Comércio Exterior
a) Resultados
A balança comercial brasileira teve superávit de US$ 749 milhões na segunda semana de abril, resultado de exportações de US$ 2,49 bilhões e importações de US$ 1,74 bilhão. Com isso, o saldo comercial acumulado no mês é de US$ 1,34 bilhão. As exportações totalizam US$ 4,24 bilhões e as importações, US$ 2,90 bilhões. A média diária das importações no acumulado do mês foi de US$ 415,4 milhões, 29,2% abaixo da média de abril de 2008. Caíram as compras, principalmente, de combustíveis e lubrificantes, adubos e fertilizantes, aeronaves e peças, borracha e obras e automóveis e partes.
b) Investimento no exterior recua 67% no ano
Com o agravamento da crise, empresas brasileiras já dão sinais de que não manterão o nível recorde de investimentos externos que se observou nos últimos anos. Segundo dados do Banco Central, de janeiro a fevereiro, o dinheiro aplicado por essas companhias no exterior caiu 67% em relação ao mesmo período de 2008.
O número se refere a investimentos diretos feitos por empresas brasileiras em outros países, o que inclui aquisição de outras companhias ou expansão da capacidade produtiva de plantas já instaladas no exterior. No primeiro bimestre deste ano, esse fluxo somou US$ 1,48 bilhão, contra US$ 4,54 bilhões observados nos primeiros dois meses de 2008.
Ao longo de 2008, os investimentos brasileiros no exterior chegaram a US$ 34,09 bilhões, valor mais alto já registrado pelas estatísticas do BC e que corresponde a uma média de US$ 2,84 bilhões por mês -quase o quádruplo da média apurada no primeiro bimestre de 2009.
Ainda assim, alguns especialistas avaliam que a queda nos investimentos externos é temporária e a situação deve se reverter depois de passada a fase mais aguda da crise.
A tendência [de internacionalização] não muda. As empresas brasileiras já perceberam, há muito tempo, que elas só serão grandes se forem fortes também no mercado global, diz Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP.
Para Lacerda, a situação atual do mercado pode até abrir oportunidade para que companhias brasileiras com boa situação financeira possam partir para aquisições de empresas estrangeiras com dificuldades em seus mercados locais.
O problema, nesse caso, seria superar a escassez de crédito para encontrar fontes de financiamento para a compra.
Para o professor Álvaro Cyrino, pesquisador da Fundação Dom Cabral, é de esperar que, com a crise, as empresas adiem seus novos projetos de investimento no exterior, mas mantenham as unidades que já estejam em operação. Até porque não é tão simples para uma empresa, neste momento, se desfazer de seus ativos, diz.
Segundo o BC, nos primeiros dois meses deste ano, empresas brasileiras desfizeram investimentos -ou seja, venderam suas filiais no exterior- no valor de US$ 2,16 bilhões, muito próximo dos US$ 2,19 bilhões no mesmo período de 2008.
Para Cyrino, o impacto mais imediato para empresas brasileiras com negócios em outros países é sentido nas exportações. Nesse caso, já se percebe que [as empresas] estão redirecionando suas atividades para mercados mais atrativos, ou mesmo ao mercado interno.
Por isso, afirma, é preciso que o governo brasileiro atue de forma agressiva nas negociações com outros países para evitar que medidas protecionistas intensifiquem o efeito que a crise tem tido sobre o setor produtivo brasileiro.
c) Exportação de calçado cai 26% no 1º trimestre
A indústria de calçados brasileira sente um impacto duplo da queda da demanda internacional pelo produto, nas exportações e nas importações. O faturamento do setor com exportações diminuiu 26% no primeiro trimestre deste ano na comparação com os três primeiros meses do ano passado. Já a receita de calçados importados cresceu 45% no mesmo período, informa a Abicalçados.
Segundo a entidade, foram exportados 40,7 milhões de pares de calçados entre janeiro e março -14 milhões a menos que no primeiro trimestre de 2008. Já as importações somaram 13,1 milhões de pares.
Além da queda da demanda internacional pelo produto, a crise prejudicou o setor com a instabilidade cambial verificada em outubro, afirma o diretor-executivo da Abicalçados, Heitor Klein. Segundo ele, é nesse mês que se firmam os contratos de exportação por um período de seis meses. "A indefinição de preços afetou o volume negociado."
A entrada em massa de produtos importados no mercado surpreendeu Klein. Ele esperava que com o dólar valorizado o ciclo de alta nas importações do produto, que vem acontecendo desde o ano passado, fosse interrompido.
"A única explicação é a manifesta intenção de grifes internacionais, que produzem na China, de entrar no mercado brasileiro a qualquer preço. Elas querem desovar aqui a produção que não encontra mais demanda no hemisfério Norte", afirma.
Outro motivo citado por Klein para justificar o crescimento das importações de calçados é o medo de que ações antidumping contra o produto asiático sejam adotadas pelo governo brasileiro -há um processo em análise no Ministério do Desenvolvimento. "Os importadores estão fazendo estoques preventivos, com medo de pagar mais caro depois."
Os resultados desse desequilíbrio para o setor são uma queda na produção e um aumento do desemprego. Em fevereiro, o emprego no setor recuou 9,6% na comparação com o mesmo mês de 2008, segundo o IBGE.
"O nível de atividade caiu e as empresas não têm como manter o emprego com a queda nas encomendas", afirma Klein.
d) Importação de confecções anda na contramão e sobe 75%
O fim do acordo entre Brasil e China para restrição de exportações, a chegada de expressivas encomendas do varejo feitas ainda no período pré-crise, e a desova de produtos chineses que eram vendidos nos Estados Unidos e na Europa provocaram um forte aumento nas importações de vestuário neste início de ano.
No primeiro trimestre em relação a igual período do ano passado, o volume de roupas adquiridas no exterior subiu 56%, de 11,6 mil para 18 mil toneladas. Desse total, 72% vieram da China. Em valores, as importações aumentaram 75%, para US$ 275 milhões, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento elaborados pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit).
O setor de vestuário está na contramão da economia, pois o impacto da crise reduziu em mais de 20% as importações do Brasil no primeiro trimestre. Entre 25 setores, vestuário e outros equipamentos de transporte foram os únicos a apurar alta no volume importado em janeiro e fevereiro, segundo a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
Segundo varejistas e fabricantes locais, as encomendas de roupas foram feitas para os fornecedores na Ásia em meados de 2008, antes da eclosão da crise no Brasil em setembro, quando a perspectiva era de demanda aquecida. Como não tem oferta de coleção de inverno no Brasil, o setor aproveitou e comprou antes da crise, disse Sylvio Mandel, presidente da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abeim), que representa redes como C&A, Riachuelo e Renner.
O desempenho das importações de vestuário não acompanha o de insumos para a indústria local, como tecidos e fios. De janeiro a março, em volume, as importações de tecidos caíram 23% e de fios, 45%. Como esses itens possuem maior peso, importações totais do setor têxtil e de confecção recuaram 37% em volume e 15% em valor de janeiro a março. As compras de matérias primas reagem mais rapidamente que o vestuário às alterações de demanda.
O fim do acordo de restrição das exportações da China também estimulou o varejo a importar mais. As compras externas dos produtos monitorados subiram expressivamente no primeiro trimestre em relação a janeiro a março de 2008: 236% em camisas de malha, 260% em jaquetas, 286% em suéteres, 805% em veludo, 147% em seda.
As compras foram feitas já prevendo que não seriam barradas pelas cotas, disse Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Abit e da tecelagem Cedro e Cachoeira. Além disso, a crise já estava afetando as exportações da China na Europa e nos Estados Unidos, que passou a focar o esforço de vendas em países como o Brasil.
Com o fim do acordo, os varejistas estão solicitando ao governo brasileiro que retire a exigência de licenças de importação para os produtos envolvidos. Não faz mais sentido essa barreira burocrática, que tem um custo. Vamos reverter isso em preço para mais baixo para o consumidor, disse Mandel, da Abeim.
Selado em 2006, o acordo entre Brasil e China limitou por meio de cotas o crescimento das exportações de 70 produtos, agrupados em oito categorias, o equivalente a 60% do total do comércio têxtil entre os dois países na época. O acordo expirou em dezembro e o setor privado brasileiro tentou repetidas vezes renegociá-lo, mas não houve receptividade dos chineses.
O governo chinês não renovou o acordo com ninguém, nem com europeus, nem com americanos, disse Welber Barral, secretário de Comércio Exterior. A crise provocou queda das exportações chinesas de produtos têxteis, com fechamento de fábricas. Segundo ele o governo brasileiro acompanha de perto o assunto, mas o problema ainda está restrito.
Uma missão liderada pelo secretário-executivo do MDIC, Ivan Ramalho, deve desembarcar em Pequim para discutir o comércio têxtil em 23 de abril. Diniz, da Abit, ainda tem esperanças de uma renovação do acordo, mas, segundo o governo brasileiro, os chineses já sinalizaram que só estão dispostos a negociar itens específicos.
Sem conseguir reestabelecer o acordo e sob pressão da indústria, o governo aprovou duas sobretaxas antidumping: fibras de viscose, em outubro de 2008, e fios de viscose, em março deste ano. As medidas foram tomadas sem considerar a decisão anunciada, mas nunca aplicada pelo Brasil de reconhecer a China como economia de mercado. Há rumores no setor privado de que o governo brasileiro será pressionado durante a visita de Lula a finalmente colocar a medida em vigor. O principal argumento do Brasil neste caso é que a China também não cumpriu com suas promessas de investimento.
Para varejistas e representantes da indústria nacional, a tendência é que as importações de vestuário caiam nos próximos meses, por conta do impacto da crise econômica, que vai reduzir as encomendas, e da valorização do real, que prejudicou a competitividade da China. No próximo trimestre, a crise e o câmbio vão se refletir na importação, disse Julio Chiang, diretor da fabricante de roupas infantis Green. De origem chinesa, ele disse que importa apenas 5% do que vende no Brasil.
Segundo Germano Costa, da Brandili, a ordem na empresa agora é cortar importações, para evitar surpresas por conta da instável evolução da economia e por conta da valorização do real, que encareceu o produto. Ele informa, no entanto, que há relatos de que os chineses estariam fornecendo descontos para compradores brasileiros. No primeiro bimestre, os preços das importações de vestuário recuaram 6%, segundo a Funcex.
e) Produção de aço cresce 4,7% em março no País
A produção brasileira de aço bruto manteve em março o ritmo acentuado de queda, de 41,5% ante o mesmo mês do ano passado, seguindo o declínio da demanda internacional. Mas, com 1,731 milhão de toneladas produzidas no mês, o saldo foi 4,7% superior ao de fevereiro. O vice-presidente executivo do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS), Marco Polo de Mello Lopes, disse que a siderurgia segue em lenta recuperação e ressaltou que o desempenho este ano vai depender prioritariamente do comportamento interno da economia.
A demanda externa por aço, que até o agravamento da crise sustentou quase metade da produção brasileira, não dá sinais de recuperação significativa. A estimativa ainda não oficial da entidade internacional que congrega a indústria siderúrgica, a International Iron and Steel Institute (IISI), é de queda este ano em torno de 19% ante 2008.
O IBS ainda não fechou projeção para o desempenho no Brasil, mas a expectativa não é otimista. O ano de 2008 foi muito bom, até outubro. Diante de uma base tão elevada, podemos continuar tendo quedas monumentais. Mas o dado positivo é que já há indicação de melhora no desempenho mês a mês. Isso pode significar que o pior já passou, mas não podemos entrar em clima de euforia. Uma grande retomada vai depender do ritmo de crescimento do mercado interno, diz Lopes.
De acordo com as estatísticas divulgadas ontem pelo IBS, a produção de aço bruto recuou 42,1% no primeiro trimestre, ante igual período de 2008, totalizando 5,001 milhões de toneladas. As vendas no mercado interno em março caíram 37,9% ante março de 2008, somando 1,193 milhão de toneladas. Já as vendas para mercado externo, contabilizadas pelo IBS e já faturadas, caíram 27,2% em março ante igual mês do ano passado, somando 640,2 mil toneladas.
O IBS revelou ainda que o total de empregados nas siderúrgicas em fevereiro somou 105.473 pessoas, um recuo de 12,5% ante fevereiro de 2008. Ou seja: 15.015 empregados a menos que em igual mês do ano passado.
A maior parte dos cortes, disse Lopes, foi de pessoal terceirizado. A paralisação simultânea de seis dos 14 altos-fornos das grandes usinas integradas do País contribuiu para a queda. Esses altos-fornos serão religados. As dispensas não se concentraram no pessoal efetivo, especializado. É uma mão de obra de custo muito alto. Os cortes foram basicamente de pessoal terceirizado.
O instituto informou ainda, em nota, que, com base nos dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, as exportações brasileiras de aço caíram 2,2% em março ante igual mês de 2008. As importações subiram 7%, totalizando 163,140 mil toneladas.
f) Índia passa Brasil em vendas para China
A Índia ultrapassou o Brasil como segundo maior fornecedor de minério de ferro para a China no primeiro bimestre do ano, de acordo com informações da Administração Geral de Alfândega do governo chinês. O país vendeu 21,243 milhões de toneladas de minério para a China em janeiro e fevereiro, ante 12,418 milhões de toneladas fornecidas pelo Brasil. A Austrália veio em primeiro lugar, com 34,049 milhões de toneladas. Uma das razões para a Índia ter subido de posição foi o forte aumento de 38,05% em suas exportações de minério para a China em fevereiro, enquanto os embarques do Brasil caíram 5,49%.
g) Aço chinês toma lugar do brasileiro na AL
A China está deslocando o Brasil como fornecedor de aço para a América Latina. As exportações de produtos siderúrgicos chineses para os países da região, excluindo o Brasil, cresceram 90% nos últimos dois anos, enquanto as vendas brasileiras para os vizinhos caíram 38,5%.
Em 2008, as siderúrgicas chinesas venderam 1,9 milhão de toneladas de aço para os países latino-americanos, enquanto as brasileiras exportaram 2,6 milhões. Em 2006, a diferença era bem maior: a China vendia 1 milhão de toneladas na região, muito abaixo das 4,5 milhões de toneladas do Brasil.
Os dados são do Instituto Latino-Americano de Ferro e Aço (Ilafa) e do Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) . É uma situação preocupante, porque a América Latina é um mercado natural para as siderúrgicas brasileiras, disse Marco Polo de Mello Lopes, vice-presidente executivo do IBS.
Com os mercados americano e europeu em crise, a América Latina se transformou em uma das poucas regiões em que a China incrementou as vendas de aço.
Entre 2006 e 2007, as exportações de produtos siderúrgicos chineses subiram 50,6% para o mundo e 20% para a América Latina (excluindo o Brasil). Entre 2007 e 2008, as vendas do país asiático avançaram apenas 9,2% para o mundo e expressivos 58% para os latino-americanos.
A China também elevou as vendas de aço para o Brasil. De apenas 100 toneladas em 2006, chegou a 700 toneladas no ano passado. O volume, no entanto, ainda é muito pequeno comparado com os 24 milhões de toneladas que o país consome.
Boa parte da perda de participação do aço brasileiro na América Latina pode ser atribuída ao redirecionamento feito pelas siderúrgicas para o mercado local, que estava bastante aquecido. As exportações totais de aço caíram 26%, de 12,5 milhões de toneladas em 2006 para 9,2 milhões em 2008.
No entanto, a queda nas vendas para a América Latina foi ainda mais expressiva por conta da concorrência da China. Resultado: a região segue como principal cliente do Brasil, mas perdeu espaço. Em 2008, os vizinhos absorveram 35,8% das exportações brasileiras de aço. Em 2008, esse percentual caiu para 30%.
O mercado de aço estava tão favorável que a disputa com os chineses não se refletiu na receita obtida pelas siderúrgicas brasileiras na América Latina. A contração no volume foi mais do que compensada pela alta de preços e as exportações de aço, em valores, para os países vizinhos cresceram 18%, saindo de US$ 2,5 bilhões em 2006 para quase US$ 3 bilhões no ano passado.
O problema só começou a aparecer depois que a crise global atingiu duramente o mercado brasileiro, derrubando o consumo pela metade em novembro e dezembro. As siderúrgicas locais tentaram jogar esse volume no mercado externo, mas não conseguiram. Seis dos 14 alto-fornos instalados no país estão parados e o setor opera com apenas 48,7% da capacidade instalada.
Incentivada pelo governo, que restabeleceu incentivos tributários para a exportação, a indústria de aço chinesa foi na contramão do mundo e não reduziu a produção. No primeiro bimestre de 2009, a produção de aço da China cresceu 2,4%, comparado com a queda de 23% na produção mundial. Se a produção chinesa for excluída, a baixa chega a 37%.
Nesse cenário, é grande a preocupação com a concorrência predatória dos chineses. Em conjunto com os demais países da América Latina, o Brasil se juntou a sete entidades do setor siderúrgico de diferentes países (EUA, UE, Canadá, México e outros) e enviou um ofício ao governo da China na terça-feira. A indústria de aço chinesa deve ser regulada por princípios de mercado e não pela regulação do governo, diz o documento.
É pouco provável que esse tipo de movimentação provoque mudanças efetivas na China, mas a pressão política, que pode se refletir em sanções econômicas, está mais evidente. Na semana passada, a indústria de aço dos EUA protocolou um pedido de antidumping contra a China, cobrindo US$ 2,7 bilhões em importações - um dos maiores entre os dois países. No Brasil, a Usiminas também estuda abrir processo antidumping contra a China.
h) Comércio volta ao pré-crise e dá alento à indústria
O ajuste de estoques ocorrido nos últimos meses e a manutenção pelo comércio varejista do ritmo anterior à crise produziram um cenário que permite a recuperação da indústria a partir de abril. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, no conjunto, o comércio fechou fevereiro com um volume de vendas levemente superior ao desempenho de setembro (0,8% na série com ajuste sazonal, confirmando que a desaceleração no consumo foi muito menos intensa e mais lenta do que a ocorrida na indústria. Na mesma comparação, a produção industrial de fevereiro ainda foi 13,5% menor que a de setembro, no pré-crise, também na série livre de influências sazonais.
Esse descompasso confirma que a indústria foi muito mais afetada pelo baque nas exportações que pelo mercado interno. Entre economistas ganha força a perspectiva de uma recuperação lenta já no segundo trimestre, avaliação reforçada pelos indicadores conhecidos de março, como produção de automóveis, aço e papelão ondulado e consumo de energia. Essa retomada deve trazer junto a redução da distância entre os desempenhos de produção e consumo.
A Tendências Consultoria Integrada calcula que o índice de desempenho do comércio tenha alcançado 148,53 pontos no primeiro trimestre com ajuste sazonal e a produção industrial tenha atingido 108,24 pontos no mesmo período, também com ajuste sazonal. A diferença é de 40,29 pontos e supera aquela observada no quarto trimestre de 2008, de 28,84 pontos. O descolamento, afirma a economista Marcela Prada, resulta do ajuste de estoques, dado que as vendas no trimestre cresceram 0,7% na margem, sob efeito das promoções e do reajuste do salário mínimo. A indústria, por sua vez, encolheu 8,2%, influenciada sobretudo pelo baque nas exportações.
Analistas veem entre abril e junho a presença de fatores que favorecerão o desempenho das empresas. Entre eles, a inflação mais baixa e a absorção do reajuste do salário mínimo, que já impulsionaram as vendas do varejo em fevereiro. A progressiva queda no volume de importações - abrindo espaço para a indústria local - e o IPI reduzido para automóveis e outros segmentos são incluídos como elementos de estímulo à produção industrial.
De acordo com dados do IBGE, de setembro a fevereiro, o índice da produção industrial, com ajuste sazonal, baixou 22,09 pontos, saindo de 130,9 para 108,81 - queda de 13,5%. Já o comércio apresentou uma desaceleração lenta, recuperando o nível pré-crise já em fevereiro. No intervalo, o índice aumentou 1,2 ponto, para 150,76 pontos.
A recuperação do comércio, na média, mascara diferenças entre os segmentos. A recuperação está concentrada nas vendas de hipermercados e supermercados (alimentos, basicamente). Mas mesmo nos setores com fevereiro mais fraco que setembro, a queda é sempre muito inferior à indústria.
No segmento de bens duráveis, a disparidade entre o desempenho da indústria e do comércio foi mais evidente. No grupo equipamentos de escritório e informática, houve queda de 19% em produção e de 9% no varejo entre setembro e fevereiro. No setor automotivo, a produção caiu 31% e as vendas, 8%. O setor de móveis e eletrodomésticos registrou retração de 11% na produção e de 6% no varejo. Nas áreas de bens semiduráveis e não duráveis a diferença de desempenho foi menor. A produção dos setores têxtil, de calçados e vestuário teve queda de 10% a 13% entre setembro e fevereiro, enquanto as vendas no país recuaram 9%. O setor de alimentos cresceu 2,3% em produção e 5% em vendas entre setembro e fevereiro.
Para o segundo trimestre, Marcela Prada prevê recuperação da indústria, que termina o ajuste dos estoques e cresce 8,3% com ajuste sazonal. Para o comércio, a expectativa é de queda de 0,3% na margem, como reflexo da desaceleração da renda. A indústria cresce neste trimestre, mas em ritmo lento pois ainda há setores com estoques acima do ideal, afirma. Ela não descarta o risco de cortes no mercado de trabalho, sobretudo na área industrial.
O economista-chefe da Convenção Corretora, Fernando Montero, também elenca fatores que justificam as previsões de recuperação, como o ajuste de estoques concluído nos setores automotivo e de bens não duráveis, a recuperação nas vendas ampliadas do comércio e a queda das importações mais acelerada que as exportações. No médio prazo, a indústria como um todo estará em patamar superior. Aí a questão será a demanda, afirma Montero.
Entre fatores de favoráveis à expansão da demanda estão a expansão de 12% na massa de rendimentos nominais, a elevação em 20% dos gastos públicos federais, a inflação em queda e despesas fiscais contratadas para os próximos meses, cita Montero. Pesa contra os resultados divergentes divulgados pelas pesquisas de confiança. Quanto mais tempo demora uma inflexão visível na produção, pior serão os desdobramentos sobre a confiança e o emprego. Em outras palavras, quanto mais tempo demora a retomada, mais lenta ela será, pondera o economista.
Para Montero, preocupa a demora na recuperação de setores com grande peso na atividade econômica, como o caso do ramo siderúrgico. Pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) nessa semana apontou queda de 41,5% na produção de março e de 37,9% nas vendas ao mercado interno (superando a queda nas exportações, de 27,2%). Alguns setores apresentam um ciclo de recuperação mais demorado, como o caso do aço, observa o economista-chefe do Santander, Alexandre Schwartsman. A queda nas exportações do grupo de produtos metalúrgicos foi de 35% no trimestre, o que dificulta o reequilíbrio dos estoques pelas indústrias. O efeito da queda das exportações já foi absorvido pela maioria dos setores industriais. Com os estoques normalizados, há espaço para uma recuperação mais forte no segundo semestre, afirma. Ainda assim, diz Schwartsman, a produção industrial encerra o ano com queda de 5,5% sobre 2008 e recupera o nível pré-crise somente no primeiro semestre de 2010.
Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, considera precipitado afirmar que a indústria entra no ciclo de recuperação em abril. Em sua avaliação, a Páscoa em abril (em 2008 foi em março) pode mascarar em parte o resultado deste mês. Pesquisa do Serasa Experian apontou crescimento de 1,3% nas vendas do varejo na semana de Páscoa (6 a 12 de abril) em comparação com a mesma temporada em 2008 (de 17 a 23 de março). No Estado de São Paulo, as vendas cresceram 5% na mesma base de comparação, segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas). Na região metropolitana do Rio de Janeiro, o aumento foi de 10,4%, informou a Fecomércio-RJ.
O economista também considera que o salto na venda de automóveis verificada em março (de 36,1% sobre fevereiro) pode não se repetir - sem contar o risco de contração no mercado com o fim da redução do IPI após junho. Para o resto do varejo basta ver o aumento da inadimplência nas estatísticas para mostrar que a situação no comércio está complicada, afirma. O Indicador Serasa Experian de Inadimplência de Pessoa Física apontou alta de 22,6% em março sobre fevereiro. No trimestre, o incremento foi de 11,4%.
Outro ponto de interrogação à recuperação definitiva da indústria é a efetividade do pacote americano para estimular o crescimento no segundo semestre, na avaliação do economista Douglas Uemura, da LCA Consultores. O pacote fiscal americano tem um impacto positivo, mas ainda não está claro se será suficiente para reverter o atual ciclo de crise, avalia.
Uemura é menos pessimista, porém, no que se refere aos riscos ao comércio. Ele observa que o spread bancário para pessoa física teve um forte salto, saindo de 35% em meados de 2008 para 45% em dezembro, o que afetou o nível de inadimplência. Mas até fevereiro o spread baixou para 41,5% e sinaliza quedas futuras, com a redução da taxa básica de juros (Selic). A recuperação nas vendas de automóveis são reflexo da melhora na oferta de crédito e da redução do spread bancário, afirma o economista, para quem comércio e indústria começam a recuperar perdas passadas a partir de abril. Para o ano, ele prevê expansão de 3,6% no comércio e queda de 2,4% na produção industrial.
Agronegócio
a) Exportações do campo crescem; superávit cai
Impulsionadas pelos bons desempenhos da soja, do complexo sucroalcooleiro e dos sucos de frutas, as exportações do agronegócio brasileiro voltaram, em março, a apresentar aumento de receita na comparação com o mesmo mês de 2008, interrompendo a tendência de queda de janeiro e fevereiro.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Ministério da Agricultura, no total os embarques renderam US$ 4,791 bilhões, 0,3% mais que em março do ano passado. As importações cresceram 15,6% na comparação, para US$ 968,5 milhões, e com isso o superávit ficou em US$ 3,823 bilhões, 2,9% menor.
O complexo soja (grão, farelo e óleo) voltaram a liderar os embarques do setor, com US$ 1,37 bilhão em março, 40,9% mais que no mesmo mês de 2008. Em grande parte por causa da queda dos preços, as exportações de carnes caíram 15,3%, para US$ 914,1 milhões e voltaram para o segundo lugar no ranking. Também caíram os embarques de produtos florestais - 25,3%, para US$ 549,2 milhões -, e açúcar e álcool ganharam terreno, com vendas ao exterior de US$ 477, 9 milhões, alta de 27,8%.
Apesar de estancada a sangria, no primeiro trimestre as exportações do agronegócio brasileiro alcançaram US$ 12,595 bilhões e foram 9,4% menores que em igual intervalo do ano passado.
b) China importa mais e ajuda a impulsionar soja em Chicago
Após se recuperarem em dezembro e voltarem a recuar em janeiro e fevereiro, as importações chinesas de soja apresentaram crescimento vigoroso em março, de acordo com o centro de informações sobre grãos e óleo do país.
As compras no exterior alcançaram 3,9 milhões de toneladas, 13% mais que em fevereiro e 67% acima do volume de março de 2008. A expectativa do centro para março era de que as importações ficariam em 2,7 milhões de toneladas. A retomada ajudou o Brasil, cujas exportações do complexo soja (grão, farelo e óleo) renderam US$ 1,37 bilhão em março, 40,9% mais que no mesmo mês de 2008. A China é o maior país importador de soja do mundo.
No mercado, a expectativa é que o apetite da China continue grande, pelo menos pelo produto americano. Na bolsa de Chicago, esse fator ajudou a motivar a alta das cotações. Também impulsionadas pela previsão do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) de queda dos estoques do grão no país, divulgada na semana passada, os contratos com vencimento em julho subiram 13,75 centavos de dólar, para US$ 10,1575 por bushel.
c) Açúcar sobe com queda da barreira indiana
Os preços do açúcar tipo demerara dispararam na bolsa ICE Futures US, em Nova York. O contrato com vencimento em maio encerrou o pregão cotado a 13,32 cents/lb, em alta de 4,55%. A commodity foi impulsionada pela notícia de que a Índia suspendeu a tarifa de 60% sobre a importação de açúcar refinado para compensar a queda na produção local, de 26,3 milhões de toneladas, em 2007/08, para 14,5 milhões de toneladas, este ano. A queda do dólar ante outras moedas fortes sustentou o movimento.
d) Arroz: estoque baixo
O mercado de arroz deve encerrar a safra 2008/2009 com estoque apertado, com 1,252 milhão de toneladas, o suficiente para pouco mais de um mês de consumo, mesmo com ajustes positivos na produção. No mais recente levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o volume da produção do cereal foi revisado para cima em cerca de 151 mil toneladas, para 12,6 milhões de toneladas.
O setor produtivo discorda do volume de importações esperado pela Conab, que aumentou em mais de 50% a expectativa de importação, que era de 589 mil toneladas no ano-safra 2007/2008, para 950 mil toneladas do período 2008/2009. As compras externas devem ser menores que 900 mil toneladas, avaliou o assessor de mercado do Instituto Rio-Grandense do Arroz, Marco Aurélio Tavares, sob a justificativa da pequena melhora na produção interna.
O Uruguai, tradicional fornecedor ao Brasil, deve continuar privilegiando a venda à União Europeia, Irã e Iraque. De um excedente de 2 milhões de toneladas disponíveis em 2008 para exportar no Mercosul, o Brasil recebeu 30%. O mercado será favorável em 2009, disse Tavares, baseado no câmbio competitivo, na dificuldade de importação, na exportação favorável e na abundância de recursos para a comercialização.
O Banco do Brasil disponibilizou R$ 600 milhões em Empréstimos do Governo Federal (EGFs) e foram definidos seis leilões de contratos públicos de opção de venda, que devem somar 560 mil toneladas. Para essas operações, o governo precisará reservar quase R$ 350 milhões, embora o uso do recurso dependa da opção do produtor de vender ou não ao governo na data do exercício.
e) Exportações paulistas
A Secretaria da Agricultura de São Paulo informou que as exportações do agronegócio estadual renderam US$ 3,1 bilhões no primeiro trimestre deste ano, 10,4% menos que em igual período de 2008. As importações recuaram 19,2% em igual comparação, para US$ 1,39 bilhão.
f) Exportações de etanol ensaiam recuperação
Os baixos preços do álcool combustível no mercado interno em plena entressafra começaram a estimular as exportações, mesmo com uma remuneração pouco atraente às usinas. No primeiro trimestre, os embarques somaram 466,6 milhões de litros, queda de 46% sobre igual período de 2008, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior), mas os volumes comprometidos com o mercado externo entre abril e maio já ultrapassam 500 milhões de litros. É uma marca que supera as expectativas do mercado e que pode indicar um movimento de recuperação.
Há um pequeno prêmio [de R$ 20 por mil litros] para as exportações em relação à venda no mercado interno, afirmou Tarcilo Rodrigues, presidente da Bioagência. Mesmo com preços baixos, os embarques são uma alternativa para o escoamento do produto.
A demanda global por biocombustíveis segue desaquecida. Nos Estados Unidos, as exportações brasileiras deverão ser feitas via Caribe. Os EUA respondem por dois terços dos negócios do Brasil. A expectativa é de alguma melhora da demanda americana por combustíveis com a chegada do verão. O consumo tradicionalmente cresce 10% nessa época. Em março, os embarques brasileiros totalizaram 157 milhões de litros, dos quais cerca de 100 milhões foram para os EUA e o restante para a União Europeia.
Levantamento da consultoria Datagro mostra que o açúcar negociado no mercado interno tem seu preço equivalente a 17 centavos de dólar por libra-peso. Os contratos de açúcar para julho fecharam a 13,56 centavos de dólar por libra-peso, na bolsa de Nova York. Utilizando o mesmo cálculo de conversão, as cotações do álcool anidro equivalem a 10 centavos de dólar e o hidratado a 9,5 centavos de dólar.
A vantagem para o açúcar é muito evidente neste momento. Os custos de produção do álcool anidro alcançam R$ 0,756 o litro, mas as usinas vendem o produto por R$ 0,58. O hidratado tem um custo de R$ 0,818, com venda a R$ 0,66. Os custos para o açúcar chegam a 10,7 centavos de dólar por libra-peso.
Para a safra 2009/10, a produção de cana está estimada 601 milhões de toneladas, um crescimento de 6,3% em relação ao ciclo anterior (565,12 milhões). A oferta de açúcar ficará em 35,4 milhões de toneladas, aumento de 15,4% sobre a safra anterior, e a de álcool alcançará 27,73 bilhões de litros, com ligeira alta de 1,3%, de acordo com a Datagro. O fatia da produção destinada ao álcool deverá cair de 60,37% para 57,2% neste ciclo. A do açúcar deve subir de 39,63% para 42,8%.
Os embarques de álcool na temporada 2008/09, que estão estavam estimados em 5,05 bilhões de litros, foram revistos para 4,85 bilhões de litros. Para 2009/10, deverão recuar 16,5%, para 4,05 bilhões de litros.
A baixa remuneração do álcool deverá comprometer a renda de boa parte das destilarias independentes do país, uma vez que não produzem açúcar. A forte queda da produção da Índia tem dado suporte às cotações da commodity no mercado internacional. Segundo Arnaldo Corrêa, da Archer Consulting, cerca de 40% da produção de açúcar para a safra 2009/10 já estão com preços fixados. As fixações médias têm sido feitas em cerca de 13,7 centavos de dólar por libras-peso.
g) Commodities Agrícolas
Os preços futuros do açúcar fecharam em queda na quinta-feira, nas bolsas internacionais, atingindo o menor patamar de uma semana, com a venda de países produtores, segundo analistas ouvidos pela agência Bloomberg. Na bolsa de Nova York, os contratos para julho encerraram o pregão a 13,35 centavos de dólar por libra-peso, com recuo de 21 pontos. Na bolsa de Londres, os contratos para outubro fecharam a US$ 396,80 a tonelada, com baixa de US$ 7,10. No mercado paulista, a saca de 50 quilos fechou a R$ 46,97, ligeira alta de 0,15%, segundo o índice Cepea/Esalq. No mês, a valorização é de 6,26%. Os negócios seguem calmos, segundo o Cepea. As recentes chuvas têm atrapalhado o início da colheita de cana na região Centro-Sul do país.
Os preços futuros do café fecharam com forte queda na quinta-feira, nas bolsas internacionais, com vendas de fundos. Na bolsa de Nova York, os contratos para julho encerraram o dia a US$ 1,1555 a libra-peso, com baixa de 200 pontos. Na bolsa de Londres, os contratos para julho fecharam o pregão a US$ 1.488 a tonelada, com recuo de US$ 19. As exportações de café na Costa do Marfim recuaram 25% em março, de acordo com dados compilados nos portos de Abidjan e San Pedro, informou a agência Bloomberg. A Costa do Marfim, maior produtor global de cacau, colheu na última safra cerca de 2,5 milhões de sacas de 60 quilos. No mercado paulista, a saca de 60 quilos fechou a R$ 257,46, com aumento de 1,02%, segundo o índice Cepea/Esalq. No mês, a alta é de 1,48%.
O aumento das exportações americanas de soja, atestado no relatório semanal de comércio exterior divulgado nesta quinta-feira, puxou nova alta do preço do grão no mercado internacional. Na bolsa de Chicago, os contratos de soja com vencimento em julho fecharam em alta de 19 centavos de dólar, aos US$ 10,5050 por bushel. Segundo o relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o país embarcou 808,3 mil toneladas de soja na semana que se encerrou em 9 de abril, o dobro da média apurada nas quatro semanas anteriores. Cerca de metade das vendas foram feitas para a China. Em Rondonópolis (MT), a saca de soja de 60 quilos foi negociada por R$ 42,30 nesta quinta-feira, de acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola (Imea).
Os preços futuros do trigo subiram na quinta-feira, pela primeira vez após três pregões, diante de indicações de que o dano à cultura em partes do Kansas e de Oklahoma, provocado pelo frio, foi pior do que o esperado. A temperatura na região chegou a atingir 7 graus negativos nos dias 6 e 7 de abril, segundo dados do governo. Os produtores deverão levar mais dez dias para realmente avaliar os prejuízos, disse Jim Hemminger, especialista em gerenciamento de risco da Top Third Ag Marketing. Em Chicago, os papéis com entrega em julho fecharam a US$ 5,3650 o bushel, com alta de 9,50 centavos. Em Kansas, que comercializa o trigo americano de melhor qualidade, o bushel fechou a US$ 5,8025, elevação de 10,25 centavos. No Paraná, o preço médio da saca de 60 quilos ficou em R$ 28,88, variação de 0,17%, segundo o Deral.
Mercosul
a) No Mercosul, ninguém cresce como o Uruguai
Os investimentos estrangeiros amorteceram os efeitos da crise mundial e sustentaram o crescimento econômico do Uruguai. Em 2008, só o fato de a indústria de papel e celulose finlandesa Botnia ligar suas máquinas fez o índice de atividade da indústria de papel e celulose do menor país do Mercosul crescer 20% no segundo trimestre de 2008, elevando o Produto Interno Bruto (PIB) do país a um recorde de 13,1% no período. Foi também no ano passado que a Chery, a primeira indústria chinesa de veículos a se instalar no Mercosul, iniciou sua produção. O impulso da Botnia compensou largamente a desaceleração do último trimestre quando o PIB cresceu apenas 7,5%. No cômputo anual, o Uruguai cresceu 8,9%, o seu maior índice desde a crise que atingiu o país em 2002.
Há um efeito inercial do ano de 2008 que foi muito bom, diz o economista Marcel Vaillant, do Departamento de Economia da Universidade do Uruguai. Outra boa ajuda vem do Brasil que está comprando mais do vizinho. Segundo a agência Uruguay XXI, estatal de promoção de investimentos e exportações, as vendas para o Brasil aumentaram 22% nos últimos 12 meses terminados em março.
A boa notícia, diz Marcel Vaillant, é que mesmo com a crise internacional, o Uruguai não interrompeu sua capacidade para atrair novos investimentos. Só no mês de março foram anunciados US$ 400 milhões em novos projetos nos setores agroindustrial, madeireiro e construção civil.
A Secretaria da Presidência da República informou à imprensa local que tem recebido, semanalmente, cerca de 15 solicitações de empresas que querem instalar-se no país. Entre os projetos em análise, um deles é de uma multinacional que quer extrair ferro na região central e outro foi apresentado pela empresa Royal Caribbean, para construção de um porto de cruzeiros, dois edifícios de 24 andares, um centro comercial e um hotel cinco estrelas na capital Montevidéu.
Além disso, há investimentos importantes nas áreas automobilísticas, serviços (financeiros e call center) e softwares. Além da montadora de veículos Chery, a coreana Kia está levando para o Uruguai a produção da caminhonete Bongo, conforme noticiou o Valor em 25 de março. Incentivos fiscais, estabilidade política e jurídica e mão de obra qualificada e barata estão entre os motivos que têm atraído investidores para o país.
Em uma crise internacional como a atual, a dependência das commodities agrícolas como fonte de renda mostra que tem suas vantagens, analisa Roberto Bennett, gerente da Uruguay XXI. Ninguém parou de comer, diz Bennett, lembrando que os preços do trigo subiram 3,8% no primeiro trimestre deste ano e os da carne, principal produto de exportação do Uruguai, aumentaram 32%.
Apesar da forte queda do mercado americano, o país tem mantido suas vendas para a Europa e Ásia e está prestes a conquistar um novo mercado, a Coreia do Sul, que é um dos países que melhor pagam pela carne. No total, o volume de exportações foi US$ 7 bilhões, dos quais US$ 5 bilhões em bens e US$ 2 bilhões em serviços. Dos US$ 5 bilhões em bens, os principais itens são carnes (21,6%), cereais (trigo, soja, cevada e arroz, 11,1%), lácteos (7,5%), madeiras e suas manufaturas (celulose, móveis, 7,1%), sementes e oleaginosas (girassol, soja em grãos, 6,2%), plásticos e suas manufaturas (3,7%).
A grande aposta do Uruguai para o comércio exterior é a indústria madeireira, afirma Bennett. As projeções do governo apontam para que, nos próximos dez anos, a madeira e suas manufaturas vão passar ao segundo posto na pauta de exportações depois da carne. As papeleiras Ence, da Espanha, e Portocel, de Portugal já começaram a construção de suas instalações no país. O impacto destes projetos no futuro da economia uruguaia pode ser medido pela papeleira finlandesa. O investimento da multinacional Oy Metsä-Botnia, de US$ 1,2 bilhão, corresponde a cerca de 5% do valor do PIB do país. Suas exportações de papel e madeira representam cinco pontos percentuais da participação de 7,1% do item madeira e suas manufaturas nas exportações totais.
No comércio exterior, Roberto Bennett, da agência Uruguay XXI, afirma que se conseguirmos manter as exportações de 2008 estaremos contentes. Mas Bennett reconhece que será difícil atingir este volume já que, se por um lado a carne subiu de preço, por outro os demais produtos da pauta uruguaia caíram fortemente no mercado mundial como madeira, lácteos, couros, lãs e plásticos. Para o executivo, é mais provável que o país repita o desempenho de 2007, quando vendeu US$ 4,7 bilhões em bens, considerando sua diversidade de mercados (exportam a 80 países) e os novos possíveis compradores. Entre janeiro e março, as exportações uruguaias caíram 14,2% comparado ao mesmo período de 2008.
b) Argentino quer protecionismo
A Argentina deve usar barreiras paratarifárias de proteção diante da crise global, disse o empresário Héctor Méndez, que assume a direção da União Industrial Argentina (UIA), a maior associação patronal do país.
Se você sabe que há um avanço desproporcional e injusto das importações, é preciso colocar restrições disse Méndez, em entrevista publicada ontem pelo jornal Página/12, de Buenos Aires. Vamos usar as barreiras paratarifárias e depois tomaremos uma posição coletiva a favor do livre comércio. O cuidado é necessário porque é preciso manter uma fração de mercado razoável.
Méndez ratificou, assim, a posição protecionista da atual direção da UIA, no momento em que são negociadas soluções para conflitos comerciais com associações patronais do Brasil, Paraguai e Uruguai, que reclamaram dos impedimentos alfandegários argentinos.
Os empresários e as autoridades brasileiras são mais práticas do que nós na maneira de colocar medidas. Reclamam contra o protecionismo, mas colocam medidas que, em muitos casos, são imperceptíveis, como quando não nos deixam retirar os caminhões da fronteira disse.
O presidente eleito da UIA discordou, no entanto, com colegas que reivindicam ao governo argentino uma maior desvalorização do peso frente ao dólar, para acompanhar a queda do real desde o final do ano passado.
É um tema complicado, não se pode dizer ao governo que tem que fazer uma desvalorização brutal para ficar a par com o real disse.
De acordo com o empresário, não se pode obrigar uma desvalorização a moeda argentina sem medir as consequências no mercado interno, já que existem restrições (comerciais), reintegrações (de impostos) e outras ferramentas que podem ser usadas.
Desde o fim de 2008, a Argentina aplica barreiras alfandegárias que geraram conflitos com os parceiros do Mercosul, apesar da busca da maioria por mecanismos de contenção das importações de manufaturas e produtos têxteis da China e de outros países asiáticos.
c) Argentina vai comprar 20 jatos da Embraer
O governo argentino anunciou ontem a disposição de adquirir 20 aviões Embraer 190 para renovação de parte da frota da Aerolíneas Argentinas e sua subsidiária Austral. O acordo, que envolve ainda a instalação de um centro de manutenção de aeronaves e um equipamento de simulação de voos para treinamento de pilotos na sede da Área Material Córdoba (AMC), está em fase de negociação e deve ser fechado pelos presidentes Luis Inácio Lula da Silva e Cristina Kirchner durante a visita do brasileiro a Buenos Aires no próximo dia 23.
Pelo pacote, o governo argentino deve pagar US$ 150 milhões, dos quais 85% serão financiados com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As novas aeronaves devem substituir os velhos Boeing 737-200 e 737-500, com mais de 30 anos, e começam a ser incorporados à frota em janeiro de 2010, mas existe a possibilidade de duas delas chegarem à Argentina ainda em meados deste ano. É a primeira renovação da frota da Aerolíneas Argentinas desde 1991.
Os modelos 190 fazem parte da família de jatos E-jet, de 70 a 120 assentos. O modelo vendido aos argentinos tem capacidade para 106 passageiros, pode ser utilizado em rotas de cabotagem e em voos regionais. "Com isso podemos realizar um dos velhos objetivos da Aerolíneas e Austral: ter voos diários e diretos a todas as províncias, podendo inclusive operar novos destinos", afirmou Julio Alak, administrador da companhia, à agência de notícias estatal Telam. "São aviões de última geração, mais confortáveis e modernos, consomem 30% menos combustíveis que outros jatos do mesmo porte e requerem menor gasto de manutenção por serem novos."
Alak destacou que o simulador de voo permitirá a capacitação e atualização de pilotos internamente, sem que tenham de ir ao exterior. O simulador que pertencia à companhia foi levado para a Espanha nos anos 90, como previa o contrato de privatização. O gerente da Aerolíneas esteve em São José dos Campos (SP) acompanha do Ministro do Planejamento, Julio De Vido, e do Secretário de Transportes, Ricardo Jaime, em visita à sede da Embraer.
O acordo com a Embraer está sendo negociado entre os governos brasileiro e argentino há dois anos, mas só foi concretizado após Cristina Kirchner estatizar a Aerolíneas Argentinas e a AMC. As duas companhias haviam sido privatizadas no governo Carlos Manem (1989-1999). A Aerolíneas pertencia ao grupo espanhol Marsans. A AMC é um complexo para fabricação e manutenção de aviões, situado na capital da província de Córdoba, que pertencia às Forças Armadas até 1995 quando então passou à concessão da americana Lockheed Martin. A intenção do governo é aproveitar as instalações da AMC para produção conjunta de equipamentos para aviação civil e militar, transformando a empresa em parceiro da Embraer.
d) Buenos Aires também impõe taxa
Por cima das polêmicas medidas protecionistas criadas pelo governo argentino sobre os produtos importados, o governador da cidade de Buenos Aires (a capital do país e da província) levantou uma nova barreira. Desde o início deste ano, todos os bens de consumo importados pagam uma taxa diferenciada, de 4,5%, independentemente do país de origem, a título de imposto de renda bruto sobre a comercialização. Produtos fabricados localmente pagam no máximo 3% pelo mesmo imposto.
É o que determina a Lei Tarifária 2009, que rege a cobrança de impostos e taxas municipais na capital argentina, e que foi aprovada pelo empresário Maurício Macri, o governador de Buenos Aires, feroz opositor ao governo de Cristina Kirchner.
Segundo a Câmara de Importadores da Argentina (Cira) a cobrança fere o Tratado de Assunção, que criou o Mercosul e que determina tratamento igual para produtos dos estados partes no que se refere os impostos e taxas internas.
e) Adesão da Venezuela ao Mercosul não avança
A falta de consenso em torno do ingresso da Venezuela no Mercosul, constatada na audiência pública no Senado, levou a Comissão de Relações Exteriores da Casa a pedir mais informações ao governo brasileiro sobre as negociações com o país vizinho. Só depois disso, os parlamentares da comissão votarão o protocolo de adesão. O pedido foi feito pelo senador tucano Tasso Jereissati (CE). Entre os dados solicitados ao Itamaraty estão o cronograma de liberalização do comércio entre a Venezuela e os quatro atuais membros permanentes do bloco: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai.
— Existe consenso em relação à importância da Venezuela, mas o primeiro passo que devemos dar é o de obter informações do governo a respeito das negociações, sem as quais não temos condições de apresentar um relatório — disse Tasso.
O tema foi debatido por mais de três horas. Senadores governistas e da oposição se confrontaram com argumentos favoráveis e contrários à aprovação do protocolo de adesão, que já passou na Câmara, acompanhado pelos convidados à audiência pública: os embaixadores Sérgio Amaral, Paulo de Tarso Flecha de Lima e Rubens Barbosa e o diretor-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Coelho.
Eduardo Azeredo (PSDBMG), presidente da comissão, afirmou que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ainda deve uma explicação ao Senado.
Há dois anos, o líder venezuelano teria chamado os senadores de papagaios dos EUA. Os senadores de Roraima Mozaril do Cavalcanti (PTB) e Romero Jucá (PMDB) destacaram a importância do país vizinho para o desenvolvimento do estado.
Organização Mundial do Comércio (OMC)
a) Brasil volta a atacar barreiras
O Brasil vai dizer na Organização Mundial do Comércio (OMC) que governos estão driblando as regras internacionais e adotando medidas protecionistas em número cada vez maior. Para o Itamaraty, o novo protecionismo é hoje mais "sofisticado", o que dificulta a abertura de queixas contra os países autores dessas barreiras nos tribunais internacionais. A solução seria concluir a Rodada Doha para limitar a atuação desses países.
A OMC reunirá os 150 países-membros para dizer que os governos não estão resistindo à pressão protecionista ante a crise. A OMC também vai dizer que barreiras afetam o impacto de planos de recuperação. Apesar de elogiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela resistência ao protecionismo, a entidade não poupa o Brasil, que também adotou medidas restritivas.
O Brasil insistirá que há uma alta no número de medidas protecionistas e muitas políticas sequer têm seu impacto ainda conhecido. Por isso, o embaixador brasileiro, Roberto Azevedo, pedirá na OMC que a Rodada Doha seja concluída para reduzir a margem de manobra dos países ricos em criar políticas que prejudicam os países emergentes.
Subsídios e medidas para incentivar compras governamentais de fornecedores locais são duas das medidas que dificilmente conseguiriam ser condenadas nos tribunais, mas prejudicam a competitividade dos produtos estrangeiros.
A ideia, portanto, é que novas regras são necessárias e esse maior controle viria exatamente com a conclusão da Rodada Doha. A constatação do Brasil é de que, com as atuais regras, contestar as medidas protecionistas tem limites, e países estão se aproveitando das lacunas exatamente para atuar.
Por enquanto, porém, a Rodada Doha vive um momento de incerteza. Há uma semana, o presidente americano Barack Obama confessou aos líderes europeus que ainda não tem uma política comercial definida. Sem isso, não há chances de conclusão a curto prazo da Rodada, negociada desde 2001.
A OMC fez um levantamento para debater o assunto hoje. Um dos problemas destacados são os pacotes para relançar as economias, que ameaçam criar distorções graves. Os planos - que já somam 43 em todo o mundo - podem ter impacto positivo e promover o comércio. Mas alguns deles discriminam produtos estrangeiros e nacionais.
Outro alerta é sobre a condicionalidade de alguns programas, que exigem que as empresas beneficiadas invistam apenas no mercado local, como no setor automotivo francês. Para a OMC, essas condições funcionam como barreiras à importação, aumentam custos de produção e ainda reduzem o impacto dos próprios programas.
Plano Internacional
a) Brasil vai propor acesso de Cuba a mecanismo comercial da Aladi
Na nova onda de normalização das relações de Cuba com a comunidade internacional, o Brasil vai propor aos países membros da Associação Latino-americana de Integração (Aladi) a inclusão da ilha no Convênio de Pagamentos e Créditos Recíprocos (CCR). Criado há mais de 30 anos para garantir as operações de comércio exterior entre os países da associação, o CCR nunca foi usado por Cuba por uma razão política: toda a compensação financeira em dólares das operações do CCR é feita pelo Federal Reserve dos Estados Unidos, ao qual Cuba não queria nem poderia acessar por causa dos impedimentos da Lei Helms-Burton.
A proposta será discutida em um seminário no dia 22, em Montevidéu, no Uruguai, do qual vão participar representantes dos Ministérios de Economia e Bancos Centrais dos 13 países membros da Aladi, informou o representante do Brasil na associação, embaixador Regis Arslanian. Cuba é membro da Aladi, mas não faz parte do CCR, disse o diplomata, negando que a proposta tenha relação com o fato de que o Brasil está atuando como uma espécie de facilitador do diálogo entre EUA e Cuba. Segundo ele, com a abertura de comércio promovida na ilha, empresários brasileiros da indústria eletroeletrônica, por exemplo, querem exportar para lá e não podem, por falta de um instrumento de garantia financeira das exportações.
O seminário vai discutir ainda uma série de projetos de resolução para facilitar o comércio na região, entre eles regras de origem, salvaguardas e certificação digital. O Brasil e a Argentina também vão apresentar neste encontro uma proposta de ampliação do Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML) para toda a América Latina, a partir da experiência considerada bem sucedida a nível bilateral.
O seminário dará início à primeira reforma do CCR desde que foi lançado. A ideia, disse Arslanian, é discutir formas de aumentar as garantias do CCR, como o uso de instrumentos de seguros e resseguros, e como fazer para que o sistema ajude a ampliar o comércio regional.
Em 2008, o CCR transitou U$ 12,7 bilhões em comércio exterior entre os 12 países da Aladi, com crescimento de 11% comparado a 2007. No último quadrimestre (setembro-dezembro), o volume de comercio garantido pelo convênio atingiu US$ 5,1 bilhões, representando uma alta de 3,8% comparada ao mesmo período do ano anterior e de 48% em relação ao quadrimestre anterior (maio-agosto). Quatro meses é o período de compensação das operações do convênio, administrada pelo Banco Central do Peru.
A Colômbia foi o país que mais transitou exportações através do CCR, com pouco mais de US$ 2 bilhões, vindo em seguida o Brasil, com US$ 1,16 bilhão, e o México, com US$ 566 milhões. Mas nas importações o país líder em operações é a Venezuela, que movimentou US$ 4,74 bilhões. Na liquidação dos saldos multilaterais, os países credores foram Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Paraguai e Peru. Do lado devedor estavam Venezuela, Bolívia, Equador, República Dominicana. O saldo devedor da Venezuela era também o maior: US$ 258 milhões.
b) Fórum do Rio termina em clima de otimismo
Pouco mais de três meses depois de Davos, que testemunhou um dos momentos de maior pessimismo da história do evento, o Fórum Econômico Mundial na América Latina, uma das regiões que mais resistiram à crise global, apresenta tom muito diferente. Embalados pela relativa calmaria das últimas semanas e pelos primeiros sinais de reativação em algumas das principais economias do mundo, os participantes do Fórum do Rio mostraram um surpreendente tom de otimismo em meio à tempestade.
O clima é totalmente diferente de Davos, não estamos mais em queda livre, disse Moisés Naím, editor da publicação Foreign Policy Magazine e especialista em relações internacionais, que participou de diversos debates do Fórum.
A nota de cautela ficou por conta da possibilidade da volta de políticas econômicas populistas, como na Venezuela, Equador e outros países influenciados pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez. Armínio Fraga, sócio-fundador da Gávea Investimentos, e ex-presidente do Banco Central, chegou a dizer que sentia cheiro de populismo no ar na América Latina.
Ao final do evento, foi divulgada uma declaração para os chefes de Estado da Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago, de 17 a 19 de abril, na qual se recomenda a coesão em torno de pontos como o reforço dos organismos multilaterais, a provisão de liquidez, o combate ao protecionismo, o fortalecimento das redes de proteção social e a economia verde.
A situação específica da América Latina, sem dúvida, ajudou. Não há dúvida de que a economia da região acompanha a freada brusca global, e terá o seu pior desempenho em termos de crescimento do PIB num longo período, além de crescer a pobreza. Ao contrário, porém, do Leste Europeu, nenhum país latino-americano quebrou até agora, e os governos estão estáveis.
Ricardo Villela Marino, principal executivo do Itaú-Unibanco América Latina, observou que a desaceleração na região é cíclica, e não estrutural. No Brasil, o sistema financeiro está intacto e funcionando normalmente.
Para o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), que participou do Fórum, o País pode cimentar a saída da crise pela desoneração de investimentos, exportações e custos trabalhistas, mas sem descuidar do lado fiscal.
Mercadante ironizou o relatório de competitividade do Fórum Econômico, que colocou o Brasil em 64ª posição em 134 países, com a 122ª posição em termos de estabilidade macroeconômica - justamente a área em que o País demonstra mais solidez. Metade desta lista quebrou e metade vai ficar na crise enquanto a gente sai na frente, disse o senador.
No mesmo painel, o governador do Rio, Sérgio Cabral, disse que o Brasil é o mais democrático entre os Brics (grupo formado pelo País mais a China, a Rússia e a Índia), o que deveria ser levado em conta pelos investidores.
O economista venezuelano Ricardo Hausmann, de Harvard, falou sobre o que considera o enigma brasileiro - por que um País com altíssima carga tributária e um ambiente de negócios muito deficiente é tão atraente para os investidores que obriga o Banco Central a subir os juros para evitar que o excesso de consumo e investimentos provoque inflação.
Eu esperaria que ninguém quisesse investir, mas não é isso que acontece, disse Hausmann, para quem a explicação é um setor empresarial vibrante, que já explora o potencial do País em áreas de sucesso como o agronegócio e energia.