30 de novembro a 04 de dezembro de 2009

Comércio Exterior

Resultados
Amazônia acelera cultivo de orgânicos
Espanha planeja 2ª onda de investimentos no Brasil
Importação de carro coreano sobe 800%
Preço do aço faz setor de linha branca ir a Brasília
Exportador traz ao país US$ 1,3 bilhão
Movimento de carga em Santos é recorde no acumulado até outubro

Agronegócio

Milho recua no país e torna a exportação mais competitiva
Receita com exportações de frango cai quase 20%
Recordes garantidos na exportação de açúcar

Mercosul

Mercosul abre janela de exportações
Egito quer apressar acordo com Mercosul
Uruguai põe Camil no mapa global do arroz

Organização Mundial do Comércio (OMC)

Brasil lidera embate com EUA em reunião ministerial da OMC



Comércio Exterior

a) Resultados

A queda generalizada nas exportações em novembro levou o governo a rever as previsões de desempenho das vendas externas neste ano, que devem ficar entre US$ 150 bilhões e US$ 151 bilhões, informou o secretário de comércio exterior, Welber Barral. O Ministério do Desenvolvimento não vê, em curto prazo, perspectivas de recuperação das vendas externas. A manutenção das importações no patamar acima de US$ 600 milhões por dia útil fez com que o saldo comercial do mês fosse um dos mais baixos do ano, de US$ 615 milhões, só inferior ao resultado de janeiro.

Em 2010 nossa meta é chegar com as exportações um pouco acima do resultado de 2007, com US$ 168 bilhões, anunciou Barral. Em 2007, as exportações somaram US$ 160 bilhões. Para ele, os principais fatores de redução nas vendas externas são a queda de atividade econômica nos principais mercados do Brasil e a maior competição pelo fornecimento a esses mercados. A esses fatores se soma a valorização do real frente ao dólar e a cotação artificialmente baixa mantida para as moedas de competidores do Brasil, como a China.

Uma das principais consequências da perda de mercados externos é a redução (de 18% em relação ao mesmo mês de 2008) na venda de produtos manufaturados, como suco de laranja e veículos pesados. Semimanufaturados de ferro e aço e aços laminados planos tiveram quedas em torno de 44% nas vendas, em valor, em relação a 2009. Entre janeiro e novembro, o mercado que mais encolheu para os exportadores foi o dos Estados Unidos, para onde as vendas brasileiras caíram 43,7% em relação ao mesmo período de 2008.

Um dos maiores desafios para nós em 2010 é ganhar maior presença e manter mercados na América do Norte, comentou Barral, que atribuiu a queda à desaceleração da economia americana e ao fato de que a maior parte das vendas brasileiras ao país ser composta de trocas de mercadorias entre matrizes e filiais de multinacionais, o chamado comércio intrafirma. Barral comentou que o governo está interessado em fazer avançar o acordo-quadro sobre comércio e investimentos anunciado com os Estados Unidos, mas que, até agora, não há nenhuma proposta na mesa.
Neste ano, o único mercado que continua vigoroso entre os principais destinos das exportações brasileiras é a China, que aumentou em 21,6% as compras de mercadorias brasileiras, principalmente commodities, como minério de ferro e soja.

No mês passado, até os produtos básicos, que sustentaram o desempenho das exportações, tiveram queda, de 15%, nas vendas externas, o que se explica por fatores sazonais, com a tradicional redução nas vendas de produtos agrícolas neste período do ano. Em dezembro não deve haver déficit comercial, segundo acredita Barral, que aposta no equilíbrio. Esse resultado deve fazer com que o saldo comercial fique abaixo do de 2008, quando as exportações ultrapassaram as importações em US$ 24,75 bilhões. O saldo do comércio exterior acumulado neste ano está em US$ 23,2 bilhões, pouco acima dos US$ 22,6 bilhões do mesmo período do ano passado.

As importações de máquinas e equipamentos para a indústria, os bens de capital, seguiram crescendo em novembro, quando comparadas com o resultado de outubro, ainda que apenas 1%. O total importado neste ano até novembro ficou quase 18% abaixo do mesmo período de 2008, porém. A queda foi mais forte na compra de matérias-primas e intermediários, que chegou a 29,5% entre janeiro e novembro, ao se comparar com os números dos 11 primeiros meses de 2008. A queda de novembro em relação a outubro foi de 17%.

Há uma tendência de aumento na importação de bens de capital, o que sinaliza aumento de investimentos, apontou Barral. Ele chamou a atenção para uma curiosa tendência nas importações, o forte aumento das compras de produtos natalinos e bebidas.

As exportações argentinas, com queda de 34% no período janeiro a novembro deste ano, em relação ao mesmo período de 2009, estão entre as que mais sofreram redução neste ano. Barral comentou a decisão de impor barreiras à importação de brinquedos argentinos, a mais recente medida no contencioso entre os dois países, revelada ontem pelo Valor. Um princípio básico na relação dos Estados é a reciprocidade. Quem quer acesso ao mercado brasileiro tem de dar acesso a seu mercado, afirmou.

b) Amazônia acelera cultivo de orgânicos

A produção orgânica da Amazônia quer trilhar o caminho da profissionalização. Segundo especialistas do setor, a região concentra mais de 60% da área extrativista orgânica certificada do Brasil e quase 3 mil produtores já fazem negócios na região. A nova lei que regulamenta o setor, a formação de uma comissão estadual de produção e o aumento da aceitação de mercadorias nativas no exterior devem acelerar o avanço do setor, que movimenta R$ 250 milhões no Brasil.
De acordo com o IBGE, os Estados do Amapá e da Amazônia Ocidental (Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia) têm 2,7 mil estabelecimentos que praticam a Agricultura orgânica. O Amazonas concentra a maior quantidade de empresas, com uma participação de 44,5% do total, seguido de Rondônia (34,1%) e do Acre (17,8%). O levantamento também mostra que, do total de produtores, apenas 6,2% têm certificação no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) - o que dá direito a vender as mercadorias em escala, inclusive exportar.

Para Ming Liu, coordenador do projeto Organics Brasil, vinculado à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), o país tem 1,7 milhão de hectares de área certificada para a oferta internacional de produtos. O Organics Brasil começou há quatro anos, com 12 empresas da área de alimentos orgânicos que vendiam para seis países. Hoje, 74 companhias de 14 Estados despacham itens do setor de cosméticos, têxtil e alimentos processados para países, como Estados Unidos, Japão, Alemanha e França.

Segundo José Alexandre Ribeiro, presidente da Associação dos Produtores e Processadores de Orgânicos do Brasil (BrasilBio), que reúne 1,2 mil empresas, as culturas orgânicas mais difundidas no país são açúcar, café, soja e frutas. Os principais desafios da Agricultura orgânica são resgatar a perda da biodiversidade e os conhecimentos agrícolas nativos. Para alavancar o setor, Ribeiro também sugere uma maior integração entre os ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Saúde na criação de projetos comuns.

Atualmente, a BrasilBio desenvolve um programa que pretende revitalizar as antigas casas de lavouras municipais com cursos sobre alimentação saudável para crianças. No Acre, na região metropolitana de Rio Branco, a associação estuda uma parceria com o governo federal para reflorestar uma área de 25 alqueires, em um investimento de R$ 60 mil.

A ação é para sensibilizar os pequenos produtores da área para praticar uma Agricultura sustentável.

Segundo o presidente, em 2010, uma comitiva de 40 empresários italianos do setor orgânico virá ao Brasil para conhecer produtores locais e formalizar parcerias. Há um grande interesse dos europeus pelos produtos da Amazônia.

Conforme informações da Suframa, o açaí cultivado no município de Maués, que é vendido nos Estados Unidos, e o guaraná, em Urucará (AM), são as experiências orgânicas de maior sucesso no Estado. Em Rondônia, 25 produtores de café orgânico já estão diplomados.

De acordo com André Knewitz, fiscal agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e coordenador da Comissão de Produção Orgânica do Amazonas (CPOrg-AM), a produção nacional deve ganhar um novo impulso a partir de 2010 com a lei 10.831, que regulamenta o setor e teve as últimas instruções normativas aprovadas há pouco meses. Estamos há vinte anos tentando formular uma base legal para o segmento, afirma. Os Estados Unidos, o Japão e a Europa começaram a criar suas normas de mercado nos anos 1990.

Outra inovação apontada por Knewitz é que, no mercado nacional, para fazer venda direta de produtos, principalmente em feiras livres, a certificação não é obrigatória, o que simplifica o escoamento da produção orgânica. Basta estar cadastrado no Mapa.

c) Espanha planeja 2ª onda de investimentos no Brasil

Empresários de 70 companhias espanholas chegam nesta semana ao Brasil, em um esforço do governo da Espanha de criar uma segunda onda de investimentos do país no mercado brasileiro, desta vez com pequenas e médias empresas interessadas em seguir o caminho das grandes multinacionais atraídas pelas privatizações das décadas passadas.

A visita coincide com manifestações, na Espanha, de analistas e executivos em favor do Brasil como a alternativa mais atraente para enfrentar o péssimo desempenho da economia espanhola, única a se manter em queda enquanto o resto da Europa se recupera.

O Brasil tem uma situação distinta do Peru, por exemplo: ambos terão crescimento, mas o brasileiro é mais sólido, diz o presidente da Caja Catalunya, Narcis Serra, ex-vice-presidente e ex-ministro da Defesa do governo Felipe González. O mais importante não são os números da economia, mas a capacidade do Brasil de criar uma classe média mais ampla.

Segundo o ministério de Relações Exteriores espanhol, 20% dos investimentos das 35 principais empresas espanholas estão na América Latina, 15% dos quais no Brasil. Os bons resultados dessas empresas já atraem companhias de porte menor, como as que, nesta quarta-feira, em São Paulo, participarão de um fórum de investimentos do Instituto Espanhol de Comércio Exterior, com brasileiros em pelo menos 11 setores, principalmente indústrias de energias renováveis, saneamento, construção, tecnologia de informação, indústria pesada e calçados.

Os espanhóis planejam fabricar no Brasil, com sócios brasileiros, de usinas de biocombustíveis a aparelhos de leitura remota de serviços de água e luz, rodas industriais, empilhadeiras a solas de borracha moldada. O crescimento no país torna o Brasil destino fundamental para as empresas espanholas diz o economista Juan Carlos Martínez-Lázaro, do Instituto Escola Business School.

Com o desemprego beirando os 20%, previsões de queda na atividade econômica neste ano e no próximo, e uma redução que se aproxima de 3% no consumo, resultado do excesso de capacidade em setores que impulsionaram a economia, como o bancário e o imobiliário, a Espanha enfrenta um período de pessimismo. Na semana passada, o governo lançou um pacote tímido, com medidas de economia sustentável para reduzir custos das empresas, aumentar a fiscalização sobre infraestrutura e setor bancário e estimular gastos em construção civil (mas em reformas de moradias, para reduzir a já excessiva oferta de imóveis herdada da bolha).

Embora grandes companhias, como a principal construtora espanhola, Ferrovial, ainda apostem principalmente no mercado europeu, as firmas espanholas querem se expandir na América Latina, especialmente pelo Brasil, segundo comprovou a pesquisa 2010: Panorama do Investimento Espanhol na América Latina, ainda inédita, realizada neste ano pela IE Business School. O Brasil empata com o México, e só perde do Chile na preferência, como local de atuação, de 33 das 35 maiores firmas listadas na Bolsa da Espanha pelo índice IBEX35.

d) Importação de carro coreano sobe 800%

Chamou a atenção do governo o aumento de 820% no valor total da importação de carros da Coreia em novembro deste ano, comparado com o mesmo mês do ano passado. Estratégias agressivas das marcas coreanas para trazer esses veículos a preços competitivos é um dos principais responsáveis pelo desempenho dessas importações (quando comparado o volume, em unidades, das importações de carros coreanos, o aumento foi de quase 1.180%).

A curiosidade, no governo, para entender o fenômeno levou um grupo de técnicos do Ministério do Desenvolvimento a iniciar, em novembro, um estudo sobre as compras de automóveis das montadoras do tigre asiático, a pedido do ministro Miguel Jorge. O estudo deve ser concluído nas próximas semanas. O grande crescimento das vendas dos automóveis coreanos ao Brasil neste ano fez com que a Coreia chegasse ao posto de segundo maior fornecedor de automóveis ao país.

O crescimento das vendas de modelos coreanos no mercado brasileiro se sustenta quase que totalmente na agressiva estratégia de marketing de uma única marca, a Hyundai. Em novembro, a marca ficou no oitavo lugar no ranking dos licenciamentos de veículos no país, com uma fatia de 3,08%, superior às de montadoras com instalações industriais mais antigas - Peugeot, Citroën e Mitsubishi.
Representada pelo grupo Caoa, do empresário brasileiro Carlos Alberto Oliveira Andrade, a Hyundai tem investido principalmente em novos carros de passeio. É o caso do I30, um modelo que, segundo fontes da indústria, tem sido testado até pelos presidentes das montadoras veteranas. Somente em novembro, as vendas do I30 superaram as de nacionais como o Astra, da General Motors , Fiesta sedã, da Ford, e o Punto, da Fiat.

A Coreia, com quase 20% das vendas ao Brasil em outubro e novembro, em volume de exportações ficou só atrás da Argentina, sócia dos brasileiros no Mercosul (58% do mercado), e ultrapassou o México, com quem o Brasil tem acordo de redução de tarifas e longa tradição de integração entre as montadoras. É um desempenho espantoso se comparado com a situação de apenas um ano atrás, quando os coreanos representavam apenas 2,6% das importações brasileiras de automóveis, abaixo de Japão, Alemanha e França.

No capítulo dos veículos de carga, a Coreia, com seus utilitários pequenos, exporta menos ao Brasil, em valor, que os Estados Unidos, mas vende muito mais veículos. Em valores, as exportações coreanas de veículos de carga ao Brasil cresceram quase 90% em relação a outubro (quase 60% em relação a novembro de 2008); em quantidade, as importações vindas da Coreia aumentaram quase 115% em relação ao mesmo mês do ano passado, e mais de 96% em relação a outubro.

Apesar de, em termos percentuais, as importações provenientes da França terem sido as que mais aumentaram em valor, de outubro para novembro (82%), os automóveis franceses são importados em volume pequeno, menos de US$ 7 milhões no mês passado. Coreia e Argentina foram os países responsáveis pelo grande crescimento das importações de automóveis em novembro, um dos principais fatores para a alta das importações brasileiras de automóveis no mês passado, 7% a mais em valor quando comparadas a outubro - e 35% maiores, na comparação com novembro de 2008.

Em quantidades, as importações de carros somaram 48 mil unidades, ligeiramente abaixo das 51 mil importadas em outubro, mas 77% acima do total importado em novembro de 2008. O aumento na importação de bens duráveis não foi muito grande, mas as importações de automóveis foram muito grandes, chamam a atenção, comentou o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral.

Barral atribuiu o comportamento do mercado para automóveis importados à queda na cotação do dólar e ao aquecimento do mercado brasileiro. Um sinal de que a entrada de carros coreanos mais baratos pesou no resultado é a constatação, pelo Ministério do Desenvolvimento, de que o preço médio dos automóveis comprados no exterior caiu 24% em novembro, ao se comparar com novembro do ano passado. De quase US$ 16,5 mil em média em novembro de 2008, os carros importados foram comprados a US$ 12,5 mil em média, no mês passado.

No caso da Hyundai, há também uma estratégia agressiva na publicidade. A marca aumentou em 130% o investimento em mídia no ano passado, passando de R$ 60,9 milhões em 2007 para R$ 140 milhões em 2008. Isso fez a empresa sair do 43º para o 18º lugar no ranking dos maiores anunciantes do país. O valor é quase igual ao da Coca-Cola (R$ 145,7 milhões em 2008). Por trás desses planos está um projeto de investimento dos coreanos. O grupo Caoa tem uma fábrica em Goiás, erguida com capital brasileiro, mas a montadora pretende construir outra em breve.

e) Preço do aço faz setor de linha branca ir a Brasília

Os fabricantes de linha branca deram início à queda de braço com a indústria siderúrgica em torno do aumento do preço do aço. Lourival Kiçula, presidente da Associação Nacional da Indústria de Eletroeletrônicos (Eletros), tem audiência no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em Brasília, quando pretende deixar clara a preocupação da indústria em relação ao custo do insumo, que deve subir no mínimo 7% até janeiro. Segundo ele, haverá impacto sobre o preço do produto final.

Nossa preocupação é que o efeito da redução do IPI, cujo valor vem sendo repassado integralmente ao consumidor de linha branca desde meados de abril, seja anulado, diz Kiçula. Como exemplo, o presidente cita o preço do fogão, que leva 80% de aço na sua composição. Este produto tinha alíquota de IPI em 4%, que foi reduzida para 2%, mas agora pode sofrer com aumento mínimo de 7% no seu principal insumo, diz. O acirramento das posições ocorre no momento em que as fabricantes de linha branca estão com demanda em alta (em alguns casos, até com gargalo na produção), por conta da manutenção da redução do IPI até 31 de janeiro.

As siderúrgicas nacionais que fornecem o aço laminado a frio e a chapa zincada para linha branca - CSN, ArcelorMittal e Usiminas - já vinham tentando reajustar seus preços desde a metade do ano. Mas agora elas aumentaram a pressão e chegam a propor aumento de 15%, diz o executivo, lembrando que a compra do insumo no mercado externo ficou prejudicada desde junho, quando sete tipos de aço passaram a pagar Imposto de Importação, alíquota da qual estavam isentos.

O Instituto Aço Brasil (IABr), que congrega as empresas do setor, afirma que a indústria está apenas retirando os descontos concedidos no início da crise, quando a demanda pelo insumo estava em baixa. Procurada, a CSN, maior fornecedora de aço para a linha branca, informou que não comenta política de preços. A Usiminas afirmou que a empresa vem trabalhando com redução dos descontos concedidos ao longo de 2009 e que os preços praticados no final do presente exercício são inferiores àqueles do início do ano.

Valdemir Dantas, presidente da Latina, uma das maiores fabricantes de lavadoras semi-automáticas (tanquinhos) do país, afirma que o momento atual é o pior para mexer nos preços dos eletrodomésticos. Especialmente neste ano. Como a demanda está muito aquecida e o que eu fabrico hoje vai ainda este mês para o varejo, o aumento do preço do aço vai ser repassado para o produto final.

Segundo ele, 35% do valor do seu produto está concentrado no motor, que é feito de aço. O fornecedor de motores está pedindo reajuste de 7%, eu devo repassar 4% ao varejo, que por sua vez tende a aumentar entre 2% e 3% o preço da lavadora para o consumidor, diz o empresário, que considera a briga, dura. Se você fala em aumento de preços agora no varejo, corre o risco de ser expulso da sala.

O varejo também aproveita o momento para estocar produtos para as grandes liquidações no final de janeiro, diz Dantas. As vendas da empresa devem aumentar 15% em volume neste ano, para 650 mil unidades.

f) Exportador traz ao país US$ 1,3 bilhão

Os exportadores ampliaram os ingressos de dólares que tinham guardado no exterior na semana passada, segundo os números do Banco Central divulgados ontem. Na semana, venderam US$ 4,424 bilhões, US$ 1,285 bilhão a mais do que os valores exportados. Houve contratação de câmbio à vista, principalmente, mas também do financiado por meio dos Adiantamentos de Contrato de Câmbio ou Pagamento Antecipado. Segundo analista de banco, os ingressos dos exportadores para fazer frente às necessidades de pagamentos no final do ano, como 13º salário, impostos e reposição de estoque, têm sido fundamentais para manter o fluxo positivo. No acumulado do mês, os exportadores ingressaram com US$ 477 milhões a mais do que o total exportado. Por causa de importações ainda mais fortes, no entanto, o saldo do câmbio comercial contratado foi US$ 200 milhões negativo em termos líquidos na semana passada, enquanto os ingressos financeiros chegaram a surpreendentes US$ 2,3 bilhões, mesmo em meio à crise com o calote da empresa Dubai World. Só na sexta-feira, entrou US$ 1,267 bilhão no segmento financeiro em termos líquidos.

Os bancos, segundo o BNP Paribas, estão US$ 4,1 bilhões vendidos no mercado à vista, após compras do Banco Central de US$ 2,6 bilhões, desta vez abaixo do fluxo de US$ 3,6 bilhões acumulado até o dia 27 de novembro. O apetite menor para compras do BC pode se explicar pelo aumento nas posições compradas em dólar dos investidores estrangeiros no mercado futuro de câmbio do final de outubro até o dia 27, de US$ 719 milhões. No dia 1 último, as posições compradas voltaram a crescer, para US$ 5,13 bilhões, na comparação com os US$ 4,51 bilhões do dia 30. Além do BC e dos importadores, os estrangeiros estão na ponta compradora, embora só no mercado futuro. Mas as cotações no mercado à vista e futuro são interligadas e uma influencia a outra. Do final de outubro até o dia 27 de novembro o dólar caiu 0,18%. Ontem, terminou a R$ 1,722, queda de 0,05%.

Cada vez menos analistas consideram que a taxa de câmbio ainda tem espaço para maiores apreciações daqui para frente. Sidnei Nehme, sócio-diretor da NGO Corretora de Câmbio, aposta que o dólar terminará 2009 mais próximo de R$ 1,80 do que R$ 1,70. Alexandre Lintz, estrategista do BNP Paribas, não descarta que a cotação chegue a R$ 1,90 em meados do ano que vem, por conta de uma balança comercial mais fraca e turbulências moderadas com a retirada de linhas de liquidez do Fed, banco central americano, e do Banco Central Europeu. Tomás Málaga, economista do Itaú Unibanco, avalia que a balança comercial se tornará negativa já em 2010 e que o câmbio irá para níveis próximos de R$ 1,75.

g) Movimento de carga em Santos é recorde no acumulado até outubro

A crise econômica está com sabor de passado no porto de Santos. O novo recorde de movimentação de mercadorias para um período de dez meses - 69,6 milhões de toneladas - com crescimento de 2,1% sobre igual período do ano passado, é o atestado do desempenho positivo do terminal santista. Para isso, as Exportações vêm tendo um comportamento amplamente majoritário entre as cargas operadas, ao responderem por 73% do movimento, ainda que as importações venham crescendo, mês a mês, neste ano.

No período, os embarques totalizaram 50,3 milhões de toneladas, alta de 14,2% sobre 2008. Já as importações caíram 20,4%, somando 18,7 milhões de toneladas, comparativamente aos dez primeiros meses do ano passado.

A tendência de elevação do trabalho foi confirmada em outubro, com 7,7 milhões de toneladas, alta de 6,2% sobre igual mês do ano anterior. Em comparação ao mesmo mês de 2008, as Exportações cresceram 13% e as importações caíram 6,1%..

A ascendência de produtos padronizados, como açúcar (mais 32,5% ou 14,2 milhões de toneladas, em dez meses), café em grãos e péletes cítricos, ajudaram a puxar o fluxo de Exportações e pesar a favor das altas do movimento do porto em geral.

Pelo acompanhamento mensal da Codesp, administradora do porto, os contêineres ainda mostram retração nas operações do porto, com queda de 16,1%, para 1.854.666 Teus (unidades de 20 pés) no período total, mas já dão sinais de melhora quando se analisam os números mensais.

Uma diversificação histórica de mercados foi notada pela administradora do porto, como resultado da nova tendência do comércio exterior brasileiro. Exportações para a Ásia, excluídos os países do Oriente Médio, chegaram a 15,7 milhões de toneladas nos dez primeiros meses de 2009, 82% acima do verificado no ano passado.

Agronegócio

a) Milho recua no país e torna a exportação mais competitiva

A queda dos preços do milho no mercado doméstico e o descolamento em relação às cotações de Chicago deixaram o produto brasileiro mais competitivo no mercado internacional.

Segundo cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez), na BM&FBovespa houve queda de 7,47% em novembro na comparação com outubro, enquanto na bolsa de Chicago o grão subiu 5,4%
Diante desse quadro - que ganha cores mais vivas com a recente recuperação do dólar -, as exportações brasileiras do produto ganham atratividade e tornam-se uma alternativa mais rentável de escoamento da oferta excedente.

Estatísticas apresentadas pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que os embarques já são mais robustos. Em novembro, pela primeira vez no ano, os embarques mensais superaram a marca de 1 milhão de toneladas - foram 1,087 milhão, 33% mais que em outubro e 40,36% acima de novembro de 2008.

Mas, mesmo com o aumento, o volume embarcado até agora está abaixo das expectativas, fato que contribui para a pressão sobre os preços internos. Em seu último relatório, a Conab previu para este ano vendas externas de 8 milhões de toneladas, resultado que dificilmente será alcançado, já que de janeiro a novembro os embarques somaram 6,54 milhões.
Em novembro, contávamos com uma exportação que não aconteceu, mas temos um horizonte mais favorável para as vendas externas, já que o preço em dólar do milho brasileiro está mais atrativo, afirma Marcelo Gumiero, operador da Coinvalores.

O analista lembra que as chuvas estão atrasando a colheita da safra nos Estados Unidos, o que tem dado sustentação às cotações em Chicago. Apesar de o governo americano ter adiado para 2010 a decisão de aumentar a mistura de etanol à gasolina, a expectativa de elevar de 10% para 15% é vista como positiva para os preços do milho nos EUA. Não vemos muito mais espaço para quedas no milho e temos notícias no mercado para sustentar os preços, diz Gumiero.

Na mesma tendência do milho, os preços do boi gordo na tiveram queda em novembro na BM&FBovespa, segundo os critérios do Valor Data. O valor médio da arroba foi de R$ 75,17, 5,63% menos que em outubro. O mercado sido prejudicado pela queda nas exportações e pela farta oferta de animais que abastece os frigoríficos.

No mês passado, segundo a Secex, as vendas externas de carne in natura totalizaram 78,7 mil toneladas e voltaram a perder força. O desempenho de novembro representa queda de 4,5% sobre outubro. Ainda não é possível enxergar uma recuperação. A oferta de animais é significativa e não existem fundamentos para reverter a tendência dos preços, afirma Élio Micheloni, operador da ICAP, para quem os preços podem se estabilizar nos atuais patamares.

Entre os destaques positivos, os preços da soja terminaram o mês com um preço médio de US$ 22,60 por saca, alta de 3,97%. O resultado é um reflexo do mercado de Chicago, que também acumulou ganho em novembro e puxou os preços no Brasil. Os preços do café também subiram e acumularam uma valorização de 2,7%, seguindo a mesma tendência apresentada pelo mercado de Nova York.

b) Receita com exportações de frango cai quase 20%

Pela primeira vez no ano, em novembro, a receita com as exportações brasileiras de carne de frango subiram na comparação com igual mês de 2008. De acordo com a Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef), no mês passado, o faturamento foi de US$ 470,847 milhões, alta de 8,12% sobre novembro de 2008. Desde janeiro, a receita mensal só recuava, reflexo da crise internacional, que derrubou a demanda e os preços do frango. O volume exportado em novembro somou 269,145 mil toneladas, aumento de 14,50% em relação ao mesmo mês de 2008.
Entre janeiro e novembro, as vendas externas somam 3,320 milhões de toneladas, 1,74% a menos do que no mesmo intervalo do ano passado. A receita, porém, caiu muito mais na mesma comparação, por causa da crise - 19,6% para US$ 5,272 bilhões.

Diante do resultado até novembro, o presidente da Abef, Francisco Turra, estimou que as exportações este ano devem fechar estáveis (em 2008 foram 3,645 milhões de toneladas) ou 1% acima do ano passado. O desempenho é muito inferior ao histórico das exportações do setor - nos últimos oito anos, o crescimento médio foi de 15% ao ano, segundo a Abef. No caso da receita, de 28% ao ano.

Ainda que tímido, o resultado do ano só foi possível por conta da abertura de novos mercados, como a China, segundo Turra. Isso compensou parte da forte queda nas exportações para países como Rússia e Venezuela.

Além da queda dos volumes vendidos e dos preços, o real valorizado também prejudicou as exportações do setor, disse Turra, já que reduziu a competitividade e rentabilidade das empresas.

A estratégia da Abef para tentar elevar as vendas em 2010 é focar novos mercados como a China, e tentar abrir outros, como Indonésia, Paquistão e Malásia. A Índia já tem acordo sanitário com o Brasil, mas a tarifa de importação de 100% impede os negócios, segundo o dirigente.

c) Recordes garantidos na exportação de açúcar

O Brasil já bateu em 2009, até novembro, seu recorde histórico de exportações de açúcar. Nos primeiros onze meses do ano, os volumes embarcados totalizaram 22,067 milhões de toneladas, 25,9% mais do que em igual período do ano passado, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), compilados pela consultoria Datagro.

Mesmo se e o país não exportasse nada em dezembro - o que é impossível -, a marca estaria garantida. O último recorde foi atingido em 2008, com 19,472 milhões de toneladas embarcadas, praticamente os mesmos volumes de 2007 (19,472 milhões de toneladas).

Em receita, os valores são igualmente recordes. Nos 11 meses do ano, as vendas atingiram US$ 7,45 bilhões. Em 2008, a receita total foi de US$ 5,5 bilhões. A expectativa de Plínio Nastari, presidente da Datagro, é que os embarques em dezembro somem 2 milhões de toneladas. Se confirmadas as estimativas, o Brasil encerrará o ano com volumes de cerca de 24 milhões toneladas voltados para o exterior.
O Brasil se beneficiou do enorme vácuo deixado por importantes países produtores no mercado internacional. O fator Índia foi determinante para isso. Segundo maior produtor e maior consumidor global de açúcar, o país enfrentou sérios problemas climáticos que afetaram sua oferta de cana.

A Índia deverá se manter importadora de açúcar também em 2010, afirmou Nastari, lembrando que a recuperação da safra de cana deverá ocorrer a partir de outubro de 2010. Neste ano, os principais mercados para o açúcar brasileiro foram a Índia, Bangladesh e Argélia, para o produto a granel, e para Síria, Iêmen e Nigéria, para o tipo ensacado. Em 2010, além da Índia, a Rússia também será compradora.

Mesmo com a baixa demanda pelo álcool, a receita com os dois produtos (açúcar e etanol) também será recorde - o valor deverá chegar a quase US$ 10 bilhões.

A expectativa do mercado é de que os preços internacionais do açúcar, que atingiram este ano o maior patamar em quase 30 anos, sigam firmes até pelo menos o primeiro semestre de 2010. O ciclo de baixa ocorrerá nos meses seguintes com a entrada da nova safra de cana da Índia, a partir de outubro.

Os embarques de álcool recuaram drasticamente este ano, por conta da baixa demanda no mercado internacional e devem encerrar o ano com volumes abaixo de 3,5 bilhões de litros, ante 5,1 bilhões de litros em 2008 (e receita de US$ 2,39 bilhões).

De acordo com Nastari, a recuperação das exportações do álcool ocorrerá a partir dos próximos dois anos. Apesar da baixa performance das exportações do produto este ano, a demanda seguirá firme no mercado interno. Nastari estima que os estoques de passagem em maio, incluindo a produção da safra nova - de março a abril -, atinja 1,1 bilhão de litros.

Mercosul

a) Mercosul abre janela de exportações

As mais recentes frentes de negociações abertas pelo Mercosul representam uma possibilidade concreta de diversificação das exportações e novas oportunidades comerciais para as indústrias brasileiras que operam no Polo Industrial de Manaus (PIM), avalia o conselheiro Francisco Pessanha Cannabrava, chefe da divisão de negociações extra-regionais do Mercosul II, da secretaria-geral de assuntos econômicos e tecnológicos do Itamarati.
Segundo o diplomata, à Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus) cabe um papel importante nas diversas etapas de negociações com outros países com alto potencial de acordos comerciais, como países da Europa, africanos, Oriente Médio e a Índia, de forma a ampliar o destino das exportações do polo industrial de Manaus. A expansão dos acordos do Mercosul pode ser benéfica para aumentar os pontos de destino das exportações brasileiras da região Norte do país, diz Cannabrava.

O conselheiro do Ministério das Relações Exteriores abordou o tema Acordos Extra-Regionais no âmbito do Mercosul: Oportunidades de negócios para a Região Amazônica durante o seminário sobre Comércio Exterior na Amazônia - caminho para a integração regional, por ocasião da Feira Internacional da Amazônia (FIAM). Segundo ele, além de suas negociações internas, que envolvem os países membros como Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, e no âmbito regional da América Latina, o Mercosul iniciou recentemente negociações com países da União Europeia, com os cinco países africanos (África do Sul, Botsuana, Lesoto, Suazilândia e Namíbia) que formam a União Aduaneira da África Austral (UAAA), conhecida pela sigla em inglês SACU (Southern Africa Customs Union), com Israel e com a Índia. Já temos acordos concluídos com Israel, Índia e com os países africanos, o que nos abre um grande espaço econômico que deve ser considerado com muito interesse pelo setor privado nacional, diz Cannabrava.

Um aspecto interessante é que as negociações realizadas até agora pelo Mercosul com esses países não fazem discriminação com relação às zonas francas, afirma. Quanto ao que se deve fazer a partir de agora, o diploma considera que o primeiro passo a tomar é ampliar o comércio através da redução de tarifas externas, permitindo maior acesso a países com pouco peso entre os destinos das exportações do Estado do Amazonas (veja quadro abaixo). Curiosamente, os países membros da União Europeia praticamente estão fora do elenco de compradores dos produtos do polo de Manaus, observa o diplomata.

A ampliação das exportações do PIM é hoje uma das maiores preocupações do empresariado local. Depois de atingir o pico de US$ 3,6 bilhões em volumes exportados, em 2005, as exportações do polo de Manaus registraram: US$ 3,2 bilhões em 2006, US$ 2,02 bilhões em 2007, e US$ 2,1 bilhões em 2008. Até setembro, o volume exportado chegou a US$ 1,2 bilhão. Pelo menos nos últimos anos, essa redução se deve muito ao impacto da taxa cambial, que faz com que os produtos com maior valor agregado fiquem mais caros, tirando a competitividade das empresas do polo industrial, aponta Wilson Périco, presidente do Sindicato da Indústria de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares de Manaus (Sinaees).

Não se trata, porém, de uma barreira difícil de ser transposta, de acordo com o empresário. Estamos trabalhando junto ao governo para encontrar mecanismos que nos permita voltar a exportar nos mesmos níveis de há quatro anos, informa.

b) Egito quer apressar acordo com Mercosul

O Brasil e o Egito decidiram trabalhar firmes para que o Mercosul conclua com os egípcios um acordo de livre comércio até meados do ano que vem, abrindo novas oportunidades de exportações para os dois lados.

Eu e o ministro Celso Amorim nos comprometemos pessoalmente nessa negociação, disse o ministro de Comércio do Egito, Rachid Mohamed Rachid, que no passado foi cônsul honorário do Brasil em Alexandria e conhece bem a região.

Ele vê chances para as exportações agrícolas do Mercosul e espera de seu lado vender mais algodão e tecidos para o bloco do Cone Sul. Só o comércio Brasil-Egito é de US$ 3 bilhões. O acordo em negociação cobre em princípio todo o comércio, portanto bem além da troca limitada de preferências tarifárias, como no caso do acordo com Índia e a África do Sul.

O próximo passo será uma reunião de 9 a 11 de março, no Cairo. É quando começará a definição de setores sensíveis, que ficarão fora ou terão ainda tarifas elevadas.

As declarações de intenções prosseguiram ontem visando a ampliação do comércio entre os países em desenvolvimento. O ministro de Comércio da Índia, Anand Sharma, confirmou que seu interesse é, em 2010, ampliar profundamente o acordo Mercosul-Índia, que hoje está limitado ao corte de tarifas de apenas 450 produtos.

O ministro Celso Amorim anunciou formalmente a abertura do mercado brasileiro para 80% das linhas tarifárias para os produtos originários dos países mais pobres.

Bangladesh, exportador de produtos têxteis, foi o primeiro a comemorar na Organização Mundial do Comércio (OMC). O Brasil assumiu a liderança, isso nos ajudará a ampliar nossas exportações, disse o ministro de Comércio, Muhammad Faruk Khan. Ao mesmo tempo, ele promete continuar aumentando a compra de soja e açúcar brasileiros. O detalhe é que o Brasil tem planos de monitorar de perto a entrada dos produtos de Bangladesh para não afetar a indústria têxtil brasileira.
Já os africanos querem um pouco mais. O representante do Benin chegou a agradecer a jornalistas brasileiros pelo presente do Brasil. Mas pediu agora ajuda para transformar seu algodão e passar a exportar têxteis.

Por sua vez, a Indonésia lembrou que já abriu o mercado para a carne suína brasileira e agora espera que o Brasil reduza a aplicação de sobretaxas antidumping sobre seus produtos.

Ministros do Mercosul, da Índia e da South African Customs Union (Sacu, formado por África do Sul, Namíbia, Botsuana, Lesoto e Suazilândia) se reuniram à noite para reiterar o objetivo a longo prazo de um acordo de livre comércio.

Mas a África do Sul insistiu que sua prioridade no ano que vem é ainda um acordo da Sacu com a Índia. A Venezuela acompanhou a reunião, como praticamente membro do Mercosul, mas seu embaixador, German Mundarain, qualificou a reunião como um mero intercâmbio de opinião, bem longe do anunciado plano do maior acordo comercial do planeta.

Certo mesmo é que, por iniciativa do Brasil e da Argentina, nesta quarta-feira será anunciada a base do acordo de mais de 15 países emergentes cortando as tarifas aplicadas em 20%, mais do que na combalida negociação da Rodada Doha para a liberalização do comércio.

c) Uruguai põe Camil no mapa global do arroz

Dois anos após sua internacionalização, o grupo Camil atingiu a meta de entrar com força no mercado externo, por meio da uruguaia Saman. A empresa gaúcha transformou-se na maior indústria sul-americana de processamento e distribuição de arroz, já exporta a mais de 50 países e alcançou uma diversificação sem precedentes de suas vendas. Mas enfrenta problemas climáticos para expandir sua produção no Uruguai. Saímos de uma seca intensa para enchentes em boa parte do país e bem na época do plantio, afirma o diretor-executivo da Saman, Renato Gastaud.

Concentrada no mercado brasileiro, a Camil jamais conseguiu exportar mais de 10% da produção e queria aumentar essa fatia para dar mais equilíbrio aos negócios. A oportunidade surgiu em novembro de 2007, com a compra da Saman, por US$ 160 milhões. Herdou uma empresa que destinava 35% de suas vendas ao Brasil e tinha no Irã um dos principais clientes.

No primeiro ano, uma má notícia. O país de Mamouhd Ahmadinejad, antes com um sistema estatal e centralizado de abastecimento, transferiu a responsabilidade pelas compras a pequenas empresas privadas. Elas passaram a buscar volumes menores e variedades aromáticas de fornecedores do Sudeste Asiático. Além disso, tinham dificuldade para integrar-se ao sistema financeiro. A falta de garantia de pagamento limitou a nossa capacidade de venda.

A Saman perdeu o Irã, mas abriu outras portas. Suas exportações ao Brasil baixaram para 8% do total em 2008 e 12% em 2009. O continente africano ganhou importância, o Peru já absorve 8% das exportações e a Turquia é um destino cada vez mais promissor. A grande diferença, no entanto, veio com a abertura de dois mercados estratégicos: União Europeia e Iraque, hoje compradores de mais da metade das exportações da Saman, que devem somar US$ 230 milhões neste ano e representam cerca de 90% do faturamento da Camil no Uruguai.

O déficit de produção local impulsionou a presença da Saman no Iraque, por meio de tradings, e o país absorverá 27% de suas vendas em 2009. Na União Europeia, para onde destina hoje 25% da produção, a empresa se aproveitou da rejeição crescente dos consumidores locais ao arroz geneticamente modificado oriundo dos Estados Unidos. Os compradores europeus começaram a buscar outras fontes e o Uruguai foi bastante ágil, afirma Gastaud, dividindo o mérito com o governo e as companhias do país. Espanha, Reino Unido, Alemanha e Portugal são os principais mercados.

Para o executivo, a grande vantagem de diversificar as exportações é obter melhores preços, concentrando-se nos países que pagam melhor, e montar uma blindagem contra quedas de demanda em um ou outro mercado específico. Segundo ele, a fábrica uruguaia tinha dependência excessiva dos mercados brasileiro e do Oriente Médio. No momento em que conseguimos reativar as vendas, pudemos dirigir a comercialização a quem remunera melhor, sem abandonar nenhuma região, mas concentrando as vendas ora em um lugar, ora em outro.

Por exigir um padrão de qualidade mais elevado, os europeus pagam mais caro. E essa valorização chega em boa hora: a tonelada do arroz normalmente embarcado no porto de Montevidéu caiu pela metade desde o pico da cotação, às vésperas da quebra do Lehman Brothers em setembro de 2008, quando encostou em US$ 1 mil. Agora tem ficado em torno de US$ 500 - ainda assim, acima da média de US$ 340 por tonelada registrada nos últimos 20 anos. A crise tirou o componente especulativo do preço, mas sobrou um valor muito bom em termos históricos, avalia o diretor da Saman.

A produção da empresa no Uruguai, que representa de 45% a 50% da safra de todo o país, é feita por 210 fornecedores exclusivos. A Saman financia os produtores e distribui fertilizantes e herbicidas. Gastaud diz que os arrozeiros uruguaios estão preparados para aumentar a produção atual, de quase 600 mil toneladas por safra, que está estagnada desde 2008 e não deverá crescer em 2010.
A falta de crescimento é atribuída ao clima. O período ideal para o plantio é até o fim de novembro, mas o interior do Uruguai saiu de um extremo para outro: teve períodos de forte estiagem e agora sofre com inundações. Só 75% da intenção de plantio foi realmente semeada, afirma o executivo. De acordo com ele, a colheita dos últimos dois anos se repetirá em 2010, mas a safra de 2011 poderá crescer 15%, se não houver contratempos. A questão climática tem barrado o aumento da produção.

Das 600 mil toneladas de arroz com casca colhidas no Uruguai, apenas 5% ficam no reduzido mercado doméstico. A esses números somam-se de 600 mil a 700 mil toneladas produzidas anualmente pela Camil em território brasileiro. Gastaud diz que o objetivo fixado em 2007, com a compra da Saman, foi alcançado: hoje mais da metade da produção de todo o grupo Camil, em volume, é exportada.

Organização Mundial do Comércio (OMC)

a) Brasil lidera embate com EUA em reunião ministerial da OMC

Um embate protagonizado pelo Brasil e os Estados Unidos marcou a abertura da conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC) mostrando que o impasse da Rodada Doha tende a persistir por um bom tempo. Ron Kirk, principal negociador americano, condicionou um acordo de Doha a concessões adicionais para suas exportações agrícolas, industriais e de servicos, o que levou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a qualificar a demanda de irracional, deixando claro que os emergentes chegaram ao limite.

China, Índia e mesmo países desenvolvidos persistiram na pressão sobre os EUA, com alguns qualificando informalmente de ideia absurda a demanda da administração Barack Obama de obter mais concessões para seus exportadores, reabrindo um pacote já duramente negociado, em querer pagar o preço por isso.

Isolado e sob pressão da grande maioria para voltar à mesa de negociações, os EUA ignoraram esse cenário e partiram para o ataque. Ron Kirk não só rejeitou as pressões como apontou diretamente os países dos quais espera concessão adicional de abertura de seus mercados, a começar por Brasil, China e Índia. Ele argumentou que as principais economias desenvolvidas têm um papel cada vez mais importante na economia mundial e citou dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), de que 58% do crescimento econômico internacional entre agora e 2014 virá da China, Índia, Brasil, Argentina, África do Sul e países do Sudeste Asiático.
A criação de um novo fluxo de comércio e ampla abertura do mercado, em particular nesses países, é necessária para que seja cumprida promessa de desenvolvimento da Rodada Doha, cobrou. Kirk foi além, deixando claro que não adianta pressão, que não é um país ou um pequeno grupo de membros que pode ditar ou levar ao sucesso, porque Washington está mais preocupado com substância do que com prazo.

Também rejeitou a conclamação generalizada por nova reunião de ministros ano que vem para examinar problemas na negociação global. Advertiu que a barganha tem de vir mesmo é de negociação bilateral, ou seja, onde os EUA sentam de um lado da mesa como a nação mais poderosa.

Enquanto Kirk falava, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, inseria à mão no discurso a resposta que daria nove minutos depois no pódio. É irracional esperar que a conclusão de Doha possa envolver concessões adicionais unilaterais dos países em desenvolvimento, retrucou Amorim. Disse que a contribuição dos países em desenvolvimento já vai ser maior do que a dada por países ricos em qualquer outra negociação global anterior.

O ministro insistiu que que a crise de paralisia na negociação global, quanto mais durar, mais pode ajudar na estagnação econômica, perda de empregos e perda de milhares de vidas em países pobres. Para Amorim, a alternativa a Doha será mais protecionismo, mais fragmentação do comércio internacional, mais desigualdade, mais instabilidade social e política.

Na saída, disse: A resposta foi na bucha, comentando que preparou no ato a réplica. Ele (Kirk) me cumprimentou pelo discurso, acho que ele não entendeu..., disse, com humor. Mais tarde, ao ser indagado pelo Valor, Kirk saiu pela tangente. Ah, pergunte ao ministro Amorim, e partiu.

O Brasil e os EUA estão se chocando em várias áreas, como na questão de Honduras. Na área comercial, a decepção brasileira é enorme. Como o Valor revelou, os americanos recentemente apareceram com uma lista de 3 mil produtos, 30% do universo tarifário brasileiro, entre os quais esperam concessão adicional para a entrada de suas exportações com alíquota mais baixa.

A Índia advertiu que demandas americanas são contraprodutivas, deixando claro que isso só aumenta a tensão. Aproveitou para criticar o protecionismo verde, baseado em questões ambientais.

Num caso raro, a China enviou seu ministro de Comércio, Chen Deming, que também atacou os EUA na área cambial e cobrou a conclusão de Doha com base nos esboços já negociados. A pressão tem sido geral para os EUA voltarem à mesa de negociação com base no que já foi acertado na OMC.

A União Europeia se juntou ao coro, atraves da comissária europeia de Comércio, Catherine Ashton. Até o G-10, grupo de países desenvolvidos mais protecionistas e que nunca escondeu o temor com abertura comercial, incluindo o Japão, Suíça e Noruega, pediu a conclusão de Doha.

A ministra suíça, Doris Leuthard, exemplificou que nem tem como fazer mais concessões, diante da pressão dos agricultores. Recentemente, ela foi alvejada por botas jogadas por pecuaristas, num debate.

Enquanto isso, os grupos de países em desenvolvimento, representando dois terços dos membros da OMC, fizeram uma grande reunião depois de uma ciumeira nos bastidores em relacao ao Brasil, segundo fontes.

O país tem papel preponderante na negociação, mas alguns, como Costa Rica, não engolem isso e teriam articulado para evitar que o ministro Celso Amorim sentasse no pódio, durante a reunião dos grupos. Mas diplomatas brasileiros insistiram que já há duas semanas tinha ficado acertado o formato do pódio, sem os chefes de grupos.

Amorim, se sentou no auditório na reunião do chamado grupo informal de países em desenvolvimento e o mais próximo possível da porta de saída. O que não diminuiu a procura de outros ministros para ter encontros com ele.

Na abertura da conferência ministerial, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, confirmou que a queda no comércio global é superior a 10% este ano, mas que o protecionismo até agora só atingiu 1% desse fluxo. Mas avisou que o desemprego está em progressão e as pressões protecionistas tendem a aumentar.

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