25/09/2012
Pequeno Manual sobre Eleições
Rubens Antonio Barbosa

Em 64 AC, Cicero, notável orador e político romano, embora não pertencente à aristocracia de onde saiam os que iriam dirigir os destino de Roma, apresentou-se como candidato ao posto de Cônsul, o cargo mais importante na cena politica de Roma. Seu irmão Quintus Tullius, general e politico, produziu um memorando que denominou Pequeno Manual sobre Eleições, com o objetivo de ajudar o candidato na campanha que se aproximava e, como tudo parecia indicar, não iria ser nada fácil para o tribuno.

A revista Foreign Affairs publicou em maio/junho passado trechos do memorando de Quintus Tullius, que, pela sua atualidade diante do quadro das eleições municipais no país inteiro, tendo como pano de fundo o julgamento do mensalão, merecem ser aqui resumidos.

Os conselhos nele contidos podem surpreender pelo cinismo e pragmatismo, mas mostram que os costumes e práticas politicas não se modificaram substancialmente desde esses remotos tempos romanos. Em mais de 2.000 anos, nada ou quase, parece ter mudado. Os políticos mais experientes pouco terão a ganhar com o manual. Os iniciantes, contudo, poderão se beneficiar de alguma das sugestões feitas para a conquista do sufrágio e do apoio dos eleitores.

O memorando aponta as duras e cruas realidades da politica e oferece um roteiro pragmático para o candidato. Primeiro, oferecendo conselho sobre como ganhar a eleição; em seguida, analisando a natureza e a força da sua base política além da necessidade de se dar atenção a grupos específicos; e finalmente, oferece uma série de conselhos práticos de como se conquistar votos.

Segundo Quintus Tullius, são três as coisas que podem garantir votos em uma eleição: favores, esperança e relações pessoais. E segue dizendo ao irmão: Você deve trabalhar para dar esses incentivos para as pessoas certas. Para ganhar os eleitores indecisos, você pode fazer-lhes pequenos favores. Com relação aqueles em quem você desperta a esperança – uma grupo zeloso e devotado – deve fazê-los acreditar que estará sempre ao seu lado para ajuda-los. Deixe que eles saibam que você está agradecido por sua lealdade e que está muito agradecido pelo que cada um deles esta fazendo por você. Em relação aos que já lhe conhecem, você deve encorajá-los, adaptando a sua mensagem à circunstância de cada um e demonstrando a maior gratidão ao apoio de seus seguidores. Para cada um desses três grupos de apoiadores, decida como eles podem ajudá-lo na campanha. E de que modo você pode pedir coisas a eles. Não deixe de dar atenção a cada um individualmente, de acordo com à sua dedicação à campanha.

Em cada vizinhança existem determinados cidadãos que exercem poder e podem ser pessoas chave para a campanha. É necessário distinguir estes homens daqueles que parecem importantes, mas que não tem poder real. Reconhecer a diferença entre as pessoas úteis e as inúteis em qualquer organização evitará que você invista o seu tempo e recursos em pessoas que serão de pouca ajuda para você.

O candidato deve ser um camaleão, adaptando-se a cada indivíduo que ele encontra e deve mudar sua expressão e seu discurso quando necessário.

Mantenha por perto os seus amigos. E seus inimigos mais perto ainda. Depois de identificar quais os amigos com os quais poderá contar, dê atenção a seus inimigos. Ha três tipos de pessoas que poderão se opor aos seus interesses: aqueles a quem você contrariou, os que não gostam de você e aqueles que são amigos próximos de seus oponentes.

Para impressionar os eleitores, dê atenção a cada um deles, sendo pessoal e generoso. Nada impressiona mais um eleitor do que o candidato não se ter dele esquecido. Por isso, faça um esforço para lembrar-se de seus nomes e rostos.

Faça promessas de todo o tipo. As pessoas preferem uma mentira de conveniência do que uma recusa direta. Prometa qualquer coisa para qualquer um, a menos que uma clara obrigação ética o impeça de faze-lo.

A campanha deve ser competente, digna, mas cheia de vida e de espetáculo, o que tanto atrai as massas. Também não fará mal se você lembrar-lhes de quão desqualificados são seus oponentes, acusando-os de crimes, escândalos sexuais e corrupção em que poderão estar envolvidos.

O mais importante numa campanha é incentivar a esperança no povo e criar nele um sentimento de boa vontade em relação a você. Por outro lado, você não deve fazer promessas especificas, quer para o Senado, quer para o povo. Fique em vagas generalidades: diga ao Senado que você vai manter os privilégios e poderes que tradicionalmente tiveram; deixe a comunidade de negócios e os mais ricos saberem que você é favorável à estabilidade e à paz; assegure o povo de que você sempre esteve ao seu lado, tanto em seus discursos como na defesa de seu interesse.


Onde quer que você andar, haverá de encontrar arrogância, teimosia, malevolência, orgulho e ódio. Não se deixe desencorajar pela conversa de corrupção. Mesmo nas eleições mais corruptas há muitos eleitores que apoiam os candidatos em que eles acreditam, sem receber em troca qualquer pagamento. É possível que seus oponentes tentem usar o suborno para ganhar o apoio dos que estão com você. Deixe que eles saibam que você estará observando atentamente as suas ações e ameace-os com processo nos tribunais. Eles ficarão com medo de sua influência no meio empresarial. Não será necessário levá-los aos tribunais com acusações de corrupção; o importante é que eles saibam que você esta disposto a isso. O medo funciona melhor do que uma ação judicial. O que interessa não é o resultado da ação dos tribunais, mas a ameaça é importante como um instrumento para produzir o medo e a moderação dos adversários.
E Cicero foi eleito...
Assim vem caminhando a humanidade.

Rubens Barbosa, Presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp.

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