Comércio Exterior
a) Resultados
A balança comercial brasileira registrou um superávit de US$ 1,257 bilhão na segunda semana de setembro. O resultado é a diferença entre exportações de US$ 5,073 bilhões e importações de US$ 3,816 bilhões.
Este mês, as exportações brasileiras tiveram alta de 29,1% em relação à média diária de setembro de 2007. No ano, o saldo comercial registrado até a segunda semana de setembro foi de US$ 18,459 bilhões (queda de 36,62% em relação a 2007).
b) Empresa absorve custo de produção e lucro recua
O lucro das grandes empresas do setor industrial caiu no primeiro semestre deste ano, apesar do crescimento de 6% no Produto Interno Bruto (PIB) no período. Somado, o lucro líquido de um grupo de 79 empresas do setor com ações negociadas em bolsa apresentou queda real (descontada a inflação) de 16% no período, em relação ao ano passado.
O ganho consolidado dessas empresas totalizou R$ 17,6 bilhões, ante R$ 21 bilhões na primeira metade do ano passado. Na mesma comparação, a receita líquida (vendas menos os impostos) cresceu 18%, de R$ 137,9 bilhões para R$ 162,2 bilhões. Contudo, com a alta das commodities, o custo de matérias-primas e insumos, Custo do Produto Vendido (CPV), saltou 24%: para R$ 109,5 bilhões.
A impossibilidade de repassar de imediato a alta de custo para os preços, combinada com efeitos da valorização cambial de 11% no semestre, foi o que mais contribuiu para o resultado, segundo estudo da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap), ligada ao governo paulista.
Ao contrário da indústria, o lucro do comércio cresceu 24% no semestre, e dos serviços avançou 11%. Na média geral, o lucro cresceu 6%. "As novas tabelas de preços da indústria têm sido recusadas total ou parcialmente pelo varejo", diz Geraldo Biasoto Jr., diretor-executivo da Fundap. "Muitas indústrias adiam os repasses, mas há casos em que jamais conseguirão emplacar aumentos, em razão da concorrência acirrada dos importados e de outras empresas domésticas".
Os efeitos dessa queda-de-braço ficam mais claros quando se analisam os dados em uma perspectiva de tempo mais longa. A expansão da receita líquida, de 18%, é próxima da média dos últimos cinco anos no período (17%). Já a queda de 16% no lucro contrasta fortemente com o crescimento médio de 21%. A razão para o descompasso, observa o diretor da Fundap, foi o crescimento acentuado do custo de matérias-primas. De uma média anual de 16% entre 2002 e 2007, pulou para 24% neste ano.
Maior fabricante de papel do País, a Klabin encerrou o semestre com uma receita líquida de R$ 1,5 bilhão - um aumento de 8% em relação ao ano passado. Mas amargou uma queda de 32% no lucro líquido, que recuou para R$ 252 milhões. Segundo a empresa, os resultados foram afetados pela alta de insumos como combustíveis e produtos químicos.
A desvalorização do dólar provocou queda de R$ 184 milhões nas receitas das exportações da Klabin. A perda foi compensada pela redução do volume gasto com a dívida externa, equivalente a R$ 184 milhões. A dívida da empresa é de US$ 1 bilhão em linhas de exportação.
A Vale foi fortemente prejudicada pela valorização cambial. Com 95% das receitas em dólar e 55% dos custos em reais, a maior mineradora do mundo viu seus ganhos em moeda nacional encolherem 37,5% - de R$ 10,937 bilhões, no primeiro semestre de 2007, para R$ 6,826 bilhões, este ano.
No padrão de contabilidade americano, o lucro da Vale cresceu de US$ 6,321 bilhões para US$ 7,030 bilhões - um aumento de 11,4%. A variação contábil de investimento, prevista na legislação brasileira, reduziu em R$ 5,484 bilhões o lucro da Vale, segundo o diretor de Relações com Investidores, Roberto Castello Branco. Ele explica que a desvalorização do dólar diminuiu o valor em reais dos ativos internacionais da empresa. As normas brasileiras registram isso como um custo que deve ser abatido do lucro.
Nas montadoras de veículos, cuja maioria não divulga resultados no País, o repasse dos custos para os preços tem sido apenas parcial, por razões mercadológicas. Ninguém quer perder participação num mercado crescente como o brasileiro. No momento, as empresas do setor avaliam o impacto do reajuste salarial dos metalúrgicos no preço dos veículos. O salários tiveram reajuste de 11,01% o que representa um aumento real (acima da inflação) de 3,6%.
c) País poderá ter de importar óleo diesel mais caro
A adoção de medidas antipoluentes pode levar o Brasil a importar diesel ’muito mais caro’ em 2009, disse o diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa. Segundo o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, ’mesmo que tenha de importar óleo diesel’, a Petrobrás vai cumprir a determinação do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), disponibilizando diesel com 50 partes por milhão (PPM) de enxofre, chamado de S-50, ante os 500 ppm vendidos hoje em regiões metropolitanas. A idéia, segundo ele, é colocar o diesel 50 apenas nas frotas cativas de transporte público de São Paulo e Rio.
d) Brasil será base de exportação da Hyundai para a América Latina
A coreana Hyundai Motor Company assinou, em São Paulo, protocolo de intenções para a construção de uma fábrica em Piracicaba. Inicialmente o grupo, sexto maior fabricante de veículos no mundo, vai investir US$ 600 milhões para produzir 100 mil carros por ano, mas o projeto é bem mais ambicioso.
Dois anos após o início das operações, previsto para 2011, a empresa pretende montar uma unidade de motores e uma de transmissões para, mais adiante, triplicar a produção. O projeto completo está orçado em US$ 1,6 bilhão (quase R$ 3 bilhões).
O dinheiro virá de recursos próprios e de financiamentos que a montadora pretende buscar, em princípio, nas agências externas. "Será nossa entrada na América Latina, inicialmente para abastecer o mercado brasileiro, mas depois vamos exportar para outros países da região", disse ontem ao Estado o vice-presidente da Hyundai Motor, In Seo Kim.
Além do investimento direto, um grupo de 20 fornecedores de autopeças coreanas estuda instalar unidades locais, o que resultaria em aportes extras de US$ 250 milhões a US$ 400 milhões. Cinco empresas já confirmaram unidades produtivas para fornecer painéis, peças de estamparia, ar condicionado, pára-choques e bancos.
O protocolo foi assinado no Palácio dos Bandeirantes, com a presença do governador José Serra e do presidente de negócios internacionais, vendas domésticas e planejamento da Hyundai, Jae-Kook Choi. Em novembro, na cerimônia de instalação da pedra fundamental, devem participar o presidente da Coréia do Sul Lee Myung-bak, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente mundial do grupo Hyundai, Chung Mong-Koo.
O modelo a ser fabricado em Piracicaba é um compacto que está sendo desenvolvido na Coréia especialmente para o mercado latino-americano. Kim só adiantou que haverá versões hatchback e sedã do modelo, que terá motores 1.0 e 1.6 flex. Hoje, custariam a partir de R$ 25 mil. Para a produção de 100 mil veículos ao ano serão contratados 1,5 mil funcionários.
O Brasil será o sétimo país a abrigar uma fábrica do grupo, que tem unidades, além da Coréia, nos EUA, China, Índia, Turquia, República Checa e Rússia. "Em 2012, queremos atingir produção de 6 milhões de veículos ao ano, sendo 3 milhões na Coréia e 3 milhões nos demais países", disse Kim.
Antes de escolher Piracicaba, os executivos da Hyundai visitaram 35 locais em seis Estados (Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Rio e Bahia, além de São Paulo). "Recebemos várias ofertas de incentivos, mas São Paulo venceu principalmente por causa da infra-estrutura e do parque de fornecedores de peças", afirmou Kim.
As obras de construção da fábrica começarão em junho de 2009. O terreno de 130 hectares, que hoje abriga uma plantação de cana, será doado pela Prefeitura, que vai adquiri-lo de particulares. O município também garantiu incentivos fiscais previstos na lei local.
Kim explicou que todas as fábricas construídas pela Hyundai, com exceção da unidade da Turquia, têm capacidade para 300 mil veículos ao ano, volume que a companhia considera ideal para uma indústria automobilística ser eficiente.
Ele contou que, inicialmente, a idéia era começar com 150 mil unidades ao ano, das quais 100 mil para o mercado interno e o restante para exportação. "Depois resolvemos adiar o projeto de exportação em pelo menos dois anos para que, até lá, alcancemos 60% de índice de nacionalização, o que nos permitirá vender os carros no Mercosul."
Inicialmente, entre 50% a 60% das peças serão importadas. Em cinco anos, a montadora pretende atingir 90% de índice de nacionalização.
O grupo Caoa, do empresário brasileiro Carlos Alberto de Oliveira Andrade, que já tem uma fábrica com a marca Hyundai em Anápolis (GO), seguirá com seus projetos de montagem do minicaminhão HR e, no próximo ano, do utilitário Tucson.
"O grupo seguirá também como importador oficial da marca e sua rede de distribuidores poderá vender nossos carros, assim como a nossa rede venderá os dele", disse o vice-presidente da Hyundai. Kim disse que a criação de uma rede própria de concessionários ainda está em negociação.
A Hyundai deve produzir este ano mais de 4 milhões de veículos no mundo e, junto com a coligada Kia, emprega 120 mil pessoas.
e) Tyson Foods compra empresas no País
Depois de perder a Pena Branca para o frigorífico brasileiro Marfrig no começo deste ano, a americana Tyson Foods, maior processadora de carnes do mundo, finalmente chega ao Brasil. O grupo anunciou a aquisição de três empresas. Uma delas seria a paranaense Frangobrás. A outra é a Macedo Agroindustrial, de Santa Catarina, que seria comprada por R$ 100 milhões.
A Tyson Foods já ensaiou a estréia no Brasil algumas vezes. O mercado é estratégico para o grupo, que hoje faz um grande esforço de internacionalização. As operações no exterior geraram US$ 3,8 bilhões do seu faturamento de US$ 26,9 bilhões no ano passado. Só a China, onde a Tyson anunciou em setembro a sua terceira joint venture, era responsável por quase 10% desse resultado.
As duas empresas que passam para as mãos dos americanos são relativamente modestas perto das gigantes do setor, Sadia e Perdigão. A Macedo é mais popular em Santa Catarina, onde tem cerca de 3 mil clientes, e fornece também para o Rio Grande do Sul e Paraná. Metade da sua produção vai para o exterior - a empresa diz exportar para mais de 20 países.
A Frangobrás é um abatedouro criado em abril deste ano por um grupo de empresários de diversos setores e a Globoaves Agro Agrícola, que já atuava no ramo na produção de ovos e pintos de um dia. A fábrica tem capacidade para abater 160 mil aves por dia. Até o fim do ano, a Frangobrás pretende chegar a metade desse número. Pelas previsões da companhia, a meta é atingir a capacidade máxima em dezembro de 2009.
O complexo onde ela está instalada permite chegar a 320 mil aves por dia, segundo informações divulgadas em seu site. A produção será destinada à exportação, principalmente para os países da Europa. Para se ter uma idéia, a Pena Branca, que foi alvo da Tyson Foods, abate hoje 280 mil aves e exporta 60% da produção.
No ano passado, quando anunciou que negociava com uma empresa avícola no Brasil, a Tyson Foods informou que os investimentos fora dos Estados Unidos faziam parte de uma estratégia de crescimento das vendas anuais dos atuais US$ 3,8 bilhões para US$ 5 bilhões até 2010.
A produção de frango nos EUA tem enfrentado um problema de custo que vem se agravando nos últimos anos. A demanda americana por etanol, produzido lá a partir do milho, elevou a concorrência pelo grão e, em conseqüência, os preços.
A perspectiva da entrada da gigante Tyson Foods no mercado brasileiro foi uma das razões centrais para a Sadia tentar adquirir a Perdigão, em 2006 - mas a oferta de R$ 3,88 bilhões foi rejeitada.
f) Petrobras produzirá etanol para os EUA
A Petrobras Biocombustíveis, subsidiária da Petrobras, negocia com uma petrolífera americana um projeto conjunto no Brasil para produzir etanol e exportar para os EUA. Segundo o presidente da subsidiária, Alan Kardec, a idéia é construir uma usina de 4 bilhões de litros por ano. Esse volume praticamente dobraria a meta da Petrobras, que era atingir exportação de 4,7 bilhões de litros de etanol em 2012. Kardec não divulgou o nome da petrolífera, mas o mercado aposta que é a ConocoPhillips.
Grande parte dos 4,7 bilhões de litros está sendo negociada para o Japão. A estatal já negocia com a japonesa Mitsui um projeto de parceria para a exportação. Este ano, as exportações totais de álcool da Petrobras deverão chegar a 500 milhões de litros.
O executivo explicou, durante a Rio Oil & Gas, no Riocentro, que o modelo usado na produção de etanol para exportação será o tripartite: o produtor nacional participa, a Petrobras é minoritária, com cerca de 20%, e uma empresa estrangeira viabiliza o mercado produtor de longo prazo.
Segundo Kardec, o ideal é fazer grandes parcerias com um número reduzido de sócios.
Gás: 10 milhões de metros cúbicos ficam para 2009 Na área de biodiesel, a Petrobras construirá uma usina para produzir 300 milhões de litros por ano no Nordeste, a partir de 2012, usando óleo de dendê e mamona como matéria prima. A capacidade da Petrobras hoje é de 170 milhões de litros anuais, cerca de 13% do mercado. A estatal prevê chegar a 938 milhões até 2012, com fatia de 40%.
Já a diretora de Gás e Energia da Petrobras, Graça Foster, informou que até o fim do ano a oferta de gás natural pelos projetos do Plangás deverá atingir cerca de 28 milhões de metros cúbicos por dia, não os 40 milhões de metros cúbicos na Região Sudeste previstos pela companhia em 2006, ao lançar o plano. Segundo ela, pequenos atrasos nas obras de plataformas e gasodutos farão com que 10 milhões a 12 milhões de metros cúbicos sejam oferecidos apenas no primeiro trimestre de 2009.
A Petrobras está iniciando negociações com a Comgás, distribuidora paulista, para a venda de volumes excedentes de gás natural. Segundo a diretora, a média desses volumes excedentes, quando toda a malha de gasodutos no Sudeste estiver concluída, até o fim do ano, será de cerca de um milhão de metros cúbicos por dia de gás natural: — Ao se constatar que os reservatórios das hidrelétricas estão bem, que tem GNL (gás natural liquefeito) disponível, começa-se a identificar que por três, seis ou nove meses haverá um volume de gás que quero vender no mercado spot (à vista).
g) Siderúrgicas chinesas ameaçam boicotar a Vale
As siderúrgicas chinesas estão pressionando a Vale a desistir do novo reajuste no preço do minério que vem sendo pedido pela empresa. De acordo com o Luo Bingsheng, vice-presidente da Associação de Ferro e Aço da China, as siderúrgicas do país podem até boicotar o minério exportado pela Vale se a empresa brasileira insistir no reajuste adicional.
A briga já vem se desenrolando há algumas semanas, depois que a Vale decidiu cobrar um adicional de 11% a 11,5% no preço do minério vendido para as siderúrgicas asiáticas, depois de ter acertado, em fevereiro, reajustes de 65% a 71%, dependendo do tipo de produto. Esse aumento deveria ser válido até o ano que vem.
A Vale diz que a exigência seria uma forma de igualar o preço do minério vendido na China ao que a empresa exporta para a Europa - o desconto dado aos asiáticos vinha sendo justificado, até agora, como uma maneira de compensar os preços dos fretes, mais altos, para a região.
Mas o reajuste extra seria também uma forma de tirar a desvantagem da empresa em relação aos preços cobrados na China pelas grandes rivais da Vale no mercado de minério de ferro, as anglo-australianas BHP Billiton e Rio Tinto. Este ano, as duas empresas quebraram a praxe que vinha sendo seguida nos últimos anos, pela qual o primeiro reajuste fechado por uma mineradora era seguido pelas outras. BHP e Rio Tinto esticaram as negociações com as siderúrgicas asiáticas para bem depois de a Vale ter fechado seu acordo, e conseguiram aumentos de até 100% para o minério.
A justificativa das anglo-australianas para o reajuste maior é o valor do frete menor que as siderúrgicas têm de pagar pelo minério enviado da Austrália. A Vale, porém, argumenta que teria de cobrar mais pelo minério que exporta, especialmente o das minas de Carajás, no Pará, que teria qualidade bem superior ao australiano.
A reação chinesa ao pedido da Vale, no entanto, não foi das melhores. Segundo Bingsheng, a China poderá, como uma espécie de represália, acelerar a expansão da produção das minas do país e reduzir a demanda geral das siderúrgicas, diminuindo as exportações de aço.
"O pedido de aumento da Vale foi um erro, já que o preço de longo prazo do minério de ferro brasileiro e o preço no mercado à vista do minério da Índia alcançaram o mesmo nível", disse o executivo. Segundo ele, os estoques domésticos de minério também estão em níveis elevados.
Bingsheng disse ainda que a China não vai liberar o controle das exportações de aço, e que provavelmente vai apertá-lo ainda mais. Segundo ele, os fortes aumentos das exportações de aço do país em julho e agosto foram movimentos atípicos. A associação de siderúrgicas chinesas disse já ter enviado uma carta formal de protesto à Vale por seu pedido de aumento nos preços.
Agronegócio
a) Crise ainda afeta pouco o agronegócio
A crise financeira que abala o mercado norte-americano terá pouca influência sobre o agronegócio brasileiro. É o que acreditam alguns analistas. Outros afirmam que é cedo para uma análise das conseqüências.
Em uma coisa analistas e produtores concordam: a alta do dólar em relação ao real dará novo fôlego ao agronegócio, principalmente porque esse setor depende das exportações.
"Essa crise internacional vai passar ao largo da agroindústria brasileira, comparada a outros setores." A afirmação é de Victor Abou Nehmi Filho, gerente da Sparta, administradora de fundos de investimento. "A maré vai continuar favorável às commodities, embora ainda não seja possível fazer muita festa", afirma.
A análise de Nehmi se baseia em duas pontas. No que se refere aos grãos, os estoques continuam baixos e a demanda dos países emergentes vai continuar. Portanto, mesmo com a recente saída dos fundos de investimento do mercado -o que derrubou os preços das commodities-, ele acredita em uma parcial recuperação.
Os preços não voltam aos picos atingidos, mas ficam em patamares intermediários: US$ 6 por bushel de milho (25,4 quilos) e US$ 12,50 por bushel de soja (27,2 quilos).
Já as commodities de consumo de países ricos, como suco de laranja, café e açúcar, podem sofrer maior influência dessa crise financeira, principalmente se ela gerar queda de renda. O Brasil lidera as exportações desses produtos.
Já Fernando Muraro, da Agência Rural, de Curitiba, está preocupado. Dos três itens que seguravam os preços elevados no primeiro semestre, um já deixou de dar esse suporte: os fundos de investimento.
Os estoques se mantêm baixos, mas ainda há dúvidas sobre o que vai acontecer com a renda. O agronegócio brasileiro precisa ficar de olho na economia asiática, diz Muraro.
O comércio mundial, que girava com taxa de alta de 15% ao ano, já está em 12%. "É preciso toda a atenção, também, ao consumo dos países ricos." Se a demanda cai nos EUA, afeta o crescimento da Ásia e reduz a renda por lá, diminuindo a procura por commodities.
A crise internacional está provocando uma elevação interna do dólar e uma queda nos preços internacionais do petróleo. Haroldo Galassini, presidente da Coamo Agroindustrial Cooperativa, diz que, se concretizada, essa tendência pode trazer alívio a médio prazo para os produtores.
Já a alta externa do dólar, que eleva os preços mundiais das commodities, pode ter um efeito limitado. Galassini lembra que grande parte das transações com a Europa é feita em euro, que está em queda em relação ao dólar.
Nehmi concorda com Galassini e diz que, quanto maior a subida do dólar no mercado interno, maior é a remuneração do produtor. "Os custos dos produtores são em reais e o faturamento, em dólar." A questão é até quando o governo vai deixar o dólar subir, diz Nehmi. Para segurar os custos de inflação, ele acredita que o governo colocará R$ 2,10 como limite.
Muraro diz que agricultura é câmbio e foi a valorização do real que provocou a crise agrícola. Agora, a valorização da moeda dos EUA, se concretizada, elevará a renda no campo. Estudos da AgRural, da qual é analista, indicam que, com o dólar a R$ 1,60, a rentabilidade dos produtores de soja seria de 6% na safra 2008/9 em Mato Grosso. Com o dólar a R$ 1,80, a rentabilidade sobe para 25%.
No Paraná, o dólar a R$ 1,60 gera rentabilidade de 40%. A R$ 1,80, o ganho vai a 59%.
Um dos efeitos da queda do real será a recolocação das fronteiras agrícolas no processo produtivo. A rentabilidade maior na produção compensará os altos custos de logística.
b) Exportação de carne cai 7,86% em agosto
As exportações brasileiras de carne bovina recuaram 7,86% em volume em comparação a agosto do ano passado, segundo dados divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). No mês passado, foram embarcadas para o mercado internacional 125,6 mil de toneladas (194,3 mil toneladas de equivalente carcaça), 11 mil toneladas a menos do que em agosto de 2007, quando foram exportadas 136,3 mil toneladas de carne bovina (214,1 mil toneladas de equivalente carcaça).
c) Normalizada venda de carne para os EUA
O secretário do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), Ed Schafer, telefonou para o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, para relatar que as exportações de carne industrializada do Brasil para o mercado americano foram normalizadas. Ed Schafer disse que a inspeção nas fazendas credenciadas foi concluída e que os embarques transcorrem de forma continuada. No mês passado, as exportações foram suspensas temporariamente por causa de diferenças nas metodologias nos sistemas de produção dos frigoríficos. O comércio foi restabelecido no começo deste mês.
Mercosul
a) Itaipu volta a ser discutido em 10 dias
O governo brasileiro conseguiu ganhar tempo para contornar as pressões do Paraguai pela mudança no Tratado de Itaipu. Ao final de um encontro de trabalho de 2h30 de duração no Palácio do Planalto, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Lugo concordaram em criar uma "mesa de negociação", dentro de dez dias, para tratar das seis demandas apresentadas pelo novo governo paraguaio.
Todas as queixas versam sobre o aumento da receita do Paraguai com a venda do excedente de energia elétrica para o Brasil, algo que o Palácio do Planalto pretende atender sem recair em aumento nas tarifas no mercado doméstico. Descrita como "fraternal", entretanto, a reunião cimentou ainda mais as posições divergentes entre os dois lados.
"Os senhores conhecem as posições dos presidentes e dos governos dos dois países. Não houve mudança nessas posições", declarou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, no fim do encontro. "Vamos ver o que pode resultar da mesa de negociações. Podem surgir idéias criativas e boas soluções que superem uma posição ideológica", completou.
O Paraguai exige do Brasil um preço justo pela energia, a nomeação para os cargos de diretor-financeiro e administrativo de Itaipu e a transferência da dívida da usina com o governo brasileiro para o mercado. Ao criar a nova comissão negociadora como Paraguai, Lula conseguiu convencer Lugo de que há outras formas de atender às reclamações do Paraguai sem precisar tocar no Tratado de Itaipu.
O chanceler paraguaio, Alejandro Hamed, deixou claro que o governo Lugo não fez objeções à solução temporária encontrada. "Claro que o governo paraguaio concordou com a criação dessa mesa (de negociações). Temos urgência em começar a trabalhar."
De um lado, o governo acenou com a possibilidade de antecipar a compra de energia elétrica do Paraguai do período pós- 2023, quando terminará a vigência do tratado, e com o alongamento da dívida de Itaipu com o Tesouro Nacional e a Eletrobrás, que elevaria o pagamento do Brasil pela energia comprada do Paraguai.
De outro lado, Lula conseguiu o aval de Lugo para a criação de outra comissão, que se dedicará ao levantamento de todas as obras de infra-estrutura paraguaias e identificar as fontes de financiamento mais adequadas - em princípio, no próprio sistema brasileiro.
À imprensa, Amorim teve a malícia de citar a obra de maior interesse neste momento pelo Paraguai - a linha de transmissão de energia de Itaipu até Assunção, que custará cerca de US$ 350 milhões. Outra obra demandada pelo Paraguai é a construção de um entreposto franco em Concepción, que permitiria o escoamento da soja colhida em Mato Grosso do Sul e no próprio Paraguai pela Hidrovia do Rio Uruguai.
No fim de setembro, a mesa de negociação terá como primeira missão chegar a um acordo sobre os números relativos à venda, para o Brasil, da energia de Itaipu que caberia ao Paraguai. O Paraguai discorda das cifras que embasam a argumentação brasileira e reclama por receber apenas US$ 2,81 por megawatt, depois de descontos, quando o valor integral deveria alcançar US$ 45 por megawatt.
De forma geral, o governo de Lugo sustenta que tem o direito a US$ 1,5 bilhão por ano com a venda da energia para o Brasil, mas recebe apenas US$ 600 milhões. Na discussão, entretanto, Lugo mais ouviu do que falou.
Fontes do Planalto que acompanharam o encontro notaram o pragmatismo do presidente paraguaio ao lidar com o tema, que destoou de seus discursos de campanha eleitoral. O ex-bispo deixou o Planalto sorridente, mas calado diante da imprensa.
Para o encontro, Lula reservou um gesto especial de sua boa-vontade para estimular o desenvolvimento do país vizinho. Diante de Lugo, sancionou a lei que equaliza o tratamento tributário de caminhoneiros brasileiros e paraguaios, que pagavam mais Imposto de Renda no Brasil do que seus colegas. O mimo custará aos cofres públicos R$ 8,5 milhões ao ano.
Sentados frente a frente a uma ampla mesa, Lula e Lugo se permitiram momentos de descontração. O presidente brasileiro perguntou se haveria café paraguaio para oferecer aos convidados. Não havia. Um dos presentes ao encontro sugeriu, então, um tereré - mate frio tomado no Paraguai e nos Estados brasileiros da fronteira.
No encontro, o presidente Lula apresentou uma única demanda a Lugo: o tratamento justo e adequado aos brasileiros que vivem no Paraguai e são freqüentemente ameaçados de expulsão.
Segundo Amorim, Lugo respondeu com "palavras tranqüilizadoras e reconfortantes". Hamed foi além e informou que, "em breve", o Paraguai adotará o Acordo de Residentes do Mercosul, um compromisso que facilitará os trâmites de legalização dos cidadãos estrangeiros nos países do bloco e suas propriedades.
Organização Mundial do Comércio (OMC)
a) Para OMC, crise afetará saldo comercial do País
A crise mundial deverá afetar diretamente a capacidade do Brasil de manter o superávit comercial, avaliam economistas da Organização Mundial do Comércio (OMC). Eles já estão até reduzindo a estimativa de expansão das exportações e importações brasileiras em 2008.
Com a Europa entrando em recessão e os Estados Unidos em situação difícil, a perspectiva é de que comprem menos. Mais de 45% das exportações brasileiras são para esses dois mercados. Ao mesmo tempo, as importações não dão sinais de queda brusca, pelo menos por enquanto.
Para completar, a crise deve ainda reduzir os preços internacionais de minérios. No setor agrícola, a OMC prevê uma safra positiva em muitos mercados, o que deve também reduzir os preços internacionais. Dados da OMC confirmam que, em 2007, a alta nos preços foi fundamental para a balança comercial do País.
Michael Finger, economista da OMC, confirma que o crescimento de 4,5% previsto no início do ano para o comércio mundial será reavaliado. "Já estamos fazendo esse trabalho, com base nos novos dados de crescimento do PIB para o ano." O secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Comércio (Unctad), Supachai Panitchpakdi, confirma. "A crise financeira pode se transformar em crise de comércio. O sistema comercial mundial será duramente afetado, como já começamos a ver. O comércio precisa ser financiado."
Dados da União Européia (UE) indicam que o comércio com os Estados Unidos e o Japão foi reduzido nos seis primeiros meses do ano diante da desaceleração em Washington e Tóquio. Para o mercado americano, as exportações européias caíram 4%, mesmo índice das vendas para o Japão.
Os 27 países da UE tiveram déficit somado de 21,5 bilhões em julho, ante 13,6 bilhões no mesmo mês de 2007. O buraco não é maior graças aos países emergentes, cuja economia continua crescendo. Em parte, o crescimento do Brasil explicaria a ameaça ao superávit. O País incrementou em 12% as exportações para a Europa nos seis primeiros meses do ano, com 17 bilhões de euros. As importações aumentaram 20%.
A China se distanciou dos Estados Unidos e hoje é a maior fornecedora de bens para o mercado europeu. Entre janeiro e junho, Pequim exportou 111 bilhões para a UE, um aumento de 15% em relação ao ano anterior. Já os europeus exportaram 16% mais para os chineses neste ano, ante 24% mais para a Rússia.
Plano Internacional
a) Reunião da Unasul é recado à oposição
O alerta do presidente boliviano, Evo Morales, de que um golpe contra ele era iminente, e as evocações do movimento que depôs o chileno Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973, foram fatores cruciais para que a líder chilena, Michelle Bachelet, decidisse convocar, em Santiago, a reunião de emergência dos 12 países da União Sul-Americana (Unasul). Fontes diplomáticas afirmaram que, logo após a decisão, teve início um intenso esforço para romper a hesitação do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva - que, inicialmente, havia posto em dúvida a eficácia da reunião para solucionar o impasse político na Bolívia. A avaliação dos promotores da reunião era a de que a ausência do brasileiro esvaziaria definitivamente a cúpula.
De acordo com o jornal chileno La Tercera, Bachelet - que ocupa a presidência pró-têmpore da Unasul - convenceu-se da necessidade de promover o encontro extraordinário depois de conversar com Evo por telefone. Na sexta-feira, o líder venezuelano, Hugo Chávez, havia lembrado que o isolamento político em relação aos países da região tinha sido fator importante no golpe liderado por Augusto Pinochet contra Allende.
Ante o aprofundamento da crise boliviana e os temores manifestados a ela por Evo, Bachelet convocou o encontro não com a pretensão de apresentar algum plano de mediação entre o presidente e os opositores bolivianos, mas sim para deixar claro o forte apoio político dos países vizinhos a La Paz.
Chávez foi o primeiro a confirmar presença na cúpula, seguido de seu colega equatoriano, Rafael Correa, e da argentina, Cristina Kirchner. Hesitavam Lula - segundo diplomatas, incomodado com a recusa de Evo em aceitar a iniciativa de mediação do Brasil à frente do Grupo de Países Amigos da Bolívia - e o peruano Alan García, irritado com a acusação do presidente boliviano de que "mercenários vindos do Peru" estavam promovendo o "massacre" de camponeses pró-governo no Departamento (Estado) de Pando. García será o único dos 12 presidentes do grupo a enviar um representante para o encontro.
"Essa reunião só tem sentido se houver um pedido da Bolívia e uma proposta (para resolver o impasse)", disse Lula no sábado. "É importante deixar claro que não temos o direito de tomar nenhuma decisão sem a concordância do governo e da oposição da Bolívia." A contragosto, no entanto, ele aceitou viajar para Santiago pouco antes do início da reunião.
"É óbvio que a finalidade do encontro da Unasul não é a de resolver a crise boliviana, até porque nenhum representante da oposição a Evo participará", disse o professor ciências políticas Álvaro Conti, da Universidade Católica de Santiago. "O objetivo da reunião é enviar uma clara mensagem aos opositores e, eventualmente, a setores descontentes do Exército boliviano de que os países da região não aceitarão nenhum tipo de rompimento da ordem constitucional na Bolívia."
"A idéia é fazer com que o esforço da Unasul tenha continuidade com o que vai fazer a Organização dos Estados Americanos (OEA) para criar uma mesa de diálogo que leve as partes a uma solução, respeitando a institucionalidade e a constitucionalidade de um governo legitimado por um referendo convocado pelo presidente Evo", declarou o chanceler chileno, Alejandro Foxley.
A oposição a Bachelet, no entanto, partiu para o ataque contra a convocação da cúpula. "Toda ajuda para impedir qualquer tipo de guerra civil é, obviamente, bem-vinda. Mas, se os bolivianos não são capazes de resolver isso, não vejo como possamos fazer isso daqui, por controle remoto", declarou o dirigente do partido Renovação Nacional (de direita) Carlos Larraín.
"Nesses assuntos, é melhor estar só do que mal acompanhado e a presidente Bachelet está pondo em risco sua imagem internacional. Creio que não precisamos nem de um circo nem de palhaços aqui no Chile", disse o deputado da União Democrática Independente (de direita), em referência à presença de Chávez em Santiago.