08/11/05
Percepção externa
Rubens Antonio Barbosa


Em um mundo globalizado e de comunicação imediata, é regra do jogo a competição em todos os campos, econômico, financeiro, por espaço na midia, no mundo das artes, e por aí a fora.

Em recente passagem por Paris, pude constatar como uma ação planejada conjuntamente pelos governos da França e do Brasil, pode ampliar e diversificar a percepção dos franceses sobre nosso país. Trata-se do Ano do Brasil na França. Uma iniciativa do Governo frances em homenagem ao Brasil.

Pesquisa de opinião pública levada a cabo em todas as estações do metrô parisiense formulava duas questões: “conhece as temporadas culturais estrangeiras na França?” e “qual o país homenageado no corrente ano?” À primeira questão, 50% dos entrevistados declararam desconhecê-las. À segunda, 99% responderam ser o Brasil. Esse reconhecimento é tao mais importante quando se sabe que as homenagens anteriores foram à China, à India, à Rússia e aos países do norte da África, com importante comunidade imigrante no país.

A temporada cultural parisiense reservou os espaços mais prestigiosos da cidade para o Brasil. Fui ao Louvre e, sob a imponente pirâmide de vidro de I.M. Pei, me deparo com uma instalação do artista plástico Tunga. Em sala especial, vi o Brasil em 14 das paisagens que Frans Post pintou em Pernambuco no século XVII, inclusive uma parte doada pelo Principe de Nassau a Luiz XIV. O Parque e o Trianon de Bagatelle estão ocupados por exposição de esculturas de Krajcberg. O trabalho de Nise da Silveira e parte da coleção do museu das Imagens do Inconsciente são mostrados em Halles Saint Pierre. Sebastião Salgado está na Biblioteca Nacional e Miguel Rio Branco na Maison Européenne de la Photographie. Há uma mostra de Pierre Verger no Jeu de Paume e outra de Marc Ferrez no Carnavalet, que nos remete ao Rio de Janeiro antigo.

Nossa herança africana está exposta no Museu Dapper. Chiara Banfi, Tiago Rocha Pita e Mana Bernardes, na Fondation Cartier; Victor Brecheret, no Parc Floral; Mauricio Dias & Walter Riedweg, em Le Plateau; Marepe, no George Pompideau; Julio Villani, na Maison de l’Amérique Latine. Fabulosas “geringonças” do Mestre Molina da coleção do SESC de São Paulo estão no Pavilhão das Artes de Les Halles. A Galeria de arte Denise Renée inaugura esta semana exposição de Waltercio Caldas.

Lucio Costa, Affonso Eduardo Reidy, Oscar Niemeyer, Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha, Marcio Kogan, Isay Weinfeld e todos os grandes nomes da arquitetura contemporânea brasileira tem sua produção mostrada no Palais de la Porte Dorée, na exposição “Est-il le Brésil encore moderne ?”.

A Orangerie do Luxemburgo faz exposição botânica brasileira e a estação do metro contígua expõe o projeto “Favelité”, com fotos monumentais do projeto e reurbanização da Favela da Providência, no Rio de Janeiro, de autoria dos arquitetos Pedro Évora, Pedro Rivera e Laura Taves. Santos-Dumont é homenageado no Museu do Espaço e do Ar. O Musée de la Vie Romantique, instalado em uma casa oitocentista que guarda a memória de George Sand e de Chopin, mostra a coleção Brasiliana, recolhida por Jacques Kugel, da Pinacoteca de São Paulo.

A musica brasileira é tocada por todo lado. Nelson Freire, Sonia Rubinsky, Cristina Ortiz, Marlos Nobre, João Carlos de Assis Brasil e jovens como Luiz Gustavo Carvalho na música erudita, e Carlos Lyra, Roberto Menescal, Marcos Vale entre dezenas de outros representantes de nossa MPB ocupam espaços na disputada noite parisiense. As missas barrocas de Nunes Garcia, Lopo de Mesquita e

José Maurício são tocadas e ouvidas, inclusive na Catedral de Notre Dame de Paris, que teve a imagem do Cristo Redentor do Rio de Janeiro projetada em sua fachada. Colóquios e seminários de âmbitos acadêmicos diversos discutem o Brasil, sua literatura, sua economia, sua etnologia, sua diversidade e sua riqueza cultural

Espetáculos de teatro e dança lotam platéias para ver Grupo Corpo, Lia Rodrigues, Márcia Milhases, Ivaldo Bertazo, Enrique Diaz. O Cinema brasileiro vem sendo mostrado com retrospectivas completas de Glauber Rocha e Humberto Mauro, além da produção recente exibida com destaque. O Ano do Brasil na França não se limita a Paris. Lygia Clark é apresentada no Museu de Belas Artes de Nantes; Ernesto Neto, no Centro de Arte Contemporânea de Kerguéhennec; Jac Lerner, em Saint Nazaire, Rivane Neueunschwander, em Lyon; Cildo Meireles, em Brest e seis espaços de prestígio da cidade de Nice são ocupados pelos melhores nomes da fotografia brasileira contemporânea.

Até o momento, mais de 4 milhões de pessoas estiveram presentes aos eventos do Ano do Brasil na França. “Le Monde - Dossier e Document” - traz seu segundo caderno totalmente dedicado ao Brasil, com o nada original título “Le Brésil – grande puisssance du futur”; “Mouvement”, revista de arte e cultura, dedica 77 páginas ao país e “Elle Decoration” que traz na capa o título: “Le Brésil Fabuleux de Minas Gerais”. Ao longo do ano de 2005 todos os mais destacados órgãos da imprensa francesa dedicaram números especiais ao Brasil: l’Express, Figaro Magazine, Madame Figaro, Le Monde 2, Connaissance des Arts, Paris Match, Playboy, Beaux Arts, Télérama , Vogue e Photo.

Um dos resultados concretos dessa iniciativa, segundo a Embratur, foi o incremento de mais de 25% no fluxo turístico francês em direção ao Brasil embora o número de franceses que viajam ao exterior permaneça estagnado.

A presença cultural do Brasil numa cidade irradiadora de informação como Paris e visitada por um enorme número de turistas de todas as nacionalidades, mostra como é possível, querendo e sendo criativo, ajudar a projetar nosso país como um parceiro moderno, dinâmico e não apenas o país do Carnaval.
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