01 a 05 de junho de 2009

Comércio Exterior

Resultados
Electrolux investe e volta a contratar
Karsten corta custos para compensar a perda cambial
Indústria tem recuperação lenta afetada por exportações
Dólar faz exportador cortar desconto e rever tabela de preços
China aumenta pressão para reduzir preços do minério

Agronegócio

Frango para a China
Soja lidera altas na BM&FBovespa
Vendas externas de carnes voltam a cair
Rússia deve retomar a compra de suíno de SC
Produtos agrícolas podem subir mais, diz FAO

Mercosul

Brasil fará contraproposta ao Paraguai
Israel pede a Congresso aprovação rápida de acordo com o Mercosul
O Parlamento do Mercosul e o eleitor
Moinhos querem ação antidumping contra a farinha de trigo argentina
Argentina sob pressão para proibir o uso de glifosato nas lavouras

Organização Mundial do Comércio (OMC)

OMC autoriza Equador a limitar suas importações

Plano Internacional

Brics buscam alternativa ao dólar como moeda de reserva



Comércio Exterior

a) Resultados

A redução nas vendas de minério de ferro para o exterior foi o principal fator que afetou as exportações brasileiras em maio, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento.

Houve uma queda de 34,7% na quantidade exportada do minério e uma redução de 12,2% no preço do produto. Sem esse item, o total das exportações brasileiras teria crescido 2,4% entre abril e maio, ao invés da queda de 2,7% registrada efetivamente.

Essa queda afetou principalmente as exportações para a China, grande comprador do produto, que caíram 7,7% entre abril e maio. No acumulado do ano, ainda há um crescimento de 35,6% nas vendas para o país asiático.

A balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 2,651 bilhões (média diária de US$ 132,6 milhões) em maio. O resultado é a diferença entre exportações de US$ 11,985 bilhões e importações de US$ 9,334 bilhões.

No mês passado, houve uma redução de 17,9% na quantidade exportada (considerando o peso de todos os produtos da balança). Em relação aos preços, houve uma recuperação de 18,4%.

Na comparação com o mês passado, a média diária de exportações apresenta queda de 2,7%, enquanto as importações crescem 8,4%. O aumento das importações se concentrou nas matérias primas (+12,2%) e combustíveis (+45,3%).

Na comparação o mesmo mês do ano passado, os dados da balança foram distorcidos pelo efeito da greve que afetou o comércio exterior no início de 2008 e que provocou acúmulo de exportações naquele mês. Nesse caso, houve queda de 37,9% nas vendas para o exterior e de 38,7% nas compras.

Apesar da queda na venda do minério, houve um aumento de 75% nas exportações de ferro fundido (aumento de 245% na quantidade e queda de 49% nos valor do produto).

Também houve recuperação nas vendas de carne salgada (98%), fumo em folhas (90%), açúcar (63,4%), frango industrializado (55,4%) e álcool (15,5%).

Com esse resultado, a balança acumula de janeiro a maio um superávit de US$ 9,372 bilhões (média diária de US$ 92,8 milhões), resultado 10,4% maior que o registrado no mesmo período de 2008 pelo critério da média diária.

Nesse mesmo período, as exportações brasileiras somam US$ 55,484 bilhões, resultado 22,2% menor que janeiro a maio do ano passado. As importações chegam a US$ 46,112 bilhões, valor 26,6% menor que em 2008.

A crise financeira internacional já provocou queda de 24,3% nas operações de comércio exterior do Brasil com o resto do mundo de janeiro a maio, o que inclui a soma das exportações com as importações, em um total de US$ 101,5 bilhões.

b) Electrolux investe e volta a contratar

O presidente mundial da Electrolux, Hans Stråberg, passou três dias no Brasil na semana passada. Falou com varejistas e consumidores, reavaliou a estratégia para a América Latina e aprovou investimentos, em especial na área de produtos. Segundo ele, com a retração do consumo de itens de linha branca nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, provocada pela crise, o interesse pelo Brasil aumentou. Com certeza o ritmo de investimento no Brasil será acelerado, afirmou.

No fim do ano passado, no auge da turbulência financeira global, o cenário era outro. A empresa deixou de renovar contratos temporários de trabalho e demitiu 95 pessoas em Curitiba (PR), onde possui duas das cinco fábricas instaladas no país. Agora, as coisas parecem ter mudado. Voltamos a contratar no mês passado, informou o presidente para a América Latina, Ruy Hirschheimer.

Parte da mudança nos planos é creditada à recente redução, pelo governo, do IPI (Impostos sobre Produtos Industrializados) para produtos da linha branca. Mas o presidente mundial da companhia garante que não é só isso. Vejo com entusiasmo que a economia brasileira tem se protegido da crise e que cada vez mais pessoas têm oportunidade de comprar nossos produtos, afirmou. Estou impressionado com a forma como o governo está conduzindo a situação e isso me dá confiança para continuar a investir no Brasil.

O país é o principal mercado da América Latina para o grupo sueco. A região representa 10% das vendas globais da multinacional e está ganhando importância porque cresce mais que a média obtida pela empresa no mundo. Temos um negócio muito bom e rentável na América Latina, do qual nos orgulhamos, disse.

Sem revelar números, o executivo contou que nos últimos oito anos a empresa conseguiu mais que dobrar a participação no mercado de eletrodomésticos brasileiro, como resultado de investimentos feitos no país a partir dos anos 90. Em 2008, a operação no Brasil gerou uma receita líquida de R$ 2,45 bilhões, com crescimento de 8% sobre o exercício anterior. O lucro líquido, no entanto, teve queda de 20%, para R$ 83,6 milhões. No mundo, a Electrolux teve receita líquida de 105 bilhões de coroas suecas (R$ 28 bilhões).

A companhia não divulga aportes por país, mas prevê investimentos mundiais de € 300 milhões em 2009, com ou sem crise, especialmente na área de produtos. Stråberg acrescentou que está focado em crescimento com rentabilidade, por meio da renovação de produtos. Atualmente, 60% das vendas referem-se a itens que têm menos de dois anos de mercado - 5% do portfólio oferecido no país é importado e a subsidiária brasileira exporta para 40 países.

Em abril, a empresa colocou no varejo brasileiro 28 novos produtos, entre eles uma geladeira que permite diversas configurações internas, que ocupa posição de destaque no showroom da empresa. Fazemos lançamentos a cada quatro meses, disse Hirschheimer. Ele adianta que a empresa vai entrar em novas categorias em 2009, mas não revela detalhes do plano. Por ano, a subsidiária vende mais de 5 milhões de produtos (no mundo são 40 milhões de unidades). Cada lançamento é resultado de pesquisas e testes com consumidores e o processo todo leva cerca de 12 meses.

Sobre ampliações na área industrial, Stråberg disse que serão feitas se houver necessidade, mas ele evitou falar sobre uma nova unidade que estava prevista para o Paraná. Estamos crescendo. Não há estabilização, há crescimento, acrescentou Hirschheimer. Segundo ele, nos últimos anos a indústria de linha branca cresceu 5% ao ano no país, e a Electrolux conseguiu 16%. Questionado sobre qual a meta do grupo para o Brasil, o presidente mundial brincou que, se o país crescer muito, vai ter de cobrar melhor desempenho de outras regiões, para equilibrar. Mas, segundo ele, no atual cenário é preciso ser flexível e cuidadoso ao estabelecer alvos. Até porque a empresa vinha quebrando recordes na região.

Continuamos a fazer investimentos, estamos cuidando do caixa e dedicando atenção aos produtos. Nossa posição para qualquer retomada é muito forte, explicou Stråberg. No relatório de resultados mundiais do primeiro trimestre, a multinacional informa que os volumes de vendas da Electrolux na América Latina no primeiro trimestre estiveram em linha com o mesmo período do ano anterior. E acrescenta: o grupo ganhou market share particularmente no Brasil e na Venezuela.

c) Karsten corta custos para compensar a perda cambial

Quase três anos depois de chegar à Karsten, fazer uma reestruturação operacional e redirecionar a maior parte das vendas da empresa para o mercado interno, o presidente Luciano Eric Reis agora quer cortar custos e ampliar essa participação para melhorar os resultados. A empresa esteve envolvida em operações de derivativos cambiais que resultaram em um prejuízo de R$ 43,8 milhões em 2008.

Reis diz que as ações para melhora do desempenho são medidas de mais arrocho de custo e busca de crescimento, como os 33% que crescemos no mercado nacional no ano passado. A ideia é atuar em três pilares - maior treinamento de pessoal, melhor assertividade de produtos e absoluta obsessão em contenção de custo.

O executivo não revela metas, mas diz que a empresa pretende crescer acima da média este ano. Se encerrar 2009 com crescimento, ficará acima da média das estimativas da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), que prevê para o ano faturamento igual ao do ano passado. O setor atingiu US$ 43 bilhões.

As operações com derivativos foram feitas via trocas de Notas de Crédito de exportação (NCEs). Por meio de operações de swap - mudança de índices financeiros com verificações -, com várias instituições financeiras, a Karsten buscava reduzir os custos financeiros incidentes sobre os valores pactuados. Em relatório sobre o desempenho de 2008, a empresa chegou a informar que a mudança no cenário da economia mundial e a manutenção da política cambial brasileira (taxa flutuante) provocaram a valorização do dólar, desvirtuaram a operação e o resultado do exercício (2008) foi negativamente impactado.

Com a aposta nos derivativos, as perdas da companhia contabilizadas em 2008 totalizaram R$ 51,4 milhões. Desse total, R$ 19,8 milhões de operações liquidadas no ano passado e R$ 31,6 milhões até o fim de março. Não temos mais exposição (a derivativos). Agora temos que gerar caixa. Esse acidente não tem relação com o operacional. Foi realmente um acidente. Se olhar a nossa história, é inexplicável. Deixamos nos entusiasmar por ganho eventualmente muito pequeno contra uma exposição absurdamente alta, garante Reis. Por conta disso, a empresa teve de adiar os investimentos previstos para este ano. Tínhamos um plano de expansão e um plano de introduzir novos serviços de logística e informática. Isso tudo foi adiado de seis a 12 meses, explicou, sem revelar o montante de recursos que seriam aplicados.

No primeiro trimestre, a Karsten já obteve pequeno lucro, de R$ 164 mil. A receita líquida cresceu de R$ 68,7 milhões para R$ 71,8 milhões. Os primeiros meses foram satisfatórios, disse ele, acrescentando que o mercado em geral, no entanto, está em retração. Mas o nosso crescimento não se deveu por aumento da atividade econômica, mas porque demos alguns passos no sentido de ocupar uma fatia maior do mercado, ressaltou. Reis destacou ainda que o desempenho só não foi melhor porque, em meio à crise econômica mundial, clientes reduziram os estoques para proteger o caixa de suas empresas.

Vivemos uma situação ímpar ainda no mercado interno porque dependemos da entrega do mercado imobiliário, que está aquecido, e porque temos um alargamento das relações com parceiros, como as grandes redes de supermercados, que no primeiro trimestre tiveram bom desempenho e estão mantendo os investimentos. O avanço da empresa em redes de supermercados se deveu ao lançamento da marca de artigos mais populares chamada Casa In, lançada há cerca de dois anos.

No mercado externo, a Karsten também busca alternativas para crescer. Em fevereiro, uma equipe fez incursões na Alemanha, Hungria, Polônia, Rússia, Romênia e em março, na França, Portugal e Estados Unidos. Reis informa que a situação fora é pior do que no varejo domestico. A estratégia de reduzir a dependência de exportação que adotamos a partir de 2006, foi muito acertada. Acreditamos que o mercado de exportação terá uma queda em relação ao ano passado entre 35% e 40% neste ano.

As vendas externas da Karsten, que já responderam por metade do seu faturamento total em 2004, devem ficar em 10% neste ano. Em 2008, atingiu 12%.

Sobre iniciativas no varejo como alternativa para melhorar a lucratividade, em linha do que fez a concorrente Coteminas recentemente, ao adquirir 65% da M. Martan, o executivo afirma que respeita todos os movimentos. E observa: Acho que nossa vocação ainda é muito industrial e temos um campo largo para aprendizado de logística e distribuição. Estamos observando (as empresas que estão indo para o varejo). Disse que vê como um laboratório e não tem projetos.

No exterior, contudo, clientes, por iniciativa própria, abriram lojas com a marca Karsten, com a liberação do uso da marca pela empresa. Há uma loja na Venezuela e outra na Colômbia. Reis nega movimento de internacionalização.

d) Indústria tem recuperação lenta afetada por exportações

A produção industrial apresentou, nos quatro primeiros meses do ano, uma recuperação lenta, sustentada pela demanda interna - que permitiu ao varejo recuperar até março as perdas do quarto trimestre de 2008 - e influenciada negativamente pelos efeitos da queda das exportações. Em abril, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial cresceu 1,1% em relação ao mês anterior, com ajuste sazonal (em março, o acréscimo havia sido de 0,7%). As taxas mais elevadas foram registradas pelos segmentos de bens de consumo duráveis (2,7%) e de bens de capital (2,6%). Entre os fatores positivos destacados por economistas para o mês estão o aumento do número de setores com crescimento (16 dos 27 ramos pesquisados, contra 12 na leitura de março) e a expansão de 2,6% na produção de bens de capital - considerada um sinal de possível retomada dos investimentos.

Outros dois indicadores assinalaram recuperação do mercado interno. As consultas ao Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) aumentaram 8% ante abril de 2008 e as consultas ao SCPC/Cheque cresceram 18%, segundo pesquisa da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), indicando recuperação no comércio paulista. As vendas de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus novos no país também cresceram em maio, 5,38% em relação a abril, informou a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Na comparação com maio de 2008, houve alta de 2,04%.

Para economistas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a recuperação da economia doméstica favorecerá mais o varejo do que a indústria. Um estudo inédito elaborado pelo banco revela que 51% das perdas ocorridas na produção industrial desde setembro estão relacionadas à queda das exportações de produtos manufaturados. O estudo considerou dados de produção e comércio do IBGE e de exportação de produtos industrializados compilados pela Secex. Pelos cálculos, que tomam o desempenho de setembro como base 100, o consumo real do varejo em março já havia superado a performance de setembro, chegando a 101,1 pontos. A produção industrial chegou a 83,6 pontos, e as exportações, a 77,7 pontos. Em abril, segundo cálculo da LCA Consultores que considera os dados de produção e exportação de manufaturados, houve incremento de 1 ponto no indicador de produção (para 85 pontos) e recuo de 0,4 ponto no índice de exportação, que ficou em 71,6 pontos (ver gráfico).

Marcelo Nascimento, um dos economistas da área de pesquisas econômicas do BNDES, observa que o efeito da queda da demanda externa supera o impacto da desaceleração da economia doméstica, quando se considera toda a cadeia industrial. André Santana, economista do BNDES, cita como exemplo a cadeia automotiva. A queda nas exportações de carros impacta também o setor siderúrgico, a indústria de borracha (que não exporta) e a indústria de bens de capital com a postergação de projetos e consequente elevação dos estoques nesse setor. A indústria química sofreu efeito pequeno sobre as exportações, mas é um grande fornecedor para as indústrias de bens intermediários, que tiveram perdas mais fortes com a exportação e reduziram as compras internamente, exemplifica.

Relatório do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) apontou queda de 3,2% na média diária de exportação de manufaturados, frente às retrações de 2% em abril (sempre na comparação com o mês anterior, com ajuste sazonal). As exportações totais caíram 1,8%, após aumento de 3,8% em abril. A retração em manufaturados é um fator que limita a recuperação da indústria, afirmou Rogério César Souza, economista do Iedi. Em relação ao desempenho da indústria em abril, ele considerou positivos os resultados e prevê recuperação mais expressiva no segundo semestre, mas não com força suficiente para evitar uma queda de pelo menos 4,5% na produção de todo o ano de 2009. A indústria teria que crescer 4% ao mês daqui para frente para recuperar até o fim do ano as perdas com a crise.

Luiza Rodrigues, economista do Santander, ressaltou como positivo o maior número de setores com crescimento sobre março e os indicadores de melhora na confiança do empresariado. A recuperação da indústria está se alastrando pelos setores, disse. Mas ressalvou que as indústrias ainda operam com capacidade ociosa alta. Há sinais de recuperação, mas não dá para dizer que uma queda de 14,8% [contra abril de 2008] é o fim da crise, afirmou.

Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a melhora em bens de capital é irrelevante, porque se deu sobre uma base muito baixa. Vale prevê continuidade da recuperação em semi-duráveis e não duráveis, sustentada pela expansão da renda. E recuperação lenta de bens duráveis. Para o ano, porém, ele prevê queda na produção industrial de 6%. No acumulado de 12 meses encerrados em abril, a indústria geral registrou queda de 3,9%.

e) Dólar faz exportador cortar desconto e rever tabela de preços

A valorização do real forçou os exportadores a cortar os descontos com os quais tentavam atrair os clientes e driblar a crise global. Com o dólar abaixo de R$ 2, as empresas voltaram atrás nas novas tabelas de preços e contratos começam a ser cortados. É o cenário oposto do vivido até setembro de 2008, quando um mercado aquecido permitia reajustes que compensavam a depreciação da moeda americana - R$ 1,70 na época.

A partir de hoje não recebo mais pedidos com descontos. O câmbio me deu uma folga para fazer uma promoção na crise, mas agora isso acabou, disse Sérgio Teizen, gerente de exportação da Starret, fabricante de serras e instrumentos de medição. Ele contou que reduziu os preços em 10% no começo do ano, mais um bônus de 5% para quem pagasse à vista, quando o dólar bateu em R$ 2,30. A estratégia ajudou a ganhar alguns poucos contratos em mercados como América Central e Índia.

A crise foi um duro golpe para as vendas da Starret no exterior. As exportações recuaram cerca de 30% de janeiro a maio ante igual período de 2008. Por conta disso e do fraco desempenho também no mercado interno, a Starret reduziu a jornada de trabalho para quatro dias, com corte proporcional de salário.

Depois das consecutivas quedas do dólar nas últimas semanas, a Piccadilly, fabricante de calçados femininos com sede em Igrejinha (RS), decidiu segurar a remessa das tabelas de preços para os distribuidores na Europa, Oriente Médio e Ásia. Para os importadores da América do Sul e Central, que já receberam as listas, a empresa só pode garantir a manutenção dos valores até meados de julho se o real não se valorizar muito mais, contou a diretora de exportação, Michelini Grings Twigger.

Segundo a executiva, a oscilação brusca da moeda americana é preocupante e a Picadilly está fazendo as contas para saber qual o patamar cambial que exigirá a correção das tabelas já despachadas para os mercados que absorvem 60% das suas exportações. Definidos em abril, quando com o câmbio chegou R$ 2,29 por dólar, os preços dos calçados das coleções primavera-verão estavam mais competitivos do que os concorrentes. Tínhamos conseguido chegar a preços até menores do que na coleção anterior, revelou a diretora. As exportações absorvem em média 30% da produção da Piccadilly.

Com a valorização do câmbio e os preços em queda, a rentabilidade das exportações brasileiras recuou 4,4% em abril e 13% no acumulado do ano, segundo a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). A tendência é uma margem de lucro ainda mais apertada nos próximos meses por conta do enfraquecimento do dólar, que fechou cotado a R$ 1,9370 ontem, queda de 12% em relação à média de abril.

Segundo Danilo Marcon, diretor comercial da Cerâmica Vila Rica, o dólar abaixo de R$ 2,00 zerou a sua rentabilidade e a empresa se prepara para reduzir ainda mais a participação das exportações em seu faturamento. A fatia das vendas externas nas vendas já caíram de 65% no ano passado, para 50% este ano. O executivo conta que as vendas para a Rússia praticamente pararam desde o início da crise - a queda dos embarques para esse destino chega a 70%. Para a Argentina, as exportações recuaram 20% neste início de ano.

Marcon disse que o maior problema do mercado internacional é a falta de demanda, mas acredita que se pudesse dar algum desconto, venderia um pouco mais. Ele contou que, no ano passado, os clientes da cerâmica aceitaram um reajuste de 25% nos preços para compensar o câmbio. Agora a mesma estratégia é impossível. O cenário mudou totalmente a com a crise. É como oferecer comida para quem não está com fome, disse.

Otmar Muller, presidente do Sindiceram-SC e diretor industrial da Eliane, disse que o impacto do câmbio não é tão forte quanto um ano atrás por conta da redução gradativa das exportações. O volume exportado pelas empresas catarinenses caiu 36% entre fevereiro e abril deste ano comparado com 2008, ano que já não havia sido tão forte. Sem conseguir elevar as vendas no mercado interno, a produção de revestimentos cerâmicos já está 10% inferior a do ano passado. Com esse novo recuo, teremos que rever os preços em dólar, mas nosso principal mercado ainda está recessivo, disse Muller, falando dos Estados Unidos.

O presidente da Buettner, João Henrique Marchewsky, disse que vai repensar todo o planejamento por conta do novo recuo do dólar. É uma situação horrorosa. Evitamos dar preço ontem (para as exportações) por conta da queda, disse ele, considerando que as têxteis terão uma dificuldade ainda maior no mercado externo, onde a demanda já se apresentava fraca por conta da crise mundial e pelas restrições argentinas. Vamos esperar esta semana para ter uma noção melhor da cotação, explicou. A empresa projetava o dólar a R$ 2,00 para o ano, mas acredita que terá que estimá-lo em R$ 1,80. Marchewsky disse que as vendas externas da empresa podem cair 40% este ano se a queda do dólar se aprofundar nos próximos meses.

A General Brands, que exporta sucos prontos, tem negociado preço com os clientes no exterior para manter o mesmo volume de exportações, afirmou o presidente da empresa, Isael Pinto. Quando o real valoriza, fica mais difícil exportar. Para manter os clientes a empresa acaba arcando com o prejuízo, afirma. Parte dessa perda com receita, diz, é compensada pela redução dos gastos com matérias-primas que também são importadas. A General Brands, que exporta para 20 países, espera comercializar no mercado externo entre 8% e 10% de sua produção, mas isso depende de uma estabilização do câmbio entre R$ 2 e R$ 2,40. Isael Pinto lembra que, no ano passado, a empresa teve de oferecer descontos aos clientes quando o real desvalorizou.

Para contrabalançar a valorização do real, a Baterias Moura vai reajustar os preços em torno de 10%. Como diversas moedas estão ficando mais fortes em relação ao dólar, é possível repassar para os preços as perdas que teríamos. O problema seria se só o real estivesse se valorizando, diz Elisa Correia, gerente de exportações da Moura. A fabricante está mantendo os planos traçados no início do ano de exportar cerca de 20% da produção em 2009, o que equivale a US$ 40 milhões. Outros dois fatores também ajudam na manutenção das metas: a empresa não exporta para os Estados Unidos e mais da metade dos custos de produção também estão atrelados ao dólar. Assim se a valorização do real traz perdas de receita, de outro, ela reduz os gastos.

f) China aumenta pressão para reduzir preços do minério

Em meio às negociações mais conturbadas dos últimos anos em relação ao preço do minério de ferro, as siderúrgicas chinesas reduziram as importações do produto, colocando mais pressão sobre as grandes mineradoras globais, entre elas a Vale. Em maio, as exportações brasileiras de minério tiveram queda de 42,7% em relação ao mês anterior. A China é hoje o principal mercado para o minério brasileiro.

A Associação do Ferro e Aço da China (Cisa, na sigla em inglês) reiterou a exigência de um corte maior no preço do minério de ferro, apesar de a mineradora anglo-australiana Rio Tinto ter chegado na semana passada a um acordo com a japonesa Nippon Steel e a coreana Posco para uma redução de 33% a 45%. O diretor da Cisa, Luo Bingsheng, disse também esperar que as negociações anuais sejam concluídas ainda neste mês. O preço deveria cair para o nível de 2007, afirmou Bingsheng.

Como forma de pressão, ele afirmou que a indústria siderúrgica chinesa será inundada com minério de ferro indesejado se as usinas e as empresas de comércio exterior continuarem a importar. Segundo ele, os importadores deveriam considerar o risco de estoques excessivos antes de tomar qualquer nova decisão.

A China vem pressionando por um corte maior que o definido pela Rio Tinto - quer algo como 50%. E a redução das importações, para analistas, pode ser um claro sinal de que os chineses não vão facilitar as negociações. Eles elevaram os estoques em abril e agora estão tirando o pé do acelerador, querendo forçar a barra para uma queda mais forte no preço do minério de ferro, avaliou Pedro Galdi, da corretora SLW. O analista de mineração do Banif, Gilberto Cardoso, também acredita que as siderúrgicas locais aproveitaram o período de crise para se estocar e vão agora forçar um corte mais profundo no preço do minério de ferro para este ano.

A analista Cristiane Viana, da corretora Ágora, lembra que as importações de minério de ferro da China em abril aumentaram 65% em relação a dezembro, um mês após a Vale anunciar os primeiros cortes de produção para se ajustar ao cenário de retração econômica. Segundo ela, as compras feitas em abril pela China cresceram em um ritmo muito superior à produção de aço, o que poderia indicar uma intenção de elevar os estoques. Entretanto, segundo ela, ainda é cedo para prever qual será o comportamento da demanda no médio prazo.

Ao contrário dos últimos anos, a Vale vem deixando as concorrentes anglo-australianas - Rio Tinto e BHP Billiton - liderarem as negociações com as siderúrgicas. A intenção da Vale é conseguir um prêmio pela qualidade de seus produtos. A expectativa de um corte menor de preço para o grupo brasileiro domina as apostas de analistas. O JP Morgan trabalha com uma queda de 27%, enquanto o Merrill Lynch prevê uma redução de 25% a 30%.

Ao negociar um porcentual menor, a mineradora brasileira conseguiria anular a defasagem de 2008, quando as australianas, sob a alegação de oferecerem custos de frete mais baixos, conseguiram acertar um aumento próximo a 100%, inferior ao porcentual de 65% a 71% fechado pela Vale para o mesmo período. Enquanto os chineses pressionam para fechar as negociações este mês, as mineradoras estão preferindo deixar a discussão correr, à espera de sinais mais evidentes de recuperação na demanda mundial.

O poder de fogo da China no mercado de mineração e siderurgia hoje é incontestável. O país absorveu no primeiro trimestre 66% das vendas de minério de ferro da Vale, o dobro do registrado no trimestre anterior.

Agronegócio

a) Frango para a China

O primeiro contrato de exportação de carne de Frango brasileira para a China, que prevê embarque de 12 contêineres, foi fechado pela Doux Frangosul, informou na sexta-feira a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef). Desde o fim de 2008, Brasil e China tinham acordo para exportação, mas os negócios só foram destravados após visita do presidente Lula ao país da Ásia, em maio. Na sexta-feira, o Ministério da Agricultura anunciou que a China autorizou mais dois estabelecimentos a exportar. Vinte e dois já estavam autorizados.

b) Soja lidera altas na BM&FBovespa

Em alta no mercado externo, em grande medida por conta da ainda aquecida demanda chinesa, a oleaginosa já acumula alta de mais de 40% na bolsa brasileira.

Os contratos de segunda posição de entrega de soja, normalmente os de maior liquidez, encerram o mês com média de US$ 25,83 por saca de 60 quilos, o que representa alta de 12,92% em comparação com a média do mês anterior, segundo cálculos do Valor Data. A soja é o principal produto das exportações do agronegócio brasileiro tanto em volume quanto em receita.

Embora o consumo de soja por parte da China tenha sido elencado como protagonista da onda mais recente de valorização da commodity, o movimento está ligado a outros fatores. O petróleo também tem puxado o preço para cima, diz Eduardo Tang, analista da corretora Terra Futuros.

O fator câmbio também é crucial para as altas recentes. O dólar tem se desvalorizado no mundo todo, o que amplia a demanda potencial pelo produto americano. A razão é que o dólar mais barato torna mais baixo o preço dos estoques americanos para compradores de outros países. A queda da moeda americana tem dado impulso adicional à soja na bolsa de Chicago, referência para a formação de preços no mercado internacional. Também por conta disso, alta nos EUA significa alta no Brasil.

A desvalorização do dólar não contribuiu para o avanço apenas da cotação da soja. Os contratos de café de segunda posição de entrega encerraram o mês de maio com preço médio de negociação de US$ 142,44 por saca de 60 quilos. A média apurada pelo Valor Data é 11,07% superior à de abril e representa uma alta acumulada de 15,92% no ano.

A alta dos grãos está muito ligada aos fundamentos, diz Bernardo Coutinho Souza Lima, sócio da Souza Lima Corretora, que atua como agente autônomo na negociação de contratos da BM&FBovespa. Brasil e Colômbia devem produzir menos este ano, e a previsão para o consumo no mundo é de manutenção ou de queda de apenas 1%.

Produto de maior liquidez na bolsa brasileira, o boi gordo também registrou altas em maio, embora de menor magnitude. Os contratos de segunda posição de entrega terminaram o mês com cotação média de R$ 81,62 por arroba, uma alta de 4,77% em comparação com a média de abril, segundo o Valor Data. No ano, o preço do boi gordo no mercado futuro acumula alta de 3,29%, na média.

Lima credita parte do movimento ascendente ao fato de os contratos terem atingido anteriormente níveis reduzidos em demasia. Chegaram a descer a R$ 70 por arroba. Havia espaço para subir, afirma. No espocar da crise dos frigoríficos, diz ele, muitos pecuaristas preferiram não negociar animais com compradores dos quais havia suspeita de problemas financeiros. A decisão aumentou o plantel disponível.

Na esteira da valorização vivenciada no mercado externo, o açúcar também encerrou o mês em alta na BM&FBovespa. A média apurada nos contratos de segunda posição foi de US$ 18,58 por saca de 50 quilos, que representou avanço de 9,89% em comparação com a média de abril. No ano, a alta do açúcar, de 38,95%, só é superada pelos 40% da soja.

Por outro lado, assim como ocorre no mercado internacional, o açúcar é o único produto agrícola negociado no mercado futuro da bolsa brasileira que acumula valorização nos últimos 12 meses. Segundo o Valor Data, a alta no período é de 29,13%. A demanda internacional pelo produto permanece elevada, com compras em ascensão por parte da Índia.

O cenário para o preço do milho ficará sob a influência do movimento das exportações e dos humores do clima, segundo Eduardo Tang, da Terra Futuros. Estão previstas para esta semana geadas para o sudoeste do Paraná e o sul de Mato Grosso do Sul, o que puxou altas na semana passada. A previsão para as exportações é de embarques de 8 milhões de toneladas neste ano.

Até o dia 18 de maio - antes, portanto, da adoção da liquidação financeira nos contratos de milho -, o preço médio era de R$ 22,21 por saca de 60 quilos, uma baixa de 1,26%. No acumulado do ano até 18 de maio, a baixa acumulada era de 0,63%.

c) Vendas externas de carnes voltam a cair

As receitas com exportações de carnes, que ensaiavam recuperação, voltaram a recuar em maio, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio. O quadro sugere que a demanda dos países importadores ainda não retomou os níveis normais, num momento em que apreciação do real em relação ao dólar tira competitividade dos produtos brasileiros.

As vendas externas de frango renderam US$ 381,1 milhões no mês passado, 10,2% abaixo de abril e 34,6% inferiores a maio do ano passado. Na carne bovina in natura, o faturamento com as exportações foi de US$ 234,4 milhões, uma queda de 5,4% ante abril e de 37,6% em relação a maio de 2008. As exportações de carne suína renderam US$ 94,2 milhões no período, com pequeno recuo de 1,2% sobre abril e de 40,7% na comparação com maio do ano passado.

Os volumes vendidos também foram menores. Foram 265 mil toneladas de carne de frango em maio, 13,9% menos que em abril e 19,1% abaixo do mesmo período de 2008. Os embarques de carne bovina somaram 75,1 mil toneladas, 11,8% menos que em abril e 23,2% inferiores a maio do ano passado. Já os volumes de carne suína totalizaram 46,4 mil toneladas, 3,5% abaixo de abril e 15% menos do maio de 2008. Nas três carnes, os preços médios nas exportações subiram em maio em relação a abril deste ano..

José Vicente Ferraz, do Instituto FNP, afirmou que a queda das carnes surpreendeu, já que havia uma expectativa otimista no mercado. Falava-se em crescimento, com a Rússia acelerando as compras e o Chile autorizando os primeiros embarques, comentou, referindo-se à carne bovina.

Para o presidente da Abipecs (reúne os exportadores de carne suína ), Pedro de Camargo Neto, o volume exportado - que deve ficar na casa de 50 mil toneladas por conta de ajustes - está dentro do normal. Ele não acredita que o vírus A (H1N1), que foi popularmente chamado de gripe suína, tenha contribuído para o recuo.

Na avaliação de Camargo Neto, o volume exportado em maio é bom e, mantido o ritmo, os embarques do ano podem ficar acima de 2008, quando somaram 530 mil toneladas. O que atrapalha agora, disse, é o dólar abaixo de R$ 2,00. É prejuízo para todos.

Relatório do Credit Suisse sobre o desempenhos dos embarques de frango avalia que a alta dos grãos e a apreciação do real estão adiando a recuperação da rentabilidade para níveis históricos. A queda nos volumes sinaliza, segundo o banco, que os importadores podem ter terminado de recompor seus estoques.

Para a carne bovina, o relatório vê ainda um ambiente desafiador. Ajustes abruptos na capacidade instalada nos primeiros meses de 2009 beneficiaram os maiores frigoríficos, que estão gradualmente aumentando a taxa de utilização de suas plantas, mas a demanda fraca da União Europeia e Rússia traz o risco de exportações estáveis de carne bovina este ano.

d) Rússia deve retomar a compra de suíno de SC

A Rússia vai habilitar já nos próximos dias frigoríficos de Santa Catarina para exportação de suínos, segundo o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que visita o país com um comitiva de técnicos. Em março, os russos pediram que o próprio Ministério da Agricultura brasileiro fizesse as inspeções e indicasse as plantas que teriam condições sanitárias e técnicas para exportar a seu mercado. De acordo com o diretor-executivo do Sindicarnes-SC, Ricardo Gouvêa, houve visitas a 11 frigoríficos catarinenses e nove foram aprovados pelo governo brasileiro.

Não havia informações de quantas unidades os russos habilitarão. Sabemos apenas que algumas serão habilitadas imediatamente e outras terão ainda que resolver algumas pendências, disse Gouvêa. Segundo ele, os russos deverão divulgar as unidades aprovadas na semana que vem.

O presidente da Coopercentral Aurora, Mário Lanznaster, disse que a notícia de retomada veio em bom momento porque a gripe A (H1N1), chamada inicialmente de gripe suína, derrubou a demanda e os preços. Segundo ele, no mercado interno o quilo da carcaça estava há 45 dias em R$ 3,50 e há poucos dias era vendido a R$ 2,80.

Em nota, o presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Suínos (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, diz que com a habilitação será corrigida uma injustiça com alguns estabelecimentos.

Santa Catarina já foi o maior Estado exportador de carne suína do país, mas teve suas vendas ao mercado russo suspensas em dezembro de 2005 após casos de aftosa no Mato Grosso do Sul e Paraná.

Também na Rússia, Stephanes disse que o Brasil pode importar entre 1 milhão e 3 milhões de toneladas de trigo do país, segundo a agência russa Interfax. Após reunião com a ministra russa da Agricultura, Yelena Skrynnik, em Moscou, Stephanes explicou que as importações do trigo russo serão definidas com base no histórico das compras realizadas na Argentina. O governo avalia importações de trigo de outros países, já que há menor disponibilidade do cereal argentino após queda na produção no país vizinho. Ele disse que análises técnicas do trigo russo estão sendo realizadas e acrescentou não ter dúvidas de que haverá progresso nessa área. Também afirmou que contratos podem ser assinados para a compra de fertilizantes russos.

O ministro brasileiro também pediu a Moscou que modifique suas cotas tarifárias para carnes, o que permitiria ao Brasil elevar suas exportações ao país.

e) Produtos agrícolas podem subir mais, diz FAO

A desvalorização do dólar americano e a alta dos preços de energia (notadamente do petróleo) nas ultimas semanas podem exercer novas pressões de alta sobre as cotações internacionais de produtos agrícolas. O diagnóstico é da FAO, agência das Nações Unidas para agricultura e alimentação.

Apesar da forte valorização observada desde o início deste ano, as cotações da maioria das commodities agrícolas de base continuam abaixo dos níveis recordes alcançados em 2008, o que para a FAO sinaliza um retorno ao equilíbrio em diversos mercados.

No rastro de uma queda média de 30% a 35% em relação aos picos de junho do ano passado, a agência estima que a fatura dos países importadores de alimentos deve cair em 2009 quase US$ 226 bilhões, para US$ 789,1 milhões. Mas a FAO adverte que, na prática, boa parte do efeito positivo dessa baixa de 22% na fatura das importações globais poderá ser anulada pela deterioração da economia global.

O braço da ONU diz que a erosão do poder de compra, por causa das reduções de rendimentos e das taxas de cambio real, reduz o acesso aos alimentos, mesmo que a preços mais baixos. A preocupação da FAO, antes ligada essencialmente à alta dos preços dos alimentos, agora esta mais voltada ao impacto da recessão mundial sobre a demanda agrícola, em particular por produtos de alto valor agregado.

Os vínculos mais e mais fortes entre o setor agrícola e os mercados de energia, de finanças e de divisas tornaram os preços agrícolas ainda mais vulneráveis aos choques externos, diz a FAO em relatório divulgado na quinta-feira.

Em seu novo trabalho sobre as perspectivas agrícolas, a agência constata, em todo caso, que no momento a crescente produção global parece ser suficiente para atender à demanda por alimentos e para outros usos; além disso, os estoques tendem a crescer.

Com a colheita da safra 2009/10 em fase inicial no Hemisfério Norte - que concentra 90% da produção global -, as previsões continuam a ser positivas graças a gorda produção de cereais, prevista em 2,219 bilhões de toneladas. Trata-se de um volume 3% menor que o recorde da temporada 2008/09, mas esta baixa, conforme a FAO, tende a ser compensada pelos estoques e pelo crescimento menos acelerado do consumo, que deve engordar cerca de 1,3%.

Segundo as primeiras estimativas da agência da ONU para o novo ciclo, o comércio mundial de cereais em 2009/10 deve movimentar 257 milhões de toneladas, recuo de 4% na comparação com 2008/09. A retração está diretamente ligada ao trigo, cujas importações mundiais podem ser 10 milhões de toneladas menores diante do aumento da produção em países importadores.

Já o segmento de oleaginosas encontra-se em situação mais problemática, segundo a FAO. A soja, estrela do grupo, está em alta nos mercados mundiais por conta do tombo da produção em grandes países produtores, especialmente na Argentina, e pela maior demanda para a produção de rações na China e na India. No total, a produção de oleaginosas deve somar 405,9 milhões de toneladas nesta safra 2008/09, em fase final de colheita no Hemisfério Sul, 0,7% mais que na temporada 2007/08.

A alta da cotação da soja nas últimas semanas, no rastro da contração das reservas mundiais, aparece como uma fonte de preocupação por influenciar os preços de alimentos destinados à alimentação humana e animal, afirma o relatório da agência.

Destaca-se no trabalho da FAO, ainda, a previsão de aumento no consumo mundial de açúcar, ainda que em ritmo menor do que nos últimos dois anos. Já os preços de pescados, carnes e produtos lácteos de uma maneira geral degringolaram por causa da queda da demanda provocada pela recessão e por problemas sanitários, prejudicando seriamente a lucratividade nesses segmentos, segundo a agência.

Mercosul

a) Brasil fará contraproposta ao Paraguai

O Brasil vai apresentar nos próximos dias uma contraproposta ao Paraguai sobre sua demanda de venda direta de energia no mercado local. O governo vai propor que os paraguaios aumentem seu consumo da energia de Itaipu e vendam no Brasil o que produzem em outras usinas. A informação é do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Dessa maneira, nós poderíamos concordar, porque não viola o tratado. Não é teimosia do Brasil em relação a Itaipu, mas um impedimento legal, disse Lobão, acrescentando que a proposta está em fase de finalização por sua equipe e pelo Itamaraty.

Promessa de campanha do presidente Fernando Lugo, a renegociação do tratado de Itaipu é uma tema espinhoso entre Brasil e Paraguai. Para destravar as negociações, os paraguaios se comprometeram a vender sua parcela da energia de Itaipu ao Brasil, mas propuseram que a estatal Ande (Administração Nacional de Energia) fizesse a comercialização livremente.

Pela contraproposta do Brasil, nada mudaria em Itaipu, mas a Ande venderia a energia das hidrelétricas de Acaraí e Iguaçu no mercado livre. Segundo Antonio Cardoso, diretor técnico de Itaipu, o Paraguai comercializaria cerca de 1,3 mil megawatts de energia por hora no Brasil, o que significaria uma receita de US$ 50 milhões pelos preços atuais. É um começo. O Paraguai entraria no mercado brasileiro, que é bastante complicado, e teria os próximos anos para aumentar sua potência energética, disse Cardoso. A oferta brasileira está bem distante da demanda paraguai, que exige soberania sobre sua fatia de energia de Itaipu.

A implementação da proposta brasileira também não seria automática. A usina de Acaraí, com potência de 200 megawatts, está ligado ao sistema elétrico brasileiro por uma linha de transmissão de baixa capacidade, que deveria ser duplicada. Esse tipo de obra leva pouco mais de um ano. Em Presa Iguaçu, o Paraguai possui a barragem e conseguiu um empréstimo de um banco japonês, mas não terminou a usina. Só após concluir a obra é que o país conseguiria mais 200 megawatts de potência.

Lobão admitiu as dificuldades de transmissão, mas reforçou que isso pode ser resolvido e sinalizou com a possibilidade de o BNDES ajudar no financiamento das obras. O tratado pode perfeitamente ser mudado desde que os governos brasileiro e paraguaio desejem. E Congresso brasileiro não parece disposto, reforçou.

Para o Brasil, a venda direta da energia de Itaipu pelo Paraguai viola o acordo entre os dois sócios do Mercosul, porque o tratado estabelece que Eletrobras e Ande só podem adquirir a energia que não for utilizada pelo outro país para próprio consumo. Alguns membros do governo cogitam a possibilidade de permitir que o Paraguai venda livremente apenas a energia adicional de Itaipu, obtida em um ano de boas chuvas. Mesmo assim, significaria energia mais cara para os consumidores, porque as tarifas de Itaipu são calculadas com base nas despesas divididas pela produção total. A dívida contraída pela construção da usina é 2/3 da despesa.

b) Israel pede a Congresso aprovação rápida de acordo com o Mercosul

O ministro da Indústria, Comércio e Trabalho de Israel, Binyamin Ben Eliezer, fez um apelo a deputados e senadores do Brasil para que aprovem com rapidez o acordo de livre comércio entre o país e o Mercosul. Cada dia que passa sem ratificar o acordo, é um dia que ambas as economias perdem, disse Ben Eliezer.

O acordo entre Mercosul e Israel - o primeiro do bloco com um país de fora da América Latina - enfrenta um lento processo de aprovação desde sua assinatura, em dezembro de 2007. O acordo só chegou ao Congresso no segundo semestre de 2008 e, até agora, não passou da comissão mista do Mercosul, a primeira de muitas instâncias de avaliação.

Os congressistas estão preocupados com as ações de Israel na Palestina. Também não ajudou na tramitação do acordo a firme manifestação do Itamaraty, que classificou a ofensiva israelense na Faixa de Gaza, no início de ano, de terrorismo de Estado.

No relatório preliminar, o senador Eduardo Azeredo (PSDB) emitiu parecer favorável, argumentando que se tratava de um avanço importante, enquanto iniciativas multilaterais mais ambiciosas não prosperam. Mas manteve o veto previsto no projeto inicial para os produtos procedentes das áreas ocupadas por Israel na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental.

O Mercosul também está negociando um acordo com a Conselho de Cooperação do Golfo. Travadas desde janeiro de 2007 por resistência da indústria química brasileira, as negociações foram relançadas em recente viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Arábia Saudita, mas ainda não há reunião de negociação marcada. O ministro israelense disse que vê a iniciativa com apoio total e insinuou que quem sabe, no futuro poderia se transformar em uma plataforma de cooperação.

Segundo Evandro Didonet, diretor de negociações internacionais do Itamaraty, a tramitação de acordos no Congresso é demorada para qualquer parceiro. Ele lembrou, por exemplo, que o tratado de preferências tarifárias com a Índia, que inclui poucos produtos, foi assinado no fim de 2004, mas só entrou em vigor esta semana.

O acordo entre Mercosul e Israel abrange 95% das tarifas, mas deve ser mais lucrativo para a indústria, já que muitos produtos agrícolas de interesse do Brasil ficaram de fora por pedido israelense. Os setores mais beneficiados serão calçados, móveis, eletrodomésticos, autopeças entre outros, porque as tarifas de importação em Israel vão cair de 12% para zero.

Ben Elizer disse que Israel importa US$ 50 bilhões do mundo por ano, mas apenas 8% do Brasil e frisou que o comércio de seu país com o México, por exemplo, duplicou depois de um acordo. A corrente de comércio entre Brasil e Israel chegou a US$ 1,6 bilhão em 2008, mas com superávit de US$ 822 milhões a favor de Israel. Enquanto os brasileiros vendem commodities, os israelenses exportam manufaturados.

c) O Parlamento do Mercosul e o eleitor

A menos de quatro meses para a definição das regras que presidirão a eleição para a bancada brasileira no Parlamento do Mercosul, inexiste consenso no Congresso Nacional sobre o tema. Será a primeira vez que o Brasil elegerá uma bancada de deputados e senadores para atuar exclusivamente no âmbito do parlamento do bloco que está sediado em Montevidéu.

Hoje a representação brasileira é de 18 parlamentares (metade de cada Casa), assim como a dos outros três países-membros: Paraguai, Uruguai e Argentina. Depois de árdua negociação, estabeleceu-se um cronograma para a entrada em vigor de uma representação mais proporcional à população de cada país.

Pelo acordo, Brasil e Argentina elegerão, respectivamente, 37 e 26 em 2010 e 75 e 32 em 2014. Uruguai e Paraguai se manterão nos atuais 18. Este último opôs forte resistência à proposta brasileira de reduzir o número de integrantes do Parlamento com o argumento de que já havia realizado eleições para seus representantes. Foi o único dos quatro países que já o fizeram.

Atualmente apenas três projetos tramitam na Casa. Um de autoria do deputado Carlos Zarattini (PT-SP) propondo escolha por lista fechada composta a partir do peso de cada região na Câmara Federal e dois da senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), que tratam da cota por sexo na distribuição de vagas e da propaganda em rádio e TV para a campanha eleitoral dos candidatos.

Nem mesmo dentro dos partidos há consenso sobre o formato ideal do processo eleitoral. Na próxima semana, o deputado Dr. Rosinha (PT-PR) deve protocolar um projeto de lei, também por lista fechada, mas composta a partir de vagas estaduais e não por região. Por essa proposta, pelo menos 21 Estados teriam um único representante, enquanto São Paulo poderia chegar a cinco, Minas a três e Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná a dois parlamentares.

Não há sequer convergência sobre a necessidade de uma mudança da Constituição prévia ao regulamento da disputa eleitoral. Apesar de o Parlamento do Mercosul não ter função legislativa, cabendo-lhe apenas fazer recomendações ao conselho executivo do bloco ou elaborar projetos de lei a serem enviados aos respectivos parlamentos nacionais, há quem veja na sua atuação uma afronta à cláusula pétrea da soberania.

Mais grave que o dissenso é o debate incipiente do tema no Congresso, reflexo do pouco interesse dos partidos no Parlamento do Mercosul. O bloco sequer consta das diretrizes da maioria dos partidos. Todos falam vagamente da necessidade de se aumentar a integração regional, mas sem menção específica ao Mercosul.

O PT foi o único a realizar um seminário específico para o debate do bloco, ainda assim numa conjuntura (1993) em que parecia estar mais interessado em colocar em evidência sua oposição à política externa do Executivo do que propriamente incorporar o tema na ação política do partido.

Esse desinteresse se deve em grande parte à dificuldade de aquinhoar votos com política externa. E o distanciamento do eleitor do tema vem, em grande parte, ao pontificado do Itamaraty nas diretrizes da política externa brasileira. Pela Constituição, cabe ao Congresso apenas ratificar tratados internacionais, autorizar a entrada do país em guerras ou sancionar acordos de paz. Mas se este insulamento do Itamaraty aprofundou-se numa conjuntura econômica de substituição de importações, a inserção brasileira no cenário internacional se modificou com a globalização, o que, acabou atraindo o interesse da sociedade civil, impactada por esta abertura.

Os setores empresariais são os mais visivelmente atraídos pelo tema, dado o peso que a diversificação das relações comerciais do Brasil adquiriu. Ainda que o impacto da crise econômica nos parceiros brasileiros do Mercosul fez com que fosse carreado para a China e não para o bloco o espaço perdido para as exportações brasileiras no mercado americano, é generalizado o reconhecimento dos avanços na integração comercial da região.

A dificuldade de atrair o interesse do eleitor comum pelo parlamento do bloco não é uma exclusividade do Mercosul. Na União Europeia, bloco mais antigo e melhor institucionalizado que o do Mercosul, as eleições que começaram ontem e vão até domingo estão sendo presididas pelo descrédito do eleitor.

Mas essa perda de legitimidade do Parlamento Europeu é, em grande parte, relacionada à crise econômica contra a qual os cidadãos veem a ação de seus representantes no bloco ter pouca efetividade.

A América do Sul, apesar de atingida, ainda é considerada uma região à qual abriram-se oportunidades na crise econômica mundial. O Parlamento do Mercosul funcionaria, assim, como uma caixa de ressonância dos interesses sociais nas decisões do bloco. A finalidade da eleição direta de seus representantes é conferir mais legitimidade a esta representação.

A proposta da entrada da Venezuela no Mercosul demonstra que não é impossível atrair o interesse do cidadão comum. O Mercosul sempre foi um tema mais afeito aos Estados do Centro-Sul, que têm relações comerciais ou fronteiras com os países do bloco. A entrada da Venezuela no Mercosul já desperta mais interesse pelo bloco nos Estados do Norte. Pela proximidade geográfica, o ingresso venezuelano é visto no Norte como uma forma de aproximar a região dos temas do Mercosul.

Este é um dos problemas dos partidos de oposição nas eleições para a bancada brasileira no Mercosul. Como a oposição, notadamente PSDB e DEM, tem se destacado no ataque à entrada da Venezuela no bloco, é de se esperar que os candidatos desses partidos ao Parlamento do Mercosul venham a ter dificuldades de serem escolhidos para as vagas a serem reservadas aos Estados do Norte.

Ao Executivo, que tem sido protagonista nesses quase 20 anos de funcionamento do bloco, caberia dar o exemplo de valorização da representação nacional no Parlamento do Mercosul. Os ministros, por exemplo, têm sido insistentemente convocados para debater com a bancada brasileira as políticas setoriais de integração. E têm, solene e reiteradamente, ignorado o convite.

d) Moinhos querem ação antidumping contra a farinha de trigo argentina

Os moinhos de trigo brasileiros planejam abrir um processo antidumping contra os fabricantes de farinha de trigo da Argentina, informou fonte do setor que pediu para não ser identificado. Nesse momento a entidade que representa os moinhos brasileiros, a Abitrigo, está em fase de contratação de um escritório de advocacia especializado no assunto e espera iniciar, até o fim do mês, um processo denunciando as fábricas argentinas por comércio desleal com consequente dano à indústria brasileira. Os moinhos brasileiros se queixam que os argentinos estão vendendo farinha de trigo no Brasil por um preço abaixo do custo, graças a uma diferença de tributação que os beneficia.

A questão que opõe as indústrias moageiras de trigo dos dois lados da fronteira começou há cerca de um ano e meio. Segundo dados da Abitrigo, o Brasil consome 10,5 milhões de toneladas por ano, dos quais produz apenas 5 milhões de toneladas. Os 5,5 milhões restantes são importados e a Argentina sempre respondeu por 90% a 95% do suprimento.

No entanto, agora a Argentina está tentando converter-se de exportador de trigo em grãos, uma commodity internacional, para provedor do produto acabado com valor agregado. Essa estratégia nunca foi declarada com todas as letras, mas está sendo desenhada desde o ano passado, quando a presidente Cristina Kirchner assumiu o governo.

Começando por uma política de desestímulo à produção agrícola em geral, o governo argentino passou a dar um incentivo à indústria da farinha, ao taxar a exportação de trigo em grãos em 28% e a de farinha em 18%. À taxação das exportações, e ao clima de confronto entre o governo e os agricultores que já dura um ano e três meses, se somou a pior seca da história do país, que danificou os campos mais férteis para o trigo.

O resultado é que na safra 2008/2009, a produção de trigo despencou de 16 milhões para 8,5 milhões de toneladas. Como a Argentina consome 6 milhões de toneladas, sobra quase nada para exportar, porque ainda é necessário manter uma reserva estratégica do produto. Isso vai obrigar o Brasil a comprar trigo mais caro de países como Canadá e Estados Unidos. Ao taxar o trigo em grão em alíquota superior à da farinha, a Argentina está, na prática, subsidiando a exportação de farinha, explicou a fonte.

O resultado é que as exportações de farinha da Argentina para o Brasil saíram de 213 mil toneladas em 2004 para 630 mil toneladas em 2008, o que representou alta de 196% e ocupação de 9% do mercado.

A indústria moageira brasileira vem reclamando há meses e, segundo a fonte, planejava abrir uma queixa anti-subsídio contra os argentinos na Organização Mundial do Comércio (OMC). Mas desistiu recentemente, ao constatar que não contaria com o apoio do governo brasileiro, fundamental para a ação ter alguma chance de sucesso.

Presentes na lista inicial apresentada em fevereiro pelo governo brasileiro ao argentino entre os setores que estavam dispostos a negociar a auto-limitação do comércio com o vizinho, os moinhos de trigo deixaram as reuniões setoriais. No encontro marcado, na sede da Secretaria de Indústria, em Buenos Aires, eles já não estarão.

e) Argentina sob pressão para proibir o uso de glifosato nas lavouras

O governo da Argentina está sendo alvo de pressão para proibir um produto químico usado no herbicida mais vendido do mundo, que ajudou a transformar o país num importante exportador de alimentos mundial na década passada, depois de uma nova pesquisa ter constatado que ele pode ser prejudicial à saúde humana.

Um grupo de advogados ambientalistas peticionou à Suprema Corte requerendo a imposição de uma proibição por seis meses sobre a venda e uso do glifosato, base de muitos herbicidas, incluindo o Roundup, produto da Monsanto.

Uma proibição, se aprovada, significaria que não poderíamos praticar agricultura na Argentina, diz Guillermo Cal, diretor-executivo da Casafe, associação de fabricantes de fertilizantes do país.

A Argentina tornou-se uma potência mundial na exportação de alimentos, em grande parte por meio do uso de grãos geneticamente modificados projetados para resistir ao glifosato. Isso permitiu aos produtores de soja elevar o rendimento dramaticamente, por plantarem diretamente sem limpar a terra, logo em seguida pulverizando o herbicida para matar as pragas sem afetar a nova lavoura.

O país é o maior exportador mundial de óleo de soja e segundo maior na exportação de milho, terceiro em soja e sétimo, em trigo. O glifosato é o herbicida mais usado e os produtores gastaram com ele cerca de US$ 450 milhões por ano e usam 150 milhões de litros anualmente nas suas lavouras, diz Cal.

Qualquer proibição sobre o uso do glifosato poderá ter graves consequências fiscais: o governo argentino, já carente de recursos, depende pesadamente das tarifas impostas às exportações agrícolas. Ele deverá arrecadar aproximadamente US$ 5 bilhões este ano, apesar de a soma ser apenas cerca de metade do nível do ano passado, após um prolongado conflito com os produtores rurais, uma seca amarga e preços mais baixos reduziram drasticamente a produção da soja, principal cultura do país.

Sabemos que estamos enfrentando Golias, diz Mariano Aguilar, diretor-executivo da Associação Argentina de Advogados Ambientalistas, que pleiteou em ação a proibição sobre a venda e uso do glifosato, enquanto se aguarda o resultado da investigação feita por uma comissão de especialistas criada em janeiro pelo governo.

A iniciativa de Aguilar veio no rastro de uma investigação liderada por Andrés Carrasco, um cientista da Conicet, instituto de pesquisas que recebe recursos do governo. Segundo a pesquisa de Carrasco, mesmo minúsculas quantidades de glifosato poderiam causar má-formação embrionária em rãs e, por extrapolação, ter implicações para humanos. Suspeito que a classificação de toxicidade do glisofato seja muito baixa em alguns casos isso pode ser um veneno poderoso, disse Carrasco. Ele diz que os residentes próximos das regiões produtoras de soja relataram problemas a partir de 2002, dois anos após as primeiras safras começarem a usar grãos transgênicos, cujo uso foi aprovado na Argentina em 1996.

Pesquisas conduzidas por outros cientistas argentinos e evidências levantadas por outros ativistas indicaram elevada incidência de defeitos de nascença e câncer em pessoas que vivem perto das regiões de pulverização das lavouras. Estudo conduzido por um médico, Rodolfo Páramo, na provincial agrícola de Santa Fé, relatou 12 deformações a cada 250 nascimentos, bem acima da taxa normal.

Carrasco diz que sua pesquisa usou glifosato puro, bem como herbicida contendo cerca de 500g de glifosato por litro - a concentração padrão em muitos fertilizantes -, que diluiu 5 mil vezes.

A Monsanto diz que seus produtos Roundup contêm 360g a 540g por litro, e 680g a 720g por quilo, no caso de sólidos. Ela destaca, porém, que detém apenas um terço do mercado argentino, uma vez que o glifosato está sem patente há vários anos, e que outros produtores oferecem produtos genéricos com distintas concentrações do produto químico.

Organização Mundial do Comércio (OMC)

a) OMC autoriza Equador a limitar suas importações

O Equador tornou-se o primeiro país na atual crise global a receber autorização da Organização Mundial do Comércio (OMC) para impor restrições a importações, por causa da deterioração de sua balança de pagamentos.

A entidade deu sinal verde para barreiras que cobrem 8,7% das linhas tarifárias, afetando um volume de comércio equivalente a 23% do total das importações de 2008. O Equador deverá substituir até setembro a maioria das cotas (limites quantitativos a importação) por tarifas mais altas, que será aplicadas conforme o preço do produto. As restrições poderão ser mantidas até 22 de janeiro de 2010.

O governo equatoriano avisou que, pela lógica, os principais parceiros serão os maiores afetados, incluindo o Brasil. A posição brasileira é de ajudar o vizinho, mas avisou que vai tentar evitar que o fluxo de suas exportações caia.

Também a Ucrânia aguarda o sinal verde da OMC para as limitações que já vem impondo às importações, o que evitaria que o país fosse contestado diante dos juízes pelos parceiros comerciais.

O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, vem manifestando o temor de uma alta do protecionismo e alertou que o mundo não viu ainda os problemas sociais e políticos ligados à crise.

As regras da OMC permitem aos países-membros aplicar restrições a importação por razões de balança de pagamentos. Mas a autorização só é concedida após demoradas consultas com outros paises-membros e com a participação do Fundo Monetário Internacional (FMI), e deve ser submetido um calendário para retirada as medidas.

A ultima vez que um pais recorreu ao mecanismo foi há dez anos, com a Nigéria. Antes, a Índia e mesmo o Brasil, na época do antigo Gatt, substituído pela OMC, obtiveram sinal verde. O Equador alegou que as restrições comerciais visam reduzir a saída de dólares, que estaria causando problemas de liquidez e ameaçando a estabilidade do sistema financeiro do pais.

O Comitê de Balança de Pagamentos da OMC reconheceu que as contas do país se deterioraram nos últimos meses, devido à queda da demanda global, que houve deterioração dos termos de comércio, sobretudo com a queda no preço do petróleo, além de valorização do dólar americano e baixa na remessa de divisas de equatorianos que vivem no exterior.

Além disso, a forte alta de despesas combinado com queda na receita e o calote de parte da dívida externa, decretado em dezembro pelo governo de Rafael Correa, ampliaram os problemas do país. Vários parceiros reclamaram que o problema do Equador é sobretudo a dolarização de sua economia. Ao adotar o dólar em 2000 o país deixou de ter política monetária independente e não pode usar a taxa de câmbio para administrar a balança de pagamentos.

Enquanto outros desvalorizam a moeda, o Equador acompanha as turbulências do dólar americano.

Indagado por delegações sobre a natureza de uma crise de balanco de pagamentos numa economia dolarizada, o representante do FMI respondeu que esse tipo de crise reduz a liquidez doméstica e enfraquece a confiança na economia, podendo levar a recessão. E notou que não há vínculo determinando um nível adequado de reservas numa economia dolarizada.

O representante do FMI alertou que as restrições às importações certamente não ajudarão a resolver os problemas fiscais do Equador e aconselhou o pais a cortar despesas. Vários países também se mostraram convencidos de que barrar o comércio não resolve as dificuldades, até porque já houve melhora no preço do petróleo, principal produto exportado pelo país. Mas admitiram que o Equador tem poucos instrumentos para enfrentar a crise financeira global.

A delegação equatoriana não informou quais os produtos vem sofrendo restrições. Mas o ministro equatoriano da Indústria, Xavier Abad, disse à imprensa local que a elevação de tarifas já adotada está de fato baixando os volumes importados. Os países da Comunidade Andina (Peru, Bolívia e Colômbia) reclamaram que suas vendas estão sendo afetadas e querem compensações.

A questão que persiste na cena comercial é até que ponto limitar importações ajuda na crise atual. Basta ver o exemplo da Ucrânia, que desde que restringiu suas importações viu os preços dos produtos agrícolas subirem em seu mercado. Os ucranianos dizem que querem o sinal verde agora basicamente para restringir importações de automóveis e refrigeradores. Existe uma inquietação de que a abertura conseguida pelo Equador estimule outros países a acionar o mecanismo da OMC. Isso quando o comércio mundial continua em queda livre. O Banco Mundial identificou 89 novas restrições ao comércio desde outubro de 2008, das quais 23 desde a cúpula do G-20, em abril.

Resta que a medida do Equador não tem comparação, em termos de impacto no comércio global, com centenas de bilhões de dólares de subsídios que países ricos, a começar dos EUA, vêm dando a seus abalados bancos e indústrias.

Plano Internacional

a) Brics buscam alternativa ao dólar como moeda de reserva

Brasil, Rússia, China e Índia já discutem como fazer para acabar com o predomínio do dólar como moeda de reserva internacional, disse em Brasília, o ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, ao relatar o encontro com autoridades dos outros três países, da qual participou na semana passada.

Começa uma discussão sobre o futuro do dólar como moeda reserva do mundo, afirmou o ministro. Não estou cometendo nenhuma inconfidência, porque a discussão já está nos jornais, inclusive por declarações de presidentes dos bancos centrais.

O encontro das autoridades dos chamados Brics (sigla criada pela consultoria Goldman Sachs para abrigar os principais países emergentes) fez parte dos preparativos para uma reunião de presidentes, neste mês, em Ecaterimburgo, na Rússia. O principal objetivo dos encontros entre os Brics não é tomar decisões comuns, mas influir de maneira mais forte na agenda internacional, disse Mangabeira.

Entre os temas sobre os quais os quatro países querem mudar o rumo das discussões está a questão da propriedade intelectual (para um sistema menos rígido de proteção) e as discussões de liberalização de comércio.

Mangabeira Unger chegou a anunciar, por engano, que o Brasil já vinha fazendo, em caráter experimental operações de compensação de moedas no comércio com a China, eliminando a necessidade de compra de dólares por parte dos bancos centrais em trocas comerciais entre os dois países.

O Banco Central brasileiro negou, porém, que o sistema já esteja em operação e informou que houve, apenas, um acordo para sua implementação, assinado entre os dois países. Para o ministro, o funcionamento do sistema de compensação em moedas locais, como já existe na Argentina, prepara o caminho para um experimento mais abrangente.

Há uma grande preocupação com o futuro do dólar, enfatizou o ministro, ressalvando, porém, não acreditar em mudanças em curto prazo na situação da moeda americana como reserva internacional. Há também uma grande preocupação em evitar que o debate sobre o tema agrave a volatilidade nos mercados de câmbio, provocando ainda mais distúrbios, disse o ministro de Assuntos Estratégicos, que defendeu discussões para uma transição ordenada a outro sistema monetário mundial.

Para Mangabeira, a manutenção do dólar como moeda de referência internacional é inviável em longo prazo, assim como também não se cogita a criação de uma moeda global gerenciada por uma burocracia internacional poderosa.

Entre um polo e outro, há opções a serem exploradas, como a definição de uma cesta de moedas para servir de referência às transações internacionais, ou a reprodução, em maior escala, do sistema de Direitos Especiais de Saque (DES) , do Fundo Monetário Internacional (FMI), uma espécie de moeda virtual lastreada em depósitos dos países sócios do FMI na instituição.

Não existe nem a opção de sonegar o debate, dizer que esse assunto é perigoso demais para debater, comentou o ministro Mangabeira Unger. O debate já está instaurado pelos representantes dos outros países, inclusive pelas autoridades da China, afirmou.

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