Comércio Exterior
a) Resultados
As exportações brasileiras somaram US$ 2,420 bilhões na semana passada, enquanto as importações fecharam em US$ 3,012 bilhões. O déficit foi de US$ 592 milhões na balança comercial da segunda semana de janeiro, elevando o saldo negativo do mês para US$ 967 milhões. Na primeira semana, o déficit foi de US$ 375 milhões.
No mês, as exportações acumulam US$ 4,946 bilhões, com queda de 24,8% em relação à média diária de vendas no mês anterior, e as importações somam US$ 5,913 bilhões, com aumento de 5,9% sobre a média diária de dezembro.
O saldo comercial começou no vermelho também em janeiro do ano passado, mas neste ano a balança pendeu mais forte ainda para o lado das importações, desfavoravelmente às contas externas brasileiras. Pela média diária de menos US$ 96,7 milhões, o déficit neste mês, até agora, é 283,73% maior que o saldo negativo registrado em janeiro de 2009, que teve média diária de US$ 25,2 milhões.
b) Suspeita de má qualidade barra aço turco no Brasil
Um carregamento de 15 mil toneladas de aço longo (os vergalhões, usados na construção civil), trazido pelo navio de bandeira turca Senanur Cebi , está confinado no cais de Capuaba, no porto de Vitória, sob a suspeita de má qualidade. A carga é o centro de uma disputa entre o Instituto Aço Brasil (IABr, o antigo IBS), entidade que representa as empresas nacionais de siderurgia, e a Intermesa, uma das maiores tradings do setor, responsável pela importação.
O navio chegou a Vitória em 10 de dezembro. O IABr entrou com ação cautelar de produção antecipada de provas na Justiça de Vitória para apreensão da mercadoria e realização de prova pericial. Com uma liminar, o instituto conseguiu que os vergalhões não fossem desembaraçados antes da perícia.
Segundo laudo preliminar do perito José Lage Moreira, nomeado pela Justiça, há uma série de problemas, como falha de padrão nas bitolas dos feixes de aço - todas fora das especificações do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro). Moreira agora prepara um segundo laudo, mais completo.
O mais grave é que as barras de 10 milímetros apresentaram trincas quando submetidas ao ensaio de dobramento. Ainda de acordo com o laudo, colocar no mercado barras que não atendem às propriedades mecânicas estabelecidas pela norma brasileira coloca em suspeição a segurança de edificações construídas com esse material. Em outras palavras, segundo Marco Polo de Mello Lopes, presidente do instituto, prédios construídos com esse material podem cair.
Os vergalhões foram produzidos pela siderúrgica turca Kaptan Demir e importados pela Intermesa, que os negociaria no Brasil. Executivos da importadora foram procurados nos escritórios de São Paulo, Rio e Belo Horizonte, mas não foram localizados. A empresa entrou com recurso. As 15 mil toneladas de vergalhão, segundo cálculo do IABr, seriam suficientes para a construção de 120 prédios populares, com 100 apartamentos de 50 m².
Desde o ano passado, o IABr tem se armado contra o aumento de produtos siderúrgicos importados. Como efeito da retração no consumo, o mercado internacional registra uma superoferta, com excedente de 600 milhões de toneladas de aço. O Brasil começou a se recuperar mais cedo que mercados tradicionais, como EUA e China, mas ainda consome 20% menos aço que em 2008.
Em junho passado, a entidade conseguiu que o governo brasileiro fixasse uma tarifa de importação para vários tipos de aço. As importações recuaram, mas ainda incomodam a indústria nacional. Lopes afirma que a preocupação com a qualidade não se refere apenas ao produto importado. Nosso foco é no material usado no mercado interno, seja lá de onde venha, diz.
O IABr fez, em 2008, 18 denúncias para que o Inmetro verificasse a qualidade do aço vendido no País. No ano passado foram 84, entre produtos nacionais e importados. O problema mais comum, segundo Lopes, é o recondicionamento e transformação dos perfilados de arame em vergalhões, que têm características completamente diferentes.
O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Paulo Safady, estranhou a ação do IABr. A carga ainda estava dentro do porto. Como o IABr já comprovou a qualidade do material me preocupa que as importações estejam sendo abordadas desse jeito, reclama.
Ele argumenta que as importações de aço aumentaram porque os preços internacionais são mais competitivos. Ele próprio diz pagar R$ 1,8 mil a tonelada do aço importado (incluindo impostos), enquanto o produto nacional custa R$ 3 mil. Devemos aproveitar. Mesmo porque, com a previsão de crescimento com os programas de incentivo como o Minha Casa, Minha Vida, precisamos de alternativas, caso a indústria nacional não possa suprir a demanda, comenta. E provoca: Será que somos tão incompetentes que não conseguimos produzir um aço mais barato? Mas Safady acredita que o caso do aço turco, se comprovado, servirá de alerta. Hoje, 10 cooperativas ligadas à câmara negociam a compra de materiais importados, entre eles o aço.
Para Lopes, do IABr, a diferença de preço ocorre por causa de práticas predatórias e da tentativa de colocar esses lixos no Brasil
c) Americana Cargo Ventures terá entreposto em Pecém
A empresa americana Cargo Ventures, sócia da zona franca de Miami, está perto de fechar um investimento de R$ 60 milhões no Porto do Pecém, distante 70 quilômetros de Fortaleza (CE). A companhia negocia com o governo cearense a implantação de um entreposto dedicado especialmente à movimentação de cargas frigorificadas, com o objetivo principal de agilizar as exportações do Brasil rumo aos Estados Unidos.
De acordo com uma fonte do governo, o espaço seria credenciado pelo sistema de segurança do governo americano, o que geraria uma economia de até três dias no transporte de uma exportação de carga frigorificada aos Estados Unidos.
No empreendimento a ser construído, o contêiner é radiografado e inspecionado. A carga sai daqui credenciada e vai direto para o cliente nos Estados Unidos, sem a necessidade de ser inspecionada quando chegar nos Estados Unidos. É uma logística específica, explicou a fonte.
As negociações entre a Cargo Ventures e governo cearense já ocorrem há mais de um ano, porém acabaram engavetadas em razão da crise internacional e agora estão sendo retomadas.
A expectativa do governador do Ceará, Cid Gomes, é de que o empreendimento possa aumentar o fluxo comercial do Estado com o mercado americano, especialmente no segmento de frutas. Além disso, o governador aposta na transformação de Pecém em uma referência para o setor de cargas refrigeradas no Brasil.
Pelo acordo que está sendo costurado, o governo do Ceará ficaria responsável pelo investimento de toda a infraestrutura necessária até a porta do entreposto, como acessos rodoviários e ferroviários. O valor desse aporte não foi detalhado, porém o governo diz que os investimentos públicos em Pecém chegarão a R$ 1 bilhão até 2014.
Um dos responsáveis pela intermediação do negócio, o ex-subsecretário de Estado dos Estados Unidos para a América Latina, Roger Noriega, disse que as negociações estão avançando e que um acordo deve ser alcançado em breve. Os sócios da Cargo Ventures estão muito impressionados com a visão do governador Gomes e sua equipe para o desenvolvimento de Pecém como um grande porto que pode desempenhar papel importante no desenvolvimento do Brasil, disse.
d) Importações diminuíram quase 30% no ano passado
As importações brasileiras de fertilizantes e matérias-primas para adubos somaram 10,829 milhões de toneladas no ano passado, 29,92% menos que no ano anterior, conforme levantamento do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas no Estado de São Paulo (Siacesp) com base nos movimentos registrados em 12 portos do país.
Como as entregas das misturadoras (fabricantes do produto final) às revendas no país permaneceram estáveis no ano passado em torno de 24,4 milhões de toneladas, segundo estimativas também preliminares da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), as importações representaram, portanto, uma parte menor das vendas, tanto no caso dos nutrientes derivados do fosfato quanto nos derivados de nitrogênio e potássio - o tripé básico para a produção de fertilizantes agrícolas.
Para analistas, isso não significa uma tendência de redução da dependência das importações, mas a conjunção entre elevados estoques de passagem de 2008 para 2009 e a crise de crédito no mercado internacional. Estima-se que os estoques, que se aproximaram de 7 milhões de toneladas, estejam, hoje, inferiores a 3 milhões de toneladas.
e) Cristália inaugura fabrica de olho nas exportações
O laboratório farmacêutico nacional Cristália inaugura na sexta-feira sua nova unidade, em Itapira (SP). As instalações, que receberam investimentos da ordem de R$ 160 milhões, foram projetadas para atender às exigências da Food and Drug Administration (FDA), órgão americano de vigilância sanitária, e European Medicines Agency (EMEA), instituição reguladora do mercado europeu.
A princípio a nova unidade não será voltada para exportação. Ela vai resolver os gargalos de nossa atual fábrica, sobretudo nas áreas de comprimidos e liofilizados injetáveis especiais. Essa fábrica foi projetada também para atender a mercados mais exigentes, como os EUA, Europa e Japão. Antes, contudo, deverá ser aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), disse Ogari Pacheco, presidente do laboratório.
Atualmente, as exportações representam 4% do faturamento do grupo, que ficou em R$ 600 milhões em 2009. A meta é que as exportaçõesrespondam por 10% da nossa receita nos próximos três a quatro anos. Para Pacheco, as aprovações para a entrada nos mercados mais exigentes só devem ocorrer a partir de 2011.
Os principais mercados da Cristália são América Latina, com liderança na venda de anestésicos no Paraguai, Equador, Uruguai e República Dominicana, além da África e Oriente Médio, sobretudo para anestésicos, antirretrovirais e analgésicos.
Um dos produtos de inovação da companhia, o Helleva, receitado para disfunção erétil, deverá entrar no mercado russo. As negociações estão em andamento. O grupo pretende negociar o medicamento também nos países da Ásia, como Coreia do Sul, Tailândia, Malásia, Filipinas, Cingapura e Indonésia.
Pacheco afirmou estar atento ao movimento de concentração no setor. Nessa frente, a Cristália segue na posição de consolidadora e não possível alvo de aquisição. Segundo ele, a empresa está investindo em pesquisa e desenvolvimento para o lançamento de produtos inovadores. A companhia também tem como foco medicamentos biológicos. Depois de três anos de plantio fazendo uma analogia ao período de pesquisas, vamos lançar novos medicamentos nos próximos anos, disse Pacheco.
f) Produção de aço no país recua 21% em 2009
A produção brasileira de aço bruto fechou 2009 em 25,6 milhões de toneladas, o que significa uma redução de 21,4% na comparação com 2008, informou o IABr (Instituto Aço Brasil). Já a produção de laminados caiu 18,2% na mesma base de comparação, para 20,2 milhões de toneladas.
As vendas tiveram queda de 25,2%, atingindo 16,3 milhões de toneladas. Já as exportações somaram 8,9 milhões de toneladas e US$ 4,9 bilhões de dólares -quedas de 2,9% e 38,6%, respectivamente.
A produção mundial de aço encerrou o ano passado com saldo de 1,22 bilhão de toneladas, 8% a menos que em 2008.
Agronegócio
a) Consultoria prevê escassez de açúcar
O Centro-Sul pode não ter açúcar disponível para exportar já neste primeiro quadrimestre de 2010. Segundo previsão da consultoria Datagro, mantendo-se o mercado interno abastecido no período - a demanda é estimada em 3,1 milhões de toneladas - , apenas 2,7 milhões de toneladas da commodity estarão disponíveis para exportação entre janeiro e abril. O volume é muito baixo, uma vez que no mesmo quadrimestre de 2009 foram embarcados 4,875 milhões de toneladas.
O agravante é que agora o mercado mundial está demandando mais açúcar, diz Plínio Nastari, presidente da Datagro. A previsão de oferta total, em torno de 5,8 milhões de toneladas de janeiro a abril, já leva em conta a produção esperada para esses quatro meses, de 1,9 milhão de toneladas .
O resultado desse aperto se reflete em cotações recordes. Aos preços do dia 14/01 na bolsa de Nova York (27,76 centavos de dólar por libra-peso), a Datagro calculou que, o mercado interno, está pagando o equivalente a 31,13 centavos de dólar (R$ 70,97 a saca), com imposto. No Nordeste, que está no pico da safra, os preços do açúcar estão ainda mais altos: 33,39 centavos de dólar a libra-peso (R$ 80,11) - também a preços do dia 14. Na sexta-feira, a commodity caiu 14 pontos fechando a 26,38 centavos de dólar.
O volume de exportações de açúcar a partir da região Nordeste também está crescendo bastante. É possível que a partir de junho a região seja totalmente abastecida com açúcar do Centro-Sul, diz Nastari. O presidente da Datagro também reviu projeções para a safra 2009/10, em finalização. O Brasil deve concluir o ciclo com moagem de 589,71 milhões de toneladas, sendo 527,71 milhões no Centro-Sul (ante os 504,96 milhões de toneladas da safra 2008/09).
A produção brasileira de açúcar deve atingir 33,06 milhões de toneladas, apenas 2 milhões de toneladas a mais do que no ciclo anterior. Esse adicional veio do Centro-sul que deve concluir a temporada com 28,43 milhões de toneladas, bem abaixo da capacidade instalada na região, que é de 32 milhões de toneladas.
O desempenho aquém do potencial se deveu ao excesso de chuvas, que reduziu a qualidade da cana. Assim, o rendimento de açúcares totais na temporada foi de 130,86 quilos por tonelada no Centro-Sul. Pela primeira vez desde a década de 70, ficou abaixo do registrado no Nordeste, de 136,90 quilos.
b) Ano de incerteza para as indústrias de cacau
A indústria processadora de cacau não vive seu melhor momento. A combinação de demanda em baixa e preços da matéria-prima, o cacau, em alta, resultou em queda do processamento no mundo todo em 2009, inclusive no Brasil. Para 2010, o cenário ainda é de incertezas. A começar pela falta de consenso sobre o tamanho da oferta mundial de cacau na safra atual, que começou em outubro passado. Outra incógnita é como se comportará o consumo de chocolates, achocolatados e afins, que, em grande medida, dependerá da saúde da economia global.
Em 2009, o processamento de cacau no Brasil recuou 7,6%, para 214,4 mil toneladas, segundo dados compilados pelo consultor Thomas Hartmann com base nas informações da Associação das Indústrias Processadoras de cacau (Aipc) e pela Indústria Brasileira de cacau (IBC). Proporcionalmente, a queda foi mais intensa do que a registrada pelas processadoras da União Europeia, por exemplo, que industrializaram 5,76% menos cacau no ano passado, mais ou menos a mesma queda projetada para as indústrias americanas, que divulgam seus indicadores de moagem ainda nesta semana.
Apesar de a associação que representa a indústria de chocolate no Brasil (Abicab) ainda não ter divulgado o consumo de chocolate no país em 2009, tudo indica, segundo Hartmann, que a demanda nacional não recuou. Nas contas do especialista, em 2009 a indústria brasileira de chocolate consumiu 167,5 mil toneladas equivalentes de cacau - em subprodutos da amêndoa, como manteiga e pó, volume praticamente idêntico aos 167,3 mil toneladas de 2008. É preciso esclarecer que, apesar desse dado ser razoavelmente preciso, é um cálculo de absorção aparente de cacau equivalente, feito com base em produção, moagem, exportação e importação, afirma.
Saskia Korink, presidente da Aipc, reforça que o recuo da atividade das processadoras no Brasil foi da ordem de 8%, e que o principal fator de retração foi a demanda reprimida pela manteiga de cacau no mercado internacional. Os mercados de exportação sofreram muito, mais do que o Brasil, que passou rápido pela crise em termos de demanda, diz Saskia.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), os embarques de manteiga de cacau caíram 20% em 2009 para 20,6 mil toneladas. Os maiores compradores - Estados Unidos e Canadá - importaram em 2009 do Brasil 10,3 mil toneladas de manteiga, ante as 14,2 mil do ano anterior. A exportação de outro importante subproduto do cacau, o pó, também padeceu no ano passado: foram 24,7 mil toneladas, 17% menos que em 2008 (29,8 mil toneladas).
Na outra ponta, as indústrias de chocolate - que consomem manteiga e pó das processadoras de cacau instaladas no Brasil - também exportaram menos o produto final. De acordo com dados da Secex, os embarques brasileiros de produtos de chocolate (tabletes, bombons, achocolatados e afins) caíram para 32,7 mil toneladas, ante as 37,4 mil do ano anterior. Ainda não há dados mundiais sobre o consumo de chocolate, mas o consenso é de que ele arrefeceu. O consumidor pode ter trocado chocolate de melhor qualidade pelo mais barato, assim como as indústrias de chocolate podem ter modificado a receita, reduzindo a quantidade de manteiga e substituindo por ingredientes mais econômicos, diz a executiva da AIPC.
E essa necessária busca por racionalização de custos, evidente neste setor, pode ter sido uma das principais razões, por exemplo, da compra da Cadbury pela Kraft, segundo Hartmann. Não vejo que a operação trará influências no mercado de cacau, diz o especialista.
O Brasil já foi o principal produtor de cacau do mundo e chegou a produzir 423 mil toneladas na década de 80, antes da forte infestação da vassoura de bruxa, uma praga que devastou os cacaueiros do sul da Bahia, que mesmo assim segue como principal polo nacional, ainda à frente do Pará. No ciclo 2008/09, encerrado em setembro do ano passado, a produção foi de 151,4 mil toneladas, estancando o Brasil na 6ª posição de maior produtor mundial da amêndoa, atrás da líder Costa do Marfim, Gana, Nigéria, Camarões e Indonésia.
As maiores processadoras de cacau do mundo também são as maiores do Brasil: as multinacionais Cargill, ADM e Barry Callebaut. Algumas delas também produzem chocolate, sem obviamente, competir com os seus clientes produtores de chocolate para o varejo, como Kraft, Cadbury e Nestlé.
Na safra 2008/09, encerrada em setembro, o mundo produziu 3,4 milhões de toneladas da amêndoa, enquanto a indústria consumiu 3,508 milhões. Para 2009/10, há fortes incertezas. As previsões vão desde déficit de 197 mil toneladas a superávit de 80 mil, diz Hartmann. Para Saskia, o ano de 2010 é também uma incógnita. Se de um lado a depreciação dos preços da manteiga traz perspectiva de retomada, por outro, a proximidade da primavera no Hemisfério Norte, tende a reduzir o consumo.
c) Rússia e EUA voltam a debater frango
Ao mesmo tempo em que mantém negociações com os Estados Unidos acerca da proibição às importações de frango do país, a Rússia já fala em possíveis novos fornecedores do produto. O governo russo interrompeu as compras de frango dos EUA no dia 1º de janeiro deste ano, quando entrou em vigor uma nova lei proibindo o uso de cloro na higienização das carcaças das aves. Como esse método é usado pelos EUA para evitar o risco de contaminação por listeria e salmonela, os russos deixaram de importar frango americano.
Sergei Dankvert, chefe do serviço veterinário e fitossanitário da Rússia, disse, segundo a agência RIA Novosti, que a Tailândia, maior exportador de frango do Sudeste da Ásia, está preparada para fornecer frango ao país para compensar as importações americanas que não têm atendido aos padrões exigidos pela Rússia.
Dankvert manteve conversações com Sompong Sanguabun, encarregado de assuntos da Tailândia para discutir o fornecimento de frango. A Tailândia disse que está sinceramente interessada em iniciar um fornecimento em larga escala de frango para o mercado russo garantindo o cumprimento dos padrões sanitários russos, disse.
Analistas acreditam que o Brasil também pode ser beneficiado pela restrição russa ao frango americano. De acordo com Washington, que mandou autoridades para tratar do tema na Rússia, a mudança na lei vai prejudicar sua indústria de frango e elevar os preços aos consumidores russos.
Para se ter uma ideia da dimensão que o tema tomou, até o primeiro-ministro Vladimir Putin se pronunciou sobre o assunto. Ontem, a União dos Industriais e Empreendores da Rússia disse que as negociações sobre os padrões de sanidade do frango americano podem durar até o fim do ano.
A cota da Rússia para importação de frango dos EUA este ano é de 600 mil toneladas. Em 2009, o país forneceu 750 mil toneladas de produto à Rússia, 22% da demanda local.
Mercosul
a) Novo câmbio favorece exportações brasileiras para a Venezuela
As mudanças cambiais adotadas na semana passada pela Venezuela devem beneficiar produtos brasileiros que lideram a pauta de exportaçõespara o país. Quatro dos cinco itens que o Brasil mais exporta para o mercado venezuelano poderão ser adquiridos com um dólar ao câmbio mais favorável em vigor na Venezuela. O governo instituiu duas faixas cambiais - que funcionam ao lado de uma terceira cotação para dólares obtidos com a venda de títulos.
Bovinos vivos, carne de frango, açúcar e carne bovina - que representam 26% das exportações para o país - estão na lista de produtos classificados por Caracas como essenciais. Isso significa que os importadores na Venezuela terão acesso a um dólar cotado a 2,60 bolívares fortes para comprá-los.
O câmbio oficial estava congelado desde 2005 em 2,15. As duas novas faixas cambiais passaram a valer na segunda-feira retrasada.
Para produtos classificados como não-essenciais, o governo vai liberar dólares a 4,30 bolívares. É o caso de telefones celulares, o quinto produto brasileiro mais exportado para o país vizinho.
Segundo o balanço do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Brasil, entre janeiro e dezembro de 2009, o Brasil exportou US$ 338,55 em bovinos vivos; US$ 290,27 em carne de frango; US$ 189,02 em açúcar; US$ 156,12 em carne bovina; e US$ 139,49 em celulares. Os cinco itens representaram 30% das exportações brasileiras para a Venezuela no ano passado.
O temor de empresas cujos itens entraram para a lista dos não-essenciais é que com um câmbio a 4,30 seus produtos ficarão mais caros para os consumidores venezuelanos - o que em alguns casos poderá forçar uma redução da demanda.
O ministério ainda avalia o real impacto que a desvalorização poderá produzir no comércio bilateral. Mas na diplomacia, uma visão ainda preliminar é que os exportadores de itens essenciais poderão ser beneficiados porque os reajustes que esses produtos sofrerão - se ocorrerem - tendem a ser menores.
No caso das empresas que importam produtos brasileiros, o perspectiva também é positiva. Há um otimismo por parte dos importadores venezuelanos que compram do Brasil, diz Fernando Portela, secretário da Câmara de Comércio Venezuela-Brasil, em Caracas. Na opinião dele, importadores de produtos essenciais - como os quatro que lideram a pauta de exportações brasileiras - não deverão ter problemas para obter dólares a 2,60 bolívares.
No ano passado, quando o governo do presidente Hugo Chávez restringiu a liberação de dólares, muitas empresas recorreram ao dólar no mercado paralelo, que oscila entre 5 a 6 bolívares - e chegou à marca dos 7 no ano passado.
Caracas afirma que entre 30% e 40% das importações totais venezuelanas em 2009 foram feitas com o dólar paralelo.
Itens que vinham sendo importados com dólar do mercado paralelo custarão menos aos importadores - mesmo que o item escolhido seja não-essencial.
Para Fernando Portela, as dificuldades que os importadores terão com as novas regras serão com as autorizações de importação - que passa a ser exigida para um número muito maior de produtos do que vinha até sendo feito até então.
Organização Mundial do Comércio (OMC)
a) Brasil recupera mercados na Argentina
Após meses de guerra comercial, o governo argentino começou a normalizar o ritmo de liberação das licenças não automáticas de importação para produtos brasileiros, que vinha ultrapassando o prazo legal de 60 dias fixado pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
A redução do tempo de análise - houve queixas de demora superior a 240 dias - já permitiu à indústria brasileira reconquistar a liderança no mercado argentino de calçados. O governo brasileiro diz que está superado o problema de atrasos na liberação de autopeças, à exceção de problemas pontuais, atribuídos a falhas de duas empresas no preenchimento das guias de exportação. Fabricantes de pneus também estão prestes a receber uma boa notícia: o Ministério da Produção da Argentina, a pedido dos importadores e comercializadores, prometeu flexibilizar o processo de licenciamento nos próximos dias.
A situação melhorou muito desde a retaliação do governo brasileiro, diz Heitor Klein, diretor-executivo da Abicalçados, a associação do setor calçadista brasileiro. Em agosto, os calçados brasileiros perderam a liderança histórica que tinham no mercado argentino para fornecedores asiáticos, principalmente a China. Até outubro, haviam exportado ao país vizinho menos de 9 milhões de pares. Naquele mês, o Ministério do Desenvolvimento recebeu sinal verde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para retaliar a Argentina, com a aplicação das mesmas licenças. Em apenas dois meses, novembro e dezembro, foram liberados 4,9 milhões de pares - cerca de 35% do total exportado em todo o ano passado.
Os argentinos só reagem quando nós endurecemos. Isso já aconteceu outras vezes, avalia Klein. Ele diz que a emissão das licenças de importação têm ocorrido em 30 dias e permitido aos exportadores programar melhor suas vendas. No fim do ano, segundo a consultoria argentina IES, o Brasil já dominava 52% das importações de calçados feitas pelo vizinho. Ainda é menos do que a participação de 62%, alcançada em 2007, mas suficiente para reverter a progressiva perda de mercado para os chineses e demais asiáticos.
O atraso nas licenças provocou o cancelamento de pedidos de 1,5 milhão de pares em 2009, diz a Abicalçados. Com a normalização do processo, ao fechar novas encomendas, as empresas passaram a dar entrada nos pedidos com um mês de antecedência, a fim de embarcar os calçados assim que saem da linha de produção. As perspectivas voltaram a ser favoráveis com a retomada do crescimento da economia, na avaliação de Klein, que adianta: a associação trabalhará em propostas para aumentar, em 2011, o volume de 15 milhões de pares definidos no acordo voluntário de restrição às exportações. Esse acordo vale para os anos de 2009 e 2010.
Houve uma melhoria considerável e diminuíram as reclamações dos exportadores brasileiros, afirmou ao Valor o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral. Segundo ele, após a reunião que os presidentes Lula e Cristina Kirchner tiveram em novembro, o prazo médio de liberação das licenças não automáticas pela Argentina foi reduzido para 30 a 35 dias. Idealmente, não deveríamos sequer ter licenças no comércio bilateral, mas isso é algo que ainda precisaremos negociar com o governo argentino, diz Barral.
A próxima rodada de negociações está marcada para os dias 4 e 5 de fevereiro, em Buenos Aires. Além de levar a proposta de levantar restrições a produtos argentinos sujeitos a licenças no Brasil, como alho, o governo apresentará outro argumento: o de que 2010 será um ano de expansão dos investimentos diretos de empresas brasileiras no exterior, por causa do reaquecimento da economia e do câmbio favorável, e elas precisam de previsibilidade no comércio para instalar-se na Argentina, principal sócio do Brasil no Mercosul.
O Valor apurou que, no país vizinho, o Ministério da Produção criou recentemente um grupo especial de analistas dentro da Secretaria de Indústria para agilizar a liberação das licenças para produtos brasileiros. O ministério diz ter salvado 500 mil empregos na indústria local graças ao freio nas importações em 2009, introduzidos em meio aos temores de uma crise cambial.
Nos próximos dias, serão divulgadas medidas para agilizar a compra de pneus. No ano passado, até novembro, a importação argentina de pneus brasileiros caiu 53%. Mas a pressão da indústria automotiva local, que atualmente vende ao Brasil 51 de cada 100 veículos fabricados na Argentina, e dos comercializadores levou o Ministério da Produção e o poderoso secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, idealizador do mecanismo, a decidir na quinta-feira passada pela flexibilização das licenças não automáticas para pneus importados.
Há quem ainda considere os avanços muito tímidos depois de toda a confusão criada, com perda de clientes na Argentina, que deram preferência à segurança de comprar de fornecedores locais. Houve sinais de normalização, mas não sentimos a extensão disso a todos os segmentos, afirma Domingos Mosca, coordenador da área internacional da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Ele cita tecidos, índigo e roupas de cama como os segmentos mais prejudicados com as restrições adotadas pelo país vizinho
Mosca, embora relativize as queixas sobre desvio de comércio para fornecedores chineses, acredita que o estrago causado pela descontinuidade no atendimento a antigos clientes de produtos brasileiros será revertido muito lentamente. Ele tem dúvidas sobre a capacidade argentina de agilizar o processo de liberação das licenças. No Brasil, é tudo informatizado. Se você for ao departamento responsável no Ministério da Produção, o que se vê é uma pilha de pedidos para análise manual. É uma cena dantesca, descreve o executivo.
b) Desemprego vai manter a onda protecionista até 2011, avalia Lamy
A pulsão protecionista que se intensificou com a retração no comércio internacional em 2009 e o aumento do desemprego vai se manter neste ano e no próximo, na visão do diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. Segundo ele, o protecionismo tem forte relação com a situação nos mercados de trabalho, que deverão continuar a piorar em 2010 e 2011. Sou prudente em relação ao futuro, disse ele durante palestra na Conferência de Risco País realizada pela seguradora francesa Coface, no Pavillon Ledoyen, no centro de Paris.
Essa tendência protecionista em meio à crise é normal e legítima, mas precisamos continuar a resistir a ela, afirmou. Lamy clamou a todos os países participantes da Rodada Doha de negociação para o livre comércio que se empenhem para conclui-la ainda neste ano, de forma a ajudar a combater as tendências mais protecionistas. As negociações vão voltar a acontecer no final de março e mais de 80% do trabalho já está feito, afirma. Doha, com foco em subsídios agrícolas, começou em 2001 e estava prevista para acabar em 2006.
Lamy vê um novo descolamento dos países emergentes em relação aos países mais ricos no que diz respeito à queda no comércio internacional neste ano. Em 2009, os emergentes já foram melhor: na comparação com 2008, o tombo foi de 10%, no comércio global, com os países em desenvolvimento apresentando tombo de 6% e os países ricos, de 12%. No pior momento de crise, em meio ao choque, a queda chegou a 30% no valor e 20% no volume, afirmou ele.
Ele destacou a retração no comércio de produtos manufaturados, que registraram retração de vendas de 20% em 2009 na comparação com 2008. A recuperação do comércio será mais provável nos países emergentes, disse.
O diretor-geral da OMC destacou que a crise financeira atingiu em cheio o crédito ao comércio exterior, ajudando na retração das importações e exportações no mundo todo. Segundo ele, o acordo de Basileia II, que regulamenta a alavancagem dos bancos, também não ajuda, pois o peso do comércio exterior no balanço dos bancos passa a ser o mesmo que dos produtos tóxicos.
Lamy sugeriu que organismos multilaterais, como o Banco Mundial e o FMI, e que as agências de crédito à exportação dos países ricos tenham uma atuação mais ativa no crédito aos países mais pobres, que mais sofreram com a crise. Seria uma forma, diz ele, de reduzir o clima de rivalidade crescente entre os países em desenvolvimento e os países ricos, que criaram a bolha de endividamento e foram dessa forma os grandes responsáveis pela crise.
Plano Internacional
a) Saab busca o apoio de empresários brasileiros para escolha do avião sueco
Os fabricantes do jato de caça apontado como preferido da Força Aérea Brasileira (FAB) esforçam-se, agora, para atrair as empresas nacionais, no esforço para ganhar a concorrência de fornecimento de aviões para o governo. Aproveitando o intervalo entre as festas de fim de ano e o Carnaval, um dos principais executivos da sueca Saab, o vice-presidente Bob Kemp, veio ao Brasil para apresentar a jornalistas e empresários as propostas e expectativas da empresa, na concorrência da FAB. De importador de jatos militares, o Brasil pode se tornar exportador, insistiu Kemp.
Kemp e o diretor-geral da Saab no Brasil, Bengt Jáner, acreditam que o interesse dos empresários brasileiros é um fator que pesará na decisão do governo sobre a empresa vencedora da concorrência. A oferta do Gripen, além de ser a mais barata de todas, garantirá que sejam feitos no Brasil 40% do desenvolvimento do projeto e 80% da fabricação, informa Kemp. Kemp deve ter encontro com empresários, na Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
Ao contrário dos concorrentes, o Gripen NG, ainda é um projeto, sem versão aprovada para voos, mas Kemp considera isso uma vantagem, por permitir maior participação do Brasil no desenvolvimento do jato. Ele apresenta a experiência de fabricação da Saab nas duas versões anteriores do Gripen para defender o projeto contra acusações de risco de atraso, levantadas pelos concorrentes. Ele nega que o projeto esteja fora do prazo e lembra que, na proposta sueca, a Saab assume todos os riscos de imprevistos, sem elevar o preço final.
Os riscos serão nossos, e não do governo, o que é extremamente incomum, argumentou. Os executivos da Saab põem na mesa também argumentos para defender o Gripen NG como o mais adequado para a estratégia da política externa de cooperação com países emergentes e na América Latina.
Menor e mais barato, o Gripen seria o produto perfeito para venda a países de orçamentos menores, como as nações latino-americanas e africanas, diz Kemp, que garante estar em conversas com os governos mexicano e argentino sobre futuras vendas do avião a ser desenvolvido com o Brasil. Nossas conversas com México e Argentina foram muito promissoras, afirma.
O projeto do Gripen inclui motor fabricado pela GE americana, por uma questão de preço, mas seria possível mudar o motor, se houvesse restrições ao uso, por parte do governo americano, garante o executivo.
Negociando também com a Índia, a Saab recebeu dos indianos uma demanda por desenvolvimento de versão voltada para uso em porta-aviões. É o tipo de projeto que poderia ser feito em conjunto com o Brasil, diz Kemp. É um enorme mercado, não há aviões dessa geração com porte adequado para porta-aviões menores, só jatos maiores, afirma. Kemp diz já ter falado do assunto com a Marinha brasileira, que, no entanto, está dedicada a reformar os aviões existentes. Mas temos de pensar no futuro, dez anos à frente.
Embalado pela preferência dos oficiais da Aeronáutica, Kemp diz que já está acostumado a longos prazos na negociação para compra de aeronaves, e considera normal que fatores políticos influenciem a decisão. Admite que espera influenciar a opinião pública em favor de sua oferta, ao procurar políticos e jornalistas, como vem fazendo. Não é uma decisão partidária, não queremos que seja afetada pela política interna, mas temos uma boa mensagem e queremos que seja conhecida.
Até sindicalistas suecos buscaram organizações sindicais no Brasil para mostrar apoio ao projeto. Kemp, que critica os concorrentes por atacarem o Gripen, também critica o principal adversário, o Rafale francês. Os sindicatos, na França, foram aos jornais para dizer que os empregos a serem gerados teriam de ser na França, não no Brasil.