11/12/2012
A Identidade Brasileira no Exterior
Rubens Antonio Barbosa
Respaldado pelo crescimento da economia e pela rápida expansão do mercado domestico, em consequência da redução das desigualdade e da inclusão de mais de 40 milhões de brasileiros na classe média, o Brasil ganhou inédita projeção externa.
A percepção de que o pais surge como a nação líder na América do Sul e um dos principais mercados emergentes apresenta desafios e responsabilidades para a economia e para a política externa que não existiram até o passado recente.
A crescente presença do Brasil para além do seu entorno geográfico e sua influência no cenário internacional suscitam uma nova preocupação: qual a identidade do Brasil? Qual a marca Brasil? Como o pais é percebido no exterior e como gostaríamos de ser vistos pela comunidade internacional? Quais nossas credenciais e nosso diferencial para ocupar um lugar de destaque na mesa principal?
Roberto da Matta, o maior antropólogo brasileiro, há quase vinte anos, estudou as características da identidade brasileira. “O que faz o brasil, Brasil” define com precisão o sentido denso da realidade de nosso pais. Seu trabalho , contudo, esta voltado para dentro, para o jeito de ser e de atuar do brasileiro.
Com que credenciais o Brasil se apresenta hoje no cenário internacional e como ele é visto pelos agentes políticos no exterior?
Não ser uma potência nuclear, nem uma ameaça militar; o peso da economia no contexto global (Brasil é a sexta economia no mundo); a importância da agricultura e da produção de alimentos; a estabilidade institucional, política e econômica; o relevante papel desempenhado pelo Brasil em organizações internacionais; a participação do Brasil em questões regionais além das fronteiras da América do Sul; o volume e o significado da assistência técnica e financeira prestada pelo Brasil, na África e na América Latina; a participação do Brasil nos BRICS e na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP); a aspiração brasileira de tornar-se membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas e sobretudo o papel de moderador que tem exercido em disputas regionais e em discussões de temas globais, como meio ambiente, mudança de clima, energia e comércio exterior são alguns dos principais aspectos da imagem que projetamos no exterior.
A política externa, nos governos FHC e Lula, se mostrou pró-ativa e muito contribuiu para a nova e positiva percepção que o Brasil gradualmente passou a gozar no exterior, no atual governo de um perfil mais baixo. Ao contrário do governo Lula, em que a economia não era motivo de preocupação maior e a política externa ganhava o apoio entusiasmado de Lula, no governo Dilma, o foco de atenção principal do governo é o comportamento enfraquecido da economia, a perda da competitividade sistêmica e a perda de espaço da indústria no PIB. Com isso, as atenções se voltam para a política econômica doméstica e sobra pouco espaço para a política externa, que se tornou tímida.
No tocante a definição dos interesses nacionais e dos valores que norteiam a política externa, os dois últimos governos ainda não resolveram a contradição entre os valores democráticos, de liberdade e de direitos humanos defendidos internamente e a defesa de nossos interesses comerciais e financeiros no exterior. Em muitos casos, tem prevalecido estes em detrimento daqueles.
A nova projeção externa e a crescente presença das empresas brasileiras no exterior vai exigir uma gradual sofisticação da definição do interesse nacional brasileiro. O exercício do “soft power” implica em uma ação integrada de política externa e a definição de áreas prioritárias (América Latina e Africa), além de ações propositivas nas discussoes sobre temas globais nos organismos internacionais.
Levando em consideração os interesses globais do pais, sobretudo em uma visão de longo prazo, a projeção do Brasil como um pais de “soft power” não é suficiente. A política externa, para defender o interesse nacional, deverá contar também com o “hard power”, isto e, com um crescente poder dissuasório, mediante a modernização de suas forcas armadas e o fortalecimento da indústria de defesa nacional.
Em reunião que está sendo realizada hoje na FIESP, sera dada uma contribuição para o exame dessa questão, que tem sido muito pouco discutida até aqui. O encontro sobre o Brasil como uma potência com capacidade de influir por suas atitudes e ações não militares focalizará o que está ocorrendo no exterior por meio de ações concretas, nas áreas de cooperação e assistência técnica, financiamentos, assistência humanitária e operações de paz.
Na conclusão da reunião, serão identificadas políticas a serem sugeridas ao governo, por meio da Secretaria de Assuntos Estratégicos, que teve a iniciativa de propor esse debate.
- ampliação da coordenação entre o Itamaraty, o Ministério da Agricultura (Embrapa, CONAB), os Ministérios da Fazenda, da Ciência e Tecnologia, da Educação e da Cultura para que as ações setoriais sejam vistas como parte de uma política coerente e consequente do governo brasileiro;
- fortalecimento da Agência Brasileira de Cooperação, com um orçamento que possa responder `a decisão política
- Apoio do sector privado (Sesi, Senai)
- fortalecimento do Departamento Cultural do Itamaraty para a promoção da música, da literatura, das artes em geral do Brasil a começar pela América Latina e nos principais países desenvolvidos
- Criação de Instituto Brasil, nos moldes do Cervantes da Espanha e Confúcio da China, como resposta a projeção de valores e cultura brasileira
- criação de um Departamento de Diplomacia Pública para a coordenação da política de divulgação do Brasil no exterior.
- Melhor aproveitar as oportunidades que se abrem pela participação do Brasil em grupos como o BRICS e a CPLP.
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Rubens Barbosa, Presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp.
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