10/01/2012
A (DES)ORDEM INTERNACIONAL EM 2012
Rubens Antonio Barbosa

O ano novo nasce sob a marca da instabilidade política, no cenário internacional, e da volatilidade e da incerteza, na área econômica. A democracia e o mercado estarão em cheque em 2012.

O mundo vive em sobressalto diante da crise econômica e financeira que se abate sobre os EUA e a União Européia. Não bastasse isso, são igualmente inquietantes alguns sinais que, isolados, podem não parecer preocupantes, mas que, quando vistos em conjunto, adquirem o caráter de uma possível grave crise nos próximos meses.

O quadro mais complexo está no Oriente Médio. Permanece a possibilidade de um ataque, aberto ou por meio de ações clandestinas, às instalações nucleares no Irã. Notícias de que o Reino Unido e Israel preparam-se militarmente para atacar o Irã diminuíram, mas não desapareceram, como evidenciado pela questão da passagem do petróleo pelo estreito de Ormuz. A concentração de tropas norte-americanas no Coveite e o lançamento bem sucedido de mísseis de longo alcance israelense e iraniano indicam que preparativos de lado a lado se intensificam. Isso não quer dizer que o ataque seja iminente, nem que será levado a efeito, mas esses fatos ajudam a aumentar a tensão na área, agravada pelos ataques recíprocos Israel-Hamas, apesar da retomada das conversações. O estado de guerra civil na Síria contra o governo de Bashar Assad pode propiciar a repetição da fórmula utilizada pela OTAN na Líbia. Para complicar ainda mais a situação, depois da queda dos regimes autoritários na Tunísia, do Egito, Líbia, no norte da África, a primavera árabe começa a se defrontar com as inevitáveis rivalidades internas, Questões tribais e religiosas afloram e ameaçam a transição para a democracia, podendo reacender focos de guerra civil. A retirada do Afeganistão e do Iraque das forcas militares dos EUA não contribuirá para reduzir as tensões e vai concentrar as atenções nas ações do Irã nesses dois países. O Paquistão nuclear continuará a preocupar pela instabilidade política.

As Nações Unidas, locus para a discussão de questões de paz e de segurança, saíram desgastadas depois dos episódios na Líbia. A resolução aprovada permitindo medidas necessárias para proteger vidas humanas foi ampliada, sem autorização da comunidade internacional, pelos membros da OTAN, liderados pelo Reino Unido e França, com a tácita cumplicidade dos EUA. Não só para interferir em uma guerra civil, mas para caçar e matar Muhamar Kadafi. A experiência Líbia é o primeiro caso de aplicação do novo conceito estratégico de atuação de uma força da segurança global capaz de intervir em outros países com ou sem autorização do Conselho de Segurança. Estabeleceu-se perigoso precedente que poderá ser invocado a qualquer momento contra a Síria, o Irã ou outros países vistos como ameaça à comunidade internacional. O Brasil, que corretamente se absteve quando da aprovação da resolução sobre a Líbia, está apresentando proposta para limitar esse tipo de excesso, sugerindo que a preocupação da ONU seja não só no sentido de exercer a responsabilidade de proteger, mas também ao proteger. Por outro lado, o pedido da Autoridade Palestina de ingresso como membro permanente da ONU feito ao Conselho de Segurança das Nações Unidas foi esquecido. Os EUA e Israel retaliaram, com corte de dotações orçamentárias, a decisão de entrada da Palestina na UNESCO.

Ao preocupante cenário político internacional, deve-se acrescentar a instabilidade e o baixo crescimento que deverão perdurar entre cinco e dez anos em virtude das crises econômicas na Europa e nos EUA.

A crise européia continuará a manter alta a temperatura política no continente pela negociação de um novo Tratado de responsabilidade fiscal e pela possibilidade concreta que outros países tenham de ser socorridos a fim de evitar a ameaça de rompimento do sistema monetário ou mesmo da união política do continente.

O G-20 continuará procurando se consolidar como um fórum para o exame da evolução da crise econômica e o dólar continuara a perder valor.

A produção de petróleo não está aumentando, o que manterá os preços altos por muito tempo, acrescentando mais um elemento de pressão contra a volta do crescimento.

As demonstrações anti-capitalismo, fruto da frustração da classe média, que surge como grande perdedora se espalharão por diversas capitais e continuarão a exercer pressão sobre os principais centros financeiros, embora sem conseqüências práticas.

Os países emergentes, China à frente, continuarão a liderar o crescimento da economia global e deverão superar em 2012, em termos de PIB, os países desenvolvidos, O Brasil deverá ter seu crescimento reduzido pela crise. O comércio internacional deverá estagnar ou registrar uma expansão menor, em função da desaceleração econômica nos EUA e na União Européia e da restrição dos financiamentos a exportação.

Eleições em 24 países, inclusive EUA, França, China e Rússia, definirão os novos lideres que terão de enfrentar os desafios impostos pelas incertezas e instabilidades.
Os EUA, no meio de uma continuada crise de confiança, de baixo crescimento e de aumento do desemprego, começam a se preparar para as eleições presidenciais. A campanha para as prévias do lado republicano mostra como o sistema político naquele país está disfuncional, com efeito negativo direto sobre o funcionamento do governo. O fator preocupante é que os neoconservadores – fundamentalistas falando inglês - estão de volta com toda força, e a reeleição de Obama – que até aqui parece a melhor perspectiva – não está assegurada. A vitória de um candidato republicano certamente teria um impacto expressivo sobre o cenário político e econômico global.

Rubens Barbosa, Presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp

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