25 a 29 de janeiro de 2010

Comércio Exterior

Resultados
Importação retomou parte do peso perdido no consumo interno
Nova Braskem vai investir US$ 13 bi nos próximos sete anos
Navios demais, cargas de menos
Bauche e Greenergy fazem joint venture no Brasil
Crise muda ranking de grandes exportadores

Agronegócio

Centro-Oeste alavanca produção em larga escala
Especificações técnicas dificultam importações de etanol americano
Safrinha de milho deve frustrar expectativas
Safra recorde deve reduzir preço da soja
Tradings desperdiçam parte da alta do açúcar
Índia leva 31% do açúcar do Brasil em janeiro

Mercosul

Exportação argentina de carne bovina cresce 58%

Organização Mundial do Comércio (OMC)

Lamy quer debate climático fora da OMC

Plano Internacional

Otimista, FMI eleva previsões de 2010, mas vê ameaças
Países do Bric já têm um terço das reservas mundiais



Comércio Exterior

a) Resultados

A balança comercial obteve superávit de US$ 71 milhões na terceira semana de janeiro (18 a 24), o primeiro resultado positivo do ano. As exportaçõessomaram US$ 3,105 bilhões e as importações, US$ 3,034 bilhões. Segundo os dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, houve melhora no desempenho médio das exportações na terceira semana do mês ante o acumulado até a semana anterior. Mesmo com o resultado positivo da semana, no ano a balança acumula um déficit de US$ 896 milhões, valor que supera ainda o déficit de US$ 529 milhões de janeiro de 2009.

b) Importação retomou parte do peso perdido no consumo interno

A participação das importações no consumo interno de produtos industriais voltou a ganhar fôlego no segundo semestre do ano passado, na esteira da valorização do câmbio e da retomada mais forte da atividade econômica. Na média acumulada nos três meses até novembro, a fatia dos importados ficou em 15,9%, mais de um ponto percentual acima dos 14,8% atingidos em junho, quando o indicador caiu para o nível mais baixo desde julho de 2007 nessa base de comparação, segundo cálculos da LCA Consultores. Com o dólar barato e a recuperação da demanda, o volume de importações ganhou impulso -na comparação entre junho e dezembro de 2009, cresceu 10,5%, acima da alta de 7,6% registrada pela produção industrial no período, nos dois casos nas séries com ajuste sazonal.

Há setores em que a fatia dos importados está próxima ou acima de 40%, como em material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações - 46,19% na média dos três meses até novembro - e máquinas para escritório e equipamentos de informática - 39,88%. Em equipamentos de instrumentação médico-hospitalar, ópticos e outros, o número ficou em 59,95%. Há setores, no entanto, com participação muito pequena de bens vindos de fora, como o de vestuário e acessórios (4,3%).

A indústria nacional vai perder um pouco mais de espaço para os produtos importados no mercado interno em 2010, diz o economista Douglas Uemura, da LCA, observando que a perspectiva para este ano é de um dólar ainda barato, embora provavelmente não mais em tendência de queda, e de forte crescimento da economia - a LCA projeta uma expansão de 6,1%.

De 2004 a 2008, a fatia dos importados no consumo interno de bens industriais pulou de 11% para 16,6%, movimento explicado pela combinação de dólar em queda e crescimento mais forte do Produto Interno Bruto (PIB) - a taxa média de expansão da economia nesse período ficou em 4,8%, muito acima dos poucos mais de 2% registrados entre 1980 e 2003. Já o dólar médio caiu de R$ 3,07 em 2003 para R$ 1,83 em 2008.

Nos primeiros meses de 2009, a participação dos produtos vindos do exterior no consumo interno encolheu. O câmbio se desvalorizou e a economia tombou, refletindo o impacto da crise global sobre o Brasil. O cenário mudou a partir de meados do ano passado, quando o dólar inverteu a mão novamente e a atividade econômica ganhou força. Um dos resultados foi a alta mais firme das importações.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, diz que, além da valorização do câmbio e da retomada da atividade, a queda dos preços em dólar também contribuiu para a elevação da fatia dos importados no consumo interno. Em um cenário de economia global ainda fraca, exportadores de países como a China reduziram as cotações de seus bens para manter ou conquistar mercados, avalia ele. Combinado à apreciação da moeda brasileira, isso tornou ainda mais atraente os preços em reais de bens importados. No primeiro trimestre de 2009, a taxa de câmbio média ficou em R$ 2,3113, recuando para R$ 1,7387 no quarto trimestre. Por enquanto, a aposta é de um dólar a R$ 1,75 no fim do ano.

Uemura acredita que o coeficiente importado no consumo de bens industriais vai atingir 17,3% neste ano, uma alta de quase dois pontos percentuais em relação aos estimados 15,5% de 2009. Ele calcula essa fatia com base nos números da produção industrial do IBGE e do volume de exportação e importação da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), ponderando o peso dos setores com informações das contas nacionais. Na média móvel trimestral, o recorde foi alcançado em dezembro de 2008 - 17,16%.

Para Gonçalves, porém, é possível que a tendência de alta da parcela dos importados no consumo interno seja interrompida neste ano. Ele acha que o câmbio não vai mais se valorizar, podendo até se depreciar um pouco, e as empresas estrangeiras que concorrem com as brasileiras não vão continuar a conceder descontos tão grandes, como fizeram em 2009.

Uemura acredita que as maiores altas da participação dos importados tendem a ocorrer nos setores que produzem bens de capital e em alguns segmentos de bens de consumo duráveis, como equipamentos de informática e aparelhos de comunicações. No setor de máquinas e equipamentos - onde se concentra boa parte dos bens de capital -, a fatia dos importados no consumo nacional começou a dar mostras mais consistentes de reação apenas a partir de setembro de 2009, atingindo 26,53% na média dos três meses até novembro. Esse percentual era de 32,75% em dezembro de 2008.

Com a alta forte esperada para o investimento neste ano, a expectativa é que a participação dos produtos estrangeiros ganhe espaço nesse segmento, diz Uemura. A LCA aposta em crescimento de 20,4% da formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe na construção civil e em máquinas e equipamentos). O dólar depreciado também vai ajudar, pois reduz o preço dos bens de capital importados, acrescenta.

Há segmentos em que já houve uma significativa recuperação da parcela dos bens importados no consumo interno. No de máquinas para escritório e equipamentos de informática, por exemplo, houve um salto de 33,97% na média móvel até junho de 2009 para 39,88% nós três meses até novembro de 2009. Nesse segmento, as importações cresceram 56% entre junho e novembro do ano passado, feito o ajuste sazonal. Em veículos automotores, a parcela dos estrangeiros no consumo total também cresceu, aumentando de 13,85% nos três meses até abril de 2009 para 15,4% em novembro.

O professor Fernando Sarti, da Unicamp, considera o aumento da fatia dos produtos estrangeiros no consumo interno um fator de preocupação. Para ele, o Brasil tem na força do mercado interno um grande trunfo para entrar numa fase de crescimento virtuoso e será um grande desperdício se essa vantagem não se traduzir num ciclo de forte investimento e produção doméstica. O que me preocupa é o padrão de crescimento dos próximos anos, diz Sarti. Para ele é totalmente indesejável que a expansão se baseie apenas no consumo, com participação cada vez maior de importados, seja componente ou bem final.

Sarti acredita que o aumento da fatia dos produtos estrangeiros no consumo doméstico na segunda metade de 2009 se deveu à estratégia das multinacionais, que desviaram parte da produção para mercados como o brasileiro, que crescem mais que a média da economia global, em especial os desenvolvidos. O câmbio é o fator-chave, mas não é o único a explicar o movimento.

c) Nova Braskem vai investir US$ 13 bi nos próximos sete anos

A Nova Braskem, petroquímica líder nas Américas em produção de resinas com a incorporação da Quattor, em acordo oficializado na sexta-feira, surge com o desafio de viabilizar projetos de crescimento, no Brasil e exterior, estimados em US$ 13 bilhões no horizonte de sete anos. Esse valor envolve uma importante aquisição nos Estados Unidos, em fase final de negociação, parcerias na Venezuela e no México, e o desenvolvimento dos dois empreendimentos herdados na criação da empresa no novo arranjo societário feito com Petrobras - a petroquímica do Comperj, no Rio, e a de Suape, em Pernambuco. Ambos os projetos sofrerão estudos de revisão da Braskem no prazo de quatro meses.

A prioridade agora é efetivar a compra do ativo americano, pois a Braskem tem pressa de se posicionar nesse grande mercado, cujo consumo de plásticos é cinco vezes o do Brasil - foi de 24 milhões de toneladas em 2008. A entrada nesse país é considerada estratégicas para as ambições do grupo, que almeja ser o quinto produtor mundial em alguns anos. O negócio pode ser anunciado nas próximas semanas e o valor da aquisição pode ficar entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão. Para especialistas, faz mais sentido à companhia entrar nos EUA com fábrica de porte médio para poder competir com as gigantes locais, como ExxoMobil, Dow, ChevronPhilips e LyondellBasel.

A empresa reiterou várias vezes que vem analisando vários ativos há um ano, desde pequenos e médios até um de grande porte. Este último é uma compra mais complexa e de maior demanda de capital, pois seria integrado com uma central de matérias-primas. Segundo informações, a Braskem avaliou desde operações da Dow até a Sunoco Chemicals, área química e petroquímica da petrolífera Sunoco que pôs esse ativo à venda desde o fim de 2008. Sediada na Pensilvânia, essa divisão faz 1,2 milhão de toneladas de polipropileno ao ano. Executivos da Braskem não confirmam nem desmentem essas informações, porém evitam dar detalhes, alegando acordos confidenciais.

Bernardo Gradin, presidente da Braskem que foi indicado pelo principal acionista, a Odebrecht, para ficar á frente da Nova Braskem, afirmou que o acordo amarrado com a estatal preservou o plano de internacionalização da companhia. Assumimos o compromisso de analisar, fazer desdobramentos e desenvolver junto com Petrobras as petroquímicas do Comperj e Suape, mas a estruturação financeira desses dois projetos não pode comprometer a capacidade de crescimento da Braskem no exterior. Segundo o executivo, eles têm de ser autofinanciados.

Com a incorporação da elevada dívida da Quattor, de quase R$ 7 bilhões, e após aumentos de capital previstos, de até R$ 5 bilhões (se houver adesão de minoritários), a Braskem ficará com um nível de endividamento no limite para não afetar seus covenants (cláusulas) financeiros. Se tiver sucesso na adesão maciça, a relação dívida líquida sobre resultado operacional (lajida) será de 2,83 vezes.

O executivo informa que nesse patamar a Braskem tem condições de firmar uma aquisição do que chama de ativo de porte médio, com recursos próprios e algum endividamento local. O próprio ativo seria a garantia dos recursos. Entre alternativas de financiamento, cita fundos de investimento e até de private equity e admite recorrer ao apoio que o BNDES tem dado para promover a expansão de grupos nacionais fora do país. O JBS Friboi é um caso de internacionalização, no próprio EUA, com a participação do banco. Luciano Coutinho, presidente do BNDES, já disse que ofereceu apoio a grupos brasileiros para buscar ativos no exterior. No momento, por exemplo, a CSN negocia a aquisição da cimenteira Cimpor, de Portugal, por US$ 5,5 bilhões.

Para um investimento grande, a Braskem teria de recorrer aos acionistas para nova estruturação de capital. Um das opções seria novo aumento de capital, podendo, por exemplo, fazer emissão de debêntures. Gradin descarta uma operação com troca de ações. Mas estamos abertos para fazer joint ventures.

Quanto ao Comperj, na essência a Nova Braskem vai poder redesenhar a parte petroquímica desse projeto, que envolve uma central produtora de matérias-primas com nafta oriunda da refinaria de óleo pesado, fábricas de resinas e projetos de parceiros, como unidade de óxido de eteno. Vai também reavaliar o projeto de Suape, o qual já se encontra em implantação. Ainda vamos conhecer esses projetos nos próximos 120 dias, afirmou Gradin.

Pela configuração atual, a fase petroquímica do Comperj pode custar de US$ 2,5 bilhões a US$ 3 bilhões, abrigando fábrica de eteno de mais de 1 milhão de toneladas e unidades de resinas polietileno e polipropileno de 850 mil toneladas cada uma. Em Suape, com investimento de R$ 4 bilhões (US$ 2,2 bilhões), estão previstas três unidades industriais - fabricação de PTA (700 mil toneladas), matéria-prima que o Brasil é importador; resina PET (450 mil), usada na fabricação de embalagens; e polímeros têxteis (240 mil). Para não comprometer nosso caixa, vamos entrar em degraus e reavaliar várias premissas, como demanda interna, oferta global, competitividade, entre outras, disse o presidente da Braskem.

O projeto do México, com o grupo local Idesa, em vias de assinatura da constituição da empresa, está estimado em US$ 2,5 bilhões para uma petroquímica integrada em Veracurz, com produção de 1 milhão de toneladas de polietileno a partir de 2015. Na Venezuela, em joint venture com a Pequiven, a Braskem desenvolve dois complexos de resinas - Propilsur, para 455 mil toneladas de polipropileno, e Polimérica, para 1,1 milhão de toneladas de polietileno. Orçados em US$ 4 bilhões, com a crise sofreram adiamento, para ajustes da estrutura financeira, de até dois anos, para depois de 2013.

Em ambos os países, a empresa busca fontes de matérias-primas com custo mais competitivo, à base de gás. No Brasil, predomina a nafta, da qual a Petrobras é fornecedora de mais de 60% do volume consumido nas centrais. A fórmula de preço desse insumo fez parte até certo ponto das negociações de criação da Nova Braskem, mas optou-se por deixá-la de lado por ser um tema bem polêmico. Manteve-se o contrato atual, de nove anos, com preço reajustado mensalmente, tendo como principal referência a variação do preço internacional do petróleo.

Esses projetos, se efetivados, praticamente dobram o tamanho atual da nova petroquímica na produção de resinas termoplásticas (PE, PP e PVC). Após a fusão com Quattor, sua capacidade atingiu 5,5 milhões de toneladas.

Na nova Braskem, além de Gradin, a Odebrecht, que terá 50,19% do capital votante e de 34% a 38% do capital total, garantiu a indicação também do diretor financeiro. A Petrobras indicará o diretor de investimentos e portfólio. Mesmo assim, a estatal apresentará uma lista tríplice de nomes, da qual Gradin escolherá um para ocupar essa diretoria. Os quatro demais diretores serão escolhidos pelo presidente, sob o consenso dos dois acionistas. Buscou-se garantir uma gestão profissional à empresa, bem como uma cara privada. As decisões, tanto na holding BRK que abriga as ações de Braskem pertencentes aos dois sócios, quanto na nova companhia, serão definidas por consenso entre eles. A Odebrecht ficou com 53,8% da BRK e a estatal com 46,2%. A Petrobras deixou de ser minoritário relevante para ser acionista atuante, disse seu presidente, José Sérgio Gabrielli, na sexta-feira.

A aliança entre o grupo construtor baiano e a estatal criou a gigante petroquímica brasileira, dona de 100% da fabricação de resinas no país, com receita bruta de R$ 25,8 bilhões e resultado operacional (lajida) de R$ 2,9 bilhões, em base anual, até 30 de setembro. Opera 26 unidades industriais de primeira e segunda geração. O negócio levou quase seis meses para ser fechado e o desfecho acabou com a saída da família Geyer desse setor.

d) Navios demais, cargas de menos

Embora o comércio mundial comece a se reerguer, puxado pela demanda nos países em desenvolvimento, a recuperação tem sido contrabalançada pelo aumento no número de novos navios cargueiros.

Entre as empresas de navegação mais prejudicadas estão a alemã Hapag-Lloyd e o grupo dinamarquês A. P. Moller-Maersk. A exemplo dos gigantescos bancos afetados pela crise hipotecária, essas empresas agora estão pagando por terem se expandido muito agressivamente durante o boom, segundo analistas.

A consultoria de navegação Drewry, de Londres, estima que cerca de 20 das principais transportadoras marítimas, todas asiáticas ou europeias, perderam US$ 20 bilhões em 2009. Segundo a Alphaliner, que fornece informações sobre o setor, sete transportadoras menores fecharam no ano passado.

Nunca vimos nada assim, disse Chris Bourne, diretor-executivo da Associação Europeia de Negócios das Linhas Marítimas. É a pior situação desde o início da conteinerização, na década de 1960.

As empresas há muito tempo precisam se adaptar aos ciclos econômicos. Na década de 1970, elas foram afetadas pelos choques do petróleo e pela reabertura do canal de Suez, o que reduziu a demanda pelos superpetroleiros que contornavam o sul da África. A recuperação levou uma década, prejudicada pela recessão nos anos 1980.

A atual desaceleração está pesando não só sobre as empresas de navegação, mas também sobre portos e estaleiros, especialmente na Europa.

Segundo a empresa de pesquisa e consultoria IHS Global Insight, o setor mundial de navegação comercial regular -envolvendo principalmente contêineres- é responsável por 13,5 milhões de empregos diretos e indiretos.

A China, maior exportador mundial, anunciou neste mês que suas exportações cresceram 17,7% em dezembro, em relação ao mesmo mês de 2008, no primeiro aumento em 14 meses; as importações subiram 55,9%.

Outros países em desenvolvimento também têm uma grande demanda por frete, especialmente de produtos como cimento e aço para construção. Mas isso significa principalmente negócios para navios-tanque e graneleiros, não para cargueiros com contêineres.

A maioria dos analistas diz que o tráfego de contêineres provavelmente só irá voltar aos níveis pré-recessão em 2012 ou depois. A Drewry prevê uma expansão de 2,4% no volume comercial global neste ano, após um declínio estimado em 10,3% no ano passado.

No lado da demanda, de fato vemos alguma força; vemos uma força continuada na China, disse Vikrant S. Bhatia, executivo-chefe da KC Maritime, empresa de transporte graneleiro com sede em Hong Kong. O problema que vemos é realmente no lado da oferta.

Alguns novos navios tiveram a entrega adiada, quase certamente envolvendo a perda de pagamentos dados como sinal. A transportadora francesa CMA CGM disse recentemente que estava discutindo cancelamentos e adiamentos com estaleiros da Coreia do Sul.

Apesar disso, os estaleiros esperam entregar 371 navios para contêineres neste ano e 127 em 2012, segundo a Alphaliner. Essa frota deve crescer 14% em 2010 e quase 10% no ano que vem, o que significa mais navios disputando as cargas.

e) Bauche e Greenergy fazem joint venture no Brasil

As multinacionais Bauche Energy, de origem francesa, e a distribuidora de combustíveis do Reino Unido Greenergy anunciaram a criação de uma nova companhia no país, a Greenergy Brasil, para importar álcool anidro brasileiro para o Reino Unido.

A joint venture entre as duas empresas no Brasil vai garantir a segurança de entrega do combustível nacional ao mercado europeu. A empresa do Reino Unido fica 70% da nova empresa e a Bauche outros 30%. A companhia não divulga valores envolvendo a operação. David Rees, diretor da companhia do Reino Unido e chairman da companhia nova no país, afirmou que a empresa já importa etanol combustível do Brasil desde 2006. Agora, queremos estreitar relações com o país, uma vez que o potencial de crescimento desse combustível no Reino Unido é grande.

A parceria entre a Bauche, de origem francesa, mas com sede na Suíça, com a Greenergy é antiga. Neste primeiro ano de operação, os embarques estão previstos em 350 milhões de litros, podendo dobrar nos próximos anos. O mandato de mistura de álcool anidro na gasolina está em 3,75% na Europa, disse Rees. Mas pode chegar a 5% e dobrar para 10% nos próximos anos. O Reino Unido necessita de cerca de 700 milhões de litros de etanol para atender seu mercado. O volume restante é importado de outras empresas com atuação no país.

Atualmente, o Reino Unido consume 40 bilhões de litros de combustíveis por ano, entre gasolina e diesel. O etanol anidro para a mistura nos países britânicos é importado do Brasil. O Brasil tem eficiência e baixos custos, disse Rees. Já o biodiesel, a própria Greenergy tem produção própria, de cerca de 250 milhões de litros, mas insuficiente para o consumo. Parte nós importamos da Argentina, que produz o produto a partir dos óleos vegatais, afirmou o executivo.

O combustível importado pela Greenergy tem de estar de acordo com os princípios de sustentabilidade, como parte do acordo fechado com a Bauche.

As importações da nova companhia foram fechadas com 12 usinas, entre elas unidades do Centro-Sul e Nordeste. Rees afirmou que, neste momento, não há planos de investimento em usinas de álcool no país.

A empresa do Reino Unido tem uma participação de 20% de participação no mercado de combustíveis, incluindo gasolina e diesel. As distribuidoras estão em boa parte concentradas em rede próximos a supermercados, afirmou Rees. Em diesel, a companhia abastece geralmente frota de caminhões.

Com faturamento líquido da ordem de 2,5 bilhões de libras esterlinas, a companhia já importa álcool a parir do Brasil nos últimos cinco anos.

Além de álcool, a Bauche também exporta açúcar Brasileiro. No Brasil desde o fim de 2005, a empresa com sede na Suíça, mas com acionistas majoritários franceses, deu início em 2006 às exportações de açúcar e álcool no país. Em 2006, a Bauche começou com embarques de 179 milhões de litros de álcool. Em 2007, foram quase 800 milhões de litros. As exportações brasileiras de álcool devem girar em torno de 3 bilhões de litros. Segundo Nelson Ostanello, diretor da trading, os embarques para a Greenergy devem responder por cerca de 10% das vendas totais.

Segundo Ostanello, a trading Bauche Energy vai continuar tendo atuação independente da nova companhia formada com o grupo do Reino Unido. A empresa está entre as maiores exportadoras de álcool do Brasil. O faturamento global da Bauche é da ordem de US$ 1,5 bilhão.


f) Crise muda ranking de grandes exportadores

A crise acelerou a mudança de perfil dos dez maiores importadores e exportadores do país. O avanço das commodities na pauta de exportaçõesbrasileiras, iniciado há alguns anos, intensificou-se em 2009. Como resultado, restou apenas a Embraer como fabricante de manufaturados entre as dez empresas que mais venderam ao exterior no ano passado, em termos de valor. Em 2008, ao lado da Embraer, duas montadoras estavam entre as dez maiores. Em 2005, havia quatro indústrias de manufaturados na lista.

No total, 585 empresas deixaram de vender produtos no exterior no ano passado - um queda de 3% no total de exportadores. Foi o segundo ano consecutivo com queda na quantidade total de companhias que vendem no exterior. Foi a primeira vez, contudo, que o total de grandes exportadores diminuiu - caiu de 260 para 223 o número de empresas com exportações anuais acima de US$ 100 milhões. A principal razão para esse encolhimento no ímpeto exportador foi a concentração das vendas externas nas commodities, que passaram por um vale de preços em 2009.

A queda no número de companhias exportadoras ocorreu em todas as faixas de valores superiores a US$ 40 mil. Entre US$ 10 milhões e US$ 100 milhões, o total de empresas com vendas no exterior caiu de 1.441 para 1.180

Para o secretário-adjunto de Comércio Exterior, Fábio Martins Faria, a redução nas faixas de maior valor exportado aconteceu em função de uma combinação de fatores. Além da redução de preços de commodities no ano passado, houve também dificuldade dos fabricantes brasileiros de manufaturados para colocar grandes volumes no mercado internacional. A queda no número de exportadores já era esperada, em função da redução de 22% nos valores totais embarcados em 2009, na comparação com o ano anterior.

Os preços resultaram num rebaixamento geral das exportadoras para faixas de valores menores, diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil. Ele acredita que a redução no número de exportadores reflete o domínio das commodities, principalmente agrícolas, na pauta de exportações e na classificação das que mais vendem ao exterior.

A alteração não se restringiu às exportações. No ranking dos maiores importadores, subiram as montadoras. Entre as dez maiores, estão quatro fabricantes de automóveis: Honda, Fiat, Volkswagen e Toyota. Em 2008, eram apenas duas montadoras. A explicação geral da mudança no caso das montadoras está na importação de insumos para produção voltada ao mercado interno, num ano em que houve queda na demanda internacional. Isso fez elas reduzirem o peso entre os maiores exportadores e aumentarem a participação entre os grandes importadores.

Essa mudança na classificação das empresas é resultado da tendência de maior exportação de produtos básicos, diz o economista Júlio Callegari, do J.P. Morgan. Ao mesmo tempo, em 2010, a combinação do nível de atividade doméstica muito forte com o câmbio apreciado deve fazer com que os exportadores continuem se voltando mais para o mercado interno, completa ele.

A força do mercado não fez diferença apenas para as montadoras de automóveis. Benjamin Sicsú, vice-presidente de novos negócios da Samsung, credita principalmente ao mercado interno a subida do oitavo lugar, em 2008, para a quarta posição em 2009 na classificação das dez maiores importadoras.

Em 2009, a Samsung Eletrônica desembarcou US$ 1,47 bilhão em insumos importados. No ano anterior, US$ 1,55 bilhão. A apesar da redução nos valores totais, Sicsú informa que houve, no ano passado, um aumento no volume e no número de insumos importados. Isso aconteceu em função de novas linhas de produtos. As câmeras fotográficas e os home theaters, por exemplo, passaram a ser fabricados em setembro e outubro de 2008 e pegaram o ano cheio de 2009, diz Sicsú. Para 2010 estão previstos duas linhas novas, de notebooks e ar-condicionado.

Ele explica que a empresa importou mais insumos para elevar a produção para o mercado brasileiro. A arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) da companhia, diz, aumentou 3% de 2008 para o ano passado. Na fábrica da Samsung instalada em Manaus, houve elevação no número de trabalhadores. A empresa fechou com 1.560 funcionários em 2008 e ao fim do ano passado estava com quadro ampliado para 1.990 empregados.

Como resultado, a empresa aumentou seu faturamento entre 10% e 15% em 2009, na comparação com o ano anterior. O crescimento aconteceu porque houve ganho de market share. Nós éramos o quarto em venda de celulares em 2008 e no ano passado ficamos em primeiro, exemplifica Sicsú.

O aumento de produção interna gerou ritmo vigoroso de importações, explica o executivo, porque os produtos fabricados pela Samsung no Brasil possuem alto índice de insumos produzidos no exterior. A participação dos importados é em média de 70% do valor dos produtos fabricados no país. Segundo ele, a apreciação da moeda nacional não significa, necessariamente, uma vantagem com a significativa importação de insumos. Essa redução acaba sendo repassada ao preço interno do produto, porque a concorrência no setor é muito grande.

Fabricante de resinas e petroquímicos básicos, a Braskem subiu de colocação na lista dos maiores importadores, como também dos grandes exportadores. Em 2008, a petroquímica era a 27ª maior importadora. No ano passado, subiu para o sexto lugar. Na classificação dos que mais venderam ao exterior no ano passado, a companhia ficou em sétimo lugar. Em 2008, ela havia ficado em 23º.

O diretor de exportação da Braskem, Edison Terra, explica que o salto no ranking dos maiores exportadores deve levar em consideração que em 2008 houve um cenário atípico. Ele explica que a Braskem teve de janeiro a julho de 2008 paradas programadas de manutenção. No segundo semestre, quando a empresa estava com sua capacidade industrial renovada, a crise já estava afetando o mercado internacional. Além disso, lembra ele, outras duas centrais petroquímicas também tiveram paradas para manutenção praticamente no mesmo período, o que resultou em menor excedente de produção e uma queda no volume de exportação do setor. Dessa forma, a exportação da Braskem também caiu em 2008.

Em 2009, porém, diz Terra, a empresa foi beneficiada pelo chamado efeito China, principalmente durante o primeiro semestre. Importante mercado para as resinas termoplásticas da Braskem, a Europa reduziu o volume de exportações, mas a petroquímica destinou suas vendas para o países asiáticos.

As exportações para a China mais do que compensaram a queda de vendas para o mercado europeu no primeiro semestre de 2009, explica o diretor. Segundo ele, no ano passado os chineses aumentaram em 25% as importações totais de resina. No terceiro e quarto trimestres de 2009, as vendas para os demais mercados apresentaram melhora e, ao mesmo tempo, os preços se recuperaram no mercado internacional, embora tenham terminado o ano passado com valores entre 60% a 70% abaixo do pico de 2008. Para 2010, diz o diretor, a Braskem espera uma demanda chinesa no mesmo nível do ano passado, já que o crescimento de 25% de 2009 elevou bastante o patamar de comparação.

Com exportações puxadas pela China e produção para o mercado interno, diz Terra, a subida na classificação das maiores importadoras foi natural, já que aumentou a demanda pelo insumo importado pela petroquímica.

Agronegócio

a) Centro-Oeste alavanca produção em larga escala

O crescimento do cultivo de orgânicos no Brasil, acelerado nos últimos anos, deixou de ser impulsionado por pequenos agricultores das regiões Sul e Sudeste do país e já é liderado por médios e grandes produtores do Centro-Oeste, de acordo com diagnóstico da consultoria IP Desenvolvimento Empresarial e Institucional.

Conforme Ingo Plöger, presidente da empresa e diretor da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), apenas 5% dos produtores de orgânicos estão no Centro-Oeste, mas como na região as propriedades são maiores, dois terços da área ocupada por esses produtos está atualmente nos Estados da região, com destaque para carne e soja. Em número de produtores, o Sul ainda representa aproximadamente 70% do total.

Plöger ressalva que as estatísticas disponíveis sobre o segmento guardam muitas diferenças entre si, mas sustenta que o movimento é perceptível e necessário para que a produção brasileira ganhe escala. Na Europa, onde está a maior demanda mundial por orgânicos, a produção é dominada por pequenos agricultores e o fato é inclusive usado como apelo de marketing para atrair consumidores.

Estimativas do governo do fim de 2009 calculavam em 15 mil o número de produtores de orgânicos no país, espalhados em uma área de cerca de 800 mil hectares. Sem contar o extrativismo - que amplia o número de produtores e a área, que salta para 5 milhões de hectares -, considerava-se um movimento financeiro da ordem de R$ 500 milhões por ano e que 70% da produção é exportada.

O consultor aprova a decisão do Ministério da Agricultura de prorrogar de 2009 para 31 de dezembro de 2010 o prazo para que os agricultores se ajustem à nova regulamentação do setor, que envolve produção, comercialização, armazenagem, rotulagem, transporte, certificação e fiscalização.

Só quem seguir as regras à risca terá o selo do Sistema Brasileiro de Conformidade Orgânica. Em novembro, produtores, certificadoras e empresas pediram a prorrogação porque não teriam tempo de se adaptar até 31 de dezembro de 2009. A lei dos orgânicos foi sancionada pelo presidente Lula em 2003, mas só teve o decreto regulamentado em dezembro de 2007. A primeira instrução normativa saiu em dezembro de 2008; a última, em maio do ano passado.

Para Plöger, essa sensibilidade social foi importante para incentivar os pequenos a apostar nesse mercado. Mas ele alerta para a possibilidade de novas prorrogações, que podem atrasar o incremento da oferta nacional. As redes varejistas ampliaram os espaços destinados a produtos orgânicos e sustentáveis em geral e vão aumentá-los mais. O crescimento no Centro-Oeste mostra que o Brasil tem condições de produzir orgânicos em grande escala, e isso é novidade.

Nas gôndolas, os maiores sucessos orgânicos são o açúcar e o café, além de frutas e verduras. O açúcar orgânico lidera a pauta de exportaçõesbrasileiras no segmento.

b) Especificações técnicas dificultam importações de etanol americano

Alguns consideram uma heresia. Outros não descartam a opção. Mas o fato é que importar etanol, para o Brasil, não é algo tão simples assim, pelo menos no curto prazo. Os entraves vão desde o tempo que o combustível levaria para chegar ao país até questões técnicas que teriam que ser objeto de alteração de legislação para viabilizar o uso do álcool estrangeiro, principalmente o americano.

O etanol americano não tem, por exemplo, as mesmas especificações exigidas pela legislação brasileira. Tarcilo Rodrigues, diretor da trading Bioagência, especializada em etanol, explica que o álcool brasileiro pode, no máximo, ter 0,5% de água, enquanto o americano sai da usina com 0,9%. Para o Brasil, é mais simples exportar aos EUA, por que, neste caso, não é necessário desidratar o produto, mas somente acrescentar água.

Tarcilo acrescenta que, como ainda não é uma commodity, o etanol tem, em diferentes regiões do, mundo especificações distintas. Quando o Brasil vai exportar para a Europa, por exemplo, as usinas aqui têm que fazer adaptações para produzir com uma quantidade ainda menor de água, diz ele.

Outro entrave é a composição final do etanol americano, que já sai da usina misturado à gasolina. É um percentual pequeno, mas há a mistura, que é obrigatória para evitar que esse etanol produzido para fins químicos seja usado como bebida, explica Mário Silveira, da consultoria FCStone.

Ambos os especialistas concordam que essas regras podem mudar. No entanto, não é um processo que se resolve do dia para noite.

O prazo, aliás, é outro obstáculo à importação de etanol para esta safra. Há um risco muito elevado, segundo Júlio Borges, da Job Economia e Planejamento, de que o etanol eventualmente negociado nesta semana com os EUA chegue no Brasil por volta de março, quando um razoável número de usinas já deverá estar moendo cana no Centro-Sul e, portanto, os preços deverão estar mais baixos. Atualmente, segundo Borges, o metro cúbico do etanol nos EUA vale US$ 470, valor que no Centro-Sul do Brasil está em US$ 740.

Essa diferença, de cerca de US$ 300, é mais do que suficiente para bancar frete, impostos e taxas. Mas, do ponto de vista de oportunidade de negócio, pode não ser uma boa alternativa, diz Borges.

Mas, afinal, há risco ou não de desabastecimento? Alguns agentes do governo vêm acenando com a possibilidade de o Brasil ter de importar etanol por causa desse risco. Ontem, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, reforçou essa linha: Nós não gostamos da ideia e preferimos arrumar soluções internas. Mas não está descartada a possibilidade, disse ele.

Isso porque o aumento de vendas de carros flex combinado com o preço muito baixo do etanol durante toda a safra ao consumidor, provocaram uma explosão de consumo de álcool hidratado, aquele que abastece diretamente o veículo. De acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), o consumo de etanol até novembro de 2009 tinha superado o de 2008, já 43% maior que o de 2007.

Com a alta do preço do etanol na bomba pesando no bolso, o consumidor pisou no freio e consumo do combustível recuou 30% em comparação com o volume em dezembro. Apesar de a ANP não ter divulgado as estatísticas de do último mês de 2009, o volume levantado pelo Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), que representa de 50% a 60% do mercado, foi de vendas de 960 milhões de litros de álcool hidratado em dezembro. Em contrapartida, o consumo de gasolina subiu 26% em relação a janeiro de 2009 e recuou 3% em relação a dezembro. Em dezembro, o consumo de gasolina é muito elevado, por isso, janeiro recuar em relação a dezembro não é parâmetro a ser considerado, diz Alisio Mendes Vaz, vice-presidente executivo do Sindicom.


c) Safrinha de milho deve frustrar expectativas

Começaram a ruir as perspectivas de aumentos de área plantada e investimentos em tecnologia na próxima safra de inverno de milho do país, cujo plantio já está em fase inicial no Paraná, maior Estado brasileiro produtor do grão.

As exportações reagiram a partir de setembro, os estoques caíram e a área plantada desabou na safra verão, como previa o mercado. Mas em números absolutos as oscilações foram menores que as projetadas e contiveram a reação dos preços domésticos e o ânimo para a safrinha.

Como informa relatório divulgado ontem pela consultoria Céleres, com sede em Uberlândia (MG), os mais pessimistas acreditam em uma redução de até 20% na área plantada da safrinha do Paraná, líder também na produção de milho de inverno.

O engenheiro agrônomo Róbson Mafioletti, assessor da Ocepar, organização que reúne as cooperativas paranaenses, disse que acredita em manutenção ou recuo de até 5% na área em relação ao ano passado, que ficou em cerca de 1,5 milhão de hectares.

A também agrônoma Margorete Demarchi, do Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura do Paraná (Deral/Seab), confirma a mudança de expectativas sobre a safrinha, mas ainda não tem números definitivos que comprovem a diminuição das intenções de plantio.

Segundo ela, a equipe do Deral acaba de retornar do campo com os dados mais recentes sobre os planos dos agricultores para a temporada de inverno, mas eles estão sendo compilados e o primeiro relatório oficial com as intenções de plantio deverá ser divulgado até o fim da semana.

Em seu último relatório sobre oferta e demanda de grãos no Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicou produção de verão de 32,347 milhões de toneladas nesta safra 2009/10, 3,9% menos que em 2008/09, e de 18,141 milhão de toneladas no inverno, 4,6% mais.

No Paraná, onde as chuvas recentes já provocam leve atraso nesta fase inicial de colheita de verão, como ocorre em outros Estados do Centro-Sul - as precipitações também afetam a soja -, as projeções da Conab apontam para 6,470 milhões de toneladas de milho no verão, baixa de 0,8%, e 5,375 milhões no inverno, incremento de 17,4%.

O fato de ser apenas leve a redução prevista para a produção de verão, como atesta a consultoria Agroconsult, colabora para a atual queda de preços e para o desânimo com a safrinha. A área plantada no verão caiu 10,7% no país em 2009/10, para 8,281 milhões de hectares - no Paraná a baixa foi de 27,7%, para 917 mil hectares -, mas o clima ajudou o desenvolvimento das lavouras, ao contrário de 2008/09, e o impacto na oferta tende a ser minimizado.

Como as exportações subiram menos do que se esperava, em parte graças à gorda safra americana colhida no segundo semestre de 2009, principal fator de pressão sobre as cotações internacionais, os preços domésticos estão cerca de 15% mais baixos do que no mesmo período do ano passado.

De acordo com Flávia Sologuren, analista da Céleres, a saca de 60 quilos sai atualmente, em média, por R$ 15,25 nas principais praças de comercialização do país, ante R$ 18,82% em janeiro do ano passado. No Paraná, o Deral apontou média de R$ 14,91 ontem, ante os R$ 17,56 médios de janeiro de 2009.

Na bolsa de Chicago, os contratos com vencimento em maio encerraram a sessão a US$ 3,7875 por bushel, em alta de 3,25%. Neste janeiro, porém, a baixa acumulada alcança 10,72%, conforme cálculos do Valor Data baseados nos futuros de segunda posição de entrega (normalmente o de maior liquidez). Nos últimos 12 meses, a baixa é de 5,67%.

A situação não é positiva como se imaginava entre outubro e novembro. Estamos abaixo do preço mínimo fixado pelo governo em R$ 17,46 no Paraná e pleiteamos novos leilões de PEP Prêmio de Escoamento do Produto para entre 500 mil e 1 milhão de toneladas. Nesse contexto, não teremos aumento da área da safrinha, pelo contrário, e não veremos o aumento de investimentos em tecnologia nas lavouras, afirma Mafioletti, da Ocepar.

A atual queda de preços não surpreende. O que surpreende é a mudança do cenário, diz Margorete, do Deral. Ela realça que, para os produtores, o fato de a safra estar se desenvolvendo bem pode ser garantia de renda maior, porque em 2009 os preços estavam melhores no verão mas havia pouco milho em razão das perdas provocadas pela estiagem - que castigou ainda mais a produção argentina.

Com base na redução da safra de verão, o Ministério da Agricultura trabalha com uma previsão de valor bruto da produção (da porteira para dentro) de milho de R$ 13,926 bilhões em 2010, 13,9% menos que em 2009 - quando o tombo na comparação com 2008, por causa da seca, foi de 31,7%.



d) Safra recorde deve reduzir preço da soja

Produtores de soja do Centro-Oeste iniciaram a colheita neste mês apreensivos com a perspectiva de queda nos preços internacionais. A cotação do grão é pressionada por projeções de safras recordes nos três maiores exportadores, EUA, Brasil e Argentina. O aumento da área plantada e o clima favorável resultaram na expansão de 20% na produção mundial, o que deve elevar o estoque dos países produtores em 40%, diz o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP.

Apesar de os gastos com custeio terem caído de 10% a 20% neste ciclo, o cenário é menos favorável ao produtor do que em 2009, quando a quebra de 31% na safra argentina e a forte demanda chinesa garantiram altos preços mesmo durante a colheita -cerca de US$ 10 por bushel, que equivale a 27,2 kg de soja. A cotação do dólar, que caiu de R$ 2,30 para cerca de R$ 1,80 nos últimos 12 meses, também prejudica o sojicultor.

Quem não travou o preço nada está preocupado por causa da cotação que tende a cair e porque a perspectiva é ruim para a safrinha do milho, que mantém preços baixos e estoques altos desde o ano passado, diz o produtor Eduardo Pagnoncelli Peixoto, 52. Há dez dias, ele iniciou a colheita dos 2.400 hectares que plantou em sua propriedade, dividida entre os municípios de Chapadão do Céu (GO) e Costa Rica (MS). Para garantir um preço médio, Peixoto vendeu antecipadamente 60% da produção em outubro e novembro por US$ 19 a saca de 60 kg -R$ 34,4.

Com apenas 20% da produção vendida antecipadamente, Rogério Antonio Sandri, 35, teme não cobrir os custos da lavoura se a cotação da soja continuar caindo. Estou apreensivo porque já não consigo fechar negócio por R$ 35 a saca. Abaixo disso, tenho prejuízo, diz ele, que plantou 830 hectares em Chapadão do Céu. O preço da saca era de cerca de R$ 32 no município. Referência em produtividade no Centro-Oeste, a região dos chapadões, que compreende o sul de Goiás e o norte de Mato Grosso do Sul, havia colhido 10% de seus 400 mil hectares até o último fim de semana.

Conforme dados da Fundação Chapadão, mantida por produtores locais, as lavouras devem produzir de 55 a 58 sacas por hectare neste ano, ante 52 sacas do ciclo anterior. Para Lucilio Alves, pesquisador do Cepea, a demanda da China será inferior à oferta neste ano e a supersafra deve recompor os estoques dos principais países exportadores. Não tem como segurar o preço nessa situação. A cotação deve cair até março, época em que os produtores precisam vender para pagar dívidas.

Para o economista e professor da GV Agro Alexandre Mendonça de Barros, o preço da soja deve cair um pouco se as grandes safras no Brasil e na Argentina se confirmarem, mas há um viés de estabilidade em torno de US$ 9,7.


e) Tradings desperdiçam parte da alta do açúcar

Aproveitar os preços recordes do açúcar, que chegaram a romper durante a barreira dos 30 centavos de dólar por libra-peso na segunda-feira na bolsa de Nova York, não é um privilégio de todos. Por conta da aversão ao risco, tradings estão limitando fixação de preço de açúcar das usinas que, até agora, apesar do bom preço, firmaram apenas 35% do que deve ser exportado da commodity no ciclo 2010/11, que começa oficialmente em abril.

O percentual tinha potencial para ser maior, se não fosse o receio das usinas exportadoras de aumentar seus valores depositados para margeamento em bolsa, segundo Arnaldo Luiz Correia, da Archer Consulting. O cuidado não é para menos. O especialista estima que, nos últimos 30 dias, essa chamada tenha exigido das tradings da área o depósito de US$ 180 a US$ 200 por tonelada de açúcar fixado.

Assim, se consideramos o percentual de 35% do que está sendo exportado - ou seja, cerca de 7 milhões de toneladas do produto -, o valor que saiu de caixa dessas exportadores nos últimos 30 dias fica entre US$ 1,2 bilhão e US$ 1,4 bilhão, o equivalente a 15% de toda a receita dos 12 meses de 2009 com os embarques da commodity.

Apesar de ter sofrido correção no pregão de ontem em Nova York, os preços do açúcar ainda sinalizam que estão mesmo perto de romper os 30 centavos de dólar por libra-peso, o que seria um feito histórico. Na segunda-feira, por exemplo, os contratos para março bateram em 30,18 centavos antes de fecharem a 29,80 centavos de dólar a libra-peso. Ontem, as notícias de menor crescimento do crédito na China interromperam a sede dos fundos e a cotação recuou 47 pontos, para 29,33 centavos.

Ainda assim, as remunerações para o açúcar nesta semana atingiram no Centro-Sul do Brasil uma lucratividade de 100%. Na cotação do dia 25 em Nova York - 29,80 centavos de dólar (março) -, os preços do produto no mercado interno atingiram o equivalente a 30,69 centavos de dólar a libra-peso, para um custo de produção calculado em 15,3 centavos, segundo a consultoria Datagro.

Mesmo com as altas do etanol no mercado interno, o açúcar está, de longe, mais atrativo para as usinas. O preço equivalente do anidro fechou no dia 25 a 20,61 centavos de dólar por libra-peso e, o de hidratado, em 19,78 centavos.

A fixação da fatia de cerca de 35% da exportação de 2010/11 ficou entre 22 centavos e 26 centavos de dólar por libra-peso, ou seja, abaixo dos níveis atuais, nas estimativas da Datagro. Ainda assim, segundo Plínio Nastari, presidente da consultoria, estão em patamares nunca vistos nos últimos 30 anos. Esse nível de preço da fixação vai permitir a geração de capital de giro que, por consequência, aumentará a capacidade de estocagem, tanto de açúcar como de álcool, diz Nastari.

Mas, obviamente, essa elevada lucratividade do açúcar deve estimular o aumento de produção mundial, provocando mais à frente a inversão do ciclo com oferta maior do que a demanda e preços baixos. No entanto, observa Nastari, a complexidade agrícola da cana-de-açúcar pode fazer com que o ciclo de baixa ainda não chegue na próxima safra. A Índia, por exemplo, pode sair do patamar de 16 milhões de toneladas de açucar do atual ciclo e expandir para 23 milhões e 26 milhões de toneladas na próxima temporada. No entanto, vai precisar de ter um volume maior de mudas de cana para isso, produção que não está acontecendo agora para atender já o próximo ciclo, observa Nastari.

Além disso, a renda que o segmento sucroalcooleiro está obtendo com a venda de açúcar está sendo usada para pagar dívidas, potencializadas durante a crise do ano passado, e não em renovação do canavial. Assim, a renovação da área agrícola média por safra, que é de 18,5% será nesta safra de 15% a 16% (...) Por isso ainda vejo o ano de 2011 como um ano bom para o setor, diz.


f) Índia leva 31% do açúcar do Brasil em janeiro

Em 2007, a Índia não comprou um quilo sequer de açúcar brasileiro. O país asiático teve naquele ano uma safra recorde e até desbancou o Brasil da posição de maior produtor mundial. Dois anos depois, o mercado inverteu-se totalmente, a Índia foi o maior importador do açúcar brasileiro e em 2010 continua enxugando de forma agressiva a oferta brasileira da commodity.

Os números não deixam dúvidas: até 22 de janeiro, a Índia já tinha importado 31,19% dos 1,058 milhão de toneladas (entre açúcar branco e bruto) que o Brasil embarcou no período. A forte demanda internacional pelo produto, liderada pelos indianos, aperta ainda mais os estoques de açúcar do Brasil.

O apetite da Índia pelo produto brasileiro neste início de ano é maior ainda do que foi em 2009. No ano passado, o país asiático comprou 18% do que o Brasil exportou. Do total de 13,6 milhões de toneladas embarcadas em 2009, a Índia importou 3,99 milhões, segundo a Secretaria de Comércio Exterior. Esse cenário nos indica que o mercado seguirá altista, diz Luiz Carlos dos Santos Júnior, da Kingsman do Brasil, consultoria especializada em açúcar.

A sede indiana também reflete a quebra da safra no país. No segundo semestre do ano passado, início da safra na Índia, a estimativa era de uma produção 26 milhões de toneladas de açúcar. Hoje, o número é bem menor. Apostamos em 16 milhões de toneladas, diz Mário Silveira, da FCStone.

Mas o fato é que com esse enxugamento do açúcar brasileiro liderado pela Índia, os estoques nos portos brasileiros já dão sinais de arrefecimento. De acordo com dados da Kingsman referentes à terceira semana de janeiro, o estoque de açúcar estava em 679 mil toneladas. Em igual semana de 2009, esse volume era de 851 mil toneladas, e em 2008, de 893 mil toneladas. E ainda há previsão de mais exportações até o fim deste mês. Até ontem, os portos brasileiros previam o embarque de 792,7 mil toneladas do produto - 73% de açúcar bruto e 27% de branco.

Isso significa que, somados os volumes já embarcados com o que está previsto, devem ser exportados 1,85 milhão de toneladas. Uma parte desse volume deve ser transferida para fevereiro, pondera Santos, da Kingsman do Brasil.

De qualquer forma, tudo indica que o Brasil embarcará em janeiro metade do que teria disponível para embarcar até o início da safra, pelo menos, segundo o que a consultoria Datagro calculou como sendo um estoque excedente. Entre janeiro e 30 de abril, o país deve ter apenas 2,7 milhões de toneladas de açúcar disponíveis para exportação, mantido o abastecimento interno, segundo a Datagro. Esse quadro pode provocar um forte aperto no abastecimento interno.

Mas a condição real de oferta no Centro-Sul até abril ainda é incógnita porque há usinas moendo e a previsão é de que muitas outras antecipem o início da próxima temporada. No entanto, com o excesso de chuva, as que continuam processando, o fazem com baixíssimo rendimento. Na quinzena encerrada em 16 de janeiro, foram moídas 3,8 milhões de toneladas de Cana e produzidos 68 mil toneladas de açúcar e 175 milhões de litros de etanol , volumes que poderiam ter sido 15% e 27% maiores, respectivamente, não fosse a baixa qualidade da Cana, divulgou a União da Indústria de Cana-de-Açúcar.


Mercosul

a) Exportação argentina de carne bovina cresce 58%

A Argentina exportou no ano passado 419,3 mil toneladas de carne bovina, num total de US$ 1,652 bilhão, segundo o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (Senasa), responsável pela fiscalização do produto vendido ao exterior.

O volume cresceu 57,47% em relação às 266,3 mil toneladas de 2008 enquanto o faturamento aumentou 10,55%, sobre os US$ 1,494 bilhão do ano anterior, segundo o órgão. As vendas incluem cortes nobres da cota Hilton, destinados ao mercado europeu, carnes resfriada e congelada e carnes processadas.

Assim como ocorreu com a carne bovina brasileira no mercado, os preços do produto exportado pela Argentina também foram pressionados pela crise internacional, que reduziu a demanda em alguns mercados.

De acordo com o Senasa, do total de exportações certificadas em 2009, os cortes da cota Hilton somaram 22,436 mil toneladas ou US$ 217,807 milhões. As vendas de carne resfriadas e congeladas alcançaram 361,063 mil toneladas (US$ 1,305 bilhão) . Já as vendas de carnes processadas totalizaram 35.836 toneladas ou US$ 129,641 milhões.

O Senasa informou ainda que os principais destinos dos cortes na cota Hilton foram Alemanha, Holanda, Itália e Reino Unido.

A Rússia foi o maior cliente das carnes resfriadas da Argentina, com a importação de 141,278 mil toneladas (US$ 337,4 milhões). Atrás vem Alemanha, Chile e Israel, segundo o Senasa.


Organização Mundial do Comércio (OMC)

a) Lamy quer debate climático fora da OMC

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, quer afastar o risco de questões comerciais, como taxa sobre importações ditas mais poluidoras, embaralharem a já complicada negociação de um acordo global do clima.

Lamy pedirá aos ministros de Comércio que vão se reunir à margem do Fórum Mundial de Economia, nesta semana em Davos (Alpes suíços), que confirmem a estratégia de primeiro os países se focarem na conclusão do acordo de clima. Só depois do acerto completo sobre redução de emissões é que seria examinada a necessidade ou não de adaptar as regras da OMC à nova situação.

A ideia é não fazer um acordo climático pensando em medidas comerciais. Para certos negociadores, o Brasil, a China, a África do Sul e a Índia deram um novo fôlego à negociação para combater a mudança climática, com o anúncio de que vão respeitar o prazo de até o fim do mês para revelar seus planos voluntários de redução de emissões.

Em Davos, o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, e o ministro de Comércio da Nova Zelândia, Tim Groser, foram escalados para abordar a relação entre comércio e clima, com seu potencial de divergências entre os parceiros comerciais.

Persistem iniciativas de vários Parlamentos visando a imposição de uma tarifa-carbono na fronteira - passar a taxar o conteúdo em carbono de uma mercadoria importada no caso de esse conteúdo ser maior do que o equivalente nacional.

Para importantes negociadores, os EUA dificilmente vão fechar um acordo de clima sem a garantia de poder aplicar a tarifa-carbono em importações, para assim evitar a deterioração da competitividade de suas indústrias em relação a concorrentes estrangeiros.

Lamy tem insistido que a política comercial não substituirá um acordo sobre redução de carbono na economia. Ele acha que a implementação de um acordo sobre as emissões de carbono será bem menos complicado. Exemplifica com o Protocolo de Montreal, um tratado para proteger a camada de ozônio da Terra das emissões de químicos destrutivos. Feito o acordo internacional, os países passaram a reduzir emissões de CFC (clorofluorcarbonos) e teve país que impôs taxa na fronteira e ninguém achou isso anormal.

No encontro dos ministros, num hotel em Davos, vai ser discutida também a avaliação geral da Rodada Doha, marcada para março. Até agora, os países se confrontam sobre se isso ocorrerá em nível ministerial ou técnico, o que dá dimensão diferente ao exercício.

Mas o sinal mais claro do estado da negociação que já dura oito anos é a ausência em Davos de Ron Kirk, principal negociador americano. A mensagem de Washington é de que o governo Obama, no momento, não tem margem para avançar em acordos comerciais.

Plano Internacional

a) Otimista, FMI eleva previsões de 2010, mas vê ameaças

O Fundo Monetário Internacional (FMI) aumentou ontem a sua projeção de crescimento para a economia brasileira neste ano, mas ainda se mostra menos otimista do que os analistas privados e que o Banco Central brasileiro. Agora, o organismo projeta expansão de 4,7%, contra 3,5% previstos em outubro de 2009, de acordo com a revisão do seu Panorama Econômico Mundial.

Se os números se confirmarem, o Brasil se sairá melhor do que a economia mundial, cuja expansão é calculada em 3,9% em 2010. O FMI também aumentou sua projeção de crescimento para a economia mundial. Em outubro, o organismo esperava expansão de 3,1%. O Brasil se sairia relativamente mal em 2011, aponta o FMI, com expansão de apenas 3,7% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a economia mundial avançaria 4,3%.

As projeções do FMI para o Brasil são mais pessimistas do que a dos analistas econômicos consultados na pesquisa semanal do BC, que aponta expansão de 5,3% para este ano e de 4,5% para o próximo. O próprio BC projeta crescimento de 5,8% da economia para 2010; sua projeção para 2011 só será divulgada em dezembro.

O chefe da divisão e estudos econômicos mundiais do FMI, Jorg Decressin, explica que o crescimento brasileiro em 2010 tende a ser um pouco mais forte em virtude das medidas de estímulo monetário e fiscal adotadas pelo governo para reativar a economia em meio à crise financeira de 2008. Em 2011, o impulso dessas políticas vai diminuir gradualmente, afirmou. Em 2010, o Brasil também tem o impulso da alta dos preços das commodities , completou, referindo-se a produtos básicos exportados pelo país, como minério, soja e suco de laranja.

O economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, nota que, nas projeções do organismo, o crescimento brasileiro no quarto trimestre deste ano será de 3,9%, pouco acima dos 3,7% esperados para o último trimestre de 2011. Olhando os dados dessa forma, argumenta, dá para eliminar os efeitos estatísticos do baixo crescimento de 2009, que tende a inflar os números anuais de 2010. A conclusão, sugeriu, é que a economia brasileira vai ter uma trajetória basicamente estável nos próximos dois anos.

Os analistas do mercado financeiro no Brasil esperam a desaceleração do crescimento econômico, em parte, porque são grandes as chances de o BC ter que elevar juros para evitar que a inflação ultrapasse a meta, hoje fixada em 4,5%. Não vamos comentar a política monetária do Brasil, disse Decressin. Obviamente, o BC terá que fazer o que tem que ser feito para manter a inflação na meta, e nós apoiamos isso.

Além do Brasil, outros países emergentes também contribuíram para puxar para cima as previsões do FMI para a economia mundial. É o caso da Rússia, cuja projeção de crescimento subiu de 1,5% para 3,6%; da China, com incremento de 9% para 10%; e da Índia, que foi de 6,4% para 7,7%. Mas o conjunto de economias desenvolvidas também deve crescer mais, segundo o FMI. Agora, o prognóstico é um avanço de 2,1%, contra 1,3% previstos anteriormente. O crescimento projetado para os Estados Unidos foi revisto de 1,5% para 2,7%, em virtude do ritmo de atividade mais forte do que o esperado em fins de 2009.

Apesar de ter aumentado as projeções de crescimento, o FMI ainda vê alguns riscos relevantes para a recuperação da atividade econômica mundial. No caso dos Estados Unidos, boa parte do crescimento em fins de 2009 se deve a estímulos fiscais, que são finitos, e à recomposição de estoques, que também tende a acabar. O consumo mostrou alguns sinais de alento. Mas a continuidade de sua expansão depende do mercado de trabalho nos Estados Unidos, que segue fechando postos, e da retomada do fluxo de crédito pelos bancos, que ainda não ocorreu.
b) Países do Bric já têm um terço das reservas mundiais

Os países do Bric - Brasil, Rússia, Índia e China - já detêm US$ 3 trilhões de reservas internacionais, equivalentes a um terço do total mundial, aumentando seu peso no mercado financeiro global, indica o Deutsche Bank em estudo.

Para o banco alemão, a China, com o grosso das reservas mundiais (US$ 2,4 trilhões), tende a superar o Japão como o maior credor internacional líquido dentro de alguns anos e os Estados Unidos como a maior economia do mundo por volta do ano 2025.

O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, revelou que os presidentes das quatro grandes economias emergentes vão se reunir em abril no Brasil, e um dos temas centrais que vão discutir será a utilização de suas moedas nacionais no comércio entre suas empresas, em progressiva substituição ao dólar dos Estados Unidos.

O Deutsche Bank nota que, enquanto os governos do G-3 - EUA, Japão e Alemanha - lutam com déficit fiscal recorde e endividamento crescente, os governos dos Bric têm dívidas sob controle e políticas fiscais sustentáveis.

Os governos do Brasil e da Índia registram endividamento similar ao do G-3. Por sua vez, a dívida pública da China e da Rússia são muito mais baixas.

Apesar de suas amplas reservas oficiais, os ativos totais do grupo continuam pequenos comparados ao das maiores economias. Os ativos internacionais totais dos Estados Unidos (sem descontar os investimentos dos outros países nos EUA) somam US$ 20 trilhões, da Alemanha e França US$ 6 trilhões cada um. Em comparação, os ativos externos da China somam US$ 3 trilhões e os da Rússia US$ 1 trilhão, enquanto o Brasil e a Índia têm cerca de US$ 500 bilhões.

No entanto, os Bric melhoraram sua posição financeira internacional líquida além do que se previa. São ou credores internacionais líquidos ou têm débito externo negligenciável.

A China é o primus inter pares (primeiro entre iguais), com posição líquida de investimentos externos de US$ 1,5 trilhão, ou seja, mais ativos do que passivos externos. Só é superado pela posição líquida de US$ 2,5 trilhões do Japão e bem a frente dos US$ 900 bilhões da Alemanha. A Rússia tem apenas US$ 250 bilhões, enquanto Brasil e Índia têm posição negativa nesse item.

Para o Deutsche Bank, se não ocorrerem acidentes futuros, Pequim vai superar o Japão como o maior credor do mundo dentro de alguns anos, levando-se em conta as tendências de acumulação de ativos externos líquidos.

O superávit de contas correntes da China, mesmo menor em dólar do que em 2008, deve ser bem maior do que o superávit combinado da Alemanha, Japão, Rússia e Noruega em 2009. Representa um terço da exportação líquida de capital, comparado a um quarto em 2008. Sua posição financeira internacional continuará a melhorar rapidamente nos próximos anos.

Não é uma surpresa que 44% dos americanos acreditem que a China é o maior poder econômico, nota o economista Markus Jaeger, autor do estudo.

Já o Brasil e a Índia continuarão a registrar déficit em contas correntes. Em todo caso, terão papel financeiro mais importante nos próximos anos na cena internacional, avalia o banco alemão.

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