28/12/2010
Que país queremos?
Rubens Antonio Barbosa
Um novo governo estará dando seus primeiros passos a partir de primeiro de janeiro, com novos desafios e novas esperanças.
O Brasil transformou-se profundamente, nos últimos 16 anos. Se pudéssemos sintetizar em poucas palavras o ocorrido, o Brasil se modernizou com FHC e foi iniciado o processo de redução das desigualdades regionais e individuais com Lula.
O mundo igualmente passa por grandes mudanças. A Ásia emerge como o centro dinâmico das atividades econômicas e comerciais. O Pacifico substitui o Atlântico como pólo dinâmico de crescimento e os países emergentes, nos próximos cinco anos, serão responsáveis por mais de 50% do PIB global.
Devido aos positivos indicadores econômicos, políticos e sociais, a presidente Dilma Rousseff assumirá o comando do país em situação relativamente confortável. Essa condição, contudo, esconde problemas sérios que vão requer ações rápidas e enérgicas para serem corrigidos. A maior presença do Estado, base da visão nacional desenvolvimentista, poderá facilitar a mudança de atitude, o fortalecimento das empresas e a expansão do emprego.
Em recente estudo, o National Intelligence Council, vinculado ao governo dos EUA, coloca o Brasil como uma das superpotências econômicas globais em 2025. A percepção externa é de que nosso país reúne as condições básicas de território, população e produção interna agrícola, industrial e de serviços (PIB) para desempenhar um papel de realce no concerto internacional. O Brasil, durante o próximo governo, deve ultrapassar Itália, Espanha, Franca e Inglaterra para assumir a posição de quinta economia mundial.
Apesar das conseqüências desses grandes avanços internos, com as exceções de praxe, nem os lideres políticos de todos os partidos, nem a burocracia estatal, nem os sindicatos, nem mesmo o setor privado se dão conta que será necessária uma urgente e drástica mudança de atitude para enfrentar os desafios criados por essas transformações internas e externas.
O processo decisório governamental não está levando em conta que a agenda dos anos 90, que tornou possível o país que temos hoje, está esgotada e que devemos partir para responder aos desafios do futuro.
Qual é nossa visão do futuro? Vamos continuar como estamos ou vamos querer transformar o país para alcançar o lugar de destaque que o mundo espera que o Brasil ocupe?
Para atingir esse estágio de desenvolvimento e influência mundial, além de contar com condições externas positivas, o Brasil terá de fazer seu dever de casa para manter a estabilidade econômica, tornar o governo mais eficiente e crescer de maneira sustentável a taxas significativamente mais elevadas.
Com esse pano de fundo, chegou a hora dos partidos políticos, dos sindicatos e do setor empresarial sob a liderança da presidente Dilma Rousseff, somarem esforços, em uma parceria real, para pensar mais no Brasil e menos nos interesses pessoais e partidários.
Essa mudança de atitude passa pelo incentivo à inovação e pelo aumento da competitividade a fim de gerar, mais de 150 milhões de empregos em 2030.
Conhecimento, inovação, educação, ciência e tecnologia, competitividade, rumos da globalização e inserção externa deveriam ser discutidos em profundidade, da mesma forma como se dá destaque a assuntos como violência, crime, MST, juros, câmbio e dança de cadeiras para o Ministério. O Ministério do Desenvolvimento deveria ser tão importante quanto o da Fazenda nesse desenho de nosso futuro.
Devemos estar conscientes da necessidade de olhar para frente e de estar atentos às tendências para os próximos anos, sobretudo com o aparecimento da China e da Índia como potências globais econômicas, comerciais e políticas que vão competir com o Brasil.
A dura realidade é que as mudanças sendo tão rápidas e constantes faz com que o mundo avance célere e sem esperar que consigamos entender o que está acontecendo ou nos ajustemos aos novos tempos e às transformações em curso.
Sem ameaçar a estabilidade econômica e política, novas políticas terão de ser aprovadas, com o objetivo de criar incentivos para aumentar a poupança e o investimento, reverter a tendência da taxa de câmbio e de juros, promover a redução dos gastos públicos e reduzir a carga tributária. A geração de emprego dependerá do aumento da competitividade do setor produtivo com medidas concretas para reduzir ou eliminar o custo Brasil, responsável por mais de 35% nos preços finais da produção nacional. O comércio exterior deveria ser colocado em um nível decisório mais elevado para que seja tratado com a prioridade que merece uma vez que é uma das variáveis mais importantes do crescimento econômico.
Estamos de acordo em transformar o Brasil em um país exportador de matérias primas e produtos agrícolas? Com a perda de espaço dos manufaturados, mais de 50% de nossas exportações são de produtos primários, situação que poderá agravar-se com a entrada, nos próximos anos, da produção dos campos de petróleo do pré-sal.
Vamos deixar o setor industrial desaparecer, a exemplo do que ocorreu na Argentina? A indústria que já representou mais de 20% do PIB viu sua participação reduzir-se a 15%. O consumo doméstico, que era atendido pela produção nacional, hoje depende em mais de20% das importações. As empresas brasileiras, sem capacidade de competir nem interna nem externamente, ou estão fechando suas portas, transformando-se em montadoras e importadoras ou passaram a produzir no exterior. As importadoras representam o dobro das exportadoras. E isso que queremos?
Chegou a hora de focalizar os temas que possam colocar o Brasil em bases sólidas e não ilusórias, entre os países de relevo na economia e na política mundiais.
Rubens Barbosa, presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp
Rubens Barbosa, ex-Embaixador em Washington (1999-2004)
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