Comércio Exterior
a) Resultados
A balança comercial brasileira apresentou superávit de US$ 935 milhões na primeira semana deste mês, com cinco dias úteis. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). No período entre os dias 1º e 9 de agosto, as exportações somaram US$ 3,274 bilhões, uma média diária de US$ 654,8 milhões, e as importações ficaram em US$ 2,339 bilhões, média diária de US$ 467,8 milhões.
De janeiro até a primeira semana de agosto, as exportações do Brasil somam US$ 87,4 bilhões e as importações, US$ 69,5 bilhões. Dessa forma, em 150 dias úteis, houve superávit comercial de US$ 17,8 bilhões. No acumulado de um ano atrás, a balança comercial verificou superávit de US$ 14,587 bilhões. Com três dias úteis a menos do que no exercício atual, as vendas externas ficaram em US$ 112 bilhões no intervalo e as compras, em US$ 97,4 bilhões.
O resultado das exportações na primeira semana do mês é 6,5% maior que o de julho deste ano (US$ 614,9 milhões), pelo critério de média diária, devido ao aumento no embarque de produtos semimanufaturados (13,2%), básicos (7,9%) e manufaturados (3,8%). Na comparação com todo o mês de agosto de 2008 (US$ 940,3 milhões), a média por dia útil caiu 30,4%.
As importações, na comparação pela média diária, caíram 4,1% em relação a julho (US$ 487,6 milhões), por causa, principalmente, da diminuição das compras de combustíveis e lubrificantes (- 48,1%). Frente a agosto de 2008 (US$ 831,1 milhões), o resultado do período apresentou queda de 43,7%.
b) Receita de ICMS dos Estados diminui com a retração das importações
Com exportações acima do esperado de janeiro a junho e importações mais contidas, a balança comercial brasileira fechou o primeiro semestre com superávit. O resultado, porém, afetou a arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). A queda de 29,5% no valor das importações brasileiras de janeiro a junho de 2009 na comparação com o mesmo período do ano passado reduziu a fatia dos desembarques no recolhimento total do imposto em alguns Estados.
A Bahia recolheu, no primeiro semestre de 2009, R$ 174 milhões em ICMS sobre importações, o que representa 3,7% dos R$ 4,71 bilhões do imposto total arrecadado no período. No acumulado de janeiro a junho do ano passado, a Fazenda baiana recolheu sobre os desembarques R$ 314 milhões, valor responsável por 6,3% da arrecadação total de ICMS.
O superintendente de administração tributária da Secretaria de Fazenda da Bahia, Claudio Meirelles, diz que a arrecadação sobre a importação teve queda semelhante ao recuo apresentado pelo total de desembarques no primeiro semestre. Segundo ele, houve redução de 55,9% em relação ao acumulado de janeiro a junho do ano passado. "Nossas importações são muito influenciadas pela nafta e pela queda dos preços do petróleo", explica.
A queda nas importações acaba afetando os Estados porque o ICMS é recolhido no desembaraço aduaneiro. Ao mesmo tempo, o aumento de exportações beneficia o Estado porque gera maior nível de atividade, mas a operação de embarque é desonerada do imposto.
Em São Paulo, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, a queda no valor das importações foi de 24,7% no acumulado do primeiro semestre. Em junho, o ICMS recolhido sobre desembarques pela Fazenda paulista sofreu recuo de 20% em relação ao mesmo mês do ano passado. Em maio, a redução na comparação com o mesmo mês de 2008 foi de 24,1%. Em abril e fevereiro houve estabilidade e em janeiro e março, crescimento de 13,6% e 24,9%, respectivamente. O ICMS sobre importações chegou a 20% do total da arrecadação do imposto em São Paulo no ano passado.
No Amazonas, as importações tiveram queda de 37,8%. Para a arrecadação amazonense de ICMS, o recolhimento do imposto sobre importação de insumos industriais é representativo. No primeiro semestre de 2008, os desembarques de insumos responderam por 15,6% da arrecadação total do imposto de janeiro a junho. Essa fatia caiu para 13,4% em 2009, levando em consideração idêntico período.
Para Thomaz Nogueira, secretário executivo da Receita do Amazonas, o desempenho do ICMS reflete a redução substancial na importação de insumos estrangeiros no polo industrial de Manaus. No entanto, diz ele, a redução não é linear, sendo marcante no segmento de duas rodas - motos e bicicletas. O contraponto, explica, está por conta do polo de eletroeletrônicos, que apresenta crescimento das importações em razão da mudança tecnológica na área de televisão com a substituição dos aparelhos com tubos pelos de tela plana. "O crescimento das aquisições de insumo nacional se deve a um pequeno movimento de substituição de alguns insumos estrangeiros em razão da variação cambial", acredita.
Para o consultor Clóvis Panzarini, ex-coordenador de administração tributária da Fazenda paulista, é importante lembrar que a queda das importações é apenas um reflexo do nível de atividade e do consumo interno. Para ele, as perdas dos Estados estão concentradas na queda de desembarques que geram recolhimento do ICMS somente no desembaraço aduaneiro. É o caso da importação de máquinas e equipamentos, que são tributados no momento do desembaraço e depois, na regra geral, geram crédito a ser apropriado em 48 meses.
Levando em conta as importações totais, houve queda de 13,7% na média diária do valor dos desembarques dos bens de capital durante o primeiro semestre do ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. Já as exportações, destaca Panzarini, têm efeito neutro sobre a arrecadação, porque são desoneradas de ICMS. Ele lembra, porém, que os Estados demoram a ressarcir os créditos do imposto e, por isso, levando em conta toda a cadeia produtiva do bem exportado, há um pequeno ganho de arrecadação de ICMS com a elevação das vendas ao exterior.
c) Japão reclama de protecionismo de Brasil e Índia
O governo japonês afirmou que está preocupado com o aumento de medidas antidumping (em que há acusação de venda abaixo do preço de custo) e outras formas de protecionismo pelo Brasil, pela China e pela Índia.
De acordo com o vice-ministro de Economia, Comércio e Indústria japonês, Hiroyuki Ishige, o Brasil e os dois países asiáticos são infelizmente grandes usuários de medidas antidumping para tentar proteger a indústria local da crise global.
Medidas antidumping estão sendo cada vez mais usadas, barreiras ao comércio são utilizadas inapropriadamente de forma intencional e o buy local compra de produtos da indústria do país pelo governo é incentivado, disse ao Financial Times.
As declarações de Ishige ocorrem em um momento em que as exportações do Japão (principal motor da segunda maior economia global) estão cerca de 50% menores em relação ao patamar do ano passado.
d) Empresários do Brasil e do México querem acordo
Empresários do Brasil e do México pressionam os dois governos por um "acordo amplo"até junho de 2010. O setor privado quer aproveitar a visita do presidente mexicano Felipe Calderón, que chega ao Brasil no sábado, para arrancar um compromisso político de maior abertura de mercado.
Um documento produzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo Conselho Empresarial Mexicano de Comércio Exterior (COMCE) foi enviado a autoridades dos dois países na semana passada. No Brasil, receberam a carta o ministro de Relações Exteriores Celso Amorim, e do Desenvolvimento Miguel Jorge.
Os empresários pedem o fim das tarifas de importação na maior parte dos produtos industriais, por meio da ampliação do atual acordo entre os dois países, que hoje, na prática, só funciona para automóveis. Na agricultura, os brasileiros reconhecem a necessidade de exceções para proteger o México.
O setor privado quer que o acordo inclua compromissos de abertura dos setores de serviços e de facilitação dos investimentos. "A ampliação do acordo comercial é um tema prioritário da agenda. Deve haver alguma instrução dos presidentes nesse sentido", afirmou o cônsul do México em São Paulo, Salvador Arriola.
Com a Rodada Doha paralisada e as barreiras argentinas contra produtos brasileiros, o mercado mexicano entrou de vez no radar da indústria brasileira. Segundo Soraya Rosar, gerente da área de negociações comerciais da CNI, setores como o de eletroeletrônicos e de carne e têxteis têm interesse em ampliar as vendas para o México.
A corrente de comércio entre Brasil e México cresceu muito nos últimos anos. Saiu de US$ 1,7 bilhão em 1999 para US$ 3,3 bilhão em 2003 e US$ 7,4 bilhões no ano passado. O Brasil exportou para o México US$ 4,3 bilhões em 2008 e comprou do país US$ 3,1 bilhão.
No entanto, a dinâmica do comércio bilateral mudou. Por conta da venda de carros mexicanos no mercado brasileiro, facilitada pelo acordo entre os dois países, as importações brasileiras de produtos mexicanos crescem mais de 50% nos últimos anos, enquanto as vendas brasileiras para o país caíram 4,4% em 2007 e ficaram estáveis no ano passado.
Boa parte do fraco desempenho brasileiro é efeito da crise, que já vem provocando estragos na economia do México há bastante tempo, por conta da dependência do país das vendas para os Estados Unidos. Outro problema enfrentado pelos produtos brasileiros é a concorrência chinesa, que aumentou sua participação.
"A crise impulsionou essa aproximação com o México, porque ninguém pode se dar ao luxo de perder mercados agora", disse Soraya.
Os brasileiros têm enfrentado dificuldades em convencer os mexicanos a abrir seu mercado, e até causou surpresa os empresários do país finalmente aceitarem assinar o documento entregue aos governos.
Em 2007, a CNI organizou uma missão de empresários ao País e conversou com autoridades e setor privado.
A confederação chegou até a contratar uma consultoria para medir a receptividade dos empresários mexicanos a um acordo com o Brasil e a resposta foi negativa.
Para não despertar polêmica, o documento atual não menciona o termo livre comércio. Os empresários preferem falar em abertura "substancial" do comércio, que poderia envolver a redução de 80% das tarifas.
Na década de 80 e 90, era o Brasil que não queria fechar acordo com o México, com medo das "maquiladoras".
Mas com a abertura da economia brasileira e com a ida dessas empresas para a China, o cenário mudou.
e) Odebrecht negocia terminal em Santos
O grupo Odebrecht está na fase final de negociações para assumir o controle da Embraport, empresa que constrói há dois anos um dos maiores terminais portuários multiuso do país, localizado em Santos, onde estão previstos investimentos superiores a US$ 500 milhões. O principal acionista do terminal é hoje o grupo capixaba Coimex, cuja principal atividade é a de comércio internacional de commodities. A Coimex possui 66,6% das ações do empreendimento.
A Odebrecht terá como parceiro no negócio a Dubai Ports World (DPW), um dos três maiores operadores logísticos marítimos do mundo, sediado em Dubai e presente em dezenas de países. O grupo baiano e a DPW têm um bom tempo de relações comerciais. A Odebrecht é líder dos consórcios que constroem dois terminais de contêineres da DPW: o de Callao, no Peru, e o de Doraleh, em Djibuti, na África.
A Embraport foi constituída em 1998 pela Coimex para implantar um terminal de contêineres, granéis vegetais sólidos e granéis líquidos (álcool) na margem esquerda do porto de Santos, entre os rios Diana e Sandi, numa área de 800 mil m2. Com cais de 1,1 quilômetros e dois píeres, conta com armazéns cobertos, pátios ferroviários e estacionamento para carretas.
A Odebrecht já tem grande familiaridade com o projeto. Em dezembro de 2007, o consórcio liderado pela Construtora Norberto Odebrecht (CNO), que inclui também as construtoras Carioca e Constremac, foi escolhido para fazer a obra de implantação do terminal. Outro fator que justificaria a entrada no empreendimento é que sua controlada ETH, dona de usinas de açúcar e álcool, planeja exportar esses produtos em alguns anos. Desta forma, o grupo garantiria uma base logística em Santos.
Numa primeira fase, o Embraport foi dimensionado para movimentar 1,2 milhão de contêineres, 1,1 milhão de toneladas de granéis sólidos e 2 bilhões de litros de alcoóis por ano. O objetivo inicial da Coimex era montar um terminal capaz de movimentar 10 milhões de toneladas de cargas por ano - de granéis sólidos e líquidos até automóveis, chegando a 1,9 milhão de contêineres. A operação de veículos foi abandonada.
O projeto começou a ser instalado em julho de 2007, com intervenções na parte mais crítica da obra, a de aterramento. As autoridades ambientais exigiram diversas medidas de proteção contra o impacto nas comunidades do entorno do fundo ao Canal do Estuário. Ali, fica uma área de manguezal, ao lado da Ilha do Barnabé. A licença para instalação foi concedida em agosto de 2006.
Originalmente, segundo informações anteriores no site da Coimex e da Embraport, o projeto estava orçado em US$ 400 milhões, dos quais 60% para as obras civis e 35% para aquisição dos equipamentos de movimentação de cargas. O novo orçamento da obra, que desacelerou por conta da crise mundial, é de US$ 550 milhões.
Quando o consórcio construtor ganhou a concorrência, só o aterro piloto para os píeres estava feito. Na época foi informado que o Embraport deveria ficar pronto no fim de 2010 e que, no ano seguinte, já responderia por 70% da movimentação de contêineres no porto de Santos, onde atua a maior empresa do porto, a Santos Brasil, do grupo Opportunity. A previsão mais recente indica a conclusão da obra no fim de 2011.
A crise econômica mundial, que afetou o mercado de commodities, a liquidez de crédito e o encarecimento do projeto, com aumento das obras de engenharia, está por trás desta mudança societária. O aterramento, por exemplo, teve de ser aprofundado quase o triplo do previsto inicialmente, dizem pessoas a par do projeto, devido aos erros de cálculo na sondagem do solo. Essa parte é considerada o coração da obra, pois é ela que vai sustentar o piso do terminal, erguido em um terreno, antes todo coberto de lama.
Isso tudo forçou a Coimex a buscar uma injeção de capital para levar avante o empreendimento. No fim de outubro, o fundo de investimento FI-FGTS, gerido pela Caixa Econômica Federal (CEF), aportou R$ 450 milhões no projeto e passou a deter 33,33% do capital da Embraport. Pessoas ligadas a Coimex informam que a busca de sócios já era um dos objetivos anteriores e que não há intenção de sair do negócio. No entanto, fontes do setor disseram que o grupo ficará com apenas 1% a 2% de participação. Procurado, a Coimex informou que não falaria sobre o negócio.
Agora, a avaliação é que Odebrecht e sua parceira venham a aportar pelo menos US$ 300 milhões para assumirem a conclusão do projeto e se tornarem controladores da Embraport, que é visto no grupo como obra de grande relevância para o país no setor de infraestrutura. A Odebrecht confirmou, por meio de sua assessoria de comunicação, o interesse no terminal e as negociações com a Coimex. Mas acrescentou que não daria, por enquanto, mais detalhes sobre a operação.
f) Grupo Odebrecht cria Olex para atuar no comércio exterior
A Construtora Norberto Odebrecht (CNO), com tradição de 30 anos na exportação de bens e serviços para projetos de engenharia, criou uma empresa focada em logística e comércio exterior. Chamada de Olex Importação e exportação S.A., a empresa, controlada pela construtora, começou a operar em março com embarques de gêneros alimentícios, incluindo congelados, e produtos de limpeza para o NossoSuper, rede popular de supermercados construída e operada pela CNO em Angola.
No primeiro semestre, a Olex exportou US$ 1,2 milhão para o NossoSuper. O valor é pequeno se comparado à exportação total de bens feita pela CNO para projetos de engenharia no exterior, que totalizou aproximadamente US$ 280 milhões de janeiro a junho de 2009. Mas o negócio da Olex tende a crescer. Além das exportações para o varejo no mercado angolano, a empresa se estrutura para atender a área imobiliária em Angola.
O objetivo é passar a fazer, via Olex, as exportações de materiais como aço, cerâmica e material elétrico para projetos de engenharia e da área imobiliária da Odebrecht no país africano. Na área imobiliária, o grupo constrói edifícios residenciais e comerciais e condomínios no mercado angolano. No momento, o trabalho concentra-se em analisar a melhor forma de exportar materiais para o mercado imobiliário do país via Olex. A preocupação passa por adequar-se à legislação que controla as receitas de exportação entre empresas de um mesmo grupo, o chamado preço de transferência, uma vez que a Olex exportaria para a própria Odebrecht na África.
Outra área com possibilidade de crescimento para a Olex em Angola é o Nossa Casa, projeto que prevê a criação de uma rede de pequenas lojas para material de construção de habitações populares. Dos US$ 280 milhões de bens exportados pela CNO no primeiro semestre de 2009, cerca de US$ 149 milhões foram para projetos na Argentina, o primeiro destino da exportação da construtora até junho. Angola ficou em segundo lugar, com um valor de US$ 105 milhões. Depois aparecem Peru (US$ 9 milhões), República Dominicana (US$ 7,5 milhões), Venezuela (US$ 6,5 milhões) e Panamá (US$ 2 milhões).
Mauro Rehm, gerente-geral da Olex, disse que o objetivo, ao criar a empresa, foi contar com uma companhia com vocação específica em logística e exportação. Ao constituir a Olex, a Odebrecht espera melhorar os índices de endividamento da CNO, uma vez que a nova empresa poderá captar linhas de crédito à exportação, endividando-se e, por consequência, reduzindo a alavancagem financeira da construtora.
Rehm disse que a Olex não foi formada para disputar mercado com outras tradings que atuam no comércio exterior. Mas para atender os projetos da Odebrecht fora do Brasil, os quais trazem a reboque um contingente de pequenas, médias e grandes empresas que atuam como fornecedores de bens e serviços. Em 2008, a CNO exportou US$ 1,4 bilhão em bens e serviços, quase o dobro de 2007. As exportações para as obras da Odebrecht envolveram 2,8 mil empresas, incluindo projetistas, consultores, montadores, fabricantes de equipamentos e de materiais.
O executivo estima que a cada US$ 100 milhões contratados em serviços de engenharia no exterior, são criados 20 mil empregos diretos e indiretos na cadeia produtiva nacional. Segundo Rehm, as exportações da CNO na área de engenharia que contam com financiamentos do BNDES e cujos contratos estão em curso continuarão a ser geridos até a sua conclusão por uma unidade existente dentro da construtora, a Odebrecht Logística e exportação (chamada internamente de antiga Olex), que funciona como centro de custo.
No futuro, à medida que as obras no exterior forem sendo concluídas, novos projetos de engenharia, com financiamentos do BNDES, poderão ser contratados diretamente pela nova companhia. José Valentim, engenheiro da Olex, disse que a empresa opera com dois terminais específicos para a exportação: um no bairro de Santo Cristo, na retroárea do porto do Rio, e outro em Santos. As exportações de produtos congelados para o NossoSuper, em Angola, estão concentradas em Santos. Existe uma negociação para transferir ao governo angolano a operação da rede de supermercados.
Os terminais utilizados pela Olex no Rio e em Santos permitem receber e consolidar cargas de milhares de fornecedores (2,8 mil em 2008). São cerca de 13 mil itens exportados por mês, em média (em torno de 160 mil itens em 2008). No total, a CNO está presente em 22 países e sua unidade de logística e exportação conta um navio afretado com capacidade para transportar 430 contêineres cheios, que opera na rota Brasil-Angola. Desde a primeira exportação para o Chile e Peru, em 1979, a Odebrecht já exportou um saldo acumulado de US$ 6,3 bilhões.
Agronegócio
a) Usina fixa 65% do açúcar para exportação
As usinas sucroalcooleiras do Centro-Sul fixaram até a primeira semana de agosto os preços de cerca de 65% dos volumes de açúcar destinados ao mercado externo. No mesmo período do ano passado, menos de 30% do produto voltado para exportação tinha sido fixado. A recuperação dos preços da commodity no mercado internacional tem estimulado as operações de hedge (proteção), disse Arnaldo Corrêa, presidente da Archer Consulting, empresa especializada em gestão de risco.
Tradicionalmente nesta época do ano, as fixações de preços ficam abaixo de 50% do total negociado no mercado externo. As exportações brasileiras do produto estão estimadas para esta safra 2009/10 em cerca de 24,5 milhões de toneladas, de acordo com a consultoria Datagro. A forte oscilação dos preços, sobretudo nos últimos dois anos, levou parte das usinas a acelerar as operações de hedge. Desde o início desta safra até a semana passada, os preços médios foram fixados em 15 centavos de dólar por libra-peso.
Esse tipo de operação de proteção permite que os produtores de açúcar garantam uma remuneração mínima com base nos custos de sua produção. Mas como os preços da commodity continuam subindo no mercado internacional, há analistas que já temem um default por parte das usinas que fixaram suas vendas muito abaixo das cotações atuais.
Os preços do açúcar voltaram a registrar forte alta no mercado internacional, atingindo o maior patamar dos últimos 28 anos e meio, segundo Rodrigo Costa, da Newedge, corretora com sede em Nova York. Na bolsa de Nova York, os contratos para janeiro encerraram a 22,50 centavos de dólar por libra-peso, aumento de 97 pontos. No ano, a valorização chega a 83%. Na bolsa de Londres, os contratos para dezembro encerraram a US$ 573,30 a tonelada, elevação de US$ 23,90. Os contratos de outubro fecharam a US$ 557,40 a tonelada, mas durante o dia chegaram a bater US$ 561,90, recorde histórico na bolsa inglesa. No acumulado do ano, o açúcar refinado registra alta de 74,2%.
A forte escalada dos preços do açúcar tem respaldo na perspectiva de déficit global pelo segundo ano consecutivo. Além da produção menor da Índia por falta de chuvas - o país é o segundo maior produtor global, mas que se tornou importador -, outros produtores, como México, Rússia, Paquistão, China e Austrália, também registram menor oferta e parte deles deve elevar a importação de açúcar, afirmou Plínio Nastari, presidente da Datagro.
Na semana passada, o México anunciou a importação de até 400 mil toneladas de açúcar por meio de cotas. Os EUA também podem fazer o mesmo. Foi a vez do Egito anunciar que vai isentar de taxas as importações de açúcar bruto e refinado a partir de 15 de agosto até o fim de dezembro, informou o Ministério das Finanças daquele país à Reuters. O déficit global de açúcar é calculado em cerca de 5 milhões de toneladas.
A expectativa é de que os preços continuem em alta no curto prazo. O mercado apostava que se os preços subissem mais, os países produtores poderiam vender açúcar. No entanto, os preços continuaram em alta , mas o produto não foi colocado à disposição do mercado, observou Nastari.
Na semana passada, o açúcar no mercado paulista remunerava 73% mais que o álcool hidratado e 60% mais que o anidro, segundo levantamento semanal do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Ontem, a saca de 50 quilos fechou a R$ 42,63, de acordo com o índice Cepea/Esalq.
Maior produtor e exportador mundial, o Brasil deverá produzir um volume recorde de açúcar nesta safra. Mesmo assim, a maior oferta não trará alívio ao mercado. As chuvas sobre as regiões produtoras de cana durante este inverno estão afetando a qualidade da cana. Com as chuvas fora de época, a cana voltou a brotar novamente, disse Nastari. A expectativa inicial era de que a produção de açúcar atingisse no Brasil 35,9 milhões de toneladas. Agora, a oferta no país deverá recuar para 35,1 milhões.
b) Venda externa de suínos diminuiu 40,5% no mês
Em julho passado, as vendas externas de carne suína caíram 14,28% em comparação com o mesmo período de 2008, para 48,1 mil toneladas, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne suína (Abipecs). Em valor, o recuo foi bem mais significativo, de 40,5% na mesma comparação, para US$ 100,50 milhões.
De acordo com Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs, a principal razão para a queda das vendas é a valorização do real ante o dólar. Mesmo com os baixos preços praticados no mercado interno, as exportações perdem competitividade com a atual relação cambial, afirmou em nota.
O dirigente disse que a gripe A (H1N1), popularmente conhecida como gripe suína não contribuiu para os resultados negativos das exportações. Nada de gripe. A doença é o câmbio mesmo!, queixou-se.
Quando a doença surgiu na América do Norte, no primeiro semestre, países importadores, como a Rússia, chegaram a suspender as compras de carne suína dos Estados Unidos. Isso não ocorreu com o Brasil.
Segundo a Abipecs, o setor de carne suína atravessa crise em países concorrentes da União Europeia, no Canadá e nos EUA. Mas, diz ele, nesses países, a suinocultura tem recebido amplo apoio de seus governos, o que infelizmente não ocorre entre nós.
De janeiro a julho, o Brasil exportou 342,58 mil toneladas de carne suína, 4,83% mais do que no mesmo intervalo de 2008. A receita com as vendas foi de US$ 683,57 milhões, queda de 22,03% sobre igual período de 2008. A queda forte reflete a desvalorização dos preços na exportação. A cotação média em julho passado foi de US$ 2.089 por tonelada, queda de 30,57% em um ano.
c) Exportação do campo recua 20,7% em julho
As exportações brasileiras do agronegócio totalizaram em julho US$ 6,287 bilhões, queda de 20,7% sobre mesmo mês do ano passado. As importações atingiram US$ 795 milhões no mês passado, um recuo de 29,6%. Com isso, o saldo comercial do campo ficou em US$ 5,491 bilhões em julho. O destaque da balança ficou com o açúcar, cujas vendas externas seguem firmes por conta da forte demanda global pelo produto.
Em julho de 2008, as exportações do agronegócio atingiram valor recorde para o mês, o que justifica, em boa parte, o recuo dos embarques no mês passado.
No acumulado dos últimos doze meses (de agosto de 2008 a julho de 2009), as exportações brasileiras do agronegócio atingiram US$ 67,824 bilhões, ligeira baixa de 0,4% sobre igual período anterior. As importações foram 1,3% superiores no mesmo período, alcançando US$ 10,943 bilhões. Com isso, o superávit no campo no acumulado nos últimos 12 meses ficou em US$ 56,881 bilhões.
Estimulados pelos bons preços e pela forte demanda internacional, provocada pela quebra da safra em importantes produtores, como a Índia, os embarques de açúcar seguem firmes este ano, destacando-se na balança comercial do agronegócio. Em julho, as exportações de açúcar atingiram US$ 761 milhões, aumento de 35% sobre julho passado. Em volume, os embarques subiram 13,1% na comparação com o mesmo mês do ano passado. Já as vendas externas de álcool ficaram em US$ 175 milhões em julho, um recuo de 37,7% sobre igual período do ano passado. Em volume, a queda dos embarques do combustível foi de 18,3%.
No mês passado, também apresentaram variações positivas produtos apícolas (32,8%), fumo e seus produtos (15,4%) e animais vivos (14,8%).
Os principais destinos dos produtos agrícolas brasileiros foram a Índia, Tailândia, Indonésia, Emirados Árabes Unidos e Coreia do Sul, que apresentaram variações positivas nas exportações brasileiras. O Oriente Médio e a África também apresentaram aumento nas vendas em julho.
d) Indústria dos EUA quer açúcar sem tarifa
Os maiores produtores de alimentos dos Estados Unidos pediram à Secretaria de Agricultura americana o fim das barreiras à importação de açúcar de países como o Brasil. O preço da commodity não para de subir e, segundo as empresas, o produto pode faltar nos EUA para produzir cookies, biscoitos, chocolates e outros. Grandes empresas como a Kraft, Hershey, Unilever e Nestlé USA enviaram uma carta ao secretário de Agricultura, Tom Vilsack, pedindo aumento da cota de importação de açúcar com tarifas reduzidas.
O preço do açúcar futuro subiu 95% neste ano, chegando ao recorde em 28 anos, de US$ 0,2297 por libra-peso. Dentro da cota, o exportador paga tarifa de US$ 10 a US$ 14 por tonelada. Fora da cota, a tarifa é proibitiva - US$ 338 por tonelada para açúcar bruto (sobretaxa de 111%) e US$ 357 por tonelada para o refinado (106%). Os EUA mantêm as barreiras para proteger os produtores americanos de açúcar de beterraba e cana que se opõem a um aumento na cota, pois levaria os preços a cair no país.
Os EUA estão com estoque de açúcar suficiente para apenas 13 dias. O México, com o qual o país tem acordo de livre comércio, poderia aumentar suas exportação sem tarifa - mas o vizinho é pouco eficiente na produção e não está dando conta. É preciso aumentar a cota de importação de açúcar imediatamente; sem isso, os consumidores vão pagar preços mais altos e os empregos na indústria de alimentos estarão em perigo, diz a indústria alimentícia na carta.
O Brasil tem direito a apenas 13% da cota de 1,17 milhão de toneladas (152 mil toneladas). Segundo fontes do Itamaraty, essa é uma quantidade ridícula, considerando que o País é um dos maiores produtores mundiais, com exportação de 19 milhões de toneladas em 2008. Mesmo se aumentarem a cota, vai ser proporcionalmente muito pouco; só vai fazer diferença se houver realocação de cotas, diz Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da Unica, entidade que representa os usineiros no Centro-Sul do País. Além disso, os beneficiados serão produtores do Nordeste, porque uma lei determina que as cotas de preferências tarifárias sejam alocadas para produtores do Nordeste.
Um dos principais motivos para a alta do preço do açúcar foi a quebra de safra na Índia. O país, que exportou açúcar nos últimos anos, teve um safra fraquíssima e está importando do Brasil e outros países. Os americanos afirmam também que o Brasil, ao direcionar cana de açúcar para etanol, está causando inflação nos preços do açúcar. Mas a Unica diz que a acusação é infundada. Segundo Pádua Rodrigues, 85% das usinas são flexíveis, podem produzir etanol ou açúcar, e a produção de açúcar no Centro-Sul vai aumentar 18% neste ano, de 27 para 31,5 milhões de toneladas.
Mercosul
a) Argentina amplia acesso a mercado da Venezuela
A presidente argentina, Cristina Kirchner, saiu na frente na disputa pelo mercado venezuelano aberta depois de o presidente Hugo Chávez ter anunciado que quer substituir as importações da Colômbia. Junto com 70 empresários de seu país, Cristina foi a Caracas para assinar acordos comerciais de US$ 1,1 bilhão com Chávez. Se os negócios derem certo, a Argentina pode praticamente duplicar suas exportações para a Venezuela.
Essa janela de oportunidade apareceu duas semanas atrás, quando Chávez anunciou que congelaria as importações colombianas, como retaliação ao acordo militar entre Bogotá e Washington, que permite o uso pelos americanos de bases militares na Colômbia. Para o venezuelano, isso cria uma ameaça regional.
Chávez e Cristina trocaram elogios. Caracas se veste de gala para dar boas-vindas a essa grande patriota da grande nação sul-americana, começou Chávez. Para analistas do país, a retórica mostra que Chávez dará preferência a uma patriota, em vez de comprar de um entreguista, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe.
A presidente argentina afagou o companheiro e bateu na oposição dos dois países: Há setores minoritários com forte poder que creem ser possível dar meia-volta numa história que já está decidida a avançar no sentido de melhorar a qualidade de vida de nossos homens e mulheres. Hoje estamos assinando acordos de US$ 1,1 bilhão. Vamos continuar essa integração, disse Cristina.
Os governos não deram detalhes sobre os acordos, mas Cristina afirmou que seu país fará para a Venezuela a maior exportação de arroz da história.
O comércio bilateral entre Venezuela e Argentina chegou a US$ 1,24 bilhão no ano passado.
A disparidade é gritante. Os argentinos venderam US$ 1,22 bilhão em carne, leite, caminhões e equipamentos mecânicos, principalmente. A Venezuela vendeu apenas US$ 22,7 milhões aos argentinos no mesmo período.
Desde que Chávez anunciou que congelaria as importações da Colômbia, a fronteira entre os dois países não foi fechada, mas algumas medidas foram adotadas. A Venezuela anunciou o cancelamento da compra de 10 mil veículos fabricados na Colômbia e proibiu a petroleira estatal colombiana de participar de uma licitação para explorar petróleo venezuelano. Além disso, eliminou um programa de combustível subsidiado na fronteira e ordenou vagamente que as importações da Venezuela provenham de governos amigos.
Na segunda-feira, o ministro do Comércio da Venezuela, Eduardo Samán, disse que iria comprar 10 mil carros da Argentina, após cancelar a importação de veículos da Colômbia: Vamos comprar da indústria automotiva da Argentina, que é de muito boa qualidade. Esses 10 mil carros, que iríamos comprar da Colômbia, que os compre o presidente dos EUA, Barack Obama. A Argentina tem capacidade de substituir tudo o que a Colômbia produz, já que sua indústria está muito avançada, por sua grande experiência, disse Samán.
As autoridades argentinas se mostram quase eufóricas. Temos oportunidades muito boas para continuar aumentando a balança comercial para que nossos povos estejam satisfeitos com a qualidade e os preços, disse a ministra da Produção da Argentina, Déborah Georgi.
Pedro Bergaglio, presidente da Protejer, grupo que representa a indústria têxtil argentina, disse que as exportações desse setor para a Venezuela poderão saltar para US$ 1 bilhão, depois que os novos acordos com Chávez entrarem em vigor. Estamos prontos para nos mover rapidamente e aproveitar a oportunidade.
Os principais produtos da Colômbia na pauta de exportações para a Venezuela são alimentos, têxteis e máquinas. No ano passado, a Colômbia foi o segundo maior parceiro comercial do país, atrás apenas dos EUA - maiores compradores do petróleo venezuelano. O comércio bilateral chegou a US$ 7 bilhões, com ampla vantagem para os colombianos. Empresários colombianos dizem ser muito difícil que os venezuelanos substituam o grosso das compras, por causa das vantagens de logística e custos.
Para Asdrúbal Oliveros, diretor da consultoria Ecoanalítica, de Caracas, o eventual encarecimento das importações pode elevar a inflação venezuelana para perto de 30%, o que a faria ser a maior da região pelo terceiro ano consecutivo.
b) Produtor brasileiro quer restringir leite do Uruguai
Às vésperas da entrada na nova safra de leite do Sul do país, os produtores pressionam o Ministério do Desenvolvimento a tomar medidas internas de restrição a importações de lácteos do Uruguai.
Sem acordo de limitações de vendas nem tarifas antidumping em vigor, os uruguaios inundaram o mercado brasileiro de leite em pó. Em julho, foram importadas 4,4 mil toneladas do produto. No mesmo período de 2008, as compras somaram 400 toneladas. O objetivo dos produtores brasileiros é forçar os uruguaios a aceitar acordo semelhante ao negociado com os argentinos.
A situação é séria. Se for preciso, vamos ao presidente da Repúlica, disse o diretor da Confederação Brasileira de Cooperativas de Laticínios (CBCL), Vicente Nogueira. Os produtores cobraram ontem uma solução do secretário de Comércio Exterior, Welber Barral. A Câmara de Comércio Exterior (Camex) poderia adotar o licenciamento não-automático das importações uruguaias.
No fim de abril deste ano, os argentinos aceitaram um compromisso de preços mínimos e uma cota máxima de exportação de lácteos ao Brasil. Pressionados pelo licenciamento não-automático, os argentinos concordaram em vender a tonelada de leite em pó pelo preço mínimo de US$ 2,2 mil e restringiram suas vendas ao Brasil em até 3 mil toneladas mensais. No Brasil, os produtores recebem entre R$ 0,65 a R$ 0,85 pelo litro de leite. Mas a nova safra do Sul deve pressionar as cotações para baixo. Temos que ter uma solução inteligente, afirmou o presidente da CBCL, Paulo Bernardes. Em julho, o saldo comercial do segmento atingiu o pior resultados dos últimos anos ao registrar déficit de US$ 14,5 milhões. Em 2009, o saldo negativo já soma US$ 41,1 milhões.
c) Entrar na lista de exceção da TEC está cada vez mais difícil
Com a necessidade de reduzir gradativamente a lista de exceção à Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) já está enfrentando dificuldade para acomodar os pedidos de inclusão de produtos. Pelo dispositivo, cada país do Mercosul pode praticar temporariamente, para determinado grupo de produtos, uma alíquota de imposto de importação diferente - maior ou menor - da TEC, cobrada de países fora do bloco.
A próxima revisão periódica da lista ocorrerá até o fim deste mês, mas já são 17 pedidos de inclusão para apenas 7 vagas. Até o fim de 2010, Brasil e Argentina terão de extinguir as listas, enquanto Paraguai e Uruguai têm prazos mais flexíveis. Até lá, a relação será paulatinamente reduzida. No fim de 2008, a lista de exceção do Brasil podia ter até 100 itens. No início deste ano, o total caiu para 93 e, até fevereiro do próximo ano, a lista de produtos brasileiros poderá conter no máximo 80 itens.
Com a eliminação gradual da lista, governo e indústria perderão um instrumento de proteção a determinados setores contra a concorrência das importações - ou para beneficiar outros com redução do custo de insumos, caso da agricultura, que importa fertilizantes com tarifa menor. Teremos de fazer um enorme esforço para eliminar a lista no prazo previsto, disse à Agência Estado a secretária executiva da Camex, Lytha Spindola.
Apesar das dificuldades para acomodar os pedidos, a secretária considera que o fim da lista é o caminho natural. Acho que um dia temos de caminhar para esta solução. Eu sou otimista. Acho que, passado esse período de crise, os países terão condições de fortalecer a TEC.
A Argentina, no entanto, não está cumprindo os prazos para reduzir a lista. Ainda trabalha com 100 itens, alegando que precisa do instrumento para enfrentar a crise mundial. Lytha disse que a quebra do cronograma pelo país está sendo discutida. Até o fim do ano teremos uma posição mais clara.
A consultora da Unidade de Negociações Internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Lúcia Maduro, reclama da falta de compromisso da Argentina com os prazos. Não temos culpa de o plano econômico da Argentina ter evoluído da forma como evoluiu.
Segundo a consultora, as diferenças nas listas dos países do Cone Sul atrapalham a definição de uma política comum em relação a outros países e dificultam as negociações com outros blocos.
Segundo ela, a lista também reduz a preferência intramercosul quando a alíquota é muito inferior à TEC.
d) Barreiras deram US$ 1 bi à Argentina
O Brasil perdeu 45% do total, ou US$ 440 milhões, com as medidas protecionistas, segundo confederação empresarial.
As medidas protecionistas aplicadas pelo governo da presidente Cristina Kirchner desde o segundo semestre do ano passado salvaram US$ 988 milhões de produção made in Argentina, segundo indicou um relatório da Confederação Argentina da Média Empresa (Came).
Desse total, 45% correspondem a produtos produzidos no Brasil, principal fornecedor do mercado argentino.
A organização empresarial também sustentou que as medidas impediram a destruição de 560 mil postos de trabalho em 17 províncias argentinas, relativos a 18 setores sensíveis.
O governo Cristina Kirchner, que define as medidas protecionistas como administração de comércio exterior, aplicou uma ampla variedade de ações contra a entrada de produtos importados nos últimos meses. No segundo semestre de 2008, criou o Ministério da Produção e colocou em seu comando a economista Débora Giorgi, famosa por suas posições duras com o Brasil.
As medidas adotadas por Giorgi afetaram principalmente o Brasil, parceiro estratégico da Argentina no Mercosul. Segundo a consultoria Abeceb, ao redor de 14% das vendas brasileiras para o mercado argentino foram atingidas pelas medidas.
Osvaldo Cornide, presidente da Came, sustentou que as medidas impediram a invasão do mercado nacional por produtos estrangeiros.
O amplo leque de medidas protecionistas, que incluem licenças não automáticas, medidas antidumping e valores de referência, evitaram, segundo a Came, o deslocamento de nossos mercados de produtos representativos de 28% da produção nacional.
A Came também retruca as críticas à demora da alfândega para a liberação da entrada de produtos importados. Embora as licenças não automáticas prevejam um prazo máximo de demora de 60 dias, foram denunciados - principalmente por exportadores brasileiros - atrasos de até 180 dias. No entanto, segundo a Came, os atrasos não passam de erros isolados.
A presidente Cristina Kirchner anunciou um plano social que pretende criar 100 mil postos de trabalho. Segundo a presidente, o governo destinará, de forma urgente, US$ 390 milhões para a criação de cooperativas de 50 a 70 trabalhadores cada uma.
Essas cooperativas realizarão trabalhos comunitários em conjunto com os municípios da Província de Buenos Aires, que concentra 40% da população argentina e é responsável por um terço do PIB do país.
Organização Mundial do Comércio (OMC)
a) Brasil prepara contencioso contra a UE por causa de remédios genéricos
O Brasil prepara um contencioso contra a União Europeia (UE) na Organização Mundial do Comércio (OMC), que tem como pano de fundo o desenvolvimento da produção de remédios genéricos nos países em desenvolvimento.
Brasília acusa os europeus de apreenderem sistematicamente genéricos em trânsito para países em desenvolvimento, violando o direito, pelas regras da OMC, que toda nação tem de importar esses remédios, que são mais baratos e estão livres de patentes.
A ação europeia é vista como desestabilizadora quando se considera que vários remédios produzidos por grandes laboratórios, gerando US$ 30 bilhões em vendas anuais, vão perder suas patentes nos próximos anos. Um número importante de patentes vai cair em domínio público e é evidente que haverá mais produção de genéricos, afirmou o embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo. Essas incertezas no trânsito de genéricos pela Europa são prejudiciais e violam obrigações previstas no Acordo de Trips (patentes).
O governo brasileiro prepara as bases jurídicas do contencioso, ao mesmo tempo em que aguarda resultado concreto nas consultas informais que estão ocorrendo com os europeus. No caso de acionar a OMC, para uma primeira rodada de consulta formal, o país já precisará delimitar o contencioso com os artigos dos acordos internacionais que estariam sendo violados e os regulamentos questionados.
Azevedo disse que, se Bruxelas não mudar logo sua legislação e prática que estão sendo usadas por companhias farmacêuticas para deter os genéricos em trânsito pela Europa, então só nos resta levar o caso à OMC. Parece certo que terá a companhia da Índia, grande produtor de genéricos. Nova Déli acusando Bruxelas de desrespeitar as regras internacionais e causar prejuízos para seus produtores.
A briga do Brasil e da Índia com a UE começou este ano com a retenção pela Holanda de uma carga de 570 quilos de losartan potassium, um ingrediente usado na produção de remédios para hipertensão arterial, exportado pela indiana Dr Reddy para a brasileira EMS. A carga foi retida por 36 dias e mandada de volta para a Índia.
Desde então foi revelado que em mais de 20 vezes desde 2008, inspetores da Holanda e da Alemanha apreenderam medicamentos da Índia, alegando violação de regras de patentes da UE, mesmo com os medicamentos não sendo para venda na Europa. As apreensões foram pedidas por laboratórios como o francês Sanofi-Aventis, o suíço Novartis e o americano Eli Lilly. Vemos isso como um ataque à indústria indiana de genéricos, afirmou o subsecretário de Comércio da Índia, Rajeev Kher. A indústria de genéricos indiana faturou US$ 4,9 bilhões no ano passado.
Os europeus defendem o o direito de controlar medicamentos que passam por seu território para combater eventual comércio de remédios falsificados. E insistem que não violaram os acordos da OMC.
Para o Brasil, as retenções fazem parte de uma tentativa dos países desenvolvidos de aumentar exigências na área de propriedade intelectual através de outros órgãos, com a benção de entidades como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Mundial de Aduanas. Na visão brasileira, uma das consequências da prática europeia é elevar o custo dos genéricos, se as cargas tiverem de fazer outras rotas. Estudos indicam que os genéricos no Brasil poderão ocupar 28% do mercado em 2011 e exportações mais tarde não são hipótese a excluir.
b) OMC adia decisão final sobre subsídio dos EUA ao algodão
Pela terceira vez consecutiva, a Organização Mundial do Comércio (OMC) adiará uma decisão final sobre o processo movido pelo Brasil contra os subsídios pagos pelo governo dos Estados Unidos aos produtores de algodão. O Brasil exige US$ 2,5 bilhões como compensação pelas distorções causadas à produção nacional de algodão entre 1999 e 2002.
O anúncio do resultado deveria ser feito esta semana, mas foi adiado. O pretexto, desta vez, é o atraso na tradução da decisão dos árbitros do Órgão de Apelação da OMC para as línguas oficiais do organismo. Até então, havia divergências em torno dos cálculos sobre o valor e as chamadas modalidades da retaliação a que o Brasil teria direito. Agosto é mês de férias na Europa e repartições como a OMC, cuja sede é na Suíça, funcionam em regime de plantão.
Os produtores brasileiros desconfiam que o atraso seja uma nova tentativa dos EUA de dificultar a retaliação. O governo brasileiro acredita na argumentação dos americanos. O processo contra os sete principais programas de subsídios americanos começou em março de 2003. Se considerada a primeira consulta, em setembro de 2002, são quase sete anos de idas e vindas. De lá para cá, o Brasil ganhou o direito de retaliar e a OMC marcou para 30 de abril o anúncio de sua "decisão final". Como a retaliação deveria ser "cruzada", feita por meio de compensações em áreas como propriedade intelectual e serviços, sem incluir bens de produção, os EUA recorreram. A OMC estabeleceu, então, uma nova data: 30 de junho. De novo, os árbitros descumpriram a meta.
Os EUA foram condenados, em março de 2005, a retirar programas de apoio à exportação, mas estariam dispostos a pagar apenas US$ 100 milhões pelos prejuízos. Os brasileiros rejeitam a oferta. "Deve vir abaixo de US$ 1 bilhão, mas o que eles oferecem é ridículo", diz o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Haroldo Cunha. O cálculo considera o período após a implementação da decisão da OMC em favor do Brasil.
Os árbitros entenderam, diz ele, que a compensação ao Brasil deveria ser só a partir de 2005, e não entre 1999 e 2002, quando os subsídios distorcivos dos EUA somaram US$ 12,75 bilhões. "Eles consideraram que houve redução nos subsídios diretos. Insistimos nos prejuízos indiretos, como o espaço que deixamos de ocupar em função desses subsídios. Mas isso não está na cabeça dos produtores", avalia. De 2005 para cá, os subsídios caíram. Na soma, ficaram em US$ 7,6 bilhões até 2007.
De Goiânia, Cunha informa ter conversado com o Itamaraty sobre o adiamento. "A embaixada brasileira em Genebra acompanha muito de perto os bastidores dessa decisão. Se for algo para nos prejudicar, saberemos direitinho", afirma. Os advogados dos produtores brasileiros provaram que os EUA concederam subsídios ilegais aos seus cotonicultores. Em 1999, por exemplo, 45% da receita dos produtores americanos resultou desses subsídios de sete programas oficiais do governo. Em 2002, esse índice chegou a 42%, segundo informações dos EUA à OMC.
Plano Internacional
a) Unasul cobra Colômbia e diz que não reconhecerá eleição em Honduras
Ao menos um indicativo de ação da Unasul (União das Nações da América do Sul): a organização não vai reconhecer os resultados eleitorais de Honduras, caso o pleito seja conduzido pelo governo interino do país. Quem disse foi a presidente chilena, Michelle Bachelet, durante o discurso em que transferiu a presidência rotativa da Unasul para o equatoriano Rafael Correa.
A reunião dos presidentes da organização, em Quito, ficou marcada pela polêmica em relação ao acordo militar entre Colômbia e EUA, que permite o uso de bases colombianas por soldados americanos. A Unasul pediu explicações de colombianos e americanos, cogitou convocar uma cúpula para discutir a situação, mas evitou uma declaração de repúdio como queriam Venezuela e Equador.
Segundo Bachelet, a consolidação da democracia é o mais importante dos desafio da Unasul. A América Latina vive o paradoxo de desfrutar do período democrático mais prolongado de sua história, mas alterado por quase 20 interrupções de governos democraticamente eleitos, disse ela na presença do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya. Bachelet disse que o caso do país centro-americano é a lembrança mais recente e advertiu que não basta realizar eleições periódicas. Ela disse que as eleições de dezembro, que serão conduzidas pelo governo que depôs Zelaya em 28 de junho, não serão reconhecidas pela organização.
No México, o presidente dos EUA, Barack Obama, usou o termo golpe pela primeira vez para descrever a derrubada de Zelaya. Mas não houve menção a um eventual não reconhecimento das eleições.
Em Quito, a reunião da Unasul terminou sem um pronunciamento comum sobre o acordo militar negociado entre a Colômbia e os EUA, o qual, segundo o presidente venezuelano, Hugo Chávez, pode levar a uma guerra regional.
Embora não estivesse no roteiro da reunião, da qual o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, foi o grande ausente, Chávez provocou o debate sobre as bases militares para advertir sobre a possibilidade de um conflito bélico se os EUA formalizarem sua presença na Colômbia. Ventos de guerra começam a soprar, alertou. Ele se queixou diante de seus colegas presidentes de a reunião não ter incluído o assunto na declaração final.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, antecipou a sua volta ao Brasil do Equador em cerca de duas horas sob a alegação de estar preocupado com a saúde do vice-presidente José Alencar.
b) Exportação americana volta a crescer, mas déficit sobe
O déficit comercial dos EUA cresceu em junho menos do que previsto, refletindo a segunda alta consecutiva das exportações, estimulada pelo aquecimento das economias do mundo inteiro.
O déficit aumentou 4%, para US$ 27 bilhões em junho em relação aos US$ 26 bilhões de maio. Esse foi seu nível mais baixo de quase uma década, segundo dados do Departamento do Comércio. As exportações americanas cresceram 2%, ajudadas pelo fortalecimento da demanda por produtos como semicondutores e motores para aviões, enquanto as importações subiram 2,3%, puxadas pelo aumento do petróleo.
Os aumentos tanto das exportações quanto das importações sinalizam que a recessão mundial pode estar chegando ao fim, o que ajuda os EUA a saírem da crise.
As autoridades monetárias do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) se comprometeram em manter as taxas de juros baixas para garantir uma recuperação econômica, depois de encerrar sua reunião de dois dias.
A profunda recessão mundial está arrefecendo, disse Mark Zandi, economista-chefe da Moodys Economy.com. O crescimento está se firmando no exterior e ajudando a dar sustentação a um renascimento das nossas exportações. Se a economia vai crescer mais rápido, terá de ser por meio de maiores vendas a clientes estrangeiros.
As exportações subiram para US$ 125,8 bilhões em junho, em relação aos US$ 123,4 bilhões de maio. As vendas de produtos químicos, combustível e alimentos, além de bens de capital, subiram.
As importações aumentaram para US$ 152,8 bilhões, em relação aos US$ 149,3 bilhões de maio. O preço do petróleo importado saltou de US$ 51,21 o barril para US$ 59,17, sua maior cotação desde novembro do ano passado. Os americanos também compraram mais automóveis, peças e computadores estrangeiros.
Com o Brasil, os EUA tiveram um superávit de US$ 434 milhões, segundo dados brasileiros.