03 a 07 de novembro de 2008

Comércio Exterior

Resultados
Petrobras deve reavaliar aumento de investimentos no Irã, diz Amorim
Crise já reduz força das exportações e importações
Exportação de petróleo é recorde em outubro
Menor produção da mineradora afetará comércio exterior no mês
Comércio exterior ganha nova linha

Agronegócio

Boi gordo sobe na BM&F em mês de forte queda de grãos
Exportações gordas
Bom desempenho nos EUA leva Friboi a lucro recorde no trimestre

Mercosul

Blitz sobre câmbio dificulta comércio exterior argentino

Organização Mundial do Comércio (OMC)

Governo brasileiro aposta mais em Doha do que em acordo com os EUA
Brasil quer acordo em Doha antes de posse nos EUA
Lamy concorre à reeleição com apoio brasileiro

Plano Internacional

Washington prevê mais droga e violência sem DEA na Bolívia
Brasil quer EUA na reforma do FMI
China deve investir US$ 730 bilhões só em transportes



Comércio Exterior

a) Resultados

A crise financeira internacional reduziu a procura por produtos brasileiros, enquanto o dólar mais caro deixou o importador brasileiro mais cauteloso, como mostram dados da balança comercial de outubro, divulgados ontem. "O crescimento das exportações e das importações está sendo resfriado", avaliou o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Welber Barral.

O superávit comercial no mês foi de apenas US$ 1,2 bilhão, o pior resultado para meses de outubro nos últimos sete anos. O valor ainda representa uma queda de 64% pela média diária na comparação com outubro de 2007. No ano, o saldo totaliza US$ 20,85 bilhões, 39,6% a menos que no mesmo período do ano passado, resultado de exportações de US$ 169,37 bilhões e importações de US$ 148,52 bilhões.

Os dados mostram que as operações comerciais do Brasil com o exterior perderam velocidade. Nos meses de outubro, espera-se uma leve queda nas vendas externas e um aumento maior das importações por causa das festas de fim de ano. Nos últimos dois anos, as exportações de outubro tiveram uma queda em torno de 4% em relação a setembro. Este ano, porém, esse recuo chegou a 7,5%. Essa diferença, segundo o secretário, pode ser explicada pelos efeitos da crise sobre as vendas externas de produtos brasileiros. Por outro lado, nas importações, houve crescimento de 0,2% em outubro na comparação com setembro, enquanto nos anos anteriores houve um crescimento médio entre 2% e 3%.

Mesmo assim, as vendas externas totalizaram US$ 18,51 bilhões, com alta de 17,4% pela média diária (US$ 841,5 milhões), e as importações somaram US$ 17,31 bilhões, uma elevação de 40,3% pela média diária (US$ 786,6 milhões) em relação a outubro do ano passado.

O governo esperava uma expansão maior das importações em outubro, principalmente de produtos não-duráveis, por causa da ceia de Natal. As compras desses produtos subiram 11,7% em relação a outubro de 2007 e caíram 13,4% na comparação com setembro de 2008. Mas em outubro do ano passado as importações de bens não-duráveis subiram 35,2% ante outubro de 2006 e 10,3% em relação a setembro do mesmo ano. "Por causa do dólar, está havendo uma cautela maior do importador", avaliou Barral. "A ceia de Natal vai ter menos importados. A crise vai mostrar como há produtos de qualidade produzidos no Brasil."

Do lado das exportações, vários itens da pauta brasileira recuaram em relação a setembro, principalmente por causa da redução do volume exportado. Em alguns casos, a retração é explicada por questões sazonais, como a soja (42%) e o etanol (21,3%). Mas, em outros, a queda está ligada à redução da demanda e à volatilidade do dólar, como nos setores de caminhões (queda de 11,8%) e celulares (16,9%). "Há receio das empresas que compram do Brasil de fechar contratos de médio prazo com pagamento futuro por causa do dólar. Essas empresas querem renegociar os preços em dólar para compensar a valorização do dólar no Brasil", disse o secretário.

A redução da demanda por produtos brasileiros foi mais sentida nos manufaturados, que tiveram queda de 14,1% ante setembro. O alumínio foi a única commodity da pauta que teve um grande decréscimo de preço (9,3%) em relação a setembro. As vendas de minério de ferro caíram apenas 2% em preço.

b) Petrobras deve reavaliar aumento de investimentos no Irã, diz Amorim

A Petrobras provavelmente não vai expandir investimentos no Irã, pelas indicações dadas por representantes brasileiros. De retorno de Teerã, onde se encontrou com o presidente Mahmoud Ahmadinejad, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que "o momento é de reavaliações gerais, porque são investimentos grandes (no Irã) e temos também necessidade de financiamento para exploração no Brasil".

A Petrobras encontrou petróleo no Golfo Pérsico e vai continuar no Irã, mas a questão tem sido justamente se mantém ou aumenta os investimentos, em meio a pressões que vem sofrendo. Hoje, boa parte do capital da petroleira brasileira é detido por fundos de pensão dos Estados Unidos.

Teerã sofre sanções da ONU por causa de sua recusa de pôr fim a seu programa nuclear considerado "suspeito" por certos governos ocidentais. O ministro Celso Amorim, por sua vez, indicou que o Brasil poderia ajudar na mediação da questão nuclear. "Ninguém está interessado em proliferação de armas nucleares. Mas faz parte do Tratado de Não-Proliferação o direito de desenvolvimento da tecnologia para fins pacíficos. Para encontrar um ponto comum para ter um acordo, países sem 'a priori' podem ajudar", afirmou.

A ênfase da visita de Amorim a Teerã foi a cooperação econômica. O Brasil chegou a exportar quase US$ 2 bilhões no ano passado, mas este ano as vendas podem cair para US$ 1,3 bilhão. Uma das explicações é que haveria triangulação do comércio pelos Emirados Árabes Unidos, com empresas evitando a venda direta por medo de pressão americana.

Grupos de empresários dos setores de máquinas, petróleo, agrícola e equipamentos médicos participaram da delegação. "Percebemos bastante interesse, como também transmitimos nosso desejo de ter relações normais com o Irã, independentemente de questões específicas", disse Amorim. "O Irã é um país influente na região, as pessoas podem querer ignorar essa realidade, mas ela existe, é importante o diálogo com o Irã".

c) Crise já reduz força das exportações e importações

O governo já tem os primeiros sinais do impacto da crise financeira mundial nos números do comércio exterior. O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, informa que, em outubro, as importações ficaram abaixo do esperado e as exportações, em alguns segmentos, perdem força pela queda da demanda internacional por produtos brasileiros.

Barral diz que o crescimento de exportações e importações vem sendo "resfriado" e afirma que alguns importadores querem renegociar preços. Como exemplo cita caminhões, celulares e aço. Esse comportamento é devido à volatilidade no câmbio. No lado das exportações de "commodities", o secretário afirma que, com exceção do alumínio, não houve queda significativa das cotações. O que chama a atenção dele, na balança comercial de outubro, é a redução das quantidades embarcadas.

No caso da redução de 30 milhões de toneladas na produção de minério de ferro da Vale, o secretário revela que esse volume significa 8% das exportações do produto. Mas acredita que as altas cotações do produto ainda vão compensar a diminuição da quantidade.

Comparando o desempenho de outubro com o de setembro deste ano, o governo destaca as seguintes quedas de quantidades embarcadas: etanol (19,1%), alumínio em bruto (11,7%), semimanufaturados de ferro e aço (16,9%), celulares (18,7%), automóveis (11,6%), caminhões (7,4%), carne bovina (13,9%), minério de ferro (8,5%), soja em grão (43%) e aviões (54,2%).

Considerando as médias diárias de outubro, as exportações cresceram 17,4% sobre outubro de 2007 e as importações tiveram elevação de 40,3% sobre o mesmo mês do ano passado. As vendas foram de US$ 18,51 bilhões e as compras chegaram a US$ 17,3 bilhões, o que resultou em saldo de US$ 1,2 bilhão, o menor em sete anos para meses de outubro, segundo informa o Ministério do Desenvolvimento. Esse superávit é 64,8% menor que o de outubro de 2007.

Quando o governo compara as médias diárias de outubro com as de setembro, verifica redução de 7,5% nas exportações e ligeiro aumento (0,2%) nas importações. O saldo cai 56,2%.

No confronto dos períodos janeiro-outubro, há aumentos de 27,3% nas exportações (US$ 169,37 bilhões) e 50,8% nas importações (US$ 148,52 bilhões) , com queda de 39,6% no saldo comercial (US$ 20,84 bilhões). A meta de exportações do governo é de US$ 202 bilhões para 2008. No acumulado dos últimos 12 meses (novembro de 2007 a outubro de 2008), as variações são de 25,8% nas vendas, 49,7% nas compras e queda de 38,1% no superávit.

Para o secretário de Comércio Exterior, ainda é cedo para previsões sobre a balança em 2009, porque o governo espera estabilização em três fatores: crédito, câmbio e risco-país. "Tivemos uma crise no principal mercado mundial. É natural uma redução de demanda em todo o mundo, mas não sabemos mensurar o que fica para o Brasil."

Segundo os números analisados por Barral, as exportações para os EUA caíram 0,5% na comparação de outubro com o mesmo mês do ano passado. Se a comparação é com setembro deste ano, a queda salta para 24,3%. Grande parte desse comportamento pode ser explicado, de acordo com Barral, pela queda dos preços do petróleo, mas ele admite ser "preocupante" a diminuição das vendas de bens de capital ao mercado americano.

No caso da China, as vendas de produtos brasileiros, em outubro, foram 30,9% maiores que as de outubro de 2007, mas ficaram 20,8% abaixo dos embarques de setembro deste ano. Para o mercado chinês, a redução de 20,8% sobre as exportações de setembro tiveram como principais causas as quedas do minério de ferro (17%) e da soja em grão (73%).

A soja não preocupa o governo, porque a redução é normal. Os embarques da commodity concentram-se entre maio e setembro. O problema é a menor demanda por minério de ferro. "Não dá para generalizar, mas a redução da demanda mundial é provocada pela crise", lamenta.

No atual momento de crise, Barral diz que as exportações estão sendo mais rapidamente afetadas que as importações. No caso das compras, as estatísticas são alteradas com o desembaraço aduaneiro das mercadorias, o que vem sendo adiado por alguns operadores "cautelosos". "Sabemos que os portos estão lotados", reconhece. A análise da importação dos bens de consumo não-duráveis mostra que outubro teve, pelas médias diárias, aumento de 11,7% sobre outubro de 2007. Na comparação com setembro deste ano, houve queda de 13,4%. No ano passado, outubro teve importações 10,3% maiores que setembro.

Outras quedas de importações verificadas na comparação de outubro com setembro, em 2008, são de bens de capital (3,9%), automóveis (7,5%). As compras de bens de consumo duráveis ficaram praticamente estáveis e as matérias-primas e intermediários importados foram apenas 1,6% maiores. "As importações de bens de consumo foram maiores nos anos anteriores. Já há algum efeito do dólar. Os brinquedos para o Natal já chegaram em agosto", diz Barral.

Para o secretário, os desafios mais imediatos do governo federal, nessa crise, são regularizar e ampliar a oferta de crédito para os exportadores, aumentar a desoneração da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e acelerar a redução de custos com burocracia e logística. Também estão nas perspectivas oficiais o combate ao protecionismo e o reforço da defesa da indústria nacional por meio da defesa comercial, da maior articulação com a Receita Federal e da atualização dos mecanismos de inteligência.

d) Exportação de petróleo é recorde em outubro

Petrobrás bateu em outubro seu recorde de exportação de petróleo, com uma média de 574 mil barris vendidos por dia. A marca supera em 42 mil barris por dia o recorde anterior, atingido em abril. O bom desempenho pode contribuir para reduzir o déficit acumulado na balança comercial do setor em 2008, apenas um ano após a comemoração da auto-suficiência na produção.

Com base em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a Agência Nacional do Petróleo (ANP) indica que o Brasil perdeu a auto-suficiência em 2008 e voltou a importar mais petróleo e combustíveis do que exporta. Até setembro, as importações somaram 198,828 milhões de barris e as exportações, 176,555 milhões. A Petrobrás ainda não divulgou os dados de importações de outubro. Na média diária, o déficit é de 81 mil barris, com importações de 723 mil e exportações de 642 mil barris por dia.

e) Menor produção da mineradora afetará comércio exterior no mês

A redução da produção da mineradora Vale em 30 milhões de toneladas métricas de minério de ferro deve reduzir as exportações brasileiras já em novembro. Isso representa 8% do total das exportações brasileiras de minério de ferro por ano. A avaliação é do vice-presidente da Associação dos Exportados do Brasil (AEB), José Augusto, que já esperava a queda das exportações brasileiras em outubro em relação a setembro, por conta da redução da demanda mundial e queda de preços das commodities agrícolas.

– O impacto da crise na balança comercial em novembro deve ser igual ou menor que o de outubro salvo se surgir algum fator sazonal, como alguma aumento da exportação de petróleo bruto – disse Augusto.

Diante do dólar elevado, ele acredita que a balança comercial deve sentir os efeitos da desaceleração do crescimento das importações, pois os importadores estão postergando a retirada das mercadorias nos portos, a espera de uma eventual queda da taxa do dólar. Eles têm um prazo de até 120 para registrarem a saída das mercadorias nas aduanas, disse o executivo da AEB.

Ao contrário de Augusto, o secretário de comércio exterior do ministério, Welber Barral, explicou que as exportações estão caindo mais por conta da queda da quantidade exportada e menos pelo impacto da redução dos preços das commodities.

– Com exceção dos preços dos alumínios, a maioria da queda das exportações é por conta da queda da quantidade – disse ele.

f) Comércio exterior ganha nova linha

O Banco Central inaugurou uma nova linha de empréstimo em moeda estrangeira para financiar exportações, com um leilão de US$ 2 bilhões, tomando como garantia operações de Adiantamento sobre Contratos de Câmbio (ACC) e de Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE).

O BC divulgou os detalhes operacionais da linha, que foi criada pela Medida Provisória 442. Os empréstimos terão prazo de seis meses e os juros cobrados serão a Libor, hoje pouco abaixo de 3% ao ano, mais uma taxa adicional definida em leilão.

Essa é a terceira linha em dólares ativada pelo BC para restabelecer os financiamentos ao comércio exterior. A crise provocou corte de empréstimos internacionais aos bancos, que ficaram sem recursos para repassar aos exportadores.

O diretor de política monetária do BC, Mario Torós, disse que não há limite para o volume de recursos que poderá ser emprestado na nova linha. "Os leilões serão feitos de acordo com a demanda", disse.

O BC criou um sistema de leilão para assegurar que os dólares emprestados na nova linha sejam direcionados ao comércio exterior no prazo de um mês. Por esse mecanismo, a liberação dos recursos aos vencedores do leilão será feito em duas etapas.

Primeiro, o BC irá fazer uma operação de venda de dólares aos bancos, com a recompra da moeda dentro de um mês. Depois, será feita uma operação de empréstimo em moeda estrangeira, com prazo de cinco meses, usando ACCs e ACEs como garantia.

Na primeira fase da operação, os vencedores do leilão vão receber dólares do BC e, em troca, entregar reais. Os bancos terão, então, um mês para usar os dólares na contratação de operações de ACC e de ACE com clientes. Ao fim desse prazo, a operação de venda de dólares será desfeita. O BC devolve os reais aos bancos e recebe os dólares de volta. Simultaneamente, o BC fará outra operação de empréstimo em moeda estrangeira , recebendo como garantia os ACC ou os ACEs.

O Conselho Monetário Nacional (CMN), em reunião extraordinária realizada ontem, mudou os percentuais de garantia que o BC poderá receber nos empréstimos em moeda estrangeira. Antes, o BC podia exigir até o equivalente a 140% dos valores emprestados, caso o banco oferecesse como garantia operações de financiamento ao comércio exterior classificadas como risco B, o terceiro melhor conceito em uma escala com nove notas.

Agora, o BC poderá exigir como garantia ACCs e ACEs equivalentes a até 100% do empréstimo em moeda estrangeira. Mas, dependendo do nível de risco do banco e do cliente que contratou o financiamento à exportação, o BC poderá exigir garantias suplementares em moeda nacional equivalentes a até 140% do empréstimo. A diretoria colegiada do BC irá avaliar o risco e definir, caso a caso, o percentual de garantia exigido. Numa primeira etapa, apenas títulos públicos poderão ser apresentados como garantia suplementar. No futuro, o BC poderá aceitar papéis privados e carteiras de crédito.

"A regulamentação anterior tinha uma inconsistência porque, para tomar empréstimos em moeda estrangeira, os bancos tinha que ter garantias ainda maiores em moeda estrangeira", disse Torós.

Torós disse que o BC resolveu criar a nova linha para dar mais uma alternativa aos bancos. O BC já vinha operando com a venda de dólares com compromisso de recompra e com os leilões de empréstimo em moeda estrangeira garantidos por títulos da dívida externa soberana.

Torós explicou que os recursos usados na nova linha virão das reservas. Portanto, disse, ela nada tem a ver com o acordo de troca de moedas de até US$ 30 bilhões fechado com o Federal Reserve. Os empréstimos vão afetar apenas temporariamente as reservas no conceito de caixa. Elas cairão quando o BC liberar os dólares aos bancos e voltarão a subir quando o empréstimo for pago. As reservas no conceito de liquidez internacional não mudam.

Agronegócio

a) Boi gordo sobe na BM&F em mês de forte queda de grãos

Em seu momento de entressafra, o boi gordo foi o único entre os seis contratos agrícolas negociados no mercado futuro da BM&FBovespa a encerrar outubro em alta. Os grãos, sob a influência das cadentes cotações no mercado internacional, terminaram o mês com quedas pronunciadas.

Na média, os contratos de boi gordo de segunda posição de entrega negociados na bolsa brasileira subiram 1,51%, para R$ 92,06 por arroba, segundo cálculos do Valor Data. O avanço do preço médio ocorreu a despeito das quedas registradas na segunda metade do mês, ocorridas sob a onda de boatos de que parte dos embarques de carne para a Rússia seria desovada no mercado interno.

Todo mundo achou que o mercado de carnes não seria afetado pela crise da forma que foi. Para uma época de entressafra como essa, era para o preço estar novamente próximo de R$ 100 por arroba, como ocorreu no meio do ano, disse André Nardini, analista da Terra Futuros. No ano, a média dos contratos de segunda posição acumula alta de 37,54% e, no ano, de 42,30%.

A alta da média dos contratos de boi gordo acabou sendo tímida, mas a oscilação dos preços manteve-se acentuada. A instabilidade atrapalha frigoríficos e pecuaristas na montagem de custos e margens, mas não é vista como negativa de forma unânime. A volatilidade é boa para o mercado porque, ao atrair o especulador, dá liquidez ao mercado. A entrada e a saída ficam muito mais fáceis, avalia Marcos Barbosa de Lima, operador da corretora Souza Barros. Dos seis contratos agrícolas negociados na BM&FBovespa, o que encerrou o mês com queda mais acentuada foi o de soja. Em outubro, os papéis de segunda posição de entrega recuaram -21,21%, para US$ 20,49 por saca de 60 quilos, na média. No ano, o recuo acumulado é de 16,22% e, nos úlitmos 12 meses, de 32,89%.

A baixa ocorre sob a influência direta do tombo das commodities agrícolas no mercado internacional. Na bolsa de Chicago, principal referência para a formação de preços, a queda dos contratos de segunda posição, normalmente os de maior liquidez, foi de 21,15%, para US$ 9,3385 por bushel.

Os contratos de café, produto com segundo maior volume de negócios na bolsa brasileira, tiveram queda menos acentuada, o que não significa que esse mercado teve dias menos agitados. A baixa da média dos papéis de segunda posição foi de 16,67%, para US$ 139,10 por saca de 60 quilos.

Café e dólar estão em pontas contrárias. Se um sobe, o outro cai. E, na volatilidade, os dois estão iguais. O dólar está subindo e caindo muito e o mesmo tem acontecido com o café, diz Lima.

No milho, o recuo dos contratos de segunda posição em outubro foi de 10,50%, para R$ 21,72, na média. Ainda que tenha repetido o movimento registrado no mercado externo, sua dinâmica está muito mais relacionada à atual situação de oferta do mercado interno, afirma Eduardo Tang, analista da Souza Barros.

Em 2007, diz, com a quebra da safra européia, a demanda por milho brasileiro cresceu exponencialmente. As exportações chegaram a cerca de 10 milhões de toneladas. Neste ano, se a exportação atingir 6 milhões de toneladas, vai ser muito, diz Tang. E isso em um ano em que a safrinha de milho atingiu pico histórico. Sem demanda lá fora, a saída vai ser vender no mercado interno, mas não há demanda aqui para tanto milho, avalia.

Os contratos de etanol e açúcar, de volume irrisório, também tiveram um mês de declínio. O etanol caiu 18,73%, para US$ 464,64 por metro cúbico, na média, e o açúcar, 11,60%, para US$ 15,01 por saca de 50 quilos, na média.

b) Exportações gordas

As exportações de café verde do Brasil em outubro foram as maiores desde 2002, ficando perto do recorde histórico mensal, de acordo com a base de dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Na segunda-feira, a Secex havia divulgado os números do comércio brasileiro de commodities, informando embarques de café verde de 2,96 milhões de sacas de 60 quilos.

Segundo a Secex, o volume de café verde embarcado no mês passado só perde para o registrado em setembro de 2002, quando o Brasil exportou 3,03 milhões de sacas. No mercado interno, o indicador Cepea/Esalq para a saca de 60 quilos do arábica subiu 1,11%, para R$ 256,97. Na bolsa de Nova York, os contratos com vencimento em março encerraram o pregão a US$ 1,2155 por libra-peso, alta de 430 pontos.

c) Bom desempenho nos EUA leva Friboi a lucro recorde no trimestre

O frigorífico JBS-Friboi, maior processador mundial de carne bovina, anunciou um lucro líquido de R$ 694 milhões no terceiro trimestre, revertendo o prejuízo de R$ 78,3 milhões do mesmo período do ano passado. A receita líquida totalizou R$ 7,772 bilhões, uma alta de 48,5% na mesma comparação. O grupo também obteve, no terceiro trimestre, receita financeira líquida de R$ 408,7 milhões, ante despesas financeiras líquidas de R$ 189 milhões em igual período de 2007.

"Esse foi o melhor trimestre da história da empresa e seguiremos preparados para continuar crescendo. Não temos como pensar que passaremos ilesos por essa crise de liquidez, mas outros não vão sequer passar, e da crise podem sair oportunidades", disse o presidente do grupo, Joesley Mendonça Batista.

Um dos principais motivos para o bom resultado foi o desempenho das vendas nos Estados Unidos, onde a empresa comprou, no ano passado, a gigante Swift. A unidade americana é a maior geradora de receita do grupo, respondendo por 43% do faturamento total, e teve o melhor resultado da história. No terceiro trimestre, o faturamento da unidade americana chegou a US$ 2,75 bilhões, resultado que supera em 4,8% o faturamento do segundo trimestre, que foi de US$ 2,63 bilhões.

A Friboi fez este ano novas aquisições nos Estados Unidos. Já recebeu aprovação para a compra da Smithfiel Foods, mas enfrenta um processo que tenta barrar a aquisição de outra empresa, a National Beef. A alegação dos americanos é que haverá uma excessiva concentração no mercado de carne.

As ameaças russas de queda na demanda, exigências para renegociar contratos e alegações de falta de pagamento não preocupam o presidente do grupo JBS-Friboi, Joesley Mendonça Batista. Segundo ele, nos últimos três anos os importadores russos registram esse mesmo fenômeno e as importações sempre voltam. "Vindo da Rússia, isso é recorrente. Os russos vão se adequar e voltarão a comprar, porque o mercado interno vai continuar demandando carne", disse Batista. A Rússia é o maior cliente individual e absorve 18% das vendas do JBS-Friboi.

Mercosul

a) Blitz sobre câmbio dificulta comércio exterior argentino

A blitz do governo argentino no mercado formal e informal de câmbio ameaça travar o comércio exterior do país. Sem nenhum decreto ou resolução, os bancos estão sendo impelidos por ordens vindas por telefone, do Banco Central, da Receita Federal (Afip) e da Secretaria de Comércio Interior, a não vender grandes quantidades de dólares. Isso está dificultando importações e remessas de divisas para pagamento de dívidas no exterior e de contratos de pré-financiamento de exportação.

A operação, coordenada segundo a imprensa local pelo ex-presidente Néstor Kirchner, marido da presidente Cristina Kirchner, visa conter a desvalorização do peso argentino e está funcionando. Depois de ultrapassar os 3,40 pesos por dólar, na segunda e na terça-feira, a moeda americana se estabilizou na quarta a 3,33 e baixou ontem, fechando a 3,31 pesos.

O dólar voltou a subir no fim de outubro, depois que a presidente Cristina anunciou a reestatização do sistema previdenciário, privatizado em 1994 pelo ex-presidente Carlos Menem (1989-99). Há 14 anos os argentinos recolhem a contribuição previdenciária obrigatória a um conjunto de empresas chamadas AFJP, controladas por bancos e seguradoras, que aplicam os recursos em ativos financeiros públicos e privados. O projeto de lei da reestatização começou a ser votado pela Câmara dos Deputados, com grandes chances de ser aprovado. O líder governista na Câmara, Agustín Rossi, calculava ter de 150 a 160 votos a favor (são precisos 129).

Apesar de certa resistência de alguns partidos de oposição e entidades de direitos civis, o projeto deve ser aprovado e enviado ao Senado no dia 20, com poucas alterações em relação ao original. As únicas mudanças acertadas até ontem são a inclusão de um dispositivo que "garante" que o governo não vai usar o dinheiro incorporado das AFJP para pagar dívidas nem gastos correntes, proibição de aplicação dos recursos no exterior e a criação de um comitê de assessoramento do novo sistema, composto por representantes de empresários, bancos, sindicatos de trabalhadores, aposentados, governo e Congresso, para controlar a aplicação dos recursos.

O efeito mais imediato do anúncio de estatização das AFJP foi espantar investidores e poupadores, que correram para o dólar, provocando a disparada da moeda americana frente ao peso. A presidente argentina sustenta que a estatização visa defender a poupança dos trabalhadores das perdas no mercado financeiro com a crise internacional. Mas investidores, economistas e analistas dizem que o objetivo é, na realidade, usar o dinheiro da Previdência para cobrir um déficit nas contas públicas de 2009, o que a Casa Rosada nega.

Os empresários argentinos estão preocupados com os efeitos da medida. No curto prazo, a desvalorização do peso seria até bem vinda, já que era uma demanda da União Industrial Argentina. O setor queria um ajuste no câmbio para acompanhar a desvalorização do real brasileiro, que estaria tirando a competitividade dos produtos argentinos e ampliando a concorrência dos importados.

O problema é que o governo não está disposto a deixar o dólar passar de um teto de 3,40, para não pressionar a inflação. Para evitar uma corrida ao dólar, o Banco Central tem usado as reservas internacionais para aumentar a oferta de moeda e também tem atuado para inibir o câmbio paralelo. Novas regras que ampliam a burocracia e as exigências para a compra da moeda estrangeira foram adotadas junto com um aperto de fiscalização de bancos e casas de câmbio.

No longo prazo, a comunidade empresarial e financeira da Argentina teme pela morte do já minguado mercado de capitais do país, com o fim das AFJP, que até agora eram importantes investidores institucionais.

Organização Mundial do Comércio (OMC)

a) Governo brasileiro aposta mais em Doha do que em acordo com os EUA

O governo brasileiro está mais interessado ainda na Rodada Doha, apesar de suas dificuldades, do que num acordo de comércio com os Estados Unidos, disse o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, enquanto o resto do mundo aguarda a nova orientação comercial do futuro governo em Washington. "Não vamos nos fechar a outras negociações, mas insistimos em Doha, porque achamos que é do dever de quem se preocupa com a ordem internacional, com o comércio internacional sujeito a regras, com abertura comercial mais justa."

Para o ministro, o Brasil continua achando que a Rodada Doha, na Organização Mundial de Comércio (OMC), seria uma "base muito importante para uma negociação bilateral (depois)". No momento, uma negociação do Mercosul com os EUA está na "agenda virtual", ou seja, não existe.

O ministro insiste em apostar na Rodada Doha quando os sinais são pessimistas, como ele mesmo admitiu ontem. Há dez dias, segundo o ministro, articuladores começaram a planejar uma reunião ministerial para dezembro, para tentar fechar o acordo agrícola e industrial depois da eleição nos EUA e da eleição no Estado indiano do ministro de Comércio, Kamal Nath.

Só que, nos últimos dias, o ambiente piorou em Genebra. Uma reunião de vários embaixadores mostrou pouco apoio à idéia de reunião ministerial. Teve embaixador falando de "suicídio", porque simplesmente não existiria tempo para um entendimento até dezembro sobre corte de tarifas e de subsídios agrícolas e industriais. "O que sei é que, pelas conversas do presidente Lula com outros chefes de Estado, há um sentimento geral de que uma conclusão positiva de Doha ajudaria a melhorar a situação criada com a crise financeira", afirmou.

Apesar da atmosfera mais pessimista em Genebra, sem saber ainda a razão precisa, Amorim disse que muito pode depender do impulso que os chefes de Estado e de governo podem dar na reunião de cúpula do dia 15, em Washington.

O Brasil propôs a participação do diretor da OMC, Pascal Lamy, na reunião, mas não recebeu resposta. "Falta muito pouco para concluir um acordo, só mesmo por muita insensatez não se conclui. Agora, sempre tem pontinhos que doem no calcanhar de um ou outro, e será necessário um impulso politico forte. Se depender de nós, virá.". Indagado se o "nós" representava o Mercosul, Amorim respondeu: "Se depender do Brasil, (o impulso) virá".

b) Brasil quer acordo em Doha antes de posse nos EUA

O Brasil quer tentar assegurar um acordo de liberalização agrícola e industrial na Rodada Doha antes que o novo presidente dos Estados Unidos assuma o poder em janeiro. Essa foi a mensagem que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, deixou em Genebra, depois de se reunir por quase duas horas com o diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy.

"Se a nova administração dos EUA aceita um acordo que foi acertado por 150 países e depois tem de implementá-lo, é uma coisa - não é seguro, mas está lá, acertado", disse. "Outra coisa é se a nova administração chega e não há acordo nenhum, então pode vir com novas idéias, novos temas, e novas idéias de um lado provocam novas idéias de outro lado, o que significa que (a negociação) tomaria muito tempo (para ser concluída)."

O candidato democrata Barack Obama já deixou claro que quer introduzir normas sociais e ambientais em acordos comerciais, sem mencionar especificamente a Rodada Doha, cuja negociação começou há sete anos. "Sobre novas idéias, prefiro nem falar", reagiu Amorim. Ele insistiu que ainda vê como possível a conclusão da negociação global de liberalização comercial este ano, dependendo do que sair da cúpula de Washington, dia 15, reunindo 20 chefes de Estado e de governo para discutir a crise financeira global.

Amorim deixou claro que o Brasil espera dos líderes que decidam também fixar prazo de três semanas para a conclusão da Rodada Doha. "Estamos numa nova situação com essa crise financeira e precisamos adotar medida contracíclica, evitar o protecionismo, dar sinal forte para a economia real", afirmou. A Rodada Doha foi lançada no rastro dos atentados de setembro de 2001 nos Estados Unidos, também com idênticos argumentos.

Para Amorim, é importante que os líderes políticos dêem instruções para "conclusão urgente" de Doha, com data precisa. Isso deveria ser feito com base nas cifras que estavam na mesa de negociação em julho, quando houve o fiasco quase fatal da Rodada Doha, envolvendo cortes de subsídios e de tarifas agrícolas e industriais. "Em julho, a bola bateu na trave", disse.

Para Amorim, o cenário implicará uma reunião de ministros em dezembro para tentar então fechar o esboço do acordo - que em todo caso será implementado gradualmente, ao longo de dez anos. Em todo caso, o Brasil vai aguardar a possibilidade de um entendimento para a Rodada Doha até o fim deste ano para depois avaliar de novo se abre uma disputa contra os Estados Unidos por causa de barreiras ao etanol. Um eventual acordo na OMC implica concessões para o etanol por parte tanto dos EUA como da União Européia.

Em julho, quando uma reunião ministerial fracassou na OMC, o Brasil advertiu que denunciaria os EUA por causa de sobretaxa de US$ 0,54 por galão que impõem na importação, considerada proibitiva, para preservar o mercado para seus produtores de biocombustíveis.

Lamy visivelmente quer concluir a Rodada Doha, de liberalização do comércio global. Para um bom número de negociadores, sem ele a negociação já teria afundado de vez.

c) Lamy concorre à reeleição com apoio brasileiro

O diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), Pascal Lamy, comunicou que pretende concorrer a mais um mandato de quatro anos à frente da entidade. O anúncio ocorreu após o encontro entre Lamy e o chanceler Celso Amorim, em Genebra. Amorim era apontado como um dos possíveis candidatos. Mas o ministro brasileiro declarou apoio ao francês e disse acreditar na retomada da Rodada Doha, que dominou o mandato de Lamy.

Plano Internacional

a) Washington prevê mais droga e violência sem DEA na Bolívia

O Departamento de Estado americano reagiu duramente à decisão do governo Evo Morales de suspender as atividades da DEA, a agência antidrogas dos EUA, na Bolívia. A chancelaria previu que, sem a cooperação de Washington, crescerá a produção de cocaína e o país andino será o mais afetado pelo aumento da "corrupção, violência e tragédia" decorrentes.

Morales anunciou a suspensão do trabalho da DEA acusando seus agentes de conspirarem contra o governo e de financiarem atividades da oposição, como a invasão de aeroportos, em setembro.

O porta-voz do Departamento de Estado, Karl Duckworth, classificou as acusações de "absurdas" e disse que não só a Bolívia mas também países vizinhos e a Europa, consumidores da cocaína produzida, sofrerão. Os EUA são os maiores consumidores da droga. Segundo Duckworth, nem a DEA nem qualquer outro integrante do governo americano espionaram La Paz. Já a DEA disse que não tem agentes na Bolívia, mas "conselheiros".

Militares reformados e a oposição boliviana também criticaram o fim da parceria antidrogas. O governo Morales anunciou que pretende contar com parceiros regionais da recém-formalizada Unasul (União de Nações Sul-Americanas) para ação antidrogas.

A suspensão da DEA aprofunda a crise entre La Paz e Washington. Em setembro, Morales expulsou o embaixador americano, Philip Goldberg, acusando-o de apoiar suposta tentativa de golpe contra ele. Os EUA expulsaram o embaixador boliviano e o governo iniciou trâmite para excluir o país do ATPDEA, o programa de isenção para exportações que premia aliados andinos no combate ao tráfico. Por meio do benefício, a Bolívia exporta quase US$ 400 milhões por ano ao mercado americano.

O governo Morales disse que espera retomar a cooperação com a próxima Casa Branca. Washington é há décadas o principal financiador da ação antidrogas de La Paz, para onde envia US$ 100 milhões anuais. O líder cocaleiro Morales fez carreira política defendendo o cultivo legal da folha de coca contra a política de erradicação total americana. Segundo a ONU, o plantio de coca ilegal no país aumentou 5% em 2007, em comparação a 2006, contra 27% de acréscimo na Colômbia, principal aliada dos EUA.

b) Brasil quer EUA na reforma do FMI

O Brasil quer que o próximo governo americano reconheça a necessidade de reformar o sistema de tomada de decisões nos organismos financeiros e admita que economias emergentes precisam ter um maior peso nas definições do rumo do planeta. Após as eleições nos Estados Unidos, o governo brasileiro vai insistir numa reforma do modelo de votos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e espera um comportamento de Washington que favoreça o multilateralismo.

A mudança na definição do voto no FMI será uma das propostas que o País poderá levar para a cúpula do dia 15 em Washington entre as maiores potências do mundo para definir novas regras para o sistema financeiro internacional. Segundo o chanceler Celso Amorim, o atual sistema de voto no FMI e no Banco Mundial não é "nem democrático nem correto" e o momento chegou para que Washington reconheça que reformas precisam ser feitas.

"Não vamos falar do fim de uma era. Mas sim do reconhecimento político de que estamos atravessando uma fase de transição muito importante. É preciso que haja uma mudança na governança global nesse momento", disse Amorim, que acredita que a crise financeira possa acelerar uma nova arquitetura mundial e um comportamento dos Estados Unidos mais voltado ao multilateralismo, algo que havia sido abandonado pelo governo de George W. Bush em vários setores.

Em sua avaliação, não é apenas o G-8 que precisa ser reformado para incluir os países emergentes. "FMI, Conselho de Segurança, Banco Mundial e outros terão de mudar", disse.

Para Amorim, um dos maiores desafios do próximo governo americano será o de dar uma solução para a crise financeira. "Eles sabem que não podem mais resolver isso sozinhos e a convocação dos países emergentes para a reunião do dia 15 é um reconhecimento do papel das economias emergentes", disse Amorim.

Amorim acredita que "algumas pessoas nos Estados Unidos" podem entender de forma mais rápida que outras que de fato essas mudanças precisam ocorrer. Mas evita dizer qual dos candidatos seria mais positivo.

Uma das propostas do Brasil é de que o voto no FMI não seja mais ligada à contribuição financeira de cada país ao fundo. "O voto não pode ser ditado pela contribuição. Isso é o que ocorre hoje. Mas não é nem democrático nem correto’, afirmou. Amorim, porém, não disse qual deveria ser o critério para definir o peso de cada país nas decisões do fundo.

Além disso, Amorim quer o FMI com um mandato de supervisão em todas as economias, algo que os países ricos hesitam em aceitar. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, chegou a sugerir a criação de uma organização monetária internacional.

Amorim ainda insiste que a medida mais concreta que os países poderiam dar no momento para estimular as economias seria a conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a abertura dos mercados. Ele espera que a cúpula em Washington dê o incentivo político que falta para que o processo iniciado em 2001 possa agora ser concluído.

"Espero que haja um impulso político. Se depender do Brasil, isso será dado", disse.

"Há um sentimento geral de que a conclusão da Rodada ajudaria a dar um sinal positivo para a economia real", afirmou Amorim, que hoje se reúne com o diretor da OMC, Pascal Lamy, em Genebra. A idéia do Itamaraty é a de incluir um parágrafo na declaração final da cúpula do dia 15, dando um mandato aos governos para concluir o processo, interrompido em julho por falta de acordo sobre como realizar a liberalização. Uma das opções seria a convocação de uma reunião ministerial em dezembro para fechar o processo. Mas Amorim admite que não conseguiu sequer que a OMC fosse incluída entre os convidados para a cúpula em Washington. "Falta pouco para concluir, mas há uma atmosfera de pessimismo"

Amorim ainda insiste que o comércio internacional precisa contar com condições mais favoráveis de financiamento, o que ele chama de "lubrificante". O chanceler falará sobre o tema com Lamy, que quer que bancos regionais de desenvolvimento, como o BNDES, e o Banco Mundial reforcem sua participação para garantir créditos a exportadores, principalmente dos países emergentes. A idéia seria a de garantir uma maior presença do Estado para compartilhar os riscos de linhas de créditos com bancos privados que até hoje eram os principais responsáveis por garantir o financiamento.

c) China deve investir US$ 730 bilhões só em transportes

O governo chinês estuda lançar um pacote de investimentos de US$ 730 bilhões para o setor de transportes nos próximos 3 a 5 anos, com o objetivo de estimular o crescimento em meio à crise econômica mundial, de acordo com o jornal oficial China Business News.

O valor inclui os US$ 292 bilhões para a construção de ferrovias aprovados pelo Conselho de Estado no mês passado e supera os US$ 700 bilhões destinados pelo Congresso dos EUA para salvar o sistema financeiro norte-americano. De acordo com o jornal, os investimentos incluiriam ferrovias, estradas, hidrovias e portos. O impacto da crise mundial sobre a China tem se agravado a cada semana. O crescimento do país deverá desacelerar nos próximos meses, depois de o terceiro trimestre de 2008 ter registrado o menor índice de expansão em cinco anos.

Com estoques crescentes, as empresas vêem seus lucros encolher, o que deverá afetar investimentos e aumentar o pessimismo em relação à capacidade do país de manter um forte ritmo de atividade a despeito da turbulência global.

Empresas exportadoras dos setores de brinquedos, têxteis e calçados faliram e deixaram milhares de operários desempregados no sul do país.

A última leva de relatórios de economistas aponta para um ambiente hostil nos próximos dois trimestres, com retração de investimentos.

O setor de aço está entre os mais afetados pela contração econômica dos últimos meses, o que terá impacto direto sobre as exportações da Vale. A maioria dos analistas espera que o preço do minério de ferra tenha queda nos contratos de longo prazo que serão fechados para 2009, que seria a primeira desde 2002.

Segundo Stephen Green, economista-chefe do Standard Chartered na China, as siderúrgicas chinesas têm estoques de 150 milhões de toneladas de aço, o equivalente a 30% da produção de 2008.

Em artigo publicado sábado no jornal Qiushi, editado pelo Partido Comunista, o primeiro-ministro Wen Jiabao afirmou que a eventual retração acentuada do crescimento econômico poderá ameaçar a estabilidade social do país.

"Nós temos que ter bastante claro que sem um determinado ritmo de crescimento econômico haverá dificuldades com o emprego, a arrecadação de impostos, o desenvolvimento social e o padrão de vida das pessoas", escreveu.

Segundo o premiê, este ano será o pior de "tempos recentes" para a China em termos de crescimento econômico. "Em meio ao atual distúrbio econômico e financeiro internacional, nós temos que dar prioridade ainda maior para a manutenção do crescimento estável e relativamente rápido da nossa economia", ressaltou.

O primeiro-ministro não disse no artigo qual seria o índice de expansão abaixo do qual a estabilidade social estaria ameaçada, mas os economistas dizem que 8% é o mínimo necessário para gerar os milhões de novos empregos que a China necessita a cada ano.

O banco UBS acredita que a China vai crescer 7,5% em 2009, enquanto o Standard Chartered prevê 7,6%. A última vez em que o país cresceu em patamar semelhante a esses foi há dez anos, sob o impacto da crise asiática. A expansão do PIB foi de 7,8% em 1998 e de 7,6% no ano seguinte. Para 2008, as previsões variam de 9,4% a 9,8%.

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