torno do tratado de Itaipu sigam seu curso rapidamente.
O novo diretor-geral paraguaio de Itaipu, Gustavo Codas, diz que a empresa tem dado todo o suporte ao país e inclusive antecipou recursos para que fosse feito o estudo da nova linha de transmissão que vai se estender até Assunção. Com o projeto de engenharia aprovado, a licitação já pode ser feita. Este é um projeto de longo prazo para resolver essa crise energética, diz Codas. Fomos empossados com a missão de não só resolver o problema energético, como acelerar os trabalhos para que a energia paraguaia traga desenvolvimento ao país.
Nesta primeira quinzena de março, uma comitiva paraguaia virá ao Brasil para negociar com deputados e senadores (de situação e oposição) no Congresso Nacional a aprovação da alteração do tratado de Itaipu que prevê o aumento de US$ 120 milhões para US$ 360 milhões do pagamento dos brasileiros pela cessão da energia paraguaia. O presidente Lula enviou em novembro do ano passado a proposta de alteração e até agora ela não foi discutida no Congresso.
Ricardo Canese, assessor de relações internacionais do governo Lugo, diz que agora em março a questão técnica da venda da energia no mercado brasileiro será discutida e também se haverá necessidade ou não de alguma lei ser alterada. O entendimento é de que é preciso fazer apenas ajuste de regulação, mas não alteração no tratado de Itaipu.
O Ministério de Minas e Energia não quis fazer qualquer comentário sobre essa questão. A posição negociadora do Brasil sempre foi a de colocar empecilhos econômicos para a venda dessa energia no mercado brasileiro, inclusive com o argumento de que não seria bom para o Paraguai, que hoje recebe US$ 50 por MWh da Eletrobrás. Pareceres jurídicos do lado brasileiro dão conta, inclusive, de que precisaria haver mudança na lei para a energia ser vendida no país.
O novo diretor-geral de Itaipu, Gustavo Codas, diz, entretanto, que o argumento da questão econômica não é forte o suficiente para fazer o país desistir da questão. Ele lembra que tudo depende do prazo dos contratos, da variação do dólar e diz que o governo brasileiro fala do custo hoje do mercado à vista da energia brasileira, mas que essa não é a realidade dos contratos no mercado livre. E a ideia continua sendo a de fazer uma venda gradual até 2023, diz Codas. Outro ponto que tem sido visto com bons olhos pelos paraguaios é a exportação de energia de outras usinas hidrelétricas do país para o Brasil.
Os consumidores livres e as comercializadoras de energia brasileiras estão muito interessados na venda da energia do Paraguai. Os grandes consumidores já se dispuseram, inclusive, a pagar US$ 60 pela energia. Por outro lado, os grandes geradores do país que vendem parte de sua energia no mercado livre são contra essa mudança.
Organização Mundial do Comércio (OMC)
a) UE conclui negociação de livre comércio com Colômbia e Peru
A União Europeia (UE) concluiu com o Peru e Colômbia as negociações de um acordo de livre comércio. Para os exportadores brasileiros, isso pode resultar em desvantagem e maior competição nesses mercados.
O acordo prevê o fim das tarifas de importação, com liberalização de 80% do comércio de produtos industriais com o Peru e de 65% com a Colômbia, abrindo oportunidades de centenas de milhões de dólares de novos negócios.
Para a Europa, o interesse é sobretudo exportar carros, máquinas, serviços (bancos, telecomunicações), vinhos e produtos lácteos. Para os dois países andinos, a expectativa é reforçar suas exportações de açúcar, rum, banana e outros produtos agrícolas, como carnes de frango e bovina.
As tarifas de importação nos 27 países do bloco europeu já são baixas. Mas o acordo permitirá a entrada de produtos de Peru e Colômbia com taxa menor ou sem taxa. Já produtos brasileiros similares continuarão sujeitos à taxa normal, se não houver rapidamente um acordo Mercosul-UE.
Segundo negociadores, a Colômbia conseguiu incluir a salvaguarda agrícola da Organização Mundial do Comércio (OMC), para frear alta súbita de importações procedentes da Europa, normalmente beneficiadas por subsídios.
Por sua vez, a imprensa peruana diz que Bruxelas aceitou as 200 milhas marítimas peruanas para estabelecer as regras de origem de produtos pesqueiros. O Peru diz ter conseguido também ampliar cota para exportações de banana a 75 mil toneladas, passando a ter vantagem em relação ao Equador, que abandonou a negociação. Além disso, o Peru teria conseguido cota de 32 mil toneladas de açúcar (e produtos de alto teor em açúcar) e cota de 30 mil toneladas de arroz, também com tarifa zero.
Entusiasmado também com a entrada em vigor de acordo comercial com a China, o presidente peruano, Alan García, falou de dia histórico, com o campo aberto para o Peru fazer gols, que poderão representar criação de centenas de empregos.
A UE é o segundo parceiro comercial da região andina, atrás dos EUA, com comércio total de US$ 24,3 bilhões em 2008. Produtos agrícolas perfazem 47% das compras europeias nos dois países.
Para a UE, o ambicioso acordo inaugura uma nova abordagem nas relações comerciais de investimentos com os dois países andinos. Bruxelas impôs uma cláusula que prevê a suspensão do acordo se não forem cumpridos compromissos de respeito aos direitos humanos e de desenvolvimento sustentável da economia, baseado na proteção e na promoção de direitos ambientais e trabalhistas.
Negociar é uma coisa, aprovar e colocar em vigor é outra. A expectativa das autoridades é de implementar o acordo por volta de 2012. O Parlamento Europeu, agora com mais poderes, pode querer rever aspectos da negociação. Por exemplo, apesar de cláusulas sindical e trabalhista, ainda há oposição à assinatura do acordo, já que a Colômbia é apontada como um dos países com maior número de sindicalistas assassinados no mundo.
Dois outros países andinos abandonaram a negociação. O Equador, por causa da disputa da banana, na qual acusa a UE de não respeitar decisões da OMC para abrir seu mercado. A Bolívia alegou desacordos ideológicos.
Até agora, a UE tinha acordos comerciais na região apenas com México e Chile. Negocia também com países da América Central, na expectativa de concluir o entendimento na cúpula UE-América Latina em maio, em Madri.
Será também onde a UE e o Mercosul esperam relançar a negociação de um entendimento comercial bem mais amplo e de maior interesse para as empresas dos dois lados.
b) Retaliação aos EUA em propriedade intelectual será definida no fim do mês
Só deverão ser divulgadas no fim de março as medidas de retaliação cruzada, pelas quais o governo brasileiro punirá detentores americanos de direitos de propriedade intelectual, em represália aos subsídios ilegais dos EUA. O tema será submetido no fim deste mês aos ministros na Câmara de Comércio Exterior (Camex). Após definir os setores a serem afetados pela retaliação cruzada, a Camex abrirá consulta pública para, só depois, anunciar medidas de represálias aos EUA em direitos de propriedade intelectual.
O governo já havia decidido adiar, desta semana para o dia 8 próximo, a divulgação da lista com as mercadorias que poderão sofrer sobretaxas ou outras restrições de entrada, em represália aos subsídios americanos, considerados ilegais pela Organização Mundial do Comércio (OMC). O adiamento foi decidido para não perturbar a visita da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, segundo uma autoridade do governo brasileiro.
Para evitar transtornos aos produtores brasileiros que usam insumos importados dos EUA, a lista de mercadorias americanas afetadas foi reduzida, de 222 produtos para menos de 120, após consultas públicas feitas pela Camex.
O governo enviou, no início do ano, uma medida provisória ao Congresso com um amplo elenco de medidas que poderá tomar contra direitos de propriedade intelectual de firmas e pessoas dos EUA, conforme autorização da OMC. A Camex deverá escolher algumas dessas medidas, como a permissão de importação paralela de medicamentos, para, depois de consulta, anunciar que produtos ou produtores serão afetados pela retaliação.
Embora o tema do algodão seja de responsabilidade do representante comercial dos Estados Unidos, Ron Kirk, o assunto deve ser abordado nos encontros com Hillary e com o secretário de Comércio dos EUA, Gary Locke, que visita o país na semana que vem. O Brasil busca um acordo de compensações, como apoio financeiro a pesquisas do setor algodoeiro e remoção de barreiras a produtos como a carne, que evitariam a aplicação da retaliação - que, como autorizou a OMC, poderia chegar a US$ 830 milhões por ano.
A visita de Hillary deve ter como tema mais polêmico a pressão dos Estados Unidos para que o Brasil apoie o pedido americano de sanções contra o Irã, no Conselho de Segurança da ONU, no qual os brasileiros têm assento temporário. Os EUA consideram as sanções a única forma de evitar que o Irã dê seguimento a um programa nuclear de uso militar. Mais que o Brasil, os EUA têm de convencer membros com poder de veto no Conselho de Segurança, como a China e a Rússia, que ontem manifestou-se contra as sanções.
O governo brasileiro quer pressionar Hillary a um compromisso pela reforma da ONU e pelo avanço do acordo contra a mudança do clima. EUA e Brasil, apesar das diferenças, tentarão ressaltar a aproximação entre os dois governos, que deverão assinar um Diálogo de Parceria Global reunindo várias áreas onde há acordos de cooperação. O Diálogo prevê encontros anuais entre a secretária de Estados americana e o ministro brasileiro de Relações Exteriores. Os dois países devem enfatizar também um acordo de trabalho conjunto para projetos de desenvolvimento na África e no Haiti.
c) Brasil e Bélgica tentam ampliar comércio bilateral
O comércio entre Brasil e Bélgica cresceu de forma contínua entre 2003 e 2008. No ano passado, as transações entre os dois países caíram quase 30% influenciadas pela crise global. Mas existe uma perspectiva otimista uma vez que as trocas comerciais bilaterais têm grande potencial de crescimento. Em 2009, a corrente de comércio Brasil-Bélgica somou US$ 4,29 bilhões, 28,3% abaixo dos US$ 6 bilhões de 2008, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
O Brasil exporta para a Bélgica sobretudo commodities, produtos minerais e metais, entre os quais fumo, café, suco de laranja, caulim e alumínio. A Bélgica exporta para o mercado brasileiro produtos químicos e vegetais, vacinas, plásticos, material de transporte, metais, máquinas e malte, entre outros produtos. Em 2009, o Brasil exportou US$ 3,1 bilhões para a Bélgica, com queda de 29,4% sobre a exportação de 2008, e importou US$ 1,15 bilhão, com redução de 29,79% sobre o ano anterior. O saldo comercial foi de US$ 1,98 bilhão.
O embaixador da Bélgica no Brasil, Caude Misson, tem dados segundo os quais o Brasil é apenas o 27º no ranking dos principais clientes da Bélgica (atrás dos Emirados Árabes Unidos). O Brasil, por sua vez, aparece como 15º colocado na lista dos maiores fornecedores para o mercado belga (após Luxemburgo). Isso não reflete o potencial das trocas entre nossos dois países, diz Misson. Segundo ele, o Brasil representa menos que 1% do total das exportações belgas. É pouco considerando-se que a Bélgica é o 8º exportador e 9º importador do mundo, de acordo com dados da Organização Mundial do Comércio (OMC) de 2008. As exportações brasileiras para a Bélgica representam, por sua vez, apenas 2% das vendas externas totais do país, segundo dados de 2009.
Misson diz que a forma de aumentar o comércio bilateral é multiplicar as oportunidades de encontros entre empresas, promover mais missões econômicas e comerciais e aumentar as participações em feiras. Não há segredos. A Bélgica tem tradicionalmente déficit na relação comercial com o Brasil, mas essa não é uma preocupação para o embaixador desde que os valores das exportações e importações aumentem paralelamente, diz.
Há iniciativas concretas para aumentar o comércio entre os dois países. Entre 6 e 8 de abril, a Bélgica estará presente na Intermodal, maior evento da América Latina no setor de logística e transporte. Flandres, região norte da Bélgica, terá um estande com a presença dos principais portos do país - Antuérpia, Ghent e Zeebruge. Também estarão presentes empresas de logística e dragagem, como Katoen Natie, Euroports Terminals - Westerlund/Manuport, Jan de Nul e Deme, entre outras.
Em maio, uma missão econômica e comercial belga, presidida pelo príncipe herdeiro Philippe, estará no Brasil para tentar ampliar e diversificar os laços comerciais entre os dois países. A missão deverá visitar São Paulo, Rio e Belo Horizonte. O príncipe Philippe terá encontro, em Brasília, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É possível que na missão se discuta algum acordo de cooperação no setor portuário. O dinamismo e a diversificação da economia brasileira representa um atrativo para as empresas belgas, diz Misson.
Antes da missão do príncipe ao Brasil, a Agência Brasileira de Promoção de exportações e Investimentos (Apex-Brasil) deve inaugurar, até o fim deste mês, em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), um escritório em Bruxelas, capital da Bélgica e cidade sede da União Europeia (UE). Um dos principais objetivos do escritório, segundo a Apex, será fazer um lobby técnico para evitar que as exportações brasileiras enfrentem problemas no mercado europeu.
d) Brasileira G5 fecha acordo com banco japonês Mizuho Securities
A butique brasileira de investimentos G5 Advisors acaba de fechar uma parceria com um dos maiores bancos de investimento do Japão, o Mizuho Securities - que faz parte do gigante conglomerado Mizuho Financial Group. Com o acordo, os dois passam a atuar juntos na prospecção de clientes e de negócios nos dois países, conforme conta Corrado Varoli, um dos fundadores e presidente da G5.
Apesar de o acordo de cooperação ter acabado de sair do papel, Mizuho e G5 já têm três clientes em comum. Varoli, ex-presidente do banco americano Goldman Sachs para a América Latina, não pode dar muitos detalhes sobre os clientes, mas conta que as áreas que mais interessam aos japoneses são as de mineração, siderurgia, petroquímica e agronegócio.
Já há investimentos de empresas japonesas nessas áreas de negócio, cita Varoli. A trading japonesa Mitsui, por exemplo, é uma das acionistas da mineradora Vale. A siderúrgica Nippon Steel, por sua vez, é a maior acionista individual da Usiminas.
No caso do agronegócio, prevê o presidente da G5, as áreas que mais devem interessar são as de produção de etanol e de biodiesel, plantio de soja e de eucalipto. Mas não se deve esperar que os japoneses venham com apetite para serem donos de empresas brasileiras. O perfil deles é bem diferente dos americanos e de alguns europeus. Eles gostam de ter uma participação, não o controle, explica.
Segundo Varoli, o banco Mizuho tem 5% do capital de todas as empresas do Japão. No acordo com a G5, estão entre as prioridades não apenas a possibilidade de investimento com recursos do próprio caixa, como também assessorar empresas interessadas no País.
A partir de agora, a rentabilidade de todos os negócios entre os novos parceiros serão divididas pela metade. Juntamos a experiência de uma butique de investimentos, que é uma área conhecida por todos, com a vantagem internacional, diz o presidente da G5.
A G5, além de cuidar de operações de fusões e aquisições, faz operações de reestruturação de dívidas de empresas e administra fundos, num total de R$ 300 milhões em carteira.
A butique de investimentos está perto de lançar o primeiro fundo imobiliário. A operação deve acontecer até o fim deste mês. O fundo será lançado com um valor de R$ 500 milhões. Atualmente, a G5 tem cerca de 20 mandatos para operações de fusões e aquisições.
Além de Varoli, são sócios Marcelo Lajchter, Renato Klarnet e o ex-presidente do Banco Central Francisco Gros, que presideo Conselho de Administração.
Em comunicado divulgado no Japão, o presidente do Mizuho Securities, Keisuke Yokoo, disse: O Brasil tem agora uma incrível importância para as empresas japonesas e nós esperamos que a aliança com a G5 Advisors irá aumentar significativamente nossa capacidade de atender os nossos clientes nos seus planos de fusões e aquisições no Brasil.
O acordo com a G5 não é a primeira parceria do grupo Mizuho com o Brasil. Em setembro do ano passado, o banco fechou uma aliança comercial com o Itaú Unibanco para oferecerem juntos serviços aos exportadores japoneses e, assim, facilitar os empréstimos e cooperações financeiras para as companhias do país asiático que atuam no Brasil. O Mizuho tem apenas um escritório de representação no Brasil.
No fim de janeiro o banco divulgou os resultados obtidos no último trimestre de 2009. O lucro foi de cerca de US$ 428 milhões, acima das estimativas dos analistas. Muito tem se falado no Japão da possibilidade de o Mizuho vender ações no mercado no próximo ano fiscal, que começa em abril.
Plano Internacional
a) Chineses selam ingresso no capital da MMX
A conclusão do negócio entre o grupo chinês Wuhan Iron and Steel (Wisco) e a MMX Mineração e Metálicos Metálicos, empresa controlada pelo grupo EBX, do empresário Eike Batista, foi celebrada na sexta-feira. Na ocasião, o grupo chinês fez a integralização de capital na MMX via subscrição de 101,8 milhões de ações ordinárias (ON, com direito a voto), equivalentes a 21,52% do capital da mineradora. A integralização foi feita pela Wisco Brasil Investimento em Metalurgia, subsidiária brasileira da companhia chinesa, conforme previsto no cronograma da operação de aumento de capital da MMX em curso.
Os chineses pagaram pela parceira com Eike R$ 738,9 milhões, o equivalente a US$ 400 milhões convertidos pela cotação da moeda americana em 10 de fevereiro e já depositados na conta da mineradora, como adiantou Roger Downey, presidente-executivo da MMX. Ainda faltam R$ 480 milhões para serem integralizados pelos minoritários, que poderão exercer seu direito de preferência de subscrição destes papéis ao custo de R$ 7,26 por ação, até o dia 18 de março. O aumento de capital da MMX deve totalizar R$ 1,2 bilhão.
Quem achava que tinha risco na operação com os chineses agora concluiu que o risco era zero, disse Downey em resposta a investidores que tinham dúvidas em relação à transação com a Wisco. Peng Chen, diretor financeiro do terceiro maior conglomerado de mineração e siderurgia da China, veio ao Brasil especialmente para fechar a transação, acompanhado de 27 técnicos e consultores. Como minoritária, a Wisco terá direito a dois assentos no conselho de administração da MMX. Contudo, não foi assinado nenhum acordo de acionistas entre as partes.
Para Downey, a entrada da Wisco na MMX muda para melhor a situação da empresa, a começar pelo fechamento do contrato de compra e venda de 50% do minério de ferro a ser produzido pela mineradora, cuja meta é ampliar sua capacidade de produção para 33,7 milhões de toneladas, em princípio até 2013. Deste total, 32 milhões serão exportados, dos quais 16 milhões para a Wisco, nos próximos 20 anos.
O dinheiro dos chineses também vai ajudar a empresa a ficar com balanços mais bonitos, como enfatizou Downey, que garantiu estar trabalhando para melhorar a situação operacional e reduzir a dívida da MMX em 2010. Com estes recursos, minha dívida será bem mais baixa do que era, disse ele, sem informar o valor do débito, alegando que está para divulgar o balanço do quarto trimestre de 2009 da empresa no dia 12 de março.
Prévia dos resultados da companhia neste período, divulgada pela Itaú Securities, acena com melhora dos números da MMX no quarto trimestre de 2009, por conta de um volume recorde de vendas de minério no período, de 1,8 milhão de toneladas. Apesar das vendas contribuírem com receita estimada de US$ 117 milhões para a mineradora, a Itaú Securities avalia que ela deve fechar o balanço trimestral no vermelho.
A MMX deve amargar um prejuízo na faixa de R$ 25 milhões, valor 95% menor que o prejuízo de R$ 507 milhões obtido no mesmo período de 2008, avaliam os analistas Marcos Assunção e Alexandre Miguel. Eles prevêem ainda um lucro antes de juros, impostos, depreciaçao e amortização (lajida) negativo de R$ 18 milhões, superior aos R$ 8,5 milhões negativos do mesmo período de 2008. E uma margem lajida de menos 15,4%, ante uma margem de menos 8,5% no quarto trimestre de 2008.
b) Crise na Grécia influencia desempenho das commodities
Após um mês marcado pela volatilidade, ora por conta das notícias sobre a complicada situação fiscal grega, ora pela ausência de compradores chineses em razão do feriado do Ano Novo Lunar e pelas incertezas sobre o ritmo de crescimento da terceira maior economia do mundo, os preços das commodities podem mostrar valorização em março. O retorno das encomendas por parte da China, com o fim das festividades, e a expectativa de apoio político e financeiro à Grécia poderão sustentar movimento de alta nos mercados de metais e petróleo e atrair fundos que deixaram de aplicar recursos nessa classe de ativos nas últimas semanas.
Na avaliação do analista Pedro Galdi, da corretora SLW, o noticiário relativo à Grécia foi o grande responsável pela adição de volatilidade no mercado de commodities em fevereiro e poderá ter influência ainda nas próximas sessões. Nos últimos dias, as agências de classificação de risco Standard & Poors e Moodys alertaram que poderão reduzir o rating do país caso não cumpra a meta de redução do déficit fiscal e a leitura foi a de que os próximos eventos poderão aumentar pontualmente a aversão ao risco, o que implica em fuga do mercado de commodities.
Porém, afirma Galdi, em relação a fundamentos, o mercado de matérias-primas exibe tendência de alta e essa percepção pode animar os investidores. Em termos de demanda (por metais), a perspectiva é a de recuperação. Só deve haver uma queda fora do racional nas cotações se houver uma quebradeira na Europa, diz.
Em fevereiro, o níquel manteve-se como destaque de alta entre as matérias-primas metálicas, assim como já havia ocorrido no primeiro mês do ano, com valorização de 9,6% até sexta-feira, para US$ 20.550 a tonelada negociada na London Metal Exchange (LME). A expectativa de expansão na produção de aço inoxidável, que usa elevadas doses de níquel, e a manutenção da greve nas operações de Sudbury e Voisey s Bay da Vale Inco, no Canadá, contribuíram para o movimento. Os Estados Unidos e a Europa ampliaram compras, o que também beneficia as cotações, explica o analista Leonardo Alves, da Link Investimentos.
O contrato do chumbo para três meses também mostrou valorização acentuada e subiu 4,07%, para US$ 2.171 a tonelada. No ano, entretanto, o metal exibe queda de 10,14%. Cobre e alumínio, que estão bastante expostos ao mercado chinês, tiveram desempenho mais fraco no mês passado. Enquanto o contrato de cobre subiu 3,32%, para US$ 7.096 a tonelada, e reduziu a perda acumulada no ano para 3,81%, o de alumínio recuou 0,36%, a US$ 2.088 a tonelada, ampliando para 6,85% a baixa registrada em 2010. Se a China retomar o ritmo de compras, os dois metais devem subir, acrescenta Alves. A dúvida em relação à China fica por conta da segunda elevação no ano do depósito compulsório, anunciado pelo banco central chinês no dia 12, o que alimentou questionamentos sobre o vigor do crescimento econômico do país asiático.
No mercado de petróleo, as sessões de fevereiro também foram voláteis, mas garantiram valorização expressiva na reta final. O barril do WTI ganhou 9,08% no mês até sexta-feira, para US$ 80,01 - praticamente zerando as perdas acumuladas no ano - e o Brent mostrou valorização de 8,17%, para US$ 77,97 o barril. Março deve repetir o cenário de volatilidade, com o petróleo oscilando conforme o comportamento do euro frente ao dólar, diz o analista Erick Scott, da SLW. Segundo o analista, os contratos de óleo acompanharão ainda o desenrolar da crise na Grécia. O mercado todo está meio de lado, mais pessimista por conta da situação na Grécia.