10 a 14 de novembro de 2008

Comércio Exterior

Resultados
Brasil continuará gigante exportador
Para suavizar crise, governo alonga prazo de impostos
Déficit comercial com a China deve aumentar no ano que vem
Projeto cria novas barreiras para importação de produtos asiáticos
Minério na China

Agronegócio

Relatório do USDA motiva valorizações de soja e milho em Chicago; trigo recua
Crise freia projetos de expansão de álcool
Dólar puxa alta
Baixa demanda

Mercosul

Crise no setor automotivo atinge 10 mil operários na Argentina
Brasil busca acordo comercial com México
Frango argentino
Argentina dá incentivo a petroleiras

Organização Mundial do Comércio (OMC)

Obama relega Doha a segundo plano
Banco estuda participar do risco das operações

Plano Internacional

BCs mundiais não endossam alta de gastos
França destina 2,5 milhões de euros a ação no Brasil
Alemanha anuncia recessão



Comércio Exterior

a) Resultados

O fluxo cambial na primeira semana de novembro (entre os dias 3 e 7) ficou negativo em US$ 656 milhões, com o fluxo comercial apresentando déficit de US$ 213 milhões e o financeiro, de US$ 442 milhões. Nos cinco primeiros dias úteis de novembro de 2007, havia sido registrado um fluxo positivo de US$ 977 milhões.

Isso explica a desvalorização do real ante o dólar, que continuou sendo verificada. O fluxo financeiro negativo (entradas de US$ 5,809 bilhões, saídas de US$ 6,252 bilhões) não é uma anomalia: já era verificado no ano passado, para o mesmo período, especialmente em razão das remessas de lucros e dividendos. A maior preocupação é com o fluxo comercial, que era positivo em US$ 2,058 bilhões no ano passado, neste período. Na primeira semana de novembro, as exportações somaram US$ 2,363 bilhões (US$ 4,099 bilhões, em 2007) e as importações, US$ 2,576 bilhões (US$ 2,041 bilhões, em 2007).

Constata-se que a desvalorização tão desejada pelos exportadores não teve nenhum efeito sobre o montante das vendas ao exterior. Sem dúvida, isso acontece por causa da queda da demanda internacional e da queda dos preços das commodities, em razão da crise.

Mas um outro fator contribui para retrair as exportações: a falta de crédito. De fato, no mesmo período de 2007, as operações de Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACC) e de pagamento antecipado somaram US$ 2,571 bilhões, ou seja, 62,7% do total das exportações. Neste ano, na primeira semana de novembro, elas ficaram em US$ 989 milhões, ou 41,8% das exportações.

A falta de crédito anula a vantagem que se podia esperar da desvalorização. Os incentivos do Banco Central (BC) para que as instituições financeiras aumentem suas operações de ACC, por enquanto, não deram resultado. Na realidade, a média diária de ACC, na primeira semana de novembro, foi 51,3% inferior à média diária registrada em outubro. É verdade que os bancos têm prazo de um mês para realizar essas operações estimuladas pelo BC.

Outro problema é que, com exceção do dólar americano, as moedas dos outros importadores de produtos brasileiros tiveram uma desvalorização que neutraliza a do real.

É preciso que o governo e o BC dêem atenção muito especial ao financiamento das exportações que, em face da crise, se tornam, agora, ainda mais importantes para o balanço de pagamentos do que no passado.

b) Brasil continuará gigante exportador

A União Européia avalia que o Brasil consolidará seu status como exportador gigante de produtos agrícolas até 2017, visto seu domínio nas vendas de oleaginosas, açúcar, etanol, carnes bovina e de frango. Já a UE deve perder espaço nas vendas de grãos, açúcar, lácteos e carnes. A exceção será para o trigo, cujas exportações deverão aumentar. Os Estados Unidos continuarão líder no comércio de trigo e de milho, principalmente.

A nova projeção européia para o comércio agrícola global prevê que o Brasil vai passar os Estados Unidos como maior produtor mundial de óleo de soja em 2016/17. O Brasil e a China (como importador) representarão mais da metade desse comércio em 2010. Argentina e EUA continuarão na liderança das exportações.

A demanda por açúcar deve crescer mais rápido que a produção, e o Brasil e a UE serão os principais atores no mercado. Até 2017, o Brasil terá 60% do mercado mundial. A UE se tornará o maior importador global, comprando mais de 5 milhões de toneladas. A China e os Estados Unidos vão importar muito açúcar, deixando a Rússia (hoje o maior importador) na quarta posição em 2017.

A Tailândia deve superar a Austrália como segundo maior exportador de açúcar, com uma fatia de 12%. Desde 2006, a Índia é o segundo maior produtor.

A UE projeta para o etanol o domínio do Brasil como exportador e dos Estados Unidos como importador. O comércio internacional deve crescer velozmente, pelos cálculos de Bruxelas. As exportações brasileiras podem alcançar 13 bilhões de litros dentro de dez anos, pelo cenário europeu.

O setor de carnes como um todo manterá sua expansão, graças a aumento da população mundial e maior renda nos países em desenvolvimento. O comércio deve aumentar 2,5% ao ano. O Brasil ganhará mais da metade do crescimento, com 30% das exportações globais de carnes em 2017. Os Estados Unidos também ganharão fatias de mercado. A Rússia permanecerá como o maior importador líquido, seguido pelo Japão.

A China representará mais de 40% do crescimento da demanda, mas isso terá menos impacto no comércio mundial porque o consumo pode ser atendido em grande parte pela produção doméstica.

O Brasil continuará dominando o comércio de carne bovina, com 47% das exportações mundiais. Também poderá mais que dobrar suas exportações de carne de porco. E será o único país onde a produção de frango é prevista para aumentar significativamente mais rápido do que o consumo, consolidando sua posição de maior exportador, a frente dos EUA.

Entre os principais cereais, o trigo terá produção maior na Austrália, UE e EUA. Em relação ao arroz, a Tailândia pode consolidar sua posição como maior exportador mundial, seguido pelo Vietnã.

Quanto ao milho, os Estados Unidos devem recapturar mercados e elevar sua fatia de mercado de 63% para 72%. A Argentina será o segundo, com 20%. Já o Brasil terá sua fatia menor, porque o consumo doméstico de milho será maior que a produção. A demanda da China continuará alta.

A expectativa é de que os preços serão mais voláteis no futuro. Para o médio prazo, as projeções são de alta, depois da queda de cotações registradas neste ano.

c) Para suavizar crise, governo alonga prazo de impostos

A mais recente etapa do pacote de medidas governamentais para enfrentar a crise financeira mundial, anunciada na semana passada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, ganhou ares de novidade com a decisão de alongamento do prazo de recolhimento de tributos, como o Imposto sobre Produção Industrial, o Imposto sobre a Renda e a contribuição previdenciária das empresas.

Desde que, em meados do mês de setembro, os problemas no segmento financeiro americano abalaram todo o sistema bancário e de crédito do mundo, esta foi a primeira decisão de Brasília que procurou ajudar as empresas diretamente, sem passar pela intermediação de bancos e outras instituições.

Cálculos do ministro da Fazenda mostram que o adiamento de dez dias na transferência de recursos do setor privado como pagamento de impostos representa um fôlego de capital de giro equivalente a R$ 21 bilhões. Os empresários queriam prazos ainda mais dilatados e não se deve esperar uma reversão das expectativas negativas, mas não se pode negar que foi um passo importante para o setor privado.

Por ser uma medida universal, que beneficia todas as empresas independentemente do setor em que atuam, ela pode servir, de fato, como um alento para a economia brasileira, que começa a apresentar os primeiros sinais de que a paralisação do crédito está afetando os negócios. Os principais indicadores do nível de atividade econômica, consolidados mensalmente pelo IBGE, ainda não mostraram os estragos causados pela crise financeira global, mas informações repassadas pelas empresas e pelas entidades representativas do comércio e da indústria confirmam que há, sim, grandes motivos para preocupação com o ritmo da economia brasileira nos próximos meses.

A preocupação com os efeitos da crise já levou empresas de diferentes setores a reverem a programação de férias e até a cortar pessoal. O setor de autopeças antecipou as férias coletivas ajustando-se ao calendário das montadoras. A situação mais dramática está nos segmentos da construção civil e de papel e celulose, nos quais empresas já iniciaram o processo de demissões. No setor varejista, a contratação de temporários para as vendas de fim de ano - que só em São Paulo gera 300 mil novos postos de trabalho nessa época - está em suspenso, conforme retratado pela edição de sexta-feira do Valor.

No setor da construção civil de São Paulo, a média de homologações, que era de 40 pessoas por dia, aumentou para 150 pessoas ao dia desde a semana passada, informou o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo, sendo que esse incremento não é comum nesse período. As construtoras estariam com dificuldades de obter crédito para dar início a projetos e preferem dispensar parte dos funcionários, enquanto não têm uma definição sobre 2009. A maior parte das demissões seria de engenheiros e mestres de obras.

No setor de papel, houve demissões em empresas que têm atividades ligadas à Aracruz, que reviu seus projetos de investimento após prejuízo com derivativos. Em Belo Horizonte, o grupo Plantar (que produz eucaliptos) anunciou a demissão de 750 dos 1 mil trabalhadores. No segmento metalúrgico, a GM anunciou na quarta-feira a abertura do programa de demissões voluntárias na fábrica de São José dos Campos (SP), que possui 9,4 mil trabalhadores, mas sem meta de homologações. Em Campinas, além das férias coletivas, há um crescente número de demissões comunicadas ao Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e Região: o setor de autopeças efetuou desde a última quinzena de outubro entre 250 e 300 demissões.

Além de adiar o pagamento de impostos, foi anunciado na semana passada que governo federal está liberando mais R$ 10 bilhões para o BNDES emprestar para pequenas e médias empresas e empresas exportadoras. Os recursos do BNDES serão obtidos por meio de emissão de títulos do Tesouro Nacional que seriam comprados pelo BNDES ou pela autorização para que o banco emita CDIs para bancos privados e se capitalize. Com isso, o BNDES poderá financiar capital de giro para pequenos empresários, operações de pré-embarque de exportações e empréstimos-ponte. Em relação ao setor agrícola, ficou decidido que o governo comprará os produtos pelo preço mínimo, garantido o estoque, ou pagará a diferença entre o preço mínimo e o preço de mercado.

d) Déficit comercial com a China deve aumentar no ano que vem

O déficit comercial do Brasil com a China, de US$ 2 bilhões, deve aumentar no ano que vem, com a queda nos preços internacionais da soja e do ferro. Apesar do pacotão de investimentos anunciado no domingo pelo governo chinês, produtos brasileiros enfrentam barreiras crescentes na potência asiática.

Empresários brasileiros reclamam que a China mantém uma relação "colonial" com o Brasil. Quase 100% das exportações chinesas ao Brasil são de produtos industrializados, mas a China só importa matérias-primas (2/3 das exportações brasileiras para o país são de soja e minério de ferro).

"Há um paredão tarifário. Se exportamos uma matéria-prima, a alíquota para entrar na China é zerada, mas se o produto é industrializado, o imposto sobe para 30, 40%", afirma o vice-presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp, Carlos Antonio Cavalcanti, que dirige a maior associação de um dos setores "barrados", o de pedras e granitos.

Para piorar, a associação que reúne as maiores siderúrgicas chinesas anunciou um boicote ao minério de ferro da Vale por não aceitar um reajuste de 11%, que faria os chineses pagarem o mesmo preço que os europeus pagam pelo mineral. A Vale exporta US$ 900 milhões em ferro ao país.

O Brasil exporta ferro, mas importa trilhos da China. Mais da metade dos trilhos para ferrovias usados no país são importados da China. Uma tonelada de trilhos custa cerca de US$ 850. Para se fazer essa tonelada na China, os asiáticos importam o equivalente a 1,8 tonelada de ferro do Brasil, que custa US$ 110.

Inicialmente, a China importava óleo de soja do Brasil. Hoje importa o grão e o industrializa. Acontece o mesmo com o café solúvel.

Os frangos e a carne suína do Brasil são proibidas de entrar na China. As negociações se arrastam desde outubro de 2004. "As exigências mudam a cada visita que fazemos aos chineses. É incompreensível a resistência em dar as licenças de importação para o frango brasileiro: 22 fábricas brasileiras estão habilitadas desde 2006, mas não conseguem exportar", reclama o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango, Christian Lohbauer.

O impasse também acontece com a carne suína. Há cerca de 2 anos ocorreu uma grave epidemia na suinocultura e a China precisou passar a importar carne de porco. No ano passado, o preço dessa carne, base da culinária chinesa, aumentou 60%. Os chineses compram o que falta dos Estados Unidos.

"Sinto que com os chineses ocorre do jeito que eles querem na hora que querem. É devagar, frustrante", diz Pedro Camargo, da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).

O setor de granito e pedras decorativas, que exportou em 2007 US$ 1,1 bilhão, também enfrenta travas. Cerca 80% das exportações brasileiras de granitos ao resto do mundo são de produtos industrializados no Brasil. A China importa por ano cerca de US$ 100 milhões de blocos de granito do Brasil, com alíquota zerada. Mas se o Brasil quer vender a chapa polida, o imposto de importação chinês salta para 24%. "Vendemos para 120 países material industrializado, menos para a China", reclama Cavalcanti.

A China ultrapassou a Argentina neste ano e já é o segundo maior parceiro comercial do Brasil (exportações + importações) e deve se tornar o primeiro entre 2010 e 2011. O Brasil é o nono maior fornecedor das importações feitas pela China. Entre 2001 e 2006, o Brasil tinha pequenos superávits comerciais com a China.

Em 2007, o país exportou US$ 10,7 bilhões para a potência asiática e importou US$ 12,6 bi. Entre janeiro e setembro deste ano, exportou US$ 13,7 bi e importou US$ 14,85 bi. O Ministério do Comércio da China não retornou os pedidos da reportagem para comentar as críticas dos empresários brasileiros.

e) Projeto cria novas barreiras para importação de produtos asiáticos

Os lobbies privados estão atuando para implementar uma nova regulamentação técnica que pode dificultar a entrada de importados, principalmente da Ásia. As regras, que foram aprovadas pela Câmara e agora seguem para o Senado, vão avaliar a segurança dos produtos e o respeito aos direitos do consumidor. Os importados estarão sujeitos a fiscalização do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e outros órgãos reguladores ainda nos portos.

De autoria do deputado Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), o projeto de lei 717 foi aprovado pelo plenário da Câmara dos Deputados na quarta-feira. O documento prevê que uma lista de produtos a serem escolhidos pelo governo estará sujeita a licenças não-automáticas de importação, o que permitirá a fiscalização prévia. Cargas irregulares serão retidas no porto por 60 dias até que o importador promova a adequação ou devolva ao país de origem.

As novas regras devem legislar apenas sobre questões relacionadas à segurança do consumidor, do trabalhador ou ao respeito ao meio ambiente. Se o governo tentar controlar a qualidade dos produtos que entram no país, a medida será considerada uma barreira não-tarifária e pode ser questionada na Organização Mundial do Comércio (OMC). Temos que ter cuidado e restringir as exigências a questões de segurança. Não nos interessa criar barreiras à importação, que ajuda a controlar os preços, disse Mendes Thame.

De acordo com o deputado, uma série de produtos importados, principalmente vindos da Ásia, chega ao país com irregularidades: cabos de aço de elevadores sem a resistência exigida, prensas ou guilhotinas sem mecanismos de segurança para os operários, borrachas escolares com alto nível de toxicidade etc. Ele explica que produtos importados, assim como os nacionais, estão sujeitos a fiscalização do governo apenas quando chegam aos pontos de venda ou já estão no chão de fábrica.

O setor privado apóia vigorosamente o projeto e está fazendo lobby no Congresso para aprová-lo. Temos que evitar o mal na origem, disse Fernando Pimentel, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Nos cálculos da entidade, 30% das roupas que chegam ao país estão erroneamente etiquetadas, o que é um problema para o consumidor. Os erros mais comuns são etiquetas em inglês ou espanhol, identificação incorreta da composição do tecido ou da maneira de cuidar da peça.

A principal preocupação do setor privado é concorrencial. Ao não respeitar exigências técnicas de segurança, os produtos importados conseguem um preço mais competitivo que os nacionais. Quando a fiscalização ocorre atualmente, o dano já foi feito para o mercado nacional, disse Carlos Pastoriza, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Ele exemplificou que prensas e guilhotinas sem equipamentos que garantam a segurança dos operários podem custar até 20% a menos do que uma máquina brasileira. De acordo com o executivo, é provável que as máquinas importadas da China apresentem mais problemas do que as de origem européia ou americana.

Depois que os produtos estão pulverizados no mercado, fica mais difícil. Se tivermos acesso às zonas alfandegadas, faremos uma fiscalização no atacado, disse Paulo Coscarelli, diretor-substituto de qualidade do Inmetro. A instituição é favorável ao projeto de lei e a o diretor avalia que a eficácia da fiscalização do Inmetro deve aumentar. Ele não acredita que faltarão funcionários para dar conta do trabalho extra, porque fiscais hoje dedicados ao varejo seriam transferidos. Atualmente, o Inmetro conta com 700 fiscais espalhados por 65 agências no país, incluindo os institutos estaduais parceiros da instituição.

Os Importadores estruturados não estão preocupados e são inclusive favoráveis às regras. O mercado tem que mudar, porque temos muitos Importadores informais, disse Gustavo Dedivitis, presidente da Associação Brasileira da Importadores de Produtos Populares (Abipp). Somos totalmente favoráveis a produtos importados seguros e de qualidade, completou. O executivo reclamou apenas que às vezes o governo e o setor privado brasileiro consideram preços mínimos elevados para os produtos importados, que estão fora da realidade do mercado.

Esse projeto de lei foi apresentado por Mendes Thame em 2003, com base em uma proposta anterior de Antônio Kandir. De acordo com o deputado, as preocupações do governo e do Congresso com o déficit da balança comercial brasileira ajudaram a destravar o processo. Os empresários estão animados e acham que a aprovação no Senado pode ocorrer até o início de 2009.

f) Minério na China

As importações de minério de ferro pela China podem não aumentar no próximo ano. Seria a primeira vez desde 1999. O motivo seria a desaceleração da demanda por parte das siderúrgicas, disse a Associação de Empreendimento de Mineração Metalúrgica. Segundo a Bloomberg, as importações podem permanecer em 400 milhões de toneladas no ano que vem, o mesmo nível de 2008, disse ontem Zou Jian, presidente dessa organização do setor, em uma entrevista em Pequim. A queda acentuada da procura por minério vai aparecer nos dados sobre importações nos próximos dois meses, acrescentou ele.

Agronegócio

a) Relatório do USDA motiva valorizações de soja e milho em Chicago; trigo recua

Novo relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) sobre oferta e demanda de grãos no país e no mundo divulgado ofereceu sustentação às cotações de soja e milho na bolsa de Chicago. Para o trigo, em contrapartida, os números apresentados foram considerados baixistas pelos analistas.

No mercado de soja, a atenção dos traders concentrou-se nas novas projeções para os EUA, sobretudo para as exportações americanas. Como essas foram mantidas pelo USDA em 27,76 milhões de toneladas nesta safra 2008/09, apesar dos sinais de desaceleração econômica em diversos mercados, inclusive na Ásia, os preços subiram em Chicago.

Os contratos futuros com vencimento em janeiro (que ocupam a segunda posição de entrega) encerraram a sessão a US$ 9,48 por bushel, em alta de 27 centavos de dólar (2,93%). No ano, conforme cálculos do Valor Data, a baixa acumulada dos papéis de segunda posição diminuiu para 21,93%.

No caso do Brasil, o órgão diminuiu sua projeção de produção de soja de 62,5 milhões para 60 milhões em 2008/09 e, com isso, as exportações foram corrigidas de 27,2 milhões para 25,7 milhões de toneladas. No cenário global, o USDA ajustou para baixo produção e demanda, com saldo levemente negativo para os estoques finais. Em outubro, o USDA previa 54,34 milhões de toneladas para esses estoques; passou a estimar 54,06 milhões, ainda acima do ciclo 2007/08 (53,04 milhões).

Os dados altistas que o mercado captou no mercado de milho foram menos claros que os da soja. Mas como outras commodities também subiram - inclusive o petróleo -, os preços do milho foram a reboque em Chicago. Os contratos para março (segunda posição) fecharam a US$ 4,0150 por bushel, ganho de 8 centavos de dólar (2,03%) sobre sexta-feira. Segundo Valor Data, esses papéis ainda apresentam retração de 13,98% no acumulado de 2008.

Para a produção americana de milho, o USDA fez um corte de 0,1%. Em compensação, reduziu a previsão para as exportações do país e incrementou seus estoques finais, teoricamente outros dois fatores baixistas. Em tempos de incertezas, contudo, o mercado interpretou os números de outra forma.

Para o Brasil, o departamento elevou estoques iniciais e finais na mesma proporção e manteve as demais projeções. No cenário global, o destaque também foram os fortes aumentos dos estoques iniciais e finais. A produção cresceu 0,04% e as exportações mundiais recuaram 0,9%.

O que não surtiu efeito para soja e milho funcionou para derrubar o trigo nas bolsas americanas, em uma clara demonstração que as movimentações financeiras ainda nublam o papel dos chamados fundamentos nas formações de preços das commodities agrícolas.

Segundo traders de Chicago, determinou a baixa do trigo o aumento de 0,3% da previsão do USDA para a produção global, que deverá alcançar o recorde de 682,37 milhões de toneladas em 2008/09. A FAO, braço da ONU para agricultura e alimentação, divulgou projeção na mesma direção na semana passada, e ela foi desprezada. Na bolsa, o bushel do trigo para entrega em março (segunda posição) recuou 1,25 centavos de dólar (0,23%), para US$ 5,4075 por bushel. Em 2008, a baixa acumulada chega a 35,66%.

b) Crise freia projetos de expansão de álcool

A crise global impôs um novo freio nos projetos de expansão da produção de açúcar e de álcool. Segundo cálculos do setor, pelo menos 47 projetos de implantação de novas usinas foram adiados. No ano passado, havia a estimativa de que 140 usinas seriam implantadas até 2015. A previsão caiu para 93.

A maioria dos projetos em fase inicial foi suspensa à espera de que o cenário econômico fique mais claro. O grupo Rede Energia (dono de nove distribuidoras de energia elétrica) planejava construir duas usinas de álcool em Mato Grosso do Sul, para entrarem em operação em 2011 e em 2012, com capacidade para moagem de 5 milhões de toneladas de cana e investimento de R$ 1 bilhão.

Um dos projetos foi adiado, segundo José Carlos Constanzo, vice-presidente do grupo. "Fica difícil viabilizar um investimento de tal porte neste momento de crise."

Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Açúcar e de álcool de Minas Gerais, Luiz Custódio Cotta Martins, de 12 projetos já aprovados pelo governo do Estado, 6 estão sendo postergados.

"As empresas que ainda não encomendaram o maquinário nem garantiram a fonte de financiamento vão esperar o desenrolar da crise para reavaliar suas decisões", afirma Martins.

É o caso da Usina Alvorada, de Araporã (MG). A empresa estava providenciando as licenças para implantação de nova unidade -com capacidade inicial de moagem de 1,5 milhão de toneladas de cana-, no município vizinho de Tupaciguara, quando explodiu a crise.

O presidente da empresa, Alexandre Pirillo Franceschi, conselheiro da Coopersucar, diz que parte dos recursos para o projeto depende de investidores estrangeiros, e eles refluíram. "A crise trouxe fatores positivos e negativos que ainda não estão bem dimensionados. Com os níveis atuais dos preços do petróleo, o álcool perde competitividade na exportação. A restrição ao crédito e o aumento dos juros também afetam negativamente, mas a desvalorização do câmbio torna a exportação de açúcar mais competitiva. É preciso ver o que vai pesar mais na balança."

O setor enfrentou preços deprimidos na safra 2007/8, e foi apanhado pela crise internacional quando estava com margem de lucratividade muito estreita, segundo avaliação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A média dos preços reais do açúcar cristal, do álcool anidro e do álcool hidratado pagos ao produtor no ano passado foi a menor desde a safra 1999/ 2000, considerada a mais crítica da história recente do setor.

Por conta disso, várias empresas já estavam propensas a adiar os projetos de expansão quando começou a crise.

No Paraná, duas cooperativas adiaram projetos de implantação de usinas de açúcar e de álcool: a Corol (Cooperativa Agroindustrial de Rolândia) e a Coopcana (Cooperativa Agrícola Regional de Cana).

O da Coopcana é uma unidade com capacidade inicial de moagem de 1,5 milhão de toneladas. Anísio Tormena, diretor da cooperativa, diz que o projeto começou a ser desenvolvido em 2007. "Pretendíamos deslanchá-lo em 2009, mas já adiamos para 2010. Falta capital de giro, a exportação de álcool para a Europa e para os EUA parou. Os custos dos insumos aumentaram muito. O adiamento é uma decisão óbvia."

O presidente da Corol, Eliseu de Paula, diz que a construção da usina é necessária para a diversificação da produção agrícola na região de Londrina.

"Estávamos buscando financiamento com agentes internacionais. Ficamos temerosos de levar o empreendimento, de R$ 250 milhões, adiante neste momento. Os bancos também nos recomendaram o adiamento. Vamos empurrá-lo para 2010 ou 2011."

A quantificação dos projetos adiados foi feita pela publicação especializada "Jornal Cana", de Ribeirão Preto, para o próximo anuário do setor, a ser divulgado no final do mês.

Segundo o presidente da publicação, Josias Messias, as empresas prevêem que 28 novas usinas entrarão em operação durante o ano que vem, e que 29 entrariam em operação em 2010.

Já a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) diz que 32 projetos entrariam em operação nesta safra, mas 10 sofreram atraso. Messias acredita que, dentre as que anunciaram o início das atividades para 2009, 8 não chegarão a moer cana durante o ano.

Sobre a viabilidade das projeções para 2010, ele considera ser uma incógnita.

"Cada safra é uma história. A de 1999/2000 foi a pior da história recente do setor, e a seguinte, de 2000/1, foi a melhor, porque muitas usinas quebraram, faltou cana e o mercado consumidor cresceu. O produtor recebeu R$ 1 pelo litro de álcool naquele ano. Esse preço nunca mais se repetiu."

c) Dólar puxa alta

Os preços futuros do café fecharam em alta sexta-feira, nas bolsas internacionais, impulsionados pela queda do dólar em relação a uma cesta de seis moedas estrangeiras, segundo analistas ouvidos pela Dow Jones. Na bolsa de Nova York, os contratos para março fecharam a US$ 1,17 a libra-peso, com aumento de 115 pontos. Em Londres, os contratos para janeiro fecharam a US$ 1.713 a tonelada, com aumento de US$ 22. Especuladores e fundos realizaram compras, dando suporte aos preços do grão. No mercado paulista, a saca de 60 quilos fechou a R$ 255,24, recuo de 0,81%, segundo o índice Cepea/Esalq. No mês, a valorização é de 0,64%. No Brasil, as exportações seguem firmes. O mercado está atento à safra 2009, uma vez que a colheita de 2008 está concluída.

d) Baixa demanda

Contrariando a tendência altista de boa parte das commodities agrícolas na sexta-feira, os preços futuros do algodão fecharam em queda, pressionados pela baixa demanda pelo produto no mercado internacional. Na bolsa de Nova York, os contratos para março encerraram o pregão a 45,60 centavos, baixa de 109 pontos. A fraca demanda está derrubando as cotações do algodão, produto considerado supérfluo em épocas de crise. Com o crédito escasso e caro, as indústrias têxteis estão comprando pouco algodão e os consumidores estão adquirindo menos roupas. As exportações americanas também sinalizam recuo, o que também tira suporte dos preços. Em São Paulo, o algodão fechou a R$ 1,1867 a libra-peso, segundo o índice Cepea/Esalq.

Mercosul

a) Crise no setor automotivo atinge 10 mil operários na Argentina

A crise das montadoras nos EUA e na Europa e a queda na venda de veículos no Brasil já atinge o setor na Argentina.

Segundo o Smata (principal sindicato de metalúrgicos do país), cerca de 10 mil trabalhadores estão sendo afetados por medidas como demissões, suspensões e férias antecipadas.

A Argentina exporta 60% de sua produção de veículos, que em 2007 atingiu 544.647 unidades. O Brasil, destino de 70% das exportações argentinas, registrou em outubro sua primeira queda do ano nas vendas ante mesmo mês de 2007.

Apesar do bom desempenho geral em 2008, os números de outubro da indústria argentina apontam desaceleração no setor. Em relação a setembro, a produção caiu 7,7%, as vendas perderam 9,6% e as exportações subiram 1,2%.

A montadora americana GM foi a primeira a demitir na Argentina. No final do mês passado, anunciou a demissão de 435 empregados (20% do total) da fábrica da Província de Santa Fé. O governo estadual interveio para impedir as demissões e determinou conciliação obrigatória entre as partes.

De acordo com o Smata, montadoras como Renault, Peugeot, Volkswagen, Fiat, Iveco e Mercedes-Benz já anunciaram medidas como suspensões temporárias, férias antecipadas e cortes de carga horária.

O sindicato fez um protesto em Buenos Aires ontem, com cerca de 12 mil participantes, segundo Héctor Chaparro, secretário de Organização da entidade. Nas faixas de manifestantes, muitos deles jovens com uniformes de montadoras, inscrições como Por trabalho e melhores salários".

b) Brasil busca acordo comercial com México

Com a esperança de que a retração do mercado dos EUA estimule o México abrir-se a outros mercados, representantes do Ministério do Desenvolvimento do Brasil desembarcam na capital mexicana, acompanhados de comitiva de autoridades e empresários, para sugerir, mais uma vez, um acordo de livre comércio com o país. O Brasil quer aprofundar os acordos comerciais com o México, e já ofereceu mais de uma alternativa, diz o secretário-executivo do ministério, Ivan Ramalho. Segundo ele, o governo aceitou imediatamente quando, após meses de relutância, os mexicanos acenaram com a reunião marcada.

México e Mercosul têm dois acordos de redução de tarifas, um deles restrito ao setor automotivo, com grande liberdade comercial, que transformou automóveis, partes e peças no principal produto comercializado entre o Brasil e aquele país. O outro acordo, bem mais restrito, prevê redução de tarifas para quase mil categorias de produtos (2 mil, no método mexicano de classificação de importações). O Brasil quer reduzir a zero as tarifas de importação entre México e Mercosul, idéia a que os mexicanos têm resistido, por temor da escala de produção de alguns setores industriais e da competitividade da agroindústria dos países do bloco.

Como alternativa à negociação de livre comércio, os brasileiros sugeriram aos mexicanos um leque de propostas, a começar por um acordo para reduzir à metade todas as tarifas existentes no comércio bilateral, a não ser para produtos já com tarifa reduzida, que, nesse caso, teriam corte mínimo de 20%. Uma alternativa mais modesta é estender a outros setores o acordo já firmado pelo setor automotivo, que garantiu liberação gradual de comércio no setor. Os empresários do setor de painéis de madeira já concluíram uma negociação do gênero, e os representantes do setor têxtil no Brasil viajaram ao México na expectativa de convencer os empresários mexicanos a negociar outro.

O Ministério do Desenvolvimento identificou cerca de 40 categorias de produtos que poderiam ocupar maior espaço no mercado mexicano. O México teria pelo menos 30 tipos de mercadorias com chances de ganhar mais compradores no mercado brasileiro. Entre os produtos exportáveis ao México estão carnes, couros e peles, ração animal, frutas e castanhas, pescado, pimenta, bebidas não-alcoólicas, equipamentos de telecomunicação, elétricos e eletrônicos, máquinas automáticas para processamento de dados e artigos plásticos.

Apesar do crescimento no comércio de produtos como aparelhos celulares e suas peças, as exportações brasileiras ao México vem perdendo ritmo e aumentaram apenas 3,7% entre janeiro e outubro deste ano. Já as importações de produtos mexicanos no Brasil cresceu 60%, principalmente de automóveis e celulares (estes últimos aumentaram as vendas em pouco mais de 1.000%). O aumento nas compras provenientes do México reduziu quase à metade o saldo comercial, que ainda é favorável ao Brasil: até outubro, o país havia vendido US$ 991 milhões a mais do que comprou no mercado mexicano.

c) Frango argentino

As exportações argentinas de carne de frango e derivados somaram 141,7 mil toneladas entre janeiro a setembro, volume 36% maior que as 104,4 mil toneladas do mesmo período de 2007. Em receita, os embarques do segmento cresceram 57%, de US$ 130,3 milhões para US$ 204,6 milhões, segundo o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (Senasa).

d) Argentina dá incentivo a petroleiras

A Argentina lançou um programa de incentivos fiscais para investimentos em exploração, produção e refino de petróleo, com o objetivo de ampliar sua oferta. O plano, anunciado pelo ministro de Planejamento, Julio De Vido, inclui benefícios fiscais para os projetos que possam levar a um aumento da produção de petróleo e de combustíveis, embora ainda não esteja claro qual será seu custo fiscal.

Chamado de Petróleo Plus, o programa adota cortes que aumentariam os ganhos das produtoras de US$ 7 a US$ 10 por barril extraído a partir da data de adesão da empresa privada.

Atualmente, os preços do petróleo estão vinculados ao esquema de retenções móveis estabelecido pelo governo no ano passado. Com isso, o valor cobrado pelas companhias para exportar ou vender o produto no mercado argentino é bem menor, entre US$ 42 e US$ 47 por barril - já os preços no mercado internacional variaram de US$ 140 há quatro meses até US$ 63 na última semana. O Petróleo Plus deve aumentar os ganhos das petroleiras em até 20%.

O Valor apurou que a Petrobras, que atua na Argentina, acha a iniciativa positiva.

A terceira economia latino-americana está em seu sexto ano consecutivo de crescimento, embora tudo indique que o ano de 2008 terminará abaixo das taxas superiores a 8% que marcaram os últimos cinco anos.

Mas o boom econômico ocorreu junto com a falta de investimentos no setor de energia, fruto de uma série de crises e do congelamento virtual das tarifas internas e dos combustíveis, o que levou o país a viver sempre no limite entre a oferta e a demanda energética desde 2004. Para ampliar a oferta, o governo recorreu à importação de diesel venezuelano, gás natural boliviano e eletricidade brasileira.

Organização Mundial do Comércio (OMC)

a) Obama relega Doha a segundo plano

Os EUA receberam com frieza os apelos que o Brasil e o Reino Unido têm feito para ressuscitar a Rodada Doha de liberalização do comércio mundial, e tudo indica que o assunto continuará sendo tratado com indiferença em Washington quando o presidente eleito Barack Obama começar a governar.

As negociações foram suspensas em julho, quando uma reunião de ministros dos países que formam a Organização Mundial do Comércio (OMC) terminou sem chegar a um acordo. Nada mudou desde então, mas autoridades brasileiras e britânicas defendem a convocação de outra reunião para dar novo impulso às negociações em dezembro.

Negociadores americanos indicaram nos últimos dias que consideram a proposta inviável, porque as divergências que levaram ao colapso de Doha em julho estão intactas e nenhum dos principais participantes das negociações parece disposto a rever suas posições.

Uma referência discreta à necessidade de concluir Doha foi incluída no comunicado aprovado ontem em São Paulo pelos integrantes do G-0, um grupo formado por países avançados e emergentes para discutir assuntos financeiros. Mas a maioria descartou a idéia de aproveitar a reunião para impulsionar as negociações da rodada.

O assunto dificilmente ganhará prioridade nos primeiros meses depois da posse de Obama, que está marcada para janeiro. Com a economia americana em recessão, mercados financeiros instáveis e duas guerras para administrar, Obama não terá muito tempo para se preocupar com a Rodada Doha nem se quiser.

Ele provavelmente deixará isso de lado e ficará esperando para ver, diz o economista I. M. Destler, um especialista do Instituto Peterson para a Economia Internacional. Se outros trouxerem propostas novas, se países como o Brasil e a Índia fizerem concessões, pode ser que ele volte a se interessar.

A questão foi praticamente ignorada por Obama na campanha eleitoral. Ele criticou os acordos comerciais que os EUA assinaram recentemente com a Colômbia e a Coréia do Sul, que foram engavetados pelo Congresso americano, mas nunca demonstrou qualquer interesse na conclusão da Rodada Doha.

Numa entrevista ao site do Wall Street Journal em julho, poucos dias após o colapso das negociações, um dos principais assessores de Obama nessa área, Daniel Tarullo, considerou a falta de acordo desapontadora e afirmou que os negociadores deveriam voltar à mesa para conversar sobre esse assunto no próximo ano.

Embora os problemas encontrados na Rodada Doha pareçam mais difíceis de superar do que os das rodadas anteriores, os negociadores não deveriam abandonar seus esforços, afirmou Tarullo, um professor de direito da Universidade Georgetown que é cotado para assumir o posto de representante comercial dos EUA no governo Obama.

Mas ninguém jamais derramou uma lágrima pelo fiasco da Rodada Doha no Congresso americano, e isso também tende a manter o assunto em banho-maria por um bom tempo. Obama não poderá dar nenhum passo nessa área se não tiver apoio do Congresso, e a oposição a novos acordos comerciais aumentou muito nos dois partidos que dividem o poder no Congresso nos últimos tempos.

Assessores de Obama acreditam que só será possível obter novamente apoio político para iniciativas ambiciosas como a Rodada Doha depois que forem tomadas medidas para diminuir a insegurança que os trabalhadores americanos sentem diante do futuro sombrio da economia e da concorrência com países emergentes competitivos como a China.

Durante a campanha, Obama prometeu atacar o problema investindo bilhões de dólares para ampliar o acesso dos trabalhadores a planos de saúde e estimular a geração de empregos em novas indústrias. Mas o aprofundamento da crise deve obrigar Obama a reavaliar nos próximos meses várias promessas da campanha.

b) Banco estuda participar do risco das operações

O BNDES estuda compartilhar com bancos privados o risco nos financiamentos à exportação de empresas boas que estão sofrendo temporariamente com a crise. Para o banco, empresas boas são as que tem boa governança, são bem organizadas, não acumulam endividamento excessivo e estão tecnologicamente atualizadas. Parte desses critérios dificulta o acesso para companhias que perderam bilhões de reais com operações de derivativos.

O vice-presidente do BNDES, Armando Mariante, disse em reunião sobre crédito à exportação, na Organização Mundial do Comércio (OMC), que o Brasil está fazendo seu dever de casa em meio a uma crise que não tem nada a ver com o país e desvalorizou o real em cerca de 35%, elevou o risco-país, além do desmoronamento dos preços de matérias-primas. Para ele, o Brasil está sofrendo a crise de maneira limitada porque tem um Estado forte e já muito presente na economia real.

No caso do comércio exterior, Mariante disse que em outubro os Adiantamentos de Contrato de Cambio (ACC) caíram 10% em relação à média do resto do ano. Já as operações de pré-pagamento, mais longas, declinaram mais de 30% na mesma comparação. Para estimular o crédito, o banco oficial examina a possibilidade de co-participação nos riscos. Atualmente, os bancos privados que atuam como agentes financeiros do BNDES nas operações de comércio exterior correm 100% do risco nesses financiamentos. Isso significa que, em caso de inadimplência pelo tomador do crédito, o risco para o BNDES é quase zero. A responsabilidade é toda do agente.

Agora, a idéia é que o banco privado assuma algo entre 60% e 80%, com o setor publico fazendo a complementação, para tentar acelerar a retomada dos financiamentos. Os percentuais ainda dependem de estudos. Fontes indicam, contudo, que não haveria muito interesse dos bancos privados que atuam como agentes do BNDES com o modelo de risco compartilhado, porque isso reduziria o spread deles no repasse das linhas do banco oficial.

O executivo participou na OMC de reunião com bancos privados (Citigroup, JP Morgan, ING, Commerzebank, Royal Bank of Scotland), bancos de desenvolvimento regional e instituições internacionais como FMI e Banco Mundial, para discutir a crise do financiamento à exportação.

Plano Internacional

a) BCs mundiais não endossam alta de gastos

Em oposição aos ministros de Fazenda no encontro do G-20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo) do final de semana, a reunião dos representantes de 40 bancos centrais encerrada representou um banho de água fria na proposta entusiasmada de usar aumento de gastos públicos e corte de juros para evitar recessão e desemprego nos próximos dois anos. Foi a primeira vez em que o BIS (Banco Internacional de Compensações) reuniu os BCs no Brasil.

Um dia após o ministro Guido Mantega (Fazenda) anunciar, ao lado dos representantes da África do Sul e do Reino Unido, que os emergentes fecharam questão em torno da adoção de políticas fiscal e monetária expansionistas, o presidente do Banco Central brasileiro, Henrique Meirelles, recusou-se a endossar tal idéia.

Para rebater essa tese, Meirelles fez questão de ler as nove linhas de um dos itens do comunicado oficial em inglês do G-20, "fazendo uma tradução simultânea" e insinuando que não havia um comprometimento conjunto como assegurara Mantega na véspera.

"Essa conclusão do G20 eu não a ouvi. Vou repetir o comunicado oficial do G20, tudo bem? Vou fazer tradução simultânea do comunicado oficial do G20." Citou trechos destacando "a relevância de políticas monetárias saudáveis" e a avaliação de que a redução no preços de commodities tem diminuído a pressão inflacionária, "especialmente nas economias avançadas", e permitido aos BCs daqueles países uma flexibilização monetária.

No entanto, ressaltou também que o comunicado afirma que, nas economias que enfrentam "depreciação das suas moedas" -caso do Brasil-, as "pressões inflacionárias podem ser mais persistentes". Nesse contexto, Meirelles defendeu que o BC precisará "continuar monitorando os desenvolvimentos econômicos para adotar as medidas adequadas".

O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, tentou contemporizar as diferenças com o G20 e afirmou que as políticas expansionistas devem ser adotadas por países que tiverem espaço fiscal. Como não é possível descuidar também do controle da inflação, ele afirmou que nem todas economias poderão seguir esse caminho. Para Trichet, um descontrole das expectativas de inflação e uma perda de credibilidade dos BCs podem trazer um grande prejuízo aos países.

"Cada país deve avaliar o alívio ou não das taxas de juros, de acordo com as suas expectativas de inflação. As decisões tomadas recentemente por vários países foram adequadas ate o momento", disse.

Para Meirelles, a adoção de medidas anticrise para estimular a demanda interna se justificam em emergentes como a China, que anunciou pacote de US$ 586 bilhões anteontem, porque dependem de exportações para EUA e Europa.

"Não é o caso do Brasil. O consumo doméstico está muito bem, forte e crescendo. Em alguns países, justifica-se até o corte de juros neste momento porque a atividade econômica está de tal maneira que a inflação está cadente, alguns até com previsão de deflação."

Meirelles disse ainda que o Brasil não precisa de nenhum pacote para estimular a economia em meio à crise global porque já tem o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que "continua funcionando". Afirmou que os BCs de diferentes países estão respondendo aos problemas que enfrentam. No caso do Brasil, afirmou, o problema até o momento foi de liquidez e, por isso, as medidas adotadas foram para liberar dinheiro, por meio dos compulsórios, de leilões de dólares e do aumento da oferta de crédito por parte dos bancos oficiais.

De acordo com Meirelles, na reunião dos Bancos Centraiss também foram discutidas propostas para aumentar a transparência nas instituições financeiras e para estimular a cooperação entre os países.

"Houve um consenso de que a economia mundial vai se desacelerar substancialmente em 2009. É esperado que os países industrializados tenham contração, enquanto os emergentes continuem a crescer, só que com taxas menores."

b) França destina 2,5 milhões de euros a ação no Brasil

O governo francês vai detinar 2,5 milhões de euros até 2009 para estimular o comércio com o Brasil. Na rodada de negócios em São Paulo, o foco está, principalmente, nas indústrias agroalimentar e automotiva- setores que devem, no entanto, passar por desaceleração no Brasil.

A rodada de negócios é a primeira das iniciativas do ano da França no Brasil, que começa oficialmente em 2009. Cerca de 116 companhias francesas se reúnem com 800 empresas brasileiras. Segundo a Ubifrance (agência que apóia o desenvolvimento internacional das empresas), 40% das companhias aumentaram o faturamento em até três anos após encontros similares na China e na Índia.

A ministra da Economia, da Indústria e do Emprego, Christine Lagarde, disse que a França quer ampliar a abertura comercial. "É importante continuar as reformas durante a crise e resistir à tentação protecionista."

Sergio Costa, adido comercial da França, afirma que, mesmo com as previsões pessimistas para os setores priorizados na rodada brasileira, a crise afetou pouco a disposição das empresas de exportar e de abrir filiais fora do país. Costa diz que a situação que os empresários enfrentam na França e na Europa é "muito pior" do que a que teriam no Brasil.

Segundo Lagarde, o governo francês destinará, no total, 27 milhões de euros em diversas iniciativas para alavancar o desempenho das pequenas e médias empresas do país.

A ministra, que participou da reunião do G20 em São Paulo, disse estar satisfeita com o resultado das negociações. "O objetivo era encontrar pontos de convergência para que os chefes de governo façam propostas em Washington e conseguimos expor a opinião dos europeus sobre regulação e transparência para os mercados."

c) Alemanha anuncia recessão

A Alemanha, a terceira maior economia mundial e a maior da Europa, entrou em recessão pela primeira vez em cinco anos, afetada pela queda nas exportações, o seu principal motor. O PIB (Produto Interno Bruto) alemão encolheu 0,5% no terceiro trimestre ante os três meses anteriores, após se contrair em 0,4% de abril a junho configurando a definição técnica de recessão.

Apesar do aumento no consumo interno e nos gastos do governo, o resultado foi prejudicado pela alta considerável das importações e pelo declínio das vendas para o exterior, o que fez com que a balança comercial tivesse um impacto negativo no PIB.

Estes tempos serão duros para a Alemanha afirmou o ministro das Finanças, Peer Steinbruck, que vem repetindo que a recuperação da economia mundial deverá levar pelo menos dois anos. A contração da economia alemã já era esperada, mas superou a estimativa de analistas, que apostavam em uma queda de 0,2%. E, agora, a expectativa é a de que os resultados de outubro a dezembro sejam ainda piores, já que o recrudescimento da crise mundial começou na segunda metade de setembro.

Os dados do terceiro trimestre da Alemanha mostram mais uma vez que os efeitos da atual crise não estão restritos aos países que tiveram uma grande expansão no mercado imobiliário ou em que os consumidores estão largamente endividados. Com o desaquecimento da economia global (e, consequentemente, com as compras menores dos consumidores), a Alemanha teve prejudicado o seu setor de exportação.

Principal exportador mundial, a Alemanha era, pelo menos até o mês passado, o quarto país que mais comercializava para o Brasil e o quinto principal destino das vendas brasileiras. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, os alemães têm saldo positivo de US$ 2,88 bilhões com o Brasil.

A lista dos países que estão em recessão deve ser ampliada amanhã com a divulgação dos dados de França e Itália, que também se retraíram no segundo trimestre. EUA, Japão e Reino Unido (respectivamente, a primeira, a segunda e a quinta maiores economias globais) se contraíram recentemente.

Outro sinal da crise é a aceleração das demissões. No Reino Unido, onde a taxa de desemprego chegou ao seu maior nível em oito anos, a British Telecom anunciou que demitirá mais de 6.000 funcionários, medida que também afetará outros países 4.000 já haviam perdido seus empregos. E a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirmou que a retração e o desemprego vão crescer entre os países mais industrializados. A instituição prevê que os seus países-membros se contrairão em 0,3% em 2009, com quedas de 0,9% nos EUA, de 0,5% na zona do euro e de 0,1% no Japão.

Já o desemprego nos mais industrializados deve saltar de 5,9% neste ano para 6,9% em 2009, e chegar a 7,2% em 2010. Nos EUA, a taxa pode atingir 7,3% no ano que vem, 1,3 ponto percentual menor que a da zona do euro.

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