Comércio Exterior
a) Resultados
A balança comercial apresentou na primeira semana de dezembro (dias 1º a 9) saldo positivo de US$ 761 milhões, com exportações de US$ 3,385 bilhões e importações de US$ 2,624 bilhões. Os dados foram divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
No ano, o superávit comercial está em US$ 37,161 bilhões, uma queda de 11,2% na comparação com o mesmo período do ano passado (US$ 41,839 bilhões). As exportações no período somam US$ 149,804 bilhões e as importações, US$ 112,643 bilhões, com crescimentos de 18,6% e 33,3%, respectivamente.
O Ministério do Desenvolvimento tem uma meta de exportações de US$ 157 bilhões para este ano. Não há meta de saldo comercial. Já os analistas do mercado financeiro esperam um superávit de US$ 40,20 bilhões.
Novembro foi o mês de menor saldo da balança comercial do ano. A diferença entre as exportações e as importações no mês passado gerou um superávit de US$ 2,027 bilhões. Esse desempenho representa uma queda de 37,4% em relação ao mesmo mês do ano passado e de 41% na comparação com outubro.
b) Fundo soberano ajuda a conter o real, diz Mantega
Uma das funções do fundo soberano que o governo pretende criar será reduzir o excesso de dólar no mercado, ajudando a conter a valorização do real. A informação foi dada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista ao jornal "Financial Times", publicada ontem.
O ministro explicou que, hoje, apenas o Banco Central compra os dólares que entram no país. Com a criação do Fundo de Riqueza Soberana (SWF, na sigla em inglês), o Tesouro Nacional também terá essa autorização, mas, antes, segundo esclareceu Mantega, o governo precisará aprovar no Congresso uma mudança na legislação.
"No futuro, nós (o Tesouro) teremos o fundo também comprando (dólares). Ele terá a mesma função das nossas reservas (internacionais) - retirar o excesso de liquidez de dólares que provoca a apreciação do câmbio. Portanto, terá a mesma função que a intervenção do Banco Central nos mercados de câmbio", disse o ministro na entrevista.
c) A hora e a vez da agência de crédito à exportação do Brasil
As empresas transnacionais (ETNs) brasileiras, em 2006, segundo a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), registraram um fluxo de saída recorde do Investimento Brasileiro Direto (IED) de US$ 28 bilhões. A aquisição da Inco do Canadá pela Vale respondeu por US$ 17 bilhões e as aquisições dos ativos do Bank of Boston, pelo Itaú, e da American Express, pelo Bradesco, contribuíram com US$ 2,1 bilhões. O fluxo de entrada de IED foi de cerca de US$ 20 bilhões, com destaque para a aquisição do Banco Pactual pelo UBS, no valor de US$ 2,6 bilhões, revertendo os fluxos de saída do setor financeiro.
Recentemente, o volume de Initial Público Offering (IPO) da Bovespa e o ciclo atual para o IPO da BM&F confirmaram pelo mercado a classificação do Fundo Monetário Internacional (FMI): o sistema financeiro do Brasil é moderno e eficiente. Seu status de Tecnologia da Informação e Sistema de Pagamentos está à frente da Rússia, Índia e China.
A integração brasileira com a América Latina nos projetos de infra-estrutura vem crescendo e a atuação do BNDES-Exim na exportação de "project finance" tem sido expressiva. O governo Lula acertou com a reaproximação dos países africanos: nossos laços com Angola e Moçambique são oportunidades confirmadas pela recente reconquista da África do Sub-Saara, com o retorno gradual da "mother country" (Portugal) e dos bancos globais às colônias do ultramar.
O melhor agente para operar as políticas públicas do comércio exterior poderia ser uma Agência de Crédito à exportação (ECA - Export Credit Agency) que possa concentrar e articular em uma única instituição governamental a missão de estabelecer uma política pública centralizadora para o comércio exterior, em atendimento ao trinômio básico - garantias, financiamento e seguros.
d) Itamaraty busca novos acordos com EUA
Satisfeito com a boa repercussão da aliança entre Brasil e EUA na disseminação do etanol combustível, o governo americano discute hoje com o Ministério das Relações Exteriores propostas para lançar novas iniciativas bilaterais, em outros setores, como infra-estrutura, agricultura e promoção à inovação. O secretário assistente para economia, energia e assuntos empresariais do Departamento de Estado dos EUA, Daniel Sullivan, e o secretário para o Hemisfério Ocidental, Thomas A. Shannon, passarão o dia em Brasília, em reuniões com o governo brasileiro. Sullivan e Shannon vão reunir-se com o subsecretário-geral de Assuntos Econômicos e Tecnológicos, Roberto Azevedo.
Os brasileiros querem descobrir maneiras de incentivar investidores americanos a atuarem com empresários do Brasil em matéria de agricultura, infra-estrutura e produção e exportação em setores como o de têxteis. Os americanos querem fortalecer os vínculos entre incentivos à inovação e proteção de direitos de propriedade intelectual, além de ter interesse em maior abertura do mercado d e aviação brasileiro às companhias dos EUA. Nesse ponto, prevêem-se poucos avanços: o Brasil oferece novas linhas para o Norte e Nordeste, e os americanos querem voar para Rio e São Paulo.
Os americanos devem expor ao Itamaraty a estratégia para lidar com produtos importados perigosos à saúde e à segurança, como brinquedos da China. Os brasileiros explicarão a posição tomada na discussão sobre controle internacional da internet.
Agronegócio
a) Soja e carnes 'disputam' liderança na exportação
Anunciada pelo Ministério da Agricultura, a balança comercial do agronegócio em novembro trouxe as carnes (bovina, de frango e suína) como líderes nas exportações do setor em novembro e praticamente empatadas com o chamado complexo soja (inclui grão, farelo e óleo) nos embarques acumulados nos primeiros onze meses do ano.
No mês passado, as vendas de carnes ao exterior atingiram US$ 1,071 bilhões, 18,8% mais que no mesmo mês de 2006. Em seguida no ranking das exportações aparecem os produtos florestais (US$ 762,2 milhões, alta de 10,14% sobre novembro de 2006), o complexo soja (US$ 633,3 milhões, aumento de 16,13%) e açúcar e álcool (514,8 milhões, queda de 32,42%).
O ministério destaca que o avanço das carnes foi determinada pela valorização média de 21,35% dos produtos, uma vez que o volume embarcado registrou queda de 2,13%. No caso dos produtos do segmento sucroalcooleiro, o tombo refletiu tanto um volume menor de vendas ao exterior quanto pelas cotações menos atraentes.
De janeiro a novembro, soja e derivados ainda lideraram as exportações, com divisas da ordem de US$ 10,812 bilhões, 22,3% mais que no mesmo intervalo de 2006. Mas as carnes despontam logo atrás com US$ 10,239 bilhões e aumento de 29,72% na comparação.
b) Empresas do Brasil já têm 51% da exportação global de carne
Pratini de Moraes, presidente da Abiec, defende retaliação a produtos chilenos. Com as recentes aquisições no exterior, os frigoríficos de carne bovina do Brasil já têm, de acordo com estimativas do setor, o equivalente a 51% das exportações mundiais do produto que no ano passado somaram 7,1 milhões de toneladas (equivalente-carcaça). Considerando apenas as vendas a partir do Brasil para outros países - que devem fechar em 2,5 milhões de toneladas (equivalente-carcaça) este ano -, essa fatia é de cerca de 35%.
Nem os mais otimistas, como Pratini de Moraes, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec), imaginavam tal cenário tão cedo. "Sabia que nossa condição de competição era muito boa, que os países emergentes seriam grandes mercados para o Brasil e que estaríamos no Mercosul, mas ter frigoríficos nos Estados Unidos e na Europa é um lance de coragem", disse Pratini, referindo-se às recentes aquisições da JBS-Friboi nos Estados Unidos (Swift) e Itália (onde comprou 50% da Inalca).
Além de a fatia das empresas no exterior aumentar, a aquisição de unidades em outros países também permite acessar mercados que ainda não compram a carne brasileira, como Japão e EUA.
Apesar de comemorar o avanço brasileiro no exterior, Pratini, que ontem divulgou as previsões para 2008 e para o fechamento deste ano, voltou a se queixar dos países que impõem restrições à carne brasileira. Segundo ele, o setor exportador e o Itamaraty avaliam pedido de abertura de painel na Organização Mundial do Comércio (OMC) contra Chile e África do Sul, que até hoje mantêm embargo à carne bovina brasileira por causa de focos de aftosa no Mato Grosso do Sul e Paraná em outubro de 2005. "Estamos tentando entender por quê [o embargo continua], disse, acrescentando que não há justificativa técnica para a restrição.
c) UE planeja mais restrições à carne bovina brasileira
A União Européia (UE) se prepara para restringir a importação de carne bovina do Brasil, provavelmente limitando o número de companhias autorizadas a exportar o produto para seus 27 países-membros. A decisão pode sair ainda esta semana. A porta-voz do comissário de Saúde da UE, Markos Kyprianou, disse que "ele [Kyprianou] está considerando ações que precisam ser tomadas, com base nas conclusões da missão que esteve no Brasil em novembro" para avaliar o controle sanitário na produção de carne bovina no país.
Outra fonte da União Européia disse que autoridades brasileiras já foram informadas de que a decisão é para breve, e que desta vez um endurecimento é inevitável.
Segundo a Reuters, Kyprianou teria revelado ontem a deputados europeus que propôs aos outros comissários medidas duras contra a carne brasileira, com base nos resultados da missão veterinária que esteve no Brasil em novembro. Sua porta-voz não confirmou o relato. Ela disse que Kyprianou reuniu-se com os outros comissários ontem, mas que não houve decisão por parte da Comissão, até porque alguns deles tiveram de partir rápido para Estrasburgo, para se encontrar com deputados.
A UE, porém, não deve restringir toda a carne produzida no Brasil, como querem pecuaristas irlandeses e ingleses. Um sinal disso foi uma carta do presidente da Comissão Européia, José Durão Barroso, ao ombudsman da UE, rejeitando demandas dos irlandeses e ingleses, dizendo que não havia razões para proibir toda a carne brasileira. Associações de agricultores desses países recorreram ao ombudsman, acusando a UE de pôr em risco a saúde dos consumidores ao não interditar a carne brasileira. Desde outubro de 2005, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo estão proibidos de exportar à UE por conta dos casos de aftosa nos dois primeiros Estados.
Mercosul
a) Com Israel, Mercosul faz primeiro acordo fora da América Latina
Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai concluíram as negociações de um acordo de livre comércio com Israel. Falta apenas solucionar um detalhe técnico para que o compromisso seja selado na reunião de cúpula do Mercosul, que acontece segunda e terça-feira em Montevidéu. Se o pequeno entrave for resolvido a tempo, o acordo será o primeiro do Mercosul com um país de fora da América Latina. O vice-primeiro ministro de Israel e ministro da Indústria, Eliahu Yishai, é aguardado na capital uruguaia para a cerimônia de assinatura.
Embora o impacto econômico seja reduzido, o acordo terá implicações políticas importantes. Como Israel é um país desenvolvido, a conclusão das negociações derrubaria a tese de que o Itamaraty prioriza apenas acordos com países pobres. Israel é aliado dos Estados Unidos e um ferrenho opositor dos países árabes. A conclusão do acordo poderia azedar as relações brasileiras com os árabes, que foram impulsionadas durante o governo do presidente Lula.
Outra questão é a entrada da Venezuela do Mercosul. Ainda não se sabe qual seria a reação do presidente Hugo Chávez a esse acordo. Chávez cultiva estreitas relações com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que é inimigo de Israel. A entrada da Venezuela no Mercosul ainda não foi ratificada pelos Congressos de Brasil e Paraguai, portanto, os venezuelanos participaram das reuniões de negociação com Israel, mas não tiveram poder de voto ou de veto.
O acordo entre Mercosul e Israel prevê a liberalização total de mais de 90% do comércio entre as duas regiões em até dez anos. Os produtos foram divididos em quatro cestas, com prazos diferenciados para o fim das tarifas de importação: imediato, quatro, oito e dez anos. Um percentual pequeno de produtos, entre 5% e 8%, estarão sujeitos a cotas de importação. Entram nessa lista produtos agrícolas, como açúcar, carnes e laticínios. Apenas 2% dos produtos estariam fora do acordo. Os israelenses relutaram em abrir o mercado, porque queriam proteger a produção artesanal dos "kibbutz", pequenas comunidades agrícolas.
b) Olhares sobre Cristina
Durante o governo Lula, o Brasil tem se preocupado bastante em manter a estabilidade na América do Sul. As negociações pela integração regional caminham a passos lentos, e qualquer crise política nos países vizinhos seria suficiente para imobilizar de vez o processo de aproximação. As recentes turbulências na Bolívia e na Argentina também deixaram marcas na indústria brasileira, pelo impacto negativo no comércio ou pela importação inconstante de gás boliviano, sujeita ao bom humor em La Paz. Nesse contexto, o Planalto torce intensamente para Cristina Kirchner, nova presidenta argentina, conseguir driblar os desafios que a esperam na Casa Rosada.
Ao tomar posse hoje, Cristina herdará do próprio marido uma economia estável, mas repleta de armadilhas. O controle da inflação merecerá atenção urgente. Enquanto fazia campanha pela eleição de sua mulher, Néstor Kirchner insistiu que o índice fechará o ano em apenas um dígito. Os institutos privados consideram essa previsão uma farsa, e estimam uma taxa entre 15% e 20%. O fato comprova que o país conseguiu aumentar a oferta de emprego e o poder de compra — gravemente afetados na pior crise econômica de sua história, entre 2001 e 2002. Vislumbra, porém, a necessidade de ajustes fiscais capazes de comprometer a até então inabalável popularidade do casal Kirchner.
O presidente em fim de mandato tem 76,9% de aprovação, enquanto a sucessora conta com 66,1%. Cristina fará de tudo para prolongar a lua-de-mel com o eleitor. Indicou que priorizará as relações com o Brasil e, na última visita a Brasília, anunciou a criação de uma comissão bilateral para discutir os imbróglios. Passa por Brasília a solução ao quebra-cabeça que a nova presidenta terá de montar para evitar uma crise. Afinal, a indústria Argentina precisa de energia que a Petrobras pode ajudar a fornecer, e precisa de investidores estrangeiros que o Brasil possui. Ao deixar explícita a preferência por negociar com Lula e dar menos ênfase à parceria com a Venezuela de Hugo Chávez, Cristina envia aos empresários no exterior um sinal de compromisso com a segurança jurídica.
c) Argentina encara seus vizinhos
Cristina Fernández de Kirchner comanda a segunda maior economia da América do Sul. Além de entrar para a História argentina como a primeira mulher eleita pelo voto popular a ocupar a Presidência, a senadora pode firmar-se como a grande consolidadora do Mercosul, num momento em que o bloco engasga em querelas entre seus integrantes e hesita em ampliar acordos econômicos.
Simultaneamente à agenda externa, a governante terá de enfrentar um trio de desafios na área interna: conter a inflação, que recupera o fôlego; evitar a crise energética (e o recorrente pesadelo do apagão); e manter o impressionante ritmo de crescimento econômico apresentado nos últimos anos (acelerado em 8% em média, desde 2002).
Reconquistar a confiança dos investidores estrangeiros - abalada desde a moratória de 2001 - é outra batalha a ser travada cotidianamente nos próximos quatro anos de mandato. Embora tenham se passado seis anos da aguda crise econômica, política e social que levou o país a trocar de presidente cinco vezes em 12 dias, os grandes players globais ainda não degustaram bem o plano de reestruturação posto em prática pelo marido de Cristina, Néstor Kirchner. Um programa baseado na troca de títulos da dívida com pagamento suspenso por outros papéis - com descontos de até 75%, se considerados os juros não pagos no período crítico. De cada 100 pesos emprestados, o credor recebeu 25. Em fevereiro de 2005, quando o plano encerrou sua última etapa, apenas Kirchner comemorou. Os investidores - vários deles, fundos de pensão estrangeiros - estrilam até hoje.
d) Mercosul domina visita de Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca em Caracas em um esforço diplomático para impulsionar o comércio bilateral e convencer o colega Hugo Chávez a não desistir do Mercosul. Mais: Lula deve tentar persuadir o mandatário venezuelano a minimizar a retórica de confrontação, a fim de avançar no mínimo de consenso para a cúpula do bloco, que ocorrerá de segunda a terça-feira. A agenda de hoje na capital venezuelana inclui uma reunião privada com Chávez no Palácio de Miraflores, por volta das 11h. Depois, ambos rumarão para a sede da estatal petroleira PDVSA, onde encerrarão o fórum "Como fazer negócios no Brasil e na Venezuela".
Em declarações ao canal estatal Venezolana de Televisión (VTV), Chávez afirmou que vai discutir com Lula a assinatura de acordos bilaterais sobre "petróleo, gás e energia". Eles devem conversar sobre o Banco do Sul, cuja criação foi acertada domingo em Buenos Aires, com a assinatura da ata constitutiva por Argentina, Brasil, Bolívia, Equador, Paraguai e Venezuela. Chávez confirmou que vai à próxima cúpula do Mercosul. "Cristina (Kirchner) acaba de me dizer: ‘Você não pode faltar, ainda que (o ingresso da Venezuela) não seja aprovado formalmente’, e eu lhe disse que não faltaria. Lula me disse também: ‘Chávez, você tem que ir’, porque havia corrido o rumor de que eu não iria. Sim, assistirei à cúpula do Mercosul", declarou o presidente.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, esteve em Caracas na terça-feira para abrir o fórum, que reúne cerca de 150 empresários brasileiros de diversos setores, como têxteis, materiais médico-odontológicos, alimentos, fármacos, softwares e equipamentos agrícolas. Eles participaram ontem de uma rodada de negócios, além de workshops sobre temas como logística, infra-estrutura e bens de capital, organizados pelo Itamaraty e pela Agência de Promoção de exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Mais que vender para os venezuelanos, a idéia é tentar reequilibrar a balança comercial.
OMC
a) Amorim critica exclusão do álcool de lista
O chanceler Celso Amorim qualificou ontem, em Bali (Indonésia), como "aberrante" a exclusão do álcool da lista de produtos ambientais para os quais os EUA e a UE proporão isenções tarifárias no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Para o Brasil, a proposta de abertura de mercado a 43 produtos trata-se de protecionismo disfarçado, uma vez que eles são todos produzidos sobretudo pelos autores da proposta.
b) Pneus Usados e OMC
Parece estar chegando ao fim a inacreditável novela dos pneus usados, pois a Organização Mundial do Comércio (OMC) acaba de considerar legítima a decisão do Brasil de proibir sua importação. O parecer final da OMC não aceitou que o Brasil — diante do argumento de baixo volume — permitisse a importação de pneus usados e reformados do Uruguai e Paraguai. Para que a novela chegue ao capítulo final, só falta uma decisão do Supremo Tribunal Federal em relação às liminares concedidas aos reformadores de pneus que permitiram a importação de milhões de carcaças nos últimos anos.
As fábricas de pneus remoldados, capitaneadas pela BS Colway, são as interessadas em manter essa estapafúrdia importação de pneus velhos, por dois motivos: permite a remoldagem do pneu que acaba sendo vendido como "novo" sem o custo da carcaça; permite a venda (apesar de proibida) dos pneus usados no mercado, com lucros astronômicos, pois são obtidos sem custo nos países de origem.
A rigor, nada contra os pneus remoldados, desde que sejam produzidos com carcaças sucateadas no nosso mercado, jamais a partir de pneus usados importados, transformando o Brasil em lixo do mundo.
Plano Internacional
a) Os desafios de Bali
Cento e noventa países estão reunidos em Bali, Indonésia, para traçar caminhos com o objetivo de enfrentar o maior desafio da história da humanidade: as mudanças climáticas promovidas pelo aquecimento global e suas conseqüências dramáticas para a vida dos povos. Cientistas e autoridades de todo o mundo concordam que as alterações do clima são irreversíveis e, ainda que um esforço gigantesco seja realizado por todas as nações, só conseguiremos limitar o aumento da temperatura do planeta em 2 graus centígrados até 2100, o que já produzirá conseqüências terríveis.
Outra conclusão consensual no meio científico é de que quem sofrerá mais drasticamente os impactos das alterações do clima são os países mais pobres. Redução das praias da Ásia, seca e fome na África, seca mais rigorosa no Nordeste brasileiro, modificações extremas na agricultura em todo o mundo são cenários previstos com grande margem de certeza, cabendo dúvidas apenas quanto à intensidade dos fenômenos.
O que torna o problema mais complexo é que o desafio da redução significativa das emissões de gases de efeito estufa só trará algum resultado efetivo se for assumido globalmente por todos os países e de forma urgente. Pouco adiantará, por exemplo, o Brasil reduzir consideravelmente as taxas de desmatamento da Amazônia e conseqüentemente nossas emissões, se os Estados Unidos, responsáveis por quase 30% das emissões do planeta, não assumirem compromissos rigorosos de redução. O fato é que estamos diante de uma globalização perversa em que já somos vítimas das emissões históricas dos países desenvolvidos. Por seu lado, está claro que o Protocolo de Kyoto, que valerá de 2008 a 2012, traçou metas insuficientes de redução (5,2%) para os países desenvolvidos e ainda assim, provavelmente, não serão cumpridas por alguns, ou sequer assumidas pelos Estados Unidos.
Diante dessas observações, é difícil ser otimista em relação aos desdobramentos de Bali. Os EUA deverão manter a posição arrogante, preocupados com os altos índices de desenvolvimento de países como China e sua competitividade no mercado internacional. Os países do bloco europeu, muito sensíveis ao tema, liderados pela Inglaterra, estarão dispostos a assumir metas cada vez mais amplas para reduzir suas emissões, mas verão seus esforços serem diluídos pela posição americana. Países como China, Índia e Brasil, que não se sentem responsáveis pelo aquecimento atual e com grandes desafios em relação ao seu desenvolvimento interno, também serão pressionados a reduzir suas emissões.
b) China acusa EUA de politização do comércio
A vice-primeira-ministra chinesa, Wu Yi, acusou os Estados Unidos de politizar os problemas comerciais entre os dois países, exagerar nas denúncias dos produtos chineses tóxicos e "prejudicar gravemente" a imagem da China. As queixas foram apresentadas ontem, após reunião com o secretário de Comércio americano, Carlos Gutiérrez.
Wu, a mulher mais poderosa do governo chinês, afirmou que estes casos foram "notas discordantes" nas relações entre Washington e Pequim este ano, nas quais houve "evidente politização das questões econômicas", segundo declarações citadas pela agência estatal Xinhua.
A vice-primeira-ministra chinesa, responsável pelos assuntos econômicos no Conselho de Estado (Executivo), aproveitou o encontro com Gutiérrez para agradecer os esforços para bloquear as propostas legislativas que impunham limites ao comércio com a China.
Gutiérrez mostrou recentemente sua oposição às propostas do Congresso dos EUA para limitar o comércio com a China, assim como fizeram o mesmo 1.028 economistas americanos e executivos de mais de cem empresas americanas.
"Impor restrições ao mercado normal ou usar medidas protecionistas só servirá para prejudicar os interesses de ambas as partes", disse Wu. Gutiérrez, citado pela Xinhua, também disse que o protecionismo é algo "a evitar". "O melhor modo de reduzir o déficit comercial com a China não é diminuindo as importações", acrescentou.
c) Preços na China registram a maior alta em 11 anos
A inflação na China subiu 6,9% em novembro na comparação com o mesmo mês do ano passado, atingindo o seu maior nível em 11 anos. Os preços dos alimentos, que cresceram 18,2%, e os dos combustíveis, que ficaram 5,5% mais altos, foram os que mais influenciaram na alta de novembro.
Os preços em outubro já tinham subido 6,5%, mesma marca de agosto e até então a maior inflação desde 1996. A alta nos preços é umas das principais preocupações do governo chinês, que, em setembro, decidiu congelar os preços dos serviços públicos. A medida atingiu uma série de serviços que são controlados por Pequim, como combustível, eletricidade, água e transportes.
Apesar da crescente inflação e da valorização gradual da moeda chinesa, o yuan, o comércio exterior do país não parece ter sido afetado. Em novembro, o superávit comercial chinês cresceu 14,7% em relação ao mesmo mês de 2006, para US$ 26,28 bilhões, o terceiro maior nível da história.
As exportações chinesas cresceram 22,8% no mês passado, para US$ 117,62 bilhões. Nos 11 primeiros meses do ano, as vendas para o exterior do país asiático somaram US$ 1,1 trilhão, maior que o PIB Brasil do ano passado, que foi, segundo o FMI, de US$ 1,067 trilhão. As exportações chinesas avançaram 25,3% no mês passado, alcançando US$ 91,34 bilhões. Até novembro, a alta foi de 20,5%, totalizando US$ 865,5 bilhões.
O avanço do superávit comercial chinês e a valorização do yuan devem ser temas do encontro nesta semana em Pequim das autoridades chinesas com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson.