21/12/2007
Balanço e Perspectivas do Valor Externo
Rubens Antonio Barbosa
O setor externo brasileiro continuou a apresentar um desempenho muito positivo em 2007, mas alguns indicadores já sinalizam uma situação mais difícil para os próximos anos.
O comércio exterior, em seis anos, mais que dobrou em valor. Em 2007, as exportações subiram a US$160 bilhões e as importações a US$120 bilhões. Quando colocadas em perspectiva e comparadas com outros países do BRIC, contudo, as exportações brasileiras ficaram muito abaixo da Rússia, da India e da China.
A taxa de crescimento das exportações vem caindo desde 2004, quando aumentou 32%. Em 2007, o crescimento deve ser de pouco mais de 10% e as projeções para 2008 indicam um incremento de 8 a 10%. A forte desaceleração da expansão das exportações reflete as dificuldades internas enfrentadas pelo setor. Não somente as exportações estão muito concentradas em commodities e manufaturados de comércio não dinâmico, mas a apreciação do câmbio faz diminuir a competitividade dos produtos brasileiros. Por outro lado, em 2007, as importações subiram a uma taxa cerca de 30%. Em conseqüência disso, o superávit na balança vem sendo reduzido, devendo fechar 2007 ao redor de US$ 40 bilhões.
O comércio exterior brasileiro se beneficiou significativamente da forte expansão da economia e do comércio internacionais, resultante do crescimento da China e dos EUA e do preço das “commodities” que alcançou níveis recordes históricos impulsionando os valores em dólares das exportações.
O superávit da balança comercial ainda persistirá por algum tempo, apesar da desaceleração do crescimento das exportações, dado o dinamismo do setor exportador brasileiro, a diversificação de mercados e, sobretudo, a demanda por produtos primários (agrícolas e minerais, em especial da China). A desaceleração do crescimento do mercado dos EUA não deverá afetar significativamente as exportações brasileiras, constituídas em sua maioria de produtos industrializados. A demanda por produtos brasileiros na América do Sul, em especial no Mercosul, deverá manter-se elevada e permitirá a manutenção do saldo positivo. Se levarmos em conta esse quadro mais amplo, o superávit comercial continuará a reduzir-se como ocorreu em 2007 (cerca de US$5 bilhões abaixo do resultado de 2006). Em 2008, veremos o superavit reduzir-se ainda mais, podendo situar-se abaixo de US$35 bilhões.
A forte crise financeira do setor imobiliário que está afetando a economia dos EUA deverá ter um impacto negativo no crescimento global. Os EUA crescerão cerca de 2%. Europa e Japão também sofrerão as conseqüências da desaceleração da economia norte-americana. Caso os EUA entrem em recessão, o impacto na economia global será muito forte e o Brasil não será uma exceção. A China, contudo, deverá manter suas altas taxas de crescimento e manter sua posição de um dos principais mercados importadores mundiais.
A redução do saldo na balança comercial terá efeito sobre o saldo das transações correntes que, de superavitária provavelmente deverá ser negativa, em virtude da ampliação das remessas de lucro, dividendos e maiores importações.
A política cambial deverá ser mantida e o real, que se valorizou quase 20% em 2007 ( e 55% em relação ao pico de 3,99 em 10/10/2002)continuará volátil, mas tenderá a se estabilizar em torno dos US1,80/1,90.
O Banco Central vai continuar a comprar dólares, mas a acumulação das reservas internacionais, que fecham o ano com cerca de US$180 bilhões, deverá continuar a um ritmo mais lento podendo alcançar um montante acima de USD$ 200 bilhões. O Brasil, em 2007 voltou a ter necessidade de captar recursos externos, pela primeira vez desde 2001.
A remessa de brasileiros no exterior, que representou US$7,7 bilhões em 2006, deverá reduzir-se em 2007 e nos anos seguintes, como reflexo da desaceleração da economia dos EUA.
Refletindo o bom momento da economia brasileira, o investimento externo deverá manter-se em nível elevado, abaixo, contudo, dos US$33 bilhões alcançados em 2007, o que colocou Brasil no 2º. lugar entre os emergentes.
A internacionalização das empresas brasileiras continuará seu curso com crescente participação no mercado internacional, sobretudo no dos EUA e na América do Sul. O nível recorde de investimento brasileiro no exterior, que atingiu US 28bilhões, deverá reduzir-se significativamente, ficando, porém, acima dos montantes históricos.
O risco país continuará a oscilar, devendo situar-se em 2008 abaixo dos cerca de 215 pontos no final de 2007, dependendo da situação internacional.
Caso continue o círculo virtuoso da economia interna, 2008, para muitos, será o ano em que o Brasil conseguirá o ”investment grade”,o que significará captação de recursos externos sobretudo de fundos internacionais e de financiamentos mais baratos.
Enquanto isso, na negociação comercial externa, como resultado de uma política equivocada, o Brasil continuará, em 2008, sem perspectivas de juntar-se, por acordos bilaterais de livre comércio, aos países que aproveitam esses instrumentos para expandir seu intercâmbio comercial e abrir mercados para seus produtos. Com o fracasso da Rodada de Doha e sem possibilidade de sua retomada antes de 2009, depois das eleições nos EUA, haverá pressão para que a atual estratégia de negociação comercial seja revista.
Em resumo, a exemplo do ocorrido em 2007, no próximo ano, a inserção externa brasileira continuará a aprofundar-se. A percepção externa sobre o comportamento da economia e do setor externo permanecerá positiva, na medida em que a desaceleração da economia americana não afete significativamente o cenário global. O aspecto mais controvertido seguirá sendo a política comercial externa conduzida pelo Itamaraty.
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