Comércio Exterior
a) Resultados
A balança comercial brasileira apontou déficit de US$ 74 milhões na quarta semana de outubro (entre os dias 19 e 25). Neste mês, no entanto, o saldo ainda é positivo, em US$ 1,239 bilhão, resultado de importações de US$ 9,762 bilhões e exportações de US$ 11,001 bilhões.
O volume médio diário de exportações em outubro foi calculado em US$ 687,6 milhões, o que significa um desempenho 18,3% inferior se comprado com a média diária de volume exportado em outubro do ano passado. Em comparação com setembro, essa média é 4,2% maior.
No caso das importações, a média diária foi calculada em US$ 610,1 milhões nas quatro semanas deste mês. É um volume 21,9% abaixo do desempenho registrado em outubro do ano passado e representa um incremento de 2,2% sobre a média de importação por dia útil registrada em setembro.
As quedas nas exportações em outubro foram observadas nos embarques de produtos das três categorias: manufaturados (-19,3% em relação a outubro do ano passado), semimanufaturados (-16,1%) e básicos (-15,3%). Em relação a setembro deste ano, houve crescimento de 4,2% causado pelas vendas de semimanufaturados (18,1%) e básicos (5,5%). Nessa comparação foi verificado ligeiro decréscimo nos embarques de manufaturados (-0,3%).
O desempenho das importações em outubro foi influenciado principalmente pela retração nas compras de aeronaves e peças (-58,8% na comparação com outubro do ano passado) e produtos siderúrgicos (-44,9%). Em relação a setembro, cresceram especialmente as compras de produtos farmacêuticos (14,1%) e siderúrgicos (12,6%). De janeiro até a quarta semana de outubro, o superávit comercial é de US$ 22,510 bilhões, avanço de 12,2% sobre o saldo registrado no mesmo período de 2008.
b) Preços melhores e câmbio impulsionam ganho da Vale
A Vale, maior empresa de controle privado do país, deve divulgar um lucro líquido em torno de R$ 3,7 bilhões no terceiro trimestre , segundo as estimativas de analistas da Brascan Corretora, Banif, Fator Corretora e SLW Corretora. Na comparação com o segundo trimestre, o ganho do período avança 164%, mas declina 71% em relação ao terceiro trimestre de 2008.
A empresa divulga o resultado, que deve confirmar as expectativas do setor de mineração de uma melhora efetiva do cenário para o minério de ferro em todo o mundo.
Pedro Galdi, da SLW Corretora, lembra também que o ganho da Vale de julho a setembro foi influenciado por um saldo positivo de variação cambial, com efeito sobre o passivo da empresa, o que favoreceu contabilmente o resultado do período.
O resultado operacional foi contemplado com um crescimento expressivo do volume de vendas de minério de ferro e pelotas somado ao aumento do preço médio do minério de US$ 56 a tonelada, devido a alta do preço à vista na China, que atingiu US$ 93 a tonelada no período (o preço livre inclui frete na faixa de US$ 30).
Esses dois fatores contribuíram para melhor receita líquida da companhia, prevista pelos analistas em US$ 12,7 bilhões, na média. O volume de ferrosos vendido pela mineradora pode ter somado 69,2 milhões de toneladas na média das estimativas, avançando ante as 55,3 milhões de toneladas exportadas no segundo trimestre e encolhendo na comparação com os 86,6 milhões de toneladas embarcadas no mesmo trimestre de 2008.
A Brascan Corretora, que trabalha com um volume vendido de 71 milhões de toneladas de minério e pelotas entre julho e agosto, segundo previsão de seus analistas, Rodrigo Ferraz e Pedro Montenegro, estima com base nesse total de vendas que a Vale operou no terceiro trimestre a 90% de sua capacidade instalada de produção de minério de ferro. No segundo trimestre, a mineradora atingiu 70% dessa capacidade. A vigorosa recuperação das importações de minério da Europa e do Japão e de um avanço ainda maior das compras de minério pela China deve ter contribuído para esse desempenho.
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) confirmam que no período avaliado aumentaram em 22% as vendas externas de minério e pelotas para a China, em 90% para o Japão e em 160% para a Europa. Segundo informaram Rodrigo Fernandes e Luís Gustavo Nuin, da Fator Corretora, as compras das siderúrgicas europeias atingiram em setembro de 2009 o mesmo nível mensal de 2008, de 6 milhões de toneladas.
O surpreendente aquecimento da demanda externa por minério de ferro fortaleceu o ganho operacional da Vale no terceiro trimestre. As projeções para o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização estão, na média, em R$ 5,1 bilhões, com uma margem de 41,8%, números superiores aos do segundo trimestre (R$ 3,4 bilhões e 32%), mas ainda em queda ante o último trimestre de 2008 (R$ 11,3 bilhões e 55%).
Os analistas estão otimistas em relação ao último trimestre e preveem continuidade de aumento das vendas da Vale, indicando que se pode esperar um resultado da empresa entre outubro e dezembro ainda melhor que o do terceiro trimestre. Principalmente se for levado em conta que, nesse caso, a base de comparação com 2008 vai favorecer a companhia, já que o último trimestre de 2008 foi contaminado pelo pânico dos mercados.
c) Volume importado cresce acima da produção
O volume de importação cresceu de modo generalizado e expressivo em setembro, um reflexo da consolidação do crescimento mais forte da economia e da valorização do câmbio. A quantidade total importada aumentou 15% em relação a agosto, na série com ajuste sazonal calculada pela LCA Consultores. Os preços só subiram 0,25% no período. Houve altas significativas nas compras de bens de capital, que subiram 19,6% nessa base de comparação, e de bens intermediários (insumos como produtos químicos, borracha e aço), que avançaram 13%. Foi a quinta alta consecutiva do volume importado de intermediários.
Depois de atingir o fundo do poço em abril, as importações desses bens passaram a avançar a um ritmo bem superior ao da produção doméstica. Entre abril e agosto, as compras no exterior de insumos tiveram alta de 23,1%, feito o ajuste sazonal, enquanto a fabricação interna desses bens aumentou 5% (a produção industrial de setembro ainda não foi divulgada). Quando se inclui o resultado de setembro, o aumento das importações de intermediários em relação ao nível de abril pula para 39,2%, também na série dessazonalizada. É uma alta muito superior à registrada pela produção interna de insumos, que subiu 11,3% entre dezembro do ano passado e agosto deste ano. Esses números sugerem um aumento da fatia dos produtos importados nesse segmento.
O economista Francisco Pessoa, da LCA, acredita que a recuperação da economia é mais importante para explicar o salto das importações do que a valorização do câmbio. Para ele, o fim do processo de ajuste de estoques pode ter exacerbado os números do mês passado, o que tornaria arriscado prever que o ritmo de expansão das compras externas de setembro será mantido daqui para a frente.
Mesmo com essa ressalva, Pessoa diz que a tendência é de que as importações avancem a um ritmo expressivo, dada a combinação de crescimento mais forte e dólar barato. Ele projeta uma alta de 31% do volume importado em 2010 - para este ano, a aposta é de queda de 18%, muito afetada pelo desempenho ruim na primeira metade do ano. A LCA acredita em um crescimento de 5,6% em 2010 que, aliado a um câmbio de R$ 1,65 a R$ 1,70 vai se traduzir em um avanço significativo
das importações, acredita ele.
O professor Ricardo Carneiro, da Unicamp, considera difícil separar o que é efeito da atividade econômica do que é impacto do câmbio no recente aumento das importações. Para ele, os números indicam a clara influência do dólar barato nesse processo. O câmbio valorizado acelera o ritmo das importações, diz ele. A moeda americana, que virou o ano cotada a R$ 2,34, fechou valendo R$ 1,739.
Há indicações de que estão em curso substituições de fornecedores locais por externos, afirma Carneiro, para quem o país passa por uma forma mitigada de desindustrialização, que se caracteriza por uma especialização maior em setores que produzem recursos naturais e pela perda de adensamento em cadeias produtivas em segmentos mais sofisticados.
Para o estrategista-chefe do BNP Paribas, Alexander Lintz, os setores da indústria que produzem bens comercializáveis internacionalmente (os tradables) têm de conviver com margens mais apertadas. De um lado, essas empresas veem os seus custos com mão de obra crescerem; de outro, enfrentam a concorrência da China. Isso dificulta a vida de quem exporta ou concorre no mercado interno com produtos importados, nota ele.
Para Lintz, as importações vão avançar a um ritmo bem superior ao das exportações, o que fará o setor externo roubar parte do crescimento no ano que vem. Isso será um vento contra para o crescimento em 2010, afirma ele, que projeta uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 4%, abaixo dos 4,8% que aparecem na pesquisa semanal do Banco Central (BC) junto a cerca de cem instituições.
O volume importado de bens de consumo duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos) tem avançado a um ritmo menos intenso do que o de bens intermediários, por exemplo. Em setembro, as compras externas de duráveis avançaram 5,2% em relação a agosto, feito o ajuste sazonal. Foi a segunda alta seguida - no mês anterior, o aumento tinha sido de 7,3%. Com a proximidade das festas do fim do ano é possível que esse número aumente nos próximos meses.
No setor de máquinas e equipamentos, o temor é de perda de mercado para os produtores chineses, que contam com um câmbio muito mais favorável, como diz Luiz Aubert Neto, presidente da Abimaq (a associação da indústria do segmento). O governo precisa defender o real como se defendem as fronteiras do país, diz ele. Segundo Aubert, há empresas de menor porte que se transformam em importadoras, vitimadas pelo câmbio valorizado. No nosso segmento, um dólar abaixo de R$ 2 é extremamente nocivo.
d) JPMorgan amplia atuação no país
Empresários do Brasil e do México pressionam os dois governos por um "acordo amplo"até junho de 2010. O setor privado quer aproveitar a visita do presidente mexicano Felipe Calderón, que chega ao Brasil no sábado, para arrancar um compromisso político de maior abertura de mercado.
Um documento produzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo Conselho Empresarial Mexicano de Comércio Exterior (COMCE) foi enviado a autoridades dos dois países na semana passada. No Brasil, receberam a carta o ministro de Relações Exteriores Celso Amorim, e do Desenvolvimento Miguel Jorge.
Os empresários pedem o fim das tarifas de importação na maior parte dos produtos industriais, por meio da ampliação do atual acordo entre os dois países, que hoje, na prática, só funciona para automóveis. Na agricultura, os brasileiros reconhecem a necessidade de exceções para proteger o México.
O setor privado quer que o acordo inclua compromissos de abertura dos setores de serviços e de facilitação dos investimentos. "A ampliação do acordo comercial é um tema prioritário da agenda. Deve haver alguma instrução dos presidentes nesse sentido", afirmou o cônsul do México em São Paulo, Salvador Arriola.
Com a Rodada Doha paralisada e as barreiras argentinas contra produtos brasileiros, o mercado mexicano entrou de vez no radar da indústria brasileira. Segundo Soraya Rosar, gerente da área de negociações comerciais da CNI, setores como o de eletroeletrônicos e de carne e têxteis têm interesse em ampliar as vendas para o México.
A corrente de comércio entre Brasil e México cresceu muito nos últimos anos. Saiu de US$ 1,7 bilhão em 1999 para US$ 3,3 bilhão em 2003 e US$ 7,4 bilhões no ano passado. O Brasil exportou para o México US$ 4,3 bilhões em 2008 e comprou do país US$ 3,1 bilhão.
No entanto, a dinâmica do comércio bilateral mudou. Por conta da venda de carros mexicanos no mercado brasileiro, facilitada pelo acordo entre os dois países, as importações brasileiras de produtos mexicanos crescem mais de 50% nos últimos anos, enquanto as vendas brasileiras para o país caíram 4,4% em 2007 e ficaram estáveis no ano passado.
Boa parte do fraco desempenho brasileiro é efeito da crise, que já vem provocando estragos na economia do México há bastante tempo, por conta da dependência do país das vendas para os Estados Unidos. Outro problema enfrentado pelos produtos brasileiros é a concorrência chinesa, que aumentou sua participação.
"A crise impulsionou essa aproximação com o México, porque ninguém pode se dar ao luxo de perder mercados agora", disse Soraya.
Os brasileiros têm enfrentado dificuldades em convencer os mexicanos a abrir seu mercado, e até causou surpresa os empresários do país finalmente aceitarem assinar o documento entregue aos governos.
Em 2007, a CNI organizou uma missão de empresários ao País e conversou com autoridades e setor privado.
A confederação chegou até a contratar uma consultoria para medir a receptividade dos empresários mexicanos a um acordo com o Brasil e a resposta foi negativa.
Para não despertar polêmica, o documento atual não menciona o termo livre comércio. Os empresários preferem falar em abertura "substancial" do comércio, que poderia envolver a redução de 80% das tarifas.
Na década de 80 e 90, era o Brasil que não queria fechar acordo com o México, com medo das "maquiladoras".
Mas com a abertura da economia brasileira e com a ida dessas empresas para a China, o cenário mudou.
e) GE vai fabricar no Brasil geradores para energia eólica
A perspectiva de vendas de até 3 mil megawatts (MW) de energia eólica no leilão que o governo federal deverá realizar no dia 18 de dezembro garantiu a entrada de mais um grande fabricante mundial de aerogeradores no ainda pequeno mercado brasileiro. A americana General Electric deve começar em janeiro a atender encomendas em sua fábrica de Campinas (SP), onde concluiu este mês um investimento de R$ 145 milhões para adaptar suas linhas de montagem.
Segundo a empresa, os aerogeradores terão um índice de nacionalização de 60%. Mas dependendo da demanda gerada pelo leilão de dezembro, o índice poderá atingir 100%.
Existe uma pressão muito grande em todos os países em fazer a produção local. E estamos confiantes tanto na demanda brasileira quanto na possibilidade de fazer do país uma plataforma para exportações, afirmou o vice-presidente mundial da General Electric e encarregado na empresa da parte de infraestrutura e energia, John Krenicki.
O executivo afirmou que a produção de componentes para a indústria da energia permaneceu relativamente imune aos efeitos da crise econômica global iniciada em setembro de 2008. Esta é uma indústria de longo prazo. Uma torre eólica garante energia para sempre. De modo que não é afetada por acontecimentos imediatos, comentou.
Atualmente, a GE no Brasil fornece apenas a tecnologia para a produção de pás eólicas feitas pela Tecsis, empresa instalada em Sorocaba (SP) que tem na multinacional americana sua maior cliente. Por meio da Tecsis, no ano passado a GE exportou cerca de US$ 300 milhões deste produto do Brasil para a União Europeia e o Japão. Não havia atendimento da demanda nacional. No ano passado, a Tecsis recebeu um financiamento de US$ 120 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para ampliar a sua produção no país.
De acordo com Krenicki, o mercado mundial de energia eólica atualmente representa US$ 6 bilhões por ano. A empresa é a segunda maior fabricante de componentes para este mercado do mundo, atrás da dinamarquesa Vestas. No Brasil, irá concorrer com a argentina Impsa e as alemãs Wobben e Siemens. Existem atualmente 441 projetos inscritos para o leilão de dezembro, que somam 13.341 MW. A Associação Brasileira de Energia Eólica divulgou previsões apostando em uma contratação entre 1,5 mil e 2 mil MW, mas a GE é mais otimista e acredita que podem ser adquiridos entre 2 mil e 3 mil MW.
A maioria dos projetos está longe da fábrica da GE. A região Nordeste é o local com maior número de projetos, somando 322 propostas, que seriam capazes de gerar 9.549 MW. O Rio Grande do Sul é a origem de 86 projetos, somando 2.894 MW. Atualmente, o parque eólico instalado no Brasil é de 550 MW, equivalente à demanda do Peru e cinco vezes menos que a demanda do México. Na matriz energética brasileira, a energia eólica ainda é pouco representativa e responde por 0,23%.
A falta da produção nacional dos componentes é justamente um dos gargalos que impede esta modalidade de energia de se desenvolver. No leilão de dezembro, contudo, o governo não estabeleceu índices mínimos de fabricação local de componentes. Apenas determinou que os parques eólicos não poderão ter peças usadas. Os contratos que serão licitados em dezembro terão início de produção em julho de 2012 e devem garantir fornecimento de energia ao contratante por vinte anos.
A GE não revela qual será a capacidade instalada em sua fábrica de Campinas. Em termos mundiais, a produção de componentes de energia eólica da empresa garante a geração do equivalente a 15 mil MW.
Agronegócio
a) Maior refinaria de açúcar do mundo aposta no país
A Al Khaleej Sugar Co., a maior refinaria de açúcar do mundo, está fazendo suas apostas no Brasil. O empresário Jamal Al Ghurair, presidente da companhia, informou ao Valor que compra cerca de 2 milhões de toneladas de açúcar demerara do país por ano.
De acordo com ele, a Copersucar é a principal fornecedora da refinaria. A empresa brasileira fornece cerca de 1,3 milhão de toneladas por ano à refinaria.
Tanto a Copersucar como a Al Khaleej Sugar priorizam contratos de longo prazo. Cerca de 70% dos nossos contratos são de longo prazo, disse Al Ghurair. Segundo ele, esses contratos dão mais segurança em termos de qualidade e garantia de entrega.
Considerado um dos empresários mais ricos do açúcar no mundo, Al Ghurair está confiante nos altos preços da commodity no mercado internacional. O Brasil é o meu único fornecedor, disse. O empresário participou, na quinta-feira, do Sugar Dinner, evento que reuniu cerca de 1.600, entre usineiros, empresários e tradings que atuam no setor sucroalcooleiro.
O Brasil é o maior produtor e exportador global de açúcar. Um dos principais destinos do produto brasileiro é o Oriente Médio.
De acordo com Al Ghurair, ainda não há previsão do grupo de fazer investimentos em usinas de açúcar no Brasil.
b) Preços do milho reagem no país
Com pouca liquidez e preços em geral em baixa de junho a setembro, o mercado doméstico de milho voltou a ganhar fôlego em outubro e dá sinais de que poderá permanecer mais aquecido nos próximos meses, em grande medida em razão das perspectivas de aumento das exportações.
Observamos uma reação pouco significativa em outubro, mas, ainda assim, foi uma reação, afirma Leonardo Sologuren, da Céleres. Na maioria das praças pesquisadas pela consultoria no país, houve aumento de preços neste mês - ainda que no Estado de Mato Grosso, por exemplo, estagnação das vendas e queda das cotações continuem a dar o tom.
Em média, calcula a Céleres, a saca de 60 quilos do milho subiu 3,4% no mercado disponível em outubro (até o dia 26) na comparação com setembro. Em relação a outubro de 2008, entretanto, o o atual patamar é 11,1% menor.
Na região de Rio Verde, em Goiás, o preço médio da saca saiu de R$ 14,50 em setembro - a menor média de 2009 - para R$ 15,07 em outubro (até o dia 20). Em Maringá, no Paraná, a menor média mensal do ano, de acordo com a Céleres, foi em agosto (R$ 16,40). Já houve valorização para R$ 16,53 em setembro e em outubro a média continuou a subir, para R$ 17,28.
Para Sologuren, os produtores brasileiros de milho não terão muito o que comemorar até o fim do ano, mas que, de qualquer forma, as perspectivas são de alguma melhora, cuja intensidade dependerá da demanda internacional. O escoamento para o mercado externo precisa continuar.
Para regiões como o Centro-Oeste, que puxada por Mato Grosso colheu uma safra de inverno recorde em 2009, este escoamento é fundamental, ainda que leilões do governo tenham ajudado a enxugar um pouco o mercado.
Sologuren diz que o escoamento ao exterior pode ser facilitado pelo atraso da colheita nos Estados Unidos, que se tornou mais preocupante na última semana por causa de adversidades climáticas. Ontem houve queda, mas o atraso tem ajudado a sustentar as cotações na bolsa de Chicago, principal referência para o mercado global do grão.
O analista da Céleres lembra que as exportações brasileiras já se mostraram mais vibrantes em setembro e caminham para aumentar novamente. No mês passado foram cerca de 700 mil toneladas, e em outubro a expectativa do mercado é que os embarques somem 1 milhão de toneladas.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima as exportações brasileiras da já encerrada safra 2008/09 em 6,883 milhões de toneladas, ante 6,4 milhões em 2007/08. Para a temporada 2009/10, o governo prevê 8 milhões de toneladas, patamar mais próximo do recorde de quase 11 milhões registrado em 2006/07.
c) Grãos têm segunda-feira de quedas na bolsa de Chicago
A expectativa de que a colheita da safra 2009/10 avance nos Estados Unidos depois de atrasos provocados por adversidades climáticas nas últimas semanas derrubou as cotações de milho e soja na bolsa de Chicago.
De acordo com a agência Dow Jones Newswires, agricultores americanos tentam acelerar o quanto podem a colheita justamente para tentar aproveitar os bons preços. Na semana passada, os preços do milho alcançaram o maior patamar em quatro meses, enquanto os da soja registraram o pico em dois meses. Daí porque um movimento de realização de lucros liderado por fundos especulativos também colaborou para a desvalorização.
Das duas commodities, a que mais caiu na bolsa de Chicago foi o milho. Os contratos com vencimento em março (que ocupam a segunda posição de entrega, normalmente a de maior liquidez) fecharam a US$ 3,90 por bushel, em baixa de 19,25 centavos de dólar (4,7%). Cálculos do Valor Data mostram que, ainda assim, o grão acumula alta de 9,32% em outubro e de 0,32% em doze meses.
No mercado de soja os contratos para janeiro (segunda posição) recuaram 18,75 centavos de dólar (1,86%) e encerraram a sessão negociados a US$ 9,8875 por bushel. Em outubro, aponta o Valor Data, há ganho de 5,92% e nos últimos doze meses, de 14,04%.
As cotações do trigo também tiveram queda considerável ontem nas bolsas americanas, mas por causa da expectativa de que os elevados estoques globais são capazes de garantir o abastecimento dos mercados mesmo diante do atraso do plantio nos EUA, maior exportador do cereal.
Em Chicago, os papéis para março (segunda posição) encerraram o pregão a US$ 5,4625 por bushel, queda de 20,50 centavos de dólar (3,62%) em relação à sexta-feira. Neste mês, há alta acumulada de 14,52%; em doze meses, o salto chega a 2,15%.
Na bolsa de Kansas, outra boa referência para as importações brasileiras, o bushel do trigo para entrega em março caiu 18,75 centavos de dólar, para US$ 5,4725.
d) Queda da oferta global pode gerar nova disparada do arroz
Os preços internacionais do Arroz poderão voltar aos níveis recordes de 2008 com a perspectiva de queda da oferta nos principais países produtores. Dois eventos climáticos extremos - seca e tufões - ameaçam minar a safra deste ano. Diante do cenário de escassez, grandes consumidores iniciaram importações como forma de assegurar o abastecimento, um movimento que já provoca a alta da commodity nas bolsas.
Na bolsa de Chicago, os contratos futuros com vencimento em novembro fecharam a US$ 13,9150 por hundredweight, alta de 41,50 centavos de dólar. Um lote com 2 mil hundredweight equivale a 91 toneladas métricas.
Não estamos muito longe do cenário de guinada nos preços como ocorreu em 2008, disse ontem o Secretário da Agricultura das Filipinas, Arthur Yap, em conferência no país. Para que os preços recordes voltem, não falta muito, acrescentou Euben Paracuelles, economista do Royal Bank of Scotland, em Cingapura. Os mesmos problemas climáticos estão prejudicando de novo a produção dos grandes exportadores de Arroz.
Previsões do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) apontam que a demanda global por Arroz no ano fiscal que se encerrará em 2010 subirá para o maior nível desde 1960, excedendo a produção em 2,4 milhões de toneladas. O déficit entre oferta e demanda toma como base o recuo de 2,7% na produção global, para 433,6 milhões de toneladas.
Por um lado, a seca na América do Sul reduziu as irrigações no campo, forçando alguns produtores a diminuir a área plantada e, consequentemente, as exportações. Por outro, a Índia sofreu fortemente com chuvas de monções fracas desde 1972, minando as expectativas de uma boa safra pelo segundo ano consecutivo.
Com os grandes produtores comprometidos, começou a corrida por estoques. As Filipinas já fizeram encomendas para 2010 após as perdas robustas nas lavouras com a passagem de ciclones no mês passado, antecipando-se à guinada nos preços que se desenha. Precisamos nos preparar e trazer Arroz imediatamente, afirmou Jessup Navarro, da Autoridade Nacional de Alimentação.
Segundo maior produtor mundial, a Índia também anunciou que planeja importar até 3 milhões de toneladas de Arroz em 2010. A produção do país deve recuar em 18%, para 81 milhões de toneladas, no ano fiscal iniciado em 1º de outubro, valor inferior à demanda prevista de 89 milhões de toneladas, segundo a FAO.
O governo pode se dar ao luxo de ter Arroz estocado apodrecendo, mas não pode ter estoques baixos no caso de mais seca ou enchentes prejudicarem a lavoura, disse Rakesh Singh, executivo da Emmsons International. A trading fornece cerca de 500 mil toneladas de Arroz à Índia a cada ano. Se confirmada a importação, será a primeira vez que a Índia vai às compras desde 2006. Esse retorno também puxaria os preços do Arroz da Tailândia, uma referência regional, em pelo menos 25% em relação aos níveis atuais, afirmou Singh.
Estamos pisando sobre gelo. As circunstâncias mostram a possibilidade de retorno aos níveis recordes de preços, afirmou Dwight Roberts, presidente da Associação de Produtores de Arroz dos EUA.
Mercosul
a) Sob pressão, Senado vota adesão da Venezuela
Empresários da Venezuela e do Brasil pressionarão o governo federal e senadores nesta semana pela aprovação do protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul. A proposta será votada na Comissão de Relações Exteriores do Senado na quinta-feira e seguirá para votação em plenário.
Representantes do setor produtivo temem perder negócios com a Venezuela caso o protocolo seja rejeitado. O receio, segundo empresários, é que haja algum tipo de retaliação. Dirigentes da Federação de Câmaras de Comércio e Indústria Venezuela-Brasil desembarcarão hoje em Brasília para iniciar uma ofensiva pela aprovação. Para o presidente da entidade, José Francisco Marcondes Neto, a Venezuela poderá deixar de oferecer vantagens econômicas ao Brasil, em especial nos setores automotivo, alimentício, da construção civil e da indústria petroquímica. Vetar a adesão da Venezuela ao Mercosul é uma irresponsabilidade. Poderá prejudicar a negociação de alíquotas preferenciais ao Brasil, disse. A expansão do Mercosul não pode ser vista sob o viés político ou ideológico.
Há setores empresariais, no entanto, que resistem à proposta, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI). De acordo com a analista de negociações internacionais da entidade, Lucia Maduro, ainda não existem garantias de que a Venezuela cumprirá os contratos que serão firmados com o protocolo, nem de que seguirá as regras do Mercosul. Há interesse econômico sobre essa adesão, mas ainda falta clareza sobre muitos pontos. O Congresso deveria adiar essa discussão, comentou. Para a analista, as negociações comerciais entre os dois países não serão prejudicadas caso o Congresso brasileiro vete a entrada do país no bloco comercial. Os negócios com a Venezuela são realizados independentemente de o país estar no Mercosul, afirmou Lucia.
O comércio Brasil-Venezuela cresceu 885% nos últimos dez anos e o comércio com o país foi o que mais contribuiu para o superávit primário em 2008: 18% do saldo brasileiro vêm das exportações ao país vizinho. O PIB da Venezuela é de US$ 300 bilhões e um conjunto expressivo de empresas brasileiras, em especial da área de construção pesada, atua naquele país.
Assim como no setor produtivo, há divergências também entre os senadores. O relator da proposta, Tasso Jereissati (PSDB-CE), apresentou voto contrário à adesão da Venezuela. Seu relatório traz críticas à política do presidente venezuelano Hugo Chávez e à estratégia de destruição da democracia. O PSDB deverá votar em bloco contra o projeto, assim como o fez na Câmara, em 2008. Mantemos a posição crítica à política de Chávez, disse Eduardo Azeredo (PSDB-MG), presidente da Comissão de Relações Exteriores. A principal restrição é ao descumprimento de cláusulas democráticas do acordo do bloco. O DEM também apresenta resistência.
O PT e parte da base governista pressionarão pela aprovação do protocolo. O líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), apresentará um voto em favor da proposta. Apesar da resistência do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), ao projeto, pemedebistas deverão seguir a orientação do governo.
Na terça-feira, dois dias antes da votação do parecer, será realizada a última audiência sobre o tema. O prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, um dos principais opositores a Chávez, deverá defender o ingresso do país no bloco. Ele argumenta que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá ajudar a impedir a perseguição a oponentes por Chávez. Ledezma mudou de opinião: em março, enviou carta a Sarney pedindo o veto à proposta. Na época, argumentou que seria um grave erro admitir no Mercosul um presidente autoritário.
Apesar de contrário à adesão, o presidente da Comissão de Relações Exteriores analisou que a mudança de opinião de Ledezma poderá influenciar senadores. A proposta deve ser analisada pelo plenário do Senado esta semana. O protocolo foi firmado em 2006 e precisa ainda ser aprovado pelo Brasil e Paraguai - Argentina e Uruguai já aprovaram.
b) Mercadorias da Argentina ficam paradas na fronteira
O governo e empresários da Argentina reagiram com irritação, mas em tons diferentes, às travas impostas pelo Brasil para frear a entrada de produtos argentinos. As reclamações das autoridades locais cresceram depois de agricultores terem relatado à Casa Rosada que caminhões ficaram retidos na fronteira, à espera de licenças não automáticas, com a perda de alimentos perecíveis. Os moinhos locais dizem que há 27 mil toneladas de farinha de trigo paradas em portos e estradas, por falta de liberação da alfândega brasileira. Produtores de Frutas temem perder mercadorias e pediram uma reação do governo, que preferiu agir com sutileza.
O embaixador do Brasil em Buenos Aires, Mauro Vieira, foi convocado pela chancelaria argentina para explicar a adoção de licenças não automáticas desde o dia 14 de outubro - gesto diplomático entendido como sinal de contrariedade e mal-estar. Vieira reuniu-se com o secretário de Relações Econômicas Internacionais, Alfredo Chiaradía, e teve com ele uma conversa curta, amigável e objetiva, segundo auxiliares.
Chiaradía formalizou o protesto argentino contra a mudança no regime de importações e pediu especial atenção aos alimentos perecíveis. De acordo com a embaixada, Vieira prometeu transmitir as reclamações para Brasília, mas reiterou que o governo brasileiro também está contrariado com a demora argentina na emissão de licenças não automáticas a produtos como calçados, móveis e pneus.
Diplomaticamente, a presidente Cristina Kirchner disse que uma associação estratégica deve ter vantagens para ambos os sócios. Ela prometeu tratar do tema e chegar a um acordo no próximo encontro que tiver com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro da Economia, Amado Boudou, procurou acalmar os ânimos: Só 6% de todo o comércio bilateral apresentam algum tipo de conflito.
A dureza com que o governo argentino evitou reagir publicamente foi usada com fartura pela iniciativa privada. Quando a Argentina tomou essa atitude (adotar licenças não automáticas), publicou um decreto e avisou antecipadamente a todas as partes. O Brasil não avisou nada a ninguém. Atuou de má-fé, disse o presidente da Federação Argentina da Indústria de Moagem (Faim), Alberto España. Na avaliação dele, a farinha de trigo foi um dos produtos escolhidos pelo governo brasileiro por causa do lobby dos moinhos brasileiros. Quem está pagando o preço é o próprio consumidor brasileiro. Já estamos vendo um movimento de cartelização dos produtores brasileiros de farinha, afirmou.
De acordo com o empresário, o trigo argentino abastece hoje somente 6% do mercado brasileiro e não pode receber o mesmo tratamento que a Argentina dá aos calçados oriundos do Brasil, com 45% da fatia total de importações. As exportações argentinas de farinha de trigo ao Brasil são de 600 mil toneladas por ano e já existe um acúmulo de 27 mil toneladas paradas em portos ou rodovias na fronteira.
No principal polo de Frutas para exportação da Argentina, as licenças aplicadas pelo governo brasileiro despertam preocupação. O presidente da Federação dos Produtores de Frutas de Rio Negro e Neuquén, Manuel Mendoza, relatou a mesma situação de paralisia no trânsito das mercadorias. Pêras e maçãs duram no máximo um mês e meio, se acomodadas no frigorífico. Acabamos de receber um comunicado em que nos dão 60 dias para a liberação, disse Mendoza, referindo-se ao prazo de emissão das licenças não automáticas. Exportamos para 65 países, mas o Brasil absorve por 30% das nossas vendas e não temos como redirecionar produtos de uma hora para outra. É um mercado de enorme importância e precisamos de uma solução rápida, cobrou.
De janeiro a setembro, a balança comercial entre os dois países é favorável ao Brasil em US$ 367 milhões. Para Dante Sica, ex-secretário de Indústria e hoje à frente da consultoria Abeceb.com, acabou a paciência estratégica de Lula com a Argentina e sua margem de manobra para resistir à pressão da indústria por retaliação diminui com a proximidade do período eleitoral.
Empresários e analistas ouvidos pela reportagem garantem que há uma divisão no governo argentino sobre a forma de aplicação das licenças não automáticas a produtos brasileiros. A ministra da Produção, Débora Giorgi, já teria se convencido da necessidade de agilizar a emissão das licenças, que chegam a demorar até 180 dias - o prazo fixado pela Organização Mundial do Comércio é de 60 dias.
Para eles, Giorgi tem perdido as discussões internas para o secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, funcionário muito próximo do casal Kirchner, responsável pelo controle de preços e organizador da maquiagem de indicadores pelo instituto oficial de estatísticas.
c) Brasil vai retaliar Argentina e poderá ir à OMC
O Brasil vai retaliar a Argentina e pode recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra barreira imposta pelo país vizinho às exportações brasileiras de móveis e madeira. A decisão foi tomada ontem pela Câmara de Comércio Exterior (Camex). Para dificultar a importação desses produtos, o governo argentino passou a exigir visto consular antes do embarque.
Segundo o diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, Carlos Márcio Cozendey, a medida obriga os exportadores brasileiros a se deslocarem até o Consulado em Porto Alegre para obter o visto na própria guia de exportação.
Segundo ele, a decisão já está tomada. Falta apenas decidir o fórum apropriado que pode ser a OMC ou o próprio Mercosul, que tem um Tribunal Arbitral. Além disso, o governo brasileiro suspendeu as licenças automáticas na importação de uma série de produtos argentinos, especialmente alimentos e bebidas. A medida deixou cerca de 400 caminhões parados na fronteira entre os dois países, em Uruguaiana (RS), e levou o Ministério das Relações Exteriores argentino a convocar o embaixador do Brasil em Buenos Aires, Mauro Vieira, para dar explicações sobre a nova medida.
Uma alta fonte do governo argentino afirmou que a Casa Rosada considera as medidas adotadas pelo Brasil uma clara retaliação contra seu país: — É uma medida assimétrica, porque nós avisamos com 21 dias de antecedência, publicamos as medidas no Diário Oficial e eles (os brasileiros) fazem isso sem consultar, escolhendo os produtos que mais nos prejudicam.
Segundo a fonte, o Brasil escolheu produtos que afetam as economias regionais, como as das províncias de Neuquén, Mendoza, San Juan e Rio Negro.
Os governadores das províncias argentinas prejudicadas estão se comunicando várias vezes por dia com o Ministério das Relações Exteriores argentinos, para pedir ajuda e manifestar sua preocupação pela nova crise com o Brasil. A fonte acrescentou que a Argentina espera resolver os conflitos com o Brasil antes da próxima cúpula de presidentes do Mercosul, marcada para a segunda quinzena de dezembro.
Embaixadores trocam queixas em reunião tensa. O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, afirmou que o governo espera que, com a exigência de licenças não automáticas nas importações de produtos argentinos o país vizinho volte atrás nas medidas protecionistas que têm tomado e que atualmente prejudicam em torno de 17% das vendas brasileiras para a Argentina.
Na terça-feira passada, o embaixador brasileiro na Argentina se reuniu com o secretário de Comércio e Relações Econômicas Internacionais da chancelaria argentina, embaixador Alfredo Chiaradia. Ambos trocaram queixas. Chiaradia disse que o governo argentino está preocupado com a medida brasileira, sobretudo em relação a mercadorias perecíveis em trânsito da Argentina para o Brasil.
Já Vieira reiterou a insatisfação do Brasil pelo não cumprimento do prazo estipulado pela OMC, de liberação em até 60 dias das licenças não automáticas.
Organização Mundial do Comércio (OMC)
a) Brasil define lista de produtos para retaliar Estados Unidos em até US$ 1,2 bi
O Brasil já definiu uma lista de produtos americanos passíveis de retaliação na disputa do algodão com os Estados Unidos, que será colocada em consulta pública dentro de duas semanas para o setor privado fazer seus comentários. O valor retaliável pode chegar a US$ 1,2 bilhão e a lista deverá ser apresentada em janeiro à Organização Mundial do Comércio (OMC). Esse montante leva em conta o aumento de subsídios recentemente dados pelos americanos. É quatro vezes mais que o tamanho da sanção estimada pela OMC com base em subsídios americanos dados no passado.
O Valor apurou que a lista, aprovada pela Câmara de Comercio Exterior (Camex), inclui 100% da pauta de exportação agrícola dos Estados Unidos para o Brasil, afetando US$ 460 milhões de negócios americanos. Só que desse montante, nada menos de US$ 320 milhões são de exportações de trigo americano para o mercado brasileiro.
Há também produtos industriais, mas a Camex excluiu bens de capital e insumos industriais para não causar problemas de falta de produtos no parque industrial do país. Já a retaliação cruzada continua provocando divergências dentro do governo. O Brasil obteve o direito de impor retaliação cruzada a partir de um determinado montante. Mas a lista não inclui, ainda, em todo caso, a possibilidade de quebrar patentes e retirar concessões em serviços financeiros, de distribuição, construção etc.
A lista total que será submetida a consulta pública terá valor quatro vezes maior que os US$ 460 milhões de exportações agrícolas americanas para o Brasil. Depois da consulta pública e das reações de diferentes setores da economia, a lista final será reduzida para ser entregue na OMC. Analistas não escondiam o espanto com a iniciativa de consulta pública, alguns achando que isso é porque o governo não quer realmente aplicar a sanção, enquanto outros elogiaram a iniciativa de ouvir as reivindicações do setor.
Segundo Carlos Márcio Cozenendey, Diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, a lista será posta em consulta pública para possibilitar ao mercado avaliar quais os produtos que poderiam ser afetados pela medida sem prejudicar a economia brasileira. Ele afirmou que o objetivo é fazer a consulta agora para começarmos a tomar essas medidas já no início de 2010. Ele disse também que no momento de divulgação da lista, o valor final da retaliação do Brasil já vai estar definido.
A secretária-executiva da Camex, Lytha Spíndola, afirmou ser importante ressaltar que essa lista não será definitiva.
A Camex aprovou a criação de grupo de trabalho interministerial, que vai estudar a lista de bens sujeitos à retaliação e selecionar os produtos, além de decidir qual será o valor a ser aplicado.
Carlos Cozenendey afirmou que o governo pode desistir da retaliação, desde que os Estados Unidos tomem providências. Se não houver movimentação dos Estados Unidos, haverá retaliação, afirmou o diplomata.
Uma ideia em estudo no governo é de impor a sanção através do aumento de tarifas idêntico ao que os Estados Unidos aplicam sobre produtos agrícolas brasileiros, por exemplo em etanol ou suco de laranja.
Depois que o governo apresentar a lista em janeiro, na OMC, ainda haverá muito caminho a percorrer até uma retaliação efetiva. Negociadores brasileiros observam que até agora os representantes dos Estados Unidos, em encontros bilaterais, em nenhum momento fizeram perguntas ou apresentaram proposta para evitar a sanção comercial brasileira.
O Brasil obteve em agosto o sinal verde da Organização Mundial do Comércio para impor retaliação de centenas de milhões de dólares contra produtos americanos por causa da manutenção por Washington de subsídios julgados ilegais, que deprimem os preços internacionais e ajudam 25 mil produtores americanos a ganhar mercados de produtores mais eficientes e competitivos.
Cálculos preliminares do Brasil, com base em dados dos EUA relativos ao ano fiscal de outubro de 2008 a setembro de 2009, apontam para um aumento de subsídios, através da garantia de crédito à exportação, de US$ 1,3 bilhão, em 2006, para US$ 4,6 bilhões em 2009. O valor final só será conhecido em dezembro.
Plano Internacional
a) Concordata nos EUA assusta o mercado
O mercado se assustou com a notícia de que a crise financeira ainda faz vítimas, especialmente no setor financeiro americano. A Capmark Financial Group, uma das maiores companhias americanas de financiamento de imóveis comerciais, pediu concordata depois de registrar perdas de cerca de US$ 1,6 bilhão no balanço do segundo trimestre. Essa notícia serviu para relembrar aos mais otimistas que a última crise não está totalmente enterrada. Prova disso é que ainda existem corpos pelo caminho. A bolsa começou o dia em alta, mas foi perdendo força. O Índice Bovespa acabou encerrando os negócios em tímida alta, de apenas 0,04%, aos 65.085 pontos.
A falta de novas notícias positivas, especialmente no front externo, tem sido um empurrão para os investidores realizarem parte dos gordos lucros que tiveram nos últimos meses. Na semana passada, saíram quase todos os balanços do terceiro trimestre das grandes empresas americanas e europeias. Os números, de forma geral, vieram acima das expectativas, o que deflagrou um novo movimento de valorização das ações. A questão agora é que todos esses números positivos dos balanços americanos já estão embutidos nos preços dos papéis, diz o gestor de renda variável da Infinity Asset Management, George Sanders. Enquanto outros fatos positivos não aparecem, esses balanços viram notícia velha e os investidores vendem suas ações com ganhos significativos.
A novela da cobrança de 2% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre investimentos estrangeiros feitos na Bovespa ou em títulos de renda fixa continua dando pano para manga. A medida foi anunciada pelo governo na noite do dia 19. Nos dias 20 e 21, o saldo líquido (diferença entre compras e vendas de ações) de estrangeiro na bolsa foi negativo em R$ 1,262 bilhão e R$ 467 milhões, respectivamente. O que se esperava é que, gradativamente, esse fluxo voltasse novamente a ser positivo, como vinha ocorrendo antes do anúncio do IOF.
A visão de alguns analistas, no entanto, agora é um pouco diferente. Eles acreditam que os investidores internacionais podem continuar tirando parte dos recursos do pregão brasileiro. O aborrecimento deles não seria tanto com o pedágio de 2% imposto pelo ministério da Fazenda e sim pelas outras medidas que o governo pode estar preparando caso esta não traga o efeito desejado no câmbio.
O grande medo desses investidores é o cenário de mudança de regras, o que traz instabilidade para as suas estratégias de aplicação até de longo prazo, diz Sanders. Ele acredita que o fluxo desses aplicadores na Bovespa continua positivo. Por menor que seja, essa saída líquida de dinheiro também é negativa para o desempenho da bolsa. Se não houvesse o IOF, muito possivelmente o Ibovespa continuaria a sua tendência original de valorização, diz o gestor da Infinity Asset.