Comércio Exterior
a) Captações externas crescem 40% e retornam aos níveis pré-crise
Com a emissão de US$ 1 bilhão em eurobônus da Votorantim, o total de captações externas de empresas e bancos brasileiros no mês vai a US$ 3,215 bilhões, segundo o Valor Data. Já é o maior valor mensal captado por corporações e governo do país em transações de mercado desde junho do ano passado, antes de a quebra da Lehman Brothers, em 15 de setembro, paralisar completamente o mercado de crédito internacional. A retomada forte se deu principalmente no mercado de eurobônus, mas há sinais de que os empréstimos sindicalizados na forma de pré-pagamentos à exportação também voltaram com tudo.
Estamos no início da recuperação da economia e o mercado internacional está otimista, o que criou uma boa oportunidade para o alongamento de nossa dívida, disse Raul Calfat, diretor-geral da Votorantim Industrial. A empresa lançou inicialmente US$ 750 milhões em papéis, mas a demanda dos investidores chegou a US$ 6 bilhões. Optou por levantar US$ 1 bilhão com rendimento de 6,75% ao ano pelo prazo de dez anos.
Todos dizem que os preços dos títulos de dívida já estão altos demais, mas eles continuam subindo e os investidores continuam comprando com medo de não aproveitar dessa alta, diz Alexander Sandy Severino, diretor-gerente para os mercados de dívida da América Latina do Citigroup, que, junto com o HSBC, liderou a emissão da Votorantim. Ninguém quer apostar contra o mercado, afirma.
Há outras importantes transações em andamento. Segundo o mercado, o Citigroup e o JPMorgan são os líderes da captação por meio de bônus perpétuo de dívida subordinada nível 1 (que entra como capital no balanço) que o Banco do Brasil vai emitir, em valores superiores a US$ 500 milhões. O executivo, no entanto, não quis fazer comentários sobre o tema.
Já os papéis que o Bradesco vai lançar, que terão prazo de vencimento em dez anos e serão de dívida subordinada, mas de nível 2, poderão ter rendimento em torno de 7% ao ano. Os valores estimados são também de mais de US$ 500 milhões e os líderes são o HSBC e o Bradesco Banco de Investimento (BBI). A expectativa de uma nova elevação da nota de crédito do Brasil está criando uma excelente janela de oportunidade para captações externas do país, diz Alexei Remizov, responsável pela área de mercado de capitais do HSBC. Ele não quis falar sobre a transação do Bradesco, mas lembrou que a demanda pelos papéis de empresas brasileiras tem surpreendido.
Segundo ele, a Vale do Rio Doce, que também captou neste mês em transação liderada pelo HSBC, Goldman Sachs e Santander, teve demanda de US$ 8 bilhões por seus papéis de vencimento em dez anos, que saíram no total de US$ 1 bilhão com rendimento de 5,727% ao ano, um recorde de baixa para o setor corporativo no Brasil. O Brasil superou muito bem a crise e está com uma política econômica estável, o que dá segurança ao investidor externo, afirma.
Emitiram bônus neste mês no exterior a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), de US$ 750 milhões com rendimento de 6,875% ao ano pelo prazo de vencimento em dez anos, sob a liderança do Itaú e do Morgan Stanley, e o Banco Cruzeiro do Sul, que lançou papéis de US$ 175 milhões pelo prazo de vencimento em três anos pagando rendimento de 8,5% ao ano sob a liderança da BCP Securities.
No mercado de pré-pagamento à exportação, a Multigrain captou US$ 100 milhões em um club deal pelo prazo de vencimento em dois anos pagando rendimento de 4,5% ao ano sobre a Libor, taxa interbancária de Londres, segundo bancos, e a Louis Dreyfus Commodities levantou outros US$ 80 milhões sob a liderança do Standard Chartered. Também estão com empréstimos externos à venda a Cosan, que quer levantar US$ 200 milhões, e a MMX, que pretende captar US$ 100 milhões por 4 anos sob a liderança do Safra.
Mas, segundo o mercado, a grande expectativa é com relação ao empréstimo externo da Samarco, de US$ 300 milhões, de vencimento em cinco anos. Os bancos enviaram suas propostas para a empresa, que agora está na fase da definição dos líderes. Esse pré-pagamento deve definir um novo benchmark para o mercado em transações que virão.
O último pré-pagamento de maior porte foi realizado pela Votorantim, que levantou US$ 350 milhões pelo prazo de três anos e pagou 3,5% ao ano sobre a Libor mais uma comissão de 1,25% pela estruturação e consultoria. A empresa não quis falar sobre taxas.
Segundo João Miranda, diretor financeiro da Votorantim, com o bônus mais o empréstimo, o grupo já alongou sua dívida que vence neste ano. Para 2010, já rolou R$ 1 bilhão em dívida e planeja pagar R$ 2 bilhões com seu caixa, que hoje está na casa de R$ 10 bilhões.
b) Aço importado pode voltar a ter alíquota zero
O governo poderá reduziu ou até mesmo voltar a zerar as alíquotas de importação do aço, caso as siderúrgicas aumentem os preços do produto, ameaçou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Eu andei vendo o preço do aço se movimentando, disse ele. Eu desaconselho as empresas a fazerem isso, porque não se justifica.
Segundo Mantega, as companhias ainda estão com bastante capacidade ociosa, e um reajuste de cotações não se justificaria nesse cenário. Está sobrando aço do mundo. Se houver aumento, nós reduziremos a alíquota de importação, que foi elevada para 12%. Ela pode até zerada, disse o ministro, afirmando que a redução das tarifas, nesse quadro, ajudaria a fomentar a concorrência e não permitir que o preço suba. O Brasil voltou a tributar o aço importado em até 12% este ano depois de uma forte pressão das usinas locais diante do aumento da importação. As alíquotas de uma série de tipos de aço haviam sido zeradas em 2005.
O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, confirmou que a empresa está promovendo um aumento de 10% nos preços, a ser implementado em setembro, outubro e novembro, mas apenas para o setor de distribuição de aço. Steinbruch disse, porém, que não haverá aumentos para os clientes industriais. Não há possibilidade de aumento porque o preço está fechado até dezembro. É o caso da indústria automobilística, da linha branca e de setores correlatos.
O empresário disse que uma eventual redução da alíquota de importação seria negativa para o setor, especialmente para os planos de investimento. Como é um setor muito intensivo em capital, nós pensamos muito no médio e no longo prazo. A mudança seria um complicador, afirmou ele, acrescentando que já teve a oportunidade de falar com Mantega sobre o assunto. Eu disse que ele ficasse tranquilo porque não há a possibilidade de reajuste de preços para a indústria até o fim do ano.
Como Mantega, Steinbruch também participou do 6º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ele disse que a CSN tem margem no mercado interno, mas apanha feio no exterior. Nós perdemos a Corus para a Tata porque o governo indiano entrou diretamente no capital da Tata. É uma estratégia de país. Com a tarifa de 12% sobre o importado, ainda temos um produto 20% mais barato. Segundo ele, hoje, o produto importado equivale a 25% do mercado de aço. É o mercado interno que está nos garantindo, não são os 12% de alíquota. Para sair da crise o Brasil precisa proteger o mercado interno, argumentou.
c) Brasil e México negociam livre comércio
Brasil e México começam amanhã a negociar a possibilidade de firmar um tratado de livre comércio, entre as propostas para ampliar os negócios entre os dois países. A viagem, discutida na reunião da Câmara de Comércio Exterior (Camex), é resultado da visita feita pelo presidente do México, Felipe Calderón, ao Brasil, em agosto. O México, que tem acordo-quadro de comércio com o Mercosul, é o único país com quem os sócios do bloco podem negociar individualmente acordos para eliminação total de tarifas de importação.
A ideia é partir para o livre comércio, garantiu ao Valor a secretária-executiva da Câmara de Comércio Exterior, Lytha Spíndola. Integrantes da equipe negociadora brasileira, chefiada pelo ministério de Relações Exteriores, viajam à Cidade do México com um esboço dos prazos e condições para negociação do acordo. Se houver receptividade dos mexicanos - que, até a visita de Calderón, eram reticentes em relação ao tema - seria possível firmar um acordo em um ano, prevê Lytha.
O México foi definido como prioridade comercial pelas associações de exportadores brasileiros, que o consideram um dos mercados mais promissores e querem ampliar os acordos existentes, de redução tarifária, restritos ao setor automotivo e a uma lista de 800 produtos. O México é o sexto maior importador de alimentos do mundo e o governo brasileiro constatou interesse dos produtores de suínos e lácteos em entrar nesse mercado.
As conversas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Calderón, em que o brasileiro chegou a encorajar o México a assumir papel de maior destaque na América Central, levaram diplomatas latino-americanos a ver uma mudança de atitude por parte do governo mexicano, que parece disposto a uma aproximação maior com o Brasil, inclusive no comércio.
A Camex discutiu, ainda, os princípios gerais das medidas que poderá tomar em retaliação aos EUA, por descumprimento das normas da Organização Mundial do Comércio (OMC) nos subsídios ao algodão produzido pelos agricultores americanos. Como somente em novembro o país saberá o valor dos subsídios no ano fiscal 2008/2009, a Camex criou um grupo técnico para definir, até lá, a lista de produtos que poderão receber tarifas punitivas e os direitos de propriedade intelectual que poderão ser suspensos, de acordo com a decisão da OMC.
Embora o governo não tenha interesse em retaliar os EUA, a Camex avaliou que será necessário apresentar uma lista de represálias potencialmente danosas aos interesses de grandes empresas americanas, para levar o governo Barack Obama a sentar à mesa e negociar alteração nas regras dos subsídios ao algodão.
No dia 5 de novembro, emissários do Mercosul e da União Europeia reúnem-se em Portugal para avaliar as possibilidade de retomar as negociações para um acordo de livre comércio, interrompidas há cinco anos. Os ministros resolveram deixar para mais tarde as propostas apresentadas pelo Ministério da Agricultura de aumento de tarifas de importação para o trigo e para produtos lácteos.
Agronegócio
a) Projeto da Apex amplia mercado para o agronegócio
Um projeto de inteligência comercial da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) está abrindo um amplo mercado para produtos do agronegócio nacional. O incentivo para a associação estratégica de indústrias produtoras e tradings exportadoras deve render ao país US$ 1,5 bilhão em vendas no exterior neste ano, sobretudo nos segmentos de alimentos e bebidas - em 2008, o projeto alavancou US$ 800 milhões dos US$ 2 bilhões em negócios fechados por pequenas e médias tradings.
Os estímulos ao consórcio produtor-exportador conseguiram reunir, desde meados do ano passado 560 tradings, quase três mil empresas na empreitada de abrir novos mercados. A experiência, que começou com um encontro em Angola, avançou para uma missão comercial com participação de 32 tradings na Africa do Sul. As 376 indústrias representadas fecharam US$ 40 milhões em negócios nos segmentos de alimentos, bebidas, têxteis, móveis, calçados e cosméticos, entre outros.
Elegemos as tradings porque elas são um caminho para abreviar a inserção de empresas no mercado internacional, diz o coordenador da Unidade de Projetos da Apex, Juarez Leal. Na parte técnica, segundo ele, as tradings ajudam a acelerar as transações por dominarem o ambiente de negócios e reduzir custos, já que assumem as ações de comércio exterior. É vital conhecer os canais para essas vendas. Muitas vezes a empresa tem produto bom, mas não sabe como vender lá fora. No Japão, diz, pequenas empresas são a base de grandes tradings como Mitsubishi, Sumitomo e Mitsui.
A Apex tornou o projeto estratégico em suas ações. As tradings vão ocupar papel de vanguarda das empresas nacionais. A aposta em novos negócios incluirá mercados da Africa, Oriente Médio e Asia em 2010. A meta é selecionar 1 mil tradings e apoiar 5 mil empresas brasileiras. Para entrar no projeto, é preciso comprovar vendas de US$ 50 mil nos últimos três anos.
Há 15 anos no mercado, a capixaba Getec exportadora está no projeto de Apex. Sócio da trading com receita de R$ 40 milhões, Gilberto Tarantino vende para Mercosul e EUA. Mas abriu os olhos para Africa e Oriente Médio. Na missão da Africa do Sul, a Getec fechou com a indústria de massas Adria e outras dez empresas de bebidas, especiarias, chás e castanha - a têxtil Hering e a Penalty, de artigos esportivos, também contrataram os serviços. Nos surpreendeu o retorno. É bom ver as dificuldades e trocar experiências com outros empresários, afirma.
Dono da trading paulista General Products, Nicolau Saad já tinha participado da missão a Angola. E gostou: Perseguíamos uma chance dessas há muito tempo, diz. A exportadora, que faturou US$ 16,5 milhões em 2008, levou produtos de 70 indústrias de móveis, couro, material de construção, máquinas pesadas e auto-peças. Às vezes, a empresa tem produtos interessantes, mas falta estrutura e cultura exportadora, afirma Saad. Temos que voltar sempre aos clientes, estar com o pé na estrada. As cinco indústrias de couro e as 17 empresas de móveis representados pela General Products vendem para 18 países. A trading Simões Moita, de São Carlos (SP), fatura R$ 1 milhão com miúdos de bovinos, sucos tropicais e carne de frango e bovinos. Vende para Hong Kong, China, Vietnã e África, atendendo a frigoríficos médios no Brasil. Somos um condutor de negócios, diz o dono Antonio Simões Moita, comemorando a venda de 900 toneladas de carne na África do Sul via parceria da Apex.
b) A caminho da Índia, açúcar sobe 46% no Brasil
Uma quebra de safra de cana de açúcar na India tornou mais caros o açúcar e o combustível para o brasileiro. Isso porque o país asiático - segundo maior produtor e um dos grandes consumidores mundiais de açúcar - passou de exportador para importador do produto no último ano, reduzindo a oferta no mercado internacional. Em resposta, a cotação do açúcar praticamente dobrou de um ano para o outro, e o Brasil — o maior produtor do mundo — passou a exportar mais. Com menos oferta no mercado doméstico, o açúcar ficou até 46% mais caro para as famílias brasileiras nos últimos 30 dias. E as perspectivas não são as melhores, avisam especialistas. O quilo do açúcar pode ultrapassar, ainda este ano, a casa dos R$ 2.
No caso do álcool, outro derivado da cana, a alta dos preços nos postos de gasolina foi uma consequência do menor investimento na sua produção, já que os produtores ficaram mais atraídos pela cotação do açúcar no mercado internacional — quase 70% a mais que o do etanol. Hoje, o açúcar representa 40% da produção de cana.
No ano que vem, as projeções chegam a 43%. Os dados são da União da Indústria de cana-deAçúcar (Unica).
— Com esse déficit mundial de açúcar, os preços subiram no maior nível dos últimos 28 anos.
E os preços estão altos em plena safra — lembrou o diretor Antonio Pádua, da Unica.
Supermercado espera retração nas vendas Segundo José de Sousa, presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio, os reflexos desta alta devem se dar até, pelo menos, novembro. Há um mês, o quilo do alimento custava de R$ 0,90 a R$ 1,20 no atacado. Agora, varia de R$ 1,40 a R$ 1,60. No varejo, o preço médio está entre R$ 1,50 e 1,90, após período em que custou entre R$ 1,10 e R$ 1,30.
— O consumidor poderá ter de pagar até R$ 2,30 por um saco de açúcar. Mas não é somente o mercado externo que regula os preços: o consumidor, ao frear as compras, também mexe com os preços — diz José de Sousa.
Uma retração nas vendas de açúcar é o que espera Genival de Souza, diretor do supermercado Prezunic. Ele acredita que os preços devem subir mais até dezembro: — Quando o preço chegar a R$ 2, deve haver uma diminuição no consumo. Para o consumidor, esse freio significa um corte na lista, pois não há produtos substitutos.
A consumidora Cléo Vicente sabe disso. Ela faz bolos e doces para vender e, por isso, precisa ter sempre açúcar em casa. Por mês, ela compra de 10 a 15 quilos do alimento. Mas não foi a quantidade que comprou quando foi ao mercado ontem: — O preço subiu tanto que não adianta nem mais trocar as marcas. O que fiz foi comprar menos — disse ela, que não vai repassar as altas para seus clientes. — Vou fazer uma pesquisa de preços para comprar a quantidade que falta.
Essa medida terá de ser tomada até meados de 2010, indica Sérgio Torquato, Pesquisador Científico do Instituto de Economia Agrícola (IEA). Ele conta que, apesar das altas, a maior parte da entressafra da cana das regiões Centro-Sul acontece entre dezembro e abril.
— Nesse período, os preços ficam ainda mais altos, pois haverá ainda menos oferta do produto no mercado interno — disse Torquato, acrescentando que a cotação futura para março de 2010 aponta para um acréscimo de 6,5%.
Segundo Eduardo Baczynski, economista da Platina Investimentos, a variação da cana de açúcar este ano foi de 71% e, até 21 de setembro, o açúcar subiu 8,38% (média das quatro últimas semanas). O comportamento do açúcar, contudo, não coloca em risco o controle da inflação.
— Açúcares e derivados pesam 0,74% no IPCA. Nesse grupo, apenas açúcar refinado e cristal juntos pesam 0,43%. Temos uma contribuição positiva de pouco mais de 0,03% no IPCA — comentou.
c) Bunge já está entre as três maiores exportadoras de açúcar do mundo
A Bunge está montando no Brasil sua plataforma internacional de açúcar. Os primeiros passos foram dados em 2006, quando a multinacional montou uma trading no país. Os negócios deram um grande salto com a incorporação da divisão de trading e comercialização de açúcar que pertenciam à inglesa Tate&Lyle, o que tornou a Bunge uma das três maiores exportadoras globais da commodity.
A expectativa é de que a múlti movimente este ano cerca de 4,5 milhões de toneladas de açúcar no mercado internacional, o que representa 10% do volume negociado no mundo. Desse total, 80% têm o Brasil como origem. A partir de 2010, a Bunge também começa a exportar seu próprio açúcar, produzido pelas suas usinas no país.
O anúncio da compra dos ativos de açúcar da inglesa ocorreu em julho de 2008, sem muito alarde, e a transação foi concluída este ano. Nos últimos meses, a companhia vem se preparando para se tornar uma das maiores comercializadoras globais de açúcar, concorrendo com pesos pesados como a Czarnikow e Sucden. O valor da negociação da divisão de trading da Tate&Lyle não foi divulgado, mas os ativos brutos da empresa inglesa foram avaliados, àquela época, em cerca de US$ 570 milhões.
A comercialização de açúcar voltou a ficar atraente nos últimos meses. A commodity acumula valorização de 90% este ano na bolsa de Nova York. Os preços do produto deverão continuar firmes nos próximos meses, por conta da quebra de safra de importantes países produtores, como a India.
No Brasil, a Bunge não tem poupado esforços nem feito economia para avançar no setor sucroalcooleiro. Com investimentos em andamento da ordem de R$ 2,1 bilhões no segmento de açúcar e álcool, a companhia opera no país duas usinas e está construindo sua terceira unidade, que deverá começar a operar na safra 2010/11. A empresa também analisa no país oportunidades para adquirir usinas em operação. Neste momento, a companhia está em processo de due dilligence (auditoria) das usinas do grupo paulista Moema e estuda os ativos da também paulista Equipav.
Há 104 anos no Brasil, a Bunge só decidiu entrar no setor sucroalcooleiro há três anos. Chegou um pouco tímida, montando uma trading de açúcar para conhecer o mercado, o que gerou críticas e desconfiança entre seus principais concorrentes. Em 2007, adquiriu sua primeira usina, a Santa Juliana, no Triângulo Mineiro. No ano seguinte, comprou sua segunda unidade, a Monte Verde, em Ponta Porã (MS), e iniciou a construção de um projeto greenfield (construção a partir do zero) no ano passado em Pedro Afonso, no Tocantins. O grupo japonês Itochu é sócio de duas das três unidades da Bunge - Santa Juliana e Pedro Afonso, com 20% de participação em cada. Na unidade de Monte Verde a múlti detém 60%.
A Bunge vai exportar 100% da produção de açúcar de suas usinas, afirmou Adalgiso Telles, diretor de comunicação da companhia. A unidade Santa Juliana, que há duas safras produz apenas etanol, vai produzir açúcar a partir de 2010; a Monte Verde a partir de 2011 e a de Pedro Afonso, na safra 2011/12. Em relação ao álcool, somente 15% deverá ser exportado, afirmou Telles.
Com seus atuais ativos em açúcar e álcool, a empresa tem capacidade para esmagar cerca de 13 milhões de toneladas de cana. O volume ainda é baixo para as ambições da empresa no Brasil.
Em 2006, quando deu início às suas operações como trading, a empresa exportou 500 mil toneladas de açúcar. Este ano, deve negociar 4,5 milhões de toneladas, dos quais 3,5 milhões de toneladas a partir do Brasil. A atividade ganhou maior musculatura com a incorporação da Tate.
Além da originação de açúcar a partir do Brasil, os ativos da Tate permitirão que a Bunge origine açúcar da Tailândia, que também está entre os maiores exportadores mundiais da commodity, e da Guatemala, na América Central.
Com forte tradição no mercado internacional de açúcar, a Tate&Lyle, fundada em 1921, desfez-se nos últimos anos de unidades de produção que não considerava lucrativa para se dedicar a produtos industrializados. Além dos ativos que negociou com a Bunge, a companhia já vendeu fábricas na Austrália e África e outras unidades ao redor do mundo.
No segmento de etanol, a Bunge fechou nas últimas semanas parceria comercial com a Vale para o transporte do álcool produzido na usina de Tocantins até o porto de Itaqui, no Maranhão. O foco da companhia nesse segmento deverá ser o mercado interno em um primeiro momento. Depois, se a demanda deslanchar no mercado internacional, a companhia criará uma infraestrutura maior para o combustível.
Os carros-chefes da Bunge são soja e trigo, segmentos que receberam milhões de reais em investimentos nos últimos anos, e fertilizantes. No entanto, a empresa decidiu que quer dar o mesmo tratamento para açúcar e álcool.
Atuando há mais de um século no país e há 190 anos no mundo, a Bunge chegou a ter mais de 130 empresas no país, incluindo negócios nos setores imobiliários, financeiro e de informática, até perceber que focar em agricultura poderiam ser um bom negócio, afirmou Adalgiso Telles.
Mercosul
a) Argentina quer fornecer à Petrobras
Depois de uma reunião em São Paulo de quase duas horas, o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, e a ministra argentina da Produção, Débora Giorgi, anunciaram que os dois países irão considerar como pauta prioritária a máxima integração produtiva. Agências de desenvolvimento dos dois governos deverão levantar estudos para verificar a melhor forma de aproveitar a complementaridade nas indústrias naval e de petróleo.
Na área de petróleo e gás, a Argentina tem tradição importante e capacidade não só em relação a grandes equipamentos, como no fornecimento de partes, peças e componentes a serem fornecidos por pequenas e médias empresas, diz Jorge. Com o anúncio, os argentinos deixam claro seu interesse em fornecer equipamentos e peças para o pré-sal. O ministro brasileiro lembra que o governo deve estimular a produção de componentes para a exploração do pré-sal também por pequenas e médias no Brasil, seguindo a ideia de produzir localmente o maior volume possível de equipamentos.
Segundo a ministra argentina, trata-se de uma grande oportunidade para fazer a integração produtiva ser uma realidade. As empresas dos dois países, segundo ela, podem encontrar a complementaridade natural. Na avaliação dos dois ministros, o estudos ainda devem ser feitos e ainda não há metas de investimentos.
Os ministros também anunciaram que os dois países deverão intensificar a troca de informações sobre o comércio bilateral. Segundo Jorge, representantes dos dois países deverão se encontrar a cada dois meses para discutir pleitos e reclamações de exportadores e importadores. Segundo Jorge, há um comprometimento para análise e solução rápidas para atrasos na liberação de mercadorias de exportadores brasileiros.
Os ministros não divulgaram, porém, nenhuma avanço nos setores que ainda aguardam os acordos de comércio bilateral entre os dois países. Segundo Jorge, os que foram assinados, como por exemplo, dos setores de móveis, madeira e calçados, estão sendo cumpridos. Há somente problemas conjunturais e pontuais em relação à liberação de mercadorias por conta da implementação das licenças não automáticas pela Argentina. Uma dessas reclamações pontuais, diz o ministro, vem do setor automotivo, mas somente para venda de mercadorias para reposição. Na produção, os mercados argentinos estão abastecidos.
Segundo Jorge, com a recuperação econômica brasileira, as reclamações dos brasileiros em relação a desvio do comércio para a China foram amenizados. Também, segundo ele, houve uma percepção de que o decréscimo das exportações era generalizado em função da crise.
Para o ministro brasileiro, Brasil e Argentina mantiveram um fluxo comercial importante, apesar da crise. Este ano, diz , a corrente de comércio entre os dois países deve ficar entre US$ 20 bilhões e US$ 21 bilhões. No ano passado foram cerca de US$ 30 bilhões. Débora Giorgi voltou a dizer que as licenças automáticas representam apenas 7% das exportações brasileiras à Argentina. Estamos buscando acordos como aposta a uma integração produtiva real. Todos os setores chegarão a um acordo a seu tempo.
b) Saldo do comércio com a Argentina encolhe 92%
O saldo comercial brasileiro em relação à Argentina caiu 92% em um ano, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. O superavit, que atingira US$ 3,57 bilhões entre janeiro e agosto de 2008, reduziu-se a US$ 283 milhões no mesmo período deste ano.
Os números foram apresentados em São Paulo, durante encontro entre o ministro Miguel Jorge (Desenvolvimento) e a ministra da Produção argentina, Débora Giorgi.
O ministro brasileiro atribuiu à crise internacional a queda de 41% nas exportações para o vizinho: Apesar da crise, prevemos fluxo comercial de até US$ 21 bilhões em 2009, longe dos US$ 30 bilhões do ano passado, mas numa situação bastante diferente.
Essa previsão de fluxo difere em US$ 6 bilhões da aventada pelo ministro da Economia argentino, Amado Boudou, que declarou ontem em Buenos Aires que a manutenção dos volumes de comércio com o Brasil foi uma das ferramentas que suavizaram o impacto da crise mundial nos dois maiores sócios do Mercosul.
O ministro argentino estimou em US$ 27 bilhões o fluxo de comércio entre os dois países em 2009.
De acordo com Roberto Segato, economista da Abracex (Associação Brasileira de Comércio Exterior), no entanto, a crise não é a única responsável pela queda nas exportações brasileiras: A Argentina está comprando tudo da China. Eles vêm substituindo o Brasil, e isso só vai mudar quando formos duros, talvez até deixarmos o Mercosul e passarmos a negociar individualmente.
Em São Paulo, os ministros minimizaram os desentendimentos que vêm opondo brasileiros e argentinos em torno de licenças de importação não automáticas, mecanismos que, de acordo com os empresários brasileiros, atrasam e dificultam a exportação. Há problemas com as licenças não automáticas, mas elas são muito pontuais, como a questão das autopeças, disse Miguel Jorge.
Antônio Carlos Meduna, conselheiro do Sindipeças (entidade representativa do setor), critica a posição argentina. O setor privado cuidava da exportação de baterias, sem problemas. Agora, o governo interveio, e isso pode impactar no futuro do processo produtivo.
Desde o último dia 14, restrição do governo argentino faz com que autopeças brasileiras demorem pelo menos 30 dias para serem liberadas.
Em Buenos Aires, o ministro da Economia argentino também relativizou o problema: As questões setoriais não necessariamente coincidem 100% com as questões estruturais nacionais, disse Boudou.
Durante o encontro, os ministros anunciaram a introdução de uma espécie de fast track (alusão ao mecanismo utilizado pelo governo americano para agilizar a implementação de acordos comerciais) para solucionar questões pontuais. Miguel Jorge disse que funcionários dos dois países se reunirão para discutir sempre que for necessário. As reuniões ministeriais regulares são bimestrais.
c) Marfrig arrenda frigoríficos e compra empresa uruguaia
Depois de anunciar a compra da Seara, por US$ 900 milhões, na semana passada, a Marfrig Alimentos voltou as atenções para sua origem e retomou o processo de investimento no mercado de carne bovina. O grupo arrendou 11 unidades de abate, com capacidade total de 8,8 mil cabeças por dia. São cinco unidades do frigorífico Margen, que estava em processo de recuperação judicial, e seis do frigorífico Mercosul, um dos maiores grupos gaúchos do setor. Com o negócio, a capacidade de abate do Marfrig sobe para 22,35 mil cabeças por dia no Brasil e para 30,1 mil bovinos por dia no total, incluindo as operações no exterior. Os termos financeiros do negócio não foram revelados.
Mas a Marfrig não anunciou apenas a ampliação da capacidade de abate. A empresa também comunicou uma parceria no segmento de distribuição com o grupo atacadista Martins, dono da maior empresa de distribuição da América Latina. Em nota, a Marfrig informou apenas que a parceria é de cinco anos, prorrogáveis por mais cinco, e tem por objetivo expandir a atuação da empresa no segmento de varejo e food service.
O grupo anunciou, além disso, a compra de 51% do grupo uruguaio Zenda, que atua no setor de couros, por US$ 49,5 milhões. Para dar suporte a todos esses movimentos, o Marfrig também informou que seu conselho de administração aprovou uma emissão primária de ações, de valor ainda não definido. No anúncio da compra da Seara, a empresa já havia informado que poderia fazer uma emissão.
No mercado, o movimento da Marfrig para arrendar as unidades do Margen e do Mercosul foi considerado uma estratégia para não ficar pequeno em comparação à JBS, que na semana passada anunciou uma fusão com a Bertin, além da compra da Pilgrims Pride, nos Estados Unidos, que a elevou ao posto de maior indústria de carnes do mundo. Foi até mais rápido do que imaginávamos, mas tanto as conversas com o Margen quanto com o Mercosul já estavam circulando no mercado, diz Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria.
Com os recentes movimentos, as três maiores indústrias de carne bovina do Brasil passam a deter 30% da capacidade instalada para abate. Apesar de terem sido abatidas 40 milhões de cabeças no Brasil, a expectativa é de que o parque industrial tenha uma capacidade para 60 milhões. Desse total, 18% estão nas mãos da JBS, 9% com a Marfrig e 3% com o Minerva.
Diante da nova realidade da indústria, os pecuaristas começam a demonstrar preocupação com o movimento do setor. Em Mato Grosso existe a estimativa de que em algumas regiões do Estado exista apenas uma empresa atuando. Em algumas regiões a JBS será soberana. No caso da Marfrig, a atuação é menor, tinha duas unidades e assumiu agora mais uma que era do Margen, disse Luciano Vacari, superintendente da Associação de Criadores de Mato Grosso (Acrimat). Ele já solicitou à entidade que seja feito um levantamento dos impactos que essas fusões e arrendamentos podem ser sobre a pecuária do Estado.
No caso do acordo com o atacadista Martins, a estratégia parece ser claramente se posicionar como uma opção à BRF, surgida da fusão entre Perdigão e Sadia, na área de alimentos industrializados. Com a compra da Seara, a empresa ganhou uma marca forte e conhecida nacionalmente - o que ainda não havia no portfólio do Marfrig. O acordo com o Martins dá à empresa uma rede de distribuição forte e ampla, abrindo espaço para a melhor distribuição de seus produtos.
Mauro Pilz, um dos proprietários do frigorífico Mercosul, disse que o arrendamento de sete unidades anunciado ontem terá prazo de cinco anos, mas não informou o tipo de remuneração do Mercosul no negócio. O Mercosul vinha procurando opções para levantar capital de giro para as operações. Uma delas era admitir um parceiro na empresa. Para isso, o Mercosul contratou a Rosenberg Partners Associados há cerca de três meses e a consultoria fez a aproximação com a Marfrig. Para o momento, era a melhor opção, disse Pilz.
A principal vantagem do acordo, segundo ele, é manter as operações em atividade e preservar os empregos. O Mercosul tem aproximadamente 3,5 mil funcionários e operava com abate de 2,5 mil cabeças de gado por dia. Três das plantas arrendadas estão habilitadas a exportar para a Europa. O Mercosul desativou as unidades de Rondonópolis (MT), Naviraí (MS) e Paiçandu (PR), que pertenciam a terceiros, além de Nova Londrina (PR), que é própria.
Organização Mundial do Comércio (OMC)
a) Brasil proíbe importação de pneu usado
O Brasil não vai mais emitir novas licenças de importação de pneus usados ou reciclados, qualquer que seja sua origem, conforme informou aos outros 151 países membros da Organização Mundial do Comércio (OMC). A interdição vale também para a importação de quantidade limitada de certo tipo de pneu procedente do Mercosul. Para o Brasil, isso significa que o país cumpre plenamente decisão dos juízes da OMC em disputa com a União Europeia.
Na briga iniciada em 2005, o Orgão de Apelação, espécie de corte suprema do comércio internacional, reconheceu que a proibição de importação de pneus reformados adotada pelo Brasil podia se justificar para proteger a saúde humana e o meio ambiente. Mas os juízes assinalaram igualmente que o país aplicava a medida de maneira contraditória já que proibia a entrada do pneu procedente da UE, mas importava o mesmo produto originário de países do Mercosul.
Para os árbitros, essa situação representava discriminação arbitrária e injustificada e, portanto, deveria ser alterada. Agora, o país informa a OMC que a Secretaria de Comércio Exterior tem nova portaria, do fim de agosto, que interdita de vez as licenças de importação.
b) Produtor de algodão cobra rigor com EUA
A Câmara de Comércio Exterior (Camex) deve aprovar os critérios técnicos para uma eventual retaliação comercial contra os Estados Unidos em razão da concessão de subsídios proibidos pela Organização Mundial do Comércio (OMC) aos produtores de Algodão.
O colegiado de sete ministros deve seguir a orientação dos especialistas do governo para fixar retaliações preferenciais em bens de consumo, produtos concorrentes com similares nacionais e produtos agropecuários. A área técnica do governo recomenda evitar represálias comerciais sobre bens intermediários, matérias-primas e em produtos nos quais os Estados Unidos sejam os principais fornecedores ao mercado brasileiro.
A reunião do Conselho de Ministros da Camex também decidirá sobre a melhor forma de introduzir a chamada retaliação comercial cruzada na legislação brasileira. As alternativas são a edição de uma medida provisória ou o envio de um projeto de lei ao Congresso. Às vésperas da reunião de cúpula do G-20, em Pittsburgh (EUA), a decisão da Camex deve deixar clara a forma como o Brasil tratará o tema, considerado bastante delicado nos bastidores diplomáticos do governo.
Os produtores de Algodão reiteraram, em reunião com dirigentes do governo, os pedidos para um tratamento duro contra os EUA. Temos que dar um sinal claro ao sistema multilateral de resolução de controvérsias para garantir uma condenação efetiva dos subsídios ilegais dos Estados Unidos, disse o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Haroldo Cunha. Ele visitou a secretária-executiva da Camex, Lytha Spíndola. Saímos com a impressão de que o governo defenderá o setor produtivo brasileiro, afirmou.
A reunião da Camex também deve aprovar a elevação, de 27% para 55%, da tarifa aplicada a produtos lácteos importados na chamada lista de exceção à Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul. A medida ajudará a proteger o mercado interno, sobretudo no segmento da agricultura familiar, da recente avalanche de compras de leite em pó e queijos da Argentina e Uruguai. Os ministros vão começar a debater a imposição de uma tarifa contra a entrada de trigo importado a preços baixos pelos moinhos nacionais. O objetivo é evitar o desestímulo aos produtores brasileiros, prejudicados pelo clima nos últimos dias.
c) Rússia quer finalizar adesão à OMC
O primeiro vice-primeiro-ministro da Rússia, Igor Shuvalov, disse que o país pretende finalizar as negociações para aderir à Organização Mundial do Comércio (OMC) no próximo ano, embora ainda existam vários obstáculos. Gostaríamos de finalizar nossa adesão, disse Shuvalov durante um chá na residência do embaixador russo nos EUA, após reunião com o representante americano para comércio exterior, Ron Kirk. Um dos entraves são os subsídios para as empresas estatais russas.
d) Sem concluir Doha, crise continuará, diz OMC
Os líderes do G-20 ouvirão do diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, um duro alerta sobre a paralisia das negociações na Rodada Doha. O processo não avança, mesmo após as promessas do G-20 em suas reuniões anteriores. Lamy, ontem em Genebra, evitou até fazer projeções otimistas de que a rodada poderia ser concluída em 2010, como havia sido indicado pelo G-20 em abril.
Lamy agora levará a mensagem à cúpula do G-20, no fim da semana, de que a crise continuará se nada for feito em relação às negociações. Em um recado velado ao governo americano, que não fez até hoje uma proposta de liberalização na OMC, Lamy deixará claro que países precisam mostrar liderança no processo. E isso seria traduzido em flexibilidade em suas posições negociadoras.
O Brasil deixou claro que, pelo ritmo do processo, não há como fechar um acordo em 2010 e identifica explicitamente a Casa Branca pela falta de avanço e pela insistência de pedir apenas a abertura dos mercados emergentes.
Outro recado que o G-20 receberá é que os investimentos continuarão em queda no restante do ano, mesmo com os sinais positivos da economia mundial. Os dados foram publicados ontem pela ONU. Nos seis primeiros meses de 2009, as economias do G-20 receberam investimentos 40% abaixo dos níveis de 2008. Para o ano, o volume de investimentos para esse grupo deve chegar a US$ 700 bilhões, contra uma volume total no mundo que irá variar entre US$ 900 bilhões a US$ 1,2 trilhão.
e) Cálculo de dumping no suco de laranja vai ser investigado
Nesta sexta-feira, o Brasil conseguirá a instalação de um comitê de investigação (panel) na Organização Mundial do Comércio (OMC) para examinar queixa contra uma prática dos Estados Unidos relacionada aos cálculos de dumping no comércio de suco de laranja. Na primeira demanda, os americanos bloquearam a ação brasileira, que agora será aprovada automaticamente.
O governo brasileiro reage contra os EUA tendo como pano de fundo o aumento da concorrência no mercado de suco e a queda global de preços e consumo. O Brasil questiona o método de cálculo usado por Washington para estabelecer suposta margem de dumping de até 4,81% por indústrias brasileiras, fórmula que já foi condenada em outros casos na OMC.
O Brasil sustenta que uma revisão administrativa do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, concluída em agosto de 2008, excluiu do cálculo da margem de dumping as exportações com valor superior à cotação do produto no mercado doméstico (valor normal). Com a exclusão, a revisão teria sido inflada.
Essa forma de cálculo, conhecida como zeroing, impede que essas operações compensem as exportações eventualmente realizadas com preços abaixo do valor normal. Usando apenas os preços baixos, os EUA inflam o cálculo para fixar a margem de dumping e, em consequência, da sobretaxa que é aplicada.
Na reunião desta sexta-feira, o Brasil também dará indicações de como agirá na retaliação a que tem direito de impor no caso do algodão. Não será desta vez, contudo, que anunciará lista de produtos americanos alvejados.
f) EUA e Canadá querem cota de venda de trigo ao Brasil
Para tentar abocanhar o espaço deixado pela Argentina no fornecimento de trigo ao Brasil, Estados Unidos e Canadá movimentam-se para obter uma cota de exportação do cereal ao mercado nacional. O Brasil importa 60% do trigo que consome.
A articulação de americanos e canadenses chamou a atenção da União Europeia. Nesta quinta-feira, em reunião na Organização Mundial do Comércio (OMC), a UE indagou ao Brasil como andavam as negociações sobre a cota, pela qual eventualmente não haveria cobrança de tarifa de importação.
Os brasileiros deixaram claro, contudo, de que ainda não há tratativas. A representação brasileira argumentou ainda que quem quiser exportar para o Brasil que o faça pelo mercado livre e pela tarifa de importação atual. Abrir cota significa custo maior na administração e na aduana.
Para analistas, o mais relevante é que EUA e Canadá querem claramente ocupar espaço nas vendas de trigo ao Brasil, mesmo que a Argentina retome lentamente suas vendas ao vizinho. As exportações argentinas caíram drasticamente em virtude da seca que afetou o país na safra 2008/09.
Nesta semana, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) manteve a alíquota do imposto de importação de trigo para países de fora do Mercosul, após analisar pedido do Ministério da Agricultura de elevação da tarifa. O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse que a Camex decidiu aguardar um pouco mais para uma eventual mudança. O imposto para importação de trigo de países de fora do Mercosul é atualmente de 10%.
Plano Internacional
a) Japão vai investir em emergentes
O primeiro-ministro japonês, Yukio Hatoyama, vai anunciar um plano de apoio a países em desenvolvimento relacionado a tecnologia e a projetos de combate às mudanças climáticas durante a Assembleia-Geral da ONU que começa na quarta-feira, na sede da entidade, em Nova York. A notícia foi dada pelo ministro do Meio Ambiente japonês, Sakihito Ozawa.
Ao falar sobre a viagem de Hatoyama aos Estados Unidos, Ozawa disse ainda que o Japão irá trabalhar para cumprir suas "ousadas" metas para cortar a emissão de gases do efeito estufa, criando recompensas econômicas relacionadas a adoção de fontes de energia limpa. A intenção do governo é a de persuadir as empresas que poderiam estar preocupadas "com os custos iniciais" de um novo projeto.
– A Iniciativa Hatoyama será anunciada nos Estados Unidos, e todos podem alimentar ótimas expectativas – garantiu o ministro.
Hatoyama disse este mês que a iniciativa iria garantir suporte tecnológico e financeiro para as nações em desenvolvimento que fossem pró-ativas em relação à redução de gases do efeito estufa, mas não deu detalhes de como se daria o apoio.
O líder japonês, que assumiu o cargo na semana passada, espera abrir uma "grande pauta de negociações" na ONU, relacionada às conversações iniciadas em dezembro a respeito da substituição das normas do Protocolo de Kioto, que vencem em 2012. Ozawa recusou-se a detalhar o novo projeto destinado aos países em desenvolvimento, mas disse esperar que o plano japonês seja um incentivo às grandes economias emergentes para que cheguem a um acordo em relação à questão climática.
Os países em desenvolvimento têm insistido no fato de que as nações mais industrializadas deveriam pagar um preço maior para resolver um problema causado, principalmente, por aqueles países.
– Acredito que a Iniciativa Hatoyama será uma excelente ferramenta para um consenso – disse Ozawa, que acompanhará o primeiroministro japonês na viagem a Nova York e também na reunião do G-20, em Pittsburgh.
Níveis de 1990 Ex-banqueiro e especialista em política econômica, Ozawa disse ainda que espera convencer empresários e governos a estabelecerem uma meta de 25% no corte de emissões de gases do efeito estufa até 2020, chegando a níveis de emissões iguais aos de 1990.
– Quero mostrar a todos que reseolver a questão cimática não é necessariamente ruim para a economia. Poderá, sim, atuar como um fator de maior crescimento – disse Osawa.
O ministro espera que, em dois meses, um plano econômico relacionado às novas metas para o meio ambiente no Japão, incluindo novas taxações, esteja traçado. Segundo Osawa, as diretrizes serão debatidas entre ele e outros ministros do país.