03 a 07 de setembro de 2007

Comércio Exterior

Resultados
Preço ainda sustenta exportação em 2007
Importação da China dispara 54%
Importados sustentam a expansão da indústria
Lula quer vender etanol em visita à Escandinávia


Agronegócio

Safra cai no Brasil e eleva preço do café
Commodities Agrícolas

Mercosul

Câmara debate Venezuela no Mercosul
Menos gás boliviano

OMC

OMC retoma as negociações agrícolas
Para Amorim, Rodada Doha pode precisar de 2008 para ser concluída
Negociadores da OMC vêem acordo só em alguns anos

Plano Internacional

Real é segunda moeda em negócios
UE impõe barreira ambiental
Fusão cria a 4ª maior empresa de energia

 




Comércio Exterior

a) Resultados

A balança comercial teve, em agosto, exportações de US$ 15,10 bilhões e importações de US$ 11,56 bilhões, o que resultou em saldo de US$ 3,53 bilhões. Segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Meziat, o mês passado teve "avalanche de recordes", porque ainda não tinham sido registrados valores iguais a esses, em um mês, para vendas externas e compras de produtos estrangeiros.

No resultado acumulado de janeiro a agosto, as exportações brasileiras chegaram a US$ 102,43 bilhões e as importações foram de US$ 74,92 bilhões, o que leva a um saldo de US$ 27,51 bilhões nos primeiros oito meses. Meziat informou que o crescimento das exportações, de janeiro a julho, teve como base aumentos médios de 9% nos preços e 7,6% nas quantidades embarcadas. Em 2006, no mesmo período, os aumentos foram de 12,5% (preços) e 3,2% (quantidade).

Os números das exportações, neste ano, mostram aumentos de 24% para os produtos básicos e 11,2% para os manufaturados. Mas, na opinião do secretário, isso não significa que os manufaturados estão mal. Apenas revela que os básicos estão indo muito bem. A participação dos manufaturados na pauta de exportações é de 54,5%, segundo o governo federal. Os produtos básicos ficam com 29,4% e os semi-manufaturados têm 13,8%.

b) Preço ainda sustenta exportação em 2007

A alta de preços foi a grande responsável pelo salto nas vendas da maior parte dos setores exportadores no primeiro semestre, em especial dos produtores de commodities. Dos 27 segmentos acompanhados pela Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex), 25 registraram alta de preços - e destes, 16 tiveram uma variação maior dos preços do que do volume exportado. Esse cenário tão róseo, porém, não está garantido para 2008. As incertezas no mercado internacional tornam as perspectivas para as cotações das commodities, especialmente as metálicas, menos favoráveis.

A alta das cotações registrada no primeiro semestre por alguns setores é que realmente impressiona. Os grandes destaques, nota o economista Sérgio Vale, da MB Associados, são todos produtores de commodities, que se beneficiaram da forte demanda externa e dependem menos do câmbio do que os exportadores de manufaturados. No setor de siderurgia, as cotações das exportações cresceram 27,5% nos primeiros seis meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.

c) Importação da China dispara 54%

A China ultrapassou o Mercosul e consolidou-se como o segundo maior fornecedor de produtos para o Brasil, depois dos Estados Unidos, na lista de importação por país individual. De janeiro a agosto deste ano, produtores chineses embarcaram para o mercado brasileiro US$ 7,579 bilhões, conforme os números da balança comercial do período, divulgada ontem pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Esse valor representou um aumento de 54,4% em relação a igual período de 2006. Também respondeu por 10,1% do total de bens comprado pelo Brasil no exterior.

O desempenho contribuiu para consolidar a Ásia como líder entre os blocos de origem das importações brasileiras, com US$ 18,604 bilhões no período.

Entre janeiro e agosto, o total de importações brasileiras bateu um novo recorde e alcançou US$ 74,921 bilhões. Essa cifra superou em 27,8% a de igual período de 2006. Com taxa de crescimento menor, de 15,9%, as exportações igualmente foram as maiores da história e totalizaram US$ 102,434 bilhões.

Segundo o secretário de Comércio Exterior, Armando Meziat, as exportações superaram US$ 100 bilhões dois dias antes do fim de agosto. Em sintonia com as previsões, o saldo comercial continuou a diminuir - chegou a US$ 27,513 bilhões, US$ 2,234 bilhões a menos que em igual período de 2006.

d) Importados sustentam a expansão da indústria

A indústria brasileira cresce a um ritmo forte, apesar de ligeiros e pequenos tropeços, como o observado em julho. O crescimento foi de 6,83% se considerados os meses de julho de 2007 e do ano anterior, e de 5%, se levado em conta o acumulado neste ano ante o de 2006. O número de setores relevantes no parque industrial que apresentaram queda em julho ou mesmo no acumulado dos sete primeiros meses do ano, conta-se nos dedos. O declínio da produção em sete meses é, também, modesto, especialmente levando-se em conta que as importações cresceram no período 28% em valor e 23% em volume. Por outro lado, o uso da capacidade instalada (dados da Fundação Getúlio Vargas) atingiu o mais alto nível da série histórica que se inicia em 1995 - 85,7%. Tudo isso ocorre sem que os preços industriais pressionem a inflação e com o emprego em alta. Uma das conclusões dessas estatísticas é que a expansão dos bens importados, estimulados pelo câmbio valorizado, tem amortecido a pressão sobre os preços que o atual elevado ritmo de produção doméstica desencadearia e que, nesta tarefa, tem recebido a inestimável ajuda da elevação dos investimentos, boa parte deles também realizados com maquinários do exterior.

Setores tradicionais da indústria perdem espaço relativo para os importados, mas esse fenômeno não é geral e nem drástico. De janeiro a julho, a produção física de calçados e artigos de couro decaiu 3,63%, a de material eletrônico, 7,37% e de madeira, 3,8%. Os setores têxtil e de vestuários, que sofrem pesada concorrência da China, estão em território positivo, embora modesto - 2,7% e 3,45%, respectivamente. Na prática, os segmentos que mais apresentaram queda foram o refino de açúcar (- 11,92%) e leite (-5,5%), nos quais o país é competitivo e exportador.

Uma comparação entre os índices de inflação e da produção industrial desde 1995 mostra que em nenhum outro período a expansão da indústria atingiu nível semelhante ao atual com uma inflação tão comportada. Em 1998, a inflação foi de 1,65%, menor que a de hoje, de 3,74%, graças a forte valorização do real. Entretanto, a indústria estava em recessão, com queda de 2,03%, e o país caminhava para uma séria crise cambial. Em 2000, o ritmo industrial chegou a 6,64%, com variação de preços de 5,97%. Já em 2004, quando a indústria avançou 8,3% e o PIB 5,7%, a inflação foi de 7,6%.

e) Lula quer vender etanol em visita à Escandinávia

Na sua primeira visita à Escandinávia, que começa neste fim-de-semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer ampliar o mercado consumidor e assinar acordos de cooperação para o etanol brasileiro e despertar o interesse de empresários desses países para investimentos em obras de infra-estrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Nos quatro países nórdicos, a programação do presidente segue um roteiro de encontros com chefes de Estado e de governo e empresários do país. Embora sejam países relativamente pequenos, todos eles têm grandes empresas multinacionais e um razoável estoque de investimento no Brasil, em vários setores diferentes.

Finlândia, Suécia e Noruega já utilizam o etanol como combustível. A Suécia tem uma frota de mais de 40 mil veículos flex. O país produz etanol de trigo e cevada, mas, de acordo com o Itamaraty, tem interesse em utilizar a tecnologia brasileira de etanol de cana-de-açúcar, mais produtiva. Com a Dinamarca, o Brasil deve fazer um acordo de cooperação para o desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de combustível a partir do bagaço de cana. Como membros da União Européia, Finlândia, Suécia e Dinamarca também têm que cumprir a meta do bloco de utilizar uma parcela de combustível de fonte renovável até 2010.

Finlândia, Noruega e Dinamarca também são co-patrocinadores do projeto de reformulação do Conselho de Segurança da Onu apresentado pelo G-4 (Brasil, Índia, Japão e Alemanha). De acordo com o Itamaraty, Suécia e Dinamarca também têm posições mais liberais, mais parecidas com as do Brasil, em relação à abertura dos mercados agrícolas nas negociações comerciais da Rodada Doha.

Agronegócio

a) Safra cai no Brasil e eleva preço do café

Maior produtor e exportador mundial de café, o Brasil é o fiel da balança no que se refere aos preços, tanto no mercado interno como no externo. "Todas as notícias envolvendo a cafeicultura no Brasil são relevantes para compor as cotações do café", diz o especialista Sérgio Carvalhaes, diretor-sócio do Escritório Carvalhaes, de Santos, São Paulo.

A safra de café no país está estimada em 32,6 milhões de sacas de 60 quilos, uma queda de 23,3% sobre o ciclo anterior, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A produção em importantes países produtores, como o Vietnã e Colômbia, também acaba influenciando os preços da commodity.

Neste momento, a oferta global de café está equilibrada, mas com viés de baixa, dada a recuperação dos preços internacionais da commodity nos últimos meses. Dados da Organização Internacional do Café (OIC) mostram que a produção mundial para 2006/07 está estimada em 121,42 milhões de sacas de 60 quilos, um aumento de 10% sobre o ciclo anterior, de 110,34 milhões de sacas. A expectativa para 2007/08 indica queda na oferta global, para 112 milhões de sacas, por conta da menor produção, sobretudo do Brasil, principal produtor e exportador. O consumo global continua aquecido, estimado em 2006/07 em 119,43 milhões de sacas. A previsão é de que o consumo ultrapasse os 120 milhões de sacas em 2007/08.

b) Commodities Agrícolas

Os preços do trigo atingiram recorde na bolsa de Paris ontem com as especulações de que a Rússia, a quarta maior exportadora mundial do grão, deverá reduzir suas vendas externas para conter a alta dos preços dos alimentos no mercado interno. Segundo a Bloomberg, a Rússia criou um grupo de trabalho para propor medidas antiinflação. As propostas devem incluir vendas dos estoques do governo e adoção de tarifas e cotas sobre exportações. O Cazaquistão disse ontem que também pretende lançar licenças para a exportação de grãos. Os contratos de trigo para novembro subiram 8,50 euros, ou 3,3%, para 250 euros a tonelada. No mercado paranaense, a saca de 60 quilos do trigo encerrou o dia a R$ 33,80, com alta de 0,93% no dia, de acordo com o Deral.

As exportações brasileiras de açúcar atingiram 2,2 milhões de tonelada, alta de 15,7% sobre o mês de julho, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), compilados pela agência Dow Jones. Os embarques do tipo demerara foram de 1,3 milhão de toneladas, com receita de US$ 299,1 milhões, e o branco foi de 909,2 mil toneladas, com valor de US$ 243 milhões. Em julho, o país exportou 1,2 milhão de toneladas de açúcar demerara (US$ 297,1 milhões) e 651 mil toneladas de refinado (US$ 174,5 milhões). Na bolsa de Londres, os contratos para dezembro encerraram o dia US$ 278,30 a tonelada, com recuo de US$ 4,70. No mercado paulista, a saca de 50 quilos do açúcar encerrou a R$ 25,19, com ligeira alta de 0,08%, de acordo com o índice Cepea/Esalq.

Levantamento da Céleres mostra que os preços do milho em agosto subiram, em média, 15% no mercado disponível em relação a julho em 14 praças pesquisadas. Na região de Ponta Grossa (PR), a saca saiu de R$ 17,45 para R$ 20,93; em Maringá (PR), de R$ 17,50 para R$ 19 e em Cuiabá (MT), de R$ 10,50 para R$ 12,67. De acordo com Leonardo Sologuren, as exportações de milho, os leilões de PEP e Pepro feitos pelo governo no Centro-Oeste e a maior demanda da avicultura sustentam as cotações do grão. Até julho, as exportações de milho somaram 4,214 milhões de toneladas, bem acima das 1,827 milhão de igual período de 2006, informa a Céleres. Com a maior demanda para a exportação, o milho é negociado a R$ 24 no transferido de Paranaguá, ou US$ 205 por tonelada.

Mercosul

a) Câmara debate Venezuela no Mercosul

No primeiro debate sobre a entrada da Venezuela no Mercosul realizado pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) criticou a falta de transparência e estranhou a agilidade do processo de adesão, enquanto o Itamaraty destacou aspectos democráticos do governo de Hugo Chávez e insistiu nos benefícios econômicos para o Brasil.

Segundo Soraia Rosar, diretora de Negociações Internacionais da CNI, outro problema identificado pelos empresários nacionais é a insegurança de parceiros tradicionais do Brasil, como os europeus. De acordo com relatos ouvidos pela CNI, eles temeriam a influência de Chávez em futuras negociações do Mercosul.

Ela acrescentou que há "insegurança sobre normas de comércio de bens" e "cronogramas desequilibrados", além da "falta de transparência". "O que pleiteamos é que a Venezuela cumpra com o processo de adesão agora e que fique claro um período de transição tranqüilo e sem sobressaltos do empresariado", afirmou.

O embaixador Afonso Cardoso, diretor do Departamento de Integração do Itamaraty, afirmou que a Venezuela comprometeu-se com a chamada cláusula democrática do Mercosul e não haveria razões para duvidar de seu descumprimento. Ele rebateu a crítica dos empresários europeus dizendo que a Venezuela trará demandas, mas também ampliará oportunidades aos parceiros do Mercosul.

O protocolo de adesão da Venezuela ao Mercosul deve ser votado na próxima quarta-feira. A adesão já foi aprovada por Argentina e Uruguai. Há dois meses, Chávez reclamou publicamente da demora do Congresso brasileiro e chegou a dar um ultimato aos congressistas, mas voltou atrás.

b) Menos gás boliviano

Até meados do mês, a estatal de gás boliviana YPFB vai racionar o gás que exporta, diminuindo em 50% o volume que envia para a Argentina. O motivo, segundo as autoridades bolivianas é a redução da produção e o pedido do Brasil de exercr a compra do total a que tem direito, de acordo com os contratos assinados com a Bolívia.

OMC           

a) OMC retoma as negociações agrícolas

Lutando para sobreviver e ainda atrair a atenção dos líderes mundiais, a Organização Mundial do Comércio (OMC) retoma suas negociações agrícolas, interrompidas em julho. A tarefa será costurar um acordo na área de subsídios e tarifas e o Brasil espera uma flexibilidade do governo americano para que o processo possa ser destravado. Mas com os subsídios americanos não dando qualquer sinal de queda e o período eleitoral nos EUA se aproximando, a ministra das Finanças da França, Christine Lagarde, já até descartou um acordo neste ano. ’As diferenças entre os países são muito grandes’, afirmou. ’Por enquanto, não vejo um acordo acontecer’.

Em julho, a OMC sugeriu um rascunho de acordo agrícola que acabou sendo bem recebido por vários países em desenvolvimento. O problema é que, como pagamento, exigia dos países emergentes que promovessem a abertura de seus mercados para produtos industrializados das economias ricas. Já os americanos se recusaram a aceitar uma das propostas agrícolas, que seria de estabelecer um teto para os subsídios domésticos que distorcem o mercado em US$ 13 bilhões por ano.

Um recente estudo publicado pelo Congresso americano mostra que o volume de recursos destinados pelo governo à produção agrícola ultrapassou a marca de US$ 92 bilhões entre 2002 e 2007. Se toda a ajuda fiscal e programas de compra de alimentos para distribuição à população carente forem somados, a conta chega a US$ 271,1 bilhões em seis anos. Segundo analistas, ao comprar alimentos para distribuir, o governo também está subsidiando a renda no campo.

b) Para Amorim, Rodada Doha pode precisar de 2008 para ser concluída

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem que a Rodada Doha, lançada em 2001 e cujas negociações, interrompidas no ano passado, recomeçam este mês, terão um final feliz, ainda que para isso seja necessário entrar um pouco em 2008. Em recente passagem pelo Brasil, o presidente da Comissão Européia, José Manoel Durão Barroso, disse que a rodada de negociações para a liberalização do comércio mundial precisa ser concluída até novembro deste ano, sob pena de ser "engolida" pelo calendário eleitoral de 2008, quando haverá eleição presidencial nos Estados Unidos.

"Acho que devemos fazer todo esforço, como se (novembro) fosse um prazo fatal, mas se for necessário algum trabalhinho posterior, não creio que isso impedirá o sucesso. Estou convencido que a rodada se concluirá, e se concluirá de maneira exitosa", afirmou. Para Amorim, não só a Rodada Doha será concluída, como seu resultado será "muito melhor" do que teria sido se ela fosse concluída na reunião de Cancún, México, em 2003, quando se imaginou que seria possível fechar um acordo em torno apenas de aspectos básicos.

Segundo Amorim, o governo está convencido que um trabalho adequado, seu e da iniciativa privada, poderá, por exemplo, aumentar a corrente de comércio com a Índia dos atuais US$ 3 bilhões para US$ 10 bilhões em 2010. O próprio comércio com a China, já na casa dos US$ 20 bilhões, pode ser incrementado, segundo a avaliação do governo. O incremento do comércio com a Ásia, de acordo com o ministro, será auxiliado por outras iniciativas que o país já vem tomando, como a própria busca de maior integração sul-americana. É que países da região, como o Chile e o Peru, já têm suas economias fortemente vinculadas ao mercado asiático.

c) Negociadores da OMC vêem acordo só em alguns anos

Sem um acordo no radar e com um discurso distante das declarações otimistas de chefes de Estado, os negociadores na Organização Mundial do Comércio (OMC) em Genebra já começam a trabalhar com a possibilidade de que um entendimento seja obtido apenas em ’alguns anos’. Ontem, as negociações agrícolas da entidade foram retomadas, sem o menor sinal de confiança.

Diante de uma passividade considerada inquietante por alguns diplomatas, embaixadores e negociadores já se preparam para manter o processo em estado vegetativo até que condições políticas mais propícias apareçam, principalmente nos Estados Unidos. ’Hoje, com o que existe nas negociações e com o cenário que vemos pela frente, dificilmente haverá um acordo’, disse um alto representante da diplomacia francesa.

O clima é de tanta resignação que poucos ontem se atreveram a discursar na reunião de abertura do processo. O Brasil sugeriu que os encontros previstos para hoje entre os 151 países fossem suspensos, dando espaço para reuniões bilaterais. Hoje, o Brasil se encontrará com os Estados Unidos para tentar aproximar posições no setor agrícola. O primeiro tema será acesso ao mercado aos países ricos, entre eles a ampliação de cotas para produtos como açúcar, soja e carnes.

Plano Internacional

a) Real é segunda moeda em negócios

O Banco de Compensações Internacionais (BIS), o banco dos bancos centrais, revela que a movimentação com derivativos em real cresceu 34% no segundo trimestre, num ritmo sem precedentes antes do último episódio das turbulências nos mercados. Segundo o BIS, os contratos real-dólar alcançaram US$ 900 bilhões, tornando-se o segundo par de moedas mais negociados, só atrás do euro-dólar, com US$ 1,7 trilhão, e superando os de iene-dólar (US$ 700 bilhões).

Isso aconteceu quando o volume total de contratos negociados nos mercados de derivativos organizados (sobre taxa de juros, índices da bolsa e divisas) cresceu pouco em relação ao trimestre anterior. A atividade menor sobre o euro (-6%) e o iene (-11%) contrastou com a expansão dos derivativos na moeda brasileira. Também atividades nos derivativos de taxas de juros declinaram ligeiramente, para US$ 463 bilhões no segundo trimestre, mas de novo o declínio nas três principais moedas foi compensado pelo movimento em mercados como o brasileiro.

Segundo o BIS, os contratos sobre taxas de juros de curto prazo no Brasil cresceram 37% no segundo trimestre, acompanhando a expansão dos contratos em divisas real-dólar. O banco não faz qualquer análise. Em outro capítulo, dois economistas da instituição analisam a atividade de ’’carry trade’’, vista cada vez mais como fator determinante das variações de câmbio e cuja mudança repentina de posição pode ter repercussão sobre a estabilidade financeira.

b) UE impõe barreira ambiental

A União Européia (UE) não aceitará acordos comerciais com países emergentes que afetem o meio ambiente ou os direitos dos trabalhadores, disse ontem o comissário de Comércio do bloco, Peter Mandelson. Ele defendeu a negociação na Organização Mundial do Comércio (OMC) e prometeu seguir nas estratégias de aproximação bilateral, mas alertou que a liberalização comercial nem sempre ocorrerá em todos os setores e em qualquer situação.

Ele deixou claro que os países podem esquecer a idéia de total liberação do setor agrícola europeu. Bruxelas ainda deixou claro que não abrirá seu mercado de serviços públicos considerados essenciais.

O comissário fez questão de ressaltar que os aspectos ambientais e trabalhistas farão parte de seus cálculos de agora em diante. ’Todo acordo comercial da Europa é submetido a uma avaliação de sustentabilidade’, afirmou, apontando que nem acordos de livre comércio sobre madeira nem com países que violam leis trabalhistas serão assinados.

c) Fusão cria a 4ª maior empresa de energia

Depois de mais de um ano e meio de negociação, o grupo privado franco-belga Suez, que atua no Brasil, e a estatal Gaz de France (GDF) anunciaram oficialmente ontem a sua fusão. A nova companhia será a quarta maior do mundo no setor de energia em termos de valor de mercado: cerca de 70 bilhões. A fusão é considerada uma tentativa de reduzir a dependência européia em relação ao gás natural importado da Rússia e deve gerar polêmica -sindicatos franceses já disseram ser contra o negócio, que envolve a privatização da GDF.

Pelo acordo, o Estado francês terá 35,6% das ações da nova empresa, garantindo o seu controle. Hoje, o governo tem 80,2% das ações da GDF. Em 2005, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, então ministro das Finanças, prometeu que o Estado não teria participação na GDF inferior a 70%.

Para Cirelli, a nova empresa terá um "papel essencial" na consolidação do mercado de energia europeu. Em nota, as duas empresas disseram que "recentes acontecimentos no mercado de energia reforçaram a lógica industrial" por trás da operação, que acontece no momento em que a Europa tenta reduzir sua dependência energética da Rússia.

Sarkozy, deu o empurrão final necessário para a realização do negócio, ao dizer, na semana passada, que preferia que a estatal se fundisse apenas com a divisão de energia da Suez. Com isso, haverá o desmembramento da divisão de água e lixo da companhia privada. O acordo original, formulado em fevereiro de 2006 no governo do então premiê, Dominique de Villepin, rival de Sarkozy, incluía uma fusão de todas as divisões das duas empresas. Ele surgiu como uma medida para impedir que o grupo italiano Enel, que tinha feito uma oferta hostil pela Suez, controlasse a empresa.

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