Comércio Exterior
a) Resultados
A balança comercial brasileira iniciou julho com superávit de US$ 618 milhões, resultado de exportações de US$ 2,03 bilhões e importações de US$ 1,412 bilhão, informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e comércio exterior.
Nos primeiros três dias úteis do mês, a média diária das exportações foi de US$ 676,7 milhões, e a das importações foi de US$ 470,7 milhões. A corrente de comércio do Brasil com o exterior registrou queda de 30% na primeira semana de julho em relação ao mesmo período de 2008. Nas exportações, houve queda de 1,8% sobre junho deste ano e de 24% em relação a julho de 2008 na comparação da média diária. As importações cresceram 0,4% em relação a junho e caíram 37% sobre julho do ano passado.
Com a desaceleração do comércio exterior em 2009, a média diária das exportações recuou 22% no acumulado do ano, para US$ 71,982 bilhões. As importações caíram 29%, para US$ 57,377 bilhões. O superávit comercial está em US$ 13,987 bilhões, alta de 28% pela média diária. A corrente de comércio registra queda de 25%.
Analistas do mercado financeiro consultados pelo Banco Central mantiveram a previsão de queda 0,50% do Produto Interno Bruto (PIB), soma de bens e serviços produzidos no país, neste ano. Há quatro semanas, a expectativa de retração era maior: 0,71%. As projeções dos analistas são divulgadas todas as semanas no boletim Focus, elaborado pelo Banco Central (BC).
Para 2010, a expectativa é de recuperação da economia com crescimento do PIB de 3,5%, a mesma projeção há 18 semanas. Para a produção industrial, os analistas projetam retração de 5,37% e não mais de 5,04%. Em 2010, o cenário se reverte com crescimento da produção industrial de 4,03%, projeção um pouco menor do que da semana anterior: 4,05%.
A projeção para a relação entre dívida líquida do setor público e PIB subiu de 39,95% para 40,40% neste ano. Para 2010, a previsão passa de 38,40% para 39,19%. Quanto menor a relação entre dívida e PIB, maior é a confiança do investidor de que o país é capaz de honrar seus compromissos. O dólar deve chegar ao final de 2009 valendo R$ 1,99 e não mais R$ 2 previstos no boletim anterior. Ao final de 2010, a moeda americana deve custar R$ 2, a mesma estimativa anterior. A projeção para o superávit comercial (saldo positivo de exportações menos importações) passou de US$ 21,5 bilhões para US$ 22 bilhões. Para 2010, a expectativa foi ajustada de US$ 18 bilhões para US$ 19,5 bilhões.
Para o déficit em transações correntes (registro das compras e vendas de mercadorias e serviços do Brasil com o exterior), a projeção foi ajustada de US$ 16,2 bilhões para US$ 16 bilhões neste ano e mantida de US$ 22 bilhões em 2010. A estimativa para o investimento estrangeiro direto foi mantida em US$ 25 bilhões neste ano.
b) Plástico brasileiro ganha o exterior
Organização, preparação e apoio, tanto governamental como da indústria petroquímica. Estes foram os ingredientes essenciais para dar o empurrão que a indústria do plástico precisava para ultrapassar as fronteiras. Criado há cinco anos, o programa Export Plastic tem trabalhado na ampliação da competitividade da cadeia do plástico em todo o país.
Promovido pelo Instituto Nacional do Plástico (INP), em conjunto com a Agência Brasileira de Promoção de exportaçõese Investimentos (Apex-Brasil) – e com suporte da indústria petroquímica, uma das maiores interessadas na evolução de seus clientes transformadores – o programa já conta com 78 empresas associadas que exportaram em 2008 cerca de US$ 170 milhões, 21,4% a mais que o registrado em 2007, quando foram movimentados US$ 140 milhões. Um crescimento expressivo se comparado à ampliação total do setor em 2008, de 17%.
– Quando criamos o programa, nossa intenção era ajudar micros e pequenas empresas a vender seus produtos, mas hoje já contamos com associados de médio e até grande porte – disse o gerente do Export Plastic, Marco Wydra.
Com mais de 27 anos de mercado e presença em mais de 28 países, a gaúcha Coza colhe frutos dentro do programa. Segundo a diretora comercial, Daniela Zatti, desde 2004 a companhia trabalha para elevar as exportações, agregando valor aos produtos com design diferenciado e participação em feiras no exterior. Tudo para atingir a meta de vender lá fora até 20% do que produz, em até dois anos. No último ano, a Coza chegou a exportar 5% e aposta que, pelo movimento até abril, deve encerrar 2009 com 10%. Para isso a empresa, que fatura R$ 25 milhões, investiu mais de R$ 2 milhões na mudança para uma fábrica maior e equipamentos novos.
c) Missão sul-africana mostra "oportunidades" ao Brasil
Uma missão de representantes do governo e de 37 empresas da África do Sul vem ao Brasil nesta semana, num momento em que a crise global provoca uma queda expressiva no comércio bilateral entre os dois países, depois do forte crescimento registrado desde o começo da década. A chefe da missão sul-africana, a vice-ministra de Comércio e Indústria, Thandi Tobias-Pokolo, vê potencial de crescimento nas exportações da África do Sul para o Brasil principalmente em setores como autopeças, produtos químicos, produtos eletrotécnicos, como sistemas de segurança, e alimentos, vinhos e bebidas.
O diretor do Departamento de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Newton de Mello, por sua vez, diz que há perspectivas positivas para as empresas brasileiras de segmentos como alimentos, máquinas em geral, elétrico e de mineração. Ele destaca que os negócios com os países da África são estratégicos para a expansão das exportações do setor privado brasileiro, lembrando que a economia sul-africana é a mais importante do continente.
As vendas externas do Brasil para a África do Sul saltaram de US$ 302 milhões em 2000 para US$ 1,754 bilhão em 2008. Das exportações do ano passado, 82% foram de produtos manufaturados, com destaque para produtos do setor automotivo, como veículos e autopeças. De janeiro a maio de 2009, porém, as vendas brasileiras para a África do Sul recuaram 20% em relação ao mesmo período de 2008, para US$ 535 milhões. As exportações totais do Brasil tiveram queda um pouco superior no mesmo intervalo, de 23%.
As importações de produtos da África do Sul pelo Brasil cresceram a um ritmo forte a partir de 2002, passando de US$ 181 milhões para US$ 773 milhões no ano passado. Neste ano, contudo, a queda é forte. No período entre janeiro e maio, elas atingiram apenas US$ 179 milhões, 44,8% a menos que em igual intervalo de 2008. É uma queda maior que a das importações totais do Brasil, de 27,34%.
Apesar dessa queda recente do comércio bilateral, Thandi mostra uma visão otimista quanto às perspectivas das relações entre Brasil e África do Sul. "O maior desafio é a falta de consciência em termos de oportunidades representadas pelas duas economias", afirmou a vice-ministra, em breve entrevista ao Valor, feita por e-mail. Segundo ela, também é importante a parceria dos dois países no Fórum Índia-Brasil-e África do Sul (Ibas). "Essa iniciativa é uma oportunidade valiosa para essas economias emergentes se engajarem em seus desafios de desenvolvimento e em como responder à crise global", afirmou ela, lembrando que já foram definidos comitês para lidar com assuntos de interesse mútuo, como a promoção do comércio e investimento.
Os membros do governo da África do Sul e das empresas do país de setores como mineração, automobilístico e de alimentos participam de um seminário na Fiesp e de outro na quarta-feira, na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Haverá reuniões individuais entre empresários brasileiros e sul-africanos, além da apresentação de agências de desenvolvimento da África do Sul.
Para Mello, é fundamental para as empresas brasileiras e para o Brasil se aproximarem da África, uma região com quem o país tem muitas afinidades culturais. Ele destaca que é necessário competir lá com a China, que vem avançando fortemente no continente africano. "Os próprios países da África gostariam de ter um parceiro alternativo à China. Segundo alguns governos africanos, a presença chinesa é excessiva", afirma ele.
d) Importações têm queda de 29% no ano
O comércio externo continua em queda na comparação com o ano anterior, em decorrência da crise financeira internacional, tanto nas exportações quanto nas importações. Mas, de acordo com boletim divulgado pela Secretaria de Comércio Exterior, as vendas de produtos brasileiros lá fora têm caído menos que as importações, o que garante um saldo crescente da balança comercial.
Os números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior mostram que nos 125 dias úteis deste ano, até a sexta-feira, as exportações brasileiras caíram 22,1% em relação ao mesmo período de 2008. Em contrapartida, as importações foram 29,1% menores, comparado aos 127 dias úteis em igual período do ano passado. Movimento que garantiu saldo comercial, até aqui, de US$ 14,605 bilhões, ou 25,8% a mais em relação à mesma base de comparação de 2008.
A tendência de maior queda nas compras internacionais do que nas vendas nacionais se acentuou nos três últimos meses. Tanto que o MDIC registrou redução de 23,9%, pela média diária, nos três primeiros dias úteis deste mês, comparado à média diária obtida em julho de 2008. Na mesma base de comparação as importações caíram ainda mais (-36,8%). Isso abre 13,1 pontos percentuais a favor do saldo comercial brasileiro, enquanto no semestre a diferença é de apenas 7 pontos percentuais.
Neste início de mês o Brasil vendeu 6,5% menos produtos básicos, comparado à média diária de junho. Entretanto, os exportadores brasileiros venderam mais 3,5% em semimanufaturados e mais 2% em produtos manufaturados.
e) Sueca Saab afirma que pode produzir aeronaves no país
Envolvida na disputa para o fornecimento de 36 novos aviões de combate à Força Aérea Brasileira, um negócio estimado em US$ 1,8 bilhão, a sueca Saab afirmou que está disposta a trazer para o país parte da produção da aeronave Gripen.
Talvez no futuro o Brasil se torne o principal exportador da próxima geração do Gripen, afirmou Bob Kemp, executivo da empresa, que disse que até 50% da produção pode ser transferida para o país. Isso se encaixa perfeitamente nas ambições estratégicas deles [governo brasileiro]. Estamos de olho em seis ou sete grandes empresas de defesa que tem potencial de oferecer equipamento para nossa aeronave.
Além da Saab, os concorrentes para fornecer os caças são a americana Boeing e a francesa Dassault.
f) Brasil quer usar Cuba para vender ao Caribe
Cuba pode se tornar uma plataforma de exportação de produtos de indústrias brasileiras ao Caribe, a começar pelos medicamentos genéricos, afirmou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, um dia antes de partir para a ilha governada por Raúl Castro, liderando uma missão comercial com representantes de 12 empresas dos setores farmacêutico, siderúrgico, de alimentos, construção e de energia.
Jorge admite, porém, que uma das principais motivações do empenho comercial com Cuba é ajudar a ilha a contornar o embargo econômico imposto pelos Estados Unidos, o principal mercado dos países caribenhos.
Esse bloqueio é absolutamente incorreto, de qualquer ponto de vista, argumenta o ministro, ao defender a ajuda a Cuba. O país vem se abrindo gradativamente a investimentos estrangeiros associados com o governo comunista, não cria problema para remessas de dividendos e tem acordo de proteção de investimentos com outras nações, advoga Miguel Jorge, que tenta negociar com as autoridades a retomada de um projeto de montagem de equipamentos rodoviários - deixado de lado em favor da importação de produtos prontos da China.
Se Cuba é um mercado que interessa aos chineses, por que não nos interessaria?, pergunta. Os números do comércio entre Brasil e Cuba são menores que as cifras de um dia de exportações e importações brasileiras: no primeiro semestre de 2009, o comércio, somando compras e vendas entre os dois países, somou apenas US$ 131 milhões, quase 47% abaixo dos valores do ano passado, quando a economia cubana já sentia o impacto negativo dos furacões Gustav e Ike.
Até a devastação causada pelos furacões, Cuba vinha crescendo a taxas bem superiores à média latino-americana (11,1% em 2006, 7,3% em 2007). Em 2008, o crescimento ficou em apenas 4,3%. O saldo comercial ainda é favorável ao Brasil, mas também sofreu uma queda pesada, de US$ 226 milhões no primeiro semestre de 2008 para menos de US$ 100 milhões nos primeiros meses deste ano.
Miguel Jorge informa que as firmas de construção civil brasileiras têm interesse em obras do governo cubano, para as quais o Brasil já oferece uma linha rotativa de financiamento de US$ 100 milhões, do BNDES. O país também é um bom mercado potencial para as pequenas e médias empresas brasileiras, argumenta o ministro, que estimula empresários de menor porte a participar da Feira de Havana, para a qual o Brasil enviou uma comitiva de 45 firmas no ano passado e, segundo o Ministério do Desenvolvimento, deverá enviar de 50 a 60 neste ano.
A missão é organizada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, e o presidente da instituição, Reginaldo Arcuri, deverá acompanhar Miguel Jorge em encontros com os ministros cubanos de Energia, Comércio, Comércio Exterior e Investimento Estrangeiros, Indústria Básica, Sideromecânica, Alimentícia, Informática e Comunicações e Agricultura.
g) Pernambuco vai receber unidade da chinesa XCMG
A XCMG (Xuzhou Construction Machinery Group), maior fabricante de máquinas para construção da China, pretende instalar um centro de distribuição e uma montadora de equipamentos no Brasil. A empresa está em busca de terrenos no complexo industrial e portuário de Suape, em Ipojuca (PE).
A instalação da indústria será feita em sociedade com a Êxito, empresa que hoje faz a importação das máquinas da XCMG para o Brasil. As empresas não divulgaram nem os valores do investimento a ser feito, nem como será a divisão acionária da companhia no país entre elas.
De acordo com Rubens Azevedo, sócio da Êxito, a ideia é importar partes de carregadeiras e outras máquinas para montá-las no Brasil a partir do próximo ano, facilitando a logística de transporte da China para cá.
Inicialmente devem ser montadas no Brasil 40 máquinas por mês, segundo Azevedo. Algumas das peças dos equipamentos também podem vir a ser fabricados localmente no futuro. Hoje, as importações da parceira brasileira estão em cerca de 240 equipamentos por ano.
Antes de instalar a montadora, porém, a XCMG pretende colocar em operação, ainda neste ano, uma central de distribuição e uma oficina de consertos. Ainda existe muito preconceito em relação aos produtos vindos da China. Tendo uma base no Brasil fica mais fácil de ganhar a confiança do cliente, avalia Azevedo. A expectativa da empresa também é transformar o Brasil em uma plataforma de exportação para atender os clientes da América Latina.
Fundada em 1989, a XCMG faturou aproximadamente US$ 6 bilhões no ano passado, sendo cerca de US$ 800 milhões somente com exportações. O objetivo da companhia é se internacionalizar mais. Apesar de exportar para mais de 130 países, hoje ela só produz na própria China e na Polônia.
Como a importação de máquinas chinesas crescendo no Brasil nos últimos anos, diversas companhias estão abrindo escritórios no país e avaliam a construção de fábricas, como a XCMG. É o caso da Liu Gong, que produz pás carregadeiras, e da Shandong Lingong Construction Machinery (SDLG). No ano passado, os equipamentos chineses representaram 9,3% das importações totais de maquinário feitas pelo Brasil, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
h) Importações crescem e preocupam indústria
A recuperação da economia doméstica está trazendo de volta às indústrias de manufaturados um problema interrompido durante o agravamento da crise externa, entre outubro e março. As importações voltam a crescer lentamente e preocupam exportadores, que já sofriam com a queda das vendas no exterior e veem novamente o risco de perder espaço no mercado interno.
Em junho, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e comércio exterior, a média diária de importações de bens de consumo cresceu 1,1% em relação a maio, sendo que as compras externas de bens duráveis aumentaram 10,3% e as de não duráveis tiveram redução de 8,7%. No semestre, as importações do grupo de manufaturados registraram quedas, mas inferiores à retração verificada na produção dos mesmos itens, o que para economistas sinaliza a substituição de produtos nacionais por importados. No semestre, houve queda de 13,7% na importação de bens de capital, de 7% em bens de consumo (os não duráveis tiveram aumento de 2,9% e os duráveis, queda de 14,9%).
Aparentemente há uma substituição dos bens de capital e bens de consumo nacionais por importados, tendo em vista que as importações não recuaram tanto quanto a produção. Em bens de capital essa penetração de importados é mais evidente. Em bens de consumo, a substituição é mais forte nos setores de confecção, calçados e em algumas linhas de móveis, que já apresentavam problemas com a concorrência externa antes da crise, afirma o economista-chefe da Fundação Centro de Estudos de comércio exterior (Funcex), Fernando Ribeiro. As importações desses setores, diz, diminuíram no período mais crítico da crise, mas tendem a registrar recuperação ao longo dos meses, seguindo a economia brasileira.
O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, prevê para o ano uma demanda doméstica estável, com consumo próximo a 600 milhões de pares. O espaço para o produto nacional, porém, tende a ser cada vez menor. De janeiro a maio, as importações da China cresceram 4,5%, para 17,9 milhões de pares. A entidade cobra do governo federal a adoção de uma tarifa provisória enquanto o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio estuda o pedido de medidas antidumping encaminhado pelo setor.
A China está ocupando espaços da produção brasileira no mercado interno e no externo. Para concorrer, as indústrias nacionais teriam que oferecer preço menor ou melhores condições de financiamento [no caso de bens duráveis] do que as chinesas, mas não é possível concorrer com um país que possui US$ 2 trilhões em reservas para financiar as vendas, observa o vice-presidente da Associação de comércio exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.
Além da facilidade de crédito, observa, a China tem a seu favor uma moeda mais desvalorizada frente ao dólar que o real (US$ 1 equivale a 6,84 yuans e a R$ 2,016), o que favorece as exportações. A maioria dos países apresentou valorização da moeda frente ao dólar, enquanto a moeda da China ficou praticamente estável, dando a esse país um diferencial extra para exportar, afirma Castro.
De acordo com o assessor econômico da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Gilmar Freitas, as importações de componentes e partes para eletrodomésticos também registrou incremento, sobretudo a partir de abril. Não temos estatísticas fechadas, mas já se observou aumento das compras externas de matérias-primas e componentes pela expansão das cargas em liberação no porto de Manaus e pelo aumento de contêineres estocados. A redução dos preços no mercado externo e o câmbio têm favorecido a substituição de alguns itens por importados para redução do custo industrial, afirma.
A participação dos produtos brasileiros no mercado externo também é dificultada por essa concorrência. A Bibi Calçados registrou queda de 30% nas exportações no primeiro semestre e não espera melhora para a segunda metade do ano. A maior fonte de dor de cabeça é a Argentina, que até 2008 absorvia 20% das exportações da empresa. Em junho, o país fez acordo com o Brasil para reduzir para 60 dias os prazos de liberação das licenças de importação de calçados, que estavam alcançando até cinco meses, e devem limitar as vendas da empresa àquele mercado a até 100 mil pares em 2009, ante um volume histórico de 300 mil e 400 mil pares. Em compensação, os brasileiros tiveram que engolir um teto de 15 milhões de pares por ano, 19% abaixo do volume embarcado em 2008, até 2011.
Algumas cargas foram liberadas, mas agora a Argentina já trancou tudo de novo, afirma o empresário, que tem 6 mil pares à espera de licença para ingressar no país vizinho há 130 dias. Outros mercados importantes para a empresa que neste ano impuseram barreiras comerciais foram Equador e Venezuela. O Equador, que comprava 140 mil pares por ano, não levou nada até agora e a Venezuela, que importava 170 mil pares, não deve passar de 70 mil (em 2009), comenta.
Para as indústrias brasileiras, a demanda externa depende de Estados Unidos, China e Argentina. Os Estados Unidos estão em um processo de recuperação lento. A China também depende do mercado americano para elevar a produção e a Argentina passa inclusive por problemas políticos. Não vejo recuperação rápida para as exportações brasileiras, afirma a economista do Santander Luiza Rodrigues. A indústria de vestuário Cativa, que já teve 40% das suas vendas voltadas ao mercado externo, neste ano deve exportar apenas 3% da produção. Não estamos gastando energia mais neste mercado, afirma o presidente da empresa, Gilmar Sprung.
O economista André Sacconato, da Tendências Consultoria, prevê aumento de 24% nas importações, fruto da recuperação da demanda no Brasil, e de 15,5% nas exportações, graças a um aumento sazonal dos embarques de commodities no terceiro trimestre. O economista da LCA Consultores, Francisco Pessoa, também prevê uma pequena melhora no comércio exterior, mas focado em matérias-primas e sem recuperação efetiva de manufaturados. O economista projeta queda de 19,2% nas exportações no segundo semestre ante igual período de 2008 - inferior à queda de 28,4% registrada no primeiro semestre, e queda de 6,8% nas importações no segundo semestre, após queda de 10,9% nos seis primeiros meses do ano.
Agronegócio
a) Embarque de café deve cair em 2010
As exportações de café verde, torrado e moído e solúvel confirmaram as expectativas e encerraram a safra 2008/09 com o volume recorde de 31,38 milhões de sacas de 60 quilos, conforme já informou o Valor. Em relação ao ciclo anterior, houve crescimento de 14%, de acordo com levantamento do Conselho dos Exportadores de café do Brasil (Cecafé). Em receita, as exportações atingiram US$ 4,645 bilhões, aumento de 12% sobre 2007/08.
Guilherme Braga, diretor-executivo do Cecafé, acredita que superar essa nova marca no curto prazo será difícil, mas não impossível. O recorde anterior foi em 2002/03, quando o Brasil colheu a maior safra de sua história. "O setor tem investido pouco em expansão por conta da crise, mas o consumo tem crescido substancialmente", afirmou ele. "Os países importadores consumiram 97,5 milhões de sacas de café nos últimos 12 meses."
Segundo Braga, os embarques deverão ser menores em 2009/10, que é uma temporada de "polo negativo" da produtividade. "A expectativa [ainda preliminar] é de exportações em torno de 29 milhões a 30 milhões de sacas."
No mês passado, o Brasil exportou 2,335 milhões de sacas, aumento de 26,8% sobre junho de 2008, com uma receita de US$ 316,3 milhões, alta de 4,4%. Em relação ao comportamento das vendas externas no primeiro semestre, os números mostram o melhor desempenho dos últimos anos, com um volume comercializado de 14,837 milhões de sacas, incremento de 15% sobre os primeiros seis meses de 2008. Em receita, as vendas totalizaram US$ 1,997 bilhão, recuo de 5% sobre igual período do ano passado.
Os EUA voltaram a liderar as importações de janeiro a junho de 2009, com 2,924 milhões de sacas. A Alemanha apareceu em segundo lugar, com 2,904 milhões de sacas, seguida pela Itália, com 1,321 milhão de sacas, e pelo Japão, com 1,169 milhão. Na divisão por blocos econômicos, a Europa fica em primeiro, com participação de 56%, seguida por América do Norte, com fatia de 21%, e Ásia, com 17%.
b) Brasil vai abocanhar 50% das exportações mundiais de açúcar
Depois de ceder espaço no mercado internacional de açúcar para a Índia nos últimos anos, em parte por causa do aumento da produção doméstica de etanol, o Brasil volta a se destacar nos embarques da commodity. O país deverá encerrar esta safra 2009/10 com participação de 50% nas exportações mundiais de açúcar, dez pontos percentuais a mais que no ciclo 2008/09, segundo levantamento da Job Economia e Planejamento.
Com o caminho aberto pela saída da Índia da ponta exportadora, os embarques das usinas brasileiras deverão bater recorde absoluto na temporada, com cerca de 26 milhões de toneladas. Se confirmadas as estimativas, a elevação em relação a 2008/09 será de 24%. Segundo Júlio Maria Martins Borges, presidente da Job, o volume previsto também é considerado limite para a atual capacidade dos portos brasileiros.
Em receita, as exportações da safra 2008/09 atingiram US$ 6 bilhões e podem crescer expressivamente em 2009/10, considerando-se os preços médios praticados até agora na temporada. Só para se ter uma ideia, o volume exportado nos últimos dois meses soma 4,387 milhões de toneladas, alta de 33,7% em relação ao mesmo período de 2008. Os preços médios embarcados do açúcar demerara e VHP (Very High Polarization) ficaram em US$ 299 a tonelada, 11% acima sobre igual período de 2008. A cotação média do refinado ficou em US$ 331 a tonelada, alta de 10% em relação a igual período do ano passado, segundo a Job.
O avanço do Brasil no mercado global de açúcar tem a Índia como principal vetor. Segundo maior produtor mundial, a Índia chegou até a ameaçar, há duas safras, a liderança do Brasil na produção da commodity. Mas com a queda dos preços internacionais do açúcar, os produtores indianos decidiram investir em culturas mais atraentes. A forte queda da produção naquele país, para cerca de 15 milhões de toneladas, e os baixos estoques levaram as indústrias locais a voltar a importar açúcar para suprir suas necessidades.
A mesma Índia, que abocanhou mercados antes ocupados pelo Brasil, como o Oriente Médio, África e Ásia, agora abre espaço para as usinas do país retomarem os negócios com seus antigos clientes, observou Martins Borges. Nos últimos cinco meses, a Índia se tornou o segundo maior importador de açúcar brasileiro, atrás da Rússia.
Maior produtor e exportador de açúcar, o Brasil puxou o freio nos últimos anos para se dedicar ao combustível renovável, que prometia forte potencial de avanço no mercado global. Com a decisão estratégica de investir no mercado de etanol, o Brasil estacionou entre 35% e 40% sua participação no mercado mundial de açúcar.
Segundo Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), o Brasil deverá produzir um volume adicional de 4,5 milhões de toneladas de açúcar nesta safra, o equivalente a 3 bilhões de litros de álcool. A produção nacional deverá ser de 36 milhões de toneladas, 15% mais sobre a safra passada. Padua acredita que a recuperação dos preços do álcool ocorrerá nos próximos meses. O consumo de álcool está fortemente aquecido com as vendas dos carros flexfuel.
Os embarques brasileiros de álcool tiveram forte destaque nos últimos anos, saindo de 94 milhões de litros em 2000/01 para 4,7 bilhões de litros na safra passada, mas não foram suficientes para que as usinas deixassem o açúcar de lado. O recuo dos preços do petróleo, o que tirou a competitividade dos combustíveis alternativos, e a maior oferta do produto no mercado, com a consequente queda das cotações no mercado internacional, frearam os ânimos do setor sucroalcooleiro no Brasil. Para esta safra, os embarques devem cair para 3,5 bilhões a 4 bilhões de litros.
No mercado interno, os preços do álcool recuaram fortemente durante o início do ano, período de entressafra da cana no Centro-Sul, o que estimulou as usinas a elevar sua produção de açúcar, cujos preços estão atraentes. No acumulado do ano, a valorização da commodity na bolsa de Nova York é de 42%. Ontem, os contratos para janeiro fecharam a 17,48 centavos de dólar por libra-peso.
c) Embarque sobe em junho, mas cai no semestre
De janeiro a junho deste ano, as exportações totais de carne bovina somaram 775.471 toneladas (equivalente-carcaça), 29% a menos que em igual intervalo de 2008. Os volumes incluem carnes in natura, industrializada e miúdos. A receita no período foi de US$ 1,883 bilhão, uma queda de 25% em relação ao primeiro semestre de 2008, segundo dados divulgados ontem pela Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne bovina (Abiec). Considerando apenas a carne in natura, as vendas externas somaram 535.613 toneladas (equivalente-carcaça), 30% abaixo do primeiro semestre de 2008. Para a receita, que somou US$ 1,359 bilhão, o tombo também foi grande, de 29%.
Os números no semestre são negativos, mas as vendas externas de carne bovina já ensaiaram recuperação no mês passado. Segundo a Abiec, em junho o volume de carne in natura embarcado foi de 132 mil toneladas (equivalente-carcaça), 9% mais do que em igual mês de 2008. Em receita, porém, ainda há queda por conta dos preços mais baixos. Foram US$ 289,2 milhões, recuo de 14% em relação a junho do ano passado. Na mesma comparação, os preços de venda tiveram redução de 21%.
Mas a Abiec observa que o ritmo de recuo da receita com a exportação está se reduzindo. Entre janeiro e março deste ano, a queda foi de 34% ante o mesmo período do ano passado, segundo a entidade.
Na avaliação do diretor-executivo da Abiec, Otávio Cançado, o pior da crise já passou, os créditos para exportação começam a voltar ao normal e os mercados já estão mais demandados.
Segundo a Abiec, a Rússia se manteve como o maior mercado para a carne brasileira no primeiro semestre. O país comprou 237 mil toneladas de carne in natura do Brasil ou US$ 410 milhões.
A expectativa da Abiec é de incremento nas exportações no segundo semestre deste ano. Uma das esperanças é ampliar as vendas ao mercado do Chile, que reabilitou frigoríficos brasileiros em abril deste ano depois de mais de três anos de embargo por causa de casos de febre aftosa em Mato Grosso do Sul e no Paraná, no fim de 2005. As vendas ao Chile ainda são pequenas por isso representantes da entidade vão ao país para tentar agilizar a retomada.
d) Exportação de carne suína tem 1º semestre positivo
As exportações de carne suína do país aumentaram em junho em relação a maio, em volume e em valor, e encerraram o primeiro semestre do ano com resultados considerados positivos pelas empresas do segmento, apesar dos preços ainda retraídos.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne suína (Abipecs), os embarques somaram 53.921 toneladas no mês passado, ou US$ 103,2 milhões.
Em relação a maio, o volume de vendas cresceu 4,2%, e a receita, 0,6%. Parece claro, diante desses números, que a disseminação global da gripe A (H1N1) não prejudicou significativamente o mercado. Na comparação com junho de 2008, o volume registrou salto também de 4,2%, mas a receita recuou 30%. Em junho último, o preço médio dos embarques foi 3,4% menor que o de maio e ficou 32,9% abaixo de junho de 2008.
A queda dos preços no mercado internacional, de maneira geral, e em particular na Rússia, principal destino [das exportações brasileiras de carne suína], é desanimadora. Os baixos preços, aliados à valorização cambial, têm significado prejuízo para todos. A crise global provocou uma queda abrupta de preços que não vem sendo corrigida com o tempo, diz Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs, em comunicado da entidade.
Ainda assim, as empresas já acreditam que os embarques poderão alcançar 600 mil toneladas em 2009, ante as 529.418 do ano passado e as 606.513 de 2007. No primeiro semestre, foram 294.478 toneladas, 8,8% acima de igual intervalo do ano passado, mas a receita caiu 17,6%, para US$ 583,1 milhões.
Mercosul
a) Apoio do Brasil irrita oposição venezuelana
No momento em que o Senado brasileiro discute a entrada da Venezuela no Mercosul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não se cansa de exaltar a amizade e os interesses comuns com o governo de Hugo Chávez. Nos últimos anos, a venda de produtos brasileiros para a Venezuela cresceu 860% (contra 230% da Argentina, por exemplo) e o país agora ocupa o sétimo lugar no ranking dos principais destinos das exportações do País.
Na contramão do que fazem companhias de outros países, diversas empresas brasileiras resolveram investir na Venezuela, entre elas Braskem, Gerdau, Ultra, e várias empreiteiras. Mas a aproximação com Caracas desperta polêmica.
Para Roberto Iglesias, do Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento, no Rio, o governo brasileiro é o principal motor da expansão dos negócios com a Venezuela. Não faz muito sentido os empresários confiarem na palavra de Chávez. Se eles apostam na Venezuela é porque são empregados recursos públicos para criar condições de financiamento, diz Iglesias citando o crédito de mais de US$ 4 bilhões do BNDES para Chávez pagar as compras do Brasil.
Os encontros entre os dois presidentes são frequentes e uma série de projetos industriais está sendo costurada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, que abriu um escritório em Caracas em 2008. Chávez quer a ajuda brasileira para montar 200 indústrias. A questão é saber se não é arriscado no longo prazo estimular tais investimentos, com base mais em fatores políticos e ideológicos do que em pragmatismo econômico, diz Iglesias.
Nos últimos anos, Chávez ampliou sua influência na região valendo-se dos recursos do petróleo. Comprou com subsídios a amizade de micropaíses da América Central, como Honduras, financiou projetos assistencialistas na Bolívia e Equador e impulsionou a Aliança Bolivariana para as Américas (Alba).
Segundo analistas, tais medidas acabaram por criar dois blocos na América Latina - um moderado, de consensos e pluralismo, liderado pelo Brasil; o outro mais radical, com Chávez à frente. O caminho chavista seria o do antiamericanismo, do confronto com a oposição e da ampliação do poder do Executivo.
Foi esse cenário que criou grande expectativa em relação à liderança de Lula. A aproximação com Chávez é vista por alguns como uma forma tentar expandir influência. Muitos, porém, sentem-se frustrados. Essa amizade ampliou a preocupação nos EUA e na Europa com o fato de a política externa brasileira passar por cima de questões como ameaças à liberdade de expressão, direitos humanos e princípios democráticos, disse ao Estado Robert Amsterdam, advogado do empresário venezuelano Eligio Cedeño, preso em 2007 por crimes fiscais, mas sem acusação formal.
Entre os opositores venezuelanos, a decepção com Lula é grande. O governo brasileiro só se preocupa em ganhar dinheiro na Venezuela, vender e vender, aproveitando que já não conseguimos produzir nada, diz a funcionária pública Carmen Vino, numa passeata em Caracas contra as ameaças de Chávez à TV Globovisión.
Mas entre os chavistas, a aproximação é bem vista. Felizmente, o Brasil tem apoiado nossa revolução, diz a professora Elizabeth Andrade, num protesto contra o terrorismo midiático das TVs privadas.
Organização Mundial do Comércio (OMC)
a) OMC alerta sobre novas barreiras comerciais
O protecionismo esteve no centro da agenda na Organização Mundial do Comércio (OMC). Dirigentes dos principais organismos multilaterais destacaram que novas barreiras comerciais, financeiras e ambientais ameaçam sobretudo as economias emergentes. A mensagem ao G-8 é clara: é mais do que tempo de concluir a Rodada Doha para liberalizar e evitar futuras guerras comerciais.
No evento, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luiz Alberto Moreno, mostrou que as exportações da América Latina sofrem tanto com a enorme retração da demanda global como com problemas crônicos de infraestrutura e de instituições.
Segundo estudo do BID, o atraso nas alfândegas na América Latina aumenta entre 5% e 15% os custos de transporte das exportações. O custo médio do frete marítimo da América Latina para os EUA é quase 50% maior que o dos mesmos produtos originários da Europa.
Além disso, o impacto de redução de 10% nas taxas de frete poderia aumentar o volume de comércio em 20 vezes mais do que uma redução similar nas tarifas dos países importadores. Para completar, a região teria ganhos importantes com harmonização de regras de origem, de procedimentos aduaneiros e outras facilitações.
A exposição de Moreno coincidiu com um relatório do Fórum Econômico Mundial que coloca o Brasil em 87ª posição entre 121 países em relação a capacidade no comércio internacional. O estudo examina instituições, políticas e serviços que facilitam o fluxo internacional de mercadorias.
De acordo com o relatório, a péssima posição do Brasil revela problemas de transparência nas alfândegas, que provocam atrasos e prejuízos, e de proteção do mercado, entre outros. Para o presidente do BID, não há nada de novo. "É comum ter altos custos na região com esses problemas. E isso inclui o Brasil", afirmou.
Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, reuniu os principais dirigentes do FMI, Banco Mundial, OCDE, Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (Pnud) e de bancos regionais de desenvolvimento para tratar de ajuda ao comércio de países pobres.
Falou-se sobretudo na ameaça do protecionismo, que ainda não está fora de controle, mas é risco real. "Os líderes governamentais precisam reconhecer que estão brincando com fogo", alertou o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. Como exemplo, ele citou o Buy America, programa no qual os americanos discriminam produtos de outros países; do Buy China, parte do programa de estímulo chinês; além do aumento de medidas antidumping, de barreiras não tarifárias e do retorno de subsídios a exportação de lácteos.
Zoellick citou queda de 35% nas exportações da Europa Oriental, 25% da Ásia e 20% da América Latina até abril. Ao mesmo tempo, reconheceu que uma pequena melhora na economia já vai dar um forte impulso ao comércio. É que cada dólar de exportação contém mais importações do que antes.
Dominique Strauss-Kahn, diretor-gerente do FMI, apontou "um novo protecionismo": o financeiro. Ele criticou o modo como grandes bancos dos países ricos repatriaram dinheiro dos emergentes sem "se preocupar com os estragos e com o impacto" nessas economias.
Com base em cem crises bancárias e financeiras que o FMI acompanhou, Strauss-Kahn acha que não se pode resolver a atual com protecionismo financeiro, que leva bancos a concentrar empréstimos para empresas de seus países.
Outros bancos regionais apontaram o crescente risco de "protecionismo verde", sobretudo contra produtos asiáticos.
b) Brasil quer fechar Doha no início de 2010, diz Amorim
O compromisso das maiores economias do mundo de tentar concluir a Rodada Doha de liberalização do comércio mundial até o ano que vem foi recebido na cena comercial com pessimismo, com muitos negociadores estimando que os Estados Unidos não têm condições de fechar um acordo.
O Brasil, por sua vez, anunciou que quer a conclusão da Rodada o mais rápido possível no primeiro trimestre do ano que vem, antes de a campanha eleitoral no país tomar um ritmo maior, quando então o governo Lula terá diminuída a margem para eventuais concessões, mesmo menores.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, tinha dito recentemente que sentia calafrios ao ouvir sugestões de conclusão de um acordo de liberalização agrícola, industrial e de serviços em 2010, ano de eleição. Ele disse que pode sentir calafrio menor se a rodada terminar no primeiro trimestre, mas que o calafrio aumentará se o prazo for perdido.
Quanto antes terminar, melhor, disse Amorim. É claro que queremos que acabe o quanto antes. As agendas vão mudando, as preocupações passam para outro tema, chegam pessoas novas que podem querer reinventar caminhos já percorridos.
O G-8 e o G-5 concordaram com a data de 2010 num comunicado conjunto, como o Valor antecipou na quarta-feira. Na sessão especial dos líderes sobre comércio, o presidente da Comissão Europeia (CE), José Manuel Durão Barroso, foi o primeiro a advertir que desta vez é preciso realmente respeitar o prazo, diante da falta de credibilidade nesse tipo de anúncio.
O presidente do Egito, Hosni Mubarak, foi incisivo na defesa da conclusão do acordo , que considera ser benéfica para países em desenvolvimento.
A concessão do presidente americano, Barack Obama, foi ter aceito a data. Mas ele advertiu na reunião, ontem, que precisará de um pacote substancial para o Congresso poder aprová-lo.
De fato, negociadores importantes acham que os americanos não têm condições de negociar a conclusão de Doha no ano que vem. O Congresso está muito hostil, e a administração Obama tampouco tem apoio do setor privado.
De um lado, o setor agrícola não quer pagar pelo acordo. O setor industrial tem problemas para abertura, como em têxteis. Nesse cenário, os americanos aumentam as cobranças sobre os emergentes, como Brasil, China e Índia, pedindo o céu na terra, na expressão de um negociador.
A pior coisa que podia acontecer para os americanos era suas demandas serem aceitas, porque aí eles teriam de se mover, disse um negociador.
c) Líderes decidem retomar Doha
Os líderes do G-8 (sete economias mais industrializadas e Rússia), do G-5 (Brasil, China, Índia, México e África do Sul), da Austrália, Indonésia e Coreia do Sul concordaram em assumir o compromisso de concluir a Rodada Doha em 2010 e retomar as negociações a partir do ponto em que foram suspensas, em julho do ano passado.
As 16 economias, reunidas em Áquila, deram a instrução para que seus ministros explorem imediatamente todas as avenidas possíveis dentro da Organização Mundial do Comércio (OMC) e para que se reúnam antes da cúpula do G-20 em Pittsburgh.
O objetivo traçado pelos 16 países de preencher as lacunas dos acordos sobre agricultura e indústria no prazo mais curto possível, entretanto, enfrenta pelo menos um obstáculo: o grau de incerteza ainda presente sobre a economia global.
O próprio G-8 constatou que ainda há riscos significativos e recomendou a redução do desequilíbrio nas trocas entre países com superávit no comércio bens e serviços, como a China, e os deficitários, como os EUA.
Nesse sentido, a advertência feita pelo presidente americano, Barack Obama, em encontro com Lula, de que o consumo do mercado americano demorará a voltar aos níveis anteriores ao do estouro da crise também colide com a meta de fechar a Rodada Doha em 2010. Em tempos de crise, os acordos de liberalização dificilmente são fechados.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, afirmou que um encontro de ministros de Comércio está planejado para relativamente em breve. Estamos fixando como prazo final para a
conclusão da Rodada Doha o ano de 2010.
Ele se declarou otimista em relação ao progresso das negociações porque o novo governo dos EUA mostrou vontade de avançar nas discussões, tendo anteriormente pedido tempo para estudar detalhes específicos da rodada. Para nós, obter esse acordo, no qual avançaremos com velocidade, agora, é um reflexo das políticas que o governo americano está adotando, disse.
Os líderes do G-8 e do G-5 também concordaram em evitar desvalorizações de moedas e querem promover um sistema financeiro internacional estável. A desvalorização é apontada como uma das principais razões para o agravamento da crise de 1930, quando vários países tentaram ganhar competitividade e acabaram provocando uma onda protecionista.
Mas não houve discussão real sobre o papel do dólar no encontro, segundo Brown. Não estava na agenda e não houve uma discussão séria a respeito. No entanto, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, criticou a supremacia do dólar e defendeu uma reforma do sistema mundial de moedas. O atual modelo, disse, é ultrapassado e resulta da predominância econômica e política dos EUA após a 2ª Guerra.
Francamente, 60 anos depois, as pessoas precisam perguntar a si mesmas: não deveria um mundo multipolar possuir um sistema econômico multipolar?, disse após coletiva do G-8 e do G-5. Mesmo sendo um assunto difícil, nós o discutiremos nos próximos meses.
O comentário se aproxima do de líderes de países emergentes, como a China. O conselheiro de Estado da China Dai Bingguo disse que o regime internacional de moedas deve ser diversificado, informou uma autoridade chinesa. Dai disse aos líderes haver necessidade de melhorar o sistema monetário internacional, o regime de regulação e de moeda de reserva, manter relativa estabilidade das taxas de câmbio das principais moedas de reserva internacional e promover um sistema de moedas mais diversificado e razoável.
Com US$ 2 trilhões em reservas internacionais, a maior parte em dólares americanos, a China tem forte interesse em evitar qualquer atitude que prejudique o valor do dólar. Mas a crise aumentou a preocupação das autoridades chinesas com a perda do valor da moeda norte-americana e seu impacto sobre as reservas chinesas. A China já sugeriu que os Direitos Especiais de Saque (DES), a moeda do FMI, tivessem seu papel ampliado.
Plano Internacional
a) Emergentes se unem contra "taxa de carbono"
O Brasil reforçou os protestos contra um plano dos EUA de impor uma "taxa de carbono" sobre produtos importados de países considerados resistentes à redução de suas emissões de gases.
O embaixador brasileiro na Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevedo, alertou que o projeto americano, dependendo de como for usado, "é ilegal ou no mínimo questionável pelas regras comerciais internacionais".
Para Azevedo, a lei tem elementos para deslanchar uma guerra comercial. "É uma medida que não vai se esgotar nos EUA, pode ter efeito dominó e outros imitarem."
A Câmara dos Deputados dos EUA aprovou uma lei com provisões para impor a chamada "tarifa de carbono", para assegurar que companhias americanas não percam vantagem competitiva face a produtores que não invistam na descarbonização de suas produções. Os EUA até hoje não aceitaram o protocolo de Kyoto, de redução de emissões, mas o presidente Barack Obama promete agora assumir compromissos nessa área.
A lei precisa ainda ser aprovada no Senado. Há indicações de que os democratas podem endurecê-la ainda mais. A União Europeia também estuda adotar uma "taxa de carbono", por iniciativa da França.
China e Índia acusaram a lei americana de violar as regras da OMC e ser protecionismo disfarçado, podendo prejudicar duramente os países em desenvolvimento. Os dois países não querem ouvir falar de assumir compromissos internacionais de redução de emissões de gases, preferindo programas nacionais compatíveis com o seu desenvolvimento acelerado.
A OMC divulgou recentemente relatório em que diz as taxas de carbono podem ser compatíveis com as regras da organização, mas que será difícil provar que elas não são restrições ao comércio disfarçadas de proteção ambiental.
Outra preocupação mais imediata na OMC é com a enorme queda do comércio mundial este ano. Hoje, o Banco Mundial anunciará um fundo global de liquidez para o comércio exterior de países em desenvolvimento, com a expectativa de mobilizar cerca de US$ 50 bilhões nos próximos três anos.
O banco deverá formalizar os primeiros desembolsos para exportadores e importadores em países em desenvolvimento, para ajudar a reverter a enorme queda no comércio causada pela crise.
Segundo a porta-voz do banco, Lotte Pang, o fundo com cooperação de doadores e bancos privados já tem promessas de US$ 12 bilhões. Essa soma poderá financiar um fluxo comercial de US$ 50 bilhões em três anos, na medida que os empréstimos são de curto prazo e serão reinvestidos, desde que sejam pagos. Cerca de US$ 12 bilhões serão destinados à America Latina.
O programa do Bird é uma das peças do pacote de US$ 250 bilhões que os líderes do G-20 anunciaram em abril, em Londres, para reativar o comércio global.