Comércio Exterior
a) Resultados
A balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 653 milhões (média diária de US$ 130,6 milhões) na quarta semana de julho, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento. O saldo representa a diferença entre exportações de US$ 3,424 bilhões (média diária de US$ 684,8 milhões) e importações de US$ 2,771 bilhões (média diária de US$ 554,2 milhões).
No acumulado de julho, a média diária de exportações foi de US$ 639,6 milhões e as importações de US$ 483,8 milhões. Em relação ao mesmo período do mês passado, as exportações recuaram 7,2%, enquanto as importações avançaram 2,3%. Na comparação com o mesmo período de 2008, as quedas são de 28,1% e 35%.
As exportações de semimanufaturados caíram 40,8%, no período, em comparação com o ano passado, as de manufaturados, 32,7%, e as de produtos básicos, 17,4%. Os produtos importados que tiveram as maiores retrações, na mesma comparação, foram adubos e fertilizantes (55,4%), combustíveis e lubrificantes (46,4%) e siderúrgicos (41%).
No acumulado do ano, a balança registra superávit de US$ 16,791 bilhões, saldo 14% maior que os US$ 14,728 bilhões registrados no mesmo período de 2008. As exportações alcançaram US$ 81,464 bilhões (média diária de US$ 581,9 milhões) e as importações bateram US$ 64,673 bilhões (média diária de US$ 462 milhões).
Embora o saldo da balança comercial tenha aumentado, o resultado não é de todo positivo: ele reflete uma retração na corrente de comércio do período (queda de 27,3%) e nas importações (queda de 29,6% na média diária).
b) Brasil ampliará acordo comercial com o Chile
Ainda neste ano, produtos da Zona Franca de Manaus serão incluídos no acordo de livre comércio entre o Mercosul e Chile, e poderão se beneficiar da isenção de tarifas que alcança quase 90% dos produtos comercializados entre Brasil e Chile. Esse é um dos sinais da excelente relação entre os dois países, que deve ser comemorada pelos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Michelle Bachelet, no encontro em São Paulo. Mercadorias produzidas em zonas francas do Chile, a exceção de têxteis, também ganharão ingresso livre no mercado brasileiro.
Os presidentes assinarão um acordo sobre Previdência para garantir aos trabalhadores dos dois países a contagem dos dias de serviço em qualquer dos dois mercados para concessão de benefícios previdenciários. Bachelet deve insistir no convite a empresários brasileiros para investimentos no Chile, com o objetivo de facilitar a exportação a algum dos países com quem os chilenos têm acordos de livre comércio. Os industriais brasileiros já identificaram nichos, como a produção de alimentos industrializados voltados ao complexo mercado do Japão, que tem tradição de importar do Chile.
Com uma agenda em que são raros os conflitos e onde consta a sugestão chilena de estabelecer uma parceira estratégica, Lula deve cobrar de Bachelet, porém, uma decisão sobre o aumento da adição de etanol à gasolina vendida no país - uma das sugestões brasileiras no programa de cooperação em biocombustíveis que não saiu do papel. Os chilenos, que adicionam apenas 5% de etanol à gasolina, mas também acrescentam aditivos produzidos no país, como subproduto do refino do petróleo bruto importado, devem seguir o exemplo dos Estados Unidos e sugerir ao Brasil que a cooperação sobre o tema se concentre nas pesquisas sobre etanol de segunda geração, extraído de celulose.
Bachelet está disposta a discutir temas de grande interesse do Brasil, como a convergência no sistema de TV digital japonês, e chega ao país com quatro ministros e uma grande missão de empresários encabeçada por Andrés Concha, presidente da Sociedade de Fomento Fabril (Sofofa), equivalente, com alcance nacional, à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Os presidentes devem dar impulso às negociações dos diplomatas para estabelecer, com o Chile, um modelo de acordo de promoção de investimentos, que dê alguma segurança às empresas com interesses no mercado de cada país.
Os investimentos chilenos no Brasil somam US$ 8,4 bilhões, US$ 800 milhões dos quais ingressados no Brasil nos últimos 12 meses. Um dos investidores brasileiros é a Petrobras, que comprou no mercado chileno a rede de distribuidores que pertencia à Exxon. A presença da Petrobras, acreditam os próprios chilenos, poderá ajudar o Brasil, no futuro, a convencer os chilenos a acrescentar maior percentual de etanol à gasolina.
O governo do Chile, que tem acordos de proteção a investimentos com a Argentina e o Uruguai, queria firmar um semelhante com o Brasil, mas foi desencorajado pelo governo brasileiro, que, por impedimento constitucional, rejeita cláusulas integrantes desse tipo de acordo - uma delas a possibilidade de ações de empresas diretamente contra ações dos governos que considerem prejudiciais a seus interesses. Os países começaram a negociar uma alternativa, que preveja estímulo a investimentos nos dois países e assegure estabilidade de regras, de maneira mais branda que nos acordos tradicionais.
Os chilenos querem discutir com o Brasil acordos de segunda geração, como os de cooperação entre as alfândegas, para constituição de operadores alfandegários autorizados, agentes privados que darão mais rapidez aos trâmites burocráticos no comércio exterior. Os dois presidentes deverão discutir também a concretização do corredor bioceânico que ligará portos de ambos os países, atravessando a Bolívia. As dificuldades orçamentárias do governo boliviano impediram a conclusão das obras do corredor viário, que Lula e Bachelet querem inaugurar ainda neste ano. Eles devem discutir maneiras de apoiar a Bolívia para a construção do trecho de rodovia que falta.
c) Libra fecha compra do terminal-33 da Cargill
O Grupo Libra fechou a compra do Terminal-33 do porto de Santos, especializado na exportação de açúcar ensacado. As negociações com o vendedor, o Terminal de Exportação de Açúcar do Guarujá (Teag), controlado por Cargill e Crystalsev, levaram mais de nove meses. Com a aquisição, o Libra abre caminho para criar um grande terminal integrado em Santos com potencial para duplicar a capacidade operacional do grupo no porto.
O valor da aquisição não foi revelado, mas estimativas de mercado apontam que o T-33 deverá acrescentar R$ 100 milhões por ano à receita do grupo. Em 2009, o Libra deve faturar entre R$ 850 milhões e R$ 900 milhões, dos quais a unidade de negócios de terminais de contêineres responde por cerca de 70% do total. Em 2008, o grupo faturou R$ 870 milhões.
O Libra tem terminais de contêineres no Rio e em Santos. Só em Santos o grupo tem capacidade de movimentar 900 mil TEUs (contêiner equivalente a 20 pés) por ano. No porto, o grupo detém os terminais T-34, T-35, T-36 e T-37. O T-33, com 33 mil metros quadrados de área e 260 metros de berço para atracação de navios, é contíguo aos terminais de contêineres da Libra. A ideia é integrar o T-33 aos demais terminais do grupo no porto, disse ao Valor o presidente do Grupo Libra, Marcelo Malta Araújo.
"Vamos manter e expandir a operação do T-33", disse o executivo. O objetivo é levar o terminal a trabalhar com outros produtos além do açúcar, caso de cargas especiais e de projetos (partes e componentes de indústrias, por exemplo). O T-33 tem capacidade de escoar 850 mil toneladas de açúcar por ano e conta com dois armazéns, cada um de 9 mil metros quadrados. Em um primeiro momento, o terminal não deverá movimentar contêineres, mas no futuro poderá ser importante em operações multimodais de cargas conteinerizadas.
Araújo disse que a estratégia do novo terminal da Libra será desenvolvida em duas etapas. Em uma primeira fase, vai se buscar obter a valorização máxima do novo ativo. Segundo o executivo, o terminal passará a operar 24 horas por dia e haverá investimentos na recuperação do piso e reforço do cais. Mais adiante deverá se buscar a integração do T-33 aos demais terminais do grupo em um projeto que está sendo chamado de "Libra-Santos".
O projeto prevê a extensão dos berços para criar um cais contínuo do T-33 até o T-37. Hoje, o T-35 e o T-37 estão separados por uma faixa de terra ligada ao mar em que não há berço construído. Araújo não quis dar detalhes sobre o projeto Libra-Santos, que já foi apresentado às autoridades portuárias, entre as quais a própria Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp). O executivo disse que a integração dos terminais, quando aprovada, permitiria à Libra duplicar a capacidade de movimentação de cargas em Santos em 24 meses a partir da data da autorização pela autoridade portuária.
No mercado comenta-se, porém, que a aprovação do projeto da Libra está condicionada a um acordo sobre dívida que o grupo tem com a Codesp e que se refere a uma discussão jurídica sobre o contrato de concessão do T-35, o qual não foi implementado de acordo com o edital. Uma fonte do setor estimou que o investimento do grupo no projeto Libra-Santos possa situar-se em cerca de R$ 450 milhões.
Foram assinados dois contratos. Um de compra e venda do T-33 entre o Grupo Libra e o Teag. O outro é um aditivo de transferência do contrato de arrendamento firmado entre Codesp, Libra e Teag. O Teag confirmou que foi concluída a negociação de venda do T-33 para o Libra. Em Santos, circularam informações de que a aquisição custaria cerca de R$ 65 milhões ao Libra. Mas Araújo disse que os números divulgados não eram corretos.
A aquisição do T-33 se insere na estratégia do Libra, controlado pelas famílias Borges Torrealba, de reforçar negócios existentes e buscar novas oportunidades. Debaixo da Libra Holding, existem hoje três unidades de negócios: a Libra Terminais, que tem o objetivo de ser líder no segmento de contêineres no Brasil e estimular a consolidação do setor; a Libra Logística, focada em criar uma rede integrada de carga de contêineres no Sul e Sudeste; e a Libra Participações, uma gestora de portfólio em investimentos.
Agronegócio
a) Sinais de desaceleração na exportação de soja do país
As exportações brasileiras de soja ainda devem fechar julho com volumes expressivos, mas poderão cair acentuadamente a partir de agosto em decorrência de perspectivas que apontam para o arrefecimento das importações chinesas e também da redução da oferta doméstica do grão após embarques recordes no primeiro semestre.
Conforme analistas consultados pela Reuters e dados preliminares sobre o movimento nos portos nacionais coletados pela agência, as vendas ao exterior provavelmente ficarão acima das 3 milhões de toneladas neste mês. Apesar desse volume representar apenas metade do recorde apurado em junho, que superou 6 milhões de toneladas, trata-se de um patamar ainda bem superior à média mensal prevista para todo o ano de 2009, que gira em torno de 2 milhões de toneladas.
O Brasil exportou muito para a China (...) Em agosto e setembro, a China não tem tanta necessidade de importar, afirmou Douglas Nakazone, analista da Agroconsult. Segundo ele, nos próximos meses a demanda do país asiático, maior importador de soja do mundo, tende a ficar menos agressiva, entre outros motivos pela proximidade da colheita de sua própria produção, que ganha força em outubro.
Após exportar 19,2 milhões de toneladas de soja no primeiro semestre, 5,5 milhões a mais que no mesmo período de 2008, e considerando-se pelo menos 3 milhões de toneladas em exportações no mês corrente, o Brasil teria disponibilidade para exportar apenas 600 mil toneladas por mês até o fim do ano, mesmo levando-se em conta as previsões de que o país embarcará um recorde de aproximadamente 25 milhões de toneladas em 2009.
A equação demonstra, também, como a oferta começa a ficar mais escassa antes do que o normal no mercado brasileiro, em um ano em que o país, segundo exportador mundial da oleaginosa, acabou ocupando uma parcela adicional do mercado internacional de soja deixada pela Argentina, cuja safra 2008/09 foi seriamente afetada pela seca.
As vendas brasileiras ao exterior também se aceleraram bastante no primeiro semestre porque as cotações e o câmbio, em muitos momentos, estiveram favoráveis para exportações. Agora, além de já não haver no Brasil tanta soja disponível para exportar, as cotações e o câmbio não estão tão empolgantes como antes - o dólar está sendo negociado abaixo de R$ 1,90, menor patamar desde setembro de 2008.
Os poucos negócios fechados na última semana confirmam a expectativa de menores embarques nos próximos meses. A semana foi muito calma. Estamos com uma liquidez muito baixa, especialmente por causa do câmbio, disse Lucílio Alves, analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea/Esalq). O governo deve divulgar os números das exportações de soja e derivados em julho na segunda-feira.
Se o mercado não está tão bom para a soja em grão como nos últimos meses, parece ter melhorado no caso do farelo produzido a partir do esmagamento da oleaginosa, disse uma fonte de uma trading multinacional que trabalha com processamento e exportação da commodity. Segundo a fonte, com as quedas de preços em Chicago em julho, tanto do grão quanto do farelo, as contas estão mais vantajosas para o derivado do que para a matéria-prima.
Em termos de prêmio melhorou muito a situação para o crushing esmagamento, disse a mesma fonte. No início do mês, havia um desconto para embarque em agosto de farelo de soja no porto de Paranaguá (PR) em relação ao respectivo contrato futuro negociado na bolsa de Chicago. Mas no fim da semana passada já havia um prêmio de mais de US$ 20 por tonelada para a exportação do produto. A fonte da trading acrescentou, ainda, que as margens de esmagamento na China estão ruins, já que as importações de grão no primeiro semestre foram feitas a valores elevados.
b) Produtores dos EUA denunciam Citrovita
A Florida Citrus Mutual (FCM), maior associação de produtores de cítricos da Flórida, acusou a processadora brasileira Citrovita de continuar a praticar dumping na exportação de suco de laranja para os Estados Unidos. A organização, que já havia feito uma denúncia formal ao Departamento de Comércio dos Estados Unidos em abril, entrou com uma petição suplementar. A alegação é que a Citrovita, do Grupo Votorantim, vendeu grandes volumes de suco de laranja concentrado e congelado para os Estados Unidos por preços bem abaixo do custo. A prática teria ocorrido pelo menos até maio.
c) Por falta de boi, Brasil deixa novamente de cumprir a cota Hilton
Enquanto a Argentina, onde o governo restringe as exportações de carne bovina, conseguiu cumprir 99,99% de sua fatia da cota Hilton, de 28 mil toneladas, o Brasil, que tem um volume de 5 mil toneladas, só cumpriu 25,32% (1,266 mil toneladas). Os números do volume de cortes nobres destinado ao mercado europeu se referem ao ano-cota 2008/2009, que começou em 1 de julho do ano passado e terminou no último dia 30 de junho.
Novamente, as restrições impostas pela União Europeia à carne brasileira a partir do início de 2008, alegando problemas na rastreabilidade do gado bovino no país, foram a principal razão para o desempenho pífio do Brasil. No ano-cota anterior, o país também não conseguiu cumprir o volume de 5 mil toneladas - exportou 49,62% da cota ou 2.481 toneladas. Mesmo assim o desempenho foi melhor que no último ano, quando além da menor oferta de animais para abate, frigoríficos em dificuldades financeiras deixaram de exportar as suas fatias na cota Hilton, caso do Independência.
A pergunta agora é como o Brasil conseguirá cumprir a cota adicional de 5 mil toneladas de Hilton, que acaba de obter como compensação pelas perdas que registrou depois da entrada de Bulgária e Romênia na UE em 2007, se não foi capaz de exportar nem as 5 mil toneladas que já tinha?
Tudo depende da flexibilização das regras da UE para que haja mais fazendas para exportar, afirma Otávio Cançado, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne bovina (Abiec). Ele se refere à regra da UE que prevê que só uma lista restrita de fazendas rastreadas e certificadas podem fornecer animais para abate e exportação da carne ao bloco europeu.
Hoje 1.329 fazendas do país estão habilitadas para esse fim. E o número cresce lentamente, já que o sistema de certificação é trabalhoso, rigoroso e burocrático.
O Ministério da Agricultura fala na possibilidade de flexibilização por parte da UE - sem que a segurança do sistema de certificação seja comprometida - há meses. Eventuais mudanças, porém, dependem do resultado da missão da UE que esteve no país para avaliar o sistema de rastreabilidade do gado.
Segundo o presidente do Fórum de Secretários Estaduais, Gilman Viana, a adesão ao processo de rastreabilidade perdeu velocidade, o prêmio para animais rastreados caiu de R$ 12 para R$ 8 por arroba. Mas o secretário de Minas diz que há sinais claros de retomada. Os frigoríficos demonstram interesse, a UE já começa a pagar melhor e o sinal de retomada é claro, ainda que sem impactos bruscos.
Além da escassez de animais rastreados para abate para a UE, outro fator que pode ter afetado as exportações brasileiras na Hilton no último ano foi a decisão do bloco de suspender as compras de carne bovina congelada dentro da cota, restringindo as importações aos cortes frescos e refrigerados. A medida atrapalhou a distribuição das cotas para os frigoríficos.
Com pouco animal para abate, ficou difícil formar os lotes de carne resfriada, diz Cançado. Segundo ele, o acordo sobre a compensação pela entrada da Bulgária e Romênia na UE deve revisar a decisão sobre a carne congelada, que voltaria a poder ser exportada dentro da cota.
Apesar de chamar a atenção, os quase 100% obtidos pela Argentina no cumprimento da cota Hilton precisam ser relativizados. Conforme um executivo da indústria brasileira, os argentinos fizeram um grande esforço para manter a imagem de quão estratégica as exportações de cortes da Hilton são para o país. Assim, quando perceberam que teriam dificuldade de cumpri-la com cortes nobres, incluíram na cota cortes que normalmente não são contemplados, como coxão mole e coxão duro, de animais que atendem as especificações definidas pela Hilton.
Exportar menos na cota Hilton significa perda de receita. Os cortes vendidos dentro da cota pagam tarifa de 20%, enquanto no extracota há imposto de 12, 8 %, mais € 3.041 por tonelada. Com tarifa menor, é possível obter prêmio de cerca de US$ 3 mil por tonelada sobre o extracota.
Mercosul
a) Lobão descarta reajuste de energia por causa do acordo com o Paraguai
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, garantiu que as tarifas de energia não serão reajustadas por conta do acordo fechado entre o governo brasileiro e paraguaio no último fim de semana. Lobão disse que o Ministério da Fazenda está estudando o impacto da medida, mas disse que a saída provavelmente será a alteração no cálculo dos juros da dívida.
O governo estuda mecanismos para alterar de US$ 120 milhões para US$ 360 milhões o lucro do governo paraguaio com a Itaipu Binacional. O ministro negou, contudo, que uma das propostas seja o alongamento da dívida. Ela continua sendo quitada até 2023.
Durante reunião da coordenação política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deu detalhes técnicos, mas ressaltou os ganhos políticos com o acordo fechado por ele e pelo presidente do Paraguai Fernando Lugo. Segundo Lula, o êxito nas negociações representou um avanço nas relações com o país vizinho. No meu discurso, disse que subimos um degrau na relação com o Paraguai. Estamos apostando na melhora não só com o Paraguai, mas com todos os países vizinhos para estabelecermos um desenvolvimento conjunto na região, disse Lula, segundo relato do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.
Lula destacou não apenas o acerto em torno de Itaipu, mas as propostas de investimento em infraestrutura no parceiro do Mercosul. Vamos investir nas pontes, na construção de uma linha de transmissão, que foi muito comemorada no Paraguai.
O presidente ressaltou também o investimento conjunto na construção de uma cimenteira, uma parceria da Camargo Corrêa e da Votorantim. Será um investimento de US$ 100 milhões, que trará um impacto muito grande. Será o maior investimento privado da história do Paraguai, destacou o presidente. Lula prometeu aos presentes que trará, na próxima reunião de coordenação, os negociadores do governo para fazerem um relato sobre os termos técnicos do acordo.
b) Empresários querem retaliações à Argentina
No primeiro dia da reunião entre Brasil e Argentina, os setores de calçados e móveis cobraram do governo brasileiro uma atitude mais enérgica. Dois meses depois de se comprometerem a limitar suas exportações, os empresários continuam sofrendo com o atraso do sócio do Mercosul para liberar licenças de importação.
Não é possível ficar três meses negociando um acordo; eles não cumprem e fica por isso mesmo. Não volto à Argentina para negociar mais nada, disse José Luiz Diaz Fernandez, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Móveis (Abimóvel), que esteve em cinco reuniões, três delas em Buenos Aires. O setor concordou em reduzir as exportações em 35% este ano, mas as licenças de importação continuam paradas.
A reunião da comissão de monitoramento do comércio é o quinto encontro este ano, e o clima é de descrença. O setor privado brasileiro acredita que o modelo está esgotado porque os argentinos dificultam as negociação ou não cumprem os acordos fechados.
Por conta do mau tempo em Buenos Aires, o voo atrasou e os argentinos chegaram três horas depois do previsto. As reuniões dos setores têxtil e de pneus começaram às 18 horas. Boa parte dos encontros foi adiada, como os que discutiram celulares, brinquedos, embreagens, baterias e o do comitê automotivo.
Segundo Eugênio Deliberato, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Pneumáticos (Anip), os argentinos prometeram reduzir a burocracia para a importação de pneus, mas não foi estabelecida nenhuma cota. Um novo encontro ficou marcado para daqui a um mês. Vamos esperar que cumpram o acerto, disse. Foi a primeira reunião do setor sobre o tema.
Os setores de móveis, calçados e leite conversaram com o secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho. O subsecretário de Política e Gestão Comercial do Ministério da Produção da Argentina, Eduardo Bianchi, não havia chegado. Eles aguardam a posição do governo argentino.
Estamos no final da temporada de inverno no setor de calçados. O que não foi feito até agora não vai mais, disse Heitor Klein, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria Calçadista (Abicalçados).
Segundo ele, quando o acordo foi selado, os argentinos prometeram liberar licenças de importação para 2,5 milhões de pares entre junho e julho, mas não fizeram nem a metade.
Segundo os empresários, Ramalho disse que o problema chegou ao alto escalão do governo e contou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamou com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, na semana passada. Os empresários pedem ao governo brasileiro que retalie a Argentina ou recorra à Organização Mundial de Comércio (OMC).
c) Argentina já agiliza a liberação de importados
Apesar da perda de mercado dos manufaturados brasileiros no mercado argentino, o secretário de Comércio Exterior, Ivan Ramalho, informou que a Argentina intensificou a liberação de importação em julho e tem cumprido os acordos para calçados e móveis. A informação foi dada após uma rodada de negociações de vários setores que participam do comércio entre os dois países. A principal queixa dos exportadores brasileiros é sobre o desvio de comércio resultante da demora na liberação das importação de produtos brasileiros pela Argentina. As queixas começaram depois que o país vizinho intensificou a aplicação da licença não automática.
Segundo o subsecretário de política e gestão comercial da Argentina, Eduardo Bianchi, em julho a Argentina liberou, até o dia 27, licenças para importação de mais de 1,1 milhão de pares de calçados. O volume foi obtido com uma intensificação no ritmo de liberação na segunda quinzena do mês. Até dia 15, a Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados), contabilizava liberação de cerca de 300 mil pares pela Argentina. Esses novos dados demonstram que o acordo fechado para o setor, de importação pela Argentina de 15 milhões de pares em 2009, está sendo cumprido, disse Ramalho.
Bianchi destacou, também em julho, a liberação de 173 mil unidades de móveis e de 205 mil unidades de pneumáticos, o que significa, segundo ele, uma importação muito próxima à média mensal do primeiro semestre de 2008, antes da implantação das licenças não automáticas. Bianchi disse que a Argentina manterá o compromisso de continuar liberando rapidamente as licenças.
Para Heitor Klein, presidente da Abicalçados, com as liberações feitas desde o dia 15, o país vizinho cumpriu 94% do acordo estabelecido. Nós estamos agora com os termos do entendimento completos e cumpridos. Resta saber se isso continuará até o final do ano. Segundo ele, se a Argentina realmente respeitar os termos e agilizar as autorizações nos próximos meses, será fácil superar o acordo. Se não tivessem restringido nossas exportações, certamente superaríamos 25 milhões de pares vendidos.
Ramalho disse que os números apresentados por Bianchi demonstram que as exportações brasileiras ao país vizinho caíram porque a Argentina passou a importar menos. Os números divulgados por Bianchi, porém, mostram que o Brasil perdeu espaço para os chineses nas importações argentinas. No acumulado de janeiro a maio de 2009, o Brasil foi o fornecedor de 45% dos calçados importados pela Argentina enquanto a China vendeu 39% do total. Em 2008 a participação era, respectivamente, de 57% e 29%.
Ramalho disse, porém, que as importações liberadas em julho não foram incluídas no levantamento. Bianchi lembrou ainda que a Argentina passou a aplicar em julho um direito provisório antidumping aos calçados não esportivos chineses. Por esse direito, cada par de calçado paga US$ 15,50 para ser desembarcado. Para Bianchi, a medida vai evitar a entrada de 3 milhões de pares chineses na Argentina.
Para Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), ainda é imprevisível o prazo de liberação das licenças. O prazo de 60 dias não tem sido cumprido. Liberar licenças a toque de caixa não resolve. Precisamos de previsibilidade. Queremos saber se a Argentina vai liberar as importações em 60 ou 70 dias para conseguirmos exportar. O setor têxtil ainda não tem acordo. Segundo Pimentel, o segmento começou a negociar exportações de toalhas e lençóis. A proposta da Argentina, segundo ele, é reduzir entre 20% e 30% os valores vendidos em 2008. O setor deve dar resposta em 15 dias.
d) Uruguai atrai capital argentino em fuga
Com a fuga de capitais já ultrapassando os US$ 43 bilhões desde 2007, o governo argentino se esforça para tapar os buracos por onde sai o dinheiro do país. As ações, envolvendo o Banco Central, a Afip (a Receita Federal argentina) e a CNV (a Comissão de Valores Mobiliários), se intensificaram neste ano com resultados mínimos. Nesta luta, um dos principais adversários do governo argentino é o vizinho Uruguai, para onde segue boa parte do dinheiro tirado do país pelos argentinos.
Calcula-se que pessoas físicas e jurídicas tenham US$ 150 bilhões fora do país, espalhados em contas bancárias e investimentos em todo planeta. É um valor bem maior que o de seis anos atrás, quando houve a grande crise de 2002. Naquele ano, o volume expatriado foi estimado em US$ 101 bilhões. Há uma parte do dinheiro retirado do controle oficial que nem saiu do país, ficou guardado em cofres nos bancos locais ou no que aqui se conhece como colchón bank, ou seja, debaixo do colchão, modo de dizer em casa. Estima-se que há perto US$ 30 bilhões guardados em cofres, porém ninguém sabe o valor exato. O Banco Central não tem controle dos cofres bancários, que são considerados serviços e não são regulados, disse ao Valor a assessoria de imprensa do BC argentino.
As cifras são muito maiores que os US$ 43 bilhões, já que este é o valor de recursos sobre os quais a autoridade monetária tem controle, ou seja, não considera o mercado paralelo.
Praticamente metade daquele total, segundo o BC, saiu pela compra direta e legal pelas casas de câmbio autorizadas a operar; a segunda maior parte, cerca de US$ 12,5 bilhões, saiu por transferência autorizada a bancos no exterior. Outros US$ 10 bilhões se dividem entre depósitos em moeda estrangeira nos bancos locais e operações no mercado de capitais.
O desvio de dinheiro da Argentina para o Uruguai vem crescendo. De acordo com dados do Banco Central do Uruguai (BCU), os depósitos de não-residentes no país correspondem a 20% dos depósitos bancários totais no sistema bancário privado. Técnicos do BCU informam que entre 85% e 90% dos depósitos de não-residentes são de argentinos e de 5% a 10% são de brasileiros.
O crescimento dos depósitos de não residentes se acelerou do ano passado para cá como efeito da deterioração do clima político na Argentina. Começou com a disputa entre o governo e os agricultores por causa de um decreto que aumentou a tributação sobre as exportações de grãos - que paralisou o país por cinco meses até que o decreto foi derrubado no Congresso. No fim do ano, com a estatização dos fundos de pensão, mais dinheiro atravessou o Rio da Prata.
Nos 12 meses que antecederam junho de 2009, os depósitos de não-residentes nos bancos uruguaios aumentaram quase 40%, contra um avanço de 18,5% no mesmo período do ano anterior. Essa foi a resposta dos argentinos à ameaça do casal Néstor e Cristina Kirchner, que governa o país desde 2003, de que, se perdessem as eleições legislativas de 28 de junho, o voltaria o caos da crise de 2002. Por fim, eles perderam as eleições, mas o caos de que eles falaram ainda não se materializou.
Obviamente, não são apenas as pessoas físicas que tiram dinheiro em massa do país: a Afip está investigando 2.200 grandes empresas de mais de 60 setores por subfaturamento de exportações por meio de paraísos fiscais. O titular da Afip, Ricardo Etchegaray, explicou durante um seminário realizado em maio, em Buenos Aires, que essas empresas registram exportações fisicamente na Europa, EUA, Japão, mas faturam em países como Uruguai, Ilhas Cayman e Luxemburgo que, segundo ele, resistem a dar informação.
Segundo um advogado argentino que pediu para não ser identificado, investidores pessoas física e jurídica se utilizam de um instrumento previsto na lei uruguaia que é a Sociedade Anônima Financeira de Investimento (Safi), uma entidade que não é obrigada a identificar os sócios, sendo portanto um veículo perfeito para evasão de impostos e divisas de argentinos no Uruguai.
Outro caminho é via mercado de capitais. Através de uma operação muito comum na City portenha, conhecida como (contado) à vista com liquidação, investidores compram legalmente, em pesos, nos bancos e corretoras, títulos públicos e privados (ações e bônus) locais que tenham cotação em dólar e sejam negociados em outras praças como Nova York e Madri. Os papéis mais procurados para essa finalidade são os títulos do tesouro argentino Boden 2012, em dólares, e Discount, em pesos, e ações de empresas multinacionais como as do grupo Techint e Telecom Argentina. Num segundo momento, os papéis são vendidos no exterior em dólares e o dinheiro é depositado em outro país, na Europa, nos Estados Unidos ou em algum paraíso fiscal.
Para fechar essa brecha, em maio a CNV determinou, através da Resolução 544, que as corretoras de valores e demais participantes na intermediação de títulos só podem realizar operações dentro do âmbito da oferta pública quando estas sejam efetuadas ou ordenadas por pessoas constituídas, domiciliadas ou residentes em jurisdições que não seja, classificadas pelas leis internas como paraísos fiscais. E, mesmo que o local não seja um paraíso fiscal, deve estar sujeito à fiscalização de um órgão que mantenha algum memorando de entendimento, cooperação e intercâmbio de informação com a CNV. Outra medida foi obrigar os investidores a segurarem papéis adquiridos na bolsa local por pelo menos 72 horas antes de revendê-los.
A última tentativa de fechar o cerco à saída de capitais (impostos e divisas estrangeiras) foi dificultar a venda no varejo - que, aliás, já não é muito fácil pelos limites individuais e a burocracia. A partir de setembro, para comprar moeda estrangeira em qualquer casa de câmbio, será exigido que o comprador comprove renda suficiente, não apenas com um contracheque, mas pela declaração anual do Imposto de Renda apresentada à Afip. Esse dado será comprovado on-line, através da base disponível na página da Afip na internet.
Quando se apresentar ao balcão da casa de câmbio, o comprador terá que apresentar seu DNI, equivalente ao RG brasileiro, e o CUIT/CUIL, o CPF argentino. Ao digitar os números no computador, a casa de câmbio vai informar o valor pedido e a Afip vai responder, com base nas informações da declaração anual, se o comprador pode ou não levar a quantia que está pedindo.
Para Arturo Piano, diretor do Banco Piano, a medida só vai atrapalhar o negócio de câmbio no varejo, que representa apenas 1% dos negócios de câmbio no país. As pessoas comuns não têm acesso a contas no exterior e é insignificante para o movimento de câmbio do país, diz o empresário. O Banco Piano é o que mais faz operações de câmbio na Argentina: 120 mil a 140 mil operações mensais. Para Arturo Piano, a única medida para frear a fuga de capitais é um choque de confiança, que hoje este país não tem. Não seria nada simples, admite, nem poderia ser uma única ação. A lista é longa: teria que reabrir o diálogo com o campo, mas um diálogo que seja construtivo de fato e não o que tem os visto ultimamente, que começa e não se concretiza. Teria que acertar as contas com os hold outs (investidores internacionais detentores de bônus que não entraram na renegociação da dívida de 2005) e com o Clube de Paris; retomar as relações com EUA e melhorar com nossos vizinhos do Mercosul.
e) EUA querem acordo em separado com uruguaios
Em meio a mais uma crise no Mercosul, representantes dos Estados Unidos dão sinais ao Uruguai de que querem conceder preferências tarifárias a seus produtos e, assim, voltar a ter uma maior influência no Cone Sul. A medida seria um primeiro passo de um esforço para voltar a ganhar o espaço que a China está tomando dos americanos e ainda pressionar o Brasil a uma maior abertura.
Pelas regras do Mercosul, os países do bloco não podem ter acordos comerciais isolados. Mas Washington propõe que apenas o seu mercado seja aberto a produtos uruguaios.
A posição do Uruguai no Mercosul provocou polêmica há dois anos, quando Montevidéu alertou que não estava se beneficiando do bloco e queria negociar com mais países. Agora, os uruguaios ainda sofrem barreiras na exportação de leite ao Brasil e limitações no comércio com a Argentina. Informalmente, a diplomacia uruguaia insiste que o Mercosul não cumpre seus objetivos e países pequenos estão sendo afetados.
Neste mês, o senador republicano Richard Lugar fez uma proposta aos demais senadores para que os Estados Unidos reduzam ou até eliminem tarifas de importação para bens do Uruguai. O tema agora está sendo avaliado. Diante da recessão, qualquer proposta de abertura é vista com desconfiança pelo setor privado nos EUA.
Mas a proposta tem um tom mais político que comercial. Driblaria os acordos no Mercosul e serviria de trampolim político para que os americanos voltem ao Cone Sul com maior influência comercial. Lugar não esconde que o projeto tem objetivos estratégicos. Preferências devem ser usadas estrategicamente para que possamos fazer avançar nossos objetivos de política externa, disse o senador na carta aos congressistas.
O Uruguai, pelo menos por enquanto, não teria de fazer concessões a produtos americanos. Portanto, a tarifa de importação - comum a todos os países do Mercosul - não seria revista. Com isso, os americanos evitariam resistências no Mercosul e ao mesmo tempo atrairiam o Uruguai.
O tema, encaminhado ao Comitê de Relações Exteriores do Senado americano, promete ser polêmico no Mercosul. A diplomacia uruguaia informou que o presidente Tabaré Vázquez acompanha de perto o assunto. Em Montevidéu, diplomatas dizem que a proposta deve esperar a conclusão do processo eleitoral no Uruguai.
Lugar pediu um estudo sobre a possibilidade de um acordo, já produzido e intitulado Preferências Tarifárias ao Uruguai: uma oportunidade estratégica no Cone Sul. Para Montevidéu, o governo não teria de esperar um sinal verde do Mercosul. O estudo indica que essa seria a chance do Uruguai para diversificar seu comércio.
Para os americanos, o estudo indica que a entrada de bens uruguaios não afetaria nem a balança comercial nem o interesse setorial, já que os volumes são pequenos e não atingem 1% do comércio americano. Estrategicamente, porém, o acordo poderia ser vantajoso. Seria um sinal de que os Estados Unidos não estão cedendo seus interesses na região. O impacto também poderia ser sentido no Brasil. O acordo poderia encorajar alguns governos relutantes a expandir suas relações comerciais com os Estados Unidos, diz o estudo, que cita especificamente o Brasil.
O documento ainda admite que o papel dos EUA como principal parceiro comercial sofreu erosão nos últimos anos, provocado pelo maior comércio da China e pela expansão do Brasil na região. Enquanto os americanos se preparam para novo lobby na região, a diplomacia uruguaia não esconde sua decepção com a última cúpula do Mercosul, tanto em termos políticos como em relação às barreiras que se proliferam na Argentina e também no Brasil.
f) Acordo entre Mercosul e UE vira prioridade
A negociação de um acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia passou a ter, para o Brasil, prioridade maior que as discussões de liberalização comercial na Organização Mundial de Comércio (OMC), anunciou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Discretamente, com pedidos de sigilo por parte dos europeus, para não criar expectativas, União Europeia e Mercosul terão uma reunião reservada na primeira semana de novembro, para avaliar como retomar as discussões interrompidas em julho do ano passado.
"Não vemos com clareza nenhum sinal de que os atores principais estejam engajados na Rodada de Doha", comentou Amorim, ao receber o ministro de Relações Exteriores da Espanha, Miguel-Ángel Moratinos, mencionando a rodada de liberalização na OMC, iniciada em Doha, capital do Catar. "Temos de concentrar mais esforços no acordo Mercosul-União Europeia", declarou, lamentando a falta de avanços na OMC, num momento de crise, em que é necessário tomar medidas para evitar aumento do protecionismo. "Essas incertezas em relação à rodada nos obrigam a buscar esse acordo."
Moratinos concordou e anunciou a disposição dos espanhóis de incentivar negociações para um acordo ainda na presidência temporária da Espanha na União Europeia, no primeiro semestre de 2010. Europeus e integrantes do Mercosul já vem discutindo o assunto desde junho, quando realizaram uma reunião reservada em Lisboa e marcaram a próxima para novembro, quando assume a nova Comissão Europeia.
Os europeus dizem que só será possível retomar as negociações se ficar claro que se pode concluir um acordo em uma "janela de oportunidade" de seis a oito meses.
"Há vontade política do Brasil e Espanha", comentou Moratinos, lembrando que a Argentina, que presidirá o Mercosul em 2010, também diz estar comprometidas em buscar o acordo em pouco tempo. O governo brasileiro avalia que só será possível um acordo se os europeus mudarem de estratégia e deixarem de exigir o alto grau de concessões em matéria de redução de barreiras ao comércio de produtos industrializados. O Mercosul já aceitou limitar as cotas para produtos como carne e leite em suas reivindicações de abertura no mercado agrícola europeu.
Amorim disse que será possível um acordo se houver "pragmatismo" dos negociadores, como os europeus demonstraram ao fazer acordo com os países andinos, com quem negociaram "flexibilidades" variáveis conforme cada país. "Se houver necessidade de maior flexibilidade para um país em determinado momento, se ajudar na concepção do acordo, seria algo importante", disse Amorim, já indicando que sócios do Mercosul querem participar do acordo com menores concessões que o Brasil.
Segundo Amorim, há uma "conjugação de fatos" que podem facilitar um acordo, nas negociações que foram paralisadas desde o ano passado: a maior disposição da União Europeia a acordos com cláusulas especiais para alguns países, a crise mundial, "e a própria demora na conclusão de Doha".
Os brasileiros temem, porém, que a União Europeia volte à mesa exigindo decisões mais ambiciosas sobre propriedade intelectual e regras de proteção a investimentos, no modelo que se tentou sem êxito na fracassada Área de Livre Comércio das Américas. O fato de que os negociadores concordam em restringir as discussões aos temas de acesso de produtos aos respectivos mercados é um fator positivo, disse Amorim.
Moratinos afirmou que está muito otimista em alcançar um acordo cujos parâmetros serão estabelecidos "após o verão" europeu, neste semestre. Mas indicou que os europeus querem tirar a ênfase sobre venda e compra de mercadorias e estabelecer novos parâmetros de negociação. Os acordos do século XXI não podem se concentrar "na exportação ou importação de carnes ou produtos agrícolas", mas em cooperação para estimular investimentos e fundos especiais destinados a fomentar o desenvolvimento, disse.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC)
a) Crise inviabiliza acordo rápido sobre Doha, diz Índia
Uma autoridade do governo da Índia frustrou a expectativa de retomada das negociações sobre comércio global ao dizer que a recessão econômica afetou a determinação de chegar a um acordo.
Rahul Khullar, vice-ministro de Comércio da Índia, disse que o acordo na rodada Doha da OMC (Organização Mundial do Comércio) estará fora do alcance enquanto os líderes políticos do mundo continuarem enfrentando indignação pública nos seus países pela perda de postos de trabalho e pelo baixo crescimento econômico.
A avaliação limita a pretensão do reunião ministerial prevista para Nova Déli e da debate do G-20, que se reunirá em setembro nos EUA. Havia expectativa de que esses eventos poderiam revitalizar a estagnada negociação e ajudar a estimular a economia mundial.
As palavras de Khullar, o principal negociador comercial indiano, lançam dúvida sobre a iniciativa de Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, de fechar o acordo em 2010, após nove anos de negociação.
Khullar disse: Avalio que os líderes políticos passarão por um mau bocado tentando vender um acordo de comércio global.
Se não vislumbrarmos uma retomada econômica rapidamente, nos próximos dois trimestres, não haverá uma nova movimentação política em torno do comércio.
O indiano disse que uma mudança da guarda à mesa de negociações, entre embaixadores na OMC em Genebra e líderes de países poderosos em comércio, fez o processo retroceder. A Índia substituiu o ministro do Comércio, Kamal Nath, veterano de negociações na OMC, por Anand Sharma.
As negociações têm a ver com pessoas. O jogo mudou. Boa parte das pessoas que estavam até julho se foram. Negociar tem relação com o nível de confiança que deposito ou não deposito em você.
A Índia, junto com EUA, UE e Brasil, tem participado no núcleo do grupo negociador na OMC e vista como um dos mais resistentes entre os países importantes nas discussões sobre comércio.
Nath foi acusado por alguns pelo colapso das negociações em julho do ano passado, por sua insistência em cortes mais profundos nos subsídios agrícolas dos EUA e em maior liberdade de ação para as economias pobres protegerem seus agricultores.
Desde que assumiu, em junho, Sharma manifestou o desejo de retomar as negociações rapidamente. Um diplomata disse ontem, porém, que o propósito dos próximos encontros estaria em dúvida se as expectativas forem baixas.
Outra preocupação é com o nível de compromisso de Washington. Hillary Clinton, a secretária de Estado dos EUA, deu pouca ênfase à retomada das negociações na sua visita a Nova Déli neste mês.
Economistas temem que o fracasso em chegar a um acordo possa elevar o protecionismo. A OMC já detectou essa tendência, apesar da promessa contrária de líderes mundiais.
Plano Internacional
a) Grupos brasileiros crescem em ranking dos maiores do mundo
As grandes empresas brasileiras estão entre as que mais se valorizaram no mundo no primeiro semestre, avançando no ranking das 300 maiores empresas globais, por valor de mercado, elaborado pela consultoria Ernst & Young. O levantamento mostrou a recuperação das empresas depois do ponto mais crítico da crise mundial, no final do ano passado.
O número de empresas brasileiras na lista passou de cinco, em dezembro, para oito, em janeiro, com três delas entre as 100 maiores: Petrobrás (8º lugar), Vale (46º) e Itaú Unibanco (76º). Entre as 300 maiores, ainda aparecem o Bradesco (120º), a AmBev (147º), o Banco do Brasil (204º) e o Banco Santander do Brasil (254º). O estudo tem como base o valor das ações das empresas ao fim do semestre.
A recuperação está muito alinhada com os Brics, disse Paulo Sérgio Dortas, sócio da área de transações corporativas da Ernst & Young, referindo-se ao grupo de países formado por Brasil, Rússia, Índia e China. A Rússia e a China também se recuperaram.
O total de empresas chinesas na lista das 100 maiores passou de oito no fim de 2009 para 11 em junho. No entanto, as três brasileiras entre as 100 maiores foram as que apresentaram a maior valorização, com valor conjunto de US$ 313,8 bilhões. Elas subiram 101%, ficando muito à frente das russas, que acumularam um aumento de 42%, com o segundo melhor resultado entre os países.
A China tem três empresas entre as dez maiores: Petrochina (1º), Industrial and Commercial Bank of China (ICBC) (3º) e China Construction Bank (6º). A operadora de telecomunicações China Mobile (5º) tem sede em Hong Kong. A Petrochina ultrapassou a americana Exxon Mobil, que ocupava o topo da lista no fim do ano passado e passou para o segundo lugar.
A Petrobrás é a única empresa brasileira entre as 10 maiores. Seu valor de mercado passou de US$ 95,895 bilhões para US$ 164,818 bilhões, avançando do 37º para o 8º lugar no ranking. A Vale subiu do 68º para o 46º lugar, com um valor de mercado de US$ 89,317 bilhões, o que equivale a um crescimento de 48% no trimestre. A valorização da Petrobrás e da Vale reflete, em grande parte, a recuperação do mercado de commodities, destacou Dortas.
A alta dos bancos brasileiros, com a entrada de dois deles na lista das 300 maiores empresas, mostra como eles foram pouco afetados pela crise, quando comparados com as instituições de países desenvolvidos. Uma notícia muito boa foi o avanço da AmBev, que está muito mais ligada à situação do País que ao mercado internacional, disse o consultor. É uma empresa que depende mais do mercado interno, e sua recuperação mostra que as classes C, D e E continuam consumindo.
Com base nos dados do estudo, Dortas apontou que já existem sinais de que a retomada do crescimento começa a acontecer mais rápido que o esperado, puxada pelos Brics. O Brasil e a China são os carros-chefe, e estão surpreendendo quem só esperava uma recuperação para 2010.
As empresas americanas e europeias perderam espaço na lista das 300 maiores do primeiro semestre, com um crescimento da Ásia. Apesar de ainda estarem em primeiro lugar, essas economias têm perdido pujança, apontou. O total de empresas americanas entre as 300 maiores manteve-se estável, com perdas de posições para muitas delas, enquanto o número de empresas europeias caiu de 110 para 95. Entre as 100 maiores, a presença europeia passou de 46 para 35 companhias.
Depois de cair 22% no primeiro semestre de 2008 e 33% no segundo, o valor das 300 maiores empresas voltou a crescer, com expansão de 8%, ou US$ 1,1 trilhão. No ano passado, perderam US$ 11,3 trilhões.
b) Pré-sal desperta interesse de americanos
Empresas americanas que fornecem equipamentos e serviços para a indústria do petróleo estão se preparando para participar da exploração da camada pré-sal no Brasil mesmo se as mudanças que forem feitas na legislação brasileira inibirem a entrada de grupos estrangeiros nos novos blocos.
Essas empresas acreditam que a experiência que acumularam no setor oferece vantagens para o Brasil e decidiram lançar uma ofensiva para convencer as autoridades brasileiras disso, assegurando um volume significativo de recursos do governo americano para apoiar sua iniciativa.
Nossas empresas têm grande experiência técnica nessa área e podem oferecer vantagens que competidores de outros países não têm, disse em entrevista ao Valor Fred Hochberg, presidente do Export-Import Bank dos Estados Unidos, a agência oficial de fomento às exportações de produtos americanos.
Em maio, o Ex-Im Bank assinou com a Petrobras um acordo em que se compromete a financiar US$ 2,2 bilhões em compras de bens e serviços de empresas americanas pela estatal brasileira. Nenhum negócio foi fechado até agora, mas a linha de crédito continua aberta no guichê da agência.
Hochberg chega ao Brasil para uma visita de três dias, em que fará contato com empresas e funcionários do governo. Sua agenda prevê encontros com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e executivos da Petrobras e da Vale. Ele assumiu a presidência do Ex-Im Bank há apenas dois meses.
O governo brasileiro está preparando várias mudanças na legislação que regula a exploração de petróleo no país e planeja adotar um novo modelo para os campos do pré-sal. Uma das propostas em discussão prevê a participação obrigatória da Petrobras como operadora de todos os novos blocos, o que daria à estatal maior controle sobre os investimentos que serão realizados e a contratação de fornecedores.
O projeto do governo deverá ser apresentado ao Congresso em agosto. Um dos seus objetivos é evitar que a exploração das gigantescas reservas de petróleo encontradas do pré-sal gere desequilíbrios na balança comercial do país e prejuízos para a indústria nacional, que teme ser passada para trás por fornecedores estrangeiros se não tiver ajuda.
Independentemente do que o governo fizer para administrar suas reservas e a entrada de grupos internacionais no setor, o Brasil vai precisar de plataformas e equipamentos que não tem para explorar esses recursos, afirmou o chefe de operações do Ex-Im Bank, John McAdams. Haverá muitas oportunidades para empresas americanas.
De acordo com o relatório anual da Petrobras, 78% das compras efetuadas pela empresa no ano passado foram feitas no Brasil. O plano de investimentos da companhia estabelece como meta para os próximos anos um índice de conteúdo nacional equivalente a 64% do valor total dos seus projetos.
O Ex-Im Bank ajuda a financiar uma fatia muito pequena do comércio americano, mas sua importância para muitas empresas cresceu com a crise internacional e a contração dos mercados de crédito. A agência viabilizou cerca de US$ 20 bilhões em vendas de produtos americanos no ano passado, quando as exportações dos EUA alcançaram US$ 1,3 trilhão.
O Ex-Im Bank tem atualmente uma carteira de US$ 2,3 bilhões em empréstimos e garantias concedidas ao Brasil. A agência ajudou a financiar nos últimos anos vendas de aviões da Boeing para a Gol e a TAM, helicópteros para a Líder Táxi Aéreo e equipamentos para a Vale e a Petrobras. A importância da agência para o Brasil foi maior na década de 90, quando o acesso do país a outras fontes de financiamento externo era mais restrito.
Hochberg diz ter interesse em financiar a venda de equipamentos para usinas hidrelétricas e outros projetos de interesse do governo e pretende discutir o assunto com Lobão. Mas sua prioridade agora é pôr em uso a linha de crédito aberta para a Petrobras. Estamos ansiosos para ver essa linha aproveitada rapidamente, para que possamos pensar em outros projetos, disse.
O maior cliente da agência americana atualmente é o México, onde sua exposição se aproxima de US$ 8 bilhões. A maior parte desse dinheiro financiou vendas de equipamentos e serviços para a Pemex, a companhia estatal que detém o monopólio da exploração de petróleo do México.
c) Empresários e OEA pedem cautela a Chávez
A decisão do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, de congelar as relações diplomáticas, comerciais e econômicas de seu país com a Colômbia provocou preocupação entre representantes do setor privado colombiano, que ontem solicitaram cautela a ambos os governos. O mesmo pedido foi realizado pelo secretáriogeral da OEA, José Miguel Insulza.
Em Brasília, o chanceler Celso Amorim defendeu maior transparência por parte da Colômbia a respeito do acordo militar firmado com os EUA. Pelo tratado, questionado pelos presidentes da Venezuela e do Equador, está previsto o uso de bases militares em território colombiano.
— Seria bom se a Colômbia dissesse, com transparência, o que é esse acordo, para que possa haver uma discussão — disse Amorim.
Balança comercial é favorável à Colômbia Amanhã, o assessor especial de assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, embarca para Caracas.
Ele terá encontros com autoridades venezuelanas e não está descartada uma passagem por Bogotá.
A Colômbia é um dos principais sócios comerciais da Venezuela e representa cerca de 12% das importações realizadas pelo país vizinho.
No ano passado, o intercâmbio comercial entre os dois países alcançou US$ 7,2 bilhões, com um saldo de US$ 6 bilhões a favor dos colombianos, que exportam diversos produtos para o mercado venezuelano, entre eles alimentos.
— Farei um esforço com meus colegas venezuelanos e com o setor privado para que o relacionamento comercial não seja afetado por problemas políticos — disse o ministro da Agricultura colombiano, Andrés Fernández.
O presidente da Associação Colombiana de Produtores Têxteis, Iván Amaya, disse que seu setor está muito preocupado “pela explosão verbal de Chávez?.
Na esteira de uma recessão mundial, nos primeiros meses deste ano as exportações da Colômbia recuaram em torno de 17% em relação ao mesmo período do ano passado. No entanto, as vendas para a Venezuela caíram apenas 0,8%.
Uma nova crise entre países andinos foi desencadeada pela revelação, por parte das autoridades colombianas, da descoberta de armas suecas compradas pela Venezuela na década de 80 em poder das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Embora o governo do presidente colombiano Álvaro Uribe tenha informado ontem que comunicou a delicada informação às autoridades venezuelanas em junho passado, num encontro privado entre os chanceleres de ambos os países, o presidente Chávez acusou o governo vizinho de irresponsável e disse que a informação foi manipulada pela Colômbia.
Em clima de tensão, o vicepresidente venezuelano, Ramón Carrizález, exigiu ao governo Uribe que mostre as armas encontradas.
O secretário-geral da OEA pediu a Chávez que não adote medidas de retaliação.
— Este problema deve ser resolvido com espírito de conciliação — disse Insulza, durante a XI Cúpula Presidencial de Tuxtla, na Costa Rica.
Crise com meios de comunicação se agrava O conflito entre Chávez e importantes meios de comunicação de seu país se aprofundou.
Foi confirmado que o dono do canal de TV Globovisión, Guillermo Zuloaga, foi proibido de participar de um seminário em Washington, por decisão dos tribunais de seu país. A Globovisión foi acusada de "terrorismo mediático" e enfrenta processos na Conatel.
d) Lula e Bachelet criticam pacto que libera bases colombianas para EUA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente chilena, Michelle Bachelet, pediram que o acordo militar que viabilizaria o uso de bases militares colombianas pelos EUA seja levado para uma discussão regional na União de Nações Sul-Americanas (Unasul).
Apesar de começar seu discurso com um tom conciliador, Lula não disfarçou que a negociação entre Bogotá e Washington o incomodam. Eu posso dizer que, a mim, não agrada mais uma base americana na Colômbia. A mim não agrada, disse, um dia depois de conversar por telefone com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, que está fazendo uma ampla campanha contra o acordo.
As negociações da Colômbia com os EUA foram trazidas a público na semana passada, deteriorando bastante as relações de Bogotá com a Venezuela e o Equador. A tensão chegou ao ápice na terça-feira, quando Chávez rompeu relações com o país vizinho após o governo colombiano acusá-lo de fornecer armas à guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc),
Lula e Bachelet se reuniram em São Paulo, onde começou a visita da presidente chilena ao Brasil. A reunião da Unasul para a qual eles querem que seja levada a discussão sobre o uso das bases colombianas está marcada para o dia 10, em Quito (Equador). Todo mundo junto no dia 10 poderemos ter muita franqueza para conversar e encontrar uma solução, afirmou o brasileiro.
Em referência à Colômbia, Lula disse que ele e Bachelet concordam que a soberania de qualquer país é intocável. Como eu não gostaria que Uribe desse palpite nas coisas que eu faço no Brasil, eu prefiro não dar palpite nas coisas do Uribe, disse. Ele também garantiu que Brasil e Chile trabalharão para que as discussões sobre o novo pacto militar não provoquem conflitos entre os países da região ou com os EUA.
Bachelet foi mais discreta. Disse concordar com as afirmações do presidente brasileiro, mas não manifestou abertamente uma posição sobre a negociação entre colombianos e americanos. Nós respeitamos a soberania de cada país e as decisões que tomam. Mas a reunião da Unasul será um momento oportuno para avaliarmos de que forma essas decisões podem afetar decisões de todos, afirmou. (A Unasul nos permitirá) falarmos com franqueza sobre esse tema (do acordo EUA-Colômbia), pois é certo que outros países estão inquietos com essa situação.
Lula aproveitou a ocasião para dizer que planeja se reunir em algum momento com o presidente dos EUA, Barack Obama, para discutir a Quarta Frota da Marinha americana. A Quarta Frota foi reativada no ano passado, para patrulhar o Atlântico Sul. Contrariado, Lula sugere que tal reativação poderia ter relação com a descoberta do pré-sal.
Lula disse que já havia conversado com o ex-presidente George W. Bush sobre sua intenção de debater o tema. Mandamos uma carta dizendo que não víamos com bons olhos a ideia da Quarta Frota, porque me parece que a linha territorial dela é quase em cima do nosso pré-sal.