A primeira semana de julho registrou o melhor resultado semanal do ano: o superávit foi de US$ 1,693 bilhões, alta de 5,6% na comparação com a semana anterior. As exportações também bateram recordes ao atingirem US$ 3,7 bilhões, 13,15% acima da última semana de junho. As importações também se mostraram fortes; compras em US$ 1,9 bilhão, alta de 20,9% na mesma comparação. As médias diárias de exportação - US$ 712,2 milhões - e de importação - US$ 373,6 milhões - são os maiores resultados da história da balança comercial brasileira. O fim da greve dos auditores da Receita Federal, iniciada em 2 de maio, foi apontado como um dos fatores que alavancaram os resultados.
b) Embrapa na África
Em visita do presidente de Gana, John Kufour, ao Brasil, foi firmado no dia 10 de julho, juntamente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um acordo que oficializa o primeiro escritório da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) em Acra, capital do país africano. O foco agrícola da cooperação entre Brasil e Gana se deve à necessidade do combate à fome e à pobreza e ao incentivo de projetos que desenvolvam fontes alternativas de energia, como o biodiesel, o etanol e o H-bio.
O primeiro semestre de 2006 registrou um fluxo comercial de US$ 82,5 milhões entre Gana e Brasil, com saldo de US$ 82,1 milhões para o Brasil. Em 2005, a soma das trocas entre os dois países totalizou US$ 219,4 milhões, ante US$ 169,8 milhões em 2004. Apesar da crescente aproximação comercial, Kufour chamou a atenção para uma maior atenção ao mercado ganense e seu potencial como local estratégico pra intermediar a relação com outros mercados pelo globo.
c) Encontro Econômico Brasil-Alemanha
Durante os dias 8 e 11 de julho ocorreu, em Berlin, o Encontro Econômico Brasil-Alemanha. A reunião envolvendo ministros e empresários de ambos os países teve como objetivo renovar e prolongar as iniciativas de investimentos de infra-estrutura e energia para os dois lados e também oficializar a assinatura de um memorando de apoio alemão à disputa do Brasil como candidato à sede da Copa do Mundo de 2014. Foi abordada também a possibilidade de redefinição da classificação especial de alguns produtos orgânicos negociados pela Camex (Câmara de Comércio Exterior) e iniciativas como bioenergia, agronegócio e infra-estrutura energética.
A corrente de comércio entre os dois países registra um histórico de seguidos déficits para o Brasil. Em 2005, o saldo negativo foi de US$ 1,12 bilhão, reflexo de US$ 5,02 bilhões exportados e US$ 6,14 bilhões importados. Ainda que inferiores às compras no mercado alemão, nos últimos 12 anos, as vendas registraram um crescimento de 178,9% e a corrente de comércio (soma de importações e exportações) saltou 175,8%. Comparando-se o crescimento do comércio do Brasil com os demais integrantes da União Européia, observa-se uma média de 9%, cifra bastante inferior aos 25% apresentados pelo mesmo dado em relação à Alemanha.
d) Crescem exportações para árabes
As vendas brasileiras para países membros da Liga dos Estados Árabes (LEA) atingiram US$ 2,6 bilhões no primeiro semestre de 2006, um aumento de 28% na comparação com o mesmo período do ano passado. Entretanto, o Brasil elevou em 39,5% as importações referentes a este grupo de países, o que totalizou US$ 2,8 bilhões e conseqüente déficit de US$ 2 milhões nesta balança comercial. Sendo o petróleo e seus derivados 94% da pauta de importações brasileiras em países árabes, o preço do barril da commodity próximo a US$ 75 é um dos principais fatores desse desempenho.
O agronegócio apresentou, no primeiro semestre deste ano, um aumento de 11% nas exportações para a LEA, desempenho inferior ao crescimento geral das exportações mas superior aos 5,7% atingidos pelas exportações gerais do setor. Atualmente, 60% das exportações brasileiras para os países árabes provêm do agronegócio.
Agronegócio
a) Usineiros querem EUA como prioridade
O presidente da Petrobrás, José Gabrielli, declarou na quarta-feira, dia 12 de julho, que o mercado americano não é prioridade para os planos de exportação de álcool previstos pela empresa. Imediatamente, usineiros protestaram contra o posicionamento de Gabielli, afirmando que a demanda dos Estados Unidos pelo etanol aumentará constantemente nos próximos anos e que o crescimento previsto para a produção brasileira poderá supri-la.
Enquanto afirmava que o mercado interno brasileiro é o mais importante e que há contratos com o Japão que precisam ser cumpridos, Gabrielli apontou para alguns obstáculos do mercado dos Estados Unidos, principalmente no que diz respeito à eventual necessidade de modificações nos motores dos carros abastecidos com o combustível, alteração que implicaria um alto custo para o setor automobilístico do país.
b) Frango: exportadores pedem maior cota na EU
Em documento enviado ao Itamaraty, a Abef (Associação Brasileira de Produtores de Frango) solicitou que seja negociada com a Comissão Euroéia uma ampliação da cota de exportação do frango brasileiro para a União Européia. Atualmente, as vendas do produto para o bloco estão limitadas a 27 mil toneladas, volume acima do qual passa a incidir taxa de US$ 300 por tonelada.
O pedido vem no momento em que a Comissão Européia se prepara para discutir em Genebra, no final do mês, a revisão - e provável aumento - de todas as tarifas de importação fixadas para o frango brasileiro.
Semestre: na comparação com o mesmo período de 2005, o primeiro semestre deste ano registrou exportações em queda: 8,18% em volume - 1,240 milhão de toneladas - e 4,14% em receita - US$ 1,458 bilhão.
c) Rodrigues, o "embaixador do etanol"
O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, participou da conferência "O agronegócio como propulsor do Desenvolvimento Mundial", em Frankfurt, um evento que fez parte da agenda do 24º Encontro Econômico Brasil-Alemanha. Rodrigues representou o etanol brasileiro divulgando a experiência brasileira no setor e tentando convencer os empresários presentes de que a resistência ao produto por parte do mercado europeu é infundada. O receio dos europeus aponta para a incapacidade do Brasil em suprir a futura demanda, rumores sobre a utilização da Floresta Amazônica como área de cultivo, possibilidade de formação de cartéis pelos produtores e acusações sobre trabalho escravo.
Tais acusações são obstáculos às possibilidades de negócios com o bloco e foram respondidas pelo ex-ministro por números como a existência de 100 projetos que podem elevar de 17,5 bilhões para cerca de 30 bilhões de litros a produção anual de álcool nos próximos 10 anos. A resistência por parte do chamado "império do petróleo" aos combustíveis alternativos também foi citada como empecilho para uma maior difusão mundial do produto e a sua classificação como commodity.
d) Exportações de arroz crescem
O primeiro semestre de 2006 apresentou um volume de exportações de arroz da ordem de 183,3 mil toneladas, um crescimento de 30% na comparação com o mesmo dado de 2005. O principal importador do produto foi o Senegal, país da África Ocidental responsável por 43,2% dos embarques; a Suíça foi responsável por 20,2% das vendas e aparece como segundo maior comprador.
Para julho estão previstos novos mercados como o Caribe, Haiti, e Cuba.
e) Exportações de carne
O primeiro semestre de 2006 apresentou o resultado recorde de US$ 1,72 bilhões em exportação de carne bovina, alta de 16,24% em relação ao mesmo período do ano passado. Apenas no mês de junho, a receita aumentou 14,99%, atingindo US$ 351,64 milhões, resultado do embarque de 221,94 mil toneladas, volume 2,8% menor que o dado de 2005. A carga foi remunerada por uma elevação de 16% do preço por tonelagem ao longo do semestre, reflexo da redução da oferta por embargos a grandes produtores como o Brasil.
Ainda que tais embargos, parciais ou totais, tenham impedido a exportação da carne bovina brasileira para 56 países (60% do mercado mundial) ao longo dos seis meses, os frigoríficos conseguiram redirecionar a produção para outros Estados e isso permitiu o bom desempenho do Brasil. A recente recuperação das vendas do Rio Grande do Sul para Rússia e Chile contribuiu para uma maior presença dos produtos brasileiros no mercado internacional e criou expectativas para a mesma atitude por parte de Ucrânia e União Européia, que acenam com reduções de seus embargos.
Mercosul
a) Haia decide sobre papeleiras
O Tribunal Internacional de Haia, Holanda, rejeitou a medida cautelar proposta pela Argentina contra a construção de duas fábricas de polpa de celulose na margem uruguaia do Rio Uruguai. A justificativa argentina para a interrupção das obras se baseava na violação das fábricas do Estatuto do Rio Uruguai, documento assinado em 1975 que exige consultas mútuas entre Uruguai e Argentina antes da aprovação de qualquer projeto que envolva o curso de águas compartilhado por ambos.
A votação barrou o recurso por 14 votos a 1 - o único juiz a favor foi indicado pelo governo argentino - argumentando que não há no momento razões para afirmar que as plantas causarão danos econômicos ou ambientais irreversíveis à Argentina. A decisão abriu caminho para a continuidade do projeto no qual participam as empresas Botna (finlandesa) e Ence (espanhola); um investimento em torno de US$ 1,7 bilhão.
OMC
a) Brasil no "confessionário" de Lamy
O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy, vem realizando uma série de consultas específicas com os atores envolvidos nas negociações da Rodada Doha, na tentativa de incentivar diálogos mais produtivos. Na quarta-feira, 12 de julho, Lamy se reuniu com o embaixador brasileiro, Clodoaldo Hugueney, e o diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, ministro Roberto Azevedo, que mais uma vez manifestaram possibilidade de flexibilização das propostas sob a condição de posições equivalentes por parte das nações desenvolvidas.
O Brasil não aceita, sob nenhuma circunstância, um coeficiente inferior a vinte na fórmula de cortes para tarifas industriais (quanto maior o coeficiente, menores os cortes tarifários), como os 15 propostos por EUA, UR e Japão. Pelo caminhar das negociações, parece mais plausível o apoio brasileiro a um coeficiente de ordem 30, que implicaria cortes tarifários de 50%, contra os 60% que resultariam do coeficiente 20.
b) EUA: a intransigência é dos países em desenvolvimento
A representante comercial dos EUA, Susan Schwab, atribuiu o impasse atual da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) aos países em desenvolvimento que se negam a incluir em suas propostas uma maior abertura de seus mercados a produtos industrializados e serviços estrangeiros. Países como Brasil e Índia temem pela falta de competitividade de alguns de seus setores em caso de uma excessiva liberalização de seus mercados. Ao mesmo tempo, exigem que americanos e europeus eliminem suas barreiras à entrada de produtos agrícolas.
Para Schwab, Brasil, Índia e China - países por ela considerados mais desenvolvidos - se escondem atrás de nações mais pobres para exigir maior proteção aos seus mercados, além de serem incoerentes por exigirem cortes de subsídios e de tarifas sem oferecerem ganhos que compensem os prejuízos implícitos no acordo .
A Rodada Doha será um dos principais temas da agenda da reunião do G-8, marcada para a semana de 17 de julho em São Petersburgo, Rússia, e para a qual foi convidado o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o primeiro-ministro indiano Manmohan Singh.
c) Para Furlan, o Brasil não depende de Doha
Participando como um dos palestrantes do 24º Encontro Empresarial Brasil-Alemanha, o ministro do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, afirmou que o crescimento do comércio exterior do Brasil não depende exclusivamente de acordos fechados na Rodada Doha da OMC. O comentário foi uma resposta ao secretário de estado do Ministério da Economia e Tecnologia da Alemanha, Bernd Pfaffenbach que colocou os países emergentes como os mais prejudicados em caso de fracasso nas negociações da rodada.
Elisabeth de Carvalhaes, vice-presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), colocou a diferença entre o acordo multilateral proposto por Doha e as negociações bilaterais entre União Européia e Mercosul: enquanto o corte de tarifas firmado é geral no primeiro caso, no segundo a redução pode ser limitada a um determinado parceiro. "Um acordo multilateral causa uma preocupação muito grande para os emergentes porque não há escolha de parceiro e o acordo pode resultar negativo para a indústria local", completou.
d) Wolfowitz acredita no avanço de Doha pelo G-8
O presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, enviou, a 7 de julho, carta aos líderes que participarão da reunião do G-8 marcada para São Petersburgo, Rússia, na semana do dia 17 de julho. Wolfowitz reforçou o potencial dos esforços de cada delegação presente e a importância das negociações que podem "tirar milhões da pobreza, aumentar a receita dos países em desenvolvimento, melhorar o acesso a mercados globais e reduzir os custos de impostos e do consumidor para todos, ou permitir que todo o esforço entre em colapso, com danos para todos"
O apelo exigiu maiores concessões tanto pelo lado dos países desenvolvidos que buscam maior acesso a mercados, como pelo bloco das nações emergentes, atrás de menores tarifas a produtos agrícolas e redução de subsídios pelas potências. Uma maior liberalização do comércio mundial pode adicionar cerca de US$ 300 bilhões na produção mundial anual.
d) Aprovada avaliação de acordos regionais
Apesar do impasse na Rodada Doha, foi aprovada pelos membros da OMC um procedimento para avaliar se os acordos regionais de comércio estão de acordo com as normas da instituição - atualmente existem cerca de 200 acordos regionais esperando pelo aval da organização. Desde a reunião sediada em Hong Kong, ao final de 2005, cujos trabalhos estabeleceram um prazo de implementação para abril deste ano, esta foi a primeira e única medida acordada entre os membros.
O documento aprovado prevê exigências de maior transparência para que os acordos regionais possam ser notificados e analisados mais rapidamente pelo secretariado da OMC. A decisão é importante pois se confirmada a estagnação atual da Rodada Doha aumentam as possibilidades de acordos bilaterais e regionais.
Plano Internacional
a) Retorno do conflito entre Israel e Líbano
Forças militares de Israel bombardearam, na quinta-feira, 13 de julho, a capital libanesa, Beirute, matando cerca de 40 pessoas, entre as quais quatro brasileiros - duas crianças. O ataque que destruiu as pistas do aeroporto local e as instalações de uma retransmissora de TV é uma retaliação ao rapto de dois soldados israelenses capturados pelo grupo radical libanês Hezbollah, no dia anterior, para que fossem trocados por prisioneiros em território israelense. Grande parte da população residente no sul do Líbano deixou a região em direção à Síria, que abriu suas fronteiras.
Apesar de admitir o ato violento do Hezbollah, grande parte da comunidade internacional condenou o revide desproporcional das forças israelenses, que descreveram o ocorrido como um ato de guerra por parte do Líbano. A acusação foi imediatamente desmentida pelo primeiro-ministro libanês, Fouad Siniora, que alegou desconhecer os planos do Hezbollah e não ter responsabilidade por seus ataques.
A situação abriu um segundo front para Israel, que há um mês faz incursões diárias sobre a Faixa de Gaza, território da Palestina, para resgatar outro soldado, capturado há mais de um mês por militantes palestinos. Em ofensiva do dia 12 de julho, o exército israelense matou 23 palestinos em um bombardeio à região.
b) México: justiça eleitoral analisa resultado
Após o impasse que se seguiu ás eleições presidenciais mexicanas entre Felipe Calderón e Manuel López Obrador, o julgamento da apuração chegou ao Tribunal Eleitoral, instância máxima jurídica cuja sentença final é inapelável. A impugnação do pleito e o pedido de recontagem dos 41,7 milhões de votos foram exigências do candidato de centro-esquerda, López Obrador, depois que os primeiros resultados deram a vitória a Calderón. Acusando irregularidades na votação e na contagem dos votos, Obrador apresentou vídeos supostamente filmados nas eleições de 2 de julho.
O prazo para a decisão do Tribunal Eleitoral é 31 de agosto e a declaração oficial do novo presidente do México deve ser feita até o dia 6 de setembro.