12/12/2006
O Futuro do MASP
Rubens Antonio Barbosa
Pouco depois de deixar a Embaixada em Washington, fui convidado para integrar o Conselho Deliberativo do Museu de Arte de Sao Paulo (MASP). Há cerca de dois anos tenho acompanhado de perto as dificuldades e os sucessos do Museu mais importante do Brasil.
O MASP vai completar 60 anos em 2007. Um dos icones da capital paulista, o Museu é um patrimonio brasileiro e tem potencial para ser uma presença nossa ainda mais relevante no circuito cultural do Primeiro Mundo.
Não podemos aceitar a idéia de que o Museu seja um iceberg europeu estacionado em São Paulo, sem nada ter a ver com a cidade. A frase é boa, mas o que ela implica significaria um fracasso inaceitável. Finalmente, um curador permanente foi contratado para pensar conceitos e planejar as iniciativas e as exposições e assim tentar uma melhor comunicação com o público.
O valioso acervo acumulado a partir do esforço empreendedor de grandes brasileiros deve ser parte integral da vida e do cotidiano da metrópole paulistana, como acontece hoje com a Pinacoteca do Estado.
A questão que se coloca hoje, para todos os que se interessam pela cultura no Brasil e se preocupam com a preservação dos bens artisticos, é como fortalecer o MASP e torná-lo mais accessível e atraente para a comunidade. Trata-se de um desafio para São Paulo e para a criatividade da sociedade civil da maior cidade do país.
A ocupação pelo MASP de um importante espaço na agenda cultural da capital de São Paulo deve ser um projeto da cidadania paulista. Sociedade civil, meio artístico, governo estadual e municipal e público em geral devem mobilizar-se para o esforço de oferecer o Museu para os paulistanos, para os brasileiros e turistas estrangeiros.
A maioria dos museus brasileiros passa por dificuldades. A mobilização de recursos financeiros é dificil e ainda não incorporamos valores culturais existentes em outros países que mobilizem pessoas e instituições públicas e privadas para criar condições para a expansão e o aperfeiçoamento dessas instituições. O caso do Masp não é diferente.
Imagino que todos os que conduziram o Museu até aqui tenham procurado fazer o melhor possivel, inclusive em termos de obtenção de recursos para manter a instituição viva, sem o que dificilmente se poderia implantar soluções ou novas idéias.
Como de praxe, a escolha do presidente e da diretoria é feita pela Assembléia Geral dos associados vitalícios – não pelo Conselho Deliberativo – e no último dia 30 de outubro, Julio Neves, há 12 anos no cargo, foi re-eleito por um período de mais dois anos.
Ele mesmo, diante das dificuldades pelas quais vem passando o Museu, resolveu chamar uma empresa de auditoria e consultoria para examinar a situação em geral e fazer recomendações sobre a gestão interna da instituição.
Júlio Neves parece começar a pensar em sua sucessão. Diz que considerará terminada sua gestão somente depois que equacionar e eliminar o passivo financeiro do Museu e, para tanto, vai procurar recursos junto a cerca de 20 empresas privadas que poderiam vir a integrar a Assembléia dos associados.
Acredito que seria importante iniciar um amplo e franco debate sobre as
dificuldades atuais e os rumos futuros do Museu, com o objetivo de envolver o maior número de pessoas interessadas de todos os quadrantes e de todas as áreas. Minha impressão é que há uma enorme demanda reprimida para uma discussão desse tipo que deveria ser ao mesmo tempo teórica e prática, com vista a explorar meios e maneiras de fazer o MASP se revigorar.
As principais recomendações desses debates poderiam ser submetidas a um grupo de especialistas e profissionais de alto nível, necessariamente reduzido e representativo, da sociedade civil, que as examinaria e faria propostas sobre as reformas necessárias.
A guisa de contribuição, arrisco sugerir alguns termos de referência para o debate sobre a revitalização do MASP, que deveria ser iniciado o mais breve possivel:
- engajamento da sociedade como um todo para obtenção de recursos a fim de permitir a manutenção do museu e a expansão do seu acervo.
- implementar o programa de trabalho recentemente elaborado para a instituição.
- buscar um parceiro estratégico para tentar resolver a questão da divida pendente.
- levantar recursos financeiros significativos para permitir uma política pró-ativa do Museu.
- definição de uma série de políticas para o Museu com o objetivo de ampliar significativamente o número de visitantes pela massificação do acesso e pela inclusão no roterio turístico da cidade, a exemplo do que fazem os grandes museus do mundo.
Não precisamos sair de São Paulo para observar exemplos de museus bens sucedidos. O êxito da Pinacoteca mostra que é possível obter resultados concretos em um ambiente nem sempre compreensivo para as causas culturais.
Tendo vivido muitos anos no exterior, na Inglaterra e nos EUA, pude testemunhar como funcionam e como são “vividos e usados” pela comunidade, não só turistica, mas também local, os principais museus desses países (National Gallery em Londres e em Washington, a Tate Gallery, o Hirshhorn Museum e muitos outros).
O MASP tem de ser visto dentro de uma dimensão mais ampla e não como uma questão isolada. A cidadania paulistana tem de se envolver para definir uma nova forma de apoio para preservar e ampliar um patrimônio que não é de São Paulo, mas de todos os brasileiros.
Todos que gostamos do MASP, e que queremos ajudá-lo, esperamos que a mudança de guarda da instituição, quando ocorrer, propicie, durante o processo de escolha, um amplo debate sobre os rumos, nos próximos anos, de um museu que tem tudo para ocupar um lugar de ainda maior relevo não só na capital paulista, como o mais importante da cidade e do Brasil, mas também no cenário internacional, como um museu a altura dos mais significativos do mundo.
|