Comércio Exterior
a) Resultados
A balança comercial brasileira apontou exportações de US$ 4,592 bilhões e importações de US$ 4,208 bilhões na primeira semana de junho, informou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Os números indicaram um superávit comercial (diferença entre as exportações e as importações) de US$ 384 milhões.
No acumulado do ano, o saldo comercial registrado é de US$ 9,039 bilhões, 48,1% menor do que o registrado no mesmo período do ano passado na comparação entre as médias diárias.
As exportações somaram US$ 76,646 bilhões, com média diária de US$ 716,3 milhões, um incremento de 23,7% sobre o desempenho médio diário apresentado no mesmo período de 2007 (US$ 579 milhões).
Na mesma comparação, observou-se um crescimento de 51,8% nas importações brasileiras (US$ 67,607 bilhões), que saíram de uma média diária de US$ 416,3 milhões de janeiro até a primeira semana do mês de junho ano passado para US$ 631,8 milhões diários no mesmo período deste ano.
O desempenho das exportações na primeira semana de junho mostrou aumento das vendas de produtos das três categorias: básicos (alta de 75,7%), semimanufaturados (21,7%) e manufaturados (21,2%). No mesmo período, as importações registraram aumento nos gastos com combustíveis e lubrificantes (alta de 197%), adubos e fertilizantes (124,8%), produtos siderúrgicos (110,1%), equipamentos elétricos e eletrônicos (67,8%), equipamentos mecânicos (58,2%) e veículos (53,5%).
b) Setor têxtil prevê déficit recorde de até US$ 1,8 bi na balança este ano
Os empresários do setor têxtil e de confecções afirmam que devem amargar este ano um déficit recorde na balança comercial, que pode variar entre US$ 1,4 bilhão a US$ 1,8 bilhão, se forem excluídas da pauta as exportações de algodão, que é uma matéria-prima sem adicionamento de valor.
A afirmação é do diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), Fernando Pimentel. "Será algo jamais visto porque até três anos atrás, em 2005, nós éramos superavitários em mais de US$ 700 milhões. E inverteu-se isso de forma profunda em três anos", disse ontem Pimentel.
Ele atribui a perspectiva negativa à desvalorização do dólar frente ao real, à falta de acordos comerciais de acesso preferencial aos grandes mercados mundiais e à elevada carga tributária. "Todos esses percalços, alertados pelo setor reiteradamente nos últimos sete, oito anos, avançaram muito pouco no Brasil", observou.
Somando o algodão, as exportações têxteis e de confecções devem atingir este ano US$ 2,5 bilhões, ante importações de US$ 3,9 bilhões. Quando a conta é feita sem o algodão, as exportações devem somar US$ 2 bilhões, diante de importações de US$ 3,8 bilhões.
Ele analisou que a produção do setor têxtil deve crescer este ano entre 3% a 4%, em função da demanda doméstica, enquanto a expectativa para o varejo é de expansão de até 13%. O diferencial entre o crescimento da produção e do varejo está sendo abastecido pelos produtos importados, "favorecidos pela taxa do câmbio". Já a produção da indústria de confecções cresce cerca de 10%.
c) CSN fecha venda de 25 anos com companhia do Bahrein
Finalmente, a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) anunciou seu primeiro grande contrato de exportação de minério de ferro. É o primeiro que se tem conhecimento desde que anunciou o ambicioso projeto de US$ 2 bilhões para explorar sua mina Casa de Pedra. Informou que assinou com a pelotizadora Gulf Industrial Investment (GIIC) dois acordos de longo prazo para suprimento de 183,3 milhões de toneladas de minério "pellet feed" (super fino) pelo prazo de 25 anos, a partir de 2009. O valor da operação é estimado de US$ 500 milhões e US$ 600 milhões ao ano.
A CSN firmou um contrato com minério de Casa de Pedra e outro com produto da controlada Namisa, que opera minas na mesma região em Minas Gerais. A GIIC já é cliente da CSN, com contratos curtos e de menor volume. Neste ano, está comprando 2 milhões de toneladas. Segundo a companhia, as condições comerciais desses contratos são condizentes com aquelas praticadas no mercado internacional, inclusive quanto a preços e critérios de reajustes, anuais.
Segundo Juarez Saliba, diretor-executivo de mineração da CSN, esse contrato é simbólico para a companhia, pois é o maior já fechado pela empresa e abre portas para outros que está negociando. A CSN tem um plano de alcançar vendas de 100 milhões de toneladas por volta de 2012/2013, incluindo material para sua própria usina de aço. Cerca de 60% do produto será do tipo pellet-feed, usado para fabricar pelota, tipo de matéria-prima de ferro usado nos altos-fornos ou em fornos de redução direta, com uso de gás.
Saliba explica que o Oriente Médio se apresenta com grande potencial para expansão da indústria de aço devido aos elevados investimentos em países da região propiciados pela venda do petróleo. A GIIC, com usina de 5 milhões de toneladas, é uma das maiores fornecedoras de pelotas às siderúrgicas locais. NO momento, a empresa tem dois projetos de expansão em curso: uma usina de 6 milhões de toneladas prevista para entrar em operação em 2009 e outro do mesmo porte para 2011. "A CSN será seu principal fornecedor", disse.
Neste ano, a CSN prevê exportar 20 milhões de toneladas (40% são para a Vale do Rio Doce, que vai repassar para a Mitsubishi) e vender internamente de 12 milhões a 13 milhões de toneladas (das quais 8,5 milhões para si própria). O gargalo que impede exportar mais continua sendo o porto, em Itaguaí (RJ). Para 2009, a expectativa é embarcar ao exterior 35 milhões de toneladas.
Agronegócio
a) Produção de trigo deve crescer 35% no ano
A produção de trigo aumentará 35% este ano, impulsionada pelas medidas de apoio anunciadas pelo governo em abril - entre elas, a elevação do limite de financiamento para cultivo das lavouras, o clima favorável e, principalmente, a elevação de 100% nos preços no mercado interno. A expansão deverá ser superior à esperada pelo próprio governo, que projetava produção 25% maior este ano. Segundo divulgou a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada deve crescer 24,2%, para 2,26 milhões de hectares, o que vai resultar na produção de pelo menos 5,16 milhões de toneladas.
Segundo o coordenador-geral de Cereais e Culturas de Inverno da Secretaria de Política Agrícola, Silvio Farnese, do Ministério da Agricultura, a produção pode ser ainda maior, pois os triticultores da Região Sul do País, principal região produtora, ainda estão cultivando as lavouras. Pelos cálculos do ministério, a produção prevista de 5,2 milhões de toneladas representa metade do consumo do País. A meta do governo é garantir o abastecimento de 60% do mercado interno, que é altamente dependente do trigo importado, até 2012. Em quatro anos, o governo espera que alcance os 7 milhões de toneladas. Em 2007, a produção foi de 3,82 milhões de toneladas.
As lavouras de trigo serão colhidas a partir de agosto, mas, mesmo com o aumento de produção, o coordenador não acredita em forte queda dos preços do produto no mercado interno. Isso porque o Brasil vai importar este ano cerca de 5 milhões de toneladas de trigo e os preços no mercado interno são balizados pelo cotação do produto importado, disse Farnese. A tonelada do trigo tem sido vendida no mercado interno a R$ 800, valor que supera com folga a cotação máxima de R$ 400 em igual período de 2007.
A Conab também divulgou uma nova previsão para a safra de grãos, que já foi 90% colhida. A produção total, incluindo o trigo, será de 143,3 milhões de toneladas, volume recorde e 8,7% superior à do ano passado. A soja e o milho seguem como destaque, culturas que representam, juntas, 82,6% da produção total de grãos.
b) Agronegócio bate recorde de exportações
A exportação do agronegócio e o saldo comercial do setor bateram novos recordes em maio, segundo o Ministério da Agricultura. Enquanto o país exportou US$ 7,5 bilhões no mês passado, o superávit alcançou US$ 6,6 bilhões. Em 12 meses, os embarques totalizam US$ 64 bilhões, 18,3% acima do valor exportado entre junho de 2006 e maio de 2007.
Segundo o ministério, as vendas externas dos produtos agropecuários foram influenciadas tanto pela regularização de registros de exportação -devido à suspensão da greve dos fiscais da Receita- quanto pelo aumento dos preços no exterior.
As importações do agronegócio somaram US$ 886 milhões em maio, alta de 26,9% ante igual período no ano passado. Destaque para o valor importado do milho (397%) e da farinha de trigo (137,8%). As quantidades importadas de trigo e arroz caíram 73,2% e 48%, respectivamente.
c) Estoque oficial de café está quase zerado
Depois de décadas, chegaram praticamente ao fim os estoques oficiais de café do governo. Hoje residuais, em torno de 500 mil sacas de 60 quilos, esses grãos são de safras antigas, adquiridos sobretudo na década de 1980, irrelevantes para o mercado. Maior produtor e exportador do produto desde a segunda metade do século XIX, pela primeira vez o Brasil fica vulnerável no que se refere à estocagem.
"Daqui pra frente, o Brasil não será grande formador de estoques", diz o especialista no setor Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, em Santos (SP). Nas mãos do setor privado, são cerca de 10,3 milhões de sacas, também os mais baixos volumes da história recente do café. Os estoques oficiais do governo, que já chegaram a quase 20 milhões de sacas em 1990, ano de extinção do IBC (Instituto Brasileiro do Café), começaram a minguar após os leilões realizados pelo governo. O café também deixou de ser moeda "atraente", desestimulando a estocagem.
Principal item da pauta de exportação até há pouco mais da metade do século XX, o café vive seu grande dilema. Formado sobretudo por tradicionais produtores, mais resistentes a mudanças, a cafeicultura começa aos poucos a abrir espaço para outras culturas. Em Minas Gerais, maior produtor do país, cede área para frutas. Em São Paulo, para cana e laranja.
"Não acredito que o café vá perder espaço na produção nacional. Mas também não registrará elevações mais expressivas de área", diz Carvalhaes. Hoje, a cultura ocupa 2,29 milhões de hectares no país.
Esse cenário de estoques - oficiais e privados - mais apertados, combinado com uma demanda global equilibrada em relação à produção mundial, não tem resultado em fator altista para a cafeicultura. Embora os preços futuros do café arábica apresentem valorização de 39,2% na bolsa de Nova York nos últimos 24 meses, e o robusta tenha subido 89% na bolsa de Londres no período, as cotações atuais estão dentro da média histórica, afirma Rodrigo Costa, da Newedge, corretora de Nova York.
Na bolsa de Nova York, os contratos para setembro fecharam ontem a US$ 1,3745 a libra-peso, com alta de 400 pontos. Na bolsa de Londres, os contratos para setembro foram a US$ 2.195 a tonelada, com aumento de US$ 37. No mercado interno, a cotação média do café robusta em maio encerrou o dia a R$ 211,49, com elevação de 11,6% maior sobre o mesmo período do ano passado. O tipo arábica encerrou maio a R$ 254,84, com alta de 9,75% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento mensal do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Apesar dos expressivos saltos nas bolsas e no mercado interno, a desvalorização do dólar, ajudou a minar os ganhos dos produtores brasileiros.
"O mercado trabalha com expectativa de boa safra de café do Brasil. E, por enquanto, não há sinais de que o clima possa prejudicar os cafezais", diz Costa. A expectativa é que os preços do grão voltem a se recuperar a partir de outubro, com o início da entressafra brasileira, e quando o mercado começa a ter melhor noção da oferta e demanda global para 2009.
Nos últimos meses, o café, assim como boa parte das commodities, sofreu influência direta dos fundos de investimentos e especuladores. Teve alta expressiva entre o fim de 2007 e início deste ano, e tombou praticamente na mesma proporção nesses últimos meses, sem o forte impacto de fundamentos para justificar tanto a subida como a retração dos preços.
Mas, se dependesse apenas dos fundamentos de mercado, o café teria bons motivos para animar os produtores. O consumo global é crescente. E o Brasil, maior produtor e exportador, também deverá se tornar em 2010 o maior consumidor mundial, ultrapassando os americanos.
Mercosul
a) Desabastecimento ameaça Argentina
Pela terceira vez nos últimos três meses, a Argentina está à beira do desabastecimento de alimentos. Para complicar, a nova fase de escassez é complementada pela falta de combustíveis. Várias associações empresariais alertam para um cenário grave de ausência de produtos alimentícios, diesel e gasolina a partir deste fim de semana.
O atual desabastecimento está sendo considerado pior que o de março passado, durante o primeiro locaute dos produtores agropecuários, que durou 21 dias. Pela primeira vez o chefe do Gabinete de ministros, Alberto Fernández, admitiu que o governo está preocupado com o risco de desabastecimento.
Os protagonistas dessa nova crise são as empresas de transportes de cargas, que colocaram motoristas e caminhões para fazer piquetes nas estradas. Os empresários - que em alguns piquetes usam até mais de 150 caminhões - protestam contra os piquetes dos ruralistas nas estradas. E estes estão em pé de guerra com o governo da presidente Cristina Kirchner há mais de três meses, por causa dos pesados impostos sobre a exportação agrícola.
Nesse cenário de "piquetes duplos", as rodovias argentinas transformaram-se numa ratoeira para o tráfego de veículos. Pelos piquetes só passam ambulâncias, bombeiros e veículos particulares. Cerca de 60% das empresas nos protestos são compostas por caminhoneiros autônomos. As restantes são pequenas e têm entre dois e três veículos. Estimativas indicam que o conflito ruralista afeta 160 mil caminhoneiros.
Sem caminhões que transportem produtos entre as regiões argentinas, a Coordenadoria das Indústrias de Produtos Alimentícios (Copal) anunciou que o desabastecimento de alimento é iminente. Várias câmaras empresariais do setor alimentício e de supermercados alertam para o eventual colapso ainda esta semana.
Organização Mundial do Comércio (OMC)
a) Para o Brasil, barreiras dos EUA também prejudicam a indústria
O Brasil acusou os Estados Unidos de aumentar os limites do pagamento de subsídios agrícolas e de anular as baixas tarifas industriais com imposição de sobretaxas, principalmente sobre produtos siderúrgicos. Durante o exame da política comercial americana, na Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil reclamou de seu principal parceiro comercial, para onde exporta 20% do total, "provocar perdas significativas" para os exportadores dos países em desenvolvimento com as barreiras que impõe.
Esse exame serve para os 151 países membros da OMC discutirem as condições em que seus exportadores podem operar no mercado do parceiro. A entidade considera em geral que os EUA têm um mercado aberto, mas aponta várias práticas e barreiras, especialmente para produtos agrícolas, têxteis, siderúrgicos e calçados.
Para o Brasil, a depreciação do dólar, pressões inflacionárias e alta dos preços das commodities agrícolas e de energia fazem a proteção nos EUA ser ainda mais problemática. O país exemplificou que a Farm Bill, a lei agrícola recentemente aprovada, aumenta a base de subsídios para 15 commodities agrícolas, incluindo algodão, em contradição com a Rodada Doha e decisões da própria OMC. O Brasil acusou os EUA de serem "lentos" e "relutantes" para respeitar as decisões dos juízes da entidade, como no caso do algodão.
Apontou também as baterias contra as tarifas. Exemplificou que os 20 principais produtos que o Brasil exporta para o mundo sofrem tarifa média de 23% nos Estados Unidos. Em comparação, os 20 principais produtos americanos para o mundo entram no mercado brasileiro com taxas de 11,6% na média.
O Brasil reclamou ainda de taxas específicas adicionais que pesam na entrada de açúcar, suco de laranja e etanol. Observou que os produtores americanos de etanol são protegidos da concorrência estrangeira através da combinação de subsídio (US$ 0,51 por galão) e barreira na fronteira (US$ 0,54 de tarifa sobre o galão importado). A nova Farm Bill reduzirá o subsídio para US$ 0,45 por galão, mas manterá a tarifa de importação de US$ 0,54.
O país acusou Washington de freqüentemente anular as tarifas baixas na área industrial, com aplicação de sobretaxas. Os EUA têm mais de 200 medidas antidumping em vigor, em muitos casos de maneira "ilegal".
b) Brasil ataca barreiras dos EUA ao etanol
O Brasil atacou as barreiras ao etanol nos Estados Unidos e se disse alarmado com a "retórica protecionista" no mercado americano diante da desaceleração da economia. A Organização Mundial do Comércio (OMC) abriu a sabatina sobre a política comercial americana que ocorre a cada dois anos para avaliar se a Casa Branca cumpre as leis internacionais.
O Itamaraty aproveitou para criticar as barreiras no mercado americano, questionar as sobretaxas aos biocombustíveis e pedir que os americanos não se fechem diante da queda na atividade econômica do país.
A OMC também apelou para que os EUA reduzam as distorções no mercado de energia e sugeriu que, num momento de desaceleração da economia mundial, os americanos promovam maior abertura de seu mercado. No total, o Brasil enviou cerca de 30 perguntas para serem respondidas pelos americanos. Uma delas a respeito das sobretaxas ao etanol. Segundo o Itamaraty, há uma taxa que varia entre 1,9% e 2,5% na importação do etanol. Mas há sobretaxa de US$ 0,14 por litro.
A taxa praticamente inviabiliza as exportações nacionais e é usada pelos americanos como forma de garantir proteção a seus produtores. O Brasil quer que a Casa Branca explique oficialmente os motivos da taxa.
"Os produtores de etanol dos EUA são protegidos da concorrência externa por uma política que combina subsídios domésticos e proteções nas fronteiras", afirmou o diplomata brasileiro Paulo Mesquita, em discurso na sabatina americana.
Segundo ele, a nova lei agrícola aprovada nos EUA manterá as distorções. "Os Estados Unidos precisam adotar medidas para corrigir esse tratamento severamente discriminatório", afirmou Mesquita.
Nos últimos dias, o chanceler Celso Amorim deixou claro que se o etanol não entrar em um plano de liberalização na Rodada Doha, o Brasil não poderá aceitar acordo para eliminar tarifas para bens ambientais. Os americanos se opõem à idéia de eliminar as tarifas ao etanol no marco de um acordo da Rodada Doha. Mas querem que equipamentos para energia solar, eólica e outros produtos com efeitos positivos para o meio ambiente sejam liberalizados.
O Brasil também fez questão de apontar para o protecionismo americano, contrariando a percepção que Washington tenta dar de que sua economia é aberta. "O mercado americano ainda conta com barreiras significativas e práticas distorcivas", afirmou o diplomata.
Segundo o Itamaraty, os 20 principais produtos da pauta de exportação do Brasil para o mercado americano sofrem taxas de cerca de 23%, principalmente no setor agrícola. Os EUA insistem em que suas barreiras médias estão em torno de 3%. Em média, o Itamaraty afirma que os 20 principais produtos americanos são taxados em apenas 11% no Brasil.
Na avaliação do Brasil, a sabatina dos EUA ocorre em um momento crítico de desaceleração da economia. Para o Itamaraty, os americanos precisam ter um papel central na busca por soluções por ser a maior economia do mundo, e não se fechar diante das dificuldades.
"A preferência crescente pelo bilateralismo e por uma retórica política em favor do protecionismo ao comércio e investimentos é preocupante", afirmou Mesquita. Segundo ele, todos estão esperando por sinais mais claros do compromisso americano com o sistema multilateral. Para a secretaria da OMC, a abertura da economia americana seria fator importante nesse período de desaceleração do crescimento mundial.
c) Brasil vai à OMC contra barreiras da UE ao níquel
Para proteger os interesses de expansão da Vale, o Brasil vai à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a Europa. Hoje, em Bruxelas, a União Européia adotará uma nova lei que classifica os compostos de níquel como cancerígenos. Além da nova classificação, a UE vai exigir que todos os fornecedores que queiram exportar produtos químicos à Europa tenham de registrar seus produtos, e alguns podem ser barrados por questões de saúde e ambientais.
Apesar da complexidade do processo de registros de mais de 30 mil produtos químicos, a preocupação primeira do Brasil é com relação à classificação do níquel.
Com a nova lei, seis compostos de níquel passarão a ser considerados como "perigosos". A lista pode aumentar para 140 compostos até o final do ano. O Brasil, juntamente com a Austrália e outros países, enviou cartas e manteve reuniões com os europeus para evitar a publicação da nova lei. O argumento do governo era de que novos estudos científicos estavam sendo feitos e que provariam que o produto não teria os riscos alertados pela Europa.
Hoje, o Brasil é importador de nÍquel. Mas, com a aquisição da canadense Inco pela Vale, o grupo brasileiro se transformou num dos principais atores do produto no mercado internacional. Além disso, a Vale começa a desenvolver minas de níquel no Brasil e espera poder exportar.
d) Argentina alia-se à Índia para frear concessões do Brasil na Rodada Doha
A disposição dos empresários e do governo brasileiro de fazer maiores concessões na negociação para liberalização comercial na Organização Mundial de Comércio (OMC) incomoda a Argentina. O país articula com a Índia uma resistência aos esforços do Brasil para facilitar um acordo em Genebra. Segundo se queixam os argentinos, em conversas reservadas, o Brasil está se "afastando" da posição defensiva dos países em desenvolvimento, que, até recentemente, rejeitavam maiores avanços na derrubada de tarifas de produtos industriais.
A Argentina se recusa a ampliar as ofertas já apresentadas, com o argumento de que os países desenvolvidos "desequilibram" a negociação: exigem maior redução de tarifas para bens industriais, mas relutam em aceitar quedas nas barreiras tarifárias para produtos agrícolas. No início da semana, segundo informou um integrante do governo argentino ao Valor, os argentinos já haviam decidido buscar apoio da Índia para endurecer nas negociações.
Em Buenos Aires o negociador argentino Alfredo Chiaradia, secretário de Comercio e Relações Econômicas Internacionais, após reunião com o secretário de Comércio da Índia, Gopal Pillai, divulgou nota dos dois países com fortes críticas aos textos preliminares do acordo da OMC, em negociação pelos diplomatas em Genebra. Os dois países dizem não aceitar o acordo nas bases em que vem sendo discutido em Genebra e acusam as propostas em debate de desconsiderar os mandatos dos negociadores e os acordos parciais assumidos até agora na chamada Rodada Doha da OMC.
"É totalmente inaceitável", diz a nota bilateral, ao referir-se às propostas de abertura do mercado para produtos industriais, no rascunho do acordo que está em discussão em Genebra. O rascunho foi classificado pelo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, como "uma boa base" de negociação.
Os secretários argentino e indiano, ambos com status de vice-ministros, vão mais além, na nota e "rejeitam" a proposta de vincular abertura de mercado a proteção a setores sensíveis: pelo rascunho discutido em Genebra, o país que aceitar uma redução maior nas tarifas de importação poderá incluir mais produtos em sua lista de "sensíveis", com garantias de proteção contra a concorrência estrangeira. Essa "flexibilidade" levou os empresários brasileiros e o Itamaraty a avaliar que o rascunho de Genebra traz bons avanços e permite, com pequenos ajustes, aceitar maiores reduções de tarifas de importação, abrigando, ao mesmo tempo, os produtos sensíveis à concorrência estrangeira.
Para Índia e Argentina, o atual estado das negociações está na contramão dos compromissos e mandatos dos negociadores na Rodada Doha, entre eles o princípio de tratamento diferenciado para países em desenvolvimento, que estariam desobrigados de dar total reciprocidade às concessões dos países ricos.
Os dois países são parceiros do Brasil no G-20 (que coordena as propostas dos países em desenvolvimento para comércio agrícola) e no Nama-11 (grupo dos 11 países em desenvolvimento com mais interesse em proteger seus setores industriais). Chiaradia e Pillai argumentam que o rascunho na mesa de negociação exige mais esforços de abertura de mercado dos países do Nama-11 que dos países desenvolvidos.
"É uma nota dura, estou surpresa pela manifestação da Índia", comentou Sandra Rios, da Coalizão Empresarial Brasileira. "Nossas informações eram de que a Índia estaria confortável para negociar". Para ela, a manifestação das autoridades indiana e argentina aponta em caminho distinto do esforço do Brasil, "para construir um acordo na Rodada Doha". Os argentinos argumentam que também cobram rapidez e esforço para o acordo de Doha e que foi o Brasil, não eles, quem mudou de estratégia na negociação. Eles atribuem a mudança ao esforço brasileiro de "sentar-se à mesa dos grandes".
Plano Internacional
a) Protesto leva à renúncia de gabinete sul-coreano
Todos os ministros da Coréia do Sul renunciaram devido a protestos populares contra o presidente Lee Myung-bak, que está no poder há apenas três meses. Os protestos contra o governo reuniram de 80 mil pessoas (segundo a polícia) a mais de 400 mil, segundo os organizadores. As manifestações foram desencadeadas pela aprovação de um acordo para liberar importações de carne americana. O Congresso dos EUA havia ameaçado bloquear um acordo bilateral de livre comércio com a Coréia do Sul caso o país não abrisse seu mercado para a carne. Mas a preocupação generalizada com a doença da vaca louca nos EUA rapidamente despertou insatisfação com o governo Lee. Os manifestantes acusam o presidente de ser um "ditador", que não dá ouvidos à opinião pública, e de se submeter aos interesses americanos. Os protestos ocorreram no aniversário das passeatas de 1987 que ajudaram a derrubar o regime militar sul-coreano.
b) Obama diz que quer trabalhar com Brasil por energia limpa
O senador Barack Obama, candidato democrata à Casa Branca, deu importantes pistas de como seria a relação de seu governo com a América Latina. Em entrevista publicada pelo jornal chileno El Mercurio, sem citar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Obama afirmou que gostaria de se unir ao Brasil na busca de energias alternativas. "Quero unir-me a países como o Brasil para buscar formas mais limpas de energia", disse o democrata, sem entrar em detalhes sobre como seria essa cooperação. Obama já declarou várias vezes que é contra a redução da tarifa de importação do etanol brasileiro.
Analistas dizem que a posição do senador dificilmente mudará em razão de dois de seus redutos eleitorais, os Estados de Illinois e Iowa, liderarem a produção de milho, matéria-prima do etanol americano.
"Aqueles que defendem a substituição da produção americana de biocombustíveis pelas exportações de álcool do Brasil podem até estar com boas intenções, mas não entendem o desafio que temos para obter uma segurança energética de longo prazo", disse o democrata em março. "Não adianta nos livrarmos da dependência do petróleo para nos tornarmos dependentes do etanol."
Na entrevista a El Mercurio, Obama afirmou que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, é uma "ameaça administrável" para a segurança dos EUA. "Sabemos, por exemplo, que ele pode estar apoiando as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), prejudicando um vizinho. Devemos usar a OEA e a ONU para aprovar sanções que mostrem que esse comportamento é inaceitável", declarou. "Mas, como já disse antes, devemos ter uma diplomacia direta com a Venezuela, assim como com todos os países do mundo." Como exemplo dessa disposição ao diálogo, ele citou o caso cubano. "Eu daria início a negociações com Cuba e cancelaria as restrições de viagem aos que possuem parentes na ilha."
Em Caracas, Chávez disse ontem estar "disposto a conversar com respeito" com quem for eleito presidente dos EUA.
Obama, que nunca esteve na América Latina, disse que gostaria de visitar a região antes das eleições de novembro. Segundo ele, o México será uma prioridade em seu governo. O democrata defendeu uma reforma migratória e explicou que o maior interessado no desenvolvimento mexicano são os EUA. "Mais postos de trabalho no México significam menos imigrantes ilegais", disse.
Ao contrário do rival republicano, o senador John McCain, Obama defende uma reforma do Nafta, o tratado de livre comércio (TLC) dos EUA com Canadá e México. Com propostas mais protecionistas que as do adversário, o democrata declarou que se opõe também à assinatura de um TLC com a Colômbia. "Até que eu tenha certeza de que eles não estão matando seus líderes sindicais", afirmou, em referência ao alto índice de assassinato de sindicalistas colombianos.
A briga entre democratas e republicanos para ver quem tem as melhores propostas sobre política externa ganhou ontem a participação do general aposentado Wesley Clark, um dos candidatos a vice na chapa de Obama. Segundo Clark, a tão alardeada experiência de McCain na área não existe. "Ele nunca foi responsável pela formulação de qualquer tipo de política e nunca liderou nada em tempos difíceis", disse Clark. "A pior crise que ele teve de gerir foi dentro da cabine do avião que ele pilotava."