20 a 24 de julho de 2009

Comércio Exterior

Resultados
Exportadores poderão usar crédito-prêmio de IPI para quitar dívidas
Brasil e Rússia em discussão
Brasil é o 4º preferido das múltis para investir

Agronegócio

Brasil agora amplia as compras de trigo dos EUA
Exportação de açúcar cresce 53% e bate recorde
Açúcar já paga 68% a mais que álcool hidratado no país
Exportações brasileiras de milho perdem vigor e poderão cair em 2009
Rússia voltará a importar carne bovina do Brasil
Fórum pede fim de barreiras ao etanol brasileiro
Orgânicos desafiam a crise econômica
Venezuela se retrai e exportação de lácteos do Brasil despenca

Mercosul

Brasil vai permitir ao Paraguai vender energia de Itaipu, confirma Amorim
Brasil deve revidar barreiras argentinas
Projeto para elevar algumas tarifas divide MERCOSUL
Barreiras da Argentina irritam Planalto e Itamaraty
Crise argentina abre espaço para avanço do trigo no Uruguai

Organização Mundial do Comércio (OMC)

CNI quer que governo vá à OMC contra Argentina
Ásia lidera retomada e China se tornará maior exportador, diz a OMC

Plano Internacional

Visita de chanceler expõe divergências entre Brasil e Israel



Comércio Exterior

a) Resultados

A balança comercial teve superávit de US$ 894 milhões na terceira semana de julho (13 a 19), resultado de exportações de US$ 3,339 bilhões menos importações de US$ 2,445 bilhões. No mês, o superávit chega a US$ 2,151 bilhões. Os dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostram que as exportações no mês somam US$ 8,088 bilhões e as importações, US$ 5,937 bilhões.

No ano, o superávit comercial chega a US$ 16,138 bilhões, saldo 21,4% superior ao do mesmo período de 2008 (US$ 13,290 bilhões). Apesar disso, a corrente de comércio - soma das exportações e importações - continua em queda ante 2008. No ano, são US$ 139,942 bilhões, 27%, ante US$ 191,686 bilhões em igual período de 2008.

As exportações somam, no ano, US$ 78,040 bilhões (média diária de US$ 578,1 milhões) e as importações, US$ 61,902 bilhões (média diária de US$ 458,5 milhões). Pelo critério da média diária, o desempenho das exportações este ano está 22,7% abaixo do verificado no mesmo período de 2008. A média diária importada no acumulado deste ano é 29,6% menor que a registrada em igual período do ano passado.

As exportações surpreenderam favoravelmente, na opinião do vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Na média por dia útil, as exportações na terceira semana de julho foram para US$ 667,8 milhões, elevando a média acumulada em julho para US$ 622 milhões e a acumulada no ano até a terceira semana de julho de US$ 578,1 milhões.

Os números refletem uma queda de 9,7% em relação a junho, quando a média por dia útil foi de US$ 689 milhões. Foram também 30% menores que os de julho de 2008, que teve média diária de US$ 889,2 milhões. Essas quedas já eram esperadas por causa da crise mundial (na comparação com o ano passado) e porque em junho deste ano houve recorde de embarque de soja, disse Castro.

A especialista em Comércio Exterior Lia Valls Pereira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), considera que a queda em relação a 2008 é o dado mais importante, apesar de esperada. As exportações continuam caindo e as importações mais ainda, o que aumenta o saldo, comentou Pereira.

As importações por dia útil em julho caíram 38,7%, de US$ 744,4 milhões para US$ 456,7 milhões. Com isso, a média de saldo por dia útil passou de US$ 144,7 milhões em julho de 2008 para US$ 220,2 milhões em julho deste ano, até a terceira semana do mês.

b) Exportadores poderão usar crédito-prêmio de IPI para quitar dívidas

O crédito-prêmio do IPI - estimado em R$ 288 bilhões pela Receita Federal e em R$ 70 bilhões pela indústria - poderá ser uma moeda aceita para quitar todo o tipo de débito das empresas exportadoras com o fisco, inclusive para pagar dívidas parceladas, mesmo se relativas a parcelamento de crédito com alíquota zero de IPI, conforme a emenda ao projeto de conversão da medida provisória 460, aprovada dia 7, por unanimidade, no Senado.

Se na apuração dos créditos do IPI - acumulados até dezembro de 2002, conforme autoriza a emenda - sobrar um saldo, a empresa poderá usá-lo para um vasto universo de finalidades: pagar dívidas próprias contraídas com o fisco mesmo depois de 2002; vender a terceiros; usar os créditos como garantia em execuções fiscais ou em operações de financiamento com bancos públicos ou privados; aplicar em fundos de investimento ou de infraestrutura e converte-los em títulos públicos federais remunerados pela Selic. Se, no fim das contas, a empresa ainda tiver débito tributário, ele poderá ser parcelado em 240 meses.

Vai ser um dinheiro bom, comentou o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel, ao examinar o texto da emenda nº 5 do projeto de conversão da MP 460, aprovada pelo Senado e que, em agosto, será votada na Câmara. Maciel, ao contrário do Senado, está convencido que a prorrogação do benefício fiscal até 2002 é um enorme equívoco e vê na emenda à MP 460 uma afronta ao Código Tributário. Para obedecer às determinações do código, esta que é uma transação tributária só pode ser feita mediante concessões mútuas e por lei específica e não pegando carona numa MP que trata do programa habitacional Minha Casa Minha Vida.

A polêmica solução dada pelo Senado a uma demanda jurídica que há décadas perambula pelos tribunais foi muito além do que havia indicado o Superior Tribunal de Justiça (STJ), que admitiu a vigência do crédito-prêmio do IPI até 1990, e o Supremo Tribunal Federal (STF), que em votação ainda não concluída indicou que a validade desse benefício fiscal poderia ser até 1983. O Senado estendeu a vigência do benefício por mais 12 anos, até 31 de dezembro de 2002, se antecipando ao STF.

As negociações do Senado com o governo para tratar da emenda se acentuaram este ano, como uma forma de ajudar os exportadores a se financiarem através do incentivo fiscal, dado que o crash de 2008 redundou numa forte contração do crédito externo. Esse foi o cenário onde a ideia prosperou, até ser aprovada por unanimidade.

Depois de aprovada, o Ministério da Fazenda divulgou duas notas oficiais condenando a emenda. Mas até então, segundo parlamentares envolvidos no assunto, as conversas vinham ocorrendo de forma oficiosa e não havia aparecido nenhuma objeção por parte do governo.

A solução encontrada na emenda, ao permitir um encontro de contas entre a União e as empresas exportadoras, daria um oxigênio financeiro principalmente às tradings e removeria uma grande incerteza jurídica que paira sobre governo e empresas, na visão de fontes oficiais.

Mesmo as empresas que aderirem ao novo parcelamento criado pela lei 11.941, deste ano, poderão usar esses créditos para pagar as parcelas do programa. Cabe à Câmara, agora, aprovar ou mudar essa proposta.

c) Brasil e Rússia em discussão


Foi iniciada em Moscou a 5ª Reunião da Comissão mista de Alto Nível dos governos do Brasil e da Rússia, chefiada pelo secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Guimarães, e o primeiro-ministro russo Vladimir Putin.

Da parte do Brasil, os principais assuntos são: a participação russa em investimentos nos grandes projetos nacionais – pré-sal em primeiro lugar, a insatisfação dos exportadores de carnes do Brasil com as cotas geográficas e outras dificuldades, que tem influência negativa no desempenho das exportações para a Rússia em comparação com outros concorrentes, e a certificação dos aviões da Embraer. Está sendo discutida também a possibilidade das exportações de laticínios para a Rússia.

Do lado russo, a venda da segunda leva de helicópteros para o Exército brasileiro e outros materiais bélicos, as exportações brasileiras de fertilizantes e trigo e o baixo nível das importações de produtos russos estão entre os temas predominantes.

Nenhumas das partes pode considerar positivo o resultado dos primeiros seis meses de 2009. O fluxo do comércio bilateral caiu em comparação com 2008.
A única unidade industrial brasileira na Rússia – a fábrica da Sadia na cidade Kaliningrado – foi vendida. Nas relações comerciais, continua dominando pura e simples troca de produtos básicos. As entidades empresariais de ambos os países ainda não assumiram o papel de liderança, nem tão pouco os governos elegeram o projeto para pilotar o processo de melhoramento da qualidade do comércio entre a Rússia e o Brasil.

O vice-presidente José Alencar iria chefiar a comitiva, mas ficou impossibilitado devido à recente intervenção cirúrgica. Também participam das reuniões outros representantes dos governos e empresários de ambos países, além dos membros do Conselho Empresarial Brasil-Rússia.

d) Brasil é o 4º preferido das múltis para investir

De olho no mercado brasileiro, multinacionais apontam o País como o quarto destino preferido para investimentos nos próximos dois anos, segundo uma pesquisa da Conferência das Nações Unidas (ONU) para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). A entidade também apurou que haverá queda de 50% no fluxo de investimentos no mundo em 2009, leve retomada em 2010 e recuperação substancial em 2011. Os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) ocupam quatro dos cinco primeiros lugares entre os preferidos dos investidores.

A pesquisa ouviu mais de 240 multinacionais. Dessas, 50% planejam investir em 2011 mais do que investiram em 2008 - no caso das asiáticas, o porcentual chega a 57% e no das americanas, a 71%. Esse resultado indica que o processo de internacionalização será retomado, ainda que forma mais lenta.

Outra diferença: o padrão mudará e haverá preferência cada vez maior pelos países emergentes. Segundo a Unctad, a crise deu novo ímpeto a essa tendência. Os países ricos continuarão a atrair investimentos, mas crescerá o papel dos emergentes nas estratégias das multinacionais.

A liderança na preferência das múltis é a China, com 56%, seguida pelos Estados Unidos (48%). A quebra de empresas americanas atrairá investidores até de países emergentes, por causa do baixo preço. O mercado interno, a desvalorização do dólar e a perspectiva de que o país saia da crise antes da Europa e do Japão também contribuem para atrair investimentos. A terceira posição entre os principais destinos é da Índia.

Pelo levantamento, o Brasil passou da quinta posição em 2008 para a quarta posição. Foi citado por 25% dos entrevistados. Essa posição decorre do maior interesse pelo mercado brasileiro e da queda da atratividade da Rússia, que até 2008 ocupava a quarta posição no ranking. Este ano, a Rússia caiu para a quinta posição.

O Brasil também é o quarto destino preferido das empresas europeias, superando Rússia e Reino Unido, e das japonesas. Entre as americanas, o Brasil é o quinto, acima dos próprios Estados Unidos. Mas é o sexto no caso dos investimentos asiáticos (excluindo o Japão).

A pesquisa apontou que o principal atração dos investimentos é o tamanho do mercado, seguido do crescimento econômico. Incentivos fiscais são só o 13º motivo. No caso do Brasil, 20% das empresas indicaram que são atraídas pelo tamanho do mercado e 19%, pela perspectiva de crescimento. Ineficiência do governo e infraestrutura são os pontos fracos.

O Brasil, ainda em 2009, está sendo beneficiado por um comportamento estável dos investimentos no setor agrícola. O Brasil tem amplos recursos naturais, um mercado doméstico que cresce e tem mostrado que poderá sair da crise com certo conforto, disse James Zhan, autor do levantamento. Para ele, os setores manufatureiro, de mineração e agrícola devem receber o maior volume de investimentos.

O levantamento não significa que o Brasil receberá maior volume de investimentos que os países ricos, mas um número maior de empresa vê o País como um destino mais atraente que, por exemplo, todos os países da Europa Ocidental.

Entre janeiro e maio deste ano, os investimentos no País chegaram a US$ 11,2 bilhões. O volume foi o segundo maior da década nesse período. A perspectiva para 2009 é de US$ 25 bilhões, segundo levantamento com o mercado financeiro feito pelo Banco Central.

O valor é inferior ao recorde de US$ 45 bilhões em 2008. Mas, se a projeção para 2009 se confirmar, o volume será o sexto maior desde 1947 e o quarto mais importante da década. O Brasil caminha bem, um crescimento deve ocorrer e o País desenvolve novas indústrias ,como de etanol e mineração, comentou Zhan.

No restante do mundo, a Unctad apurou que os investimentos caíram 54% no primeiro trimestre do ano. As aquisições e fusões recuaram 77%, com queda de 50% nos emergentes. Se a tendência dos investimentos em geral for mantida, a projeção para 2009 é que a queda será de quase 50% na comparação com 2008.

Agronegócio

a) Brasil agora amplia as compras de trigo dos EUA

Mesmo sem a derrubada da Tarifa Externa Comum (TEC), que impõe um adicional de 10% sobre o trigo comprado fora do Mercosul, moinhos brasileiros têm recorrido aos Estados Unidos para recomposição de seus estoques do cereal. Ainda que com taxas adicionais e custos mais altos com frete, tem sido mais vantajoso comprar trigo no mercado americano, avaliam as indústrias.

No primeiro semestre, as compras brasileiras de trigo dos EUA somaram 31,6 mil toneladas, segundo a Secretaria de Comércio Exterior. O acumulado de todo o primeiro semestre, contudo, foi menor que os embarques feitos pelos EUA ao Brasil no período de uma semana encerrado em 9 de julho. Nesse intervalo de sete dias, os registros de embarques somaram 51 mil toneladas, scgundo o relatório semanal de exportações do Departamento de Agricultura dos EUA, apresentado na quinta-feira.

Um exemplo prático de importação do trigo hard, usado na panificação: na semana passada, no porto de Santos, a tonelada (FOB) de trigo americano foi ofertada por US$ 229. Se adicionados os U$ 32 de frete (mais US$ 8, que correspondem a 25% da despesa com frete, valor destinado ao Fundo da Marinha Mercante), os 10% da TEC e os US$ 30 de frete no mercado interno, chega-se ao valor de US$ 325, ou R$ 643, em uma simulação com taxa de câmbio de R$ 1,98 por dólar.

O trigo hard argentino, por sua vez, foi oferecido pelas tradings por US$ 315 - mas a oferta é limitadíssima, em virtude da seca no país vizinho, que cortou a produção pela metade. Não é apenas o preço que tem valido a pena, mesmo com a TEC. Quando se compra trigo americano, sabe-se que a qualidade é garantida, diz Luiz Martins, presidente do moinho Anaconda. O setor tentou derrubar a TEC, como ocorrido em 2008, mas o pleito não foi atendido pelo governo.

A demanda maior é pelo trigo hard, mas o mesmo raciocínio pode ser aplicado a eventuais compras de trigo soft americano, mais voltado à indústria de biscoitos. Ainda em uma simulação feita com taxa de câmbio de R$ 1,98 e com adição de taxas e despesas com frete, o trigo pode chegar aos moinhos por cerca de R$ 500. Remessas de trigo soft do Rio Grande do Sul para um moinho paulista custariam de até R$ 530.

A chave para o aumento das exportações de trigo americano para o Brasil é a taxa de câmbio, diz Elcio Bento, analista da Safras & Mercado. Haveria espaço para importações ainda mais fortes, mas os moinhos brasileiros estão, no geral, bem abastecidos, afirma ele.

Os preços do trigo no mercado interno podem cair a partir de agosto, quando começa a colheita da safra nacional. Isso poderia desestimular as compras de trigo dos EUA. Por outro lado, há perspectiva de baixa também no mercado internacional, já que os estoques mundiais, que estavam bastante apertados em 2008, têm sido recompostos desde então.

O cenário deve mudar mesmo quando começar a entrar a safra argentina, depois de dezembro, diz Bento. Mesmo essa análise precisa ser relativizada, reitera ele, já que os volumes disponíveis para exportações do país vizinho não devem superar as 2 milhões de toneladas no ano comercial 2009/10 - em 2007/08, havia sido de 9 milhões de toneladas.

No mercado internacional, o preço do trigo atingiu seu ápice no início de junho, mas as cotações têm recuado desde então. Em Kansas, os contratos de segunda posição de entrega, normalmente os de maior liquidez, acumularam queda de 20,8% entre 1º de junho e a última sexta--feira, quando foram negociados por US$ 5,8350 por bushel. A cotação mais baixa do ano para o papel foi registrado na semana anterior.

b) Exportação de açúcar cresce 53% e bate recorde

Enquanto a maior parte das commodities exportadas pelo Brasil perdeu valor no primeiro semestre de 2009, as exportações de açúcar bateram recorde e responderam por 22% do superávit da balança comercial no período, que totalizou US$ 13,9 bilhões. A forte demanda internacional e o câmbio favorável fizeram com que as exportações saltassem de US$ 2,07 bilhões, nos primeiros seis meses de 2008, para US$ 3,18 bilhões, de janeiro a junho deste ano, um crescimento de 53% em valor, o maior entre as principais matérias-primas da pauta de exportações do País.

Juntos, açúcar e etanol responderam por 27% do superávit da balança comercial brasileira. No entanto, em volume, as vendas de etanol ao exterior recuaram 25% em relação ao primeiro semestre de 2008. Até junho deste ano, o País exportou 1,45 bilhão de litros de etanol, contra 1, 97 bilhão de litros em igual período do ano passado.

O momento é excepcional para o açúcar e compensa a queda nas exportações de etanol. O mais importante é que, como o Brasil não faz importação de açúcar, na prática é superávit direto para a balança brasileira, afirma Antonio de Pádua Rodrigues, diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).

Os principais destinos das exportações brasileiras de açúcar foram a Rússia (1,7 milhão de toneladas, o que representa 16% do total), Índia (1,6 milhão de toneladas, 15% do total), seguidos de Bangladesh (600 mil toneladas) e Emirados Árabes Unidos e Nigéria (ambos com 500 mil toneladas cada um).

O cenário favorável para o açúcar brasileiro é fruto da queda na produção global da commodity. A Índia, que na safra 2007/2008 havia produzido 27 milhões de toneladas de açúcar, reduziu drasticamente sua produção na safra seguinte, para 14,5 milhões de toneladas. A quantidade foi insuficiente para abastecer seu grande mercado interno, que consome em torno de 22,5 milhões de toneladas. Rapidamente a Índia passou de exportadora a importadora, e o único país com capacidade para suprir essa demanda é o Brasil, diz Rodrigues. A expectativa para esta safra é produzir um excedente entre 4,5 milhões e 5 milhões de toneladas de açúcar para abastecer os mercados internacionais.

Como a indústria brasileira produz açúcar e etanol da mesma matéria-prima - a cana - as usinas conseguem adaptar a produção ao sabor do mercado, alterando a prioridade de um para outro produto. Nesta safra devem direcionar, em média, 42% da produção para o açúcar.

Entre os principais grupos do setor de açúcar e álcool, essa decisão foi tomada logo no início da atual safra 2009/2010. É o caso da Cosan, que decidiu direcionar 55% da produção para o açúcar. Este ano, a companhia vai moer 56 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, 12 milhões a mais em relação à safra anterior. Tomamos a decisão no primeiro dia de safra de usar o máximo de nossa capacidade instalada para produzir açúcar, diz Carlos Murilo Barros de Melo, diretor comercial da Cosan. A decisão da companhia, atualmente o maior grupo de açúcar e álcool do mundo, não podia ser mais acertada. Os preços do açúcar estão em média 45% superiores aos do etanol. O panorama é muito positivo, pois ao contrário do primeiro semestre de 2008, o câmbio está em patamar favorável ao exportador, diz o diretor.

Outro grande grupo de açúcar e álcool, a Usina São Martinho, que tem duas unidades produtivas em São Paulo e uma em Goiás, também deu prioridade ao açúcar nesta safra: o açúcar vai crescer 20% e deve representar em torno de 40% da produção. Este ano, a empresa vai moer 13 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, 1 milhão a mais que na safra anterior.

O açúcar deve manter um preço atraente no médio prazo. Dificilmente a Índia voltará aos níveis de produção registrados há três anos, o que significa que o déficit no mercado internacional continuará pelos próximos dois anos, diz João do Val, diretor de relações com investidores da Usina São Martinho. A expectativa é que ao longo de 2009 o preço do açúcar no mercado internacional se mantenha em torno de US$ 0,15 por libra-peso, uma valorização média de 20% em relação a 2008.

O cenário para os próximos três anos é de que o preço do açúcar se mantenha em patamares bastante atrativos, diz Narciso Bertholdi, gerente comercial do Grupo Usina São João, de Araras (SP), que também possui duas unidades em Goiás. Na atual safra, o grupo, que deve moer 8 milhões de toneladas, vai direcionar 60% da produção para o açúcar.

c) Açúcar já paga 68% a mais que álcool hidratado no país

Os preços futuros do açúcar fecharam com forte alta, nas bolsas internacionais, sustentados pelas indefinições sobre o clima nas regiões produtoras de cana da Índia, segundo maior produtor mundial, atrás do Brasil. As incertezas sobre o período de monções naquele país colocam em dúvida se a colheita da próxima safra indiana poderá ser muito maior que a do ano anterior, segundo analistas de mercado.

Na bolsa de Nova York, os contratos de açúcar para janeiro encerraram a 18,54 centavos de dólar por libra-peso, com aumento de 39 pontos. Na bolsa de Londres, os contratos para dezembro fecharam a US$ 482,30 a tonelada, com aumento de US$ 9,60.

A forte valorização do açúcar tem estimulado a maior produção da commodity no Centro-Sul do país. No mercado doméstico, o açúcar está remunerando 57% mais que o álcool anidro. Em relação ao hidratado, o açúcar tem pago 68% mais, segundo levantamento feito na semana passada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Já o açúcar exportado remunera 5% mais que o negociado no país.

Estimativa da consultoria FCStone mostra que o déficit global de açúcar deverá ser de 6,1 milhões de toneladas para a safra 2008/09, que se encerra em setembro. A previsão anterior era déficit de 4,7 milhões de toneladas. O consumo mundial deve ficar em 162 milhões de toneladas, aumento de 1,5% sobre o ciclo passado. A produção deverá ser de 155,9 milhões de toneladas, recuo de 8% sobre 2007/08.

Segundo Bruno Zaneti, analista de açúcar da FCStone, os preços da commodity no mercado futuro seguem sustentados pelas posições compradas dos fundos. Há, contudo, um descolamento dos futuros sobre o mercado spot (físico), considerando que o avanço da colheita no Centro-Sul do Brasil tira o suporte sobre as cotações.

Em São Paulo, a saca de 50 quilos fechou a R$ 41,23, segundo o índice Cepea/Esalq. No mês, a valorização atinge 3,73%.
Com os preços atraentes do açúcar, o Brasil deverá bater recorde exportação nesta safra, abocanhando cerca de 50% do mercado mundial, um salto de 10 pontos percentuais sobre o ciclo anterior. Neste primeiro semestre, os embarques de açúcar e de etanol, aumentaram 26,4% em receita sobre o mesmo período de 2008, atingindo US$ 3,8 bilhões. Em volume, os embarques de açúcar atingiram 10,4 milhões de toneladas, 37% mais que janeiro a junho de 2008. As exportações de álcool ficaram em 1,45 bilhão de litros, recuo de 25%, informou a Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar).

d) Exportações brasileiras de milho perdem vigor e poderão cair em 2009

As exportações brasileiras de milho, que começaram o ano com grandes volumes embarcados, estão em ritmo lento, com preços pouco competitivos para vendas externas, demanda claudicante e câmbio menos atraente, de acordo com especialistas.

No primeiro semestre, as exportações somaram 3,4 milhões de toneladas, segundo o Ministério da Agricultura. Ainda sob o efeito do bom início de ano, o volume cresceu em relação ao mesmo período de 2008 (2,9 milhões). Mas, se as condições de mercado perdurarem, é improvável que as vendas fiquem acima do total do ano passado (6,4 milhões de toneladas).

Vai ser muito difícil, no ritmo atual, bater o que exportamos no ano passado, afirmou Anderson Galvão, da consultoria Céleres. Mesmo diante da conjuntura difícil, o Ministério da Agricultura ainda prevê 8 milhões em 2009. Vai ser bem difícil de concretizar aquilo lá, acrescentou o analista, referindo-se à previsão do governo.

Não bastassem as cotações na bolsa de Chicago, referência internacional, estarem em patamares próximos aos mais baixos do ano, o dólar registrou ontem o menor nível de fechamento em relação ao real desde o fim de setembro (R$ 1,90), seguindo a tendência global de desvalorização da moeda e com os investidores menos avessos a riscos em países emergentes.

Galvão lembrou que, no começo do ano, quando as exportações de milho estavam mais volumosas, o dólar chegou a R$ 2,40. Um dólar fraco frente ao real deixa o produto brasileiro menos competitivo no exterior.

No caso dos preços em Chicago, a queda decorre, em boa medida, da ampliação da área plantada nos Estados Unidos - que poderão, assim, colher uma de suas maiores safras da história. Havia a expectativa de que a área de milho nos EUA, maior produtor mundial, fosse menor por causa de uma maior aposta na soja, mas isso não aconteceu na medida esperada pelos analistas.
Isso joga um pouco de água na possibilidade de preços firmes de milho no decorrer deste ano, a não ser que a condição de clima mude no Meio-Oeste dos EUA até o final desta safra. Mas, por enquanto, o clima está próximo do ideal, analisou Galvão. Não bastassem os preços e o câmbio, a demanda externa também está mais fraca. A Europa e outras regiões tiveram safras boas, e importação de milho é feita nesses países quando se tem problema de produção, disse ele.

Em meio à mudança de cenário, o governo brasileiro realiza hoje e no próximo dia 28 leilões de prêmio com o objetivo de apoiar os produtores domésticos, em um mercado com preços abaixo do mínimo em Estados como o Mato Grosso, que colhe uma grande safra de inverno.

Tais operações, conforme especialistas, podem impulsionar as vendas externas. Cada um dos leilões terá contratos para apoiar vendas de 500 mil toneladas. Mas o corretor paranaense (que preferiu o anonimato) e outros especialistas estão céticos com relação à participação dos produtores na operação. Tem que esperar para ver o interesse no leilão, afirmou o corretor. Segundo Rodrigo Nunes, analista da Agência Rural, o valor do prêmio é bom, mas o problema é o preço. Em Mato Grosso, as cotações estão abaixo dos custos de produção de boa parte dos agricultores, segundo analistas.

e) Rússia voltará a importar carne bovina do Brasil

A Rússia suspendeu a proibição para importar carne e subprodutos crus bovinos de todo o território brasileiro, com exceção de três municípios, informou ontem o Serviço de Controle Veterinário e Fitossanitário russo. O fim da proibição se deve à melhora da situação quanto à estomatite vesicular no Brasil, segundo comunicado do órgão.

A restrição continuará para as empresas de carne bovina de três municípios do Tocantins: Paranã, Jaú e Pedro Afonso.

Apesar de certa diminuição de suas vendas à Rússia, o Brasil continua sendo o principal fornecedor de carne bovina aos russos. Em 2008, exportou 386,6 mil toneladas, 50,3% das importações russas desse tipo de carne.

f) Fórum pede fim de barreiras ao etanol brasileiro

Um grupo de empresários brasileiros e americanos sugeriu ao governo dos Estados Unidos a eliminação das barreiras comerciais que protegem os produtores americanos de etanol e impedem o Brasil de exportar volumes significativos de álcool para os EUA.

A iniciativa ajuda a promover uma antiga reivindicação do governo e dos usineiros brasileiros, mas dificilmente terá efeitos práticos. Os produtores americanos têm aliados poderosos no Congresso dos EUA e o governo precisa do seu apoio para levar adiante projetos de seu interesse.

O grupo de empresários, conhecido como Fórum de Altos Executivos de Empresas Brasil-EUA, é formado pelos presidentes de 20 grandes empresas e deve ganhar em breve mais quatro integrantes. A intenção do grupo é atrair representantes da agricultura e do setor de energia.

O lado brasileiro do Fórum é coordenado pelo presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, e inclui dirigentes da Camargo Corrêa, Cutrale, Embraer, Gerdau, Odebrecht, Stefanini, Vale e Votorantim, além do banco Safra. A ala americana reúne executivos de empresas como Anadarko, Cargill e Coca-Cola, além do Citibank.

O grupo se reúne duas vezes por ano e foi criado por sugestão do ex-presidente dos EUA George Bush. Ele se reuniu pela primeira vez desde a posse do presidente Barack Obama e o principal objetivo do encontro foi assegurar sua continuidade na nova administração. Obama conversou durante alguns minutos com os líderes do grupo na Casa Branca. Segundo a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que participou do encontro junto com o ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, Obama disse que os EUA farão o que puderem para fortalecer as relações entre os dois países.

A prioridade dos empresários que fazem parte do Fórum é convencer os dois governos a assinar um acordo que evite a dupla tributação de empresas com atividades nos dois países. As discussões sobre esse assunto se arrastam há anos e não houve avanços significativos.

Mais importante do que políticas específicas é o engajamento e o grau de confiança que se constrói entre as partes, disse Gomes da Silva. Além do rápido encontro com Obama, o grupo teve contato com o secretário de Comércio dos EUA, Gary Locke, e o principal assessor econômico de Obama, Larry Summers.

g) Orgânicos desafiam a crise econômica

Em franca expansão nos últimos anos, e ainda aquecidas apesar da desaceleração da economia global a partir de setembro de 2008, as Exportações brasileiras de orgânicos continuam em um processo de diversificação e ampliação de produtos, empresas e destinos que tende a fortalecer a presença do país nesse mercado no médio e longo prazos.

Levantamento do projeto Organics Brasil, ligado à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), mostra que, em 2008, os embarques renderam pelo menos US$ 58,4 milhões, ante US$ 21 milhões em 2007. Pelo menos porque os números incluem apenas empresas que participam do projeto, e esse número também é crescente.

Para se ter uma ideia, em setembro de 2008 participavam do Organics Brasil 63 empresas de diversos portes; hoje são 74, de 13 Estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio, Minas, Mato Grosso, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Amapá, Pará e Amazonas), que exportam mais de 50 produtos para 78 países, principalmente os europeus.

Segundo Ming Liu, gestor do projeto iniciado em 2005, açúcar, mel, grãos e frutas representam cerca de 90% dos embarques, mas o rol também inclui castanhas, azeites, chás, cosméticos e têxteis. Conforme ele, ainda não há dados fechados sobre os embarques no primeiro semestre, mas as feiras internacionais que o Organics Brasil participou no período mostraram que o apetite dos importadores continua grande.

O mercado de orgânicos sentiu pouco os efeitos da crise. Vimos que investimentos direcionados à aquisição de bens e lazer recuaram, mas que os gastos com alimentação permaneceram firmes. As refeições fora do lar diminuíram, mas em casa, não, e parte dessa economia manteve o consumo de orgânicos em alta, disse Liu.

Segundo o gestor, o projeto se fez representar, no primeiro semestre, em feiras na Alemanha, Estados Unidos (Califórnia e Chicago) e Montreal. Esta última mereceu destaque especial de Liu por ter sido a primeira com a presença brasileira no Canadá. Foram resultados acima das expectativas. Neste segundo semestre, o Organics Brasil participará da Feira Internacional de Produtos Orgânicos e Agroecologia - que será aberta amanhã em São Paulo pelo presidente Lula - e em eventos nos EUA, Japão e Alemanha.

O convênio com a Apex-Brasil é bienal e está em fase de renovação. A expectativa é que os embarques continuem aumentando, a um ritmo de 20% a 30% ao ano, já que a base de comparação atualmente é maior. Lá fora a demanda cresce; agora temos que fazer o trem chegar com a mesma velocidade ao mercado interno, afirmou Liu.

Nesse sentido, ele acredita que a entrada em vigor da nova regulamentação do segmento no país, em 2010, com certificado obrigatório e outras exigências de padronização, será um impulso para a ampliação do número de consumidores no país. Conforme o governo, os orgânicos movimentam R$ 500 milhões por ano e envolvem 15 mil produtores no Brasil, com uma área de cultivo da ordem de 800 mil hectares - excluindo o extrativismo, que eleva a estimativa para 5 milhões de hectares.

h) Venezuela se retrai e exportação de lácteos do Brasil despenca

Os números das exportações de lácteos no primeiro semestre deste ano trazem duas certezas: o Brasil ainda não é competitivo o suficiente para se firmar como exportador do produto no mercado internacional e é arriscado depender da demanda da Venezuela.

Nos primeiros seis meses deste ano, as exportações de lácteos brasileiras somaram US$ 97,4 milhões, 59,1% a menos do que as US$ 238,2 milhões do mesmo período de 2008. Desse total, US$ 31,255 milhões foram para a Venezuela, recuo de 69,2% na mesma comparação. Para se ter uma idéia do baque, de janeiro a junho de 2008 o país governado por Hugo Chávez tinha comprado US$ 101,501 milhões em lácteos do Brasil, isto é, mais do que tudo o que o país embarcou no semestre que passou.

Os preços no mercado internacional caíram demais e a indústria brasileira não é competitiva, admite Rodrigo Alvim, presidente da Comissão Nacional da Pecuária de leite da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Conforme dados do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), compilados pela Scot Consultoria, na 27ª semana deste ano a tonelada de leite em pó integral na Europa estava entre US$ 2.600 e US$ 2.700 por tonelada. Em igual semana em 2008, variava entre US$ 4.300 e US$ 4.725. O leite em pó é o principal item exportado pelo Brasil.

Com os atuais preços internacionais e o dólar desvalorizado em relação ao real tornou-se mais vantajaso para as empresas vender lácteos no mercado doméstico.

Alfredo de Goeye, presidente da Serlac, trading que em 2008 respondeu por metade das exportações de lácteos do país, faz um cálculo rápido que explica o atual quadro. Considerando que para produzir um quilo de leite em pó são necessários 8,5 litros de leite e o preço pago ao produtor nacional hoje está na casa dos R$ 0,75 por litro, o custo chega a cerca de R$ 6.370 por tonelada, ou o equivalente a US$ 3.190. Ocorre que no mercado internacional, os preços pagos pelo leite em pó estão na casa dos US$ 2.200, segundo Goeye.

O preço alto no mercado interno reflete a menor captação de leite no país por causa da queda da produção dos rebanhos, o que gera disputa entre os laticínios.

As cotações internacionais não estimulam a exportação, observa o presidente da Serlac. Pela primeira vez nos sete anos de sua existência, a Serlac não exportou nada de leite em pó em um mês (junho passado). Outro dado dá uma medida do cenário mais apertado para as exportações: no primeiro semestre deste ano, a trading exportou um quarto dos US$ 120 milhões de igual período de 2008.

Com a dificuldade de exportar produto brasileiro, a Serlac decidiu vender leite de outra origem. Estamos exportando leite do Uruguai (a US$ 2.300 por tonelada) para a Nigéria porque o Brasil não tem interesse em exportar, diz Alfredo de Goeye.

A central de cooperativas mineira Itambé, que no ano passado foi o maior fornecedor de leite brasileiro para a Venezuela, também vê um quadro muito diferente este ano. Depois de exportar um total de US$ 220 milhões em lácteos em 2008, estima que irá embarcar entre US$ 80 milhões e US$ 100 milhões este ano.

A empresa também não conseguiu fazer exportações à Venezuela este ano, segundo Jacques Gontijo, presidente da Itambé. A Venezuela está com os estoques altos, justifica ele.

De acordo com Rodrigo Alvim, da CNA, a Nova Zelândia tem conseguido vender para a Venezuela porque tem preços melhores do que o Brasil. No ano passado, o país da Oceania evitava fazer vendas para governos, mas voltou a fornecer para os venezuelanos por meio de leilões. Num dos mais recentes, segundo Alvim, a tonelada de leite em pó foi negociada a US$ 1.829.

Apesar de reconhecer o peso da Venezuela nas exportações de lácteos - em 2008, o país comprou 61% dos US$ 541,5 milhões exportados pelo Brasil - Jacques Gontijo observa que outro cliente importante, a Argélia, também está comprando menos.

Alvim acrescenta que outros importadores de lácteos, como países do norte da África e nações da Ásia, deixaram de fazer estoques. Daí, a queda dos preços.

Se tudo continuar na mesma toada nos mercados internacional e doméstico, o ritmo mais lento das exportações não será alterado, avalia Alvim, para quem a volta dos subsídios às exportações de lácteos na União Europeia e EUA também reduz a competitividade do produto brasileiro.

Por enquanto, o quadro é de déficit na balança comercial de lácteos do Brasil, com saldo negativo de US$ 51 milhões até junho. Poderia ser pior não fosse a implantação, em abril, de um sistema de licenciamento não-automático para conter o avanço das importações de leite e derivados da Argentina. Havia suspeita de triangulação com leite da Nova Zelândia e da UE nas operações. Em 2008, o saldo da balança de lácteos foi positivo em US$ 328,4 milhões.

Mercosul

a) Brasil vai permitir ao Paraguai vender energia de Itaipu, confirma Amorim

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, confirmou que o governo brasileiro aceita que o Paraguai venda no mercado livre do Brasil parte da energia a que tem direito de Itaipu. No encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Lugo, no fim desta semana, será discutida a proposta brasileira, que estabelece os critérios para aceitar a demanda paraguaia.

Precisamos encontrar um modelo, há uma preocupação natural com a gradualidade, não pode ser de um dia para o outro, comentou Amorim. Hoje, o Paraguai, que tem direito ao uso de metade da energia de Itaipu, é obrigado a vender a parcela que não usa à Eletrobrás por um preço fixo. Uma das principais reivindicações do governo de Lugo é a possibilidade de vender no mercado livre, mais caro, a energia excedente - o que aumentaria o custo da energia fornecida no Brasil.

Até a semana passada, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, descartava a possibilidade de autorizar a venda da energia de Itaipu no mercado livre, alegando que isso exigiria a revisão do tratado de constituição da usina binacional, algo considerado tabu pelo governo brasileiro.

O argumento era repetido pelo presidente brasileiro de Itaipu, Jorge Samek, e considerado uma interpretação abusiva pelos paraguaios. O Itamaraty não endossa essa interpretação, garante Amorim, que diz conversar sempre com o ministro Lobão. Talvez seja necessário mudar a legislação brasileira, e é o que estamos vendo, comentou Amorim, que participou, na sexta-feira de manhã, com Lobão, de uma reunião com o presidente Lula, para discutir as negociações com os paraguaios em torno da usina binacional.

Acho que (a venda da energia no mercado livre) não exige mudança no tratado, isso não está disciplinado no tratado, argumentou Amorim. Ele lembra que o tratado restringe a comercialização da energia de Itaipu aos entes dos dois país, as empresas energéticas do Brasil, Eletrobrás, e do Paraguai, a Ande. Mas não restringe o local de atuação das empresas ao país de origem, interpreta o ministro. O tratado fala dos entes dos dois países, mas não diz que é cada um em seu país, forçosamente.

A transição do regime atual para o proposto ao Paraguai deve levar tempo e o Brasil dirá a Lugo que se dispõe a negociar essa mudança. Podemos discutir quanto será, como será (a liberação da energia para venda no mercado livre). Há uma preocupação natural com a gradualidade, não pode ser de um dia para o outro, detalhou o ministro, alertando para a necessidade de evitar traumas nos setores dependentes da energia de Itaipu. A usina abastece cerca de 20% do mercado brasileiro e o Paraguai usa apenas 5% da energia gerada, o suficiente para abastecer mais de 90% das necessidades do país.

A ideia é implementar de maneira gradual, compatível com a segurança energética do Brasil, disse Amorim. Houve um diretor paraguaio de Itaipu que definiu isso: querem soberania energética, sem que o Brasil perca a segurança energética. Vamos avançando nisso.

Para Amorim, o problema é que certos temas práticos, até numéricos, ganham conotação ideológica. Ele determinou ao embaixador do Brasil no Paraguai, Eduardo dos Santos, entregar a proposta brasileira, na semana passada, aos auxiliares de Lugo. Vamos tentar resolver no lado prático, procurando dar certa satisfação do lado político, disse, definindo a posição brasileira como uma abertura para discussão de temas considerados importantes pelos paraguaios.

É a primeira vez que uma autoridade brasileira admite a possibilidade de venda da energia de Itaipu pelos paraguaios diretamente no mercado brasileiro. Até recentemente, a oferta brasileira se resumia à possibilidade de os paraguaios venderem no país a energia de outras usinas hidrelétricas do país. A ideia era descartada pelos paraguaios com o argumento de que essas outras usinas têm um custo de energia inferior ao de Itaipu, o que traria prejuízos para o abastecimento local.

O governo mantém, ainda, a oferta de financiamento para a construção de uma nova linha de transmissão de energia, da usina para a capital, Assunção, e propõe ampliar as compensações pagas pela usina ao país.

b) Brasil deve revidar barreiras argentinas

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner terão uma reunião no fim desta semana em Assunção, no Paraguai, paralelamente à cúpula de chefes de Estado do Mercosul. Depois do encontro, o Brasil decidirá como reagir às medidas protecionistas adotadas pela Argentina e, pior, ao não cumprimento dos acordos de restrição voluntária de exportações de setores como os de móveis e calçados, firmados há quase dois meses.

Setores do governo, como o Ministério da Fazenda, defendem a suspensão de todos os empréstimos em benefício dos vizinhos. O mais provável, porém, será a aplicação de licenças não automáticas para bens de consumo importantes para os argentinos, como vinhos e pêssegos. E, ainda, uma ação na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra o país, tendo como argumento a demora na liberação de licenças não automáticas que afetam mais de 30 setores empresariais.

Em Assunção, Lula também terá uma reunião bilateral com o presidente paraguaio, Fernando Lugo, para buscar uma solução para a disputa em torno da hidrelétrica binacional Itaipu. Segundo o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, os técnicos do governo ainda estão estudando quais propostas serão apresentadas.

Os dois temas principais são o aumento do valor que o Brasil paga pela cessão obrigatória da energia excedente de Itaipu e a possibilidade de venda de energia pelo Paraguai no mercado livre brasileiro.

Tolmasquim informou que, até 2013, o Brasil está com uma sobra de energia de 4 mil megawatts/ médios (MW/m), equivalente às duas usinas do Rio Madeira, Santo Antônio e Jirau, independentemente do nível das chuvas que caírem no período.

— O consumo caiu e estão entrando todas as obras contratadas.

c) Projeto para elevar algumas tarifas divide MERCOSUL

Os governos brasileiro e argentino tentam na reunião de cúpula do Mercosul, aumentar a tarifa externa comum (TEC) para leite em pó e produtos têxteis, mas a mudança enfrenta forte resistência de Uruguai e Paraguai. Os países discutem elevar a tarifa comum de têxteis de 14% a 16% para 18%, e a de leite em pó de 16% para 28%. O Brasil já cobra 27% na importação de leite em pó e até 35% para têxteis, mas de forma excepcional na lista de exceções à tarifa externa comum. A mudança consolida as tarifas mais altas praticadas pelo Brasil e abre espaço na lista de exceções para outros produtos, que poderão ter tarifa reduzida ou aumentada pelo país.

Incomodados com o que classificam de barreiras não tarifárias a seus produtos pelos sócios maiores do Mercosul, Uruguai e Paraguai resistem às demandas argentina e brasileira por alteração na TEC. O Brasil negociou com o Uruguai o atendimento das queixas sobre a retenção de licenças de importação de leite em pó: no segundo semestre, o país poderá vender ao mercado brasileiro, em quatro etapas, mais 10 mil toneladas, além das 10 mil já vendidas nos seis primeiros meses.

Em reunião dos ministros da Economia e presidentes dos bancos centrais dos membros do Mercosul, o Brasil quer aprovar a ampliação, para outros países, do uso de comércio em moeda local, mecanismo firmado com a Argentina, inclusive para serviços, como turismo, e outros pagamentos, como a Previdência Social. Os paraguaios afirmam que estão providenciando a adaptação de seu sistema de Banco Central (que hoje não tem controle sobre todo o sistema de pagamentos feito entre os bancos privados) para tentar aplicar o mecanismo a partir de 2010. Os uruguaios também dizem ter interesse na medida.

"Para nós a expansão desse mecanismo na região é importantíssima", disse o diretor do Banco Central argentino, Arnaldo Bocco. "Somos importadores líquidos de energia do Paraguai e da Bolívia, isso facilitaria os pagamentos", explicou. Bocco disse que, com reservas de US$ 46 bilhões e um fluxo de pagamentos confortável até 2010, não há necessidade do novo sistema para garantir o equilíbrio do balanço de pagamentos argentino, mas argumenta que a progressiva independência das transações regionais em relação ao dólar dá proteção adicional contra turbulências externas.

Ainda não será nesta reunião que Brasil e Argentina oficializarão o contrato de swap em moeda local, que permitirá aos dois países trocar reais por pesos e vice-versa, garantindo compromissos bilaterais sem necessidade de recurso ao dólar. Os dois bancos centrais estão terminando discussões técnicas e deverão firmar os contratos para a operação em 15 dias, segundo prevê o governo argentino.

Quando prosseguiam as discussões técnicas entre os quatro governos do Mercosul (com a participação da Venezuela, que tem direito a voz, mas não a voto), o Brasil viu frustradas as expectativas de aprovar a constituição do Parlamento do Mercosul, com representação proporcional (o Paraguai se recusa a aprovar a medida sem que seja acompanhada de um tribunal supranacional). Também por resistência paraguaia, o encontro pode terminar sem a abertura do mercado do Brasil para produtos do Haiti.

O governo brasileiro queria permitir ao país caribenho que vendesse manufaturados, principalmente têxteis, ao mercado brasileiro, sem pagamento de tarifas. Para isso, contudo, teria de receber a aprovação dos sócios. "Embora seja só para o mercado brasileiro, os produtos do Haiti competirão com os paraguaios, e o mercado brasileiro é fundamental para nossos têxteis", argumentou o ministro de Relações Exteriores do Paraguai, Héctor Lacognata. "Nosso temor é que hoje haja exceção para o Haiti, e amanhã para outros países, o que reduzirá o mercado para os produtos paraguaios", disse Lacognata.

d) Barreiras da Argentina irritam Planalto e Itamaraty

A irritação com as barreiras argentinas aos produtos brasileiros chegou aos setores do governo mais inclinados a fazer concessões aos vizinhos, o Itamaraty e o Palácio do Planalto. O problema principal é que estimulamos muito os empresários a fazer acordos setoriais, que implicam limitação das exportações, comentou o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, antes de viajar para o Paraguai, para a reunião de cúpula do Mercosul. Naturalmente, nossa ideia é que a contrapartida (argentina) é acabar com as dificuldades burocráticas, cobrou.

A decisão argentina de submeter a maior parte das importações a licenças não automáticas provocou um colapso nas autorizações de importação, já que a análise dessas licenças não é informatizada e depende de formulários escritos, analisados um a um pelos fiscais. Técnicos do Brasil insistem na necessidade de tratar as licenças para os países do Mercosul de maneira diferenciada, sem muito êxito. O assunto deve se tratado em reunião de negociadores dos dois países, terça-feira, em São Paulo.

Os ministérios do Desenvolvimento e da Fazenda têm defendido que o Brasil passe a reter licenças de importação de produtos argentinos, como forma de pressão, mas, até recentemente, a proposta era mal vista no Itamaraty e no Planalto. Essa disposição vem mudando, com o aumento das queixas dos empresários brasileiros. Embora até o setor privado reconheça, em conversas reservadas, que não há dados conclusivos para afirmar que produtos asiáticos vêm tomando lugar dos brasileiros no mercado argentino, na prática produtos chineses e de outros países, mais baratos, têm enfrentado queda menor em suas vendas aos argentinos que os do Brasil, no que os especialistas chamam de desvio de comércio.

O importante é criar proteção de emprego sem fazer desvio de comércio, isso é o básico, comentou ontem, em Assunção o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, em uma rara - ainda que discreta - crítica à Argentina. O assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, também deu demonstrações do incômodo no governo com a atitude argentina, insinuando que retaliações não estão descartadas em Brasília. Não adianta ficar em declarações altissonantes, se o mal tiver que ser feito - e não estou dizendo que vai ser feito - não precisa ser anunciado, disse.

Não é questão de retaliação ou não retaliação, é preciso trabalhar de forma que haja confiança recíproca, comentou Amorim. É preocupante, sobretudo se há um desvio das exportações e outros ocupam, ainda que parcialmente, o espaço do Brasil, experimentam quedas menores, disse o ministro, que fez, porém, uma ressalva: o contexto internacional é desfavorável às vendas de produtos manufaturados, como os exportados à Argentina. Em todos os países para os quais exportamos manufaturas também houve quedas, nos EUA também se registrou queda nas exportações.

As barreiras ao comércio entre sócios do Mercosul deram a tônica do encontro dos países, ontem, preparatório à reunião dos presidentes do bloco, nesta sexta-feira. Anfitrião do encontro, o ministro de Relações Exteriores do Paraguai, Héctor Lacognata, chegou a falar em perda de relevância e aumento do descrédito do Mercosul, por causa de medidas protecionistas unilaterais, sem coordenação alguma e com forte caráter restritivo. Os representantes do Uruguai também reclamaram duramente das barreiras ao comércio no bloco.

Escutamos em demasia sobre medidas que nós legitimamente temos que adotar para preservar nossa estabilidade, reagiu o vice-ministro de Relações Exteriores da Argentina, Alfredo Chiaradia, criticando os paraguaios e uruguaios por não terem mencionado as medidas de efeitos protecionistas tomadas pelos países desenvolvidos, que aumentaram subsídios aos próprios produtos e criaram incentivos com efeitos de distorção do comércio.

Chiaradia argumentou que a retração no comércio dentro do Mercosul deve ser atribuída aos efeitos excepcionais da crise financeira internacional e acusou de serem profecias auto-realizadas as queixas de alguns países à falta de avanços na integração comercial do bloco. A República Argentina também lamenta que não tenha havido avanços, o que não estamos preparados para aceitar e que algum de nós pretenda transferir as responsabilidade aos demais pela falta de avanços, comentou, em uma crítica velada à resistência do Paraguai em aceitar a maior parte das propostas de avanços na integração defendidas durante as reuniões técnicas do Mercosul.

Por falta de acordo, os presidentes devem assinar uma declaração esvaziada de decisões relevantes, especialmente na área de comércio. Entre as poucas definições, o Mercosul criou regras mais claras para verificar normas de origem, essenciais para facilitar o trânsito de mercadorias entre os sócios do bloco. Entre os resultados do semestre, os presidentes devem saudar, na declaração a ser assinada hoje, um acordo genérico para iniciar discussões comerciais com a Coreia do Sul, o registro do acordo de livre comércio alcançado com Israel, e os tímidos acordos de redução de tarifas com a Índia e a União Aduaneira da África Austral, liderada pela África do Sul.

A declaração final deve trazer uma referência também à necessidade de aprovar a entrada da Venezuela no bloco, e de retomar as discussões técnicas para a integração do país às normas do Mercosul. Depois de deixar em suspenso sua ida ou não ao Paraguai, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, informou que não iria, no que foi interpretado por diplomatas como um protesto pela falta de definições do Congresso no Brasil e Paraguai sobre a incorporação do país ao Mercosul.

e) Crise argentina abre espaço para avanço do trigo no Uruguai

A queda da produção agropecuária argentina abriu espaços para o vizinho Uruguai, a partir de movimentos que começaram no segmento de carne bovina e são verificados também no trigo. O menor país do Mercosul mais do que duplicou a colheita do cereal na safra 2008/09 e caminha para aumentar ainda mais suas vendas do produto em todo mundo, com a ajuda dos próprios argentinos. Muitos produtores da Argentina estão atravessando o Rio da Prata para plantar, já que o cultivo na terra natal perdeu rentabilidade.

A Argentina sempre foi, de longe, o maior provedor do trigo que os brasileiros consomem. Mas neste ano a safra argentina quebrou e o governo brasileiro já foi avisado oficialmente que não há excedentes exportáveis. Resultado: o Brasil tem que comprar trigo de outros países. A produção uruguaia não supre as necessidades do Brasil mas já é uma ajuda, como definiu uma fonte do governo brasileiro. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Brasil importou 5 milhões de toneladas de trigo em grãos em 2008/09, para uma demanda doméstica total de 11,2 milhões de toneladas.

A boa notícia para o Brasil é que, graças ao aumento da produção nacional - alimentada por subsídios, programas de incentivos e bons preços -, o volume importado foi 44% menor que na safra anterior, quando o país comprou no exterior 7,2 milhões de toneladas de um consumo total da ordem de 11 milhões de toneladas.

A produção de trigo do Uruguai, historicamente em torno de 700 mil toneladas por safra, este ano está projetada em 1,4 milhão toneladas. O consumo interno está estável em cerca de 400 mil toneladas. Nos cinco primeiros meses de 2009, os uruguaios exportaram para o Brasil 428 mil toneladas, quase 200% mais que as 88 mil do mesmo intervalo de 2008.

Também o Paraguai está elevando as vendas de trigo para o Brasil (345 mil toneladas de janeiro a maio), que mesmo do Líbano vem comprando mais, ainda que em pequenos volumes (7,8 mil toneladas, 551,46% acima de igual período do ano passado). Mas as perspectivas de produção no Paraguai, por exemplo, não tão são promissoras, já que a terra e o clima no país são pouco propícios ao cereal.

A tendência é que, quando a produção argentina se recuperar, o Brasil volte a concentrar as compras de trigo de seu principal sócio no Mercosul, já que o produto é de melhor qualidade e mais barato, considerando-se o frete e a isenção da Tarifa Externa Comum do Mercosul (TEC). De qualquer outro país que o Brasil compre trigo fora do Mercosul, paga 10% de TEC. Mas o Uruguai faz parte do Mercosul.

Do lado uruguaio, a realidade é diferente. Sem retenções às exportações nem controle de preços, como na Argentina, os agricultores estão investindo fortemente em tecnologia e a produção de grãos só não cresceu mais porque o país também sofreu com a estiagem, assim como o Brasil e o Paraguai.

De acordo com dados da diretoria de Pesquisas e Estatísticas Agropecuárias do Ministério da Agricultura uruguaio, a área plantada com trigo pulou de uma média de 150 mil hectares nas últimas quatro safras até 2006 para 193,4 mil já na safra 2006/07. Em 2007/08, a área plantada pulou para 245,3 mil hectares, e no ano passado para 460 mil. Para 2009/10, o governo uruguaio prevê 550 mil.

José Maria Elorza Soto, diretor de Estudos Agroeconômicos da Associação Rural do Uruguai (ARU), confirma que o aumento da área plantada responde ao maior investimento dos produtores, estimulados por preços que, é verdade, estavam melhores antes do agravamento da crise global, em setembro. O que determina a intenção de aumentar a produção é o preço futuro, afirma Elorza Soto. Desde setembro, a tonelada do trigo na bolsa de Chicago caiu de um patamar de US$ 220 (os picos históricos foram dois meses antes) para US$ 192 no início do segundo trimestre de 2009. Recentemente, voltou para entre US$ 220 e US$ 230.

Segundo Elorza Soto, o crescimento da produção uruguaia não se limita ao trigo e, na realidade, a maior expansão foi com a soja. Houve uma entrada importante de argentinos por meio de pools de plantio. A maioria arrenda campos, diz, acrescentando que os argentinos começaram a chegar às áreas de Colônia, Rio Negro e Paissandu (mais próximos à fronteira) e agora rumam para o centro.
O Uruguai não tem o clima tão bom para o trigo como outros países, mas se olhamos o rendimento médio, de 3 toneladas por hectare, está acima do argentino, de 2,5 toneladas, e do Brasil, onde a média é um pouco menor que a da Argentina, analisa Marcos Guigou, sócio da ADP Agronegócios Del Plata, empresa associada ao grupo argentino Los Grobo para o cultivo de grãos no Uruguai.

A colheita do trigo da Argentina na safra 2008/09 foi de 8,4 milhões de toneladas, 49% menor que a do ano anterior. É a menor colheita em 20 anos. Segundo produtores e especialistas, a derrocada é resultado da combinação de dois fatores: a seca e a falta de uma política. A seca que atingiu as terras onde se concentra a produção do país nas Províncias de Buenos Aires, La Pampa, Córdoba e Santa Fé, foi a pior em 50 anos. Começou no fim de 2008 e se estendeu até o mês passado, comprometendo também o plantio da safra 2009/10.

A falta de estímulos do governo, com controles de preços internos e restrições às exportações, colaborou, segundo os produtores argentinos, para a queda da rentabilidade da cultura, que por sua vez provocou uma redução dos investimentos em tecnologia e, consequentemente, no rendimento das lavouras, complicando ainda mais o cenário.

Nas últimas estimativas da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, a área de plantio de trigo na Argentina em 2009/10 será de 2,75 milhões de hectares, 40% menos que na safra anterior e menor área em 100 anos. As exportações, que já recuaram de 7 milhões de toneladas em 2007/08 para 2 milhões no ciclo passado, não existirão. A produção atenderá apenas às necessidades domésticas.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO (OMC)

a) CNI quer que governo vá à OMC contra Argentina

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) recomendou que o governo brasileiro faça uma contestação formal contra a Argentina na Organização Mundial do Comércio (OMC). O motivo é o sistema de licença não automática para liberação de exportações que chegam ao país vizinho. A medida era aplicada sobre 3,7% das exportações tradicionais do Brasil para aquele país, em 2004, e atualmente a prática atinge 13,5% do total de nossas vendas.

Há denúncias por parte dos exportadores brasileiros da adoção dessa barreira, com a liberação do desembarque de produtos ocorrendo em prazos maiores do que a OMC recomenda. Com isso, os produtos chineses têm conseguido melhores condições para ganhar espaço no comércio argentino, em detrimento da produção brasileira, de acordo com queixa da CNI.

Equipes técnicas dos governos do Brasil e da Argentina se reunirão terça-feira, em São Paulo, para discutir uma possível correção no rumo do comércio bilateral praticado entre os dois países.

As exportações brasileiras para o país vizinho caíram 42,1% no primeiro semestre deste ano, comparado a igual período do ano passado e há evidências de que não foi só por causa de retração da demanda argentina, provocada pela crise financeira global.

A recomendação da CNI, enviada por carta ao MDIC e ao Ministério das Relações Exteriores, foi apoiada também pela Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) e por federações das indústrias de diferentes estados. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) também participará da reunião terça-feira.

b) Ásia lidera retomada e China se tornará maior exportador, diz a OMC

A China deve superar a Alemanha ainda este ano como o maior exportador mundial, segundo a Organização Mundial do Comércio (OMC). Para o organismo, a China dá sinais de que vão liderar a recuperação global. Mas a OMC alerta que o "o pior" em termos de protecionismo no comércio ainda está por vir, com o aumento de medidas de proteção de indústrias locais, como antidumping, salvaguardas, medidas compensatórias e alta de tarifas, o que pode retardar a recuperação global.

Ao lançar o relatório anual da entidade, Alexandro Jara, vice-diretor da OMC, previu mais pressão sobre os governos para proteger a indústria doméstica, à medida que o desemprego continue subindo. Mas insistiu que adotar medidas protecionistas para enfrentar a contração da atividade pode prolongar a crise e se tornar "suicida", porque tende a causar retaliação por parte dos parceiros.

Apesar dos alertas, a OMC diz que a situação ainda está sob controle. Mas 86% das novas medidas de antidumping afetam exportações de países em desenvolvimento, principalmente a China.

A OMC avalia que a Ásia está liderando uma recuperação do comércio mundial, mas uma retomada sustentável não ocorrerá antes de 2010. E mantém a estimativa de contração de 10% no comércio mundial este ano, depois de aumento de 15% em valor e 2% em volume no ano passado. As exportações mundiais alcançaram US$ 15,7 trilhões em 2008.

A Alemanha continua a ser o maior exportador global, seguido agora pela China. Mas Patrick Low, economista-chefe da OMC, disse que a performance ruim da Europa deve fazer com que as exportações da China ultrapassem as da Alemanha ainda neste ano.

Em todo caso, os EUA permanecem como o maior importador de mercadorias, com US$ 2,1 trilhões, 13,2% do total mundial, seguidos pela Alemanha, com 7,3%.

O Brasil foi o país que mais aumentou as importações em 2008, entre as 30 maiores nações comerciantes, de acordo com a OMC. As importações do país cresceram 44%, enquanto as exportações expandiram 23%. O Brasil continua tendo fatia de 1,2% do comércio global. Ganhou um ranking entre os exportadores, passando para a 22 ª posição, e três entre os importadores, agora na 24 ª posição .

Em 2008, as exportações da América do Sul e da América Central em volume aumentaram 1,5% e as importações subiram 15,5%. O crescimento das importações foi mais forte que em todas as outras regiões. Foi crescimento superior ao do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto o do volume das exportações foi inferior ao da produção.

A parte das exportações dos países em desenvolvimento subiu para o recorde de 38% em 2008.

O relatório mostra que a indústria automotiva foi um dos setores mais afetados pela recessão mundial. As exportações da indústria automotiva japonesa caíram 18% em 2008 e baixaram 30% em direção dos EUA no quatro trimestre. A produção da indústria automotiva representa 12% das exportações totais dos países industrializados.

A contração global é explicada em quatro pontos. Primeiro, é a queda enorme da demanda, maior do que no passado. Segundo, é o aumento das cadeias de fornecimento mundial. A contração ou expansão do comércio não é mais apenas uma questão de variação de fluxo comercial entre um pais produtor e um pais consumidor - isso porque a mercadoria passa por numerosas fronteiras durante o processo de produção e os componentes do produto são alterados por cada passagem de fronteira. Terceiro, persiste a penúria de financiamento para o comércio exterior. E, quarto, a contração das trocas globais tem sido afetada pela "multiplicação" de medidas de proteção.

Plano Internacional

a) Visita de chanceler expõe divergências entre Brasil e Israel

A visita do chanceler de Israel, Avigdor Liberman, a Brasília escancarou as divergências diplomáticas que opõem os governos israelense e brasileiro, evidenciando os limites do diálogo entre países com agendas tão opostas.

Liberman encerrou a primeira e mais importante etapa de seu giro sul-americano -que o levará ainda a Argentina, Peru e Colômbia- sem conseguir a almejada aproximação política com o Brasil, que Israel vê como país-chave para tentar frear a atuação do Irã na região.

A intensificação das relações entre Irã e América do Sul dominou a pauta dos encontros de Liberman com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o chanceler Celso Amorim.

O israelense disse que o Brasil, mais do que qualquer outro país, pode ajudar a pôr fim ao programa nuclear iraniano, que Israel, mesmo como única potência atômica do Oriente Médio, vê como ameaça existencial. Teerã diz que quer produzir energia, não bombas.

Em entrevista ao lado de Liberman, Amorim respondeu com uma alfinetada, dizendo que o Brasil assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear e gostaria que todos os países fizessem o mesmo. Israel não é signatário do acordo.

A delegação israelense também não gostou de ouvir Lula e Amorim reafirmarem planos de receber o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que nega o Holocausto e defende que Israel seja riscado do mapa.

O iraniano planeja fazer a Brasília a sua primeira viagem após a posse para o segundo mandato, no mês que vem -antes, portanto, do presidente israelense, Shimon Peres, que tem viagem ao Brasil marcada para novembro. O Brasil tem uma política de diálogo. Você não dialoga só com os países com os quais você está de acordo sobre tudo, senão não há conversa, disse Amorim.
O brasileiro defendeu ainda a legitimidade da reeleição de Ahmadinejad, que a oposição iraniana diz ter sido fraudulenta, afirmando que o Brasil tem de lidar com os governantes que foram eleitos e escolhidos.

Num aceno a Lula, Liberman rompeu com o tradicional e polido mutismo de Israel sobre as pretensões de o Itamaraty mediar a paz no Oriente Médio.

O Brasil tem ótima relação com a Síria e com os palestinos e acredito que possa contribuir para o diálogo direto entre Israel e seus vizinhos, disse o chanceler israelense.

A declaração agradou ao Itamaraty, mas há discordâncias frontais. A maior delas é sobre o fim dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, condição estipulada em acordos de paz que o governo de Binyamin Netanyahu se nega a cumprir.

Liberman disse que não tem havido aumento dos assentamentos, isso é discutível. Acho que cresceram, e isso é um fator que dificulta a paz, disse Amorim após despedir-se do colega -que antes admitira desacordos e mal-entendidos e fizera votos de que o diálogo traga mais compreensão.

Na coletiva, os ministros disseram ter mantido diálogo franco e cordial, eufemismo diplomático geralmente usado para descrever conversas marcadas por divergências.

Apesar do descompasso político, Brasil e Israel têm relações comerciais em plena ascensão. O intercâmbio, com a balança favorável aos israelenses, é alavancado pelas importações brasileiras de equipamentos de segurança e fertilizantes.

Amorim e Liberman também buscaram impulsionar politicamente o acordo de livre comércio Mercosul-Israel, que está emperrado nos Parlamentos dos países envolvidos.

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