11 a 15 de agosto de 2008

Comércio Exterior

Resultados
Mercedes anuncia investimento na região do ABC
Multis instaladas no país importam mais
Kepler prevê ritmo menor de exportações no 2º semestre
Têxteis e vinho terão nova taxa de importação

Agronegócio

Alta do dólar derruba commodities nos EUA
Estrangeiros investem em terra e soja em Tocantins
Clima favorece a colheita de cana no centro-sul do Brasil
Agronegócio deve fechar ano com superávit de US$ 62 bi

Mercosul

Vendas serão menores no Brasil e Argentina, diz Ford

Organização Mundial do Comércio (OMC)

Commodities devem reduzir saldo, diz OMC
Senadora americana teme que tarifa sobre etanol viole regras internacionais
Índia, Brasil e OMC falam em retomar Doha

Plano Internacional

Aço chinês



Comércio Exterior

a) Resultados

A balança comercial brasileira apresentou superávit de US$ 496 milhões na segunda semana de agosto (dias 4 a 10), resultado de exportações de US$ 4,962 bilhões e importações de US$ 4,466 bilhões. No acumulado de janeiro à segunda semana deste mês, o saldo comercial está positivo em US$ 15,106 bilhões. As exportações somam US$ 116,987 bilhões enquanto as importações atingem US$ 101,881 bilhões.

A média diária de exportações é de US$ 769,7 milhões, número 28,2% superior à média registrada para o mesmo período (janeiro à segunda semana de agosto) de 2007. A média diária de importações foi de US$ 670,3 milhões, com acréscimo de 52,8% sobre 2007.

Na primeira semana de agosto (dias 1º a 3), a balança teve um déficit de US$ 43 milhões, a diferença entre exportações de US$ 927 milhões e importações de US$ 1,897 bilhão. Em dez dias úteis do mês de agosto, o superávit atinge US$ 453 milhões, com uma média de US$ 75,5 milhões por dia útil.

A projeção para o saldo da balança em 2008, segundo divulgou ontem o Banco Central, com base em pesquisa com cerca de 100 analistas do mercado financeiro, subiu de US$ 23 bilhões para US$ 23,1 bilhões. Para 2009, foi mantida em US$ 15 bilhões.

b) Mercedes anuncia investimento na região do ABC

Mercedes-Benz, empresa do grupo alemão Daimler, anunciou oficialmente, um reforço nos investimentos em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista, onde possui a maior fábrica de caminhões e ônibus da América Latina.

A Mercedes não é a única a querer aproveitar um mercado em expansão. Os principais concorrentes já anunciaram novos investimentos para ampliar instalações. A produção de caminhões no país avançou 27,5% de janeiro a julho, puxada pela demanda no mercado doméstico. Resultado do fôlego de setores como construção civil, mineração e agronegócios, as vendas de caminhões avançaram 35,9% no mesmo período (74,2 mil unidades). As filas de espera para compra desses veículos ultrapassam o tempo de espera normal.

Os detalhes do investimento deverão ser revelados pela montadora num encontro do presidente da companhia, Gero Hermann, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília. O executivo alemão terá uma reunião com o governador paulista José Serra, cuja agenda, nos últimos tempos, tem registrado muitas reuniões com os representantes do setor automotivo. Fabricantes de carros e autopeças têm levado a Serra sucessivos anúncios de investimentos no Estado de São Paulo.

A Mercedes vinha fazendo ajustes para tentar acompanhar o crescimento da demanda. Em fevereiro, a empresa anunciou a abertura de 500 vagas em um quadro que passou a contar com 12 mil trabalhadores. Instalada em São Bernardo do Campo há 51 anos, a Mercedes é uma das poucas montadoras que não deu sinais de desgaste com a região do ABC nem mesmo nos tempos de crise. A empresa tem ali uma base sólida, para mercados interno e de exportação. E mantém um relacionamento pacífico com os trabalhadores alinhados com o movimento sindical da região.

Nos últimos cinco anos, os investimentos da Mercedes foram direcionados principalmente à renovação de seus produtos. Com os novos modelos, a empresa conseguiu avançar com destaque no segmento de pesados, passando a vender nesse nicho mais do que Scania e Volvo, empresas especializadas em caminhões pesados.

No mercado geral, a Mercedes tem disputado com a Volkswagen a liderança em caminhões. Em ônibus, a montadora alemã mantém o primeiro lugar há décadas. Já no primeiro semestre, a marca conseguiu avançar com alguns contratos de grandes volumes, como o de mais de mil caminhões para Casas Bahia, 480 para a Coca-Cola e 200 para a Votorantim Cimentos.

Mas no anúncio de investimentos em ampliação industrial, a montadora alemã sai atrás dos seus concorrentes. Um dos programas mais ousados veio da Volkswagen, que definiu em dezembro um programa de R$ 1 bilhão para produção, desenvolvimento e tecnologia. A direção da Volks Caminhões também esteve com o presidente Lula para anunciar a decisão.

Há um mês, a Volkswagen divulgou investimento adicional de R$ 50 milhões para abrir 1,3 mil vagas na fábrica de caminhões e ônibus, em Resende (RJ). Com os novos operários, a empresa deve iniciar, em setembro, o terceiro turno.

Também para atender ao aumento da demanda, há dois meses a Ford decidiu que abrirá o segundo turno na produção de caminhões, também em São Bernardo do Campo, a partir de janeiro. A medida trará ampliação de 46% no volume de produção e aumento de 50% na força de trabalho.

A montadora mais novata nesse mercado, a italiana Iveco, também começa a incomodar. Empresa do grupo Fiat, a montadora de veículos de carga, que tem fábrica em Sete Lagoas (MG), está incluída em um ousado programa de investimentos do grupo no país. O programa está ainda no começo, mas os resultados começaram a aparecer. Com um avanço de 130% nas vendas acumuladas este ano, a Iveco já é o quarto maior fabricante de caminhões no Brasil.

c) Multis instaladas no país importam mais

Impulsionado pelas importações, o consumo aparente de máquinas rodoviárias no Brasil cresceu 52,3% no primeiro semestre deste ano se comparado ao mesmo intervalo de 2007. E o ganho de participação de mercado das máquinas importadas reflete não só o ingresso de empresas estrangeiras no país, mas também a estratégia dos fabricantes aqui instalados de compensar a perda de competitividade, causada pela valorização do real, com importações de produtos acabados ou componentes.

Durante o período, as vendas de equipamentos importados das empresas com subsidiárias no Brasil subiram 115%, totalizando 1251 unidades. Já o volume total de máquinas rodoviárias importadas (inclui caminhões e ônibus), de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), foi de 25.459 unidades, em alta de 36%.

Diante deste cenário, no qual chineses e coreanos ganham mercado, e os custos dos equipamentos produzidos no país crescem com a desvalorização do dólar, os fabricantes com produção local têm optado por ampliar a oferta recorrendo às filiais dos Estados Unidos, China e Índia.

Conforme os dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), quase 19% das vendas registradas no primeiro semestre são de importados. Para efeito de comparação, no mesmo período de 2007 a participação dos importados era de 13,2% e nos quatro anos anteriores não ultrapassou 11%. Os números da entidade são de empresas com fábricas no país: Agco, BobCat, Case, Caterpillar, Ciber, Dynapac, JCB, Komatsu, New Holland, Proton Primus, Randon e Volvo.

De janeiro a junho, o mercado interno adquiriu 6.716 equipamentos da categoria rodoviária desses fabricantes, superando em 5% todo o ano de 2005, quando foram vendidas 6.390 unidades. Essas máquinas são destinadas à terraplanagem, pavimentação e manutenção de estradas e vias públicas. Entre os principais modelos estão: retroescavadeiras, escavadeiras, tratores de esteira e rolos compactadores.

As vendas da Case no primeiro semestre foram 50% maiores do que no mesmo período de 2007, um total de 1.520 unidades. A empresa, pertencente ao grupo Fiat assim como a New Holland, possui fábricas em Curitiba (PR), Contagem (MG), Sorocaba (SP) e Piracicaba (SP).

Historicamente, as empresas presentes no país não produzem todos os equipamentos de seus portfólios. Para a Volvo, por exemplo, o Brasil é base de produção de escavadeiras e pás-carregadeiras. De toda a produção da unidade de Pederneiras (PR), entre 70% e 80% é exportado. Mas mesmo com o viés de produção pulverizada desses grandes fabricantes, as compras no exterior estão mais aceleradas do que em outros anos.

Além dos aspectos macroeconômicos, existe a percepção entre os fabricantes de que o mercado nacional evoluiu de forma significativa nos últimos dois anos, aceitando novos modelos, que em geral não são produzidos no país. Boa parte destes equipamentos são de menor porte, absorvidos principalmente pelas construtoras. De acordo com Yoshio Kawakami, presidente da divisão de equipamentos da Volvo na América do Sul, já é possível afirmar que há uma tendência de mecanização nas obras nacionais.

Desde 2001 com uma fábrica no Brasil, em Sorocaba (SP), a inglesa JCB viu seu perfil de vendas mudar rapidamente em dois anos. Segundo Sidney Matos, gerente-geral da empresa, até 2006 a maior parte das vendas era para o exterior e hoje é destinada ao mercado interno.

Questionado sobre o ingresso de máquinas coreanas e chinesas no país, Matos não esconde o incômodo que essa concorrência causa nas subsidiárias brasileiras. "No caso do equipamento chinês, não entendemos como eles chegam com preços tão baixos." A alternativa, na opinião do executivo, é frisar aos clientes a questão da pouca assistência técnica que esses fabricantes oferecem.

Do outro lado da balança, os importadores, como a Brasil Máquinas, não têm do que reclamar. Felipe Cavalieri, diretor-geral da companhia, que representa a Hyundai no país, informa que só no primeiro semestre trouxe 1,3 mil máquinas da coreana. "Certamente superamos as nossas expectativas. Tínhamos como meta chegar a 2 mil equipamentos no ano", afirmou. Segundo ele, o Brasil já supera os EUA em termos de vendas para a Hyundai. Depois de introduzir a marca coreana, Cavalieri agora aposta na XCMG, principal fabricante chinês.

d) Kepler prevê ritmo menor de exportações no 2º semestre

Concluído o processo de reestruturação societária e financeira, no início deste ano, a Kepler Weber, fabricante de silos e equipamentos para armazenagem de grãos, retomou com força as vendas domésticas e as exportações no segundo trimestre, quando apurou receita líquida consolidada de R$ 81,9 milhões, com alta de 205% sobre igual período de 2007. Só as exportações avançaram 241%, para R$ 47,1 milhões, mas não devem manter o mesmo desempenho no terceiro e quarto trimestres, disse o diretor-presidente, Anastácio Fernandes Filho.

De acordo com ele, os altos preços do aço combinados com a persistente valorização do real reduzem a competitividade dos produtos brasileiros no exterior. A empresa exporta, principalmente, para os países da América Latina, com destaque para a Venezuela no segundo trimestre.

Conforme o diretor administrativo-financeiro, Milton Paulo Silva, o crescimento das vendas no trimestre deveu-se à disponibilidade de capital de giro proporcionada pela reestruturação financeira da companhia, controlada pelos fundos de pensão Previ e Serpros e pelo BB Banco de Investimentos. Os bons resultados obtidos pelo setor do agronegócio com a valorização das commodities agrícolas também estimularam as encomendas.

A retomada das operações a quase 90% da capacidade instalada da fábrica de Panambi (RS), a negociação de alguns preços com fornecedores e o repasse dos aumentos dos insumos aos produtos finais permitiram a reversão da margem bruta negativa da Kepler, de 5,3% no segundo trimestre de 2007 para 30,1% positivos agora. O lucro líquido de abril a junho somou R$ 6,6 milhões, ante R$ 34,2 milhões no mesmo período de 2007, quando o resultado foi inflado pelo aproveitamento de R$ 60,8 milhões em créditos tributários.

e) Têxteis e vinho terão nova taxa de importação

Depois de aprovação da lei pelo Congresso no final de junho, o governo está efetivamente preparando mudanças nas tarifas de importação de alguns itens dos setores têxtil e de vinhos. Ao invés de uma porcentagem sobre o valor ("ad valorem"), a tarifa deve ser fixa e expressa em R$ por unidade de medida ("ad rem").

Para os produtores nacionais, significa um combate ao subfaturamento, porque alguns produtos chegam no país, principalmente vindos da China, abaixo do preço de custo. Para os Importadores, trata-se de protecionismo disfarçado. A medida é polêmica e pode provocar contestações no Mercosul e na Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo a secretária-executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Lytha Spíndola, o governo decidiu solicitar aos setores têxtil e de vinhos sugestões sobre o tema em reunião na semana passada. A idéia é que o setor privado apresente uma lista de produtos a serem contemplados e as tarifas correspondentes. Lytha diz que a lista será analisada e revisada pelo governo.

Os fabricantes de tecidos e confecções calculam que 20% a 25% das quase mil linhas tarifárias do setor deveriam ser incluídas na lista, informa Fernando Pimentel, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Já os produtores de vinho querem alterar para "ad rem" as tarifas de importação de todos os produtos do setor. Segundo Hermes Zaneti, presidente da Câmara da Uva e do Vinho, o setor está apoiando uma tarifa de R$ 5 por litro de vinho.

Para aplicar uma tarifa "ad rem" é necessário arbitrar um valor mínimo para o produto. E é nesse ponto que está a discussão: qual é o valor justo de determinado o produto e quem deve defini-lo? Para não ferir as regras da OMC, o Brasil deve garantir que o valor da tarifa "ad rem" não ultrapasse a taxa máxima consolidada pelo país na entidade. Dependendo do valor mínimo aceito, a regra pode ser cumprida ou não.

A adoção de tarifas "ad rem" provoca discussão não apenas no setor privado, mas também dentro do governo. A idéia surgiu na Receita Federal, órgão subordinado ao Ministério da Fazenda, que incluiu a mudança na MP 413 editada no início do ano, que compensou o fim da CPMF. O Ministério do Desenvolvimento e o Itamaraty não foram consultados.

Os diplomatas temem o impacto negativo desse tipo de medida no exterior. O Brasil é um ferrenho defensor das tarifas "ad valorem", que considera mais transparentes. As taxas "ad rem" são muito utilizadas pelos países ricos contra os produtos agrícolas brasileiros. Também provocou espanto o limite de R$ 10 por unidade sugerida para a tarifa, já que a moeda utilizada no comércio internacional é o dólar.

Mesmo após declarações públicas do governo de que a proposta não iria adiante, a MP seguiu para o Congresso intacta. Os deputados aprovaram a tarifa "ad rem" sem restrição de setor com limite de R$ 15 por unidade, mais alto do que o proposto pela Receita. Agora que a medida se transformou em lei, o setor privado está cobrando do governo a regulamentação.

"O ad rem é mal compreendido. Não estamos prejudicando a sociedade", disse Pimentel, da Abit, acrescentando que esse tipo de tarifa é utilizada por vários países, inclusive EUA e Argentina. Segundo ele, a medida reduz o subfaturamento, preservando a arrecadação e os empregos no país. Pimentel também defende que o mecanismo deve ser "móvel", ou seja, produtos e tarifas precisam ser alterados conforme as variações dos preços no mercado externo.

"Estamos defendendo isso com unhas e dentes", disse Zaneti, representante dos produtores de vinho. Ele diz que os vinhos importados representam hoje 80% do consumo brasileiro. A sugestão do setor é que o governo utilize o dinheiro arrecadado com o imposto para um fundo de apoio à vitinicultura no país. Segundo Zaneti, o setor também vai precisar de medidas adicionais, porque 50% das importações vêem do Chile e Argentina.

A visão dos Importadores é totalmente diferente. Para Jonathan Smith, presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Matérias-Primas Têxteis (Abitex), a medida vai beneficiar produtos de luxo e onerar itens voltados à população de baixa renda. Ele também argumenta que a indústria têxtil brasileira é capaz atualmente de atender apenas um quarto do consumo nacional de tecidos.

Agronegócio

a) Alta do dólar derruba commodities nos EUA

Os relatórios que têm atestado clima favorável nas regiões produtoras de grãos dos Estados Unidos, que puxaram boa parte da recente onda de desvalorização das commodities agrícolas, ganharam na sexta-feira um "aliado" para pesar ainda mais sobre os preços. O dólar, fortalecido, dominou as atenções dos investidores.

A semana já havia sido de preços descendentes. Com o fortalecimento da moeda americana, os contratos de soja com vencimento em setembro caíram 57,50 centavos de dólar na bolsa de Chicago, para US$ 11,77 por bushel. O papel acumulou na semana perda de 13,1% e liderou as baixas do "trio de ferro", formado também por milho e trigo, negociado em Chicago.

Com declínio de 11,4% acumulado na semana, o contrato de milho para dezembro caiu 23,75 centavos de dólar, para US$ 5,1825 por bushel. O fortalecimento do dólar reduziu o apelo das commodities agrícolas como instrumento de proteção contra a inflação, o que motivou a acentuada liquidação de papéis.

A desvalorização do trigo na semana não foi tão acentuada quanto a de soja e milho, mas, na sexta-feira, além do dólar mais forte, influenciou o desempenho da commodity a melhora da expectativa com a produção de trigo na Austrália. Com as chuvas registradas em julho, o país, sexto maior exportador mundial do cereal, deve colher 25 milhões de toneladas, informou a Bloomberg.

A previsão, apresentada pela ProFarmer Australia, é superior à feita pelo governo, de 23,7 milhões de toneladas. Na semana passada, o Rabobank já havia apresentado expectativa de produção de trigo no país entre 20 milhões e 24 milhões de toneladas.

Na bolsa de Chicago, os contratos de trigo para dezembro recuaram 56,75 centavos de dólar na sexta-feira, para US$ 7,9025 por bushel - na semana, o papel caiu 3,5%. Em Kansas, onde é negociado o trigo de melhor qualidade, a baixa na sexta-feira foi de 50 cents, para US$ 8,2075 o bushel. Na semana, a queda foi de 3,3%.

Ainda que a alta do dólar tenha dominado as atenções, o clima manteve-se sob os holofotes. Os investidores aguardam o anúncio, amanhã, das novas estimativas de produção a serem apresentadas pelo Departamento de Agricultura americano (USDA).

b) Estrangeiros investem em terra e soja em Tocantins

O Estado de Tocantins entrou no mapa dos investimentos estrangeiros em soja. O Projeto Paraíso, formado pelo produtor Moacir Almeida e investidores de Chicago (EUA), fará um aporte de R$ 193 milhões para plantar grãos no Estado. A área plantada já na safra 2008/09 será de 80 mil hectares, boa parte deles concentrada nos pólos de Silvanópolis e Porto Nacional. O plantio será elevado gradativamente até estabilizar-se nos 130 mil hectares previstos para a safra 2010/11.

Almeida entrou no projeto por meio da Primavera Importação e Exportação de Cereais, empresa criada em 1994. O grupo de investidores americanos reuniu-se sob a Animo International, criada para explorar oportunidades de investimento em commodities agrícolas, segundo o produtor brasileiro. O contrato entre as partes terá duração de dez anos.

O projeto não limitará a atuação a áreas próprias, diz Almeida. "Metade do plantio será em área própria e metade em forma de parceria com produtores de todo o Estado", disse. A produção, voltada ao mercado externo, será escoada pelo porto de Itaqui (MA).

Segundo Roberto Sahium, secretário de Agricultura de Tocantins, vários investidores estrangeiros têm sondado as regiões agrícolas do Estado. A Federação da Agricultura do Estado de Tocantins (Faet) também atesta o Projeto Paraíso como o primeiro com participação de estrangeiros para produção no Estado.

Além de terras disponíveis, a infra-estrutura logística favorece os investimentos na região. "Houve muita sondagem, mas somente agora os investimentos começam a ser feitos", disse Sahium.

Como a revisão na lei que regulamenta a compra de terras para capital estrangeiro ainda não saiu, as compras financiadas por grupos internacionais estão fortemente aquecidas. Esses investidores estrangeiros associam-se a produtores locais, que na prática são os proprietários das terras. "Os estrangeiros financiam os investimentos", afirmou uma fonte ouvida pelo Valor.

É o modelo adotado pelo Projeto Paraíso. Segundo Moacir Almeida, a Animo International não comprará terras no Estado. "Todo o investimento que eles farão será por meio da Primavera", disse.

O governo federal busca formas de limitar a entrada de estrangeiros em terras do país. Atualmente, as compras são permitidas a pessoas físicas de outra nacionalidade residentes no país e a pessoas jurídicas estrangeiras autorizadas a atuar no Brasil. Parecer da Advocacia Geral da União (AGU) permite que empresas brasileiras controladas por capital estrangeiro comprem imóveis rurais.

Tocantins, que faz parte da nova fronteira agrícola batizada de "Mapito" (Maranhão, Tocantins e Piauí), também tem recebido pesados investimentos em logística. Segundo o secretário Roberto Sahium, a ferrovia Norte-Sul já tem trechos para expansão em licitação no Estado. Assim como o Projeto Paraíso, que escoará a produção agrícola pelo porto de Itaqui, a Bunge deverá fazer o mesmo, afirma o secretário.

Por conta da demanda aquecida, as terras das regiões produtoras de soja do Estado têm se valorizado. Na região de Silvanópolis e Porto Nacional, o hectare custa R$ 3.500, com uma valorização de mais de 50% nos últimos meses. Levantamento da AgraFNP mostra que os preços da terra no Estado subiram 85% nos últimos 36 meses. O preço médio do hectare para área agrícola no Estado está em R$ 3.750.

"Essas regiões tradicionais de soja no Estado têm um regime natural de chuvas, sem precisar de investimentos em irrigação", diz Jacqueline Bierhals, especialista em terras da AgraFNP. Na região de Pedro Afonso, tradicional na produção de grãos, o hectare da área agrícola sai por R$ 4.000 e, em área fechada, por R$ 2.800. No município, a Bunge já começou a plantar cana.

Tocantins faz parte da Amazônia Legal, mas as regiões produtoras de soja do Estado estão inseridas no Bioma Cerrado, onde o plantio agrícola é permitido, desde que uma parte das terras seja preservada. Nesses locais, 65% da área pode ser destinada ao plantio e os outros 35% têm que ser de reserva, explicou Jacqueline Bierhals. Apenas 9% do território de Tocantins está no Bioma Amazônia, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

c) Clima favorece a colheita de cana no centro-sul do Brasil

A colheita de cana no centro-sul do país totalizou 214,305 milhões de toneladas de abril até o dia 1º de agosto, um volume 11,57% maior sobre o mesmo período do ano passado, segundo levantamento da União da Indústria da Cana-de-Açúcar). As condições climáticas do mês de julho foram favoráveis, permitindo que as usinas recuperassem o atraso da moagem durante o início da safra 2008/09.

A produção de açúcar, no mesmo período, atingiu 10,725 milhões de toneladas, queda de 2,5% sobre o mesmo período de 2007. A oferta de álcool combustível ficou em 9,797 bilhões de litros, alta de 15,6% na comparação com o mesmo período do ano passado.

Segundo a Unica, as usinas negociaram 1,8 bilhão de litros de álcool em julho, volume 10% maior sobre os negócios realizados em junho. As exportações ficaram em 650 milhões de litros no mês passado.

A expectativa da Unica é de que a moagem atinja 50% do total da cana até o final da primeira quinzena de agosto. A produção de álcool anidro será suficiente para atender a mistura de 25% na gasolina até o inicio da próxima safra, segundo a entidade.

As exportações de álcool do centro-sul estão estimadas em 4,2 bilhões de litros na safra 2008/09. No Brasil, os embarques devem totalizar entre 4,8 bilhões e 5 bilhões de litros, segundo projeções de analistas de mercado. Entre abril e julho, as usinas do centro-sul exportaram 1,7 bilhão de litros, dos quais 70% para os EUA e 20% para a União Européia. No mesmo período de 2007, os embarques ficaram em 1,19 bilhão de litros.

d) Agronegócio deve fechar ano com superávit de US$ 62 bi

As exportações do agronegócio brasileiro, que triplicaram de valor entre 2004 e 2007, devem fechar este ano em US$ 74 bilhões, um resultado 27% superior aos US$ 58,4 bilhões do ano passado, informou o Ministério da Agricultura. O superávit comercial do setor pode atingir US$ 62 bilhões, ou 24% acima dos US$ 49,7 bilhões de 2007. Até julho deste ano, os embarques somaram US$ 41,7 bilhões e o saldo bateu em US$ 35 bilhões. O resultado projetado para o setor deve levar as exportações do agronegócio a aumentar de 36,4% para 37% sua fatia no total das vendas externas brasileiras. "Seremos responsáveis por todo o superávit da balança este ano", previu o secretário de Relações Internacionais do ministério, Célio Porto. Neste ano, o setor de produtos florestais deve bater a marca dos US$ 10 bilhões em vendas, valor atingido até aqui só nos complexos soja e carnes.

As tendências para este ano serão a consolidação das exportações de produtos lácteos, cuja vendas saltaram de US$ 27 milhões, em 2001, para US$ 300 milhões no ano passado, além da confirmação da importância dos embarques de milho. "Os lácteos são a bola da vez. É um consenso aonde quer que se pergunte", afirmou Porto. "E o milho veio para ficar na pauta de exportações. Agora, vamos agregar valor com estímulos às exportações de ração animal".

O Ministério da Agricultura estima que, a partir de 2009, os mercados dos países emergentes, cuja demanda cresce ao ritmo anual de 20%, devem ser o destino de metade das vendas totais do agronegócio. "Em 2010, a tendência é ultrapassar os países desenvolvidos", disse Célio Porto. A estimativa é fundamentada no minucioso anuário "Intercâmbio Comercial do Agronegócio" sobre o comportamento das exportações do setor. O estudo mostra que o Brasil elevou de 4,9% para 6,9% sua participação no comércio mundial do agronegócio na última década. O ritmo de crescimento do setor no Brasil chegou a 9,6% ao ano. Nos últimos três anos, houve uma aceleração para 14% ao ano, resultado de uma elevação de 68% nos preços e 32% na quantidade exportada.

Na análise dos dados do anuário, é surpreendente o desempenho do mercado da China. "Eles absorveram quase 20% das nossas vendas em julho", disse o secretário. Os Países Baixos, segundo maior mercado, responderam por 9% e os Estados Unidos, por 8%. Sozinha, a China contribuiu com metade do aumento na fatia dos países emergentes, saltando de 3,7%, em 2001, para 8% no ano passado. "Mas há o risco de concentração e dependência excessiva do mercado chinês, sobretudo para as vendas de soja", ponderou Célio Porto. Do total embarcado à China, 60% é soja. Os países do Oriente Médio e da África, assim como a Rússia, também expandiram sua participação. Dos US$ 3,7 bilhões exportados para a Rússia em 2007, por exemplo, 90% foram produtos do agronegócio brasileiro. É a maior participação relativa do agronegócio por total vendido em um país. No Irã, as vendas do setor representaram 85,2% das vendas totais, chegando a US$ 1,6 bilhão. Na última década, os embarques cresceram 20% ao ano. A Venezuela, que em 2006 ocupava a 12ª posição no ranking dos maiores mercados para o setor, já figura em 9º, aponta o anuário.

Mercosul

a) Vendas serão menores no Brasil e Argentina, diz Ford

Ao anunciar o lançamento do novo Focus plataforma global, que será produzido na fábrica de Pacheco, na Argentina, a Ford previu uma significativa desaceleração das vendas de automóveis no Brasil e na Argentina para o ano que vem. Mesmo assim, e apesar das dificuldades financeiras pelas quais passa a matriz nos Estados Unidos, a Ford Mercosul manterá seus planos de investimentos e lançamentos de novos veículos, garantiram Marcos de Oliveira, presidente da divisão Brasil e Mercosul, e Enrique Alemañy, vice-presidente e diretor de Finanças da Ford Argentina.

Alemañy e Oliveira estimaram para 2009 um crescimento de apenas 3% a 5% na Argentina e 7% a 8% no Brasil, comparado a 2008. Para o ano em curso, a previsão é superar 2007 em 10% e 25% respectivamente para Argentina e Brasil. "Este ano já vamos chegar a 600 mil unidades, o que é um recorde e um nível muito alto de produção, no qual a possibilidade de crescer diminui", afirmou Alemañy sobre o mercado argentino.

No Brasil serão 3,4 milhões até o fim do ano, 25% acima de 2007, segundo a previsão de Oliveira. Será "um crescimento mais normal", na definição do executivo: "Em 2007 crescemos quase 30% e em dois anos foram quase 60%".

Segundo os executivos, mesmo com a perspectiva de desaceleração, a América do Sul continua sendo vista pela montadora como uma região estratégica, onde os lucros seriam reinvestidos localmente e projetos de lançamentos estariam mantidos.

A produção do novo Focus na Argentina exigiu uma ampliação da fábrica de Pacheco onde, além do Focus atual, também é montada a picape Ranger. A capacidade de produção da unidade foi aumentada em 20%, para 420 unidades por dia, o que representará a produção de 100 mil veículos até o fim de 2008. No total estão sendo aplicados 500 milhões de pesos argentinos (aproximadamente US$ 160 milhões), dos quais 270 milhões foram aplicados no modelo novo.

Além do Focus, a Ford Argentina prepara o lançamento, em 2009, de um novo modelo de caminhonete Ranger para uso comercial. No Brasil está programado para outubro ou novembro o lançamento do modelo Edge, "um veículos utilitário esportivo (SUV) em plataforma de auto", na sucinta definição de Oliveira, que não quis dar mais detalhes sobre o veículo.

Alemañy e Oliveira não quiseram entrar em detalhes sobre o novo Focus 2008 que será apresentado comercialmente em setembro na Argentina e em outubro no Brasil. Disseram apenas que será um veículo da categoria "média", diferenciado do atual Focus pela incorporação de melhorias no design, características de segurança e na eletrônica embarcada. O modelo foi lançado na Europa há menos de seis meses e deve competir com veículos como o Peugeot 307 e Renault Megane na Argentina, e os asiáticos Corolla, da Toyota, e Civic, da Honda, no Brasil.

A fábrica de Pacheco está preparada para produzir 50 mil do novo Focus por ano, mas o volume que efetivamente será produzido não está definido. "Vamos ver como se comporta a demanda", afirmou Alemañy. Porém, já está decidido que dois terços serão exportados, "a maioria para o Brasil", e que a produção do antigo Focus continua.
Organização Mundial do Comércio (OMC)

a) Commodities devem reduzir saldo, diz OMC

A queda nos preços das commodities pode obrigar o Brasil a rever sua estratégia para manter um superávit na balança comercial. Dados coletados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) sugerem que a queda nos preços dos bens agrícolas pode reduzir "de forma substancial" o superávit brasileiro. Para deixar a situação dos exportadores brasileiros mais difícil, a Europa acaba de anunciar que sua safra pode bater recordes em 2008, o que deve fazer com que os preços caiam mais.

"O que estamos vivendo é uma correção nos preços das commodities, que estavam altos", explicou Michael Finger, chefe da Divisão de Estatísticas da OMC. "Com a alta de preços, muitos consumidores deixaram de comprar nos volumes que estavam acostumados, principalmente nos países ricos, onde a desaceleração da economia é clara. O resultado é que o mercado se auto-regulou e os preços voltaram a cair."

Segundo a OMC, mais da metade da alta nas exportações nacionais nos últimos meses ocorreu graças aos preços e não ao volume exportado. O mesmo já havia ocorrido em 2007. No ano passado, as exportações do País cresceram 17% em valor, com US$ 161 bilhões. Em volume, porém, a alta foi só de 6,9%.

De janeiro a abril, a alta nos preços das commodities salvou as exportações brasileiras e permitiu que o País tivesse uma taxa de crescimento acima dos índices da China, pela primeira vez em décadas. Em janeiro, as exportações subiram 20,9%, ante 26,4% em fevereiro. Na China, a alta foi de 21% nos dois primeiros meses.

Mesmo com essa expansão, o superávit já vinha caindo diante do crescimento das importações, uma das maiores entre as principais economias do mundo nos últimos seis meses.

Agora, sem o fator preço, o cenário promete ser bem diferente. "A expansão das exportações brasileiras pode não ocorrer nas mesmas taxas. O pico nos preços das commodities pode ter passado", disse Finger.

A retomada da boa safra na Europa também deve atrapalhar as exportações brasileiras. "Os produtores, incentivados pelos preços, plantaram mais e as perspectivas de safra na Europa são muito boas neste ano."

Segundo a União Européia, a safra de alimentos neste ano será 16% superior à de 2007. No ano passado, o clima pouco propício foi um dos motivos que levaram à alta nos preços. Em comparação à média da década, a alta prevista é de 9%.

No caso do trigo, a safra deve ser 10,4% maior que a de 2007. Em comparação às dos últimos cinco anos, a alta é de 6,1%. A produção de milho será 20,1% maior neste ano ante 2007. "O resultado desse novo cenário pode ser uma queda substancial no superávit brasileiro", prevê Finger.

Representando apenas 1,2% do comércio mundial, o Brasil precisaria se concentrar em garantir uma maior competitividade de seus setores produtivos para não depender os preços dos produtos de base.

"A bonança nos preços das commodities não duraria mesmo para sempre", disse Finger. O alerta se refere principalmente aos impactos do real valorizado para as exportações dos produtos fora do setor agrícola. Para a OMC, o Brasil precisa adotar medidas para garantir maior competitividade a seus produtos, para compensar o câmbio desfavorável.

O País ocupa a posição 23 no ranking dos maiores exportadores do mundo, atrás de países relativamente pequenos como Áustria, Suécia e Suíça.

b) Senadora americana teme que tarifa sobre etanol viole regras internacionais

A ameaça do Brasil de denunciar os Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio (OMC) por barreiras ao etanol faz o Congresso americano questionar a tarifa ao biocombustível. A senadora Dianne Feinstein, democrata da Califórnia, pediu para o governo Bush investigar até que ponto a tarifa sobre o etanol importado, prevista na nova lei agrícola americana (Farm Bill), viola as regras internacionais.

Em carta à representante comercial americana, Susan Schwab, a senadora nota que a lei agrícola baixou a subvenção para produzir etanol a US$ 0,45 por galão, mas ao mesmo tempo manteve a tarifa de importação de US$ 0,54. Ou seja, segundo ela, na prática Washington mantém uma barreira ao comércio de pelo menos US$ 0,09 por galão de etanol importado.

Dianne Feinstein pediu para o USTR, a agência de representação comercial americana, analisar que tipo de medidas o Brasil poderia tomar, se ganhar eventualmente o caso do etanol na OMC, e o impacto que isso teria sobre a economia americana.

Foi Dianne Feinstein quem apresentou, com o senador republicano Judd Greg, uma proposta para baixar a tarifa de US$ 0,54 por galão sobre o etanol importado para permitir que as refinarias comprem o produto mais barato para misturar com a gasolina e baixar o preço na bomba para os consumidores americanos.

A senadora cita cifras do Departamento de Agricultura dos EUA, segundo os quais o custo de produção para o etanol de cana-de-açúcar do Brasil é de apenas US$ 0,81 por galão, enquanto o etanol americano a base de milho custa US$ 2,0.

Por sua vez, o senador Chuck Grassley, republicano do Iowa, Estado produtor de etanol, continua a defender a tarifa sobre a importação para proteger a produção americana.

Por outro lado, a National Association of Manufacturers (NAM), reunindo indústrias americanas, quer criar uma coalizão de companhias e associações para pressionar por um acordo de produtos ambientais e serviços na OMC.

A indústria americana parte do princípio de que a negociação de Doha vai demorar anos a ser retomada. Assim, alguns países poderiam chegar antes a um acordo. Nesse caso, o que mais interessa ao Brasil é justamente a inclusão do etanol na lista de produtos ambientais, que teriam redução acelerada de tarifas.

c) Índia, Brasil e OMC falam em retomar Doha

Brasil e Índia deverão buscar o consenso sobre o tópico que levou a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) ao colapso: a margem de proteção de produtos agrícolas sensíveis dos países em desenvolvimento que dependem da importação de alimentos. Em conversa por telefone, o presidente Lula disse ao primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, que o Brasil quer ajudar a encontrar uma solução para a questão e está "disposto a jogar tudo o que puder" para a retomada da rodada em setembro.

Líderes do G-20 - grupo de países em desenvolvimento que negocia os temas agrícolas na rodada -, Brasil e Índia divergiram sobre o pré-acordo fechado quatro dias antes do fracasso da negociação. O Brasil apoiou seus termos. A Índia rejeitou por entender que o acordo não trazia suficiente margem de proteção para a agricultura familiar.

Com isso, abriram um fosso entre os dois subgrupos que coexistem no G-20 - os exportadores agrícolas e os importadores líquidos de alimentos. Singh deu a Lula um sinal de que pretende reatar o G-20 e fazer com que essa frente chegue a um consenso sobre esse tema. Dado seu alto teor de conflito, essa discussão interna foi sempre evitada pelos líderes do G-20.

Na conversa, Singh disse que a Índia quer trabalhar com o Brasil pela retomada das negociações. Lula reforçou que entende as preocupações da Índia com seus produtos sensíveis e chegou a dizer que o Brasil também quer proteger a sua agricultura familiar.

Mas, atento às resistências dos Estados Unidos, Lula ressalvou que o Brasil está disposto a "encontrar uma solução que não afete o sistema multilateral de comércio e resolva as dificuldades de todos". Ou seja, um meio-termo. "Todos fizemos sacrifícios para a conclusão da Rodada Doha", afirmou Lula a Singh, referindo-se à abertura do setor industrial brasileiro. "É possível alcançar o equilíbrio."

Além do Brasil, outro que se esforça para ressuscitar Doha é o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, que ontem tentava abrandar as demandas de Nova Délhi sobre as salvaguardas para produtos agrícolas e convencer o governo indiano a aceitar o acordo fechado no dia 25. Nesta semana, Lamy deverá ir a Washington para remover a resistência dos EUA às demandas da Índia.

Em Nova Délhi, Lamy disse ainda ser possível concluir a rodada até dezembro. "A boa notícia é que ainda há a possibilidade de concluirmos as negociações este ano. Todos os membros da OMC concordaram com isso no ano passado", disse Lamy, em encontro com o ministro do Comércio indiano, Kamal Nath.

"Nadamos todo o oceano e, próximos da praia, nos afogamos", disse Lula a Singh, e este ponderou que viu o resultado de Genebra como um "revés temporário". "É possível resolver até setembro", disse Singh. "Senão, serão necessários mais três ou quatro anos para a retomada."

Plano Internacional

a) Aço chinês

A China, a maior produtora mundial de aço, aumentou as exportações de produtos siderúrgicos em 38%, para um volume recorde, em julho, comparativamente ao mês anterior. Isso alimentou especulações de que o governo chinês vai elevar os impostos para coibir as remessas. As exportações de aço chinesas subiram para 7,21 milhões de toneladas no mês passado, disse o departamento de alfândega da China ontem em seu site. Isso representa um volume 21% superior ao do ano passado, segundo dados da Bloomberg. O país asiático reduziu os descontos fiscais que incentivam as exportações e elevou as tarifas sobre os embarques de aço a fim de reduzir seu superávit comercial, o que levou ao crescimento da oferta interna. As siderúrgicas estão elevando as vendas uma vez que os preços praticados nos Estados Unidos e na Europa ultrapassam as altas ocorridas na China.

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