15 a 19 de outubro de 2007

Comércio Exterior

Resultados
País já exporta mais manufaturados para UE do que para EUA
Brasil deve liderar exportações à China
Lula pede empenho de empresários para bater China na África

Agronegócio

Qualidade da nossa carne bovina é indiscutível", garante Stephanes
Comissária da UE defenderá fim de subsídio a biocombustível no bloco
Exportação de carnes
Acordo inédito sana conflito em Santa Catarina
Seca afeta produção de cana da safra 2008/09

Mercosul

Políticos e empresários do Nordeste e Norte querem Venezuela no Mercosul
Paraguai não aparece para debater flexibilidade

OMC

Investigação sobre veto a pneu usado abre nova fase de disputas na OMC
Nos bastidores da OMC, países travam guerra
OMC confirma vitória do Brasil em disputa
Fórum de Pretória prevê acordo em Rodada
Disputa na OMC pela resina PET pode ser suspensa

Plano Internacional

Opep não tem planos para elevar a produção
FMI prevê crescimento menor em 2008
Inflação americana
Petróleo vai a novo recorde e se aproxima dos US$ 90




Comércio Exterior

a) Resultados

O saldo da balança comercial ficou positivo em US$ 1,060 bilhão na segunda semana de outubro. O resultado é a diferença entre as exportações de US$ 3,010 bilhões e as importações de US$ 1,950 bilhão entre os dias 8 e 14. Pelo movimento da média diária as vendas de produtos ao exterior totalizaram US$ 752,5 milhões e as compras, US$ 487,5 milhões. Já no acumulado do mês, o superávit comercial está em US$ 1,543 bilhão, sendo que as exportações somam US$ 6,353 bilhões e as importações, US$ 4,810 bilhões.

As médias diárias estão em, respectivamente, US$ 705,9 milhões e US$ 534,4 milhões, resultados que representam crescimentos de 16,8% e 28,4% sobre outubro de 2006. No acumulado do ano, o saldo comercial está em US$ 32,490 bilhões, valor 10,6% menor que o registrado no mesmo período do ano passado (US$ 36,345 bilhões).

A compra de produtos importados cresce a um ritmo superior ao das exportações. Até a segunda semana de outubro, as importações somam US$ 90,462 bilhões, um crescimento de 29%. Já as exportações totalizam US$ 122,952 bilhões, uma elevação de 15,5%.

b) País já exporta mais manufaturados para UE do que para EUA

As exportações de produtos manufaturados para a União Européia ultrapassaram as vendas para os Estados Unidos, tradicional cliente do país nessa categoria. Com a desaceleração da economia americana e a valorização do real, os exportadores brasileiros buscam alternativas e aumentam os embarques para clientes europeus, latino-americanos, árabes e africanos.

De janeiro a setembro deste ano, em comparação com igual período de 2006, as vendas de produtos industrializados para os europeus atingiram US$ 11,984 bilhões, pouco acima dos US$ 11,859 bilhões embarcados para os americanos, conforme a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). As vendas recuaram 6% para os EUA e subiram 29% para a UE no período.

É a primeira vez que o Brasil vende mais manufaturados para a União Européia do que para os Estados Unidos nos últimos 20 anos. Desde 1987 - período mais antigo disponível na base de dados da Secex - isso não ocorria. Em 2006, o país embarcou US$ 16,6 bilhões de produtos industrializados para os americanos, acima dos US$ 12,9 bilhões vendidos aos europeus. Em comparação com 2005, as vendas para os EUA cresceram 3,8%, enquanto as exportações para a Europa avançaram 19%.

c) Brasil deve liderar exportações à China

O Brasil deve se tornar, em três anos, o maior exportador de celulose à China, desbancando a Indonésia. A previsão foi feita por Ming Chung Liu, principal executivo da Nine Dragons Paper, a maior fabricante de papéis da China.

"A China usa cada vez mais a celulose de eucalipto que até pouco tempo ninguém usava. As expansões de capacidades em curso no Brasil e Uruguai vão ser facilmente absorvidas pela China", afirmou Liu, nascido em Taiwan e que declara ter coração brasileiro por ter vivido 15 anos no país, onde se formou como dentista.

A Nine Dragons, criada no início dos anos 90 por Liu e a mulher, Yan Cheung, não é uma grande compradora de celulose de eucalipto do Brasil. Na verdade, sua principal matéria-prima é o papel reciclado. Ela é uma grande fornecedora de caixas de papel às grandes empresas, como Nike e Sony, fabricantes de bens de consumo na China. No entanto, Liu deixou uma mensagem positiva aos produtores brasileiros: "A Nine Dragons comprará mais celulose do Brasil."

d) Lula pede empenho de empresários para bater China na África

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou guerra à China na disputa pelo mercado africano e pediu mais iniciativa dos empresários brasileiros na disputa com a concorrência chinesa. "Os empresários precisam perceber que eles têm um mercado potencial, sem abdicar do que já foi conquistado", disse, reclamando de que as empresas erram ao concentrar excessivamente os esforços nos mercados da Europa e dos Estados Unidos, onde a concorrência "é muito mais acirrada".

Lula encerrou por Angola a sua visita de quatro dias a quatro países africanos. Ele começou na segunda-feira em Burkina Fasso, noroeste do continente africano, desceu um pouco até a República do Congo, foi ao extremo sul para a reunião de cúpula do Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (Ibas) e subiu novamente para fechar a viagem em Luanda.

Enquanto nas visitas anteriores a ênfase maior foi na busca de apoio para a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, abrindo novas vagas de membros permanentes, uma delas para o Brasil, e nas negociações comerciais da Rodada Doha, na capital angolana o presidente concentrou os esforços em mostrar aos empresários brasileiros que eles têm, no processo de reconstrução do país, devastado por uma guerra civil de 27 anos (1975-2002), uma grande oportunidade de negócios.

Lula anunciou que a linha de crédito do BNDES para financiar exportações de bens e serviços de empresas brasileiras para Angola está sendo renovada agora com recursos de US$ 1 bilhão. Esse número representa um aumento de 33,3% sobre os US$ 750 milhões aprovados em 2005 e eleva a US$ 2,225 bilhões o valor acumulado da linha, uma vez que em 2005 ela havia sido de US$ 475 bilhões. Segundo Lucienne Ferreira Machado, chefe do Departamento de Comércio Exterior 2 do BNDES, da linha de 2007 já foram contratados US$ 725 milhões. A prioridade para receber os recursos é dada pelo governo angolano.

Agronegócio

a) Qualidade da nossa carne bovina é indiscutível", garante Stephanes

O ministro da agricultura Reinhold Stephanes, em Bruxelas, deve enfrentar questionamentos de parlamentares europeus em relação à sanidade da carne bovina brasileira, disse estar "totalmente confiante" de que a União Européia não vai embargar o produto. "Não há razão pra isso. A qualidade de nossa carne é indiscutível", afirmou o ministro no último sábado na Anuga, maior feira do setor de alimentos do mundo que acontece em Colônia (Alemanha).

Os parlamentares europeus estão sendo pressionados por pecuaristas da Irlanda e do Reino Unido para proibir a entrada da carne brasileira na UE sob a alegação de falhas no controle sanitário e na rastreabilidade do rebanho bovino do Brasil. Além dos parlamentares, o ministro vai se encontrar com o comissário de saúde da UE, Markos Kyprianou, que tem defendido a carne brasileira mas que, na semana passada, pressionado pelos parlamentares, disse que se os controles definidos pela UE não forem implementados até o fim do ano, haverá embargo.

Stephanes disse que vai mostrar aos deputados europeus que apóiam os irlandeses - seriam "28 entre 500 e poucos" - "a falta de apoio na realidade do discurso deles", já que não haveria justificativa técnica para o embargo. No encontro com Kyprianou, o ministro vai relatar as medidas para cumprir as exigências dos europeus em relação aos controles sanitários. Entre elas, a implantação de novo sistema de testes de eficiência de vacinas contra febre aftosa, que está sendo feita. Além disso, informou, foi colocada em vigor uma nova legislação no Brasil sobre os focos e a intervenção em focos de aftosa, como queria a UE. Atendendo à demanda européia por documentos mais seguros, o Brasil também vai começar a aplicar com o bloco o sistema de certificados de exportação impressos na Casa da Moeda, como já adotou com a Rússia.

b) Comissária da UE defenderá fim de subsídio a biocombustível no bloco

A comissária de Agricultura e Desenvolvimento Rural da União Européia (UE), Mariann Fischer Boel, afirmou em almoço com dirigentes da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), que defenderá, a partir de novembro, o fim dos subsídios a produtos agrícolas destinada à fabricação de biocombustíveis.

"A comissária vai propor, em novembro, a eliminação dos subsídios para produtores de culturas usadas em biocombustíveis", disse o embaixador da UE no Brasil, João Pacheco, ao Valor. A comissária preferiu não comentar sua visita com jornalistas. Hoje, a UE paga ? 45/hectare aos produtores de trigo, beterraba, milho e uva destinada à produção de etanol no bloco. Alemanha, Espanha e França são os maiores produtores de etanol.

A comissária dinamarquesa, em visita ao Brasil para conhecer os sistemas de produção agropecuária, acredita que não será mais necessário estimular a produção voltada aos biocombustíveis já que há uma obrigatoriedade de 5,75% no uso desses combustíveis renováveis a partir de 2010.

A produção de etanol na Europa somou 1,59 bilhão de litros em 2006, um aumento de 74% na comparação com 2005, segundo dados da Associação Européia de etanol Combustível (eBio). A Europa consumiu cerca de 1,7 bilhão de litros no ano passado.

c) Exportação de carnes

As exportações diárias de carnes (frango, bovina e suína) somaram US$ 55 milhões na primeira quinzena deste mês, 35% mais do que em igual período de 2006. Se for mantido esse ritmo, as receitas superam US$ 1 bilhão neste mês.

A exportação de carne bovina atingiu US$ 3,3 bilhões até setembro, somando 2 milhões de toneladas equivalentes de carcaça. Mas o Reino Unido vai na contramão. A exportação de carne "in natura" para a região caiu 62% em volume e 42% em valor até setembro, diz a Abiec.

d) Acordo inédito sana conflito em Santa Catarina

Um caso inédito de mediação celebrado ontem em Chapecó, oeste de Santa Catarina, pôs fim a um conflito entre as agroindústrias e os avicultores da região. Sob a condução do Tribunal de Justiça do Estado (TJSC), representantes das empresas Sadia, Seara, Aurora, Diplomata e Bondio firmaram, com o auxílio de um mediador, um acordo com o sindicato dos criadores de aves do Estado (Sincravesc), após quase nove meses de discussões.

A disputa teve início em fevereiro, quando os mais de nove mil criadores de aves do Estado passaram a protestar por reajustes nos valores recebidos das indústrias. Assim como a questionar os custos gerados pelas regras de biosseguridade impostas pelas empresas, como a reestruturação das granjas para isolamento completo das aves, instalação de sistemas de desinfecção, quarentenários com apoio laboratorial e ventilação artificial. De acordo com o presidente do Sincravesc, Valdemar Vicente Kovaleski, os avicultores tinham de arcar sozinhos com todas as despesas de adaptação das granjas.

Diante da ameaça de rompimento das parcerias, que afetaria cerca de 80 mil trabalhadores em todo o setor, o Sincravesc solicitou ao Tribunal de Justiça do Estado que cedesse o juiz agrário do Estado, Ermínio Amarildo Darold, para atuar como mediador da causa - proposta aceita pela Associação Catarinense de Avicultura (ACAV), representante das indústrias. O acordo, assinado em solenidade no salão do juri do Fórum de Chapecó, estabeleceu uma planilha padrão de custos arcados pelos avicultores, que definirá, conforme os contratos individuais entre parceiros, a remuneração de cada criador. Foi definido também um abono permanente nos recebimentos dos avicultores que adequarem suas instalações aos padrões exigidos de biosseguridade, sem restrições àqueles que não optarem pelas mudanças.

e) Seca afeta produção de cana da safra 2008/09

O longo período de estiagem no centro-sul do país, que arrefeceu apenas no fim de setembro, depois de durar cerca de 60 dias, deverá provocar perdas para a próxima safra da cana, a 2008/09. A quebra na região está estimada em 5% e deve resultar em 10 milhões a 12 milhões de toneladas de cana a menos no total a ser colhido no próximo ciclo. "A seca acelera a colheita, mas afeta o desenvolvimento da soqueira da cana", afirmou Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar).

Apesar da estimativa de quebra, o volume de produção para 2008/09 deverá superar o da safra atual, uma vez que cerca de 30 novos projetos de usinas deverão entrar em operação no ano que vem, de acordo com Padua. Neste ciclo, a colheita está estimada em 415 milhões de toneladas, 11% mais que na safra anterior. Até o dia 1º de outubro, a colheita no centro-sul do país atingiu 77,1% do total previsto, com moagem de 319,9 milhões de toneladas, 9,4% acima do mesmo período da temporada passada.

A produção de álcool atingiu 14,411 bilhões de litros até o início do mês, aumento de 16,1% em relação ao mesmo período da safra passada. O volume de açúcar soma 19,869 milhões de toneladas, 4,8% a menos na mesma comparação, o que comprova que a safra está mais "alcooleira" - o etanol deverá representar 54,31% mix. A queda dos preços do álcool e do açúcar continua preocupando as usinas. Mas o segmento está longe de viver uma crise. "A expansão, com novas usinas, não mostra isso [a crise]", disse Padua. A Unica espera recuperação dos preços dos produtos na entressafra. Neste momento, boa parte das usinas está se desfazendo de seus estoques para gerar caixa.

Mercosul

a) Políticos e empresários do Nordeste e Norte querem Venezuela no Mercosul

Políticos e dirigentes empresariais do Norte e Nordeste iniciam hoje uma ofensiva no Congresso para defender a inclusão da Venezuela no Mercosul. Em reação às críticas de partidos oposicionistas, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), contra as condições de entrada da Venezuela no Mercosul, empresários coordenados pela Câmara Venezuelana Brasileira de Comércio e Indústria argumentam que a entrada do país governado por Hugo Chávez é a melhor maneira de estender ao Norte e Nordeste benefícios comerciais assegurados pelo Mercosul a outras regiões do país.

Executivos da Câmara Venezuelana-Brasileira e de outras entidades empresariais entregam hoje ao presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia, manifestos assinados por representantes de 54 federações e associações de indústria e de comércio, de oito estados do Norte e Nordeste, em favor da entrada da Venezuela, presidida por Hugo Chávez, no Mercosul. "Pretendemos sensibilizar o Congresso para a demanda de uma parcela importante da sociedade, que está interessada na entrada da Venezuela", argumenta o presidente da Câmara Venezuelana-Brasileira, José Francisco Marcondes.

As federações de indústria de Pernambuco, Bahia, Pará, Alagoas, Acre e Roraima apóiam o movimento pró-entrada da Venezuela, assegura Marcondes, que também arregimentou apoio de associações comerciais e de agricultura de vários Estados. O objetivo da pressão é a aprovação do pedido de entrada da Venezuela, pela Comissão de Relações Exteriores da Câmara, que se reunirá para votar o assunto na quarta-feira da próxima semana. "Esse tema está muito politizado e queremos despolitizá-lo", diz Marcondes.

b) Paraguai não aparece para debater flexibilidade

Uma nova demonstração da desunião entre os países que fazem parte do Mercosul foi dada ontem em Montevidéu, no que deveria ser uma reunião dos sócios para definir uma proposta pedindo flexibilidade adicional para suas indústrias, num acordo da Rodada Doha.

O Paraguai, que é contra a proposta, sequer mandou representante para a reunião. Os negociadores brasileiros e argentinos só foram informados disso quando estavam a caminho da capital uruguaia. Resolveram manter a discussão para explicar ao Uruguai, também contra, as razões da necessidade dessa flexibilidade adicional para uniões aduaneiras, para preservar a Tarifa Externa Comum (TEC).

O Uruguai pouco simpatiza com a idéia de manter tarifas altas para vários setores, porque seu interesse é importar mais barato. Argumentos de que a proposta ajudaria no desenvolvimento econômico do país são rechaçados. Fontes dizem que a discussão foi "franca" ontem em Montevidéu.

OMC           

a) Investigação sobre veto a pneu usado abre nova fase de disputas na OMC

O Brasil entra em nova fase de disputas na Organização Mundial do Comércio (OMC), em casos envolvendo a União Européia (UE), EUA e China, os grandes elefantes do comércio global. A pedido da UE, os juízes da OMC voltam a investigar a proibição brasileira à importação de pneus usados, num dos mais importantes casos até agora envolvendo comércio, meio-ambiente e saúde.

Em junho, um painel (comitê de investigação) julgou que o Brasil podia manter a barreira por razões ambientais e de saúde pública, mas que a aplicava de forma "inconsistente", ou seja, tinha que acabar as liminares dadas pela Justiça que permitem a entrada de milhares de pneus velhos. A UE, embora se declarando vitoriosa, recorreu ao Órgão de Apelação da OMC, alegando que o painel não deu provas suficientes de que a medida brasileira de fato contribuía para questões ambientais ou de saúde. Organizações não governamentais ecológicas enviaram carta a Comissão Européia, alertando que Bruxelas, com seu novo questionamento, coloca em risco "a contribuição importante para o desenvolvimento da jurisprudência da OMC sobre a relação entre comércio e meio-ambiente".

As delegações brasileira e européia voltam a desfiar seus argumentos, e suas críticas, diante dos juízes, num confronto jurídico que durará mais alguns meses. Além disso, o Brasil prepara sua delicada posição, como terceira parte com interesses comerciais, da disputa pela qual os EUA acusam a China de violar regras de propriedade intelectual.

b) Nos bastidores da OMC, países travam guerra

Governos travam uma batalha nos bastidores da Organização Mundial do Comércio (OMC) para influenciar o que deve ser o último rascunho de um acordo, a ser publicado em duas semanas. Nos próximos dias, Brasil, Estados Unidos, Europa, China e vários outros governos tentarão convencer os mediadores do processo a incluir suas posições no texto final. Para o Itamaraty, se a posição dos países emergentes não for ouvida, um acordo estará ameaçado.

Nos últimos dois meses, desde que o primeiro rascunho de um acordo foi produzido, os governos tentaram chegar a uma aproximação de suas posições. Mas a realidade é que as distâncias em vários temas, como subsídios, abertura de mercados e liberalização no setor industrial, parecem cada vez maiores. Agora, cada governo tenta influenciar a revisão do acordo para garantir que seus interesses sejam preservados.

Na proposta apresentada pela OMC, os países emergentes deveriam reduzir em até 66% suas tarifas de importação para bens industriais. Segundo Roberto Azevedo, subsecretário de Comércio do Itamaraty, se tal proposta for mantida, mais da metade das linhas tarifárias brasileiras serão afetadas. Brasil, África do Sul, Índia e Argentina querem que o corte seja de no máximo 50%. Além disso, querem garantir flexibilidades extras para as economias de uniões aduaneiras, como o Mercosul. O problema é que os americanos e europeus dizem que não poderão aceitar a proposta e não farão concessões no setor agrícola sem garantias de maior acesso aos bens industriais das nações emergentes.

c) OMC confirma vitória do Brasil em disputa

A Organização Mundial do Comércio (OMC) confirmou de novo ontem a vitória do Brasil contra os Estados Unidos na disputa contra subsídios ao algodão. A decisão já havia saído no fim de julho. Agora, o relatório final foi enviado aos dois beligerantes sem alterações, segundo os brasileiros. Um porta-voz americano confirmou que a OMC julgou que Washington implementou de forma insuficiente recomendações da decisão anterior. Os americanos deverão apelar, empurrando a decisão jurídica por mais alguns meses.

O Brasil alegou que os Estados Unidos conseguiram manter a posição de segundo maior produtor de algodão do mundo (atrás da China) devido aos US$ 12,5 bilhões em subsídios pagos aos produtores entre 1999 e 2003. Em julho de 2005, o governo brasileiro obteve da OMC o direito de retaliar os EUA, inclusive com eliminação de patentes de empresas dos EUA, no valor de até US$ 4 bilhões.

Em setembro do ano passado a OMC abriu um painel a pedido do Brasil para investigar a observância, por parte dos EUA, da decisão para eliminar subsídios à produção de algodão. O governo americano alegou que as queixas do Brasil eram "desnecessárias" e "sem fundamento".

d) Fórum de Pretória prevê acordo em Rodada

A 2ª Reunião de Cúpula do Fórum de Diálogo Índia-Brasil-África do Sul (Ibas), realizada ontem, em Pretória, capital sul-africana, indicou, em comunicado conjunto, que será possível fechar até o fim deste ano as questões agrícola e industrial da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Os três países pretendem atuar em bloco nas duas questões, embora a Índia tenha menos interesse na redução das tarifas agrícolas do que os demais.

A importância que estava sendo dada pela comunidade internacional à reunião de ontem entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, pode ser medida pelo telefonema dado pelo presidente dos EUA, George W. Bush, ao presidente brasileiro. De Johannesburgo, Lula conversou com Bush por quase meia hora e, segundo fontes do governo, manteve um tom incisivo, apesar da cordialidade da conversa.

O Ibas, que fará nova reunião de cúpula em 2008, na Índia (a primeira foi no ano passado, em Brasília), é uma das iniciativas dos países em desenvolvimento de ampliarem sua massa crítica. Os três países pretendem que o fórum seja o embrião de um bloco comercial que inclua, na América do Sul, os países que formam o Mercosul, e na África, os países que integram a União da Comunidade Sul Africana (Sacu, na sigla em inglês).

e) Disputa na OMC pela resina PET pode ser suspensa

O Brasil e a Argentina podem suspender sua disputa na Organização Mundial (OMC) sobre a resina PET, porque surgiu um fato novo: uma das indústrias envolvidas foi vendida. A multinacional Eastman, dos Estados Unidos, vendeu sua subsidiária argentina Voridian para o grupo mexicano Alfa.

Se o novo proprietário aceitar um acordo de preço com as empresas brasileiras, os dois governos então poderão arquivar o caso na OMC. "Depende das empresas, não dos governos", disse um negociador brasileiro. A perspectiva estava ontem como pano de fundo quando os dois sócios do Mercosul discutiram o cronograma da briga, em Genebra, se as empresas não chegarem a acordo. O sentimento é de que uma solução negociada seja encontrada.

Plano Internacional

a) Opep não tem planos para elevar a produção

A Organização dos Países Exportadores de petróleo (Opep) não tem planos para elevar a produção de petróleo além do aumento já acertado a partir de novembro, disseram ontem altos funcionários do órgão. Mas, ao observar as novas altas nos preços do óleo eles disseram que o grupo produtor pode aproveitar a reunião de novembro, na Arábia Saudita, para debater os mercados globais de óleo bruto.

O secretário-geral da Opep, Abdalla Salem el Badri, junto com outros altos funcionários da Opep, atribuiu a alta dos preços do óleo, cujo barril vem atingindo sucessivos recordes de preços nos mercados futuros das Bolsas de Nova York e de Londres, aos especuladores do mercado e disse que eles não representavam os fundamentos de oferta e demanda.

"Se por um lado a organização não é favor dos preços do óleo nesse patamar, por outro acredita que os fundamentos não estão sustentando os preços elevados vigentes e que o mercado está bem abastecido", disse al-Badri numa nota.

Os preços do óleo saltaram para mais de US$ 88 o barril em um equilíbrio ajustado de oferta e demanda, pela preocupação com uma possível invasão turca do norte do Iraque para caçar militantes curdos - o que pode perturbar as exportações de petróleo iraquianas - e o sentimento pessismista global em relação à economia norte-americana que tem estimulado o apetite de compras dos especuladores.

b) FMI prevê crescimento menor em 2008

O Fundo Monetário Internacional (FMI) acredita que as turbulências nos mercados financeiros certamente reduzirão o ritmo de crescimento mundial em 2008. Os países industrializados, Estados Unidos à frente, serão os mais prejudicados. Mesmo assim, a previsão é de que o PIB internacional tenha uma forte alta, já que as nações emergentes continuarão como importante motor do desenvolvimento, com destaque para China, Índia e Rússia. Divulgado o relatório Perspectiva Econômica Mundial lista os principais riscos no cenário: o agravamento do nervosismo entre os investidores, a alta nas cotações internacionais do petróleo e as pressões inflacionárias.

“Ainda existem riscos significativos no horizonte. Os preços do petróleo estão elevados e há problemas financeiros. Além disso, sempre existe o risco de inflação", disse o diretor do Departamento de Pesquisa e economista-chefe do FMI, Simon Johnson. O Fundo reduziu a projeção de crescimento da economia mundial em 2008 de 5,2% para 4,8%, principalmente por causa dos efeitos da crise financeira no desempenho dos Estados Unidos e da Europa. Mesmo assim, os economistas do FMI consideram 4,8% um resultado "sólido", que permite a continuidade da melhor seqüência de crescimento mundial desde o início dos anos 70. Neste ano, a previsão ficou inalterada em 5,2%.

Apesar de serem consideradas boas, as projeções para o Brasil deixaram a desejar na comparação com as de seus três principais competidores entre os países emergentes. O Fundo manteve a estimativa de crescimento de 4,4% na economia brasileira neste ano e reduziu a do ano que vem de 4,2% para 4%. Juntos, China, Índia e Rússia são responsáveis pela metade da taxa do crescimento mundial e devem continuar assim em 2008. As expectativas do FMI são de que a China cresça 10%; a Rússia, 6,5% e a Índia, 8,4%. A América Latina não estará isenta de efeitos da crise, mas a economia deve ter um desempenho razoável, crescendo 5% neste ano e 4,3% no ano que vem.

c) Inflação americana

Os preços futuros da soja dispararam ontem (dia 18) na bolsa de Chicago, com compras de especuladores, atribuídas à pressão inflacionária nos EUA. O contrato para janeiro subiu 17,25 centavos de dólar, fechando a US$ 10,1025 por bushel. Segundo analistas ouvidos pela agência Dow Jones Newswires, a desvalorização do dólar em relação ao euro sustentou os preços das commodities em geral. A alta do petróleo também estimulou alta nos preços do óleo de soja e do grão. O atraso na colheita americana foi citado como outro fator altista. O Departamento de Agricultura (USDA) informou que as exportações até o dia 11 somaram 770,1 mil toneladas, dentro do esperado pelo mercado. No Brasil, o indicador Cepea/Esalq para a saca recuou 0,2%, para R$ 40,48.

O avanço das exportações americanas de milho ajudaram a sustentar os preços futuros da commodity ontem (dia 18) na bolsa de Chicago. Segundo dados do Departamento de Agricultura (USDA), na semana encerrada no dia 11, os embarques de milho somaram 1,852 milhão de toneladas, 45% mais que em igual intervalo de 2006, e o maior volume semanal registrado desde 1994. A desvalorização do dólar e a alta do petróleo também ajudaram a estimular compras por especuladores, disse Bill Nelson, da consultoria A.G. Edwards & Sons, à agência Dow Jones Newswires. O contrato para março subiu 9 centavos de dólar e fechou cotado a US$ 3,8350 por bushel. No mercado interno, o preço médio da saca subiu 1,06%, para R$, 27,16, segundo o indicador Esalq/BM&F.

d) Petróleo vai a novo recorde e se aproxima dos US$ 90

A desvalorização do dólar, as preocupações com as reservas americanas e um possível conflito no Oriente Médio fizeram com que o preço do Petróleo batesse recorde nas Bolsas de Nova York e de Londres ontem.

Em Nova York, a cotação se aproximou da barreira dos US$ 90, terminando o pregão valendo US$ 89,47 -valorização de 2,37% em relação ao dia anterior. Desde o início do mês, o barril se valorizou em 9,77%. A alta em Londres foi um pouco menos expressiva, de 1,77%, e o Brent encerrou o dia cotado a US$ 84,60. O barril começou o mês valendo US$ 77,59 -a valorização em outubro é de 9,03%.

No entanto, em termos reais (levando em conta a inflação americana no período), o recorde permanece com abril de 1980, quando o barril foi cotado em Nova York acima de US$ 95 - a preços atuais.

A desvalorização do dólar foi um dos fatores que contribuíram, segundo analistas, para a elevação de ontem do Petróleo. O euro chegou a estar cotado a US$ 1, 4309, superando pela primeira vez a barreira do US$ 1,43. As preocupações dos investidores com uma possível desaceleração da principal economia mundial colaboraram para a queda do dólar.

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