Comércio Exterior
a) Brasil é 2.º maior fornecedor da China
O Brasil foi o segundo maior vendedor de ferro para a China em 2009. Foram 140 milhões de toneladas, um aumento de 41,5% em relação ao ano anterior, segundo dados da Administração Geral de Alfândegas chinesa. O principal fornecedor foi a Austrália, com 260 milhões de toneladas, 42,9% mais que em 2008. As exportações da Índia ocuparam o terceiro lugar, com 110 milhões, crescimento de 18% em relação a 2008.
b) Europeu aluga terra para etanol na África
Empresas da Europa começam a alugar terras na África para produzir etanol, exportar livres de tarifas para o mercado europeu e concorrer no futuro com o biocombustível brasileiro.
A companhia suíça Addax Bioenergy acaba de assinar contrato com o governo de Serra Leoa, um dos países mais pobres do planeta, para aluguel de 10 mil hectares de terras visando produzir 100 milhões de litros de etanol a partir de cana-de-açúcar.
O projeto é estimado em US$ 200 milhões, com cofinanciamento do Banco Europeu de Investimentos e Banco Africano de Desenvolvimento, além de apoio da Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), segundo seus diretores. A produção deve começar em 2012. A empresa está em discussão também com indústrias brasileiras para o fornecimento de equipamentos.
A sueca Sekab, que costuma importar etanol do Brasil, é outra que tem projeto de aluguel de terra na Tanzânia. Além disso, começa a ser desenvolvido gradualmente um projeto tripartite, entre a União Europeia, Brasil e União Africana, para produção do combustível na África visando também o mercado europeu.
A Addax Bioenergy afirma que um argumento pesou forte na sua escolha: o etanol de Serra Leoa será exportado para os 27 países do bloco europeu livre da tarifa de € 192 por mil litros que é aplicada sobre o produto brasileiro.
Isso não inquieta representantes brasileiros. Para cumprir sua meta de adicionar 10% de biocombustível na gasolina vendida no mercado europeu, a UE precisa importar. E há espaço para todos os produtores. Para os brasileiros, o importante no momento é transformar o biocombustível em commodity global. Além disso, os projetos na África estão longe de chegar à dimensão da produção brasileira.
Serra Leoa sofreu uma guerra até dez anos atrás e seus seis milhões de habitantes têm dificuldades para se alimentar. Mas a companhia suíça argumenta que o país está calmo hoje. Afora isso, o clima é favorável, a cultura irrigada da cana-de-açúcar dá rendimentos comparáveis ou superiores aos do Brasil, onde o rendimento energético é duas vezes maior que o etanol americano e a economia de CO2, três vezes superior. Um funcionário afirma que o projeto foi totalmente inspirado na experiência brasileira.
A Addax vai pagar aluguel de US$ 12 por hectare por ano, dos quais 60% serão pagos diretamente aos proprietários das terras. A plantação de cana não deverá atingir nem as zonas úmidas destinadas à produção de arroz, nem as florestas. A empresa promete criar dois mil empregos diretos.
O investimento em Serra Leoa está sendo submetido a estritas normas para reduzir impactos ambientais e sociais. Os bancos financiadores procuraram todas as garantias, para não serem acusados de participar da recolonização da África por meio da compra de terras para produção de algo que a população local ignora. Organizações humanitárias são céticas.
O fenômeno do land grabbing cresce. Esse é o termo usado para compra ou aluguel de vastas áreas de terras por investidores privados ou países ricos, como Arábia Saudita e Coreia do Sul, em nações em desenvolvimento, para produzir alimentos destinados à exportação. Desde 2008, 180 contratos teriam sido assinados, segundo um instituto de Oakland, nos EUA. O International Food Policy Research Institute estima que investidores estrangeiros já garantiam entre 15 milhões e quase 20 milhões de hectares de terras em países pobres entre 2006 e meados de 2009.
A Organização das Nações Unidas (ONU) começou a discutir um código de conduta para regular os investimentos estrangeiros em terras agrícolas. Mas serão regras voluntárias, que vão demorar um ano, talvez mais, para ser aprovadas.
c) Executivos exportam modelos de gestão
Executivos habituados a aplicar no Brasil os padrões das múltis estrangeiras agora levam modelos de empresas nacionais para o exterior. Isso os expõe a desafios desconhecidos até há pouco tempo, afirmam consultorias especializadas. Quando se trata de uma empresa brasileira levando seu know-how para fora, isso é muito novo, afirma Cláudio Garcia, presidente da DBM, especializada em gestão do capital humano. Até hoje o Brasil é um dos países menos globalizados do mundo, é muito fechado.
A internacionalização de companhias nacionais tem se intensificado nos últimos anos. Em 2008, o investimento de empresas no exterior foi recorde: US$ 20,5 bilhões, segundo dados do Banco Central - cifra ainda baixa perto de países desenvolvidos.
Em geral, essas empresas são relativamente jovens, com sua gestão ainda em formação, o que aumenta os desafios para os executivos que vão defendê-las lá fora. No momento em que a companhia começa a ser internacional, o grau de complexidade da gestão aumenta.
É que levar para outro país o know-how e os processos de uma empresa envolve a compreensão de um sistema cujas regras são muito diferentes das nossas. Desde a legislação trabalhista, relações governamentais, com ONGs, sindicatos, tudo é diferente do Brasil.
Garcia explica que não se trata apenas de exportar um modelo. Não é só replicar. Exige um software mental totalmente diferente. Isso exige capacidade de pensar, de raciocinar conforme outros cenários, diz.
A experiência requer habilidades que vão além do jogo de cintura. Só o jogo de cintura não resolve. Ele funciona no curto prazo, diz Garcia.
Para Garcia, além das competências básicas, como dominar línguas estrangeiras e ter experiências internacionais, é necessário ter capacidade de interagir com a complexidade, e um nível de maturidade alto. Porém, segundo ele, esse perfil não é comum no mercado. Não é fácil, não é simples de se obter. Isso porque as empresas não têm preparado adequadamente seus líderes. Segundo Garcia, é necessário investir mais em intercâmbio.
Rodrigo Araújo, consultor da Korn Ferry International, avalia que a internacionalização ainda engatinha. No nosso julgamento, estamos num estágio ainda inicial. É uma etapa seguramente importante, mas é ainda primária para o País se transformar num player global.
Segundo ele, para avançar no processo, será necessário o executivo ter sensibilidade cultural. É entender a dinâmica do interlocutor lá fora e como o ambiente é influenciado pelas questões culturais. A flexibilidade e a adaptabilidade, comuns ao brasileiro, também são requeridas. Porque a pessoa seguramente vai se deparar com situações novas e desconhecidas, e vai ter de se ajustar a esse novo modelo.
d) Exportações do Brasil para a UE caem 29%
A zona do euro fechou 2009 com superavit comercial de 22,3 bilhões, apesar da crise econômica mundial, puxada pelo bom desempenho da Alemanha. Mas na União Europeia como um todo o deficit acumulado entre os 27 países no comércio extrabloco foi de 105,5 bilhões no ano passado, segundo estimativas preliminares do Eurostat, órgão estatístico do bloco.
Os dados detalhados de janeiro a novembro, também apresentados ontem pelo órgão, mostram que o comércio da União Europeia caiu com todos os parceiros -exceto as exportações para a China, primeiro país a sair da crise, que tiveram avanço de 2%. Com a queda nas importações de commodities, o Brasil foi um dos parceiros mais afetados.
Com a recessão no bloco, as exportações brasileiras para a UE foram reduzidas em 29% nos primeiros 11 meses do ano, menos somente do que as de dois Estados petroleiros (as russas recuaram 38%, e as norueguesas, 30%). Já as exportações para o Brasil caíram 21% no período (atrás da Rússia, 39%, e da Turquia, 23%).
Países cuja pauta exportadora com a União Europeia se concentra em produtos manufaturados -sejam alimentos, químicos ou maquinário- foram menos abalados, caso da China e da Suíça.
As importações de commodities para a UE foram as mais impactadas no período, com queda de 40% sobre os primeiros 11 meses de 2008. Energia (leia-se petróleo e gás) também sofreram, recuando 38%.
Em dezembro, somente, a União Europeia registrou deficit de 2,5 bilhões com o resto do mundo na comparação com o mesmo mês do ano anterior, quando o buraco era de 11,3 bilhões.
Houve melhora de performance, no entanto, em relação a novembro, o que sinaliza que a saída da crise econômica global pode estar ganhando algum fôlego. Mais, porém, para os parceiros do que para a União Europeia: as exportações subiram 2%, e as importações, 0,5%, já levado em conta o ajuste sazonal.
Para os 16 países que usam o euro, a melhora foi mais aguda, de 3,1% nas exportações e de 1,7% nas importações. Dezembro trouxe um superavit de 4,4 bilhões contra o deficit de 1,8 bilhão em 2009.
A Alemanha, maior exportadora do bloco (e até ser recentemente superada pela China, do mundo), outra vez puxou a balança, registrando superavit de 122,4 bilhões de janeiro a novembro, seguida pela Holanda ( 35,4 bilhões).
É um sinal lido positivamente pelo mercado, que espera agora para ver se o avanço das exportações se sustenta a ponto de manter a indústria do país produzindo e o PIB subindo, com ecos para todo o bloco. Dados divulgados na semana passada pelo Eurostat mostram que a Alemanha deixou de crescer no último trimestre.
Já os maiores deficit foram registrados pelo Reino Unido ( 85,7 bilhões), que começa a reverter sua retração econômica puxado principalmente pelo setor de serviços, pela França ( 49 bilhões) e a Espanha ( 45,5 bilhões).
e) Empresa compra quase 4% da Cimpor
A Votorantim Cimentos anunciou a compra de quase 4% da Cimpor por um total de 154,45 milhões de euros, elevando sua participação na cimenteira portuguesa para 21,2%. A Votorantim concluiu as conversas para a aquisição de 26,4 milhões de ações da Cimpor que pertenciam à Cinveste, segundo comunicado à imprensa. O grupo brasileiro já havia fechado, no início do mês, a compra de ações representativas de 17,3% do capital da Cimpor que pertenciam à francesa Lafarge, em troca de ativos no Brasil.
A entrada de grupos brasileiros no capital da Cimpor é vista com bons olhos pelo governo português, podendo ajudar a fomentar as relações empresariais entre Portugal e o Brasil, disse Carlos Pina, secretário de Estado do Tesouro e Finanças de Portugal. “Importa assinalar que a presença de empresas brasileiras no capital da Cimpor é algo por nós acolhido favoravelmente”, afirmou à agência Reuters.
A Cimpor é alvo do interesse de três grupos brasileiros, incluindo uma oferta de 6,18 euros por ação feita pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), e uma aquisição de 31% de participação acionária pela Camargo Corrêa. A Votorantim adquiriu outros 17,3% e fez um acordo de acionistas com a estatal portuguesa Caixa Geral de Depósitos, que controla 9,6% da empresa de cimento.
Pina frisou que “estas são operações de mercado, entre acionistas privados, e o Estado não tem de comentá-las”, acrescentando que “as decisões da entrada desses acionistas compete apenas a eles. (A chegada de acionistas brasileiros) pode contribuir para o aprofundamento das relações econômicas e empresariais entre Portugal e Brasil, colocando-as ao nível da relação que existe entre os dois povos”, disse.
O secretário afirmou ainda que a entrada desses acionistas “não impede que a Cimpor se mantenha como uma empresa portuguesa, com sede em Portugal, tendo a sua matriz com identidade portuguesa”.
f) Demanda doméstica pode fazer Brasil crescer 7% este ano, diz criador do Bric
O Brasil pode alcançar um crescimento próximo a 7% em 2010, devido à força excepcional da demanda doméstica, avalia o chefe de pesquisa econômica global do Goldman Sachs, Jim ONeill.
O Brasil está se aproveitando das políticas fortes adotadas durante a crise e dos benefícios acumulados por ter mantido a inflação baixa nos anos recentes, disse ONeill, criador do conceito do Bric (que reúne também Rússia, Índia e China). O economista inglês não considera motivo de grande preocupação a recente turbulência no mercado internacional, causada pelo temor de um calote da Grécia e de seus efeitos sobre outros países da Europa, mantendo as previsões de que a economia global terá um crescimento robusto em 2010, puxada pelo Bric.
Em entrevista concedida por e-mail na quinta-feira, dia 11, véspera de embarcar para o Rio, onde passou o Carnaval, ONeill disse ver como altamente provável um crescimento na casa de 6% neste ano, possivelmente próximo de 7%. Formada pelo consumo das famílias, o consumo do governo e o investimento, a demanda doméstica será o grande motor da expansão brasileira neste ano, segundo ele. ONeill participará da abertura do seminário Uma agenda para os Brics, que vai ocorrer no Rio nos dias 22 e 23, organizado pela prefeitura carioca.
ONeill disse que o principal motivo para o seu otimismo em relação às perspectivas econômicas do Brasil nos próximos anos é a inflação baixa e estável. Esse é realmente um fenômeno novo para o Brasil e está transformando as vidas de 200 milhões de pessoas no país. É algo que tem levado ao desenvolvimento de uma classe média rapidamente em ascensão.
O economista minimizou a volatilidade que tomou conta dos mercados nas últimas semanas. Acho que o que vai ocorrer com a política monetária chinesa e com a economia americana é muito mais importante para os mercados globais do que a questão do calote grego. A Grécia é apenas 2,5% da zona do euro. A questão do contágio é importante para União Monetária Europeia, mas não tão importante para o mundo como as políticas chinesas e os EUA.
Para ONeill, a valorização do dólar e depreciação do euro em curso não têm muita importância para o Bric. Deve ocorrer alguma saída rápida de dinheiro das moedas e mercados desses países, o que, para ele, abre oportunidades para comprar. Ele aponta outro ponto que lhe parece mais importante. Acho que a China pode estar perto de permitir alguma valorização de sua moeda. Se isso ocorrer, pode ser positivo para o Brasil e os mercados do Bric de dois modos, avalia ONeill. Primeiro, pode fazer o aperto monetário na China acabar mais cedo - afinal, a valorização da moeda ajuda a segurar a inflação - e é positivo para os consumidores chineses, ao aumentar o seu poder de compra.
O Goldman Sachs prevê expansão global de 4,4% em 2010 e de 4,5% em 2011, nos dois casos acima do que o banco considera o nível de crescimento potencial do planeta (aquele que não leva à aceleração da inflação), de 4%. ONeill disse que, no período de volatilidade nos mercados das últimas semanas, surgiram vários indicadores globais excepcionalmente fortes. Se há alguma possibilidade de mudança nas previsões do Goldman Sachs no momento, é para cima, e não para baixo, afirmou ele.
Em janeiro, por exemplo, as exportações da China cresceram 21% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as importações chinesas avançaram 85,5%. Para alguns analistas, o ritmo de expansão das vendas externas chinesas indica a recuperação global, enquanto a alta expressiva das compras feitas pelo país asiático confirmam a pujança da atividade econômica na China, ainda que a base de comparação seja fraca.
As previsões positivas de ONeill para a economia global se baseiam no cenário róseo projetado para os mercados emergentes, especialmente para os países do Bric, mesmo num quadro de fraqueza na zona do euro e de dúvidas sobre a recuperação americana. A força do consumo e da demanda doméstica como um todo nos países do Bric é excepcionalmente clara. Eu acabei de passar uma semana na Ásia e está claro para mim que China e Índia passam por um boom. É possível que a demanda interna dos dois países cresça por vários anos a 10%, disse ele, que também chama a atenção para o crescimento expressivo da Indonésia.
E no mundo desenvolvido, chegou a hora de os países colocarem em prática estratégias de saída, com a reversão dos estímulos fiscais e monetários? É muito cedo para que sejam removidas as políticas de estímulo nos EUA, no Reino Unido, na zona do euro ou no Japão. Talvez quando houver uma virada no desemprego, mas não antes disso.
Bastante otimista em relação ao Brasil, ONeill recomendou ao ao país um aperto fiscal no próximo governo. Em 2009, as despesas correntes (como pessoal, aposentadorias e custeio da máquina) cresceram 15% em relação ao ano anterior. Para ele, a questão fiscal é um dos maiores riscos que podem atrapalhar o país nos próximos anos, assim como a doença holandesa, o fenômeno pelo qual as receitas obtidas com a exportações de commodities valorizam o câmbio e prejudicam os setores industriais. É importante, segundo ele, evitar a dependência excessiva em commodities.
ONeill disse ainda que não vê problemas no déficit em conta corrente brasileiro desde que ele não seja muito maior que 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas isso significa que vocês vão ter que tomar um pouco de cuidado com o real, afirmou ele. Para este ano, alguns analistas já projetam um rombo nas transações comerciais, de serviços e rendas com o exterior um pouco superior a 3% do PIB, devido à combinação de forte crescimento da demanda doméstica e câmbio valorizado. Em 2009, o déficit ficou em 1,5% do PIB.
Agronegócio
a) Café no mundo
As exportações mundiais de café somaram 94,69 milhões de sacas no ano passado, 3% menos que o contabilizado pela Organização Internacional do Café (OIC) em 2008. A queda foi motivada pela redução dos embarques da Colômbia, terceira maior produtora e exportadora mundial. As vendas do país caíram de 11,08 milhões para 7,89 milhões de sacas, retração de 28,8%.
Enquanto as exportações mundiais de café caíram, as do Brasil aumentaram no ano passado, segundo a OIC. A entidade reportou embarques de 30,3 milhões de sacas em 2009, um avanço de 2,7% ante 2008. Com esse resultado, a participação do Brasil no comércio mundial de café passou de 30,2% em 2008 para 32% em 2009, ocupando o espaço deixado pela Colômbia, que teve queda nas vendas.
b) Aumento no preço do etanol vai exigir importação
A alta do preço do etanol, a redução do percentual de álcool anidro na gasolina (de 25% para 20%) e a prioridade dada pela Petrobras à produção de óleo diesel em suas refinarias vão fazer com que o Brasil importe este ano uma quantidade de gasolina sem precedentes pelo menos nos últimos dez anos. A primeira partida, de 2 milhões de barris, foi comprada este mês na Venezuela. O diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, disse que as importações devem se estender pelo menos até maio. Segundo ele, é mais negócio importar gasolina do que óleo diesel.
Compramos um volume inicial e vamos acompanhar o mercado, disse Costa. Ele não quis especificar quando e qual a quantidade que será comprada nos próximos meses. A definição de maio como limite para o prosseguimento das importações tem duas razões, ambas relacionadas com a entrada da safra de etanol de 2010 das regiões Sudeste e Centro-Oeste: a volta do percentual de anidro a 25% está prevista para 1º de maio e a queda no preço do etanol na bomba que, se espera, ocorra com a chegada da safra, tornando novamente vantajoso o seu uso pelo consumidor.
Não sei porque todo esse frisson, porque é uma verificação econômica. Eu consigo importar gasolina por um preço mais competitivo do que óleo diesel, afirmou Costa. De acordo com o diretor da Petrobras, desde setembro de 2008 a estatal vem tomando uma série de medidas para aumentar o percentual de óleo diesel - combustível que movimenta a maior parte da frota de cargas do país (basicamente rodoviária) - no mix de produtos que sai das suas 11 refinarias.
Hoje, cerca de 35% do produto do refino de petróleo no Brasil é de óleo diesel, diante de cerca de 19% de gasolina, de acordo com o executivo. Segundo dados contidos no site da BR Distribuidora, na maioria dos países do mundo a participação do diesel no mix de refino fica entre 15% e 25% do total. Costa disse que nas novas refinarias que a Petrobras está construindo ou planejando construir, a participação do diesel vai chegar a até 60%.
Costa disse que as importações de diesel feitas pela Petrobras caíram de até 100 mil barris por dia em 2008 para entre 30 mil e 40 mil, em média, em 2009. Ele atribuiu a redução a três motivos: o aumento da participação do óleo diesel no mix das refinarias, a redução do consumo de diesel pelas usinas termelétricas graças à maior geração de energia hidrelétrica e a queda do consumo por conta da crise econômica.
No ano passado, o consumo de combustíveis no país registrou queda de 1,2%, segundo os dados da Petrobras. De acordo com os dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), as importações totais de diesel do Brasil caíram de 36,66 milhões de barris em 2008 para 22,11 milhões em 2009. O peso das importações de diesel na balança comercial do país caiu de US$ 5,14 bilhões para US$ 1,67 bilhão, ainda segundo a ANP.
Embora o Brasil seja mais conhecido como exportador de gasolina - no ano passado exportou 15,8 milhões de barris, faturando US$ 964,8 milhões -, o país também importa quantidades menores do produto. De acordo com as estatísticas da ANP, na primeira década deste século as importações mais significativas de gasolina haviam ocorrido em 2002 e 2003, respectivamente, de 1,03 milhão e 1,14 milhão de barris. Os gastos somaram US$ 29,96 milhões em 2002 e US$ 38,03 milhões em 2003. No ano passado, o Brasil importou apenas 137 barris de gasolina A. A primeira partida importada este ano custou US$ 140 milhões.
Costa, da Petrobras, disse que no ano passado, tão logo começou a subir o preço do etanol, a Petrobras decidiu suspender as exportações de gasolina. A redução começou em novembro e chegou a zero em janeiro deste ano, de acordo com o executivo. No fim da tarde de ontem a Petrobras divulgou nota afirmando que vem aproveitando oportunidades de preço, prazo e qualidade de vários mercados supridores para garantir o fornecimento de gasolina em todo o território nacional em função do aumento da demanda pelo combustível.
c) Commodities Agrícolas
Os preços do café voltaram a cair na bolsa de Nova York. Os contratos com vencimento em maio fecharam o pregão cotados a 134,65 centavos de dólar por libra-peso, queda de 40 pontos em comparação com o fechamento do dia anterior. Essa foi a primeira queda nos últimos três pregões de Nova York, segundo a Bloomberg. O recuo de ontem foi atribuído a um movimento especulativo do mercado, que transferiu recursos aplicados em commodities para o dólar. A alta da moeda americana reduziu a competitividade dos produtos negociados nas bolsas dos EUA, o que acabou derrubando os preços do café. Já no Brasil, o café tipo 4, estilo Santos, ficou estável, segundo o Escritório Carvalhaes, cotado a R$ 278 por saca.
Depois da forte alta de terça-feira, os preços da soja fecharam em queda ontem da bolsa de Chicago. Os contratos com vencimento em maio terminaram o dia valendo US$ 9,610 por bushel, baixa de 13,50 centavos de dólar. A perda foi atribuída à possibilidade de uma retração na demanda pelo grão americano devido aos recentes ganhos e também à valorização do dólar no mercado internacional, segundo a Bloomberg. A alta da moeda deixa as commodities americanas menos competitivas, o que pode levar o importador e buscar outras fontes de abastecimento. Em Rondonópolis, as ofertas de venda para a soja saíram a R$ 30,90 a saca na última terça-feira, enquanto as propostas de compra ficaram em R$ 29,30 por saca, segundo o Imea.
Os contratos futuros do milho caíram ontem na bolsa de Chicago com a especulação de que o fortalecimento do dólar pode reduzir a demanda pelo grão produzido nos EUA. A razão é que este tende a ficar menos competitivo com a valorização da moeda americana. Os papéis com vencimento em maio fecharam em US$ 3,7175 o bushel, recuo de 7,25 centavos de dólar. Segundo a Bloomberg, o dólar subiu 1,2% ante o euro depois que a UE anunciou que quer garantir que a Grécia corte gastos antes de anunciar detalhes do apoio que será dado à nação mediterrânea. Além disso, a queda do milho foi sustentada pelas notícias de que a colheita na América do Sul deve aumentar nas próximas três semanas. No Brasil, o preço da saca do milho continuou estável no patamar de R$ 18, segundo o Indicador Cepea/Esalq.
Os preços futuros do trigo fecharam em queda na bolsa de Chicago e devolveram parte da alta registrada no dia anterior. Os contratos com vencimento em maio terminaram a quarta-feira valendo US$ 5,092 por bushel, queda de 10,25 centavos de dólar em comparação com o dia anterior. Na bolsa de Kansas, os papéis com vencimento em maio recuaram 10,50 centavos de dólar para US$ 5,132 por bushel. As especulações sobre uma recuperação do dólar no mercado internacional, aliadas ao aumento dos estoques mundiais do cereal, que poderia conter uma demanda mais forte pelo trigo americano - o maior exportador do mundo -, foram os principais motivos que justificaram a retração dos preços ontem, segundo informações da Bloomberg.
d) Aval de agência americana é passaporte do combustível
Depois de duas safras de preços do etanol pouco ou nada remuneradores, as empresas brasileiras que atuam no ramo já tiveram em 2010 duas notícias de peso para o futuro dos negócios com o combustível no mercado externo.
O primeiro foi o reconhecimento, pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos Estados Unidos, de que o álcool de cana do Brasil é um biocombustível avançado, o que tende a quebrar resistências e facilitar a abertura de mercados para o produto em outros países. O segundo, ligado ao primeiro, foi a efetiva entrada de grandes petroleiras no segmento, o que também deve facilitar a disseminação da nova commodity.
Joel Velasco, representante-chefe para a América do Norte da União das Indústria de cana-de-Açúcar (Unica), observa que, agora, é preciso continuar trabalhando pela redução da tarifa americana sobre as importações de etanol - ou pelo menos para que ela não seja renovada quando expirar, em 31 de dezembro de 2010.
O reconhecimento da EPA nos dá credibilidade para pedir a redução da tarifa. Mas já há argumentos do outro lado de que o etanol brasileiro já teve o privilégio de ser considerado melhor ambientalmente, e que a redução ou o fim da tarifa iria prejudicar em demasiado os produtores de etanol americanos, diz Velasco.
Também prejudicadas pela crise financeira mundial, muitas indústrias de etanol dos EUA viveram momentos difíceis mesmo com os subsídios do governo, o que é usado hoje como apelo político. Estima-se no mercado que 22 usinas de etanol das 186 existentes estão atualmente paralisadas no país.
A tarifa de importação é de 0,54 centavos de dólar por galão de etanol vendido e limita as exportações do Brasil. Mário Silveira, analista da FCStone, esclarece que a exportação aos Estados Unidos acaba sendo viável apenas em momentos de oscilações cambiais ou baixos preços no mercado brasileiro, como em época de safra.
Assim, reforça Marcos Jank, presidente da Unica, se a tarifa não cair, será difícil conseguir exportar em volumes significativos. Hoje 15% do álcool do Brasil é exportado. Até 2011 podemos atingir 20%, mas isso vai depender de como essa combinação do reconhecimento do EPA vai se dar com a redução tarifária, que é alta nos Estados Unidos e em outros países, diz.
As argumentações brasileiras na EPA começaram há um ano e meio e só há duas semanas veio o reconhecimento da agência. Para ser considerado avançado, um biocombustível precisa emitir, no mínimo, 50% menos CO2 do que a gasolina. E o etanol reduz em 61% essa emissão. Melhor que isso: só o etanol de celulose, ainda em pesquisas e no campo das promessas, aparece como ambientalmente melhor.
André Nassar, diretor-geral do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), conta o longo percurso para alterar a definição anterior da EPA, que inicialmente considerava que o etanol de cana do Brasil reduzia apenas em 26% a emissão de CO 2na comparação com a gasolina.
O mais difícil foi explicar e convencer o órgão americano de que o crescimento da área plantada de cana não estava indo para a Amazônia, mas para pastagens e áreas já ocupadas com agricultura, sobretudo grãos, diz o diretor do Icone, que trabalhou para a Unica na argumentação sobre o uso da terra.
Segundo a legislação americana, o uso de biocombustíveis em 2010 no país será de 49 bilhões de litros, dos quais 760 milhões de litros são reservados para biocombustíveis avançados - ou seja, o etanol de cana. O volume é irrisório mesmo em comparação ao que o Brasil já exporta aos EUA, mesmo com tarifa.
Em 2009, por exemplo, que foi um ano de exportações mais magras, o volume enviado atingiu 2,7 bilhões de litros. Isso somente em exportaçõesdiretas, ou seja, sem considerar o volume que entra nos EUA depois de triangulações por países da América Central.
Mas o ambicioso programa americano, que prevê uma progressiva ampliação até o pico de 136 bilhões de litros de biocombustíveis até 2022, determina para 2015 o uso de 5,7 bilhões de litros do produto avançado. E nessa categoria, até agora, só o Brasil.
e) Stephanes quer antecipar discussão sobre fertilizantes
Para diminuir a dependência das importações, o governo decidiu bancar a proposta do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, de que a discussão sobre os fertilizantes usados na produção agrícola seja independente da reelaboração do Código Mineral. Conversei recentemente sobre o assunto com o presidente Lula e este será um projeto específico para o segmento. O documento está quase pronto, disse Stephanes.
Segundo ele, um anteprojeto específico com as propostas do Executivo para pesquisa e produção das jazidas será apresentado antes do fim de março ao Congresso.
Há meses, Stephanes pressiona o Ministério de Minas e Energia para discutir a questão separadamente ante a urgência na definição sobre a produção de fertilizantes no País. Para ele, o novo Código Mineral é fundamental ao desenvolvimento do País, mas a discussão e revisão dos artigos pode demorar mais de uma década. Nossa avaliação é de que a produção agrícola não pode esperar tanto.
Pelos cálculos da Agricultura, a importação de fertilizantes chega a ser superior a 90% do uso total no Brasil, o que encarece os custos do agronegócio. O ministro sempre cita a necessidade de compra de produtos de países distantes, e ressalta o impacto nos gastos com a logística para levar fertilizantes até as áreas produtoras.
Além do anteprojeto, Stephanes informou que os Ministérios de Minas e Energia e da Agricultura também estão definindo medidas administrativas e decisões políticas para tratar de casos de jazidas já existentes e não exploradas.
f) Açúcar cai 4,5% com vendas especulativas
Os preços futuros do açúcar tipo demerara despencaram ontem na bolsa de nova York (ICE Futures US). Os contratos mais líquidos, com vencimento em maio, fecharam com desvalorização de 4,52%, cotados a 25,57 cents/lb. A queda foi provocada por vendas de fundos e especuladores que foram influenciados pela valorização do dólar e por sinais negativos nos gráficos de preço. A notícia de que o governo da Índia não vai importar açúcar, apesar do déficit de oferta naquele país, também pesou negativamente.
Mercosul
a) Brasil e Argentina discutem política industrial
Menos de um mês após o encontro de ministros do Brasil e Argentina, autoridades dos dois países voltarão a se reunir em Buenos Aires, com a intenção de elaborar uma política industrial conjunta. Velho projeto bilateral (consta do Pice, acordo que antecedeu o Mercosul, na década de 80), a interligação das cadeias produtivas nas indústrias e serviços argentinos e brasileiros voltou à pauta como proposta dos governos Lula e Cristina Kirchner para reduzir as tensões e barreiras comerciais entre os dois vizinhos.
Vamos discutir como trabalhar juntos para sermos mais competitivos, comenta o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Reginaldo Arcuri, designado para coordenar a equipe brasileira, que inclui o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, e representantes do BNDES, do ministério de Relações Exteriores e da Câmara de Comércio Exterior (Camex), entre outros órgãos do governo. Ele reconhece que a iniciativa, bem recebida no governo argentino, é uma maneira de contornar as resistências protecionistas naquele país. Estamos tentando avançar na outra ponta, a dos investimentos, comenta.
Arcuri informa que, após a reunião, deve convidar representantes do setor privado para elaborar propostas de investimentos conjuntos baseados na integração dos dois parques produtivos. Essa integração já ocorre em setores como o automotivo e o grande fluxo de investimentos brasileiros na Argentina permite, na avaliação dos técnicos do governo, imaginar uma estratégia baseada no incentivo à exploração, na Argentina, de vantagens competitivas que favoreçam o país vizinho nos planos de expansão de firmas sediadas no Brasil.
Arcuri defende que, diferentemente de tentativas anteriores inspiradas pelo tradicional discurso de integração produtiva, os governos, desta vez, terão uma espécie de mapa de orientação, criado a partir de pesquisas da consultoria argentina Abeceb e do Instituto de Economia da Unicamp. Os estudos apontaram pelo menos treze setores em que já existe apoio oficial e investimentos por parte do Brasil, mas pouca atuação na Argentina. Essa baixa atuação indicaria, para os técnicos, alto potencial de atração de investimentos.
Nem o Brasil nem a Argentina contam ainda com políticas sofisticadas para apoiar a internacionalização de suas empresas, aponta um dos estudos preparados a pedido da ABDI. O apoio à realização de investimentos bilaterais poderia ser o embrião do desenho de uma política desse tipo, sugere o documento. Os técnicos argumentam que a realização de investimentos conjuntos poderia minimizar as tensões que geram pressões empresariais por barreiras entre os vizinhos, e neutralizar as assimetrias de competitividade em alguns setores.
Um exemplo destacado nos estudos encomendados pela ABDI é o do setor de lácteos, em que a Argentina exporta 10,5 vezes mais que o Brasil, e há um comércio bilateral no qual os argentinos têm um saldo positivo superior a US$ 137 milhões. Setor pulverizado no início da cadeia produtiva e muito concentrado no processamento industrial, é um alvo constante de pressões protecionistas por parte dos produtores brasileiros - uma estratégia competitiva que estimulasse a associação de capitais brasileiros para a produção na Argentina teria chances de aumentar a competitividade internacional do setor, indica o estudo.
A reunião de autoridades dos dois países, amanhã e depois, se destina a analisar os resultados das análises técnicas e eleger, se possível, os setores em que os governos concentrarão esforços para estimular associações e investimentos bilaterais. Com base nos setores onde, apesar da importância e da dimensão das empresas há pouca integração, a Abeceb apontou pelo menos 13 setores onde uma ação de política governamental poderia estimular o aumento da competitividade internacional.
Além dos lácteos e dos moinhos de farinha e derivados de amido, onde as vantagens de localização estão do lado argentino, os especialistas veem oportunidades no setor de bebidas (especialmente sucos) e de aeronaves e veículos espaciais (com óbvia vantagem brasileira). O setor de autopartes e autopeças é outra escolha óbvia, que teria, no entanto, de vencer as resistências à maior penetração de capital brasileiro.
Subsetores da indústria de madeira, como o de aparelhamento de peças, também são fortes candidatos à uma ação bilateral, assim como a fabricação de papel e produtos de papel. A Abeceb lista, entre os setores prioritários, três subsetores da mineração: extração de minério de ferro, extração de areia, argila e pedra, e de lignite. A fabricação de biodiesel e a de máquinas agrícolas também revela vantagens para projetos conjuntos.
O estudo aponta também setores em que a força e o interesse do Brasil, como investidor, poderia se aproveitar da mão de obra qualificada e do mercado argentino, em serviços. Nessa área, a construção civil, o setor de software e o de transporte e logística têm condições de receber atenção dos governos, na política industrial bilateral desejada pelas autoridades.
Os técnicos dos dois lados sabem que as diferenças de gestão macroeconômica e de situação política dificultam a ideia de juntar esforços para uma incerta cooperação em políticas industriais. Há entusiasmo da parte argentina, porém, pela avaliação de que a existência do BNDES, o tamanho da economia e a estabilidade alcançada pelo Brasil tornam o país um forte competidor na atração de investimentos.
b) Argentina abre investigação sobre dumping do Brasil
O governo argentino determinou a abertura de investigação por suposto dumping (venda por preço inferior ao do mercado) praticado pelo Brasil na exportação de fios de polipropileno, usados na fabricação de lonas e colchões.
De acordo com a Secretaria de Indústria e Comércio argentina, que assina a decisão, atendendo à solicitação feita por três empresas do país, a produção nacional de fios de polipropileno vem caindo, enquanto as importações procedentes do Brasil aumentaram sua participação no mercado.
O governo brasileiro foi previamente informado da investigação, durante encontro entre ministros em Buenos Aires, no dia 5. Ninguém da equipe econômica foi encontrado para comentar a decisão.
Após a reunião, em que se avaliou o sistema de licenciamento não automático imposto pela Argentina a aproximadamente 14% da pauta exportadora brasileira, o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento) disse reconhecer enorme avanço na liberação das licenças. Em outubro, o Brasil havia adotado medida de retaliação, episódio que Jorge afirmou que não voltará a ocorrer.
Em novembro, Lula e a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, acertaram a realização de reuniões presidenciais bilaterais a cada três meses e entre os ministérios a cada 45 dias, como forma de arrefecer a tensão na relação comercial.
As equipes do Ministério da Indústria argentino e do Desenvolvimento se reúnem, em Buenos Aires, para outra rodada de revisão do sistema de licenciamento não automático.
c) Venezuela derruba exportação brasileira de frango
Uma forte queda nos embarques para a Venezuela, principalmente, derrubou as exportações brasileiras de carne de frango em janeiro. De acordo com a Associação Brasileira dos Produtores e exportadores de frango (Abef), as vendas externas totais no mês somaram 233,3 mil toneladas, recuo de 15,09% sobre as 274,78 mil toneladas de janeiro de 2009. Em receita, a perda foi de 2,80%, saindo de US$ 414,180 milhões em janeiro de 2009, para US$ 402,588 milhões em igual mês este ano. Houve queda forte nos volumes para a América Latina. A Venezuela, um grande mercado para o Brasil, está comprando menos, disse o presidente da Abef, Francisco Turra.
De fato, as exportações de carne de frango para o país governado por Hugo Chávez despencaram em janeiro. O recuo foi de 77,6%, de 28,7 mil toneladas em janeiro de 2009 para 6,425 mil toneladas em janeiro deste ano. O tombo foi similar na receita (77,7%), que saiu de US$ 51,939 milhões em janeiro do ano passado para US$ 11,573 milhões no primeiro mês de 2010.
A razão para a forte queda é que a Venezuela - onde o governo é responsável pelas importações - vinha adquirindo grandes volumes de frango até o fim de 2008 e início de 2009. Acabou ficando estocada e foi digerindo os volumes no decorrer de 2009, segundo uma fonte da indústria exportadora. Por isso, os números de janeiro são bem inferiores aos do mesmo mês de 2009.
Além disso, a queda dos preços do petróleo por conta da crise global também influencia, ainda que as cotações já tenham se recuperado. Como a maior parte das receitas da Venezuela vem do petróleo, o governo segurou as compras de frango no segundo semestre de 2009, o que se reflete nos embarques agora. Mas, diz a mesma fonte, o governo venezuelano se diz comprometido em não deixar faltar alimentos no país.
Enquanto a Venezuela tem decepcionado os exportadores, o Oriente Médio elevou os volumes comprados do Brasil. Foram 87,660 mil toneladas em janeiro, com alta de 2,5% sobre igual mês do ano passado. Em receita, o ganho foi mais expressivo: de 37,32%, para US$ 141,804 milhões.
Parte desse avanço se deve ao aumento de quase 100% das vendas ao Iraque, que comprou US$ 15,846 milhões em janeiro.
De acordo com Turra, os preços médios na exportação em janeiro se recuperaram (alta de 15%) por causa da alta do dólar ante o real. Também houve reação de preços no Oriente Médio, Japão e Europa.
Organização Mundial do Comércio (OMC)
a) País vai pedir na OMC fim da exportação de açúcar da UE
O Brasil vai pedir na Organização Mundial do Comércio (OMC) o fim imediato das exportações de açúcar subsidiado da Europa. O Itamaraty, ao lado de Tailândia e Austrália, denunciará o ato como ilegal.
A decisão de levar o caso à OMC ainda não significa a abertura de uma disputa jurídica. Por enquanto, trata-se de um alerta político, indicando à União Europeia que, se a atual prática não for revista, entrará com uma queixa jurídica. Brasil, Tailândia e Austrália representam quase um terço de todo o açúcar produzido no mundo.
Bruxelas anunciou há um mês que autorizaria seus produtores a exportarem 500 mil toneladas de açúcar em 2010, além do teto permitido pela OMC. O volume é suficiente para produzir 14 milhões de latas de coca-cola. Entre 2008 e 2010, a UE aumentou a capacidade de produção para 15,2 milhões de toneladas, um milhão a mais que em 2008.
Há três anos, a UE foi derrotada nos tribunais da OMC depois que o Brasil abriu uma queixa sobre os subsídios dados aos produtores de açúcar. A Europa ficou proibida de exportar o produto subsidiado acima de 1,27 milhão de toneladas. Com os preços altos do açúcar, a UE quer também garantir sua parcela de lucro. As estimativas do governo americano é de que o déficit no setor no mundo chegue a 14 milhões de toneladas em 2010 diante da quebra da produção na Índia.
Esses fatores podem dificultar uma vitória do Brasil, mas o Itamaraty quer mostrar aos europeus que não aceitará passivelmente a violação de regras.
Plano Internacional
a) Japão reage no fim de 2009, mas PIB cai 5%
O Produto Interno Bruto (PIB) do Japão em 2009 teve queda recorde de 5%, no pior desempenho desde a recessão da 2ª Guerra Mundial, segundo dados do governo japonês. No entanto, no último trimestre de 2009, o país mostrou reação ao crescer a uma taxa anualizada de 4,6%, acima das expectativas de analistas. O melhor desempenho ocorreu em razão de um reaquecimento das exportações que cresceram em dezembro pela primeira vez desde a quebra do Lehman Brothers, em 2008.
O PIB nominal do país em 2009 fechou em US$ 5,075 bilhões. Com o resultado, o Japão se manteve na posição de segunda maior economia mundial, atrás dos Estados Unidos. Mas a margem ficou mais apertada em relação à China, a terceira economia, cujo PIB nominal foi de US$ 4,9 bilhões no ano. O PIB chinês cresceu 8,7% em 2009.
b) EUA fazem giro diplomático para pressionar Teerã
Os EUA iniciaram no fim de semana um giro diplomático pelo Oriente Médio, com a chanceler Hillary Clinton e outros três diplomatas de alto escalão, para pressionar a região a apoiar novas sanções ao Irã e assegurar os vizinhos da República Islâmica de que os EUA manterão a oposição ao programa nuclear iraniano.
O giro ocorre poucos dias depois de o Irã ter se declarado um Estado nuclear e dito ter capacidade para enriquecer urânio a 80%, próximo dos 90% necessários para a construção da bomba atômica.
Desde então, os EUA estão tentando costurar uma nova rodada de sanções contra o país no Conselho de Segurança (CS) da ONU -que serão apresentadas neste mês, disse o assessor de Segurança Nacional da Casa Branca, Jim Jones.
O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, no entanto, nega o interesse na bomba atômica e alega que seu programa nuclear tem fins energéticos e medicinais.
Hillary disse, num fórum internacional de relações EUA-islã, em Doha (Qatar), que se acumulam evidências de que Teerã visa a bomba e instou o país a reconsiderar sua perigosa política nuclear. O Irã deixa poucas opções à comunidade internacional a não ser impor maiores custos a suas ações provocativas, declarou.
Após passagem pelo Qatar, Hillary deve chegar na Arábia Saudita para encontro com o rei Abdullah -numa aparente tentativa de convencer os sauditas a suprir a China com combustível e, assim, substituir o suprimento iraniano a Pequim caso este seja alvo de mais restrições. Isso, acredita-se, ajudaria a reduzir a resistência chinesa às sanções -o poder de veto de Pequim e Moscou no CS são os principais entraves à aprovação de novas restrições. A Rússia, no entanto, deu indicativos de que pode apoiar punições a Teerã.
O vice-presidente americano, Joe Biden, disse ontem esperar que como potência mundial responsável, a China deve apoiar as sanções e evitar a proliferação nuclear no Oriente Médio.
Já o número 2 de Hillary no Departamento de Estado, William Burns, vai amanhã para Líbano e Síria, numa viagem tida como crucial, uma vez que Damasco é um dos principais aliados de Teerã, e o Líbano, que tem assento rotativo no CS atualmente, deve resistir a reforçar restrições contra os iranianos. Os subsecretários de Estado James Steinberg e Jacob Lew visitarão Egito, Israel e Jordânia.
Também está na região o almirante Mike Mullen, chefe do Estado-Maior conjunto dos EUA, que disse no Egito que seu país se preocupa não só com o programa nuclear iraniano, mas com as declarações de Ahmadinejad contra Israel.
O giro americano no Oriente Médio visa tratar também de temas como o acordo israelo-palestino, o combate à Al Qaeda no Iêmen e a relação EUA-Síria, mas tudo isso deve acabar eclipsado pela tensão com o Irã.