08 a 12 de junho de 2009

Comércio Exterior

Resultados
Exportação de industrializado cairá 40% no semestre, diz Fiesp
Exportação começa junho com alta de 20%
Bric aceleram suas compras de dólares
Rota Brasil-Ásia ignora a crise e mantém crescimento
Exportações e importações têm queda sincronizada
Vale reduz preço do minério de ferro em 28%
Comitiva tenta ampliar negócios no Cazaquistão

Agronegócio

Quebra de safra faz América do Sul colher menos soja
Câmbio afeta exportação brasileira de carne suína
Dólar cai e sustenta soja e milho em Chicago

Mercosul

Calçadista vê com cautela acordo com a Argentina
Comissão adia discussão sobre a Venezuela

Organização Mundial do Comércio (OMC)

Lamy vê bom progresso para retomada de Doha
OMC alerta para nova onda de protecionismo

Plano Internacional

China vai reduzir impostos de exportação
Brasil piora, enquanto cenário global evolui, afirma OCDE
Brasil continua com a 3ª maior taxa do mundo
Exportações chinesas sofrem queda recorde em maio



Comércio Exterior

a) Resultados

A balança comercial registrou superávit de US$ 1,208 bilhão (média diária de US$ 241,6 milhões) na primeira semana de junho, segundo o Ministério do Desenvolvimento. O resultado é o melhor desde a segunda semana de setembro de 2008 (US$ 1,257 bilhão).

O saldo da semana passada representa a diferença entre exportações de US$ 3,534 bilhões e importações de US$ 2,326 bilhões. Nos ano, a balança registra superávit de US$ 10,580 bilhões, 18,08% a mais que os US$ 8,96 bilhões registrados no mesmo período de 2008.

b) Exportação de industrializado cairá 40% no semestre, diz Fiesp

O setor industrial já espera uma queda de 40% nas exportações de produtos industrializados no primeiro semestre deste ano, segundo levantamento da Fiesp com 78 das maiores empresas exportadoras do Brasil em junho. No mês passado, a perspectiva era de uma queda menor, de 37%.

O diretor interino do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp, Walter Sacca, afirma que o cenário econômico externo, ainda em deterioração, é que está derrubando o resultado da indústria. Para ele, a recente valorização da moeda brasileira prejudica ainda mais o setor.

A falta de demanda internacional já vem comprometendo as exportações, e, agora, o país terá um preço menor para oferecer em dólar. A tendência é de redução no saldo da balança comercial, afirma Sacca.

A alta do real fez com que a Fiesp reduzisse para US$ 25 bilhões sua projeção mais otimista para o saldo da balança comercial neste ano. Segundo Sacca, o motivo é a queda na exportação, pois, mesmo com o câmbio valorizado, a Fiesp espera que as importações só cresçam significativamente quando a indústria retomar a produção.

Segundo o diretor da Fiesp, ainda vai demorar. A situação atual da indústria está pior do que a Fiesp esperava. A perspectiva de que o fundo do poço ficou para trás e de que o setor iniciaria um período de recuperação não se confirmou. Os dados que temos de maio e do início de junho não mostram uma retomada.

Agora, a Fiesp já espera uma queda no PIB industrial acima de 5% no ano, que levará o PIB brasileiro a uma retração superior a 1%.

De janeiro a abril, a indústria registrou um resultado quase 15% menor que o do primeiro quadrimestre do ano passado. Não há a menor possibilidade de recuperação dessas perdas nos próximos meses e de a indústria encerrar o ano no mesmo nível de 2008.

c) Exportação começa junho com alta de 20%

A média diária das exportações brasileiras ficou 20,2% menor, na primeira semana de junho do que a média registrada no mesmo mês do ano passado. Em compensação, aumentou 17,9% em relação à média diária de maio deste ano e contribuiu para o bom desempenho da balança comercial, que contabilizou saldo de US$ 1,208 bilhão entre os dias 1º e 5 deste mês.

Também contribuiu para isso o fraco movimento das importações, que caíram 38,4% em comparação com a média diária de junho de 2008 e mantiveram quase o mesmo patamar do mês anterior, com retração de 0,3%, segundo boletim divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

Na comparação com maio, os exportadores venderam mais 25,4% de semimanufaturados (ferro-liga, alumínio em bruto, óleo de soja, couros e peles, dentre outros), mais 20,4% de produtos básicos (petróleo cru, minério de ferro, cereais, carne e outros) e mais 14,3% de produtos manufaturados (automóveis, autopeças, celulares, calçados, etanol, motores e geradores, aviões e tudo o mais com agregação de tecnologia). Na comparação com junho de 2008, houve retrações fortes nas três categorias de produtos: 28,4% nos manufaturados, 14,1% nos semimanufaturados e 10,5% nos básicos.

No total de 106 dias úteis até a última sexta-feira, as vendas de produtos brasileiros somaram US$ 59 bilhões, queda de 22,3% sobre 2008. As importações, no entanto, caíram ainda: 27,8%. Por esse motivo, o superávit comercial de US$ 10,5 bilhões está 18,12% maior que os US$ 8,9 bilhões de igual período do ano passado.

d) Bric aceleram suas compras de dólares

Brasil, Rússia, Índia e China (os Bric) estão comprando dólares ao ritmo mais acelerado desde o congelamento dos mercados de crédito, em setembro do ano passado, para proteger suas exportações, apesar de os líderes desses países estarem considerando alternativas à moeda americana.

Os Bric, termo cunhado pelo economista-chefe do Goldman Sachs, Jim ONeill, em 2001, aumentaram as suas reservas em moeda estrangeira em mais de US$ 60 bilhões em maio, de forma a limitar a valorização de suas moedas, uma vez que a recessão global, a primeira desde a Segunda Guerra Mundial, restringiu as exportações, segundo mostram dados compilados por bancos centrais e estrategistas.

O Brasil foi o país que mais comprou dólares no ano passado, as reservas da Índia foram as que cresceram mais desde janeiro de 2008 e a Rússia acumulou a maior quantia de moedas estrangeiras desde julho de 2008.

Embora os líderes de Rússia, China e Brasil sugiram a substituição do dólar, as compras dos bancos centrais mostram o quanto esses países continuam dependentes da moeda de reserva mundial. A Rússia está propondo que os Bric estudem a criação de uma nova unidade de câmbio na sua reunião em Yekaterimburgo em 16 de junho. China e Brasil disseram no mês passado que poderão procurar formas de substituir o dólar no comércio entre os dois países.

Os bancos centrais estrangeiros não querem ver suas moedas valorizadas de forma inexorável, disse Daniel Tenengauzer, diretor de estratégia para câmbio e dívida dos mercados emergentes do Bank of America-Merrill Lynch em Nova York. Isso pioraria as já fracas perspectivas fora dos EUA e teria o potencial de aumentar o risco de caos nos mercados de capital, se o dólar parecesse estar se encaminhando para um declínio desordenado, complementou.

Os ativos das reservas internacionais dos Brics, com exclusão do ouro, totalizam US$ 2,8 trilhões, uma alta de 7,8% em relação a um ano atrás, e representam 42% do total mundial, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Real, rublo e rúpia se valorizaram e o índice do dólar negociado na bolsa ICE Futures de Nova York apresentou o seu maior declínio de 24 anos no mês passado, uma vez que os sinais de que a recessão mundial pode estar desacelerando levou os investidores a procurarem alternativas mais rentáveis que a moeda dos EUA. US$ 26,1 bilhões líquidos entraram nos fundos de ações dos mercados emergentes este ano, disse em 4 de junho a EPFR Global, que monitora US$ 11 trilhões em todo o mundo.

O real se valorizou 11,2% no mês passado; o rublo, 6,9% e a rúpia, 6,4%. O yuan teve uma apreciação de 21% entre julho de 2005, quando o governo permitiu a o câmbio da moeda, e julho de 2008. A China vem impedindo o fortalecimento da moeda desde então, uma vez que a economia desacelerou.

O Índice do Dólar, que monitora o câmbio da moeda americana contra o euro, o iene, a libra esterlina, o dólar canadense, o franco suíço e a coroa sueca, perdeu 6,4% no mês passado, o maior declínio desde março de 1985.

O presidente russo, Dmitry Medvedev, propôs em 5 de junho que os países usassem uma combinação de moedas regionais de reserva para reduzir a dependência do dólar.

O presidente do banco central da China, Zhou Xiaochuan, sugeriu em março o uso de uma unidade de contabilidade do Fundo Monetário Internacional (FMI), conhecida como Direitos Especiais de Saque (DES), como uma alternativa. O seu colega indiano, Duvvuri Subbarao, não comentou esse plano. O primeiro vice-diretor executivo do FMI, John Lipsky, disse em 6 de junho que é possível tomar essa atitude revolucionária com o correr do tempo.

No mês passado, a China, o maior importador mundial de soja e minério de ferro, e o Brasil, que tem entre os seus principais produtos de exportaçãosoja, metais e petróleo, começaram a estudar uma proposta para se afastar do dólar, usando o yuan e o real.

O que estamos vendo é uma expressão pública de descontentamento com o dólar, mas ninguém sabe o que precisa ser feito especificamente, disse Elina Ribakova, economista-chefe em Moscou do Citigroup Inc.

O Brasil, o único dos quatro países a especificar as suas compras em dólar, adquiriu US$ 2,8 bilhões em moeda americana em maio. A Rússia comprou pelo menos US$ 17 bilhões em moedas estrangeiras, enquanto as reservas da Índia cresceram US$ 10,6 bilhões, segundo mostram dados dos bancos centrais. A China pode ter comprado US$ 30 bilhões em moeda estrangeira no mês passado, segundo estima a empresa de pesquisa SJS Markets Ltd., sediada em Hong Kong.

No fim de 2008, o dólar respondia por 64% das reservas dos bancos centrais, uma alta em relação aos 62,8% de junho de 2008, segundo o FMI.

Um declínio mais acentuado do dólar prejudicaria as exportações dos Bric, desvalorizaria suas reservas e agravaria a crise mundial de crédito, disse Mitul Kotecha, diretor de estratégia cambial em Hong Kong da Calyon, braço de banco de investimento do Credit Agricole.

Seria dar um tiro no próprio pé vender os ativos dos Estados Unidos e se afastar dos dólares com rapidez excessiva, disse Kotecha. Por mais que ouçamos isso em termos de retórica, os bancos centrais têm tanta exposição que serão muito cautelosos.

e) Rota Brasil-Ásia ignora a crise e mantém crescimento

Empresas de navegação que transportam cargas em contêineres já veem sinais de recuperação nos volumes exportados na rota Brasil-Ásia. A China continua a ser o principal motor de crescimento na região com importações de metais e aço, além de commodities como o minério de ferro embarcado em navios graneleiros. De janeiro a abril, houve crescimento de 9,5% no número de contêineres embarcados para a Ásia na comparação com o primeiro quadrimestre de 2008. No mesmo período, a importação de produtos asiáticos conteinerizados caiu 33,7%.

Os dados são da Datamar, consultoria em transporte marítimo. David Lorimer, diretor da Datamar, disse que a exportação de cargas em contêineres do Brasil para a Ásia estava estável desde o início de 2007, mas deu um pulo em março e abril como resultado da compra, pela China, de alumínio, produtos de cobre e papel e celulose, entre outros. É como se a China estivesse formando estoques.

Os números da Datamar mostram que no primeiro quadrimestre a exportação em contêineres para a Ásia somou 106,9 mil TEUs (contêiner equivalente a 20 pés), 9,5% a mais do que os 97,7 mil TEUs de janeiro-abril de 2008. Na importação, o Brasil trouxe da Ásia 125,9 mil TEUs no primeiro quadrimestre, queda de 33,7% em relação aos 190,1 mil TEUs de igual período de 2008.

Dados da balança comercial brasileira confirmam a alta na exportação para alguns dos principais mercados asiáticos. De janeiro a maio, a exportação do Brasil para a China cresceu 34,3%, em valores, e para a Coreia do Sul, 7,7%. Já as importações brasileiras desses dois mercados caíram 20,9% e 29,4%, respectivamente, segundo o Ministério do Desenvolvimento (Mdic).

Taek Hwan Moon, presidente da coreana STX Brasil Trading, disse que a empresa de navegação do grupo, a STX Pan Ocean, manteve entre janeiro e maio os volumes de exportação de minério de ferro e aço para a Ásia em relação a igual período de 2008. Ele disse que um dos clientes, a ArcelorMittal Tubarão, está exportando placas de aço para a China. Segundo a STX, os preços dos fretes do minério para a Ásia recuperaram-se parcialmente em relação a 2008 e situam-se hoje na faixa dos US$ 40 por tonelada.

A partir de março houve uma recuperação dos volumes de contêineres, diz Nelson Carlini, presidente da francesa CMA-CGM no Brasil. Este mês a empresa anunciou restaurações nos preços dos fretes entre a Europa e a Ásia, que poderão ser aplicados a partir de 1º de julho.

Restaurações são tentativas de aumentar os fretes, mas o aumento depende da oferta de espaço nos navios e da demanda por transporte. A CMA-CGM tenta aumentar os preços dos fretes em US$ 300 por TEU, inclusive na rota entre a costa leste da América do Sul e a Ásia. Isso significa que, se o aumento for aceito, um frete na exportação, hoje na faixa de US$ 1 mil por contêiner, poderia subir para US$ 1,3 mil, alta de 30%.

Fonte do setor disse que este é um período do ano em que tradicionalmente os armadores tentar aumentar os preços dos fretes, mas em 2009, em função da crise, a situação é mais difícil. Antonio Carvalho, diretor da Lachmann, grupo que tem agência marítima e empresa de navegação, disse que os preços dos fretes para contêineres na importação da Ásia chegaram a US$ 2,5 mil por unidade de 20 pés antes do agravamento da crise, em setembro de 2008. Agora esse valor caiu para US$ 500 por contêiner de 20 pés.

Julian Thomas, diretor superintendente da Hamburg Sud, também confirmou que a empresa negocia com os clientes aumentos nos fretes entre US$ 250 e US$ 300 por TEU. A tentativa das empresas de navegação de aumentar os preços dos serviços busca reduzir prejuízos causados pelo aumento de custos. O principal motivo foi a alta no combustível de navegação, o bunker. Companhias internacionais de navegação, com capital aberto em bolsa, registraram fortes quedas em volumes de carga e receitas no primeiro trimestre deste ano em relação a igual período do ano passado.

Segundo Thomas, o bunker superou, no ano passado, os US$ 700 por tonelada, posto em Roterdã. Mas no fim de 2008 atingiu US$ 165 por tonelada, acompanhando a queda no preço do petróleo. Agora, com a recuperação da cotação do petróleo, o bunker chegou, no fim de maio, em US$ 337 por tonelada em Roterdã.

Thomas previu que em 2009 as exportações de cargas em contêineres da costa leste da América do Sul para a Ásia poderão crescer na faixa de 2%, bem abaixo dos 10% de 2008. Mesmo assim, segundo ele, será um resultado melhor do que o esperado para o fluxo de cargas com Europa e Estados Unidos, que deverá cair dois dígitos. Na importação, ele previu que será possível recuperar parte da perda. Mesmo assim, as importações de produtos asiáticos em contêineres deverá fechar o ano com uma redução de 20% sobre 2008.

A japonesa NYK espera uma recuperação para o mercado de importação e exportação a partir do segundo semestre. Esse movimento se daria sobretudo na exportação, na medida que as novas safras, como a do algodão e açúcar, e produtos como papel e celulose comecem a ser embarcados. A NYK reestruturou seus serviços de contêineres, tanto para os EUA quanto para a Ásia. Nesse segmento, a empresa formou consórcio com novos parceiros no serviço já existente e ampliou o tamanho dos navios. Passamos a ser um dos três maiores operadores dessa linha no país, disse a empresa em nota.

f) Exportações e importações têm queda sincronizada

As exportações e importações de bens e serviços no primeiro trimestre bateram recordes de queda nas séries da pesquisa do Produto Interno Bruto (PIB) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), iniciadas em 1996. As exportações caíram 15,2% em relação ao mesmo período do ano passado e 16% sobre o trimestre anterior.

Entre as importações, a queda sobre o trimestre anterior, de 16,8%, também é recorde. E a diminuição de 16%, em relação ao mesmo período do ano passado, é a pior desde o primeiro trimestre de 2002, quando a redução foi de 17,7%.

Já era previsto que seriam grande quedas, disse o vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Todo setor manufaturado teve queda de exportação. Ele observou, porém, que anteriormente se imaginava que as exportações cairiam mais que as importações, mas a alta do dólar no início da crise inibiu as importações.

No acumulado de 12 meses até março, as exportações foram o único grupo do PIB que teve variação negativa em comparação a igual período anterior. A queda foi de 3,5%. As importações de bens e serviços aumentaram 9,6% no período.

Pela primeira vez desde o primeiro trimestre de 2006, o setor externo não deu uma contribuição negativa para o PIB. A gerente de contas trimestrais do IBGE, Rebeca Palis, explicou que a queda das exportações (-15,2%), comparativamente a igual trimestre do ano passado, ficou muito próxima da queda das importações (-16,0%), o que acabou neutralizando os efeitos da crise no cálculo.

Rebeca sublinhou que o recuo das importações no período representou a primeira queda trimestral desde o terceiro trimestre de 2003, quando caíram 5,3% em relação a igual período de 2002. Ela observou que as principais reduções na pauta de importações no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período do ano passado, ocorreram nos segmentos de material eletrônico, material elétrico, outros produtos do refino, peças e acessórios para veículos e químicos diversos.

Estudo da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), feito com base em dados da balança comercial só para bens e em valor, é coerente com as quedas em volume apuradas na pesquisa do PIB para exportações e importações de bens e serviços. Um total de 26 de 28 setores tiveram queda das exportações em valor no primeiro quadrimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Funcex.

As exceções foram extração de minerais metálicos (+38,8%) e agricultura e pecuária (+10,2%). Em 19 dos 28 setores, as quedas foram de mais de 20%. No caso das importações, foram 21 em 28 setores que tiveram queda nos primeiros quatro meses do ano em relação ao mesmo período do ano passado.

g) Vale reduz preço do minério de ferro em 28%

Num cenário de forte retração do consumo global, a Vale anunciou a primeira queda de preço do minério de ferro desde 2002: a redução ficou em 28,2% no do tipo fino, o mais vendido pela mineradora. O percentual, fechado em acordos firmados com siderúrgicas do Japão e da Coreia, está abaixo do que pleiteia a China, principal cliente da companhia.

As usinas chinesas pressionam por uma redução de 40% no preço do minério de ferro. Mas, depois de a Vale e de a concorrente Rio Tinto fecharem contratos com preços em torno de 30% mais baixos, elas devem ser forçadas a aceitar um percentual menor, segundo analistas do setor.

Para outros tipos de minério, o corte de preço da Vale foi maior: 44,5% e 48,3%, respectivamente, para o granulado e para as pelotas de ferro.

Líder mundial em minério de ferro, a Vale usualmente é a primeira a fechar uma negociação de preço com um grande cliente, que servirá de referência para todo o mercado -conhecido como benchmark, esse é o sistema de reajuste do minério de ferro, que não é cotado em bolsas de mercadorias.

Em 2008, a Vale saiu na frente e obteve reajuste de 65% a 71% em fevereiro, dependendo do minério. As rivais Rio Tinto e BHP (anglo-australiana) esperam mais tempo -até junho- e conseguiram aumento de até 96%, num momento de mercado mais aquecido. Neste ano, a Vale adotou como estratégia só negociar após a conclusão das tratativas das concorrentes e conseguiu uma redução menor -a Rio Tinto diminuiu seu preço em 33%.

A estratégia da Vale foi tentar recuperar parte do que perdeu no ano passado e obteve, de fato, uma queda menor, diz Pedro Galdi, analista da SLW.

Agora, diz, a empresa entrará numa forte queda de braço com as siderúrgicas chinesas para tentar impor redução inferior aos 40% pedidos.

Para Eduardo Kondo, da corretora Concórdia, a previsão é mesmo de uma diminuição abaixo dos 40% até porque o mercado no resto do mundo também deve começar a reagir. Após despencar desde outubro do ano passado, as exportações para a China reagiram em março e abril numa estratégia de formar estoques e atender ao plano de estímulo da economia. Em maio, já com o objetivo de forçar uma queda mais intensa, as siderúrgicas do país cortaram as importações.

No pico do ano passado, a Vale exportou, em agosto, perto de 30 milhões de toneladas. Com a crise, o volume baixou para a faixa dos 17 milhões de toneladas, mas voltou para 15 milhões de toneladas. Neste mês, analistas esperam que as exportações também fiquem travadas à espera da conclusão das negociações.

Diante da forte queda de até 50% da produção de aço na Europa e nos EUA, as vendas para a China representaram 43,6% da receita total da Vale no primeiro trimestre. Esse percentual era de 18,9% nos três primeiros meses de 2008.

h) Comitiva tenta ampliar negócios no Cazaquistão

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana que vem ao Cazaquistão, um dos maiores paises da Ásia Central, poderá resultar em acordos comerciais envolvendo minérios, aviões e produtos agrícolas, na expectativa de diplomatas.

A Vale, a única empresa brasileira instalada no país, revelou que avalia oportunidades de investimentos em níquel, fosfato, potássio e urânio. Já explora uma mina de cobre, em meio a corrida de empresas estrangeiras pelas enormes jazidas minerais do Cazaquistão.

Por sua vez, a Embraer, que já vendeu três jatos regionais para a companhia nacional, tem a promessa da compra de mais 12 aparelhos, em detrimento da concorrente Bombardier. Na área agrícola, o Brasil quer exportar carne, enquanto o Cazaquistão quer vender trigo para o pais, sabendo que a Argentina é incapaz de garantir o suprimento prometido.

Existe um potencial enorme de negócios entre o Brasil e o Cazaquistão, diz o embaixador brasileiro em Astana, Frederico Duque Estrada Meyer. Uma delegação de empresários acompanhará o presidente Lula na quarta-feira à capital casaque.

Um dos interesses fortes da Vale é no urânio. O Cazaquistão controla 20% das reservas mundiais do produto e quer tornar-se o principal produtor global em 2010, superando a Austrália e o Canadá.

A empresa nuclear estatal Kazatomprom tem acordos com várias companhias estrangeiras, incluindo China, Canadá, Japão e da França. Mas a situação atual é especialmente sensível, com o anúncio pelos serviços de segurança de que o ex-diretor da Kazatomprom, Moukhtar Djakichev, teria se apoderado ilegalmente de 60% das minas de urânio do pais através de uma rede de empresas offshore.

Na prisão desde fins de maio, Djakichev é acusado de ter assumido discretamente o controle de 200 mil toneladas de reservas de urânio, com valor estimado em dezenas de bilhões de dólares.

O detalhe é que todas as transações da Kazatomprom eram controladas pelas autoridades. Certos analistas estimam que os executivos pagam por vínculos com Rakhat Aliev, ex-genro do presidente Noursoultan Nazarbaiev, que foi condenado a 40 anos de prisão por mortes e tentativas de golpe de Estado.

Quando o escândalo surgiu, há duas semanas, o grupo canadense Uranium One perdeu mais de um terço de seu valor na bolsa.

Agronegócio

a) Quebra de safra faz América do Sul colher menos soja

Após ter atingido 116 milhões de toneladas no ano passado, a produção de soja da América do Sul recua 18,1% -para 95 milhões neste ano. Os dados de quebra de safra já foram assimilados pelo mercado, que faz contas para a safra 2009/10, mas o produtor ainda deve sofrer no bolso essa redução.

A quebra mexeu com os estoques mundiais, que estavam em recuperação, sustentou os preços da oleaginosa e redirecionou exportações entre os maiores produtores.

A redução de produção ocorreu devido à quebra de safra em todos os países da região, mas com maior intensidade na Argentina. Castigado pela maior seca dos últimos 70 anos, o país vai colher apenas 32 milhões de toneladas de soja, conforme recentes estimativas da Bolsa de Cereais de Buenos Aires.

O efeito da seca foi tão grande no país que, dos 17,8 milhões de hectares semeados, apenas 16,8 milhões serão colhidos. Além da área que não será colhida, a produtividade das demais áreas teve redução de 33% em relação à safra anterior.

José Pitoli, da Coopermibra, cooperativa do noroeste do Paraná, diz que a quebra de safra elevou os preços da soja. Essa alta, porém, pode não ser suficiente para compensar o que o produtor perdeu com a redução da produção e com o que ainda deve deixar de ganhar devido à contínua desvalorização do dólar nas últimas semanas.

A depreciação da moeda norte-americana, que atingiu neste mês o menor valor do ano, ao cair para R$ 1,924, significa entrada menor de reais no bolso dos produtores.

Essa perda ocorre em um momento de elevação de custos. Se os preços dos fertilizantes estão abaixo dos praticados no ano passado, o mesmo não ocorre com outros insumos e com mão de obra, diz Pitoli.

Essa perda de renda em várias regiões brasileiras fará com que o produtor volte a semear a soja mais uma vez com menor uso de tecnologia. Os que já fizeram isso na safra 2008/9 vão comprometer ainda mais a produtividade da safra 2009/10.

Com recursos próprios limitados e crédito disponível bastante escasso, a área e a produção de soja podem ficar abaixo do esperado, segundo Pitoli.

b) Câmbio afeta exportação brasileira de carne suína

Os embarques de Carne Suína do país somaram 51.760 toneladas e renderam US$ 102,6 milhões em maio, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pela Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).

Em volume, houve quedas de 4,1% em relação a abril deste ano e de 12,4% sobre maio de 2008. Em receita, baixas de 1,4% e de 38,6% nas mesmas comparações. Apesar das retrações, em parte creditadas à queda de rentabilidade provocada pela valorização do real diante do dólar, o presidente da Abipecs, Pedro de Camargo Neto, destacou a performance do segmento nos primeiros cinco meses de 2009.

De janeiro a maio, as exportações alcançaram 240.557 toneladas, quase 10% mais que em igual intervalo do ano passado. A receita equivalente somou US$ 479,8 milhões, queda de 14,4%.

O dirigente realça que o dólar abaixo de R$ 2 tende a manter pressionada a rentabilidade e comprometer produção e exportações futuras. E os preços em dólar das vendas brasileiras já foram melhores. De janeiro a maio, o preço médio da tonelada exportada foi de US$ 1.995, queda de 22,1% sobre o mesmo período de 2008.

c) Dólar cai e sustenta soja e milho em Chicago

A desvalorização do dólar em relação a moedas como euro e iene e a expectativa de aperto na oferta americana para exportações voltaram a impulsionar as cotações da soja na quinta-feira na bolsa de Chicago, com reflexos altistas também nos preços do milho.

No mercado de soja, os contratos futuros com vencimento em agosto (que ocupam a segunda posição de entrega, normalmente a de maior liquidez), encerraram a sessão negociados a US$ 11,8550 por bushel, ganho de 10,25 centavos de dólar sobre quarta-feira.

Com o novo salto, os papéis passaram a acumular altas de 3,22% neste mês e de 20,97% em 2009, segundo cálculos do Valor Data. Nos últimos doze meses, a segunda posição ainda apresenta uma retração de 21,97%.

Os ecos da redução da estimativa do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) para os estoques americanos nas safras 2008/09 e 2009/10 (em fase de plantio no país) também ajudaram a sustentar as cotações.

Foi o grande destaque do relatório [do USDA] divulgado na quarta-feira, afirmou Renato Sayeg, da Tetras Corretora. Também chamou a atenção do analista a manutenção da previsão do USDA de queda das importações chinesas do grão em 2009/10.

De carona com a soja, os contratos do milho com vencimento em setembro (segunda posição) fecharam a US$ 4,50 por bushel, alta de 5,25 centavos de dólar. Segundo o Valor Data, em junho passou a haver valorização acumulada de 0,84%, e em 2009, de 7,72%. Em doze meses, há baixa de 37,22%.

Ainda que tenha contemplado um ajuste para baixo na estimativa para os estoques finais do grão em 2009/10, o relatório de quarta-feira do USDA foi considerado apenas levemente positivo para os preços. No caso do trigo, que completa o trio de commodities agrícolas mais negociadas no mundo, os novos números do departamento já eram aguardados pelos analistas, segundo a Bloomberg.

Eles disseram que os estoques globais parecem confortáveis, o que voltou a pressionar as cotações na quinta-feira apesar da deterioração da moeda americana. Em Chicago, os contratos para setembro (segunda posição), recuaram 1,25 centavo de dólar, para US$ 6,2325 por bushel. Com esse quadro, há baixas de 6,1% neste mês, de 0,04% em 2009 e de 29,62% nos últimos 12 meses.

Mercosul

a) Calçadista vê com cautela acordo com a Argentina

O acordo que limita as exportações de calçados para a Argentina a 15 milhões de pares por ano até 2011 em troca da garantia de que os produtos serão liberados para atravessar a fronteira em no máximo 60 dias foi recebido com uma combinação de cautela e descrença pelos empresários brasileiros. Para alguns, se o trato for cumprido pelos argentinos será um bom negócio, porque vai dar previsibilidade aos embarques que vinham esperando até 150 dias pela emissão das licenças, mas também há quem não acredite que os obstáculos serão de fato levantados pelas autoridades argentinas.

O encontro da semana passada em Buenos Aires reuniu representantes da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), da Câmara da Indústria do Calçado da Argentina (CIC), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Brasil e do Ministério da Produção da Argentina. Segundo o diretor-executivo da Abicalçados, Heitor Klein, o acordo foi a única alternativa para destravar o despacho de 3,5 milhões de pares já produzidos, que aguardavam pelas licenças, e permitir a normalização do fluxo de embarques daqui para a frente.

Mas os brasileiros tiveram que ceder. Em maio, os argentinos pediram corte de 20% sobre os 18,5 milhões de pares importados do Brasil em 2008 para proteger a indústria local. A Abicalçados admitiu redução de 10% e cobrou uma participação de pelo menos 75% sobre as importações do país vizinho para evitar desvios de comércio em favor de fornecedores de fora do Mercosul, basicamente a China. No fim, as vendas serão reduzidas em 19% e a conversa sobre participação no mercado ficou para outubro. O acordo também vai provocar em 2009 a primeira queda nas exportações brasileiras para a Argentina desde 2003, quando totalizaram 11,7 milhões de pares.

Fiquei frustrado, afirmou o presidente da Piccadilly, Paulo Grings. A liberação em 60 dias não vai acontecer, porque nunca aconteceu e o Brasil nunca retaliou. Segundo ele, os desentendimentos com os argentinos vêm desde 1999 e a partir de agora a empresa não colocará nenhum par de calçado encomendado pelos importadores do país em produção antes da emissão das licenças. A Piccadilly tem quase 50 mil pares da coleção de inverno, que deveriam ter chegado às lojas no máximo em maio, à espera de autorização para entrar no país vizinho.

O presidente da Calçados Bibi, Marlin Kohlrausch, cobrou o acompanhamento do acordo pelo governo e disse que, se o acerto for posto em prática, será bom, porque vai destravar os embarques. Segundo o empresário, a Bibi tem esperado quatro meses em média pela emissão das licenças e só há poucos dias conseguiu embarcar um lote de 30 mil pares, enquanto outros 3 mil a 4 mil esperam liberação. De acordo com ele, a Argentina é um mercado importante para a empresa, mas as vendas para lá vêm caindo em função das dificuldades burocráticas.

O gerente de marketing da Via Uno, Paulo Kieling, espera que o acordo normalize os embarques dos produtos da coleção de verão, em julho e agosto. Esperamos que agora a situação seja menos problemática, afirmou. Segundo ele, a empresa teve produtos de inverno retidos por até 45 dias na fronteira. Conseguimos entregar em maio pedidos recebidos em novembro do ano passado.

b) Comissão adia discussão sobre a Venezuela

A Comissão de Relações Exteriores do Senado deve votar requerimentos de audiência pública que podem postergar ainda mais a decisão sobre o ingresso da Venezuela no Mercosul. Já foram ouvidas nove pessoas sobre o assunto.

A expectativa do governo era votar o protocolo na próxima semana, mas o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) apresentou ontem requerimentos para convocar o governador do Amazonas, Eduardo Braga, e o embaixador da Guiana no Brasil, Harry Nawbatt. Mozarildo também pretendia chamar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas desistiu porque o chanceler Celso Lafer, ministro das Relações Exteriores no governo FHC, foi ouvido.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), disse que, ao adiar a discussão, o Senado está isolando a Venezuela. Ele apresentou requerimento para que o projeto seja votado sem a necessidade de novas audiências públicas: As pessoas estão se repetindo.

Além de Lafer, a comissão ouviu o professor emérito da Universidade Mackenzie Ives Gandra da Silva Martins, o embaixador do Brasil na Venezuela, Antonio Simões, e a pesquisadora do Iuperj Maria Regina Soares de Lima. Foram convidados pelo senador Fernando Collor (PTB-AL).

Lafer disse que incorporar a Venezuela ao Mercosul neste momento seria comprometer o bloco econômico porque não há democracia no país de Hugo Chávez: O ingresso da Venezuela no Mercosul comprometerá a eficiência e identidade internacional do Mercosul.

O embaixador do Brasil na Venezuela ressaltou que o governo brasileiro é favorável ao ingresso. Ele lembrou que no momento em que a OEA aceita Cuba novamente, o Brasil não pode caminhar em situação contrária, contribuindo com o isolamento da Venezuela: As preocupações com aspectos internos da Venezuela só podem ser atendidas dentro do Mercosul. Fora disso não podemos fazer nada. Segundo ele, há uma diferença entre o discurso [de Chávez] e a realidade. A pesquisadora Maria Regina afirmou que estamos discutindo a entrada da Venezuela, e não a do presidente Chávez.

No fim do mês passado, o presidente do Senado brasileiro, José Sarney (PMDB-AP), recebeu um pedido do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, para vetar o país no bloco. O prefeito venezuelano, de oposição a Chávez, argumentou que admitir no Mercosul um presidente cujas ações demonstram uma escalada autoritária e que insulta os senadores brasileiros seria abrir um grave precedente.

Organização Mundial do Comércio (OMC)

a) Lamy vê bom progresso para retomada de Doha

O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, pediu que os países resistam às tendências protecionistas e disse que está havendo um bom progresso em direção ao relançamento da Rodada Doha.

Falando em Bali, Indonésia, onde 19 ministros do Grupo de Cairns, países exportadores de produtos agrícolas,estão reunidos num esforço para estimular o comércio global, Lamy disse que os governos buscam um acordo para fornecer a energia política necessária ao reinício da Rodada Doha.

Temos de tentar encerrar essas negociações e já percorremos 80% do caminho, declarou Lamy, à rede de TV americana CNBC. Segundo ele, um pouco de energia política é necessário para concluir o processo.

As negociações da Rodada Doha começaram há oito anos e foram paralisadas no fim do ano passado por divergências entre Estados Unidos, China e Índia. Lamy se reuniu com o representante de Comércio dos EUA, Ron Kirk, e o recém-nomeado ministro do Comércio da Índia, Anand Sharma.

Kirk, ex-prefeito de Dallas e designado para o posto em março pelo presidente Barack Obama, também se reuniu brevemente com membros da delegação chinesa, às margens do encontro de ministros. Kirk não fez comentários, mas Sharma disse que as conversas foram positivas e ambos os lados reiteraram o compromisso de concluir a Rodada Doha.

Os países em desenvolvimento, incluindo China e Índia, querem que os países industrializados suspendam os subsídios às exportações agrícolas, enquanto as potências ocidentais buscam maior acesso de seus produtos nos mercados emergentes. Em julho do ano passado, em Genebra, as negociações de Doha foram abandonadas após a recusa dos EUA de aceitar a reivindicação da Índia de medidas para proteger setores vulneráveis contra uma enxurrada de importações.

Sharma disse que é tempo de tirar as peças de onde elas estão e movê-las à frente. Não estamos olhando para as dificuldades, e sim para as possibilidades, para fazer nosso melhor e levar este processo à sua culminação, declarou. Não há obstáculos que sejam intransponíveis. O ministro indiano informou que vai a Washington em meados de junho para continuar as conversas com Kirk.

O embaixador do Brasil na OMC, Roberto Azevedo, que compareceu à reunião entre Kirk e Sharma, disse que é importante que Washington e Nova Délhi enviem um sinal político claro de que estão dispostos a resolver suas diferenças. Temos dois novos players, Ron Kirk e Anand Sharma, então é bom ter uma oportunidade para ouvi-los e saber o que trazem à mesa, disse o embaixador brasileiro.

Além de pedir o reinício da Rodada Doha, o grupo de ministros em Bali condenou os crescentes sinais de protecionismo, incluindo a nova guerra comercial entre Estados Unidos e União Europeia acerca dos subsídios à exportação de laticínios. Os parceiros dos EUA também resistem ao plano Buy American, incluído na legislação de estímulo econômico dos EUA.

b) OMC alerta para nova onda de protecionismo

A Organização Mundial do Comércio (OMC) alerta para a fermentação do protecionismo no planeta e avalia incluir medidas brasileiras de restrição à importação ao aço na lista de barreiras protecionistas adotadas pelos governos. O diretor da entidade, Pascal Lamy, alertou que o protecionismo comercial já está ocorrendo diante da recessão, apesar das promessas de governos de que não apelariam a barreiras contra importações.

Há uma fermentação protecionista. Todos concordamos que não tomaríamos o caminho do protecionismo. Mas, como era esperado, ele já está ocorrendo, afirmou Lamy, em um evento em Genebra para lidar com os impactos da recessão.

Subsídios dados por Estados Unidos e Europa, além de elevação de barreiras no Equador, Índia, Zâmbia ou mesmo no Brasil no setor do aço vêm se proliferando. Dados coletados pela própria OMC apontam que o número de novos casos de medidas antidumping também aumentou nos últimos seis meses.

No caso do Brasil, o País elevou as taxas de importação ao aço há uma semana. Fontes do gabinete de Lamy indicaram que a entidade estuda se essas medidas serão incluídas na lista de barreiras adotadas pelo mundo. Segundo disse Lamy ao Estado, a lista deve ser publicada em duas semanas.

Mas a China também tem adotado medidas que tem o potencial de distorcer os mercados. Nesta semana, Pequim anunciou que estava reduzindo impostos para exportadores, o que favoreceria ainda mais as vendas do país. A medida preocupou setores no Brasil.

Quem também está em estado de alerta é o setor do leite. Tanto no s Estados Unidos como na Europa, os governos decidiram reintroduzir subsídios à exportação.

No caso do Brasil, o País mantém um discurso duro na OMC contra medidas protecionistas e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a ser indicado por Lamy como uma referência na resistência contra as barreiras. Manter mercados abertos é a melhor forma de superar a crise. Mas vemos uma fermentação de medidas protecionistas, alertou. O protecionismo não vai proteger ninguém.

Se um governo decide restringir a entrada de um produto de um vizinho, pode depois perder ao ter seus próprios produtos barrados, disse. Lamy estima que as barreiras protegem exatamente os empregos de menor qualidade, enquanto as exportações que seriam afetadas por medidas retaliatórias prejudicariam os de maior qualidade. Portanto, essas medidas protecionistas não funcionam em uma conta final, disse.

Para Lamy, a única forma de barrar a fermentação de medidas protecionistas é garantir políticias sociais que deem conta da pressão gerada pela recessão no mercado de trabalho. Ele defende a adoção de políticas de empregos de tempo parcial, treinamento e outras medidas que possam responder aos impactos da crise. A capacidade de evitar o protecionismo vai depender de políticas sociais em países, concluiu.

Plano Internacional

a) China vai reduzir impostos de exportação

Num esforço para conter a queda nas exportações por causa da crise e tentar neutralizar barreiras tarifárias, a China anunciou que vai reduzir, mais uma vez, impostos de exportação de cerca de 600 artigos. Entre os setores beneficiados está a indústria siderúrgica, o que acirra a competição com o Brasil. Na sexta-feira passada, o governo brasileiro havia anunciado aumento de até 14% na alíquota de importação do aço para, justamente, proteger a indústria nacional da invasão chinesa. Os exportadores de aço da China terão abatimento de imposto de, no mínimo, 9%.

Outros produtos, entre eles, alguns artigos eletrônicos, máquinas e móveis, também serão contemplados com o corte do imposto. Engrenagens, aparelhos de transmissão televisiva e máquinas de costura são alguns dos produtos que terão o maior abatimento de tarifa, de 17%. No caso de itens como suco, brinquedos e móveis, a redução será de 15%.

O estímulo fiscal chinês, segundo afirmou o Ministério das Finanças, tem efeito retroativo a 1º de junho.

Essa é a sétima vez consecutiva que Pequim corta impostos para exportadores com o objetivo de amenizar os efeitos da crise financeira global na sua economia e ajudar os fabricantes. Ao baixar as tarifas, o preço final dos produtos chineses fica ainda mais competitivo no mercado internacional.

Economistas, no entanto, avaliam que é pouco provável que a estratégia chinesa funcione e se traduza em aumento das vendas externas. Isso porque o momento é de baixa da demanda mundial. Ainda segundo analistas, a medida pode trazer um impacto negativo ao comércio exterior chinês, pois pode criar um ambiente hostil com os parceiros comerciais do país.

As exportações da China caíram 22,6% em abril, na comparação com o mesmo período do ano passado, o sexto mês consecutivo de declínio, de acordo com dados oficiais.

b) Brasil piora, enquanto cenário global evolui, afirma OCDE

Na contramão da maior parte das grandes economias mundiais, que começam a dar sinais de que o pior já passou, a situação no Brasil continuou a se deteriorar fortemente, de acordo com levantamento mensal da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).

O cenário econômico para o Brasil piorou em abril, de acordo com a OCDE, que afirma que o país está em forte desaceleração. Já os países do G7 (grupo que reúne sete das maiores economias globais), a China e a Índia dão sinais de melhora, ainda que em estágios diferentes -com alguns deles, como a Itália e França, se aproximando de um ciclo de crescimento.

Segundo o estudo com 33 países, só Brasil, Rússia, Austrália e Suécia apresentam uma forte deterioração do seu cenário de ciclo econômico.

O cenário brasileiro está, portanto, bem distante do apresentado em julho de 2008, quando o país era o único que se encontrava com perspectivas de crescimento. Mesmo nos meses seguintes, quando a economia do país, para a OCDE, começou a se desacelerar, a situação era menos negativa que a da maioria. Mas, especialmente de janeiro para cá, o cenário começou a se deteriorar.

A situação brasileira contrasta com as dos países desenvolvidos, que começam a apresentar brotos verdes, como têm sido chamados nos últimos meses os primeiros sinais de recuperação econômica. Mesmo a Alemanha, que enfrenta a pior recessão desde a reunificação, em 1990 e que está com o seu principal motor, o setor exportador, travado devido à falta de demanda mundial, começa a melhorar, segundo a OCDE.

Porém, a entidade que reúne 30 das principais economias mundiais alerta que ainda é cedo para dizer se a queda no ritmo de deterioração econômica é algo temporário ou um ponto de inflexão mais duradouro, o que significaria que os países estão caminhando para retomar o crescimento.

Para chegar a essa previsão, a OCDE usou os chamados indicadores antecedentes, que são vários dados dos países aglutinados para tentar indicar momentos de mudanças na atividade econômica com aproximadamente seis meses de antecedência. Ele é, por isso, considerado um termômetro para as economias dos países.

No caso brasileiro, são usados dados como produção industrial e exportações.

c) Brasil continua com a 3ª maior taxa do mundo

A redução de 1 ponto porcentual da taxa Selic, anunciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), derrubou o juro real para o menor nível da história do País. Segundo levantamento da consultoria econômica UPTrend, a taxa de juros, descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses, recuou de 5,8% para 4,9% ao ano.

Apesar do resultado positivo, o País permanece no terceiro lugar do ranking dos maiores pagadores de juros do mundo, atrás apenas de China (6,9%) e Hungria (5,9%). Isso significa que o Brasil deve continuar atraindo capital estrangeiro, a exemplo do que tem ocorrido nos últimos dois meses. Em maio, segundo dados do Banco Central (BC), a entrada de capital financeiro teve um saldo positivo de US$ 1,54 bilhão.

O juro real continuará bastante atrativo para o investidor financeiro, já que o resto do mundo está com as taxas muito baixas ou negativas, explica o economista da Integral Trust Serviços Financeiros Roberto Troster. Na prática, a entrada maior de recursos reduz a cotação do dólar, beneficia as importações e diminui a competitividade das exportações de produtos nacionais.

Segundo o levantamento da UPTrend, 15 países do ranking estão com taxas de juros reais negativas. Entre eles estão Inglaterra (-1,8%), Chile (-1,7%) e Índia (-5%). Na faixa entre 1% e 0, a lista mostra Estados Unidos (0,9%), Japão (0,2%) e Itália (0,1%), entre outros. A atratividade do juro real traz o investidor não apenas para os títulos públicos, mas também para a bolsa brasileira, avalia o economista-chefe da UPTrend, Jason Vieira, responsável pela elaboração do ranking de juros.

Ele explica que, por enquanto, a economia não tem sentido os efeitos da queda dos juros reais. A explicação está no aumento dos spreads (diferença entre o custo de captação e o custo do dinheiro emprestado para a sociedade) desde o agravamento da crise mundial. A opinião é compartilhada por Troster, que destaca um aumento dos spreads tanto nas taxas para pessoa física como jurídica. No cheque especial, por exemplo, ele afirma que a margem bruta da intermediação cresceu 14%desde dezembro de 2002.

d) Exportações chinesas sofrem queda recorde em maio

As vendas de produtos chineses para o exterior tiveram queda recorde no mês passado, indicando que a demanda global continua em baixa.

As exportações da terceira maior economia global caíram 26,4% em maio na comparação com o mesmo mês do ano passado. Outros países, como Alemanha e Taiwan (tradicionais exportadores), também mostram dados bastante negativos de comércio exterior, sinalizando que a crise continua forte.

Foi a sétima queda consecutiva nas exportações chinesas -setor que alimentou boa parte do crescimento de cerca de 10% do PIB nos últimos anos. Em abril, o recuo foi de 22,6%.

As importações caíram 25,2%, mas um dos fatores que explica esse recuo foi a queda no preço de matérias-primas como o petróleo.
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