14 a 18 de abril de 2008

Comércio Exterior

Resultados
Um mês de greve afeta mais importações
Índia prevê mais comércio com o Brasil

Agronegócio

Queda na exportação de frango

Organização Mundial do Comércio (OMC)

Inflação em alimentos atrasará Doha

Plano Internacional

Países restringem exportação de alimentos
ONU avalia saídas para inflação dos alimentos



Comércio Exterior

a) Resultados

A balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 319 milhões, com média diária de US$ 63,8 milhões, na segunda semana deste mês, segundo o Ministério do Desenvolvimento. O saldo é resultado de exportações de US$ 3,072 bilhões (média diária de US$ 614,4 milhões) e importações de US$ 2,753 bilhões (média diária de US$ 550,6 milhões).

No acumulado do mês, o superávit está em US$ 1,161 bilhão (média diária de US$ 129 milhões), queda de 38,2% na média diária sobre abril do ano passado, mas já supera o de todo o mês de março (US$ 1,012 bilhão). Na média diária, o saldo sobre o mês passado (US$ 50,6 milhões) tem alta de 154,9%. Em abril, as exportações totalizam US$ 5,706 bilhões, e as importações, US$ 4,545 bilhões.

O saldo no ano soma US$ 3,998 bilhões, as exportações, US$ 44,396 bilhões, e as importações, US$ 40,398 bilhões.

b) Um mês de greve afeta mais importações

A greve dos auditores fiscais da Receita Federal - que completa um mês sem perspectivas de terminar - acumula prejuízos para as empresas e afeta a balança comercial, principalmente na importação. Apesar do crescimento da economia, as importações recuaram 13% nas duas primeiras semanas de abril em relação a março pelo critério de média diária, conforme a Secretaria de Comércio Exterior. Na mesma comparação, as exportações subiram apenas 0,5%.

Em Manaus, 18 empresas tiveram as linhas de produção parcialmente paralisadas por falta de insumos importados, segundo o Sindicato da Indústria de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares (Sinaees). Estão nessa lista fabricantes de eletroeletrônicos, celulares, bicicletas e outros itens. Até o início do mês, apenas oito companhias haviam sido afetadas. O volume de mercadorias aguardando liberação em Manaus chega a US$ 150 milhões e cerca 7 mil trabalhadores estão em férias remuneradas.

c) Índia prevê mais comércio com o Brasil

Em sua primeira viagem oficial ao exterior, a presidente da Índia, Pratibha Devisingh Patil, disse ontem, em São Paulo, que o comércio bilateral com o Brasil deverá chegar a US$ 4 bilhões este ano, resultado superior aos US$ 3,1 bilhões registrados em 2007. Para 2010, a meta é chegar a US$ 10 bilhões e, segundo ela, a Índia está "determinada" a atingir esse montante. A Índia é hoje a 12ª economia do mundo.

Pratibha destacou as oportunidades de "sinergias e complementaridade" entre as economias dos dois países. Segundo ela, o Brasil tem expertise em produção de alimentos e infra-estrutura, setores que a Índia ainda precisa desenvolver. Por outro lado, o país asiático pode oferecer seu conhecimento em tecnologia da informação, produtos farmacêuticos e equipamentos agrícolas.

"Gostaria de assegurar que os nossos governos (Brasil e Índia) estão empenhados em criar um ambiente favorável para um maior comércio bilateral, investimento e integração econômica", observou a presidente da Índia, que se reuniu ontem com empresários brasileiros na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Agronegócio

a) Queda na exportação de frango

As exportações de carne de frango somaram US$ 1,545 bilhão no primeiro trimestre, 59% mais do que em igual período de 2007, informou a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (Abef). Em volume, o incremento foi menor, de 18%, alcançando 881 mil toneladas.

Apesar do crescimento a Abef disse, em nota, que "a rentabilidade das exportações continua sendo seriamente afetada pela valorização do real frente ao dólar" e que o setor deixou de arrecadar quase R$ 3,8 bilhões devido ao câmbio. O principal mercado para o frango brasileiro no período foi o Oriente Médio, com compras US$ 476 milhões. Depois veio a UE, com US$ 374 milhões e Ásia, com US$ 373 milhões.

O novo presidente da Abef, Francisco Turra, disse que uma prioridade é a "abertura efetiva" da China. Na quarta-feira, haverá reunião com o embaixador chinês.

Organização Mundial do Comércio (OMC)           

a) Inflação em alimentos atrasará Doha

A alta dos preços dos alimentos chega à Organização Mundial do Comércio (OMC) e cria mais um problema para a conclusão da Rodada Doha. No dia 15, em Genebra, negociadores de países importadores de alimentos defenderam a manutenção de medidas protecionistas para que sua agricultura possa se desenvolver. O tema promete ser mais um espinho para os interesses brasileiros de liberalização dos mercados agrícolas. Para o mediador das negociações agrícolas da OMC, Crawford Falconer, a entidade precisa concluir a Rodada Doha assim que possível, antes que o processo se torne obsoleto diante da realidade internacional.

"Não podemos continuar negociando sem considerar o mundo real, e hoje o mundo real aponta para novos desafios no setor de alimentos", disse o embaixador da Indonésia, Gusmari Bustani. Os indonésios lideram o grupo de países emergentes importadores de alimentos. O bloco, formado ainda por Índia e outros asiáticos, pediu garantias à OMC de que vários setores de sua produção agrícola seriam protegidos. Para os países importadores, a estratégia de acabar com as tarifas para baratear o custo dos alimentos não é sustentável. Vários governos, como os da Europa, eliminaram tarifas sobre trigo para permitir um fluxo maior de importação e conter a inflação.

"Mas os países pobres não podem fazer isso, já que destruiria a produção local", disse o negociador da Indonésia. "Não temos subsídios para dar aos nossos produtores se eles não conseguirem competir com o produto importado."

O Itamaraty prefere nem tocar no assunto da alta dos preços nas negociações, que pode complicar as negociações já em crise. Na avaliação do Brasil, a alta dos preços dos alimentos deveria pressionar os países a reduzir tarifas e mesmo os subsídios, o que poderia fazer com que as negociações avançassem mais rapidamente.

Plano Internacional

a) Países restringem exportação de alimentos

A crise global alimentar se intensificou depois que o Cazaquistão, um dos maiores exportadores de trigo do mundo, paralisou as exportações do produto, e os preços do arroz alcançaram novo recorde após a Indonésia impedir seus fazendeiros de exportar os grãos. No Japão, a Nihon Shokuhin Kako, uma grande empresa de alimentos do país, afirmou que o encarecimento do milho a forçou a comprar grãos geneticamente modificados pela primeira vez.

Apesar de não haver impedimento legal, a empresa quebrou um tabu social e mostrou que a oposição aos alimentos geneticamente modificados pode ficar em segundo plano em relação aos preços neste momento. Ao mesmo tempo, as proibições das exportações de trigo do Cazaquistão, o quinto maior vendedor do mundo, e as do arroz na Indonésia podem estimular restrições em outros países exportadores de alimentos, que enfrentam uma grande demanda dos importadores.

O preço futuro do milho em Chicago, na semana passada, alcançou o recorde de US$ 6,16 o bushel (25,4 kg), aumento de 30% nos últimos três meses.

A restrição de exportações de alimentos na Indonésia aumentou o preço do milho em Chicago ontem para o recorde histórico de US$ 22,17 por cem libras, aumento de 63% em relação a janeiro. Os preços do trigo aumentaram para US$ 9,11 o bushel. Negociadores alertaram de que pode haver mais aumentos em razão de a barreira na Indonésia ocorrer no mesmo período de restrições na Rússia, na Ucrânia e na Argentina. Os quatro países têm cerca de um terço do mercado mundial de trigo.

b) ONU avalia saídas para inflação dos alimentos

A alta dos preços das commodities divide os países em desenvolvimento. No sábado, o presidente Lula estará em Gana para a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Desenvolvimento e Comércio. O boom dos preços de produtos agrícolas, mineração e petróleo estará no centro do debate. Mas não há consenso sobre uma estratégia comum para a inflação nem sobre a conclusão de um acordo comercial entre os países do Hemisfério Sul, idéia patrocinada há quatro anos pelo Brasil.

A idéia da ONU é estabelecer uma espécie de estratégia para os países emergentes se beneficiarem da alta das commodities, já que grande parte delas são produzidas nas regiões menos desenvolvidas do mundo. O Estado teve acesso ao rascunho da proposta que está sendo negociada esta semana em Genebra, antes de ser levada a Gana. O acordo prevê que a ONU ajude os pequenos países a formularem estratégias para se beneficiar do boom das commodities. A idéia é vincular essas estratégias a metas de redução de pobreza.

O problema é que nem todos os emergentes são exportadores de produtos agrícolas ou minério e a entidade será pressionada a dar uma resposta aos que estão sofrendo. A ONU, portanto, terá de encontrar em Gana um equilíbrio entre a promoção dessas exportações e o estabelecimento de estratégias para reduzir os impactos negativos sobre cerca de 30 países que sofrem com a importação cada vez mais cara desses produtos. Segundo o Banco Mundial, a alta nos preços de alimentos pode colocar outros 100 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza e os conflitos já se espalham pelo mundo.

A alta nos preços das commodities pode ser boa para alguns exportadores, como o Brasil, mas afeta milhões de pessoas em países como Haiti, Burkina Fasso e outros. Na semana passada, Lula afirmou que o aumento nos valores das commodities seria uma "inflação boa". as salas de negociação da ONU, os países que são obrigados a pagar 56% mais pela importação de cereais neste ano não concordam com a avaliação de Lula. "Que inflação boa é essa que gera conflitos em vários países?", questionou um delegado africano.

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