30 a 03 de abril de 2009

Comércio Exterior

Resultados
Etanol em Moçambique atrai brasileiros
Investimento direto muda com a crise
Brasil recupera mercado nos EUA em 2008 e mantém presença apesar da crise
Investimento externo brasileiro também deve sofrer retração
Crise econômica já afeta corrente de comércio entre Brasil e China
Barry Callebaut faz parceria com Bunge e investe em fábrica no Brasil
Forte queda do preço do alumínio força cortes de produção no Brasil

Agronegócio

Após ano disputado, Minerva vê consolidação
Falta armazém para estocar soja gaúcha
Confirmada a quebra da safra argentina de grãos
Mercado de leite sinaliza recuperação aqui e no exterior
Incertezas afetam commodities em março
Diminui ritmo de queda das exportações de carne

Mercosul

Após 5 anos, Brasil tem déficit com Argentina

Organização Mundial do Comércio (OMC)

Indústria do Brasil quer aproveitar acordos de livre comércio do Chile

Plano Internacional

Sudão rouba atenções da cúpula árabe
Opep descarta reduzir produção
Cúpula Global: É o fim da era do segredo bancário, diz G20



Comércio Exterior

a) Resultados

Contrariando as expectativas de queda nos resultados do Comércio Exterior, o Brasil conseguiu fazer no primeiro trimestre um superávit de U$ 3,0 bilhões, 9% maior do que no mesmo período do ano passado. Em março, o saldo positivo foi de US$ 1,77 bilhão e a diferença em relação a 2008 aumentou e chegou a quase 80% (ou 63% a mais na média diária de exportações por dia útil). Estes resultados foram alcançados apesar da queda nas vendas ao exterior, pois o recuo das importações foi maior.

Entre janeiro e março, as exportações recuaram 19,4% sobre 2008 e as importações foram 21,5% menores. Caíram, principalmente as compras de combustíveis e lubrificantes, matérias primas e bens intermediários e bens de consumo duráveis, um reflexo da retração econômica, da queda de preços internacionais e, em grande medida, da valorização do dólar em relação ao real. Apesar do bom resultado em matéria de contas externas, as exportações mantiveram o ritmo de queda seguido desde o início do ano, especialmente para mercados tradicionais como América Latina e Caribe e os Estados Unidos. Segundo o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, é uma previsão realista imaginar uma queda de 20% nas exportações em 2009, para US$ 160 bilhões.

A queda nas vendas para mercados importantes foi compensada parcialmente pelo excelente desempenho das vendas à Ásia (principalmente China e Coreia, com 135% de aumento), África e Oriente Médio, principalmente de commodities como minérios, ferro e soja. As exportações mantiveram uma média diária semelhante a de fevereiro, equivalente aos níveis de março de 2006. As importações ficaram pouco acima do total registrado em março de 2008.

O que garante o desenvolvimento não é o superávit, mas a corrente de comércio, o total das exportações e importações, e esta está caindo, comentou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, ao avaliar os resultados de março. Castro já previa, desde setembro, uma queda de cerca de 20% das exportações brasileiras, mas admite que ficou surpreso com a grande queda das importações.

A forte valorização do dólar, segundo o economista, ainda é a principal responsável pela redução nas importações brasileiras, que, agora, sentem também a contração do consumo. A queda de bens duráveis como automóveis e partes e equipamentos eletrônicos não foi muito forte (entre 18% e 24%), mas as importações de máquinas e aparelhos de uso doméstico caíram 44%. Entre os principais itens de importação, as maiores quedas na média diária foram adubos e fertilizantes (82%), cobre (57%), algodão (40%), filamentos e fibras sintéticas (40%) e borracha (35%). Esses números indicam redução na produção interna e também substituição de fornecedores estrangeiros por nacionais, devido à desvalorização do real.

Entre os chamados bens de capital, máquinas e equipamentos destinados à indústria, houve um forte aumento de 44% nas compras de máquinas industriais (o que indica a continuidade do processo de investimento em alguns setores), mas foi registrada uma queda forte nas compras de partes e peças (- 26%) e de maquinário para escritório (-24%) - este último item influenciado pelos cortes de orçamento das companhias e pela migração do consumo em direção aos equipamentos nacionais.

Para Barral, a sólida situação de contas externas do país e do sistema bancário dá melhores condições ao Brasil de atravessar as turbulências do mercado mundial. Ele lembrou que outros grandes exportadores também enfrentam fortes quedas nas exportações: 43% na Rússia, 31,5% no México e 21,5% nos EUA em janeiro. O Brasil tem mais crédito hoje disponível para os exportadores que a maior parte dos países do mundo, festejou o secretário.

A média diária das exportações brasileiras vem crescendo continuamente neste ano, e passou de US$ 466 milhões em janeiro para US$ 537 milhões em março. Mas os resultados de março mostram um comércio excessivamente dependente das compras de matérias primas e alimentos, em forte medida por parte dos países emergentes. As vendas de produtos básicos, como ferro e petróleo, cresceram, em média, 14% em março de 2009 quando comparadas com março de 2008. A venda de produtos industrializados caiu 27%.

b) Etanol em Moçambique atrai brasileiros

Com forte potencial para a expansão da cultura canavieira, Moçambique tem atraído o interesse de grupos brasileiros em investir em etanol em seu território. As intenções têm esbarrado na precária infraestrutura logística daquele país. Mas o governo moçambicano acredita nas vantagens naturais, de comércio e localização estratégica para atrair grupos investidores e poder desenvolver essa indústria.

O ministro de Energia, Salvador Namburete, afirmou que no momento há três projetos traçados e aprovados pelo governo, dentro de sua política de biocombustíveis, para a produção de etanol. A principal fonte é a cana-de-açúcar, mas ele mencionou ainda a mapira doce, ou sorgo. Há interesse de grupos brasileiros, afirmou, destacando que integrantes da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica), entidade que representa as usinas no Brasil visitaram Moçambique recentemente. A Unica tem promovido o intercâmbio de conhecimento técnico no país.

Os projetos estão distribuídos em três regiões. Para o sul está prevista unidade para 120 milhões de litros ao ano. Na região central, em Manica, a usina de etanol está desenhada para produzir 100 milhões de litros. O maior dos projetos, para 300 milhões de litros anuais, fica no norte. Segundo o ministro, um grupo mostrou interesse justamente por este último projeto. Esses projetos têm como alvo o mercado externo, saindo de portos na costa do Oceano Índico para a Europa e Ásia, principalmente.

Investimentos sucroalcooleiros em países africanos são considerados estratégicos, uma vez que a produção de açúcar e etanol do continente pode entrar na União Europeia sem tarifa de importação - por serem ex-colônias, esses países são beneficiados pelo acordo ACP (Ásia, Caribe e Pacífico). Para o etanol, a demanda é crescente também nos próprios países africanos, que estão dispostos a utilizar o álcool combustível em suas frotas.

A Açúcar Guarani, controlada pela multinacional francesa Tereos, informou que tem interesse em ter uma planta de etanol no país africano. No entanto, a decisão de investimento depende das condições de mercado e do mandato sobre o uso do etanol combustível naquele país.

O grupo já possui uma usina de açúcar em Marromeu, que fica na região central de Moçambique. Se decidirmos investir naquele país, vamos construir uma destilaria anexa à usina nesta região, informou a empresa. Essa usina tem capacidade para 600 mil toneladas ao ano e plano de expansão para 1 milhão de toneladas. Já exporta para a União Europeia, dentro de acordo EBA (tudo menos armas, na sigla em inglês) dessa região da Europa.

Eduardo Leão de Souza, diretor-executivo da Unica, participou diretamente do programa de implementação do etanol que está sendo elaborado pelo governo moçambicano. Antes da Unica, Leão atuou como economista-chefe do Banco Mundial nos Estados Unidos. No banco, participou ativamente do desenvolvimento do programa para etanol em Moçambique.

O potencial de plantio agrícola daquele país é de 30 milhões de hectares. Mais de 90% dos produtores cultivam agricultura de subsistência, afirmou. De acordo com Leão, por ser um país de extenso litoral, com três importantes portos, Moçambique tem competitividade para exportar. Além de poder exportar sem tarifas para União Europeia, o país também está isento de tarifas para o etanol nos EUA. O Brasil paga US$ 0,54 de tarifa para o álcool entrar no mercado americano. A Unica já recebeu missões do governo moçambicano com interessados em investir em etanol. Não cabe à Unica discutir esse tipo de cooperação, mas sim ao governo brasileiro, que tem todo o interesse em promover a expansão do etanol, afirmou Leão.

Conforme o ministro de Energia de Moçambique, foi firmado no ano passado um memorando de entendimento com o Brasil para criação de capacitação técnica, envolvendo a Única e os ministérios de Agricultura e Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) brasileiros. Já temos muitos plantios de cana no país. Agora, estamos na fase de atrair os investidores para os projetos industriais, disse.

Além de Moçambique, outro país africano está fazendo suas apostas em etanol. Em Angola, a Odebrecht, controlador da ETH Bionergia, braço de açúcar e álcool do grupo, já anunciou a construção de uma destilaria. As variedades de cana utilizadas pela empresa foram desenvolvidas por pesquisadores brasileiros e adaptadas para o clima e solo angolano. O grupo informou que não está nos planos da companhia, no curto prazo, fazer investimentos em Moçambique.

A política de biocombustíveis de Moçambique envolve também projetos de produção de biodiesel, com vistas a uso na geração de energia em sistemas isolados do país, onde a energia não chega. O governo aprovou na semana passada o programa para estimular essa produção com utilização da jatrofa (mamona, no Brasil) e o coco, do qual o país é um grande produtor. A ideia é estimular e dar condições técnicas e financeiras para pequenos agricultores.

c) Investimento direto muda com a crise

A crise financeira mundial deverá provocar uma mudança estrutural nos fluxos de investimentos estrangeiros diretos ao Brasil, com uma maior concentração nos setores ligados à demanda doméstica, como indústria alimentícia, comércio varejista e construção civil, e uma redução dos recursos aplicados em setores ligados a exportação, como mineração e siderurgia.

O Banco Central refez sua sondagem com empresas e setores da economia para verificar como ficarão os fluxos de investimentos neste ano, depois da crise. Uma das conclusões, já divulgada, é que, em função do adiamento de alguns projetos, o fluxo de investimentos deverá ficar em US$ 25 bilhões em 2009, ou seja, pouco inferior aos US$ 30 bilhões antes previstos. Os levantamentos do BC, porém, são tradicionalmente conservadores, por isso há chances de o ingresso ficar maior que isso. Também são esperadas duas mudanças na composição dos investimentos. Uma delas é um rearranjo nos setores que receberão mais investimentos. Outra é uma retomada dos fluxos de investimentos ligados a fusões e aquisições de empresa.

Segundo levantamento do BC, entre 2007 e 2008 cerca de 70% dos investimentos diretos foram direcionados ao chamado green field, ou seja, operações que começam do zero, como a construção de novas fábricas. No resto do mundo, acontecia justamente o contrário: fusões e aquisições respondiam por cerca de dois terços dos investimentos, e o green field, por um terço.

Em outros países, as fusões e aquisições devem ter novo impulso, porque as empresas tendem a se reestruturar e procurar escala para enfrentar a crise. O Brasil não deverá ficar imune a essa tendência, e os projetos green field deverão ceder espaço para fusões e aquisições. Haverá também um novo rearranjo na distribuição setorial dos investimentos. Depois da crise, a expectativa é uma redução dos volumes de investimentos ligados às commodities. Mas não a interrupção dos fluxos. Há vários empreendimentos em andamento, e a produção de petróleo e gás continuará a atrair capitais estrangeiros. O pré-sal criou uma oportunidade única de investimento, e as empresas vão querer se posicionar nesse mercado, diz o professor da PUC-SP e economista-chefe da Siemens, Antônio Correa Lacerda.

Dois setores foram severamente afetados pela crise financeira: o automotivo e o financeiro. No caso da indústria automobilística, os fluxos caíram bastante e representaram apenas 2,7% dos ingresso brutos de investimentos diretos no Brasil em 2008. As sondagens do BC indicam que não haverá recuperação desse setor no curto prazo. No caso da área financeiro, porém, as perspectivas são um poucos menos desoladoras, já que o Brasil é um dos raros países em que os bancos são sólidos e lucrativos.

O forte dos investimentos, na sondagem do BC, são setores como alimentação, comércio, saneamento e infraestrutura. Luís Afonso Lima, economista-chefe da Telefônica e da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), lembra que os investimentos diretos são feitas com uma perspectiva de longo prazo, por isso esses setores ligados à demanda doméstica continuam atrativos. A inclusão das parcelas mais pobres da população na classe média vai ampliar consideravelmente o mercado consumidor brasileiro nos próximos anos, afirma Lima.

Desde 1947, quando inicia a série estatística do BC sobre investimentos diretos, até 1994, quando foi lançado o Plano Real, o grosso dos investimentos diretos era dirigido ao setor industrial, como o automobilístico. Depois do Plano Real, ganharam força os serviços, como telecomunicações, energia elétrica e gás, puxados pela privatização. Na época, essa onda de investimentos foi bastante criticada. Investimentos na indústria sempre foram vistos como mais favoráveis porque geram exportações e receitas em dólares para sustentar remessas de lucros e dividendos. Já os investimentos em serviços, segundo visão da época, iriam gerar compromissos com remessas de lucros e dividendos sem, em contrapartida, aumentar receitas em dólar do país. Mais tarde, tornou-se preponderante a visão de que o investimento em serviços aumentou a eficiência da economia, abrindo espaço para investimentos em outras áreas, como a indústria.

Nos últimos anos, os investimentos no setor de indústria voltaram a se tornar importantes, puxados pela ampliação da capacidade produtiva das montadoras. Mais recentemente, o fluxo de capitais foi engrossado por projetos que aproveitavam o boom das commodities , em áreas como siderurgia e mineração, e o aumento de renda doméstica, atraindo capitais para áreas como comércio, indústrias alimentícias, turismo e imobiliária. A exemplo do que aconteceu com a onda de investimentos em serviços ligados à privatização, os investimentos voltados para o mercado interno não aumentam as receitas em dólares do país.

d) Brasil recupera mercado nos EUA em 2008 e mantém presença apesar da crise

O Brasil ganhou participação nas importações americanas em 2008 e, apesar da recessão nos Estados Unidos, conseguiu manter o market share no início de 2009. No ano passado, o Brasil teve 1,45% de participação nas importações totais dos EUA, acima do 1,31% de 2007, e manteve um percentual praticamente igual em janeiro deste ano - 1,46%. Dados do Departamento de Comércio dos Estados Unidos indicam que as compras feitas pelos americanos no Brasil desaceleraram menos, em janeiro, do que a redução da importação total do país naquele mês.

Em janeiro, as importações feitas pelos Estados Unidos do mercado brasileiro somaram US$ 1,78 bilhão, com queda de 21,84% sobre janeiro de 2008. Já as importações americanas totais, em janeiro, somaram US$ 122,2 bilhões, 26,59% abaixo de igual mês de 2008. Os números da importação americana em janeiro mostram, porém, uma situação diferente para outros países, como a China, em termos de market share, em relação ao fechamento de 2008.

A China, cuja participação nas importações dos Estados Unidos caiu de 16,46% em 2007 para 16,08% no ano passado (ver tabela), voltou a ganhar fatia de mercado no início de 2009. A China se manteve como principal fornecedor para o mercado americano em janeiro, último dado disponível, sendo seguida por Canadá, México, Japão e Alemanha. O Brasil ficou em 16º lugar no ranking dos maiores fornecedores aos Estados Unidos, em janeiro, atrás da Índia.

Os Estados Unidos importaram US$ 24,7 bilhões em produtos chineses no primeiro mês de 2009, 5,43% a menos do que em janeiro de 2008. Mas o market share da China nas importações americanas no primeiro mês do ano subiu para 20,25%, acima de janeiro de 2008 (15,72%) e do mesmo mês de 2007 (17,04%).

Já o Brasil também aumentou sua participação de mercado nas importações americanas em janeiro de 2009 (1,46%) na comparação com o mesmo mês em 2008 (1,38%) e em 2007 (1,35%). Dados do Observatório Brasil China, publicação trimestral da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostram que no acumulado de 2008 o market share do Brasil nas importações dos Estados Unidos retornou aos patamares de cinco anos atrás.

O 1,45% de participação de mercado dos produtos brasileiros nas importações americanas, no ano passado, é semelhante à participação de 2004 (1,44%) e de 2005 (1,46%). O país recuperou as perdas registradas em 2006 e 2007, quando esse market share caiu para 1,42% e 1,31%, respectivamente.

Pedro da Motta Veiga, consultor da CNI que elaborou a última edição do Observatório, disse que os dados de 2008 mostram uma mudança de curva em relação à participação da China nas importações americanas. Entre 2000 e 2007, o market share da China nas importações dos EUA cresceu de forma consecutiva. Em 2008 houve uma interrupção nessa trajetória de crescimento, disse Motta Veiga.

Apesar da pequena redução da participação chinesa no mercado americano no ano passado, a diferença de market share entre Brasil e China nos Estados Unidos permaneceu muito elevada, segundo Motta Veiga. Essa diferença era de 15,15 pontos percentuais em 2007 e caiu para 14,63 pontos em 2008.

Segundo os dados analisados pelo Observatório, em 19 dos 30 principais capítulos da exportação brasileira para os Estados Unidos, o Brasil teve queda de participação nesse mercado em 2008 em relação a 2007. Em 15 dos 19 capítulos em que as exportações brasileiras perderam parcelas de mercado nos Estados Unidos, os produtos chineses tiveram aumentos de participação.

Motta Veiga cita o fumo e seus manufaturados e a celulose como exemplos de produtos que aumentaram a participação de mercado nos Estados Unidos no ano passado. O setor de fumo ampliou seu market share de 20% em 2007 para 22,5% em 2008. Já na celulose o crescimento foi de 18,2% para 21,4%.

A indústria de ferro e aço permaneceu estável de um ano para o outro (de 10,3% para 10,8%). Já o segmento de pedras, gesso e cimento perdeu fatia de mercado: de 11,36% em 2007 para 10,45% em 2008. Esse setor inclui o granito, que tem como um de seus principais clientes o mercado imobiliário americano, afetado pela crise das hipotecas.

Números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) indicam que os Estados Unidos continuam a ser o principal parceiro comercial do Brasil, tanto nas exportações como nas importações. No primeiro bimestre de 2009, as exportações brasileiras aos Estados Unidos somaram US$ 2,31 bilhões, com queda de 41% sobre igual período de 2008. Essa forte queda fez a participação das vendas aos Estados Unidos caírem de 15% em janeiro-fevereiro de 2008 para cerca de 12% em igual período deste ano em relação ao valor global das exportações brasileiras.

Já as importações brasileiras dos Estados Unidos em janeiro e fevereiro caíram 1,6%. As compras recuaram de US$ 3,6 bilhões no primeiro bimestre de 2008 para US$ 3,5 bilhões em igual período deste ano. A participação americana nas importações totais do Brasil avançou de 14,8% no primeiro bimestre do ano passado para 19,6% nos dois primeiros meses deste ano.

Como resultado, a corrente de comércio entre os dois países recuou 22,2%, de US$ 7,5 bilhões para US$ 5,86 bilhões. O saldo comercial no acumulado de janeiro e fevereiro foi negativo para o Brasil em US$ 1,22 bilhão, o que interrompeu uma série sucessiva de superávits que começou em 2000. No primeiro bimestre, houve predominância na exportação brasileira de produtos industrializados sobre os básicos para os Estados Unidos.

e) Investimento externo brasileiro também deve sofrer retração

O Banco Central espera uma forte queda nos investimentos brasileiros no exterior em 2009, que alcançaram um pico de US$ 20,457 bilhões em 2008. A maior parte dos investimentos recentes foi feita por empresas exportadoras de commodities, cuja demanda se retraiu em virtude do recuo do comércio mundial.

A projeção oficial do BC é que a soma de todos os investimentos brasileiros no exterior chegue a apenas US$ 900 milhões em 2009, considerando os investimentos diretos, em ações, empréstimos e depósitos, excluindo os bancários. No ano passado, esses investimentos chegaram ao total de US$ 27,7 bilhões.

Com a crise internacional, a tendência é que as empresas se voltem para o mercado doméstico, adiando eventuais planos para expandir as atividades no exterior. Mas, como o Brasil se tornou uma economia mais aberta nos últimos anos, espera-se que o ciclo de investimentos brasileiros no exterior seja retomado mais adiante, tão logo o crescimento mundial se recupere.

O BC mapeou US$ 17,310 bilhões em investimentos brasileiros no exterior com valor superior a US$ 1 milhão em 2008. O setor mais importante nessas remessas, com 42,2% do total, é o de instituições financeiras. Em seguida, vem a metalurgia, incluindo siderurgia, com 23,8%, e a indústria de alimentos, com 9,2%. Os Estados Unidos foram o país mais importante de destino dos investimentos brasileiros (27,6% do total), seguido por paraísos fiscais, como Ilhas Cayman e Ilhas Virgens Britânicas.

No primeiro bimestre, as empresas brasileiras estão promovendo a repatriação líquida de seus investimentos realizados no exterior. As empresas trouxeram ao país de volta US$ 2,162 bilhões em investimentos, e fizeram US$ 1,480 bilhão em investimentos no exterior. O saldo líquido é uma repatriação de US$ 682 milhões em investimentos.

O BC não tem estatísticas disponíveis sobre os setores que estão repatriando capitais ao Brasil. Mas, entre os que estão fazendo investimentos no exterior, o destaque é a metalurgia (US$ 120 milhões) e o setor de eletricidade e gás (US$ 182 milhões).

Luís Afonso Lima, economista-chefe da Telefônica e da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), diz que, além do Brasil, outros países passaram a fazer mais investimentos diretos.

Em 2000, os países desenvolvidos respondiam por 81% dos investimentos diretos e, em 2007, o percentual havia caído para 68%, em função do avanço dos países emergentes. Aumentou também o fluxo de investimento entre países emergentes, diz. Essa é uma tendência que deve permanecer.

f) Crise econômica já afeta corrente de comércio entre Brasil e China

O comércio entre o Brasil e a China sentiu os impactos da crise econômica internacional. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e do Conselho Empresarial Brasil-China mostram que as importações brasileiras da China totalizaram US$ 2,8 bilhões no primeiro bimestre, com queda de 16,6% em relação a igual período de 2008. Já as exportações do Brasil para o mercado chinês somaram US$ 1,4 bilhão com aumento de 17,2% no acumulado de janeiro-fevereiro na comparação com o primeiro bimestre do ano passado. Mas o ritmo de expansão é menor se comparado ao período anterior à crise. Em julho de 2008 os embarques para a China cresceram 50,85% sobre junho.
O secretário executivo do Conselho Empresarial Brasil-China, Rodrigo Tavares Maciel, atribuiu a queda das importações de produtos chineses ao declínio da produção industrial do Brasil a partir do último trimestre de 2008. A indústria teve a maior participação na pauta de produtos importados da China, cerca de 70%, sendo grande compradora de máquinas e equipamentos e de matéria prima industrial naquele mercado. O recuo deste início de ano não é bom sinal para o Brasil, disse Maciel.

Dados levantados pelo Conselho Empresarial Brasil-China mostram que entre janeiro e fevereiro as compras de máquinas chinesas declinaram 58,7% em receita ante mesmo período do ano passado. Os volumes de carvão coque e hulha importados pelas siderúrgicas nacionais caíram 40,3% na mesma base de comparação.

Do lado das exportações, os números pesquisados pelo Conselho no segundo bimestre de 2009 confirmam trajetória tímida de crescimento iniciada em dezembro. O volume de soja brasileira embarcada para aquele mercado puxou a alta das vendas, registrando um aumento de 389,1% ante janeiro/fevereiro de 2008. Em termos de receita, o aumento foi de 337,1%.

Os chineses voltaram a estocar soja, informou Maciel, revelando que a Associaçaõ Brasileira das Indústrias de Óleo Vegetal (Abiove) estima para este ano um volume de soja a ser exportado para o país asiático de 13 milhões de toneladas, acima dos 11,8 milhões de toneladas lá colocadas em 2008. Mas, a receita será menor, de US$ 4,3 bilhões por causa da baixa do preço do grão.

No bimestre o minério de ferro teve redução de 3,9% no volume vendido para as usinas chinesas ante mesmo período de 2008. Mas, esse resultado, ainda que no vermelho, já sinaliza melhora ante o último trimestre de 2008 quando as exportações do produto registraram queda de até 30%, observou Maciel. Mas ele acha cedo para prever se, apesar da crise, as vendas de minério superarão até dezembro as 96,4 milhões de toneladas exportadas para a China em 2008.

Levantamento do Observatório Brasil China, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que, no último trimestre de 2008, as exportações brasileiras para a China aprofundaram a tendência de retração observada a partir de agosto. De outubro a dezembro, o Brasil exportou para a China valor correspondente a 43% do registrado no trimestre anterior.

De acordo com a publicação, as exportações para a China se reduziram mês a mês de agosto a novembro do ano passado. Em dezembro, houve uma recuperação expressiva das exportações, de 26,9% em relação ao mês anterior. Mas ainda se mantiveram (as exportações) nitidamente abaixo dos valores do segundo e do terceiro trimestres do ano (2008), escreve Pedro da Motta da Veiga, consultor da CNI.

Os dados do relatório mostram o impacto da crise sobre o comércio bilateral, diz Motta Veiga. Ele observa que apesar da tendência de forte retração, consolidada nos últimos meses do ano, a China aumentou, em 2008, sua participação no total das exportações brasileiras e representou 8,29% do total exportado no período. Motta Veiga afirma ainda que, em 2008, manteve-se a forte tendência à primarização das exportações brasileiras para a China. No ano passado, os produtos básicos responderam por 78% das vendas brasileiras, ante 75% em 2007.

O Observatório mostra que a participação das exportações brasileiras nas importações chinesas pulou de 1,92% em 2007 para 2,62% em 2008.
g) Barry Callebaut faz parceria com Bunge e investe em fábrica no Brasil

A suíça Barry Callebaut , a maior fabricante de chocolate bruto para indústria do mundo, deve começar a produzir no Brasil até o fim do ano. Além disso, firmou contrato com a Bunge Alimentos para distribuição exclusiva de seus chocolates e coberturas para o segmento de food service brasileiro.

Vamos inundar o Brasil de chocolates, disse, entusiasmado, Antonio Moreira, gerente de vendas gourmet da Barry Callebaut Brasil, ao comentar que o volume comercializado pela empresa no país deve mais que dobrar com a unidade fabril. Segundo ele, o investimento deve ser de US$ 12 milhões. No Brasil, a Barry processa cacau em Ilhéus, na Bahia, onde produz manteiga, massa e pó da fruta matéria-prima do chocolate. A produção é vendida para indústrias de chocolates no país e exportada para fábricas da Barry na América do Norte.

O chocolate já processado usado pela indústria de chocolates que a suíça comercializa aqui é importado. A América do Sul é o único mercado significativo de chocolates no mundo em que ainda não temos nossa própria fábrica, disse Patrick De Maeseneire, diretor-executivo da multinacional em Zurique, na Suíça. Com base no contrato de distribuição com a Bunge, estamos planejando a construção de uma fábrica de chocolate na região sudeste do Brasil, acrescentou o executivo que, depois de sete anos, está deixando a Barry para assumir a companhia Adecco, de recursos humanos. Em seu lugar fica o alemão Juergen B. Steinemann, atual presidente da Nutreco Agriculture. A Barry Callebaut teve nos últimos seis meses fiscais alta de 23,2% em seu lucro líquido que chegou a US$ 125,488 milhões. A empresa tem 40 unidades produtivas pelo mundo e vendeu no ano passado 611,9 mil toneladas de chocolate.

A fábrica brasileira ainda não tem cidade definida. Estamos procurando uma estrutura já pronta, onde possamos instalar os maquinários e começar a produzir o quanto antes, disse Moreira. A capacidade de produção anual da planta, que terá 100 empregados, será de 20.000 toneladas para chocolate líquido e moldado. Os produtos serão distribuídos pela Bunge que, segundo De Maeseneire, atende cerca de 25 mil pontos de venda diariamente.

A Bunge assume a distribuição da Barry a partir de 1º de julho. As duas companhias também desenvolverão em conjunto uma linha de coberturas e chocolates para atender as necessidades específicas do mercado de food service e de padarias brasileiro - que consome anualmente 60 mil toneladas de chocolate ao ano.

Com a planta local e sem os impostos de importação, o preço do chocolate da Barry deve cair pelo menos 20%, como estimam fontes do mercado. O ganho de escala a partir da distribuição com a Bunge também vai colaborar para essa queda.

O que atrai a empresa no Brasil, segundo os executivos da Barry Callebaut, é o aumento no consumo de chocolates. De 2002 até o fim do ano passado, o volume devorado pelos brasileiros passou de 337 mil toneladas para 517 mil toneladas, com alta de 53%, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates (Abicab).

h) Forte queda do preço do alumínio força cortes de produção no Brasil

A desaceleração econômica mundial e a drástica queda nos preços das commodities metálicas já atingem unidades de produção do alumínio no Brasil, principalmente na região Sudeste. Um dos casos é a Valesul, controlada da Cia. Vale do Rio Doce situada no distrito de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. A empresa está praticamente sofrendo um processo de desmonte, com paralisação de suas linhas de produção.

Alcoa, Novelis, BHP Billiton e CBA (grupo Votorantim) são outras empresas que também enfrentam dificuldades devido à queda nos preços do alumínio. A cotação do metal despencou de mais de US$ 3 mil a tonelada um ano atrás para a faixa de US$ 1,4 mil na Bolsa de Londres. Esse patamar de preço não é suficiente para sustentar os custos de produção de muitas fundições, cujo maior peso é o de energia elétrica. Ao mesmo tempo, a demanda continua retraída mundialmente. No Brasil, a projeção é de diminuição de 6% neste ano, depois de atingir 1,02 milhão de toneladas no ano passado.

Dados da Abal, entidade dos produtores e transformadores do metal, mostram que a produção de alumínio primário da Valesul recuou 53,7% no primeiro bimestre do ano. E deve cair mais. Em outubro, com a eclosão da crise financeira, a Vale decidiu fazer ajuste com corte de 60% na produção da empresa, cuja capacidade instalada é de 95 mil toneladas anuais. Agora, a Vale planeja paralisar as linhas produtivas dos 40% restantes. A empresa manterá apenas pequena fundição que produzirá entre 22 mil e 25 mil toneladas/ano de alumínio secundário, a partir do uso de sucata, o suficiente para atender clientes. Foi a alternativa para não fechar de vez a fábrica.

Apesar dos rumores de que a Vale cerraria as portas da Valesul, a mineradora garante que isso não ocorrerá, como afirmou o gerente de imprensa da Vale, Fernando Thompson. Os empregados não serão demitidos, afirmou. A Valesul tinha 700 trabalhadores e agora, segundo sindicalistas fluminenses que estão acompanhando a situação da empresa, tem apenas 350 dentro da usina. A Vale não falou em números, mas explicou que está realocando sua mão de obra para outras áreas da companhia.

A Vale negocia com a Cia. Siderúrgica do Atlântico (CSA), da qual é acionista, aproveitamento de funcionários da Valesul para trabalharem em seu alto-forno. Também estamos enviando outros empregados para a pelotizadora número oito em construção em Tubarão, no Espírito Santo, informou Thompson. Os sindicalistas contaram que outros empregados foram deslocados para a Albrás, fundição de alumínio da Vale no Norte do país (Pará), que por enquanto não está sofrendo com a queda da cotação do alumínio.

Um novo contrato de energia para a Valesul estava em negociação entre a Vale e o governo do Estado do Rio para evitar corte de produção e desemprego na fabricante. A produção de alumínio primário é eletrointensiva, com a energia respondendo por 40% do custo da produção. Mas isso não foi acertado. O governo fluminense estava acenando com a isenção do ICMS para a Valesul não desempregar seu pessoal. A questão não avançou, pois apesar de não ocorrer desemprego, literalmente, a operação da Valesul sofreu corte profundo, o que parece não ter agradado o governo fluminense.

A americana Alcoa tomou a decisão de reduzir em um terço a produção de sua fábrica em Poços de Caldas (MG). Para adequar-se à realidade do mercado, dentre várias medidas, a Alcoa decidiu desligar temporariamente 96 das 288 cubas eletrolíticas (células de produção de metal primário), as quais respondem por 33 mil toneladas anualizadas, de um total de 100 mil de toda a fundição. Essa decisão visa acima de tudo preservar o nível de empregos da fábrica, evitando demissões em massa, informou a empresa em comunicado.

Segundo a Alcoa, que diz manter os investimentos de US$ 156 milhões na unidade para sua modernização, as vendas dessa unidade estão vinculadas a setores que vinham anunciando férias coletivas e demissões, como o de autopeças, e que reduziram seus pedidos por conta da retração da economia. Assim que as condições de mercado justificarem, a plena capacidade da fábrica será imediatamente restaurada, informou.

A Novelis, do grupo indiano Hindalco, anunciou em janeiro e reafirmou na semana passada que irá desativar sua produção de alumina (matéria-prima) na fábrica de Ouro Preto (MG) a partir de 11 de maio. A decisão estava prevista para 26 de março. Por consequência, também será paralisada a atividade de mineração de bauxita que fica nas proximidades. A empresa alega baixa escala de produção de alumina (145 mil toneladas/ano), com elevado custo frente ao baixo preço do metal. Por conta disso, estão previstas 290 demissões. Nas duas unidades de metal primário - Ouro Preto e Aratu - não estão cogitados cortes de produção.

A CBA informou que a fundição, em Alumínio (SP), continua operando na capacidade normal de produção de 475 mil toneladas/ano. Segundo nota da empresa, ela está, devido ao cenário que afeta o setor, adotando medidas de adequação nos custos e que foram feitos ajustes pontuais no quadro de colaboradores.

A BHP Billiton, que tem uma unidade dentro do consórcio Alumar, em São Luís (MA), em parceria com a Alcoa, fez ajustes modulares na produção, os quais levaram à queda de 4,1% no primeiro bimestre do ano, conforme dados da Abal. A empresa informou que não cogita, no momento, plano de corte de produção.

Segundo Isabella Nunes, coordenadora da PIM, o peso do alumínio e produtos derivados no universo da industria de transformação, medido pela pesquisa industrial mensal (produção física), foi de 2,5% em fevereiro. A cadeia do alumínio (bauxita, alumina, metal primário e produtos transformados) tem forte peso nas exportações do Brasil - em 2008 atingiu US$ 4,8 bilhões, conforme a Abal, 2,4% do total do país e 14% do saldo da balança comercial. Do total, Alumínio primário e manufaturados ficaram com US$ 3 bilhões.


Agronegócio

a) Após ano disputado, Minerva vê consolidação

Após um ano em que teve seus resultados afetados pela variação cambial e por uma maior disputa no mercado, o frigorífico Minerva crê em melhoria nas exportações brasileiras de carne bovina e na continuidade da demanda firme no mercado doméstico em 2009. Há pouco estoque fora do Brasil, por isso vejo recuperação apesar da redução do consumo [em 2008], disse Fernando Galletti de Queiroz, presidente do Minerva.

Ele avalia que a influência da crise na produção de carne é menor no Brasil que em outros países e acredita que o setor conseguirá ampliar os volumes exportados para a União Europeia, já que o número de fazendas certificadas para fornecer animais vem crescendo.

A perspectiva do Minerva é que o dólar valorizado ante o real também beneficie as vendas externas de carne. No ano passado, porém, o câmbio não conseguiu estimular as exportações por conta da crise global e levou o Minerva a perdas. No último trimestre, a empresa teve prejuízo de R$ 179,7 milhões, decorrente da desvalorização do real a partir de setembro, que resultou numa despesa de R$ 131,8 milhões, (sem efeito caixa) - no quarto trimestre de 2008 havia tido um lucro de R$ 16,5 milhões. No ano, a perda foi de R$ 215,5 milhões, ante um lucro de R$ 62,5 milhões no exercício de 2007.

As receitas com as vendas no último trimestre subiram 4,4% sobre igual intervalo de 2008, para R$ 509,3 milhões. No ano, o avanço foi de 42,5%, para R$ 2,308 bilhões, graças a vendas 76,4% maiores no mercado interno. O ritmo diminuiu no último trimestre porque o Minerva parou temporariamente três plantas, para reduzir custos. Da receita total de 2008, R$ 1,468 bilhão foram exportações, que cresceram 28,4% impulsionadas pela divisão carne.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) do Minerva caiu 20,3%, para R$ 29,4 milhões no quarto trimestre de 2008, mas cresceu 27,2% em 2008, para R$ 153,4 milhões. No ano, a margem lajida foi de 7,2%, abaixo dos 8,2% de 2007, reflexo da pressão dos custos do boi e das vendas menores à UE.

Já a margem líquida da empresa ficou negativa em 10,2% em 2008, depois de ter alcançado 4,3% positivos no ano anterior. 2008 foi um ano de concorrência grande por share no mercado, de briga para conseguir margens, disse o presidente do Minerva.

Neste ano, a briga será para ocupar espaços deixados no mercado por frigoríficos que, em crise, deixaram de operar. No ano passado, o Minerva conseguiu operar com utilização média de 75% de sua capacidade de abate de 6.500 animais/dia. Atualmente, já opera com 80%. Há sete empresas em recuperação judicial que deixaram um espaço no mercado, comentou. Ainda que tenha priorizado o crescimento orgânico recentemente, o Minerva não descarta aquisições num momento em que há vários ativos à disposição no mercado. Sempre analisamos possibilidades. Consolidação não é feita na euforia. Empresas mais estruturadas, como é nosso caso, são empresas que serão consolidadoras, afirmou Queiroz.

O Minerva fechou 2008 com caixa de R$ 466,5 milhões e dívida líquida de R$ 931,7 milhões. De acordo com a empresa, R$ 215 milhões em recursos financiados pelo BNDES e pelo Banco da Amazônia serão usados para recompor o caixa utilizado nos investimentos já feitos e no alongamento da dívida.

b) Falta armazém para estocar soja gaúcha

Com menos de 5% da soja produzida no Rio Grande do Sul colhida, os agricultores se deparam com um problema: a falta de silos para estocar a produção. Os armazéns estão lotados, com trigo, milho e arroz, informa Carlos Sperotto, presidente da Farsul (federação da agricultura do Rio Grande do Sul).Segundo ele, a Farsul pediu a ajuda do governo federal há duas semanas. Os produtores querem a remoção do estoque para outras regiões consumidoras ou a criação de prêmios para incentivar a venda dos produtos. Queremos liberar os armazéns para a soja. Até então, não receberam resposta.A falta de demanda pelos moinhos fez com que o estoque de trigo ficasse elevado. Eles estão aguardando para comprar o produto de fora. E estão jogando com o produtor interno, diz Sperotto. No caso do milho, os produtores é que não querem vender. Segundo ele, o preço da saca está em R$ 16. Os produtores esperavam R$ 26.Uma opção estudada pela federação é a exportação de parte da produção antes voltada para o mercado interno.

c) Confirmada a quebra da safra argentina de grãos

A Argentina deve colher 39 milhões de toneladas de soja neste ano, de acordo com projeção apresentada ontem pelo governo do país. Em 2008, a produção argentina do grão totalizou 46,2 milhões de toneladas.

O declínio ocorrerá em virtude da estiagem que abateu o país nesta safra 2008/09, a mais severa enfrentada pela Argentina em pelo menos 50 anos, de acordo com comunicado distribuído por correio eletrônico pelo Ministério da Agricultura local.

A queda na produção, se efetivada, ocorrerá mesmo com o aumento de 3% da área ocupada pelo grão na atual temporada - com o acréscimo, as terras dedicadas à soja atingiram o recorde de 17,1 milhões de hectares. A queda da produção, se confirmados os números, será de 15,5%.

Também devido ao temor causado pelas perdas com a falta de chuvas, a projeção para o trigo argentino é de produção de 8,3 milhões de toneladas. O volume, se efetivado, será o mais baixo da triticultura argentina desde 1982 - a área ocupada pelo cereal nas lavouras do país vizinho, que caiu em virtude do receio com as perdas causadas pela seca, passou a 4,68 milhões de hectares, a menor nos últimos 16 anos. Os produtores devem colher ainda 13,8 milhões de toneladas neste ano, segundo o comunicado do governo.

A Argentina é o terceiro maior produtor mundial de soja, atrás apenas dos Estados Unidos e do Brasil. Em 2008, o país foi ainda o segundo maior exportador de milho, superado pelos EUA, segundo o Departamento de Agricultura americano (USDA).

d) Mercado de leite sinaliza recuperação aqui e no exterior

O setor de lácteos do país não deve passar incólume pela crise financeira internacional, mas os sinais recentes de recuperação no mercado de leite são um alento e podem evitar o agravamento da situação de empresas que vivam alguma dificuldade, acreditam fontes do mercado.

A crise - e a consequente restrição de crédito - foi a principal justificativa da Indústria de Alimentos Nilza para pedir recuperação judicial, na última semana. Mas a própria empresa admitiu, em comunicado, que boa parte (R$ 115 milhões) de sua dívida de R$ 200 milhões era resultado da aquisição da mineira Montelac, em julho do ano passado. Naquele momento de euforia, a Nilza chegou a disputar na Justiça a compra da Montelac com a Parmalat, outra que também entrou em dificuldades em 2008 após várias aquisições e que teve de se desfazer de ativos como a Integralat, a fábrica de biscoitos e o centro de distribuição em Jundiaí (SP), para liquidar dívidas de R$ 180 milhões.

Esse quadro mostra que a euforia e a busca por aumento de capacidade pelas empresas no momento de consolidação em lácteos - em meados do ano passado - são as maiores razões para as dificuldades atuais. As empresas que cresceram desordenamente sofrem mais agora para driblar o crédito escasso.

O fato de o segmento ter a maior parte de suas vendas no mercado doméstico, sem depender da exportação, também ameniza o quadro de crédito escasso, diz uma fonte da indústria.

O setor não vai passar incólume, afirma o presidente da mineira Itambé, Jacques Gontijo. Mas ele afirma que há perspectiva de melhora de preços no mercado externo, onde já há sinais de recuperação. No mercado doméstico, os preços ao produtor de leite também começam a subir - reflexo da entressafra do produto e da demanda firme.

Segundo a Scot Consultoria, em março, os preços médios do leite no mercado spot (negociação entre indústrias) subiu 10,76% sobre o mês anterior, para R$ 0,65 por litro. A média nacional paga ao produtor - R$ 0,592 por litro - em março (referente ao leite entregue em fevereiro) ficou 0,91% acima do mês anterior. O leite longa vida também está em alta. De fevereiro para março subiu 6,20% no varejo paulista, segundo a Scot, para R$ 1,804 por litro.

Para Cristiane Turco, analista da Scot, os números indicam que a oferta de leite não é tão grande por causa da entressafra. E isso acontece num momento de demanda também firme, diz Laércio Barbosa, diretor dos Laticínios Jussara e vice-presidente do Sindileite-SP. Os estoques [das empresas] caíram até pela falta de capital de giro por causa da crise, acrescenta.

Segundo o último índice de captação de leite do Cepea-Esalq disponível, o volume de leite captado no país em janeiro foi 8% inferior de igual mês de 2008.

O mercado internacional - que em 2008 beneficiou empresas brasileiras - também dá sinais positivos. Levantamento do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) sobre preços do leite em pó integral na Europa mostra que na semana 11, o preço ficou entre US$ 2.200 e US$ 2.375 por tonelada - na semana 9, estava entre US$ 2.100 e US$ 2.250. De qualquer forma, segundo a Scot, que compilou os números, os preços ainda estão muito abaixo dos US$ 4.500 a US$ 4.700 de igual período de 2008, um momento de euforia por causa da demanda.

Os preços chegaram ao fundo do poço. Começa a estimular a compra e desestimular a produção, comenta Barbosa. Uma das razões para a queda vista anteriormente eram os estoques elevados nos exportadores.

Apesar de o Brasil ainda exportar volumes pequenos, o mercado externo ajuda as empresas a desovarem a sua produção. A Itambé, por exemplo, prepara-se para participar de concorrências para compras governamentais de Venezuela e Argélia.

e) Incertezas afetam commodities em março

A despeito dos bons fluidos percebidos no cenário macroeconômico na segunda metade de março, com o anúncio do pacote de limpeza dos ativos do sistema financeiro americano, boa parte das oito principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no mercado internacional encerrou o mês com baixa em seus preços médios. A queda mais acentuada foi a do cacau. Na contramão, o suco de laranja, que teve uma das maiores baixas em fevereiro, foi o destaque de alta em março.

A soja, mais importante produto de exportação do agronegócio brasileiro, chegou a apresentar um bom desempenho no mês - a ponto de sua cotação ter acumulado sete altas seguidas, a mais longa sequência de valorizações desde dezembro de 2007 -, mas não houve espaço para sustentação. Os contratos de segunda posição de entrega negociados na bolsa de Chicago (normalmente os de maior liquidez) atingiram cotação média mensal de US$ 9,0165 por bushel, 3,20% menos que a média de fevereiro, segundo o Valor Data. Em 2009, ainda assim, o grão sustenta alta de 3,32%, na média.

Mesmo com a queda dos preços médios, o cenário é mais promissor para a soja. Esperava-se aumento da área de plantio nos Estados Unidos, mas a previsão acabou ficando bem menor que a esperada, disse Daniele Siqueira, analista da Agência Rural, em referência ao relatório apresentado ontem pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.E para o milho, cujo preço subiu, a perspectiva é de estabilidade ou mesmo de uma pequena queda, afirma ela.

A média dos contratos de milho de segunda posição de entrega subiu 3,94% na bolsa de Chicago em março, para US$ 3,8615 por bushel. No ano, a alta acumulada é de 2,94%. Em parte, a alta pode ser creditada à previsão que já se fazia de aumento da área de soja nos EUA em detrimento da dedicada ao milho. Mas a redução de área do milho acabou não sendo tão grande quanto se esperava. Além disso, o nível dos estoques do milho não está tão ruim quanto o da soja, diz a analista.

Entre as três mais importantes commodities agrícolas negociadas na bolsa de Chicago, apenas o trigo mantém-se abaixo do nível registrado na virada do ano. Na média, os contratos de segunda posição caiu 3,04% em 2009 e 2,54% em março, para US$ 5,3282 por bushel, sempre de acordo com cálculos do Valor Data.

Ainda que algumas commodities agrícolas tenham fechado o mês de março com desvalorização, o mercado tem, nas últimas semanas, ensaiado um movimento de recuperação, segundo analistas. A queda do dólar em relação a outras moedas estrangeiras e as notícias macroeconômicas que deram alento ao mercado poderão dar suporte às commodities em abril, afirma Rodrigo Costa, da Newedge, corretora sediada em Nova York.

O açúcar, que responde pela mais expressiva valorização do ano entre as oito principais commodities agrícolas negociadas nas bolsas de Nova York e Chicago em 2009, perdeu um pouca da força em março em relação ao primeiro bimestre. Em grande medida, o recuo pode ser creditado à proximidade da colheita de cana no Centro-Sul do Brasil, embora exista suporte para que seu preço siga firme no curto e médio prazos, observa o analista.

Em março, os contratos futuros do açúcar registraram ligeira valorização, de 0,35%, com cotações médias de 13,36 centavos de dólar por libra-peso, segundo o Valor Data. Outro fator a sustentar os preços é o cenário de produção da commodity na Índia. O país asiático, o segundo maior produtor global de açúcar, terá uma queda drástica da produção.

Com o suporte do clima quente e seco sobre os pomares da Flórida, os preços futuros do suco de laranja ganharam fôlego no mês de março. Os contratos de segunda posição do suco fecharam o mês com alta de 4,59%, a 74,79 cents por libra-peso. Foi a maior valorização do mês entre as oito commodities agrícolas analisadas.

O preço do café recuou 3,23% em março, desempenho que levou seus preços médios para US$ 1,1241 por libra-peso. A ação dos fundos de investimento pressionou os preços do grão. Os diferenciais de preços dos cafés lavados [melhor qualidade] continuam firmes e os estoques certificados na bolsa estão caindo [hoje está em torno de 4 milhões de sacas], diz Costa.

Para o algodão, os números de exportações americanas foram razoáveis, segundo Fernando Martins, da Newedge. Os contratos de segunda posição recuaram 6,49% no mês, para cotações médias de 43,67 centavos de dólar por libra-peso. Acredito que as tradings não têm mais bala na agulha para futuras fixações, avalia.

Também pressionado pelo movimento de fundos no mercado, o cacau encerrou o mês com queda de 6,66%, a mais forte no período. As cotações médias dos contratos de segunda posição desceram a US$ 2.434,05 por tonelada.

f) Diminui ritmo de queda das exportações de carne

As exportações de carne bovina in natura voltaram a recuar em março, na comparação com o mesmo intervalo de 2008, mas o ritmo de queda diminuiu. Isso sinalizaria, na opinião de exportadores, um movimento de recuperação após meses de fortes perdas em decorrência da crise global que afetou a demanda e o crédito.

Em março passado, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério de Desenvolvimento, as vendas externas de carne in natura totalizaram US$ 233,6 milhões, 14,4% abaixo dos US$ 273 milhões registrados em igual intervalo de 2008. Em janeiro e fevereiro, porém, as quedas haviam sido mais significativas na comparação com os mesmos meses de 2008.

Em volume, os números de março - 82,138 mil toneladas - ficaram pouco abaixo dos vistos no mesmo mês de 2008, quando foram embarcadas 84 mil toneladas.

Em janeiro passado, as vendas de produto in natura somaram US$ 168,4 milhões , quase 54% menos do que os US$ 364, 7 milhões do mesmo período de 2008. Em fevereiro, a queda já foi menor, mas ainda expressiva - 27% - de US$ 254,2 milhões para US$ 185,8 milhões, de acordo com dados do ministério compilados pela Associação Brasileira da Indústria Exportadora de carne Bovina (Abiec).

Para o diretor-executivo da Abiec, Otávio Cançado, os números indicam um movimento de recuperação das vendas por conta da necessidade de recomposição de estoques e aumento da demanda nos países importadores. A Rússia, um dos países mais afetados pela crise de crédito no mundo, foi um dos que contribuíram para a queda menor da receita com as exportações de carne. O país importou US$ 74,838 milhões em carne in natura em março passado - no mesmo mês de 2008 havia comprado US$ 99,5 milhões. A receita caiu porque o preço médio recuou, já que os volumes até aumentaram: foram 31.020 toneladas em março, pouco acima das 30.701 toneladas do mesmo mês de 2008.

A redução no preço médio não espantou os exportadores, já que reflete o momento de crédito escasso no mercado.

Um outro sinal considerado positivo pelos exportadores nos números de março foi o aumento de 9% nas vendas de carne industrializada em março - na comparação com o mesmo mês de 2008 - para US$ 63 milhões. O volume também aumentou - de 15 mil toneladas para 15,8 mil toneladas em março deste ano.

Os sinais de que as exportações de carne bovina ensaiam recuperação já influenciam os preços do boi gordo no mercado doméstico, afirma Lygia Pimentel, analista da Scot Consultoria. Ontem, na região de Barretos (SP), a arroba subiu R$ 0,50, para R$ 79,50. Há uma semana, estava em R$ 77,00. Ela diz que o produtor percebeu uma melhora no cenário e decidiu segurar as vendas.

José Vicente Ferraz, da AgraFNP, acrescenta que a oferta de gado para abate segue restrita em função do ajuste no ciclo pecuário, e os preços são firmes de uma maneira geral no país. Pelo levantamento da FNP, havia negócios ontem no noroeste paulista a R$ 81,00 a arroba.

O comportamento atual dos preços do boi gordo - reflexo da demanda de animais para abate - mostra que parte dos frigoríficos está ocupando espaços deixados no mercado por outros que deixaram de operar em função de dificuldades financeiras, concordam os analistas.

Mercosul

a) Após 5 anos, Brasil tem déficit com Argentina

Pela primeira vez em cinco anos, a Argentina voltou ao azul na balança comercial com o Brasil. O saldo do comércio exterior bilateral de março mostrou um superávit de US$ 20 milhões para a Argentina, resultado de exportações de US$ 915 milhões e importações de US$ 895 milhões, segundo levantamento de dados preliminares feito pela consultoria Abeceb.com. O déficit argentino com o principal sócio do Mercosul, que em 2008 bateu o recorde, com aproximadamente US$ 4,3 bilhões no acumulado do ano, vinha caindo mês a mês desde agosto. No primeiro trimestre de 2009, o resultado ainda é negativo para a Argentina em US$ 39 milhões.

A reversão do saldo segue em linha com a marcada tendência descendente do déficit, que se aprofundou a partir de dezembro devido a uma retração maior do lado das compras que do lado das vendas ao país vizinho, afirmam os analistas da consultoria. Em termos anuais há uma forte queda do comércio bilateral como reflexo da crise internacional. Comparado a março de 2008 houve uma queda de 10,4% nas exportações, 33% nas importações e 23% na corrente de comércio.

No entanto, a Argentina registrou uma reação das exportações para o Brasil em março, que cresceram 37,4% em comparação a fevereiro. No acumulado do primeiro trimestre de 2009, as exportações caíram 33,5% comparado ao mesmo período de 2008, totalizando US$ 2,19 bilhões. Contribuiu para a queda das exportações a redução nas vendas de combustíveis minerais, óleos, veículos terrestres e autopeças, plásticos e suas manufaturas e químicos.

As importações somaram US$ 2,232 bilhões entre janeiro e março de 2009, com queda de 43,7% comparada ao mesmo período de 2008. Entre os produtos que a Argentina passou a comprar menos do Brasil se destacam automóveis (particulares e transporte de passageiros), autopeças, telefones celulares, laminados planos de ferro e aço, bombas e compressores. Dois fatores explicam a queda das importações: a menor demanda local, devido à diminuição do nível de atividade do país e as medidas restritivas implementadas pela Argentina para ampliar o controle do fluxo de importações dos chamados produtos sensíveis, em que a produção nacional perde em competitividade com a estrangeira.

Pelos cálculos da economista Josefina Guedes, do escritório Guedes & Pinheiro Consultoria Internacional, as últimas medidas restritivas de comércio tomadas pelo governo argentino, afetaram as exportações brasileiras de tubos de ferro e aço, linha branca e têxtil (sujeitos a valores-critério) em um total de 4,8%, laminados de ferro e aço, fios e fibras acrílicas e transformadores de energia (com processos antidumping) em 1,4%, e uma série de produtos, entre eles cutelaria, móveis, tratores e debulhadeiras submetidos a licenças não-automáticas, que afetaram 4,6% das exportações brasileiras. O aumento das barreiras comerciais da Argentina contra os produtos brasileiros se repete toda vez que há uma crise, diz Guedes.

Esta semana, entretanto, o Brasil saiu do foco das preocupações dos empresários argentinos. Com os setores sensíveis em fase de negociação promovida pelos governos, o alvo agora é a China. Empresários de vários setores da indústria se queixaram ao Ministério da Produção pela falta de clareza no acordo, anunciado segunda-feira, de swap de reservas entre os bancos centrais da China e da Argentina. As empresas suspeitam que o acordo implique um compromisso de ampliar as importações de produtos chineses. O presidente do Banco Central argentino, Martin Redrado, e a Ministra da Produção, Débora Giorgi, negaram que uma redução das barreiras às importações tenha sido pedida pela China em troca do reforço das reservas.

Organização Mundial do Comércio (OMC)

a) Indústria do Brasil quer aproveitar acordos de livre comércio do Chile

Sem acordos de livre comércio com os países de maior economia, o Brasil procura aproveitar os mais de 40 tratados de livre comércio do vizinho Chile, onde, nesta semana, uma missão de representantes de quase 60 empresas negocia com empresários chilenos a venda de produtos brasileiros para o mercado local e para fabricação de mercadorias destinadas a países como México, Estados Unidos, Japão e membros da União Europeia. Nossas exportações ao Chile cresceram 12% no ano passado e podem crescer mais neste ano, prevê o secretário de comércio exterior, Welber Barral.

A missão empresarial, tem apoio da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) do Itamaraty (o embaixador brasileiro em Santiago é Mário Vilalva, ex-diretor do departamento de Promoção Comercial do Ministério de Relações Exteriores). Com os empresários irão representantes do BNDES, que mostrarão os mecanismos de financiamento do banco para comércio e para investimentos de empresas brasileiras, destinados à produção para exportação no Chile. O governo brasileiro quer, ainda, ampliar o acordo de serviços entre Brasil e Chile, para aumentar a atuação de empresas de arquitetura e engenharia, entre outras.

Em uma das reuniões preparatórias para a missão empresarial, o gerente de comércio exterior da equivalente chilena da Fiesp, Sociedade de Fomento Fabril (Sofofa), Hugo Baierlein Hermida, comentou aos brasileiros que o Chile tem um enorme mercado de exportações para produtos como móveis, calçados e tecidos, mas que faltam produtos para vender. Para a Fiesp, o interesse dos chilenos facilita a estratégia de industriais paulistas, de usar o país como plataforma de exportação, com partes e peças compradas do Brasil. Com o fracasso das negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC), temos de buscar alternativas de mercados, comenta o diretor de relações internacionais e comércio exterior da Fiesp, Ricardo Martins.

Martins vê mercado para a indústria de alimentos preparados, que pretendem processar, no Chile, produtos de origem brasileira, para aproveitar acordos sanitários e de livre comércio firmados por aquele país com nações como o Japão. Pelo menos uma grande companhia, a Nutriplus, já procura possíveis parceiros chilenos.

Para Barral, mesmo o limitado mercado interno chileno pode trazer oportunidades aos produtores brasileiros. Cruzamos os dados de importação do Chile com os de nossas vendas para lá, e há grande potencial em pelo menos oito setores, garante, citando alimentos, equipamentos industriais e produtos metalúrgicos. O Chile, para nós, é o primeiro teste de algo que queremos fazer mais vezes: promoção de negócios junto com representantes do setor privado dos dois países, diz Barral.

A Fiesp negociou com a Sofofa a aproximação entre as indústrias chilenas e brasileiras. Empresas de bens de capital interessam-se em enviar partes e peças para montagem no Chile e reexportação, exemplifica Ricardo Martins. Haverá também reuniões para que a indústria de defesa brasileira ofereça produtos às Forças Armadas chilenas (um dos maiores orçamentos do continente), e reuniões do setor de energia, para discutir biocombustíveis.

Plano Internacional

a) Sudão rouba atenções da cúpula árabe

O presidente do Sudão, Omar Hassan al-Bashir, teve um dia de altos e baixos ontem na cúpula da Liga Árabe, que acontece no Qatar. Bashir — que foi indiciado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes cometidos em Darfur e tem uma ordem internacional de captura — foi criticado publicamente pelo secretáriogeral da ONU, Ban Ki-moon, por expulsar 13 ONGs de ajuda humanitária do Sudão. Em seguida, na mesma reunião, recebeu o apoio dos países árabes, que rejeitaram a ordem de prisão contra ele.

No pronunciamento na cúpula, a poucos metros de Al-Bashir, Ban Ki-moon fez críticas enfáticas ao presidente sudanês: — Os esforços de socorro no Sudão não podem ser politizados. Trata-se de um ato irresponsável e que pode resultar em mais mortes.

Lula tem encontro reservado com Muamar Kadafi Al-Bashir ouviu as críticas com expressão desafiadora. O presidente viajou no domingo para o Qatar, após visitar Egito, Eritreia e Líbia pedindo apoio contra a ordem de prisão internacional.

Em seu discurso, conclamou os líderes árabes a rejeitar a acusação contra ele e reafirmou a expulsão das ONGs: — O que está acontecendo com o Sudão agora é outro capítulo do esforço para enfraquecer os árabes.

Em seguida, ganhou o apoio dos países árabes, que votaram pela rejeição da ordem de prisão. Apesar do constrangimento, assessores próximos ao secretário-geral da ONU disseram que a atitude da liga já era esperada.

Após o clima quente da cúpula ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está em Doha, abre hoje sua agenda de encontros com uma reunião privada com o líder líbio Muamar Kadafi, que protagonizou outro escândalo na reunião.

Kadafi, furioso por não estar na lista dos principais oradores, abandonou a sala de reuniões, depois de acusar o rei Abdulah da Arábia Saudita de ser “produto britânico e aliado Americano”.

Quando o emir do Qatar, Hamad bin Khalifa Al Thani, que presidia a reunião, tentou silenciá-lo, Kadafi bradou: — Eu sou um líder internacional, o decano dos líderes árabes, o rei dos reis da África e o imam (líder) dos muçulmanos, e meu status internacional não me permite baixar para um nível mais baixo — disse.

É nesse ambiente que oito líderes sul-americanos, como Hugo Chávez, da Venezuela, e Cristina Kirchner, da Argentina, além de Lula, vão se encontrar com líderes árabes para discutir mais cooperação e comércio entre as duas regiões.

O encontro poderá outro um constrangimento: a presença de Al-Bashir.

O presidente dos EUA, Barack Obama, anunciou que enviou emissários ao Sudão para resolver de forma imediata a crise e “evitar mais mortes em Darfur”.

b) Opep descarta reduzir produção

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) decidiu manter os níveis de produção atuais, descartando a possibilidade de instituir uma nova redução na extração de óleo. Contudo, ministros dos 12 países da organização, reunidos em Viena, ressaltaram que os cortes anunciados no final de 2008, de 4,2 milhões de barris por dia, devem ser cumpridos integralmente. Atualmente, cerca de 80% dessa redução já foi implementada. Com a decisão, a atual produção petrolífera dos países-membros deve se manter relativamente estável até a próxima reunião da organização, marcada para 28 de maio.

c) Cúpula Global: É o fim da era do segredo bancário, diz G20

Regulação será estendida às agências de avaliação de risco; texto também destaca o início da transição rumo a uma economia mais verde

Em meio a um comunicado essencialmente técnico de 29 parágrafos, os líderes do G20 encontraram uma brecha para uma proclamação política forte: A era do segredo bancário acabou.É uma alusão às prometidas ações contra os paraísos fiscais, parte do capítulo talvez mais suculento do documento, que trata do fortalecimento da regulação/supervisão financeiras, cujo fracasso é consensualmente apontado como responsável pela crise.Os principais pontos do texto são os seguintes:

INJEÇÃO DE RECURSOS
O US$ 1,1 trilhão anunciado ontem divide-se em US$ 500 bilhões para elevar os recursos disponíveis do FMI a US$ 750 bilhões; nova alocação de Direitos Especiais de Saque, a moeda contábil do FMI, no valor de US$ 250 bilhões, uma forma de disponibilizar recursos relativamente baratos a países em dificuldades; US$ 100 bilhões de empréstimos adicionais dos bancos multilaterais de desenvolvimento (Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco da Ásia etc.); US$ 250 bilhões para financiamento ao comércio internacional, por meio das agências de crédito à exportação dos países-membros e também dos bancos regionais.

PACOTES FISCAIS
O texto calcula que os pacotes oficiais de gastos para estimular a economia chegarão até o fim de 2010 a US$ 5 trilhões [mais de três Brasis], com o que a produção aumentará 4%.

JUROS
Nossos bancos centrais se comprometeram a manter políticas expansionistas pelo período que for necessário e a usar toda a gama de instrumentos de política monetária.Tradução: uma era possivelmente longa de juros bastante baixos. O Banco Central Europeu, aliás, reduziu os seus para o nível mais baixo da história.

CRESCIMENTO
O texto lembra que o FMI previu, no mês passado, que o crescimento da economia mundial seria retomado e subiria a mais de 2% até o fim de 2010. O novo pacote acelerará o retorno à tendência de crescimento, diz o documento.

DÉFICITS
O G20 compromete-se a manter a sustentabilidade fiscal no longo prazo e a estabilidade de preços, para o que colocará em prática estratégicas críveis de saída das medidas que precisam ser tomadas.Traduzindo: os líderes sabem que elevam perigosamente os déficits fiscais, o que pode ser combustível para a inflação, pelo que se comprometem a retornar à normalidade assim que possível.

DESVALORIZAÇÕES
O documento se compromete a evitar desvalorizações competitivas de nossas moedas para facilitar exportações.

REGULAÇÃO
Cada um de nós concorda em assegurar que nossos sistemas regulatórios domésticos sejam fortes. Mas também concordamos em estabelecer uma consistência muito maior e uma cooperação sistemática entre países, e uma moldura de elevados padrões, internacionalmente acordados, que um sistema financeiro global requer. O texto parece indicar que prevalecerá a ideia de que a regulação/supervisão seguirá padrões internacionais, mas a aplicação será nacional.- O Fórum de Estabilização Financeira, composto pelos bancos centrais, passa a ser Diretoria de Estabilidade Financeira. Antes da cúpula, já estava decidido que passa a ser integrada por todos os países do G20 mais a Espanha e a Comissão Europeia. Antes, apenas os países ricos faziam parte.A nova Diretoria (FSB, na sigla em inglês) colaborará com o FMI para prover aviso antecipado de riscos financeiros e macroeconômicos e as ações necessárias para enfrentá-los.- A regulação/supervisão será estendida a todas as instituições financeiras sistemicamente importantes, a todos os instrumentos [financeiros] e a todos os mercados. Inclui, pela primeira vez, hedge funds sistemicamente importantes.- Implementar novos e duros princípios de pagamento e compensação [para executivos de instituições financeiras].- Adequar a disponibilidade de capital nos bancos aos seus empréstimos, mas apenas depois que a recuperação [da economia] estiver assegurada. O texto diz, ainda, que, no futuro, a regulação deve evitar excessiva alavancagem.

PARAÍSOS FISCAIS
O G20 promete adotar ações contra o que chama de jurisdições não-cooperativas, inclusive paraísos fiscais.Afirma estar pronto para adotar sanções para proteger nossas finanças públicas e sistemas financeiros.O texto lembra que ontem mesmo a OCDE divulgou uma lista de países investigados por seu Fórum Global que não cumprem padrões internacionais de troca de informações.

AGÊNCIAS DE RATING
O G20 estenderá a supervisão às agências de avaliação de risco, muito criticadas por terem dado atestado de boa saúde a ativos tóxicos.

FMI
Além de aumentar os recursos à disposição do Fundo, o texto reafirma que economias emergentes e em desenvolvimento, incluindo as mais pobres, devem ter mais voz e representação na instituição. Reafirma igualmente que até janeiro de 2011 deve estar completada a reforma das cotas que darão voz a países emergentes.

PROTECIONISMO
O texto repete promessas anteriores de não adotar novas barreiras ao comércio de bens e serviços ou aos investimentos.Promete também não cair em protecionismo financeiro, neologismo para designar o fato de que os bancos com sede nos países ricos retiraram capital dos países em desenvolvimento para cobrir buracos.

AJUDA AOS POBRES
O G20 promete US$ 50 bilhões para apoio à proteção social, estimular o comércio e proteger o desenvolvimento nos países de baixa renda.Adicionalmente US$ 6 bilhões provenientes do FMI serão usados, nos próximos dois a três anos para países pobres.

AMBIENTE
O documento promete uma transição para tecnologias e infraestrutura limpas, inovadoras e eficientes no uso de recursos naturais.Reafirma também o compromisso de enfrentar a mudança climática, com base no princípio de responsabilidades comuns e diferenciadas, ou seja, os países ricos pagarão mais que os outros. Recoloca ainda a decisão de alcançar um acordo na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, a realizar-se em dezembro em Copenhague.
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