Comércio Exterior
a) Resultados
A balança comercial brasileira registrou um superávit de US$ 1,04 bilhão nas três primeiras semanas de março. O número é a diferença entre exportações de US$ 7,99 bilhões e importações de US$ 6,95 bilhões registradas no período.
Pela média diária, as exportações estão 15,5% abaixo do verificado em todo o mês de março do ano passado e no mesmo nível registrado em fevereiro de 2009. Já as importações apresentam retração de 20,3% em relação a 2008 e alta de 6,6% na comparação com o mês passado.
O saldo comercial no mês apresenta queda de 29,3% em relação a fevereiro e alta de 40,5% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Na terceira semana de março (dia 16 a 22), as exportações brasileiras somaram US$ 2,793 bilhões (média diária de US$ 558,6 milhões) e as importações US$ 2,174 bilhões (média diária US$ 434,8 milhões), que garantiram um superávit de US$ 619 milhões.
No ano, as exportações acumularam US$ 27,360 bilhões, com média diária de US$ 506,7 milhões. Esse desempenho foi 20,7% menor que o registrado no mesmo período do ano passado (US$ 639 milhões). As importações totalizaram US$ 25,076 bilhões, com um desempenho médio diário de US$ 464,4 milhões, valor 22,2% inferior ao do mesmo período de 2008 (US$ 596,7 milhões).
O saldo comercial chegou a US$ 2,284 bilhões. Pelo critério da média diária, não houve variação em relação ao desempenho observado no mesmo período de 2008.
b) Setor têxtil brasileiro quer provar para argentinos que os vilões são os asiáticos
O setor têxtil brasileiro está com as contas prontas para comprovar que a culpa pelo aumento nas importações de tecidos e confecções na Argentina não é do Brasil, mas dos asiáticos. Os empresários se reúnem, em Buenos Aires, com seus colegas argentinos para discutir um acordo de limitação voluntária das exportações brasileiras.
A participação do Brasil nas importações argentinas de têxteis caiu de 41,5% em 2005 para 26,7% em 2008. No mesmo período, a fatia de outras origens (a maioria da Ásia) cresceu de 58,4% para 70,6%, conforme a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Em três anos, as importações da Argentina aumentaram 36%, mas, enquanto as compras vindas do resto do mundo subiram 70,6%, as importações do Brasil cederam 12,5%.
Não somos o vilão da história, disse Fernando Pimentel, diretor-executivo da Abit, ao Valor, na sexta-feira da semana passada, quando chegou para o encontro entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), com uma pasta repleta de dados embaixo do braço.
Os empresários brasileiros argumentam que as medidas protecionistas da Argentina provocaram desvio de comércio, prejudicando o Brasil e beneficiando a Ásia. Um levantamento da consultoria Abeceb.com, situada na capital argentina, aponta que a participação das importações de tecidos e fios no consumo da Argentina estava em 26,4% em 2008, sem oscilações significativas desde 2006. Mas os produtos de terceiras origens abocanharam três pontos percentuais do Brasil no intervalo e respondem por 16% do mercado argentino. Na confecção, o elo da cadeia que mais gera emprego, as importações atendem 12,4% do mercado argentino, mas o Brasil possui inexpressivos 1,3%.
A tendência de perda de espaço do Brasil é a mesma até no denim, tecido utilizado para a fabricação de jeans, no qual o share do Brasil no mercado argentino é expressivo. Prejudicadas pelos acordos de limitação e outros mecanismos de proteção, as vendas de denim do Brasil para a Argentina caíram 15,8% entre 2005 e 2008. A fatia do país nas compras do vizinho cedeu de impressionantes 98,7% para 69%. Mesmo assim, as importações de denim da Argentina cresceram 19,8% nos últimos três anos, graças a alta de 31% nas compras vindas de terceiras origens.
Os fabricantes argentinos argumentam que a indústria brasileira é quatro vezes maior que a Argentina e que, apesar do protecionismo, o país acumulou um déficit de US$ 1,38 bilhão com o Brasil entre 2005 e 2008. Segundo a Fundação Pro Tejer, o setor é composto por 30 mil empresas, a maioria micro ou pequena, e emprega 460 mil pessoas, ou 10,5% do total da indústria do país.
Pimentel disse que o setor está preocupado com as negociações desta semana porque as medidas protecionistas da Argentina vão atingir 41% das exportações do Brasil para o país, se o governo de Cristina Kirchner cumprir a promessa de ampliar na quarta-feira a lista de produtos sujeitos a licenciamento não-automático.
Estão na nova lista produtos de cama, mesa e banho. Mesmo sem a aplicação de licenças, esse segmento perdeu participação na Argentina. As exportações brasileiras para o vizinho cresceram 10,3% em relação a 2005, para 7,2 mil toneladas em 2008 - abaixo do recorde de 8,3 mil toneladas em 2006. Apesar do desempenho positivo, a fatia do Brasil nas compras externas da Argentina cedeu de 53% para 43%. As importações da Argentina de cama, mesa e banho subiram 35% no período, impulsionadas pelo avanço de 63% nas compras de outras origens.
Pimentel, da Abit, disse que o setor está disposto a negociar com os argentinos cotas para suas exportações, mas argumenta que os dois países deveriam se unir contra a invasão asiática. Nos últimos anos, o governo argentino conseguiu atrair investimentos de várias empresas brasileiras do setor têxtil, que abriram fábricas no país para fugir das medidas protecionistas.
c) Governo facilita importação de máquinas usadas
Discretamente, o governo removeu, na segunda-feira, com uma portaria do Ministério do Desenvolvimento, um dos maiores obstáculos à importação de máquinas usadas, reivindicada pela indústria nacional. A portaria 77, publicada no Diário Oficial da União de segunda-feira, acaba com a exigência de laudo técnico independente para comprovação do tempo de uso de máquina ou equipamento usado a ser importado no Brasil.
A exigência, que alimentava uma lucrativa atividade de pareceristas privados, passou a ser considerada anacrônica pelo governo, que quer reduzir a burocracia para a compra de máquinas usadas sem similar nacional.
Com o fim da exigência, acaba a norma que impedia a importação de bens com muito tempo de uso e será facilitada a importação de máquinas e equipamentos para remodelagem ou reforma no Brasil. Os laudos para importação, acusados por empresários importadores de causar incerteza e aumentar custos, eram fornecidos por preços que variavam de R$ 3 mil a R$ 10 mil, e sua emissão provocava atrasos no processo de entrada das mercadorias no país.
A medida adotada nesta semana faz parte do esforço do governo para tornar mais simples e transparente o processo de importação de máquinas e equipamentos usados, que continua proibida para mercadorias com similar fabricado no Brasil. Por acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior deve realizar uma consulta pública, em São Paulo, em abril, para aperfeiçoar o projeto de portaria esboçado pelos técnicos.
O projeto prevê algumas exceções para a regra que impede importação de bens usados como similar nacional, entre elas partes e peças usadas destinadas à manutenção de equipamentos de informática e telecomunicações e moldes especiais usados pela indústria de pneus.
Não há intenção no governo, porém, de liberar generalizadamente a compra de máquinas e equipamentos usados do exterior. Bens de consumo usados também continuam com importação proibida. A nova portaria deve ser publicada ainda no primeiro semestre.
A Câmara de Comércio Exterior (Camex), cumprindo o cronograma pré-fixado no Mercosul, reduziu para 92 itens a lista de exceções à Tarifa Externa Comum (TEC) do bloco. Foram retirados da lista principalmente peças de ferro destinadas à indústria ferroviária, que passaram a ser tributadas em 2%. O país poderá ter até 93 itens da lista, e, ao se encerrar o aumento de oferta do trigo, com a safra no país, esse produto deverá ser incluído na lista, segundo a secretária-executiva da Camex, Lytha Espíndola.
d) Vale vai além do cobre em Moçambique
A Vale do Rio Doce poderá se tornar também uma grande geradora de energia em Moçambique, além da mais importante mineradora de carvão mineral do país, com a operação de uma mina no distrito de Moatize, cuja instalação começa hoje. O governo moçambicano estima que a empresa brasileira investirá até US$ 2,8 bilhões na construção de uma térmica movida a carvão, a ser erguida em três ou quatro fases, com potência para gerar entre 1,5 mil megawatts (MW) e 2 mil MW. A informação foi passada pelo ministro de Energia, Salvador Namburete, pela ministra de Recursos Minerais, Esperança Bias, e pelo diretor do CPI (Centro de Promoção de Investimentos), Rafique Jusob.
A mina de carvão da Vale, com capacidade para 11 milhões de toneladas e investimento superior a US$ 1,3 bilhão, tem previsão de ficar pronta em dezembro de 2010. Está desenhada para produzir 8,5 milhões de toneladas de carvão metalúrgico, usado na fabricação de aço, e 2,5 milhões de toneladas de carvão térmico, com finalidade para geração elétrica. Boa parte deste tipo de carvão seria a matéria-prima para a termoelétrica.
Por meio da assessoria de imprensa, a Vale informou que existe um projeto para uma térmica em Moçambique, mas que está ainda na fase de avaliação. Observou que, portanto, nenhum número relativo a cronograma ou investimento está definido. A companhia acrescentou que o projeto será ainda enviado à apreciação do conselho de administração.
O ministro de Energia disse que esse investimento faz parte de um pacote que prevê triplicar a capacidade de geração de energia do país, atualmente de 2,3 mil MW. A maioria da energia seria exportada para países vizinhos, principalmente para a África do Sul. O país vizinho já compra expressiva quantidade da energia gerada na hidrelétrica de Cabora-Bassa, retomada dos portugueses em 2007 por US$ 950 milhões. Outros interessados no insumo são a Namíbia, o Zimbabúe e Botsuana, além do próprio país.
Moçambique se beneficiaria com esses empreendimentos tanto na disponibilidade de energia para atrair investimentos de indústrias eletrointensivas, como fundições de alumínio, de ferro-ligas e fábricas de cimento, quanto na geração de divisas com a venda aos países da região, que convivem com déficit de oferta. Hoje, o país já recebe cerca de US$ 300 milhões ao ano com o excedente exportado de Cabora-Bassa.
Além do projeto da Vale, Namburete mencionou uma térmica da australiana Riversdale, estimada em US$ 1,5 bilhão, e duas novas hidrelétricas. Uma delas, em estágio de estudos avançados, é tocada pelo grupo brasileiro Camargo Corrêa. A outra refere-se à construção de Cabora-Bassa Norte, que encontra-se na fase de estudos e foi preliminarmente orçada em US$ 1 bilhão.
O projeto da Camargo Corrêa no rio Zambesi - segundo maior da África - está previsto para gerar 1,5 mil MW, podendo atingir 2,3 mil MW numa segunda etapa. A hidrelétrica de Mphanda Nkuwa, segunda informação do grupo, tem investimento previsto nessa primeira fase de US 1,5 bilhão e o projeto encontra-se na fase de estruturação do Project Finance. Está prevista a venda de cerca de 70% a 80% da energia para o mercado sul-africano. No momento, a Camargo negocia um contrato de pré-venda (o PPA) com a Eskon, companhia elétrica da África do Sul. Associado à usina, há uma linha de transmissão de mais de 1.200 quilômetros, orçada em US$ 1 bilhão de investimento adicional.
Com a mina de carvão de Moatize, a Vale busca tornar-se também uma empresa global no negócio de carvão, assim como suas rivais em minério de ferro - as australianas Rio Tinto e BHP Billiton. Esse time é composto ainda pela sul-africana Anglo American e pela suíça Xstrata. Essas companhias produzem os dois tipos de carvão. A BHP, maior mineradora do mundo em valor de mercado, por exemplo, produziu no segundo semestre do ano passado 35,3 milhões de toneladas de carvão térmico e quase 20 milhões do metalúrgico. Os dois produtos renderam, juntos, receita superior a US$ 9 bilhões.
A Rio Tinto é a líder nesse segmento, com produção de 160 milhões de toneladas em 2008. A Anglo extraiu 99,5 milhões de toneladas e a Xstrata pouco mais de 85 milhões. A BHP informa que é a maior comercializadora no mercado mundial de carvão metalúrgico.
O projeto de Moatize, na província de Tete, em Moçambique, é o maior da brasileira, que já opera minas na Austrália e tem parcerias na China e atividades em desenvolvimento na África do Sul. No ano passado, com vendas de pouco de 4,1 milhões de toneladas dos dois tipos de carvão, a Vale obteve receitas de US$ 577 milhões.
Moatize é um projeto que integra mina e ferrovia a um terminal portuário de terceiro no litoral do Oceano Índico, na cidade de Beira, na província de Sofala. A ferrovia tem 600 quilômetros de extensão. A reserva mineral, uma das maiores do mundo, poderá permitir programas de expansão no futuro. Apenas em ações sócio-ambientais, desde a fase de estudos de pré-viabilidade, até o fim da vida útil da mina, previsto em 35 anos, estão orçados investimentos de US$ 170 milhões. São projetos nas áreas de educação, saúde, lazer, esportes, qualificação de pessoas para desenvolvimento de atividades sustentáveis e o reassentamento de 1.047 famílias que hoje vivem na área de extração do minério.
O carvão da Vale terá como destino comercial o Brasil (que é 100% importador do tipo metalúrgico, com 13 milhões de toneladas em 2008), países da Ásia, Oriente Médio e Europa. No ano passado, o carvão usado na siderurgia teve alta de 220% no preço, passando a valer mais de US$ 300 a tonelada. Para 2009, com a crise financeira global, as primeiras negociações indicam queda de 60%. O térmico sinaliza retração de até 50%.
Agronegócio
a) Após perdas, soja tem maior valorização semanal de 2009
O preço da soja no mercado internacional permanece em um patamar inferior ao registrado na virada de 2008 para 2009, mas deu na semana passada novos sinais de fortalecimento. O movimento ocorre mesmo no período de colheita nas lavouras de Brasil e Argentina, dois dos maiores produtores mundiais do grão.
A alta acumulada entre segunda e sexta-feira foi a mais forte no período de uma semana registrada neste ano na bolsa de Chicago. Os contratos de segunda posição de entrega, normalmente os de maior liquidez, avançaram 8,27% na semana, segundo o Valor Data.
Os papéis para julho, atualmente os de segunda posição de entrega, fecharam a sexta-feira negociados por US$ 9,49 por bushel. Em março, a alta dos papéis de segunda posição é de 8,83%. No ano, em contrapartida, a queda é de 3,16%. Além do café, a soja foi a única entre as oito principais commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no mercado internacional a fechar em alta todos os dias da semana passada.
No momento, os fundamentos de oferta e demanda têm sido menos decisivos para os preços da soja, segundo Daniele Siqueira, analista da Agência Rural. O anúncio do Fed [Federal Reserve, o banco central americano] de injeção de dinheiro na economia teve maior influência sobre os preços, disse. A indecisão sobre as tarifas de exportação na Argentina - para barrar o imposto para embarques, os produtores ameaçam não vender ao exterior - também tem elevado os preços, segundo a analista.
A soja teve semana de valorização também no mercado interno. Na BM&FBovespa, os contratos de segunda posição subiram 7,10% no período, para US$ 21,28 por saca - em março, a alta é de 9,13%. Em Rondonópolis (MT), o pico do preço da saca de 60 quilos foi de R$ 40,50, segundo a Agência Rural. Na semana anterior, havia sido de R$ 39.
b) Comércio de açúcar nas mãos do Brasil
Relegado a segundo plano nos últimos quatro anos por conta do boom de investimentos em etanol, o açúcar volta a ser a grande aposta do setor sucroalcooleiro para a safra 2009/10. A participação do Brasil nas exportações de açúcar deverá saltar dos atuais 42,35% no ciclo 2008/09 para 50% do mercado na nova safra, segundo a Datagro.
Como o horizonte para o álcool combustível não está nada animador no curto prazo, com preços em queda mesmo durante a entressafra, as usinas do Centro-Sul deverão aumentar a produção de açúcar de olho no mercado internacional, uma vez que a Índia, segundo maior produtor e maior consumidor mundial, deverá elevar suas importações nos próximos meses.
Enquanto os preços do álcool hidratado amargam queda de 13,2% desde o início do ano, as cotações do açúcar no mercado interno acumulam valorização de 48,7%, segundo levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
O mix de produção das usinas do Centro-sul na próxima safra está estimado em 56,5% para o etanol e 43,5% para o açúcar. No ciclo atual, que se encerra neste mês, ficou em 59,1% para o álcool e 40,9% para o açúcar, afirmou Guilherme Nastari, da Datagro. Segundo Nastari, a lacuna deixada pelo álcool será ocupada pelo açúcar, voltado para o exterior.
Segundo Paulo Roberto de Souza, diretor comercial e logística da Copersucar, a participação do Brasil nas exportações globais de açúcar deverão atingir até 60% em 2020, considerando um crescimento mundial de 2% ao ano da produção da commodity. A Índia vai deixar de exportar 5 milhões de toneladas no mercado e o Brasil está abocanhando o espaço deixado pela União Europeia por conta da reforma açucareira feita pelo bloco, disse. Souza participou ontem da 5ª Conferência Internacional promovida pela consultoria alemã F.O. Licht.
Nos últimos anos, o Brasil elevou suas exportações de álcool combustível. Mas, nessa próxima safra, deverá sofrer um retrocesso por conta do desaquecimento da demanda global pelo combustível. Para Francisco Vassellucci, diretor da Adeco Agro, o horizonte no curto prazo para o álcool ainda não é animador. O recuo dos preços do petróleo e da gasolina tirou a competitividade do etanol.
Segundo Christoph Berg, diretor da F.O. Licht, os preços do açúcar em Nova York deverão se manter nos patamares de 13,5 centavos de dólar por libra-peso nos próximos meses, mas podem alcançar até 16 centavos, dependendo do movimento da Índia no mercado.
Os embarques de álcool deverão recuar dos 5,05 bilhões de litros em 2008/09, para algo em torno de 3,75 bilhões em 2009/10; enquanto as exportações de açúcar deverão saltar dos 19,53 milhões de toneladas para 23,4 milhões de toneladas no mesmo período, segundo a Datagro.
Tarcilo Rodrigues, presidente da trading Bioagência, concorda que o açúcar será a salvação da lavoura na próxima safra, mas lembra que o álcool deverá recuperar logo a competitividade. Os preços do petróleo recuaram, mas voltaram a subir rapidamente.
O barril do petróleo WTI fechou a US$ 55,63 (segunda posição), com alta acumulada de 14,4% desde o início do ano. segundo levantamento do Valor Data. O barril atingiu sua alta histórica em 3 de julho do ano passado, de US$ 145,86. Mas chegou a sua cotação mínima em 18 de fevereiro, em US$ 37,41.
Mercosul
a) Presidentes divergem sobre adoção de medidas protecionistas
O clima era de camaradagem e celebração no encontro dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, na sexta-feira, em São Paulo. Ainda assim, ficaram evidentes as divergências entre os dois sobre a adoção de medidas protecionistas para combater os efeitos da crise global.
Ao ser questionada pela imprensa sobre o tema, Cristina argumentou que medidas de proteção estão de um lado e de outro, que o Brasil desvalorizou a moeda e que os Estados concedem benefícios tributários. Pretender que uma licença não-automática para não aprofundar esse déficit comercial monstruoso se trata de uma medida protecionista é um exercício de reducionismo, disse.
Lula respondeu que não vê contradição entre sua campanha global contra o protecionismo e a paciência com a Argentina, e escolheu como o exemplo o conturbado episódio da adoção licenças de importação (o mesmo artifício da Argentina), o que acabou ressaltando as diferenças com Cristina.
Quando a Argentina tomou a decisão de prolongar a liberação das exportações (brasileiras), o Miguel Jorge (ministro do Desenvolvimento) e o Guido Mantega (Fazenda) tomaram a mesma medida, mas determinei que voltassem atrás, porque não era essa a lógica, disse Lula. A lógica é fazer exatamente o que acontece aqui hoje. Ou seja, os empresários conversaram, completou.
É engano, porém, imaginar que isso significa uma postura mais dura com a Argentina. Pelo contrário. Lula frisou que as medidas argentinas são normais e fez vários gestos de boa-vontade . Ele prometeu encontrar o burocrata que impede a vendas de vacinas argentinas no país; transformar de protocolo em dinheiro o convênio do Banco de La Nación com o BNDES; e pediu aos empresários locais que se associem aos argentinos para as licitações da Petrobras.
Era evidente o esforço dos presidentes e de suas diplomacias para esquecer o atrito comercial, inclusive com brincadeiras sobre o recorde de 500 empresários argentinos em São Paulo, mas o tema esteve presente em todos os discursos e nas rodas dos empresários.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, manteve a promessa de ser bom anfitrião, mas frisou que não podemos aceitar desvio de comércio. O presidente da União da Indústria Argentina (UIA), Juan Carlos Lascurain, disse que seu país segue no caminho da reindustrialização e pediu a compreensão do Brasil.
b) Argentina vai propor mudança em regras do acordo automotivo
A Argentina está pressionando o Brasil por mudanças no acordo automotivo, que permitam atrair investimentos e incentivar a produção de partes e peças. O vizinho quer alterar as regras de nacionalização de veículos do Mercosul e garantir um percentual fixo de fornecimento para fábricas locais.
Pelo acordo atual, 60% das peças dos carros que circulam nos países do Mercosul sem pagar tarifa de importação devem ser produzidas no bloco, mas não há exigências em relação ao país. O assunto está em discussão no governo argentino, mas a tendência é um pleito de que 30% a 40% das peças nacionais sejam feitas naquele país.
A Argentina colocará o assunto em discussão na quarta-feira, quando empresários dos dois países se reúnem em Buenos Aires para discutir acordos de limitação das exportações brasileiras de alguns produtos, informou uma fonte do governo argentino. Entre os setores envolvidos, estão as autopeças. Fontes do setor privado e do governo do Brasil confirmaram o pleito dos argentinos.
O governo argentino argumenta que possui um déficit estrutural com o Brasil no setor automotivo, que chegou a US$ 2,7 bilhões em 2008, por conta do comércio de autopeças, responsável por 62% do total (US$ 1,7 bilhão). Em veículos, o resultado foi mais equilibrado com déficit de US$ 300 milhões. Embora a Argentina venda menos carros ao Brasil que o contrário, os modelos são mais caros.
As montadoras e as fabricantes de autopeças, com o apoio do governo brasileiro, são contra qualquer modificação nas regras do acordo automotivo, que foi renegociado em junho de 2008 e vigora até 2013. O argumento das empresas é que as vendas no mercado argentino não garantem escala suficiente para maior produção local de peças com os custos atuais.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes dos Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, disse que não recebeu oficialmente o pedido, mas ressalta que é complicado modificar um acordo negociado há poucos meses. A Argentina atraiu muitos investimentos. Devemos manter esse ritmo de caminhada que está dando certo, disse.
Para uma fonte do governo brasileira, a demanda da Argentina é irrealista. É muito difícil atrair investimentos na crise. Se o mercado argentino já não justificava uma fábrica nova, imagine agora com queda maciça nas vendas de carros, disse. Na equipe da presidente Cristina Kirchner, a principal defensora da ideia é a ministra da Produção, Débora Giorgio.
Os empresários ressaltam que boa parte das autopeças vendidas para o sócio do Mercosul retorna ao Brasil, que absorve 60% dos veículos exportados pelos argentinos. Também existem dúvidas no setor privado se a Argentina cumpre as atuais regras de origem, já que o Brasil responde por 40% das autopeças importadas pelo país e o restante vem da Europa. Na Argentina, o mercado de reposição absorve apenas 10% das importações de autopeças.
A sugestão do Brasil é tentar resolver o problema com acordos de limitação de exportação em autopeças específicas, que sejam sensíveis para as indústrias argentinas. Três produtos estão em discussão: freios, embreagens e baterias. No último caso, um acordo de restrição de exportações está em vigor nos últimos anos e seria renovado.
O setor privado e o governo brasileiro dizem que o impacto da crise esvazia o argumento argentino, porque o comércio no setor automotivo agora caminha para o equilíbrio. O fluxo bilateral despencou nas duas mãos, mas as exportações brasileiras caíram mais. Em janeiro e fevereiro, as vendas do Brasil para a Argentina no setor automotivo recuaram 56%, enquanto as importações cederam 36%. Resultado: o saldo minguou de US$ 485 milhões no primeiro bimestre de 2008 (equivalente a 46% das exportações) para US$ 97 milhões (21% das exportações).
A mudança ocorreu porque o mercado argentino de veículos sofreu mais com a crise que o brasileiro. No vizinho, as vendas de carros caíram 35% no primeiro bimestre do ano em relação a igual período de 2008, enquanto, no Brasil, a baixa foi de 4,5%. É pior para a economia da Argentina, mas prejudica as exportações brasileiras.
O mercado interno de veículos do Brasil começou a se recuperar em fevereiro, graças à redução do IPI, o que ajuda a sustentar a produção das montadoras no Brasil e na Argentina, porque também beneficia as importações vindas do sócio do Mercosul. O governo argentino também concedeu benefícios fiscais para a venda de carros, mas não foi bem-sucedido.
O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, disse que não tem segurança se o pleito argentino no setor de autopeças será discutido nesta quarta-feira ou na próxima semana em Brasília. Ele ressaltou que o flex diferenciado foi feito para reduzir as assimetrias. Pelo flex atual, o Brasil poderia exportar US$ 1,95 para cada dólar que importa da Argentina. O limite argentino é maior: US$ 2,50.
Nunca existiu livre comércio de veículos e peças entre os dois sócios do Mercosul. Desde o início, o acordo automotivo regulou as trocas e foi seguidas vezes renovado, com diferentes mudanças. Segundo uma fonte do setor de autopeças, a garantia de conteúdo argentino, que a ministra Debora Giorgio tenta implantar agora, já esteve em vigor no passado.
c) Ruralistas argentinos recomeçam confronto
Os produtores rurais argentinos voltaram às estradas em protesto contra os impostos sobre as exportações de soja. O movimento começou sábado, vai durar uma semana e pretende interromper a comercialização de grãos e carne. Só caminhões com leite, frutas e hortaliças estão autorizados a passar pelos piquetes armados pelos agricultores com tratores, máquinas agrícolas, pneus, cordas e animais.
Os produtores retomam o protesto exatamente um ano depois do primeiro locaute, em março de 2008, quando eles fecharam estradas em várias localidades pelo mesmo motivo: querem o fim da cobrança de 35% em direitos de exportação (retenções) sobre a venda de soja. Ontem havia interrupção do trânsito nas estradas de quatro províncias (Santa Fé, Chaco, Entre Rios e Córdoba). A Rodovia do Mercosul, que fica na província de Entre Rios, por onde passa a maior parte dos caminhões carregados com mercadorias do Brasil e do Uruguai chegou a ser interrompida pela manhã e cerca de 60 caminhões uruguaios ficaram parados, mas à tarde foi liberada.
O movimento - que este ano ainda não está tão forte quanto em 2008 - conseguiu baixar drasticamente o volume de negócios nos principais centros de comercialização agrícola do país: o Mercado de Liniers, em Buenos Aires, e o complexo portuário de Rosário, na Província de Santa Fé. No Mercado de Liniers, por onde passa praticamente todo o gado que vem do interior para venda na capital, a entrada de animais se limitava a 190 cabeças no domingo à noite, quando em situação normal entram pelo menos 4 mil cabeças, segundo informou o jornal Clarín. Em Rosário, onde está situado um dos maiores portos de escoamento de grãos do mundo, na beira do Rio Paraná, o movimento de caminhões carregados de grãos baixou de uma média de quatro mil diários para apenas 764, de acordo com o Departamento de Estudos Econômicos da Bolsa de Rosário.
O governo da presidente Cristina Kirchner não admite baixar as retenções, sob o pretexto da necessidade de garantir o equilíbrio fiscal do Tesouro, diante da forte queda da arrecadação, devido à crise internacional e à desaceleração da economia interna. No entanto, na sexta-feira a presidente anunciou que dividiria 30% das retenções com as províncias, o que colocou em xeque o argumento do equilíbrio fiscal e foi recebido pelos produtores quase como uma declaração de guerra.
O acirramento da crise tem efeitos concretos na frustração da produção agrícola argentina, alerta o economista Alejandro Ovando, diretor da IES Consultores. Em um informe divulgado, em que analisa o desempenho econômico do setor agrícola em 2008, a IES estima uma queda de 24% da safra 2008/2009 comparada à colheita anterior, para um total de 72,7 milhões de toneladas. Ovando diz que o motivo da queda é a crise política campo-governo que levou a forte redução na área plantada. Ao ambiente de desestímulo ao investimento, se somou a seca que atingiu o país entre novembro e janeiro, a pior em 50 anos.
Ainda de acordo com o levantamento da IES, o setor agrícola está sendo prejudicado também pelo front externo, com a crise financeira internacional que derrubou os preços das commodities num primeiro momento e agora faz cair também os volumes de venda. Em 2008, as exportações agrícolas da Argentina totalizaram US$ 26,8 bilhões, com crescimento de 31,3% comparado a 2007. Esse desempenho se deveu basicamente à alta de preços registrada no primeiro semestre, já que em quantidade, o país vendeu 5% menos ao exterior.
Organização Mundial do Comércio (OMC)
a) Comércio mundial terá retração de 9%, diz OMC
O comércio mundial cairá 9% por causa da crise econômica em 2009, sua maior baixa desde a Segunda Guerra Mundial, segundo um relatório divulgado pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
A contração nos países desenvolvidos será particularmente severa e haverá uma queda de 10% nas exportações, disse o relatório.
Para os países em desenvolvimento, o retrocesso será entre 2% e 3%, embora a OMC informe que o crescimento destas nações depende muito mais do comércio que o das economias desenvolvidas.
Nos últimos meses de 2008, começaram a aparecer sinais de uma forte deterioração do comércio, com a desaceleração da demanda e o ritmo mais lento da produção, segundo o estudo.
Por isso, embora o comércio mundial tenha aumentado 2% em volume no ano de 2008, nos seis últimos meses seu crescimento caiu, ficando muito abaixo dos 6% de aumento no mesmo período de 2007.
Em 2008, o valor em dólares (que inclui variações dos preços e oscilações das taxas de câmbio) das exportações mundiais de mercadorias cresceu 15%, para US$ 15,8 trilhões, enquanto as exportações de serviços comerciais aumentaram 11%, aos US$ 3,7 trilhões.
O esgotamento dos fundos disponíveis para financiar o comércio contribuiu para a forte queda dos fluxos comerciais, especialmente nos países em desenvolvimento, afirmou o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy.
O relatório assegura que um aspecto notável da atual desaceleração do comércio mundial é seu caráter sincronizado, porque os números mensais das exportações e importações das principais economias desenvolvidas e em desenvolvimento caíram paralelamente desde setembro de 2008.
Embora destaque como exceção a esta queda generalizada algumas economias da Ásia, onde foram registrados números positivos do crescimento mensal das importações em países como China, Cingapura, Taiwan e Vietnã.
b) OMC prevê maior queda do comércio desde a 2ª Guerra
O comércio mundial terá em 2009 a maior queda desde o fim da 2ª Guerra Mundial, enquanto as medidas protecionistas se proliferam. O alerta é da Organização Mundial do Comércio (OMC), que divulgou relatório com previsão de queda de 9% no volume de importações e exportações. A falta de demanda e o recuo nas linhas de crédito afetará economias em todo o planeta.
Para o Brasil, as projeções são sombrias. Com a queda nos preços de commodities e a retração dos mercados da Europa e dos Estados Unidos, as previsões são de que o País deve ser um dos mais afetados.
A OMC classifica a queda mundial como colapso e alerta que os países emergentes sofrerão redução de até 3% nas exportações em 2009. Para os países ricos, a queda será de 10%. Para Pascal Lamy, diretor da OMC, a reunião do G-20 em Londres, será uma oportunidade para que as maiores economias mostrem compromisso contra o protecionismo. O comércio pode ser uma ferramenta poderosa para levantar a economia mundial.
Em valores, as quedas de exportações são profundas, chegando a mais de 40% para países como Coreia do Sul e Japão. A OMC ainda anunciou revisão dos dados de 2008. A expansão não foi de 4,5%, como se previa, mas de apenas 2%. Para 2009, a previsão era de queda de 3%. Agora, verifica-se que a crise é mais profunda. Em 2007, a expansão do comércio foi de 6%. A média entre 1998 e 2007 foi de 5,7% de crescimento.
Em dólares, as exportações atingiram US$ 15,8 trilhões, 15% acima de 2007. Parte da alta ocorreu apenas pela alta dos preços de commodities. Agora, a queda do comércio deve atingir os países que mais dependiam de mercados externos. Em algumas economias, o comércio exterior significa mais de 50% do PIB, como na Ásia.
Segundo Lamy, o comércio superou o crescimento do PIB nos últimos 30 anos. Mas a queda da demanda mundial está tendo efeito multiplicador nas exportações. Para completar, a falta de US$ 100 bilhões em linhas de crédito está tornando o comércio de países em desenvolvimento ainda mais difícil. Se a crise for ainda pior, a OMC não descarta rever novamente os números.
O impacto direto da queda das exportações é o aumento do desemprego. Governos precisam evitar que a situação fique ainda pior. Por isso, não devem usar medidas protecionistas, sob o risco de perder ainda mais empregos, disse Lamy.
A previsão da OMC é baseada numa queda da economia mundial de 1% a 2% em 2009. Essa é a primeira queda no total da produção mundial desde 1930 e tem um impacto maior no comércio, diz o relatório.
A OMC admite que os países emergentes não sairão ilesos da crise. Nem a China será poupada. Janeiro registrou a pior queda do comércio do país desde o início da abertura da China para o mundo, há 25 anos. Em fevereiro, a queda foi de 26%.
c) Protecionismo ameaça recuperação, diz OMC
Governos não estão resistindo às pressões protecionistas e a criação de barreiras pode reduzir o impacto dos planos de recuperação da economia mundial. O alerta é da Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo a OMC, pacotes para relançar as economias ameaçam criar distorções graves e a proliferação de barreiras viola as promessas do G-20, de não ceder ao protecionismo.
Quanto ao Brasil, o País foi o segundo em todo o mundo que mais medidas antidumping iniciou contra produtos importados nos últimos seis meses.
Em levantamento enviado ontem a governos com o objetivo de preparar o debate na cúpula do G-20, a OMC deixa claro que os pacotes dos países ricos para apoiar suas indústrias terão efeitos nocivos para o comércio. Para a entidade, governos precisam entender que parte do efeito de um plano de relançamento da economia seria anestesiado pelas medidas protecionistas.
A OMC admite que muitos governos estão sob pressão de lobbies internos e medidas defensivas que seriam temporárias podem se tornar permanentes. A entidade destaca que, nos primeiros meses da crise, houve alguma resistência ao protecionismo, mas os governos já estariam capitulando. Houve um aumento de tarifas, medidas não-tarifárias e maior uso de medidas de defesa comercial.
Segundo a entidade, não há risco de um protecionismo de alta intensidade. Mas o perigo hoje são as restrições que poderiam lentamente estrangular o comércio internacional e minar a eficiência de políticas para aumentar demanda.
O temor da OMC é de que o impacto de todas essas medidas seja uma queda ainda maior do comércio. A previsão é de retração de 9% em 2009.
Um dos pontos de maior preocupação é o impacto dos pacotes de socorro criados principalmente pelos países ricos. Os planos - que já somam 43 em todo o mundo - podem ter impacto positivo e promover o comércio. Mas a OMC admite que alguns deles estão promovendo a discriminação entre produtos estrangeiros e nacionais. Diante de seus tamanhos, os novos pacotes têm o potencial de distorcer o comércio mundial.
Dois setores têm visto crescerem os subsídios: siderurgia e automóveis. Para a OMC, essas ações podem ser distorcivas e os subsídios seriam uma forma de governos protegerem suas indústrias. As medidas ainda prolongariam as operações de empresas ineficientes, além de impedir a concorrência de companhias estrangeiras. No setor automotivo, 12 países adotaram medidas de promoção de consumo ou da produção, entre eles o Brasil. No setor siderúrgico, 11 países adotaram medidas, a maioria protecionistas.
Plano Internacional
a) Crise já ameaça reduzir a oferta futura de petróleo
A freada nos investimentos em produção de petróleo e gás pode eliminar quase 8 milhões de barris diários da oferta futura prevista, criando as condições para uma nova alta expressiva nos próximos anos, segundo um novo estudo.
A crise mundial de crédito e a queda na cotação do petróleo prejudicaram as finanças das petrolíferas, forçando muitas delas a cortar as despesas de capital e adiar projetos. Isso pode ter graves consequências para a oferta quando a recessão mundial acabar e a demanda por combustíveis se recuperar, afirma o relatório da consultoria Cambridge Energy Research Associates, ou Cera, que prevê redução do ritmo de investimento também nas águas profundas do Brasil.
Antes de a crise econômica se abater sobre o mundo, a Cera previu que a capacidade mundial de produção aumentaria para 109 milhões de barris diários até 2014, ante os atuais 94,5 milhões de barris diários.
Agora, a consultoria afirma que, desse aumento, 7,6 milhões de barris - ou pouco mais da metade da previsão - estão sob risco devido a adiamentos e cancelamentos de projetos.
O relatório afirma que a redução de capacidade é uma consequência potencialmente poderosa e duradoura da queda do petróleo ano passado, quando em questão de meses o barril caiu mais de dois terços depois de atingir o recorde de US$ 147. Atualmente o petróleo está em torno de US$ 53 o barril.
Um colapso desta magnitude na cotação realmente é algo que se registra na escala Richter, e seu impacto sobre os níveis de investimento no futuro será sentido durante anos, disse o presidente da Cera, Daniel Yergin, em entrevista ao Wall Street Journal. O relatório foi divulgado ao mesmo tempo em que surgem amplas evidências de que as empresas estão cortando investimentos em projetos mais dispendiosos, como as areias betuminosas do Canadá ou as águas profundas do oeste da África.
Os Exportadores do Oriente Médio, atingidos pela queda na receita, diminuíram os planos de investimento. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) afirma que até 35 projetos em países que integram o cartel podem ser adiados para depois de 2013. As grandes petrolíferas dos países ricos dizem que vão manter os investimentos mais importantes, mas até mesmo elas já deram a entender que vão diminuir o ritmo de alguns projetos para se beneficiar da queda de custos.
A desacelerada geral é vista como problemática para a Agência Internacional de Energia (AIE), organização sediada em Paris e formada principalmente por países importadores, que também diminuiu sua previsão para expansão da oferta devido à queda na cotação e à falta de crédito.
O vice-diretor executivo AIE, Richard Jones, disse durante uma conferência em Londres esta semana que, por ora, mais de 2 milhões de barris diários em nova capacidade de produção que deveriam entrar no mercado nos próximos anos foram aparentemente adiados.
Até que um número suficiente de empresas tenha a vontade e a capacidade financeira de investir mesmo com a baixa, há um risco real de que o crescimento da oferta possa não acompanhar a eventual recuperação da demanda, causando uma alta substancial nos preços - possivelmente já este ano, disse Jones.
A Cera informou que agora espera que um número substancial de projetos em Angola, Nigéria, Golfo do México e nas águas profundas do Brasil, assim como nas areias betuminosas do Canadá e no petróleo pesado da Venezuela, difícil de explorar, devam ser adiados ou cancelados, diante da baixa cotação da commodity.
A consultoria inglesa também aponta, entretanto, que a expectativa de queda nos custos do setor este ano deve reduzir a cotação mínima necessária para justificar o investimento em projetos considerados tão caros.
Alguns projetos no Reino Unido e na Noruega também são vistos como vulneráveis, já que o aperto de crédito vem prejudicando o acesso das empresas ao capital.
Outros projetos de alto custo, como os de novos biocombustíveis ou que tentam transformar gás natural e carvão em combustíveis limpos para uso em transportes, também devem ser afetados, afirma o relatório da Cera.
A consultoria temperou suas previsões de oferta apertada com alguma incerteza sobre a velocidade da recuperação na demanda mundial depois da recessão. Se ela não começar a se recuperar ano que vem, como muitos preveem, o mercado de petróleo pode arcar com um grande excesso de produção durante vários anos.
As políticas governamentais para combater o efeito estufa e diminuir o desperdício de energia também podem amainar o apetite dos países ricos pelo petróleo, afirma o relatório.