No âmbito do Ministério da Defesa, está em curso um ambicioso plano de modernização e de ampliação da capacidade de ação das forças armadas. Além da construção do submarino nuclear e da aquisição de aviões de caças de combate, a compra de veículos aéreos não tripulados (VANTs) ocupa lugar de destaque nessa iniciativa.
Os aviões militares não tripulados, desenvolvidos pelos EUA como arma de ataque, foram utilizados pela primeira vez na guerra do Iraque de 2002. Seu antepassado mais próximo foi o U2 tripulado que, durante a guerra fria, teve papel de inteligência.
A campanha militar dos EUA contra o Iraque em 2003 foi a primeira guerra da era da informação. A tecnologia para o comando e controle das operações longe do campo de batalha ensejou o aparecimento de armamentos que possibilitaram a tomada de decisão à distância, maior controle sobre as operações bélicas e a redução dos combates armados diretos.
Os programas de defesa para pesquisa e desenvolvimento de veículos não tripulados, não só aéreos, mas também terrestres, avançaram significativamente nos últimos 15 a 20 anos, tanto no âmbito militar, quanto no civil. Na aviação civil, os pilotos estão sendo substituídos por computadores. O Airbus e o Boing 777 podem voar entre São Paulo e New York sem interferência humana.
Esses veículos não tripulados de combate aéreo são a primeira evidência concreta das futuras guerras eletrônicas e robotizadas. Alguns analistas militares norte americanos pensam que os contratos para a construção da próxima geração de caças de combate serão talvez os últimos para equipamentos tripulados de ataque. A eventual compra de caças pelo Brasil também deverá ser a última no gênero.
Se o programa de construção de veículos não tripulados, aéreos e terrestres, for bem sucedido, poderemos pensar em guerras sem soldados, com lançamento de mísseis de submarinos automatizados e divisões de veículos terrestres não tripulados atacando velozmente o território inimigo. Os veículos de defesa não tripulados trarão conseqüências táticas, éticas e políticas que se tornarão mais evidentes na medida em que a tecnologia se desenvolver. Em termos de estratégia militar, trata-se de uma revolução no conceito tradicional de guerra.
As perspectivas que tais avanços tecnológicos oferecem aos militares e às lideranças civis são ilimitadas ao maximizar os resultados estratégicos, minimizar a exposição de vidas humanas, aumentar o poder militar e reduzir os custos de construção e de manutenção.
Como seria de esperar, a introdução dos VANTs está enfrentando resistência em várias frentes nos EUA. A eventual marginalização dos pilotos está encontrando oposição de parte da força aérea. Estrategistas do ministério da defesa defendem que sempre haverá necessidade das forças terrestres para ocupação do território. As empresas da indústria de defesa, por temerem que seus contratos sejam seriamente afetados, também se opõem. É a inovação se chocando com a cultura institucional.
Segundo os especialistas, esses progressos tecnológicos levarão de 15 a 20 anos para entrarem em operação plena. Enquanto isso, o que fazer no curto prazo com os equipamentos existentes e como, tática e estrategicamente, melhor aproveitá-los.
A ampliação do uso militar dos VANTs pelos EUA no Afeganistão e no Paquistão na tentativa de capturar Osama Bin Laden e combater o Talibã e as tribos que lhe dão suporte aumentou a eficiência no combate ao terrorismo, mas gerou o chamado efeito colateral, com o crescimento do número de vítimas civis com alto custo junto à opinião pública. A utilização por Israel desses veículos no combate aos palestinos resultou na eliminação dos principais lideres do Hamas, com forte desgaste, diante da morte de mulheres e crianças.
Em termos de avanços tecnológicos de veículos não tripulados, Israel está tão desenvolvido quanto os EUA, como se viu recentemente com a apresentação de um VANT com as dimensões de um avião de transporte, ampliando as facilidades e vantagens estratégicas sobre os aparelhos de tamanho reduzido.
A primeira utilização, para fins humanitários, do modelo mais avançado dos VATNs dos EUA, o Predador, ocorreu recentemente no Haiti, depois do terremoto que destruiu grande parte do país.
No Brasil, a idéia é utilizar esses veículos aéreos não tripulados para patrulhar os 12 mil quilômetros da fronteira da Amazônia e para monitorar as zonas marítimas do pré-sal que se estendem de Florianópolis ao Espírito Santo. O equipamento poderá fornecer informações sobre movimentos suspeitos de crimes trans-fronteiriços e eventuais ações suspeitas próximas às plataformas de exploração de petróleo. Sem dúvida, a capacidade de defesa do Brasil ganhará enorme avanço estratégico.
O plano de modernização da estrutura burocrática e operacional das Forças Armadas para responder aos novos desafios estratégicos que o Brasil terá de enfrentar nos próximos anos deveria receber o apoio político e orçamentário de que necessita. A Estratégia Nacional de Defesa (END) e a legislação sobre o plano de modernização fundamentam essas mudanças. Pela sua importância para os interesses permanente do país, ambos deveriam ser vistos como projeto de Estado e não apenas de uma administração prestes a se encerrar.
Levando em conta a extensão do território nacional e nossa crescente projeção externa, o emprego de submarino nuclear, a aquisição de caças de combate, a utilização dos VANTS e, não menos importante, a aplicação da tecnologia de informação na área militar, exigirão, no médio prazo, a redefinição dos delineamentos estratégicos das Forças Armadas em bases mais amplas e ambiciosas.
Para as novas gerações de oficiais superiores é esse o grande desafio.
Rubens Barbosa, consultor de negócios e Presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp